Percepção de cores no gambá ( Didelphis albiventris ... · Uma abordagem comportamental. Beatriz...
Embed Size (px)
Transcript of Percepção de cores no gambá ( Didelphis albiventris ... · Uma abordagem comportamental. Beatriz...

i
Percepção de cores no gambá (Didelphis albiventris) –
Uma abordagem comportamental.
Beatriz Medina Pegoraro
Orientador: Professor Doutor Valdir Filgueiras Pessoa
Brasília 2009
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA Faculdade de Ciências da Saúde Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde

ii
Percepção de cores no gambá (Didelphis albiventris) –
Uma abordagem comportamental.
Beatriz Medina Pegoraro
Banca Examinadora: Presidente: Dr. Valdir Filgueiras Pessoa Examinadora: Dra. Marília Barros Examinadora: Dra. Wania Cristina de Souza Examinadora: Dra. Maria Clotilde H. Tavares
Brasília 2009
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA Faculdade de Ciências da Saúde Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde
Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde.
Orientador: Professor Doutor Valdir Filgueiras Pessoa

1
Dedico esse trabalho a Eduardo de Almeida Gutierrez, companheiro de pesquisa que esteve
presente desde o momento em que peguei os filhotes até o último dia de teste.

2
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por permitir a conclusão desse trabalho.
Ao Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde e à Universidade de Brasília
pelo conhecimento científico que possibilita aos pesquisadores.
Ao professor Valdir Filgueiras Pessoa pela oportunidade de realizar essa pesquisa,
pela confiança, orientação e paciência que nunca acaba.
Ao professor Bráulio Magalhães-Castro e Úrsula Gomes pela grande ajuda no início
do projeto.
A Vicente, meu pai, e Leninha, minha mãe, por me apoiarem ao longo dessa
caminhada.
Aos estagiários Eduardo, Karina, Marina e Delanna que me ajudaram nos
experimentos com os animais.
Ao meu filho Matheus, pela compreensão quando adiamos nossos passeios por minha
falta de tempo.
Ao meu namorado Bruno Dantas por ter ido comigo nos finais de semana para o
laboratório.
Aos meus irmãos Bruno Medina, Gabriel Medina e Katia Pegoraro por torcerem por
mim.
Aos gambás Frodo, Sam, Merry, Pippin, Mohana, Safira e Ayra.

3
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................8 1.1 – Filogênese dos cones e bastonetes...............................................................................10 1.2 – Dados anatômicos e funcionais da visão cromática dos Didelphideos .......................11
1.3 – Justificativa e Relevância ............................................................................................13 1.4 – Objetivos Gerais ..........................................................................................................18 1.5 – Objetivos Específicos ..................................................................................................18
2. MÉTODOS...........................................................................................................................19
2.1 – Sujeitos ........................................................................................................................19 2.2 – Labirinto ......................................................................................................................21 2.3 – Estímulos .....................................................................................................................24 2.4 – Procedimentos .............................................................................................................25 2.4.1 – Adaptação .................................................................................................................25 2.4.2 – Modelagem 1 ............................................................................................................26 2.4.3 – Modelagem 2 ............................................................................................................27 2.4.4 – Testes comportamentais ...........................................................................................28
3. RESULTADOS ....................................................................................................................31
3.1 – Adaptação ....................................................................................................................31 3.2 – Modelagem 1 ..............................................................................................................31 3.3 – Modelagem 2 ...............................................................................................................31 3.4 – Testes comportamentais ..............................................................................................35
4. OUTRAS FASES .................................................................................................................39
4.1 – Protocolo A..................................................................................................................39 4.2 – Protocolo B..................................................................................................................39 4.3 – Protocolo C..................................................................................................................42
5. DISCUSSÃO........................................................................................................................44
5.1 - Motivação dos sujeitos.................................................................................................44 5.2 – Contato visual com outros indivíduos .........................................................................44 5.3 – Simplificação de tarefas...............................................................................................45 5.4 – Importância do teste impossível ..................................................................................45 5.5 – Pistas olfativas .............................................................................................................46 5.6 – Comparação dos resultados com outros estudos de visão de cores em marsupiais.....47
6. CONCLUSÕES....................................................................................................................49 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................50 8. ANEXOS..............................................................................................................................57 8.1 – Anexo 1: Licença do IBAMA para captura dos animais.................................................57 8.2 – Anexo 2: Aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética..................................................58 8.3 – Anexo 3: Artigo científico...............................................................................................59

4
LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Absorção relativa em visão tricromática...................................................................9 Figura 2. Indivíduo da espécie Didelphis albiventris. ..............................................................20 Figura 3. Vista superior do labirinto........................................................................................21 Figura 4. Representação das janelas basculantes onde são apresentados os estímulos...........21
Figura 5. Vista frontal do labirinto a partir da câmara de partida. ..........................................22 Figura 6. Vista lateral do labirinto...........................................................................................22 Figura 7. Luxímetro posicionado próximo às janelas do labirinto. .........................................23 Figura 8. Manipulação de filhote..............................................................................................26 Figura 9. Representação esquemática dos estímulos utilizados na modelagem 2....................27
Figura 10. Sujeito (Didelphis albiventris) acessando o reforço (ovo cozido) ..........................28 Figura 11. Representação esquemática dos estímulos utilizados nos testes discriminativos ..30
Figuras 12 e 13 – Desempenhos de Didelphis albiventris - Modelagem 2.. ............................33
Figuras 14 e 15 – Desempenhos de Didelphis albiventris - Modelagem 2.. ............................34
Figura 16. Desempenho do macho Frodo nos testes comportamentais....................................36
Figura 17. Desempenho da fêmea Safira nos testes comportamentais....................................37 Figura 18. Desempenho do macho Sam nos testes comportamentais ......................................38
Figura 19. Resultados da modelagem utilizando o protocolo B...............................................40 Figura 20. Resultados da modelagem utilizando o protocolo C...............................................42

5
LISTA DE TABELAS TABELA 1 - SUMÁRIO DOS ESTUDOS DE VISÃO DE CORES EM MARSUPIAIS......16 TABELA 2 - IDENTIFICAÇÃO DOS SUJEITOS QUANTO AO SEXO E À PARTICIPAÇÃO NAS DIFERENTES ETAPAS DO PROTOCOLO EXPERIMENTAL ...20 TABELA 3 - DESEMPENHO DOS SUJEITOS - MODELAGEM 2.....................................32 TABELA 4 - DESEMPENHO NO TESTE COMPORTAMENTAL - FRODO.....................36 TABELA 5 - DESEMPENHO NO TESTE COMPORTAMENTAL - SAFIRA....................37 TABELA 6 - DESEMPENHO NO TESTE COMPORTAMENTAL - SAM.........................38

6
RESUMO
A visão de cores em marsupiais é um tema controverso, especialmente dentro da
ordem Didelphimorphia (gambás). Enquanto o diagnóstico da visão desses animais em testes
comportamentais foi o tricromatismo e nos estudos eletrofisiológicos, o monocromatismo,
recentemente, em estudos de genética molecular, encontraram apenas duas classes de opsinas
nos dois maiores gêneros dessa ordem. O presente estudo avaliou a habilidade discriminativa
de gambás (Didelphis albiventris) quanto à percepção de cores utilizando testes
comportamentais. Os animais realizaram as tarefas em um labirinto de dupla escolha, em
forma de Y, com uma câmara de partida. Os estímulos utilizados foram papéis de Munsell de
diferentes matizes. Para assegurar a escolha baseada na cor, os papéis foram apresentados
com variação aleatória de brilho. Um macho obteve desempenho significativo nos testes com
pares de fácil discriminação para um dicromata, mas seu desempenho caiu para a faixa da
aleatoriedade no par de difícil discriminação. Esses resultados sugerem que a espécie
Didelphis albiventris é dicromata.

7
ABSTRACT
Color vision in marsupials is a controversial subject, especially among the Order
Didelphimorphia (American opossums). While behavioral tests have diagnosed these animals
as trichromatic and electrophysiological studies as monochromatic, recent molecular genetic
studies have found only two classes of cone opsin in two major genera of the order. This
study examined the color discrimination abilities of opossums (Didelphis albiventris) through
a series of tasks involving a behavioral paradigm of discrimination learning. The animals
were tested in a Y-shaped maze, consisting of a start chamber and a decision area with a
double choice panel. Stimuli consisting of pairs of Munsell color cards were presented in
random brightness values to assure that discriminations were based on color rather than
brightness cues. One male succeeded in discriminating the stimuli pairs considered easy for a
dichromatic individual, but failed in the attempt to discriminate those expected to be easy
only for a trichromatic. These results suggest that Didelphis albiventris is dichromatic.

8
1. INTRODUÇÃO
No nosso planeta, os seres vivos desenvolveram por forma inevitável, a habilidade de
captar a luz, fornecedora da energia (eletromagnética) que suporta a vida. A maioria dos
vertebrados desenvolveu sistemas de detecção de fótons, cuja capacidade de formação de
imagens, permitiu a representação do ambiente externo. Todavia, este processo implicou a
evolução paralela de sistemas sensoriais capazes de interpretar estas imagens e transformá-las
em comportamentos cada vez mais sofisticados, tais como, a detecção de presas, de
predadores e parceiros para o acasalamento e reprodução.
A energia (fótons) que os animais experienciam como luz ocupa uma pequena faixa -
400 nm (próximo ao ultravioleta) até cerca de 800 nm (infravermelho) do espectro
eletromagnético. Dentro destes limites, algumas espécies utilizam quase toda sua extensão,
enquanto outras se restringem a limites mais estreitos.
Desde que a função de sensibilidade dos pigmentos fotorreceptores tem uma
distribuição aproximadamente normal (em forma de sino), um único pigmento não pode
fornecer informações que sejam consideradas inequívocas sobre o comprimento de onda.
Assim, para a visão a cores, requerem-se pelo menos duas classes espectrais de
fotorreceptores, cujas curvas de sensibilidade se sobrepõem (Dicromacia). Desta forma, para
ampliar a gama de comprimentos de onda que pudessem ser determinados e aumentassem o
número de cores distintas, de maneira a serem discrimináveis, foi necessária a adição de
novas classes de fotorreceptores, que fossem sensíveis a outros comprimentos de onda, dentro
da faixa espectral da luz (Jacobs & Rowe, 2004).
Enquanto os humanos e os primatas do Velho Mundo são sensíveis a três
comprimentos de onda (Tricromacia), outros vertebrados como as aves, peixes e répteis,
respondem a quatro classes de comprimentos de onda, sendo, portanto, tetracromáticos. Em
geral, esta quarta classe é sensível aos comprimentos de onda curtos, o que estende a visão

9
destes animais à região do espectro próxima ao ultravioleta. Até a Pentacromacia tem sido
sugerida em pombos (Emmerton et al., 1980).
Na visão de cores dicromática, onde qualquer cor pode ser especificada pela mistura
particular de duas luzes primárias, as quantidades relativas de luz absorvidas são comparadas
por dois tipos de receptores. Esta é a situação encontrada na grande maioria dos mamíferos
(Jacobs, 1993), que comparam sinais de cones que absorvem luz preferencialmente na faixa
dos comprimentos de onda curtos (região do azul-violeta) com outro grupo de cones que
possui sensibilidade espectral para comprimentos de onda longos/médios (faixa do vermelho-
verde).
Entre os mamíferos, uma visão de cores tricromática, mais acurada, e que depende da
combinação das respostas de três tipos de receptores (Figura 1), cada um contendo um
fotopigmento diferente, é encontrada apenas nos primatas (Bowmaker et al., 1991; Dulai et
al., 1994; Boissinot et al., 1998) e em alguns marsupiais (Arrese et al., 2002; Tabela 1).
Figura 1 – Absorção relativa em visão tricromática.

10
1.1 - Filogênese dos cones e bastonetes
A partir das comparações de todas as seqüências das opsinas de vertebrados, tornou-se
possível gerar árvores filogenéticas detalhadas dos pigmentos visuais, baseadas na duplicação
e subseqüente divergência seqüencial. Embora as árvores filogenéticas propostas por um
grupo de autores (e.g. Okano et al., 1992) apresentem ligeiras diferenças em relação a outro
grupo de pesquisadores (e.g. Hisatomi et al., 1994), em conjunto elas mostram-se, nas suas
linhas gerais, concordantes.
O pigmento visual ancestral dos vertebrados poderia ter sido de tipo cone com um
λmax abaixo de 520nm, talvez próximo de 500nm. Porém, na evolução dos vertebrados (cerca
de 500 milhões de anos atrás), divergindo daquele pigmento ancestral, originam-se duas
novas classes de pigmentos, uma de ondas longas (OL) sintonizados com λmax na faixa de
530-570 nm, e outra de ondas curtas (OC) com λmax com cerca de 460nm. Esta divisão
poderia ter formado a base para um sistema dicromático de visão a cores. Na seqüência, (450
milhões de anos antes) o grupo de ondas curtas sofreu novas mudanças, manifestadas pela sua
diferenciação em pelo menos quatro classes de opsinas, que incluem, um grupo sensível às
ondas-médias (OM) incluindo pigmentos dos grupos Mb (bastonetes) e Mc (comprimentos de
onda entre 460-530nm) além dos grupos ondas curtos, diferenciados em um grupo sensível ao
Azul (430-470nm) e outro sensível ao Violeta (350-340nm) (Okano et al., 1992, Johnson et
al., 1993 ; Chang et al., 1995).
A evolução precoce destes quatro grupos de opsinas forneceu as bases necessárias para
a visão a cores tetracromática em todas as grandes classes de vertebrados. Contudo, esta
característica permaneceu apenas nas aves, peixes e répteis de hábitos diurnos.

11
Finalmente, uma outra divisão gênica há cerca de 45 milhões de anos, desta feita no
grupo OL, separou OL vermelho (560 nm) e OL verde (530 nm), possibilitando a visão
tricromática dos primatas.
1.2 - Dados anatômicos e funcionais da visão cromática dos Didelphideos
O gambá da Mata Atlântica possui acuidade visual (1.25) inferior a dos primatas e
carnívoros (Oswaldo-Cruz & Hokoç, 1979 ; Silveira et al., 1982) e uma extensão total de
campo visual de 223º. Tanto o gambá da Mata Atlântica como o opossum (marsupial norte-
americano), exibem idêntica dimensão do campo visual binocular (125º) e, nas suas hemi-
retinas superiores, verifica-se uma estrutura refletora de luz (o Tapetum Lucidum) que, em
ambientes de baixa luminosidade, pode acentuar o contraste entre objetos.
As retinas do gambá da Mata Atlântica (Ahnelt et al., 1995) e do opossum (Kolb &
Wang, 1985) são do tipo duplex, isto é, apresentam dois tipos de fotorreceptores, os
bastonetes (para a visão noturna) e os cones (para a visão diurna) sendo que, nas retinas
periféricas, a razão bastonetes/cones é de 130:1 no gambá e de 120:1 no opossum.
Uma particularidade adicional que se pode observar são os cones simples e duplos,
ambos com gotículas de óleo, cujas maiores concentrações se localizam na hemiretina inferior
(Ahnelt et al., 1995). As gotículas de óleo estão localizadas entre os segmentos externo e o
interno do cone e são comuns em répteis, aves e peixes. A presença das gotículas de óleo nos
cones da retina do Gambá evidencia a retenção de características reptilianas em mamíferos,
ainda que primitivos. Ao que parece, estas gotículas de óleo agem como verdadeiros filtros,
cuja função é o aumento de contraste ou mesmo a ampliação da detecção de cores (Jacobs,
1993).
Neste sentido, existem estudos sugerindo que os pigmentos e as gotículas dos cones
agindo em sinergia determinariam as características espectrais dos cones (Hokoç et al., 2006).

12
Em resumo, podemos concluir que o gambá da Mata Atlântica possui os seguintes tipos
morfológicos de cones:
1 - cones simples sem gotículas de óleo (CS)
2 - cones simples com gotículas de óleo (CS-GO+)
3 - cones duplos com gotículas de óleo (CD-GO+)
Para melhor compreensão da presumível visão cromática dos Didelphideos, importa
salientar os resultados comportamentais e neurofisiológicos publicados até então na literatura
pertinente. Testes da discriminação de cores (Friedman, 1967) produziram evidências
sugestivas de que os opossums realizam uma variedade de discriminações de cor, inclusive,
com a indicação de que são capazes de distinguir luzes vermelhas, verdes, amarelas e azuis,
uma das outras, assim como entre elas e a luz acromática. Neste experimento o autor utilizou
filtros Kodak ‘Wratten’ (vermelho nº. 25, amarelo nº. 15, verde nº. 58 e azul nº. 47). A adição
de filtros de densidade neutra permitiu o ajuste dos brilhos dos filtros vermelhos, verde e
amarelo para o brilho equivalente do filtro azul (Friedman, 1967). Se estas discriminações
estão baseadas apenas em sinais resultantes da atividade dos cones, ainda é assunto a ser
esclarecido.
Jacobs, 1993, utilizando técnicas electroretinográficas no opossum, após várias
tentativas, obteve apenas respostas a um pigmento de cone com sensibilidade máxima em
torno de 560 nm. Estes resultados, sugestivos de visão monocromática para o opossum,
revelam incoerência com os de visão dicromática daqueles animais, tal como sugerido pela
anatomia. Acertadamente, o autor comenta que esta não conformidade de resultados deve ser
interpretada com cautela, visto que a ausência de evidências favoráveis à existência de outras
classes de pigmentos ainda não foi devidamente esclarecida.

13
Estudo genético mais recente analisou a seqüencia das opsinas de dois marsupiais
noturnos, Monodelphis domestica e Didelphis aurita, ambos da ordem Didelphimorphia. Para
as duas espécies apenas duas classes de cones foram encontradas: uma com pico de absorção
de ondas curtas na faixa do UV e a outra com pico de absorção de ondas longas cujo gene
localiza-se no cromossomo X (Hunt et al., 2009; Tabela 1).
Estes resultados divergentes demonstram que o quadro atual a respeito da visão
cromática dos didelphideos é uma questão em aberto e controversa, portanto, merecedora da
atenção daqueles neurocientistas interessados em contribuir para o esclarecimento do papel
seguramente relevante dos marsupiais na evolução da visão reptiliana tetracromática ou
mesmo pentacromática das aves, peixes e répteis, para a visão tricromática dos primatas.
1.3 – Justificativa e Relevância
A família Didelphidae, da qual o gambá faz parte, inclui as formas mais antigas dentre
os marsupiais (Hokoç, 2006). O gênero Didelphis parece não ter se modificado muito ao
longo do tempo, pois já era encontrado com as características atuais desde o Pleoceno (Paula
Couto, 1953). Acredita-se que os marsupiais assim como os monotremos e mamíferos tenham
tido um ancestral comum (Hokoç, 2006). Por isso, estudar as características visuais
cromáticas desses animais significa resgatar informações dos primórdios da evolução dos
mamíferos.
Ao se fazer uma revisão na literatura existente sobre estudos feitos com o gambá de
orelha branca (Didelphis albiventris), no que concerne à forma de detectar a luz visível
refletida e como transformá-la em imagens cromáticas do seu meio ambiente externo,
verifica-se uma escassez de trabalhos que possam esclarecer tal fenômeno. Mesmo para o
gambá da Mata Atlântica (Didelphis marsupialis aurita) e para o opossum (Didelphis

14
virginiana), os poucos dados publicados apresentam algumas contradições que impedem uma
clara compreensão sobre a visão cromática destes animais (Friedman, 1967; Jacobs, 1993;
Cunha et al., 2006; Hunt et al., 2009; Tabela 1).
Os comprimentos de ondas máximos de absorbância (λmax) dos cones foram medidos
através de microespectrofotometria em duas espécies de marsupiais. Os valores encontrados
no honey possum (Tarsipes rostratus) foram 557, 505 e 350nm e no fat-tailed dunart
(Sminthopsis crassicaudata) foram 535, 509 e 350nm, representando sensibilidade aos
comprimentos de onda longo (LWS), médio (MWS) e ultravioleta (UVS) respectivamente,
primeira evidência para a base da visão tricromática (Arrese et al., 2002; Tabela 1).
Através do método de reação em cadeia da polimerase (PCR), usando DNA genômico
e cDNA como amostra, o código das opsinas dos cones de duas espécies de gambás: “fat-
tailed dunnart” (Sminthopsis crassicaudata) e “stripe-faced dunnart” (Sminthopsis macroura)
foi amplificado e sequenciado. A seqüência de aminoácidos dos pigmentos visuais indicam
que ambas as espécies possuem pigmentos com sensibilidade ao comprimento de onda médio
(MWS) e ao ultravioleta (UVS) com absorbância máxima (λmax) de 530nm e 360nm
respectivamente. Nestes experimentos não houve a evidência da existência de um terceiro tipo
de pigmento (Strachan et al., 2004; Tabela 1).
Foi investigada a dimensão da visão de cores no “fat-tailed dunnart” (Sminthopsis
crassicaudata) por meio de um protocolo de aprendizagem discriminativa com dois
elementos baseado em diferenças no conteúdo cromático e independentemente do brilho
relativo. Na discriminação, era feita uma escolha entre uma luz colorida (comprimento de
onda do treinamento) e uma mistura aditiva de duas luzes coloridas diferentes (comprimentos
de ondas primários). Concluiu-se que o “fat-tailed dunnart” tem uma tricromacia funcional
como sugerido em estudos anteriores, mas que difere da dos primatas, com a contribuição do
cone com sensibilidade ao ultravioleta (Arrese et al., 2006; Tabela 1). Como este achado

15
contrasta com o do “tammar wallaby” (Macropus eugenii), reportado como dicromata
(Hemmi, 1999), estudos comportamentais subseqüentes, com uma maior variedade de
espécies, irão determinar se a tricromacia é o sistema geral da visão de cores dos marsupiais
australianos.
Assim, há informações contraditórias sobre visão de cores em marsupiais, onde
estudos genéticos afirmam a dicromacia, e estudos de microespectrofotometria, tricromacia.
No caso dos estudos com base comportamental, há também conflitos na dimensionalidade da
visão de cores encontrada, embora todas estas investigações tenham utilizado estímulos
luminosos (luz emitida e não refletida).

16
TABELA 1
SUMÁRIO DOS ESTUDOS DE VISÃO DE CORES EM MARSUPIAIS
Abreviaturas:
C (Comportamental); ERG (eletroretinografia) G (Genética), IT (inferência teórica a partir da composição
espectral de itens forrageados) , LWS (sensível a comprimentos de ondas longos), NI (não informado)
MSP (microespectrofotometria); MWS (sensível a comprimentos de ondas médios), SWS (sensível a
comprimentos de ondas curtos), UV (sensível ao ultravioleta).
ANIMAL Nº Sujeitos MÉTODO FOTOPIGMENTOS REFERÊNCIA
Didelphis virginiana 2 C SWS, MWS, LWS Friedman, 1967
Didelphis virginiana NI ERG LWS Jacobs, 1993
Didelphis aurita 6 ERG UV, MWS, LWS Cunha et al., 2006
Didelphis aurita NI G UV, LWS Hunt et al., 2009
Isoodon obesulus 6 MSP UV, MWS, LWS Arrese et al., 2005
Macropus eugenii 1 ERG MWS Deeb, et al., 2003
Macropus eugenii 1 G MWS, SWS Deeb, et al., 2003
Macropus eugenii 2 C MWS, SWS Hemmi, 1999
Monodelphis domestica NI G UV, LWS Hunt et al., 2009
Setonix brachyurus 6 MSP UV, MWS, LWS Arrese et al., 2005
Sminthopsis
Crassicaudata
1 G SWS, LWS Strachan et al., 2004
Sminthopsis
Crassicaudata
2 C UV, MWS, LWS Arrese,et al., 2006
Sminthopsis
crassicaudata
3 MSP UV, MWS, LWS Arrese et al, 2002
Sminthopsis Macroura 1 G UV, MWS Strachan et al., 2004
Tarsipes rostratus 3 MSP UV, MWS, LWS Arrese et al., 2002
Tarsipes rostratus 0 IT UV, MWS, LWS Sumner et al., 2005

17
Apesar da genética molecular e da eletroretinografia propiciarem uma maior precisão
na identificação dos diferentes tipos de cones existentes nas retinas dos marsupiais estudados,
estes métodos não respondem a todas as perguntas. Jacobs (1993) afirma que estudos que
investiguem a percepção de cores precisam contar com uma avaliação comportamental
adequada, com rigoroso controle de brilho. A abordagem comportamental, quando bem
conduzida, pode apresentar grande relevância, uma vez que a percepção de cores no ambiente
natural reflete um processo mais complexo do que a atividade de cones (Sharpe et al. 1999) e
envolve processamentos ativos conduzidos pelo sistema nervoso de forma geral (Zeki, 1993).
A importância da abordagem comportamental também se revela nos experimentos de Jacobs e
colaboradores (1999), nos quais camundongos transgênicos, diagnosticados como tricromatas
através da genética molecular e eletroretinografia, comportam-se como dicromatas quando
submetidos a testes de discriminação visual.
Reconhecendo, tal como Jacobs (1993), que a compreensão do fenômeno da visão
cromática depende somente de evidências diretas obteníveis através de estudos
comportamentais corretamente conduzidos, o presente projeto pretende contribuir para o
conhecimento dos mecanismos perceptuais da visão cromática deste importante grupo de
mamíferos primitivos, que foram os protagonistas de um passo decisivo na gênese de novas
espécies mamíferas.
Ademais, a maior parte dos estudos comportamentais em percepção de cores, em
animais, utilizam luzes monocromáticas, abruptamente ligadas e desligadas (Jacobs, 1993).
Assim, optamos pela utilização de um estímulo que se aproxime mais do ambiente visual
natural. Neste aspecto, os papéis cromáticos de Munsell, além de terem sido amplamente
utilizados, pelo grupo de pesquisas de visão de cores do Laboratório de Neurociências e
Comportamento da UnB, em experimentos com várias espécies de primatas não humanos
(e.g. Gomes et al., 2002; Pessoa et al.,1997; Pessoa et al., 2003, 2005; Prado et al., 2008;

18
Araújo et al., 2008), possuem uma refletância espectral complexa, semelhante ao que ocorre
em uma superfície do ambiente natural (Lennie & D’Zmura, 1988).
1.4– Objetivos Gerais
→ Descrever a capacidade de indivíduos Didelphis albiventris em tarefas de
discriminação de cor, utilizando uma abordagem comportamental;
→ Contribuir com informações acerca da ecologia desses marsupiais e acerca da
evolução da visão de cores em mamíferos.
1.5 – Objetivos Específicos
→ Investigar a existência de tricromatismo ou de dicromatismo em machos e fêmeas
de marsupiais da espécie Didelphis albiventris;
→ Avaliar e validar a utilização de papéis de Munsell no diagnóstico dos tipos de
visão de cores em marsupiais da espécie Didelphis albiventris.

19
2. MÉTODOS
2.1 – Sujeitos
O gambá Didelphis albiventris (Figura 2), espécie endêmica no Cerrado da Região
Centro-Oeste brasileira, foi utilizado nestes experimentos.
Os gambás são animais de pequeno porte, vida semi-arborícola e de hábitos
crepusculares ou noturnos. São basicamente solitários e anti-sociais. Entre eles são agressivos,
mas podem conviver vários dias juntos no período de acasalamento. Aos seis meses de vida
atingem a capacidade reprodutiva. Em natureza vivem até 3 anos, mas em cativeiro podem
viver até 5 anos (Nowak, 1991).
Assim, 7 filhotes (Tabela 2) foram capturados em outubro de 2006, na fazenda da
UnB, FAL (Fazenda Águas Limpas), com a devida autorização do IBAMA (Anexo 1). Foram
identificados e mantidos em gaiolas individuais (com 90 cm de largura, 90 cm de
profundidade e 50 cm de altura, feitas de madeira e com porta com grade de ferro) localizadas
no Laboratório de Neurociências e do Comportamento da Universidade de Brasília. As
gaiolas eram forradas com folhas de jornais e cobertas com feno e possuíam em seu interior
um tronco de árvore para o animal escalar. A dieta consistiu no fornecimento diário de ração
peletizada para cães em crescimento, frutas ou ovos cozidos e água ad libitum. A pesquisa
teve a devida autorização do Comitê de Ética (Anexo 2).

20
Figura 2. Indivíduo da espécie Didelphis albiventris.
TABELA 2
IDENTIFICAÇÃO DOS SUJEITOS QUANTO AO SEXO E À PARTI CIPAÇÃO NAS
DIFERENTES ETAPAS DO PROTOCOLO EXPERIMENTAL
Sujeito Sexo Etapas concluídas
Ayra (A) Feminino Até modelagem 2
Frodo (F) Masculino Todas
Merry (M) Masculino Outras fases – veio a óbito
Mohana (O) Feminino Nenhuma
Pippin (P) Masculino Outras fases – veio a óbito
Safira (I) Feminino Todas
Sam (S) Masculino Todas

21
2.2 - Labirinto
Neste estudo, foi utilizado um labirinto de dupla escolha para discriminação visual,
construído em madeira compensada e revestida em fórmica de cor cinza neutro (Figura 6).
Este labirinto consiste numa câmara de partida (Figura 3 - A) que, pela remoção de uma
partição opaca e móvel, permite ao animal acesso à câmara de dupla-escolha (Figura 3 – B),
em cuja extremidade oposta encontram-se duas peças basculantes (janelas) de acrílico
(Figuras 4 e 5). Cada uma das janelas foi construída de forma a permitir a colocação e a
retirada dos envelopes contendo as folhas de Munsell. As janelas permitem a visualização dos
papéis por parte dos sujeitos, que devem empurrá-las de forma a ter acesso ao reforço (Figura
10).
Figura 3. Vista superior do labirinto. SD- (estímulo discriminativo negativo); SD+ (estímulo
discriminativo positivo).
Figura 4. Representação das janelas basculantes onde são apresentados os estímulos.

22
Figura 5. Vista frontal do labirinto a partir da câmara de partida.
Figura 6. Vista lateral do labirinto.

23
A iluminação é fornecida por lâmpada fluorescente modelo D-65 de 20 watts,
suspensa por cima do labirinto, a aproximadamente 1m. Para produzir um iluminante que se
assemelhasse às condições do meio ambiente natural no período de maior atividade do
animal, camadas de papeis vegetais foram interpostas entre a luz e o suporte dos bulbos. A
mensuração foi realizada dentro do labirinto, pelo luxímetro TENMA Light Meter 72-7250 e
resultou em 119 lux (Figura 7).
Figura 7. Luxímetro posicionado próximo às janelas do labirinto.

24
2.3 - Estímulos
Como estímulos foram utilizados papéis de Munsell (cartões de 12,5 por 7,5). O
sistema de Munsell (Munsell, 1966; Newhall, 1940) possui uma notação onde a cor é
especificada pelo seu matiz (um número e a letra inicial da cor correspondente) e níveis de
brilho sobre saturação (por exemplo, 2.5YR 4/14 é a notação correspondente a um “yellow-
red” ou laranja 2.5, com brilho 4 e saturação 14). Os papéis de Munsell têm sido utilizados em
vários experimentos de discriminação de cores em crianças e em primatas não-humanos,
representando um método confiável e muito indicado em estudos comportamentais (Gomes et
al., 2002; Pessoa et al., 1997; Savage et al., 1987).
Foram utilizados, como base para este estudo, pares de papéis de Munsell selecionados
em testes previamente realizados com humanos. Nestes testes, seis indivíduos daltônicos (dois
com cones para o vermelho ausentes ou anômalos - protans e quatro com cones para o verde
ausentes ou anômalos - deutans) estabeleceram uma seqüência de papéis de Munsell que,
para eles, eram muito semelhantes. Este procedimento permitiu a escolha de dez pares de
estímulos que estavam em pontos de difícil discriminação para daltônicos. Para exemplificar,
dois indivíduos diagnosticados, pelo teste de Ishihara, como daltônicos protans, selecionaram
o par 2.5YR 4/14 (um laranja puro ou saturado) e 7.5GY 4/10 (um verde saturado) como
sendo cores muito semelhantes. Dentre os pares selecionados no experimento com os
humanos, foram escolhidos aqueles que envolviam YR (yellow-red – laranja) vs. GY (green-
yellow – verde).
O procedimento visa conhecer os diferentes graus de dificuldade na discriminação
entre os pares de papéis de Munsell, entre indivíduos, e no mesmo indivíduo. Assim, o SD+
foi fixado e pareado com diferentes matizes, permanecendo a variação aleatória de brilho,
formando pares de fácil ou de difícil discriminação. Foram montados então três blocos de
testes, correspondentes aos pares encontrados nos testes com os humanos (Gomes et al,
2002). Para exemplificar, o bloco do 10YR é constituído por dois pares de fácil discriminação

25
(10YR n/10 pareado com 7.5B n/4 e 5B n/6 podendo assumir os valores de brilho 4, 5, 6, 7 e
8) e por um par de difícil discriminação para dicromata (10YR n/10 pareado com 5GY n/10; n
podendo assumir os valores de brilho 5, 6, 7 e 8) obtido no já citado experimento com
humanos.
Cada papel foi mantido permanentemente dentro de um envelope de acrílico
transparente (3 mm de espessura) como forma de protegê-los da manipulação direta por parte
dos animais, evitando assim que fossem danificados.
2.4 – Procedimentos
Os experimentos foram conduzidos em quatro fases:
- Adaptação;
- Modelagem 1;
- Modelagem 2; e
- Testes comportamentais para discriminação visual.
2.4.1 - Adaptação
A adaptação dos animais aos experimentadores foi necessária para que a presença
humana não causasse estresse aos sujeitos experimentais, prejudicando o seu desempenho nos
testes comportamentais. Nesta fase, cada filhote teve o manuseio de, no mínimo, dez minutos
diários (Figura 8). O período de adaptação abrangeu os primeiros 6 meses de vida dos
animais. No final destas sessões de domesticação, os animais recebiam sua ração alimentar.

26
Figura 8. Manipulação de filhote da espécie Didelphis abiventris.
2.4.2 – Modelagem 1
Foram realizadas sessões diárias com objetivo de estimular o animal a explorar o
labirinto. Após a abertura da porta de partida foram utilizadas iscas (pedaços de frutas e ração
para cachorro) a distâncias cada vez mais próximas do painel de discriminação. Na progressão
desta modelagem, os animais foram treinados a abrir, aleatoriamente, as janelas de ambos os
lados (direita/esquerda), evitando-se com isto a formação de comportamentos de preferência.
Ambas as janelas possuíam reforço. Em cada janela foi colocado um papel de cor laranja (10
YR), de brilho variado, para que já associassem o laranja ao estímulo positivo. Esta condição
foi mais bem trabalhada na modelagem 2. O critério para esta tarefa ser considerada como
finalizada com sucesso foi um tempo de latência máximo de dez segundos, contados a partir
da saída do animal até a abertura da janela contendo a recompensa.

27
2.4.3 – Modelagem 2
Depois de retirados das suas gaiolas, os animais eram colocados na câmara de partida
do labirinto. As sessões duravam aproximadamente uma hora para cada animal. Dois
estímulos eram pareados, o estímulo positivo foi o papel laranja (10YR) e o estímulo
negativo, a cartolina preta (Figura 9). Nesta fase não houve variação do brilho do estímulo
negativo. Era colocada uma porção de 1g de ovo cozido atrás de cada janela, eliminando a
escolha pela pista olfativa. Após a abertura da câmara de partida, o animal deveria dirigir-se à
outra extremidade do labirinto e tocar o focinho onde estava inserido o cartão laranja, abrindo
a janela e recebendo a recompensa (Figura 10). A janela com o estímulo negativo era mantida
fechada. Caso o gambá escolhesse a janela com estímulo negativo, ele era reconduzido para a
câmara de partida e, após dez segundos, dava-se início a uma nova tentativa. Eram realizadas
em média trinta tentativas por sessão. Cada vez que o gambá escolhia a janela com o estímulo
positivo era considerado acerto e a escolha da outra janela, erro. Para o animal passar desta
fase de modelagem, foi necessário alcançar o número de acertos acima da aleatoriedade em
cinco sessões consecutivas, considerando-se o número total de 30 tentativas em cada sessão.
Figura 9. Representação esquemática dos estímulos utilizados na modelagem 2

28
2.4.4 – Testes comportamentais
Os animais já modelados fizeram escolhas entre as duas janelas com o estímulo
positivo ou negativo. A apresentação dos estímulos entre as posições direita e esquerda seguiu
a tabela de Gellerman (1933) para números aleatórios, para evitar que os animais utilizassem
a posição de apresentação dos estímulos como uma pista na realização dos testes. Percentuais
de acertos em cada sessão foram calculados. O teste binomial foi utilizado para construir os
limites de confiança de 95% sobre o desempenho aleatório, com base no número de tentativas
do teste (Savage et al, 1987). O teste para cada par foi realizado em duas sessões com 32
tentativas cada, totalizando 64 tentativas. O limite superior de aleatoriedade foi calculado em
62,25% e o inferior em 37,75%.
Figura 10. Sujeito (Didelphis albiventris) acessando o reforço (ovo cozido)
Não houve repetição do mesmo par no caso de erros. Todos os pares seguiram o
mesmo protocolo. Após cada tentativa, os acrílicos utilizados que continham os estímulos

29
eram limpos com o mesmo pano úmido para homogeneizar os odores deixados pelo animal
após o contato com o envelope. Foram utilizados 4 pares de discriminação (Figura 11).
2.4.4.1- 1º Par – considerado de fácil discriminação
As duas primeiras sessões foram realizadas com estímulo positivo laranja (10YR) com
brilho variado (5/10, 6/10, 7/10 e 8/10) e o negativo azul (7.5B) com brilho variado (5/4, 6/4,
7/4 e 8/4).
2.4.4.2 – 2º Par – considerado de difícil discriminação
Foram pareados os papéis (10YR) com brilho variado (5/10, 6/10, 7/10 e 8/10) com o
estímulo negativo verde (5GY) com brilho variado (5/10, 6/10, 7/10 e 8/10).
2.4.4.3 – 3º Par – considerado de fácil discriminação
O segundo par fácil foi realizado após as duas sessões do par difícil. Esta etapa foi
importante para confirmar o desempenho dos animais na discriminação entre o laranja e o
azul. Os estímulos utilizados foram (10YR) com brilho variado (5/10, 6/10, 7/10 e 8/10) e
azul 7.5B com brilho variado (4/6, 5/6, 6/6 e 7/6).
2.4.4.4 – Par de impossível discriminação
A última fase de testes foi realizada com dois papéis idênticos de matiz 10YR e brilho
5/10. Havia uma pequena marcação no verso de um deles para que este fosse o estímulo
positivo.

30
Figura 11. Representação esquemática dos estímulos utilizados nos testes discriminativos.
A - O estímulo positivo 10YR (“yellow-red”) de brilho variado foi pareado com os estímulos
negativos 7.5B (“blue”), 5GY (“green-yellow”) e 5B (“blue”) representando: 1º par fácil, par
difícil e 2º par fácil respectivamente.
B - O estímulo positivo 10YR de brilho fixo foi pareado com estímulo negativo 10 YR
idêntico representando o par de impossível discriminação.

31
3. RESULTADOS
3.1- Adaptação
Os quatro gambás machos ficaram adaptados à presença humana com
aproximadamente seis meses de vida. As três fêmeas apresentaram maior dificuldade de
aceitar o manuseio e após esse período ainda manifestaram comportamento arisco, com
tentativas de mordidas e emitindo sons de agressividade. Para diminuir a resposta agressiva
dos animais, mudou-se o horário de manipulação. O contato com os sujeitos passou a ser
realizado durante o período de maior atividade do animal: após as 17h. Uma fêmea (Mohana)
não se adaptou à presença humana não participando das demais etapas da pesquisa.
3.2 – Modelagem 1
Durante a modelagem 1, os sujeitos exploraram o labirinto de forma dinâmica e
intensa e facilmente responderam à procura de alimento. Manifestaram o interesse em abrir as
janelas e comer o reforço (ração) que havia por detrás das janelas. Esta fase teve duração
aproximada de um mês.
3.3 – Modelagem 2
Quatro sujeitos, sendo dois machos (S e F) e duas fêmeas (A e I), conseguiram manter
seu desempenho acima da aleatoriedade em pelo menos cinco sessões consecutivas (Tabela
3).
A fêmea Ayra (A) realizou 64 sessões, com média de 24,43 tentativas por sessão, e
manteve-se estável a partir da 60ª sessão (Figura 12).

32
O macho Frodo (F) realizou um total de 79 sessões, com média de 29,18 tentativas por
sessão. O sujeito manteve seu desempenho acima do nível do acaso a partir da 54ª sessão
(Figura 13).
A fêmea Safira (I) realizou 64 sessões, com média de 26,31 tentativas por sessão.
Ficou com o desempenho estável acima da aleatoriedade a partir da 54ª sessão (Figura 14).
O macho Sam (S) realizou 81 sessões, com média de 31,4 tentativas por sessão. Ficou
com o desempenho estável acima da aleatoriedade a partir da 70ª sessão (Figura 15).
Após esta fase, os animais foram considerados aptos a realizar os testes
comportamentais.
TABELA 3
DESEMPENHO DOS SUJEITOS (Didelphis albiventris) NA MODELAGEM 2
Sujeito Nº de sessões Nº de sessões com
resultados acima da
aleatoriedade
Estável a partir
da sessão:
Média de
tentativas por
sessão
Ayra (A)♀ 64 38 60ª 24,43
Frodo (F) ♂ 79 67 54ª 29,18
Safira (I) ♀ 64 42 54ª 26,31
Sam (S) ♂ 81 65 71ª 31,40

33
Figuras 12 e 13 – Desempenhos de Didelphis albiventris em tarefa visual discriminativa
(modelagem 2). Sujeitos: Ayra (A) e Frodo (F). A linha tracejada representa o limite
superior de aleatoriedade, a linha contínua colorida representa o número de acertos em cada
sessão.

34
Figuras 14 e 15 – Desempenhos de Didelphis albiventris em tarefa visual discriminativa
Modelagem 2. Sujeitos: Safira (I) e Sam (S). A linha tracejada representa o limite superior de
aleatoriedade, a linha contínua colorida representa o número de acertos em cada sessão.

35
3.4 – Testes comportamentais
Dois machos (S e F) e uma fêmea (I) completaram todas as fases de teste. Foram
encontrados três resultados distintos.
O macho F manteve-se acima da aleatoriedade em todas as fases dos testes
comportamentais, inclusive na do par impossível (Figura 16; Tabela 4).
A fêmea I, por outro lado, teve seu rendimento abaixo da aleatoriedade em todas as
fases dos testes comportamentais (Figura 17; Tabela 5).
O macho S manteve o número de acertos acima da aleatoriedade nos pares de fácil
discriminação para dicromatas (10YR Vs. 5B e 10 YR Vs. 7.5B), porém, seu rendimento caiu
para níveis aleatórios no par de difícil discriminação (10YR Vs. 7.5GY) e no impossível
(10YR 5/10 Vs. 10YR 5/10) (Figura 18; Tabela 6).

36
Figura 16. Desempenho do macho Frodo nos testes comportamentais. O estímulo positivo
10YR foi pareado com os estímulos negativos 7.5B, 5GY, 5B e 10YR. As linhas tracejadas
representam os limites inferior e superior de aleatoriedade.
TABELA 4
DESEMPENHO NO TESTE COMPORTAMENTAL - FRODO
TAREFA Nº de acertos Percentual de acertos
10 YR Vs. 7.5B (par fácil) 53 82,81%
10YR Vs. GY (par difícil) 52 81,25%
10YR Vs. 5B (par fácil) 53 82,81%
10YR Vs. 10YR (par impossível) 58 90,62%

37
Figura 17. Desempenho da fêmea Safira nos testes comportamentais. O estímulo positivo
10YR foi pareado com os estímulos negativos 7.5B, 5GY, 5B e 10YR. As linhas tracejadas
representam os limites inferior e superior de aleatoriedade.
TABELA 5
DESEMPENHO NO TESTE COMPORTAMENTAL - SAFIRA
TAREFA Nº de acertos Percentual de acertos
10 YR Vs. 7.5B (par fácil) 33 51,56%
10YR Vs. GY (par difícil) 34 53,12%
10YR Vs. 5B (par fácil) 27 42,18%
10YR Vs. 10YR (par impossível) 35 54,68%

38
Figura 18. Desempenho do macho Sam nos testes comportamentais. O estímulo positivo
10YR foi pareado com os estímulos negativos 7.5B, 5GY, 5B e 10YR. As linhas tracejadas
representam os limites inferior e superior de aleatoriedade.
TABELA 6
DESEMPENHO NO TESTE COMPORTAMENTAL - SAM
TAREFA Nº de acertos Percentual de acertos
10 YR Vs. 7.5B (par fácil) 46 71,87%
10YR Vs. GY (par difícil) 31 48,43%
10YR Vs. 5B (par fácil) 51 79,68%
10YR Vs. 10YR (par impossível) 33 51,56%

39
4. OUTRAS FASES
A proposta inicial para o treinamento dos sujeitos até chegarem a fase de testes
comportamentais foi bem diferente da acima descrita. Houve uma evolução de tentativas e
idéias que merecem ser comentadas e discutidas.
4.1 – Protocolo A
Este protocolo refere-se à primeira modelagem realizada para que os animais
escolhessem um dos lados do labirinto. Foi iniciada após a modelagem 1 já comentada na
parte da metodologia.
Nesta fase os animais deveriam fazer escolhas entre o laranja (10YR) e o azul (7.5B),
ambos com variação aleatória de brilho. Cada sessão era realizada com 10 tentativas e seguia
uma tabela de pseudo-aleatoriedade. Após seis meses de treino, os sujeitos ainda
apresentavam desempenho abaixo da aleatoriedade. O número de tentativas por sessão foi
aumentado de 10 para 30. Mesmo com este aumento, os animais permaneceram com
desempenho aleatório.
4.2 – Protocolo B
Refere-se ao protocolo da nova modelagem utilizada após o fracasso da modelagem
com o protocolo A. Aparentemente, o nível de dificuldade da tarefa discriminatória estava
alto. Para simplificar a tarefa, foram apresentados pares de estímulos com brilho fixo. Foram
utilizados pares como exemplo: 10YR 5/10 Vs. 7.5B 5/4 durante as 15 primeiras tentativas e
10YR 6/10 Vs. 7.5B 6/4 nas 15 restantes da mesma sessão.

40
A fase de modelagem utilizando o protocolo B durou de 36 a 49 sessões e todos os
quatro sujeitos, sendo três machos (S, F e P) e uma fêmea (A), mantiveram o número de
acertos acima da aleatoriedade após a 15ª sessão (Figura 19).
Com este novo protocolo o desempenho dos sujeitos passou a ser significativo.
Passou-se então para o Protocolo C.

41
05
101520253035
Núm
ero
de T
enta
tivas
Número da Sessão
10 YR x 7,5 BAcertos Lim. Aleatório
10 YR x 7,5 B
0
10
20
30
40
F1 F3 F5 F7 F9F11 F13 F15 F17 F19 F21 F23
F25 F27 F29
F31 F33 F35 F37 F39 F39 F41
Número da Sessão
Núm
ero
de
Ten
tativ
as
Acertos Lim. Aleatório
10 YR x 7,5 B
05
101520253035
P1 P3 P5 P7 P9P11 P13 P15 P17 P19 P21 P23 P25 P27 P29 P31
P33 P35 P37 P39 P41 P43
Número da Sessão
Núm
ero
de
Ten
tativ
as
Acertos Lim. Aleatório
10 YR x 7,5 B
05
101520253035
A1 A3 A5 A7 A9A11 A13 A15 A17 A19 A21
A23
A25 A27 A29 A31 A33 A35
Número da Sessão
Núm
ero
de
Ten
tativ
as
Acertos Lim. Aleatório
Figura 19. Resultados da modelagem utilizando o protocolo B. O SD+ (10YR) foi pareado com azul (7.5B), ambos com brilho fixo. A linha contínua representa o número de acertos e a linha tracejada o limite superior de aleatoriedade. S, F, P e A representam as iniciais dos gambás (Didelphis albiventris): Sam, Frodo, Pippin e Ayra. Ao lado das iniciais estão os números respectivos das sessões.

42
4.3 – Protocolo C
Refere-se ao mesmo procedimento realizado após concluída a modelagem com o
protocolo B. Utilizou-se o mesmo procedimento realizado no protocolo A, ou seja,
apresentação do primeiro par de fácil discriminação (laranja 10YR e azul 7.5B) com variação
aleatória de brilho.
Foram realizadas de 40 a 43 sessões com três indivíduos, sendo dois machos (S e F) e
uma fêmea (A). Os três sujeitos conseguiram os resultados acima da aleatoriedade; o macho F
e a fêmea A após a 7ª sessão. O resultado do macho S oscilou próximo à linha da
aleatoriedade até a 19ª sessão, após esta, o resultado se manteve acima da aleatoriedade
(Figura 20).
O número de acertos dos sujeitos manteve-se acima da aleatoriedade e estavam aptos a
passar para a fase de testes quando se comprovou a existência de pistas olfativas.
Quando o sujeito passava pela janela para acessar a recompensa (ovo cozido), havia o
contato direto do dorso do gambá com os envelopes que continham os estímulos positivos e
estes ficavam marcados com o cheiro do animal. Já os envelopes com os estímulos negativos
só eram tocados pelos focinhos.
Para comprovar a veracidade deste fato, os envelopes de acrílico que contêm os papéis
de Munsell foram trocados: os papéis 10YR (SD+) foram colocados nos envelopes onde antes
permaneciam os papéis 7.5B (SD-) e, da mesma forma, estes últimos foram guardados nos
acrílicos dos primeiros. Os sujeitos, que já apresentavam um resultado significativo, passaram
a escolher os envelopes com o estímulo negativo.
Adotou-se então a limpeza dos acrílicos após cada tentativa do animal,
independentemente de sua resposta (acerto ou erro). Esse procedimento teve como objetivo
homogeneizar os odores deixados nos acrílicos e evitar a pista olfativa. Após esse novo
procedimento, os desempenhos voltaram aos níveis de aleatoriedade.

43
10 YR x 7,5 B
0
10
20
30
40
S1 S3 S5 S7 S9S11 S13 S15 S17 S19 S21 S23 S25 S27 S29 S31 S33 S35 S37 S39 S41
Número da Sessão
Núm
ero
de
Ten
tativ
asAcertos Lim. Aleatório
10 YR x 7,5 B
0
10
20
30
40
F1 F3 F5 F7 F9F11 F13 F15 F17 F19 F21 F23 F25 F2
7F29 F31 F3
3F35 F37 F3
9F41 F43
Número da Sessão
Núm
ero
de
Ten
tativ
as
Acertos Lim. Aleatório
10 YR x 7,5 B
0
10
20
30
40
A1 A3 A5 A7 A9A11 A13 A15 A17 A19 A21 A23 A25 A27 A29 A31 A33 A35 A37 A39
Número da Sessão
Núm
ero
de
Ten
tativ
as
Acertos Lim. Aleatório
Figura 20. Resultados da modelagem utilizando o protocolo C. O SD+ (10YR) com brilho variado
(5/10, 6/10, 7/10, 8/10) foi pareado com o azul (7.5 B) com brilho variado (4/10, 5/10, 6/10, 7/10). A
linha contínua representa o número de acertos e a linha tracejada o limite superior de aleatoriedade. S
e F representam as iniciais dos machos (Sam e Frodo), e A, da fêmea (Ayra). Ao lado das iniciais
estão os números respectivos das sessões.

44
5. DISCUSSÃO
5.1 - Motivação dos sujeitos
Com o desenvolvimento desta pesquisa foi possível constatar a importância de manter
os sujeitos experimentais motivados para a realização do teste.
O sujeito Sam apresentou maior motivação para a realização do teste, pois foi possível
começar os testes com este indivíduo mais cedo do que com os demais. Aparentemente os
machos se esforçavam mais para concluir com sucesso a tarefa discriminatória do que as
fêmeas. Um dos motivos relevantes observados para explicar essa diferença do
comportamento entre os indivíduos era o apetite do animal. Os machos se movimentavam
mais dentro das gaiolas, bebiam mais água e estavam freqüentemente com muito apetite.
Durante os testes comiam todo o reforço oferecido.
Para aumentar a motivação dos animais, em especial a das fêmeas, foi trocado o
reforço que inicialmente era uva e passou a ser ovo cozido e ração. A quantidade de alimento
oferecido durante as sessões e após o término dessas precisou ser revista sempre que a
motivação dos sujeitos caía. A água permaneceu ad libitum.
5.2 – Contato visual com outros indivíduos
Os sujeitos foram mantidos em gaiolas, privados do contato visual com outros
indivíduos da mesma espécie ou de outras espécies. Entre os sujeitos foram mantidos apenas
os contatos auditivo e olfativo. As gaiolas eram dispostas lado a lado, impedindo que os
sujeitos se vissem. O contato visual era realizado esporadicamente nos momentos em que o
sujeito saía da sua gaiola durante a limpeza dessas e nas sessões do experimento.
O bem-estar dos animais facilita o desenvolvimento dos experimentos. Os sujeitos
precisam de um local maior para explorar, gastar suas energias. Apesar do ambiente pequeno,

45
os machos ainda se mostravam ativos durante o final da tarde e à noite. As fêmeas, por outro
lado, apresentavam-se diversas vezes sonolentas, vagarosas e pouco motivadas a realizar os
experimentos, mesmo com a privação de alimentos durante o dia.
5.3 – Simplificação de tarefas
A partir desse estudo, foi possível perceber que a realização de tarefas aparentemente
simples pode ser muito complexa para o animal. Foi importante alterar as fases de realização
do experimento, incluindo a modelagem com o cartão preto, para diminuir o nível de
dificuldade das tarefas. A inclusão dessa nova fase tornou possível o aprendizado de tarefas
de discriminações menos evidentes: pareamento dos estímulos (positivos e negativos) com
variação aleatória de brilho.
5.4 – Importância do teste impossível
O teste considerado de discriminação impossível foi de extrema importância nesta
pesquisa. O resultado dos testes comportamentais do sujeito Frodo foi invalidado devido ao
alto desempenho durante as sessões com o par impossível. Caso esta fase final não fizesse
parte da seqüência de testes, poder-se-ia concluir erroneamente que esse indivíduo era um
tricromata.
Por outro lado, a utilização do par impossível permitiu corroborar os resultados dos
testes discriminativos do sujeito Sam que teve queda em seu desempenho na realização da
fase final. Com isso, concluímos que esse sujeito guiava-se por pistas visuais e não olfativas.

46
5.5 – Pistas olfativas
O encéfalo do gambá, classificado como sendo típico de um animal macrosmático,
sem corpo caloso, apresenta um enorme bulbo olfatório com um grosso e curto pedúnculo e
amplos tratos olfatórios, que distribuem suas fibras numa enorme área de paleopálio,
correspondente à superfície do trígono (tubérculo) olfatório, fossa lateral e lobo piriforme
(Lindemann et al., 2003).
Devido a essa grande capacidade de discriminação olfativa, mesmo com a limpeza dos
acrílicos onde eram apresentados os estímulos, o sujeito Frodo conseguiu discriminar o cheiro
deixado nos acrílicos e teve o desempenho acima do acaso em todas as fases de teste,
inclusive no par impossível.
Os sujeitos Pippin, Ayra, e Sam também mostraram um forte reconhecimento de
cheiros ao realizar com sucesso as fases relatadas acima: protocolo B e protocolo C.
Aparentemente, os animais dão mais importância aos estímulos olfativos do que aos visuais
cromáticos. O gambá apresenta um pequeno globo ocular e nervos ópticos proporcionalmente
muito finos, revelando não ser um animal de essência visual (Lindemann et al., 2003).
Ao realizar os testes, o macho Sam, que conseguiu realizar com sucesso os pares de
fácil discriminação e não conseguiu o mesmo desempenho nas demais fases (par difícil e
impossível), era o que fazia a escolha das janelas de forma singular. Sam olhava
freqüentemente para os dois lados. A escolha era feita com uma maior distância da janela,
quando comparada com a dos outros sujeitos.
O macho Frodo, que teve seu desempenho acima da aleatoriedade, por outro lado,
fazia a escolha bem próximo às janelas, cheirando-as.
Para evitar esse tipo de pista, é importante a construção de um labirinto que impeça o
contato dos sujeitos com os estímulos, ou com os envelopes que os contenham. Uma
alternativa seria manter fixo o acrílico protetor em ambas as janelas, alternando-se apenas os
papéis de Munsell.

47
5.6 - Comparação dos resultados com outros estudos de visão de cores em marsupiais
A afirmação que o marsupial Didelphis albiventris é dicromata foi reforçada pelo
desempenho de um sujeito (S) desta espécie que teve desempenho nos testes comportamentais
acima da aleatoriedade nos pares de fácil discriminação para um dicromata e na faixa da
aleatoriedade nos pares de discriminação difícil. O fato de que este animal não tenha
discriminado o par impossível assegura que a discriminação não foi fundamentada em pistas
olfativas.
De acordo com os estudos eletroretinográficos de Jacobs, não publicados
integralmente, mas relatados em sua revisão (Jacobs, 1993), no Didelphis virginiana foi
detectado apenas um tipo de cone com pico espectral de 560nm. Essa técnica é bastante
sensível, mas a ausência de evidência de uma segunda classe de pigmento deve ser vista com
cuidado (Jacobs, 1993).
Contudo, pela própria natureza metodológica, não se podem comparar os resultados
encontrados neste trabalho com os obtidos por métodos não-comportamentais:
microespectrofotometria, genética molecular e eletroretinografia. Essas pesquisas auxiliam na
obtenção de dados referentes à presença de determinados fotopigmentos, mas com essas
informações não se pode afirmar com certeza o tipo de visão de cores dos sujeitos analisados,
tendo em vista que o processamento visual envolve outras regiões fora da retina. A percepção
de cores no ambiente natural envolve processamentos ativos conduzidos pelo sistema nervoso
de forma geral (Zeki, 1993). Testes comportamentais, portanto, são decisivos para se afirmar
se uma espécie se comporta como dicromata ou tricromata (Jacobs, 1993; Kelber et al., 2003).
A conclusão desta pesquisa está de acordo com a publicada por Hemmi (1999), que
realizou testes comportamentais com a espécie Macropus eugenii. Hemmi pareou dois
estímulos luminosos monocromáticos com variação de intensidade e treinou os sujeitos a
escolherem o de maior comprimento de ondas. Após esta fase, os sujeitos já modelados
responderam a novos estímulos monocromáticos coloridos que eram intercalados por um par

48
no qual se substituía uma das luzes coloridas pela luz branca. Para um dicromata, a luz branca
tem aparência subjetiva de uma luz monocromática de um comprimento de onda particular
(Neumeyer, 1991). Sabendo-se disso, foi possível determinar o ponto neutro, encontrado
exclusivamente em dicromatas, ponto no qual o sujeito posiciona a luz branca no eixo dos
comprimentos de onda.
Por outro lado, o resultado do nosso trabalho diverge do realizado por Friedman
(1967), com o gambá Didelphis virginiana. Friedman concluiu que essa espécie, do mesmo
gênero utilizado no presente estudo, era tricromata. Essa divergência pode ser atribuída a uma
diferença interespecífica. Porém, fatores metodológicos podem ter contribuído para um
resultado equivocado. Friedman avaliou o desempenho do gambá na tarefa discriminatória
entre as luzes azul, vermelha, amarela e verde cujos brilhos foram equalizados com o brilho
do azul, segundo os parâmetros do olho humano. Não houve o controle baseado na visão do
sujeito experimental. A partir disso, não se pode garantir que o animal não tenha percebido
diferença de intensidade entre uma luz e outra. Apesar do pesquisador ter eliminado as pistas
olfativas, posicionando reforço em ambos os lados e isolando os filtros de luz do contato
direto com o gambá, o sujeito pode ter se guiado por pistas de brilho. Além disso, não foi
realizado nenhum teste impossível para corroborar a hipótese proposta.
Nosso resultado também difere do realizado com marsupiais Sminthopsis
crassicaudata, no qual o animal já modelado deveria escolher entre a luz colorida (do treino)
e uma mistura aditiva de luzes coloridas (comprimentos de onda primários) com intensidades
variadas (Arrese et al., 2006). Arrese e colaboradores encontraram evidências de três tipos de
cones, sendo um com pico de absorção na faixa UV. Os pesquisadores não relataram se houve
controle de pistas olfativas, mas realizaram teste impossível no qual o acerto dos sujeitos caiu
para 50% nessa tarefa.
Essa diferença entre nossos resultados, dicromatismo na espécie Didelphis albiventris,
e os apresentados para a espécie Sminthopsis crassicaudata (Arrese et al., 2006) pode ser

49
atribuída ao fato de fazerem parte de ordens distintas, Didelphimorphia e Dasyuromorphia
respectivamente, apresentando características particulares em relação a percepção de cores.
6. CONCLUSÕES
Os resultados encontrados nos testes comportamentais de discriminação visual
sugerem que a espécie Didelphis albiventris se comporta como dicromata.
Ao analisar os desempenhos nas tarefas discriminativas constatou-se forte tendência
dos sujeitos da espécie Didelphis albiventris a se guiarem por pistas olfativas.
É possível utilizar papéis de Munsell para diagnosticar o tipo de visão de cores em
marsupiais da espécie Didelphis albiventris.
Estudos comportamentais subseqüentes com um maior número de indivíduos irão
determinar se a dicromacia é o sistema geral da visão de cores dos marsupiais Didelphis
abiventris.

50
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ahnelt, P., Hokoç, J.N. & Röhlich, P. (1995). Photoreceptors in a primitive mammal, the
South American opossum, Didelphis marsupialis aurita: Characterization with
anti-opsin immunolabeling. Visual Neuroscience, 12: 793-804.
Araújo JR, A.C., Didonet, J.J., Araújo, C.S., Saletti, P.G., Borges, T.R.J. & Pessoa, V.F.
(2008). Color vision in the black howler monkey (Alouatta caraya), Visual
Neuroscience, 25: 243-248.
Arrese, C. A., Beazley, L. D. & Neumeyer, C. (2006). Behavioral evidence for marsupial
trichromacy, Current Biology, 16: 193-194.
Arrese, C.A., Hart N. S., Thomas, N., Beazley L.D. & Shand J. (2002) Trichromacy in
Australian marsupials. Current Biology, 12: 657-660.
Arrese, C. A., Oddy, A. Y., Runham P. B., Hart N. S., Shand J., Hunt D. M. & Beazley, L.
D. (2005). Cone Topography and spectral sensitivity in two potentially
trichromatic marsupials, the quokka (Setonix brachyurus) and quenda (Isoodon
obesulus). Proceedings of Biological Sciences 272: 791-796.
Boissinot, S., Tan, Y., Shyne, S.K., Schneider, H., Sampaio, I., Neiswanger, K., Hewett-
Emmett, D. & Li, W.H. (1998) Origins and antiquity of X-linked triallelic color vision
systems in New World monkeys. Proceedings of the National Academy of Sciences of
the United States of America,, 95: 13749-13754.

51
Bowmaker, J.K., Astell,S., Hunt, D.M. & Mollon, J.D. (1991) Photosensitive and photostable
pigments in the retinae of Old World monkeys. The Journal of Experimental Biology,
156: 1-19.
Chang, B.S., Crandall, K. A., Carulii, J.P. & Hartl, D.L. (1995). Opsin phylogeny and
evolution: a model for blue shifts in wavelength regulation. Molecular
Phylogenetics and Evolution, 4: 33-43.
Cunha, D. C. F. A., Hokoç, J. M., Dantas, A. M. Moraes, A. M. M. (2006). Estudo
eletrorretinográfico de visão cromática. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, 69:
857-863.
Deeb, S. S., Wakefield M. J., Tada T., Marotte L. Yokoyama S., Marshall Graves J. A.
(2003). The cone visual pigments of an Australian marsupial, the tammar wallaby
(Macropus eugenii): sequence, spectral tuning, and evolution. Molecular Biology
and Evolution 10: 1642-1649.
Dulai, K.S., Bowmaker, J.K., Mollon, J.K. & Hunt, D.M. (1994) Sequence divergence,
polymorphism and evolution of the middle-wave and long-wave pigment genes of
Great Apes and Old World monkeys. Vision Research, 34: 2483-2492.
Emmerton, J., Delius, J.D. (1980). Wavelength discrimination in the “visible” and
ultraviolet spectrum by pigeons. Journal of Comparative Physiology A, 141: 47-
52.
Friedman, H. (1967). Colour Vision in the Virginia opossum. Nature, 213; 835-836.

52
Gellerman, L.W. (1933) Chance orders of alternating stimuli in visual discrimination
experiments. Journal of Genetic Psychology., 42: 206-208.
Gomes, U.R., Pessoa, D.M.A., Tomaz, C. & Pessoa, V.F. (2002). Color vision perception in
the capuchin monkey Cebus apella: a re-evaluation of procedures using Munsell
papers. Behavioural Brain Research, 129: 153-157.
Hemmi, J.M. (1999). Dichromatic colour vision in an Australian marsupial, the tammar
wallaby. Journal of Comparative Physiology A, 185: 509-505.
Hisatomi, O., Kayada, S., Aki, Y., Iwasa, T. & Tokunaga, F. (1994). Phylogenetic
relationships among vertebrate visual pigments. Vision Research, 34: 3097-3102.
Hunt, D.M., Chan, J., Carvalho, L.S., Hokoç, J.N., Ferguson, M.C., Arrese, C.A., Beazley,
L.D. (2009). Cone visual pigments in two species of South American marsupials.
Gene, 433: 50-55.
Hokoç, J.N., Lima, S.M.A. Moraes, A. M.M. & Ahnelt, P.A. (2006). Visão em
Marsupiais: Características e evolução em Cáceres, N.C. & Monteiro Filho, E. L.
(org) Os Marsupiais do Brasil – Biologia, Ecologia e Evolução. UFMS. Campo
Grande, MS.
Jacobs, G.H. (1993). The distribution and nature of colour vision among the mammals.
Biological Reviews of the Cambridge Philosophical Society, 68: 413-471.

53
Jacobs, G.H., Fenwick, J.C., Calderone, J.B. & Deeb, S.S. (1999). Human cone pigment
expressed in transgenic mice yields altered vision. The Journal of Neuroscience, 19:
3258-3265.
Jacobs, G.H., Rowe, M..P. (2004). Evolution of vertebrate colour vision. Clinical and
Experimental Optometry, 87: 206-216.
Johnson, R.L., Grant, K.B., Zankel, T.C., Boehm, M.F., Merbs, S.L., Nathans, J. &
Nakanishi, K. (1993). Cloning and expression of goldfish opsin sequences.
Biochemistry, 32: 208-214.
Kelber, A., Vorobyev, M., Osorio, D. (2003). Animal colour vision – behavioral tests and
physiological concepts. Biological Reviews of the Cambridge Philosophical
Society, 78: 81-118.
Kolb, H. & Wang, H.H. (1985). The distribution of photoreceptors, dopaminergic
amacrine cells and ganglion cells in the retina of the North American Opossum
(Didelphis virginiana). Vision Research, 25: 1207-1221.
Lennie P. & D´Zmura, M. (1988). Mechanisms of color vision. Critical Reviews in
Neurobiology, 3: 333-400
Lindemann, T., Campos, R. (2003). Systematization, distribution, and territory of the
middle cerebral artery on the surface of the brain in Didelphis albiventris
(opossum). Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, 40:
349-358.

54
Munsell Book of Color. (1966) Munsell Color Company, Inc. Baltimore, Maryland, USA.
Neumeyer, C. (1991). Evolution of colour vision. In: Cronly-Dillon, J.K., Gregory, R.L.,
Evolution of the eye and visual system, MacMillan Press, Basingstoke, 284-305.
Newhall, S.M. (1940) Preliminary report of the OSA subcomittee on the spacing of the
Munsell colors. Journal of Optical Society of America, 10: 617-645.
Nowak, R.M. (1991). Walker´s mammals of the world. 5th ed. Baltimore and London: The
Johns Hopkins University Press. Vol. I.
Okano, T., Kojima, D., Fukada, Y., Shichida, Y. E & Yoshizawa,T. (1992). Primary
structures of chicken cone visual pigments: vertebrate rhodopsins have evolved out
of cone visual pigments. Proceedings of the National Academy of Sciences, 89:
5932-5936.
Oswaldo-Cruz, E., Hokoç, J.N. & Sousa, A.P.B. (1979). A schematic eye for the
opossum. Vision Research, 19: 263-278.
Paula Couto, C. (1953). Paleontologia Brasileira (Mamíferos), Ministério da Educação e
Saúde, Instituto Nacional do Livro, Rio de Janeiro, vol. XVI, 516pp.
Pessoa, D.M.A., Araujo, M.F.P., Tomaz, C., Pessoa, V.F. (2003). Colour discrimination
learning in black-handed tamarin (Saguinus midas niger). Primates, 44: 413-418.

55
Pessoa, D.M.A., Cunha, J. F., Tomaz, C.A.B., Pessoa, V.F. (2005). Colour discrimination in
the black-tufted-ear marmoset (Callithrix penicillata): ecological implications. Folia
Primatologica, 76: 125-134.
Pessoa, V.F., Tavares, M.C.H., Aguiar, L., Gomes, U.R. & Tomaz, C. (1997). Color vision
discrimination in the capuchin monkey Cebus apella: evidence for trichromaticity.
Behavioral Brain Research, 89:285-288.
Prado, C.C., Pessoa, D.M.A., Sousa, F.L.L. & Pessoa, V.F. (2008). Behavioural Evidence of
sex-linked colour vision polymorphism in the squirrel monkey Saimiri ustus. Folia
Primatologica, 79: 172-184.
Savage, A., Dronzek, L.A. & Snowdon, C.T. (1987) Color discrimination by the cotton-top
tamarin (Saguinus oedipus oedipus) and its relation to fruit coloration. Folia
Primatologica, 49: 57-69.
Sharpe, L.T., Stockman, A., Jagle, H. & Nathans, J. (1999) Opsin genes, cone
photopigments, color vision and color blindness. In: COLOR VISION. From
Genes to Perception. Karl R Gegenfurtner & Lindsay T Sharpe eds., pp: 3-51,
Cambridge University Press, UK.
Silveira, L.C.L., Picanço-Diniz, C.W. & Oswaldo-Cruz, E. (1982). Contrast sensitivity
function and visual acuity of the opossum. Vision Research, 22: 1371-1377.

56
Simpson, G.G. (1945). The principles classification and a classification of mammals.
Bulletin of the American Museum of Natural History, 85: 1-350.
Strachan, J., Chang, L. Y., Wakefield, M. J., Graves, J. A. & Deeb, S. S. (2004). Cone
visual pigments of the stripe-faced and fat-tailed dunnarts: Sequence and iferred
spectral properties. Visual Neuroscience, 21: 223-229.
Sumner, P., Arrese, C. A. & Partridge J. C. (2005). The ecology of visual pigment tuning
in an Australian marsupial: the honey possum Tarsipes rostratus. The Journal of
Experimental Biology, 208: 1803-1815.
Zeki, S. (1993) The physiology of the colour pathways. In: A vision of the brain, Blackwell
Scientific Publications, pp 256-263. Oxford, UK

57
8. ANEXOS
8.1 – Anexo 1 : Licença do IBAMA para captura dos animais.

58
8.2 – Anexo 2: Aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética.

59
8.3 – Anexo 3: Artigo científico formatado segundo especificações da revista
Neurobiologia (Recife).
Percepção de cores no gambá (Didelphis albiventris)
Color vision in the white-eared opossum (Didelphis albiventris)
Beatriz Medina Pegoraro1, Eduardo de Almeida Gutierrez2, Valdir Filgueiras Pessoa3 1 – Estudante de Mestrado da Universidade de Brasília (UnB) 2 – Estudante de iniciação científica da Universidade de Brasília (UnB) 3 – Professor da Universidade de Brasília (UnB) Número de páginas: 11

1
RESUMO A visão de cores em marsupiais é um tema controverso, especialmente dentro
da ordem Didelphimorphia (gambás). Enquanto o diagnóstico da visão desses animais em
testes comportamentais foi o tricromatismo e nos estudos eletrofisiológicos, o
monocromatismo, recentemente, em estudos de genética molecular, encontraram apenas duas
classes de opsinas nos dois maiores gêneros dessa ordem. O presente estudo avaliou a
habilidade discriminativa de gambás (Didelphis albiventris) através de testes
comportamentais. Os animais realizaram as tarefas em um labirinto de dupla escolha em
forma de Y com uma câmara de partida. Os estímulos utilizados foram papéis de Munsell de
diferentes matizes. Para assegurar a escolha baseada na cor, os papéis foram apresentados
com variação aleatória de brilho. Um macho obteve desempenho significativo nos testes com
pares de fácil discriminação para um dicromata, mas seu desempenho caiu para a faixa da
aleatoriedade no par de difícil discriminação. Esses resultados sugerem que a espécie
Didelphis albiventris é dicromata.
Unitermos: visão de cores, marsupial, comportamento, gambá
ABSTRACT
Color vision in marsupials is a controversial subject, especially among the Order
Didelphimorphia (American opossums). While behavioral tests have diagnosed these animals
as trichromatic and electrophysiological studies as monochromatic, recently molecular genetic
studies have found only two classes of cone opsin in two major genera of the order. This
study examined the color discrimination abilities of opossums (Didelphis albiventris) through
a series of tasks involving a behavioral paradigm of discrimination learning. The animals
were tested in a Y-shaped maze, consisting of a start chamber and a decision area with a
double choice panel. Stimuli consisting of pairs of Munsell color cards were presented in
random brightness values to assure that discriminations were based on color rather than
brightness cues. One male succeeded on discriminating the stimuli pairs considered easy for a
dichromatic individual, but failed in the attempt to discriminate those expected to be easy
only for a trichromatic. These results suggest that Didelphis albiventris is dichromatic.
Key words: colour vision, marsupial, behavior, opossum
INTRODUÇÃO
Ao fazermos uma revisão na literatura existente sobre estudos feitos com o gambá do
cerrado (Didelphis albiventris), no que concerne à forma de detectar a luz visível refletida e
como transformá-la em imagens cromáticas do seu meio ambiente externo, verifica-se uma

2
escassez de trabalhos que possam esclarecer tal fenômeno. Mesmo para o gambá da Mata
Atlântica (Didelphis marsupialis aurita) e para o opossum (Didelphis virginiana), os poucos
dados publicados apresentam algumas contradições que impedem uma clara compreensão
sobre a visão cromática destes animais.
Assim, há informações contraditórias sobre visão de cores em marsupiais, onde
estudos genéticos afirmam a dicromacia1, e estudos de microespectrofotometria, tricromacia2.
No caso dos estudos com base comportamental, há também conflitos na dimensionalidade da
visão de cores encontrada, embora todos estas investigações tenham utilizado estímulos
luminosos3 (luz emitida e não refletida).
Apesar da genética molecular e da eletroretinografia propiciarem uma maior precisão
na identificação dos diferentes tipos de cones existentes nas retinas dos primatas estudados,
estes métodos não respondem a todas as perguntas4. Jacobs (1993) afirma que estudos que
investiguem a percepção de cores precisam contar com uma avaliação comportamental
adequada, com rigoroso controle de brilho. A abordagem comportamental, quando bem
conduzida, pode apresentar grande relevância, uma vez que a percepção de cores no ambiente
natural reflete um processo mais complexo do que a atividade de cones5 e envolve
processamentos ativos conduzidos pelo sistema nervoso de forma geral6. A importância da
abordagem comportamental também se revela nos experimentos de Jacobs e colaboradores
(1999) onde camundongos transgênicos diagnosticados como tricromatas através da genética
molecular e eletroretinografia, comportam-se como dicromatas quando submetidos a testes de
discriminação visual.
Reconhecendo que a compreensão do fenômeno da visão cromática depende somente
de evidências diretas obteníveis através de estudos comportamentais corretamente
conduzidos4, o presente projeto pretende contribuir para o conhecimento dos mecanismos
perceptuais da visão cromática deste importante grupo de mamíferos primitivos, que foram os
protagonistas de um passo decisivo na gênese de novas espécies mamíferas.
METODOLOGIA
Sujeitos
O gambá Didelphis albiventris, espécie endêmica no Cerrado da região Centro-Oeste
brasileira, foi utilizado nestes experimentos.
Assim, 1 filhote macho foi capturado com a devida autorização do IBAMA. Foi
mantido em gaiola individual (com 90 cm de largura, 90 cm de profundidade e 50 cm de
altura, feitas de madeira e com porta com grade de ferro) localizada no Laboratório de
Neurociências e do Comportamento da Universidade de Brasília. A gaiolas era forrada com

3
folhas de jornais e cobertas com feno, possuía em seu interior um tronco de árvore para o
animal escalar. A dieta consistiu no fornecimento diário de ração peletizada para cães em
crescimento, frutas ou ovos cozidos e água ad libitum. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê
de Ética.
Aparato
Neste estudo foi utilizado um aparato de dupla escolha para discriminação visual,
construído em madeira compensada e revestida em fórmica de cor cinza neutro. Este aparato
consiste numa câmara de partida que, pela remoção de uma partição opaca e móvel, permite
ao animal acesso à câmara de dupla-escolha, em cuja extremidade oposta encontram-se duas
peças basculantes (janelas) de acrílico. Cada uma das janelas foi construída de forma a
permitir a colocação e retirada dos envelopes contendo as folhas de Munsell. As janelas
permitem a visualização dos papéis por parte do sujeito, que deve empurrá-las de forma a ter
acesso ao reforço. A janela contendo o estímulo negativo permanece fechada.
A iluminação foi fornecida por lâmpada fluorescente modelo D-65 de 20 watts,
suspensa por cima do aparato, a aproximadamente 1m. Para produzir um iluminante que se
assemelhasse às condições do meio ambiente natural no período de maior atividade do
animal, camadas de papeis vegetais foram interpostas entre a luz e o suporte dos bulbos. A
mensuração foi realizada dentro do aparato, por um luxímetro e resultou em 119 lux.
Estímulos
Como estímulos foram utilizados papéis de Munsell (cartões de 12,5 por 7,5). O
sistema de Munsell 7,8 possui uma notação onde a cor é especificada pela sua matiz (um
número e a letra inicial da cor correspondente) e níveis de brilho sobre saturação (por
exemplo, 2.5YR 4/14 é a notação correspondente a um “yellow-red” ou laranja 2.5, com
brilho 4 e saturação 14). Os papéis de Munsell têm sido utilizados em vários experimentos de
discriminação de cores em crianças e em primatas não-humanos, representando um método
confiável e muito indicado em estudos comportamentais9,10,11. Foram utilizados como base
para este estudo pares de papéis de Munsell selecionados em testes previamente realizados
com humanos. Nestes testes, seis indivíduos daltônicos (dois protans e quatro deutans)
estabeleceram uma seqüência de papéis de Munsell que, para eles, eram muito semelhantes.
Este procedimento permitiu a escolha de dez pares de estímulos que estavam em pontos de
difícil discriminação para daltônicos.
Assim, o SD+ foi fixado e pareado com diferentes matizes, permanecendo a variação
aleatória de brilho, formando pares de fácil ou de difícil discriminação. Foram montados

4
então três blocos de testes, correspondentes aos pares encontrados nos testes com os humanos 9.
Cada papel foi mantido permanentemente dentro de um envelope de acrílico
transparente (3 mm de espessura) como forma de protegê-los da manipulação direta por parte
dos animais, evitando assim que fossem danificados.
PROCEDIMENTOS
Adaptação
A adaptação foi necessária para que a presença humana não causasse estresse ao animal,
prejudicando o seu desempenho nos testes comportamentais. Nesta fase, cada filhote teve o
manuseio de, no mínimo, dez minutos diários. O período de adaptação abrangeu os primeiros
6 meses de vida dos animais. No final destas sessões de domesticação, os animais recebiam
sua ração alimentar
Modelagem 1
Foram realizadas sessões diárias com objetivo de estimular o animal a explorar o
aparato. Após a abertura da porta de partição foram utilizadas iscas (pedaços de frutas e ração
para cachorro) a distâncias cada vez mais próximas do painel de discriminação. Na progressão
desta modelagem, os animais foram treinados a abrir, aleatoriamente, as janelas de ambos os
lados (direita/esquerda), evitando-se com isto a formação de comportamentos de preferência.
Ambas as janelas possuíam o reforço. Em cada janela foi colocado um papel de cor laranja
(10 YR), de brilho variado, para que já associasse o laranja ao estímulo positivo. Esta
condição foi melhor trabalhada na modelagem 2. O critério para esta tarefa ser considerada
como finalizada com sucesso foi um tempo de latência máximo de dez segundos, contados a
partir da saída do animal até a abertura da janela contendo a recompensa.
Modelagem 2
Depois de se retirar o animal de sua gaiola, este era colocado na câmara de partida do
aparato. Eram realizadas sessões de aproximadamente uma hora. Dois estímulos eram
pareados, o estímulo positivo foi o papel laranja (10YR), o estímulo negativo, a cartolina
preta. Nesta fase não houve variação do brilho do estímulo negativo. Era colocada uma
porção de 1g de ovo cozido atrás de cada janela, eliminando a escolha pela pista olfativa.
Após a abertura da câmara de partida, o animal deveria dirigir-se à outra extremidade do
aparato e tocar o focinho onde está inserido o cartão laranja, abrindo a janela e recebendo a
recompensa. A janela com o estímulo negativo era mantida fechada. Caso o gambá escolhesse

5
a janela com estímulo negativo, ele era reconduzido para a câmara de partida e, após dez
segundos, dava-se início a uma nova tentativa.. Eram realizadas em média trinta tentativas.
Cada vez que o gambá escolhia a janela com o estímulo positivo era considerado acerto e a
escolha da outra janela, erro. Para o animal passar desta fase de modelagem, foi necessário
alcançar o número de acertos acima da aleatoriedade em cinco sessões consecutivas,
considerando-se o número total de 30 tentativas em cada sessão.
Testes comportamentais
O animal já modelado fez escolhas entre as duas janelas com o estímulo positivo ou
negativo. A apresentação dos estímulos entre as posições direita e esquerda seguiu a tabela de
Gellerman16 para números aleatórios, para evitar que os animais utilizassem o lado de
apresentação dos estímulos como uma pista na realização dos testes. Percentuais de acertos
em cada sessão foram calculados. O teste binomial foi utilizado para construir os limites de
confiança de 95% sobre o desempenho aleatório, baseado no número de tentativas do teste11.
O teste para cada par foi realizado em duas sessões com 32 tentativas cada totalizando 64
tentativas. O limite superior de aleatoriedade foi calculado em 62,25% e o inferior em
37,75%.
Não houve repetição do mesmo par no caso de erros. Todos os pares seguiram o
mesmo protocolo. Após cada tentativa os acrílicos utilizados que continham os estímulos
eram limpos com o mesmo pano úmido para homogeneizar os odores deixados pelo animal
após o contato com o envelope. Foram utilizados 4 pares de discriminação.
1º par fácil
SD+ 10YR com brilho variado (5/10, 6/10, 7/10 e 8/10)
SD- 7.5B com brilho variado (5/4, 6/4, 7/4 e 8/4).
Par difícil
SD+ 10YR com brilho variado (5/10, 6/10, 7/10 e 8/10)
SD- 5GY com brilho variado (5/10, 6/10, 7/10 e 8/10).
2º Par fácil
SD+ 10YR com brilho variado (5/10, 6/10, 7/10 e 8/10).
SD- 7.5B com brilho variado (4/6, 5/6, 6/6 e 7/6).
Par impossível
SD+ 10YR 5/10

6
SD- 10YR 5/10
Neste último caso houve marcação atrás de um dos papéis para a identificação do
estímulo positivo.
RESULTADOS
O gambá Sam ficou adaptado à presença humana com aproximadamente seis meses
de vida. O contato com o sujeito foi realizado durante o período de maior atividade do animal:
após às 17h.
Durante a modelagem 1, o sujeito explorou o aparato de forma dinâmica e intensa e
facilmente respondeu à procura de alimento.
Durante a modelagem 2, o sujeito conseguiu manter-se acima da aleatoriedade em
cinco sessões consecutivas. Realizou 81 sessões com uma média de 31,4 tentativas cada.
Ficou com o desempenho estável acima da aleatoriedade a parti da 70ª sessão.
Após esta fase foi considerado apto a realizar os testes comportamentais.
O macho manteve o número de acertos acima da aleatoriedade nos pares de fácil
discriminação para dicromatas (10YR X 5B e 10 YR X 7.5B), porém, seu rendimento caiu
para níveis aleatórios no par de difícil discriminação (10YR X 7.5GY) e no impossível (10YR
5/10 X 10YR 5/10) (tabela 1, gráfico 1).
DISCUSSÃO
A afirmação que o marsupial Didelphis albiventris é dicromata foi comprovada pelo
desempenho do um sujeito (Sam) desta espécie que teve desempenho nos testes
comportamentais acima da aleatoriedade nos pares de fácil discriminação para um dicromata
e na faixa da aleatoriedade nos pares difícil e impossível.
De acordo com os estudos eletroretinográficos de Jacobs, não publicados
integralmente, mas relatados em sua revisão4, no Didelphis virginiana foi detectado apenas
um tipo de cone com pico espectral de 560nm. Essa técnica é bastante sensível, mas a
ausência de evidência de uma segunda classe de pigmento deve ser vista com cuidado4.
Contudo, pela própria natureza metodológica, não se pode comparar os resultados
encontrados neste trabalho com os obtidos por métodos não-comportamentais:
microespectrofotometria, genética molecular e eletroretinografia. Essas pesquisas auxiliam na
obtenção de dados referentes à presença de determinados fotopigmentos, mas com essas
informações não se pode afirmar com certeza o tipo de visão de cores dos sujeitos analisados

7
tendo em vista que o processamento visual envolve outras regiões fora da retina. A percepção
de cores no ambiente natural envolve processamentos ativos conduzidos pelo sistema nervoso
de forma geral6. Testes comportamentais, portanto, são decisivos para se afirmar se uma
espécie se comporta como dicromata ou tricromata4,12.
A conclusão desta pesquisa está de acordo com a publicada por Hemmi (1999), que
realizou testes comportamentais com a espécie Macropus eugenii. Hemmi13 pareou dois
estímulos luminosos monocromáticos com variação de intensidade e treinou os sujeitos a
escolherem o de maior comprimento de ondas. Após esta fase, os sujeitos já modelados,
responderam a novos estímulos monocromáticos coloridos que eram intercalados por um par
no qual se substituía uma das luzes coloridas pela luz branca. Para um dicromata, a luz branca
tem aparência subjetiva de uma luz monocromática de um comprimento de onda particular14.
Sabendo-se disso, foi possível determinar o ponto neutro, encontrado exclusivamente em
dicromatas, ponto no qual o sujeito posiciona a luz branca no eixo dos comprimentos de onda.
Por outro lado, o resultado do nosso trabalho diverge do realizado por Friedman
(1967) com o gambá Didelphis virginiana. Friedman3 concluiu que essa espécie, do mesmo
gênero utilizado no presente estudo, era tricromata. Essa divergência pode ser atribuída a uma
diferença interespecífica. Porém, fatores metodológicos podem ter contribuído para um
resultado equivocado. Friedman avaliou o desempenho do gambá na tarefa discriminatória
entre as luzes azul, vermelha, amarela e verde cujos brilhos foram equalizados com o brilho
do azul segundo os parâmetros do olho humano. Não houve o controle baseado na visão do
sujeito experimental. A partir disso, não se pode garantir que o animal não tenha percebido
diferença de intensidade entre uma luz e outra. Apesar do pesquisador ter eliminado as pistas
olfativas, posicionando reforço em ambos os lados e isolando os filtros de luz do contato
direto com o gambá, o sujeito pode ter se guiado por pistas de brilho. Além disso, não foi
realizado nenhum teste impossível para corroborar a hipótese proposta.
Nosso resultado também difere do realizado com marsupiais Sminthopsis
crassicaudata, no qual o animal já modelado deveria escolher entre a luz colorida (do treino)
e uma mistura aditiva de luzes coloridas (comprimentos de onda primários) com intensidades
variadas15. Arrese e colaboradores15 encontraram evidências de três tipos de cones, sendo um
com pico de absorção na faixa UV. Os pesquisadores não relataram se houve controle de
pistas olfativas, mas realizaram teste impossível no qual o acerto dos sujeitos caiu para 50%
nessa tarefa.
Essa diferença entre nossos resultados, dicromatismo na espécie Didelphis albiventris,
e os apresentados para a espécie Sminthopsis crassicaudata15 pode ser atribuída ao fato de

8
fazerem parte de ordens distintas, Didelphimorphia e Dasyuromorphia respectivamente,
apresentando características particulares em relação a percepção de cores.
CONCLUSÕES
Os resultados encontrados nos testes comportamentais de discriminação visual
sugerem que a espécie Didelphis albiventris se comporta como dicromata.
É possível utilizar papéis de Munsell para diagnosticar o tipo de visão de cores em
marsupiais da espécie Didelphis albiventris.
Estudos comportamentais subseqüentes com um maior número de indivíduos irão
determinar se a dicromacia é o sistema geral da visão de cores dos marsupiais Didelphis
abiventris.
REFERÊNCIAS
1. Hunt DM, Chan J, Carvalho LS, Hokoç JN, Ferguson MC, Arrese CA, Beazley LD. Cone visual pigments in two species of South American marsupials. Gene 2009; 433:50-5. 2. Cunha DCFA, Hokoç JM, Dantas AM, Moraes AMM. Electroretinographic study of chromatic vision. Arq Bras Oftalmol 2006; 69:857-63. 3. Friedman H. Colour Vision in the Virginia Opossum. Nature 1967; 213:835-6. 4. Jacobs GH. The distribution and nature of colour vision among the mammals. Biol Rev 1993; 12:413-71. 5 . Sharpe LT, Stockman A, Jagle H, Nathans J. Opsin genes, cone photopigments, color vision and color blindness In: Gegenfurtner KR, Sharpe LT editors. Color Vision. From Genes to Perception. UK: Cambridge University Press: 1999, p. 3-51. 6. Zeki S. The physiology of the colour pathways. In: A vision of the brain, Blackwell Scientific Publications, UK: Oxford: 1993, p. 256-63. 7. Munsell Book of Color. Baltimore (MD): Munsell Color Company Inc: 1966. 8. Newhall SM. Preliminary report of the OSA subcomittee on the spacing of the Munsell colors. J. Op. Soc. Am 1940; 10:617-45. 9. Gomes UR, Pessoa DMA, Tomaz C, Pessoa VF. Color vision perception in the capuchin monkey Cebus apella: a re-evaluation of procedures using Munsell papers. Behav. Brain Res 2002; 129:153-7.

9
10. Pessoa VF, Tavares MCH, Aguiar L, Gomes UR, Tomaz C. Color vision discrimination in the capuchin monkey Cebus apella: evidence for trichromaticity. Behav Brain Res 1997; 89:285-8. 11. Savage A, Dronzek LA, Snowdon CT. Color discrimination by the cotton-top tamarin (Saguinus oedipus oedipus) and its relation to fruit coloration. Folia Primatol 1987; 49:57-69. 12. Kelber A, Vorobyev M, Osorio D. Animal colour vision – behavioral tests and physiological concepts. Biol Rev 2003; 78:81-118. 13. Hemmi JM. Dichromatic colour vision in an Australian marsupial, the tammar wallaby. J. Comp. Physiol 1999; 185:505-9. 14. Neumeyer C. Evolution of colour vision. In: Cronly-Dillon JK., Gregory RL, editors Evolution of the eye and visual system. Basingstoke: MacMillan Press: 1991, p. 284-305. 15. Arrese CA, Beazley LD, Neumeyer C. Behavioural evidence for marsupial trichromacy, Current Biology 2006; 16:193-4. 16. Gellerman LW. Chance orders of alternating stimuli in visual discrimination experiments. J Genetic Psychol 1933; 42:206-8.

10
ANEXO 1
Gráfico 1. Gráfico representativo do desempenho do macho Sam nos testes comportamentais. As linhas tracejadas representam os limites inferior e superior de aleatoriedade.

11
ANEXO 2
TABELA 1
DESEMPENHO DO SUJEITO (Didelphis albiventris) EM TESTE DE
DISCRIMINAÇÃO VISUAL
TAREFA Nº de acertos Percentual de acertos
10 YR Vs. 7.5B (par fácil) 46 71,87%
10YR Vs. GY (par difícil) 31 48,43%
10YR Vs. 5B (par fácil) 51 79,68%
10YR Vs. 10YR (par impossível) 33 51,56%