Percepçao Musical, Fisiologia Da Musica

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  • PERCEPO MUSICAL: EFEITOS FISIOLGICOS E PSICOLGICOS DA MSICA EM CRIANAS E PR-ADOLESCENTES

    Fbio L. Fully Teixeira1, Paulo Roxo Barja2

    1 Fbio L. Fully Teixeira, master student at the Universidade do Vale do Paraba (UNIVAP), Research & Development Institute (IP&D), Av. Shishima Hifumi, 2911, 12.244-000, So Jos dos Campos, SP, Brazil, [email protected] 2 Paulo Roxo Barja, Coordinator of the Bioengineering Master Course at the Universidade do Vale do Paraba (UNIVAP), Research & Development Institute (IP&D), Av. Shishima Hifumi, 2911, 12.244-000, So Jos dos Campos, SP, Brazil, [email protected] This work was partially supported by CNPq.

    Abstract The present work aimed to evaluate the musical perception and the effects of musical stimuli in children and teenagers (10 to 13 years old) attended in a public kindergarten. After a questionnaire, meetings were held in which children received different musical stimuli: funk (preference of the local community) and classical music. The reaction of the participants was monitored through observation, drawing, measurements of blood pressure and heart rate, under supervision of a multidisciplinary team. Part of the volunteers also underwent an electroencephalogram (EEG), aiming to investigate a possible correlation with the cultural background and physiological response. During the project, it was observed that children began to exhibit behavior more relaxed in day to day activities, looking forward to the day of the weekly music meeting. From the results obtained, those responsible chose to deploy a daycare Music Room at the institution, therefore insuring the continuity of the musical sessions. Index Terms behavior, children, heart rate, music.

    INTRODUO A msica conhecida e praticada pelo homem h milnios, provavelmente a partir da tentativa de reproduzir sons da natureza; assim, a histria da msica confunde-se com a histria do homem, ligando-se ao desenvolvimento de sua inteligncia e cultura.

    Sabe-se que a msica contribui para o desenvolvimento da inteligncia, criatividade, memorizao e sensibilidade, entre outros aspectos, e que a exposio do homem msica pode melhorar a coordenao motora e o estado de esprito [1-3].

    Segundo estudiosos como David Tame, Steven Halpern e David Walker, a msica influencia no apenas as redes nervosas do crebro como tambm a circulao, a digesto, a nutrio e a respirao [4].

    Sabe-se que a msica pode gerar alteraes no nvel de ateno, nos ritmos respiratrios e cardacos, perda de apetite e estados pr-neurticos. A msica atinge diversos rgos e sistemas do corpo humano, como crebro, hipotlamo, hipfise, pele, pulmes, todo o aparelho gastrintestinal e os sistemas circulatrio (com ao vasoconstritora e vasodilatadora) e imunolgico [5].

    A msica pode influenciar a variabilidade da frequncia cardaca, elevando ou reduzindo a taxa de batimentos cardacos; pode alterar o estado de nimo do ouvinte, reduzindo sua ansiedade e proporcionando-lhe relaxamento [6].

    Tendo em vista a reduo do estresse e da ansiedade, a msica passou a ser utilizada em diversas situaes clnicas, inclusive no controle da dor. Entre os mecanismos descritos para explicar esses efeitos esto a induo de relaxamento e a liberao de endorfinas [7].

    No entanto, a msica no funciona de forma passiva como remdio - exige que o ouvinte participe. O efeito do estmulo sonoro pode depender do gosto e da disposio em ouvir o estmulo utilizado. Assim, difcil antecipar o efeito que determinado tipo de msica ter para uma pessoa.

    Sculos atrs, a msica era normalmente classificada em sacra (religiosa) ou profana. Hoje, ainda que seja s vezes difcil delimitar fronteiras, comum fazer a distino entre msica popular e msica erudita.

    Neste trabalho, utilizamos como estmulo sonoro duas formas musicais bastante diversas: o funk (representando a msica popular) e a msica erudita. Nosso objetivo investigar at que ponto a msica pode influenciar em aspectos psicolgicos e parmetros fisiolgicos (como presso arterial e frequncia cardaca) de crianas e pr-adolescentes normalmente acostumados a ouvir apenas estilos como funk e rap.

    MATERIAIS E MTODOS A pesquisa foi realizada na creche de uma igreja catlica em Itaperuna (RJ). Participaram 16 crianas (sete meninas e nove meninos), com idade entre 10 e 13 anos, estudantes de ensino fundamental; os pais ou responsveis tomaram conhecimento da pesquisa e assinaram um termo de consentimento autorizando a participao no estudo.

    Inicialmente, os participantes responderam individualmente um questionrio estruturado para a avaliao quanto ao gosto musical, estilo de msica que ouvem em casa, idade e escolaridade.

    Aps a avaliao inicial, a pesquisa foi dividida em oito encontros com intervalo mnimo de sete dias, sempre no mesmo horrio e local. As crianas selecionadas eram encaminhadas para uma sala preparada com aparelho de

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  • som, localizada na prpria instituio de ensino, num ambiente tranqilo, capaz de acomodar confortavelmente as crianas.

    Foi feita a apresentao do projeto para as crianas, explicando-se que ouviriam dois estilos musicais: em primeiro lugar, duas msicas de estilo funk e, a seguir, duas peas de msica erudita (utilizou-se obras dos perodos clssico e romntico). Antes dos estmulos musicais, eram aferidas a presso arterial (PA) e a freqncia cardaca (FC) de cada um dos pesquisados. Ouvia-se ento o primeiro estmulo musical, aferindo-se novamente PA e FC logo aps a audio. A seguir, dava-se um intervalo de 10 minutos para que as crianas relatassem as impresses sobre as msicas ouvidas e/ou fizessem desenho livre. Os dados eram colhidos pelo pesquisador e por uma equipe colaboradora.

    Em seguida, as crianas eram expostas ao segundo estmulo musical; assim que terminava a audio, novamente coletava-se PA e FC e os ouvintes expressavam as impresses sobre o estmulo sonoro.

    Para auscultar os batimentos cardacos, utilizou-se o estetoscpio da marca Littmann MASTER, modelo Classic II. Para a presso arterial, o equipamento utilizado foi o Aparelho de Presso Manual Completo (Esfigmomanmetro) da marca BD (Becton Dickinson). A verificao da presso arterial foi feita no brao (local mais comumente adotado), tomando-se a artria braquial como ponto de ausculta.

    Para finalizar a pesquisa, foram realizados eletroencefalogramas (EEGs) nos participantes, antes e aps cada estmulo sonoro, com o objetivo de registrar a atividade eltrica cerebral para o diagnstico de eventuais anormalidades dessa atividade.

    RESULTADOS E DISCUSSO O questionrio inicial mostrou que as crianas participantes da pesquisa normalmente ouvem em casa funk, rap, forr e pagode; apenas duas disseram conhecer msica clssica, reconhecida por eles como trilha de propaganda da TV.

    Aps a execuo de trechos de msica erudita, 11 das 16 crianas entrevistadas afirmaram que acham esse estilo mais bonito do que a msica que ouvem em casa; estas crianas associaram a experincia de ouvir msica erudita a paz, beleza, calma e sossego.

    Alm dos depoimentos, observou-se que aps a audio de funk as crianas ficavam agitadas e inquietas; no entanto, em pouco tempo desconcentravam-se da msica, pedindo para ir beber gua ou ir ao banheiro, por exemplo. J durante a sesso de msica erudita, ficavam mais quietas, prestando ateno na msica. Assim, podemos apontar aqui um fenmeno bastante significativo, principalmente ao se considerar o capital cultural dos participantes: enquanto a audio de funk mostrou-se uma experincia dispersiva, a audio de msica erudita propiciou a manuteno da concentrao por todo o perodo do estmulo musical.

    Os eletrocardiogramas de viglia mostraram que os participantes do estudo encontram-se dentro da normalidade; as ondas lentas tm topografia e incidncia prpria para a idade.

    Os resultados dos parmetros quantitativos indicaram diferena significante para PA aps cada um dos estmulos, sendo encontrados valores superiores aps a audio de funk (teste de Tukey-Kramer revelou diferena significante entre os valores de sstole e tambm entre os valores de distole obtidos aps os diferentes estmulos sonoros).

    Para a frequncia cardaca (FC), no entanto, as diferenas observadas foram mais evidentes: o teste de Tukey-Kramer revelou, para a comparao controle x msica erudita, diferena significante (p

  • FIGURA 2 EXEMPLO DE DESENHO REALIZADO POR UM PARTICIPANTE DO ESTUDO APS

    AUDIO DE MSICA ERUDITA.

    CONCLUSO O estudo permitiu constatar que estmulos musicais apresentam grande potencial para evocao de imagens, sendo que a audio de msica erudita leva a imagens mentais bastante diferentes daquelas induzidas pelo funk.

    No Brasil, podemos dizer que ainda so raras as crianas que tm contato com a msica erudita em sua vivncia cotidiana. No entanto, o trabalho aqui relatado permite concluir que, independentemente da cultura prvia das crianas, estas mostram-se em geral abertas a receber novas formas de estmulos sensoriais, como no caso da msica erudita.

    AGRADECIMENTO Irm Vera e ao Padre Geraldo, que abriram as portas da instituio onde a pesquisa foi realizada; s crianas e pr-adolescentes que voluntariamente aceitaram participar do trabalho; Universidade Iguau (campus V) e aos colaboradores da pesquisa de campo, pelo apoio.

    REFERNCIAS

    [1] Backes, DS et al, Msica: terapia complementar no processo de humanizao de uma CTI, Revista Nursing, v.66, n.6 (2003), pp.37-42.

    [2] Giannotti, LA; Pizzoli, LM. Musicoterapia na dor: diferenas entre os estilos jazz e new age, Revista Nursing, v.71, n.7 (2004), pp.35-41.

    [3] Octaviano, C, Os efeitos da msica no crebro. Disponvel em: www.targetaudio.com.br/os-efeitos-da-musica-no-cerebro-humano. Acesso em 02/08/2010.

    [4] Piet, JR, Projeto de msica aplicada. Disponvel em: www.camara.gov.br/sileg/MostrarIntegra.asp?CodTeor=587396, 2008. Acesso em 26/08/2010.

    [5] Bontempo, M, Medicina Natural: Musicoterapia, Geoterapia, Fisiognomonia, SP: Nova Cultural, 2000.

    [6] Correa Alves, AP, Efeito do Estmulo Musical no Controle Autonmico da Frequncia Cardaca, In: XII Congresso Latino-Americano de Iniciao Cientfica e VIII Encontro de Ps-Graduao, 2008, So Jos dos Campos. Anais do XII INIC e VIII EPG. S.J.Campos: UNIVAP, cd, 2008.

    [7] Leo, ER; Silva, MJP, "Msica e dor crnica msculoesqueltica: o potencial evocativo de imagens mentais, Rev. Lat. Amer. Enferm., v.12, n.2, 2004, pp.235-241.

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