Perfil de fluência da fala e atividade dos músculos...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO ROSANA LUZIA RODRIGUES GOMES FREITAS Perfil de fl ência da fala e atividade dos m sc los orofaciais de s jeitos com gag eira e falantes fl entes RIBEIRÃO PRETO 2 7

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO

ROSANA LUZIA RODRIGUES GOMES FREITAS

Perfil de fluência da fala e atividade dos músculos orofaciais de sujeitos com gagueira e falantes fluentes

RIBEIRÃO PRETO

2007

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ROSANA LUZIA RODRIGUES GOMES FREITAS

Perfil de fluência da fala e atividade dos músculos orofaciais de sujeitos com gagueira e falantes fluentes

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestre em Ciências Médicas.

Área de Concentração: Morfofisiologia das Estruturas Faciais Orientadora: Profa. Dra. Cláudia Maria de Felício

RIBEIRÃO PRETO

2007

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA

FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Catalogação na Publicação Serviço de Documentação

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo

Freitas, Rosana Luzia Rodrigues Gomes

Perfil de fluência da fala e atividade dos músculos orofaciais de sujeitos com gagueira e falantes fluentes; orientadora Cláudia Maria de Felício -- Ribeirão Preto, 2007-05-31 123 f. : fig.

Dissertação (Mestrado – Programa de Pós-Graduação em

Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Área de concentração: Morfofisiologia das Estruturas Faciais) – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto

1. Fala, 2. Disfluência. 3. Eletromiografia de Superfície. 4. Avaliação

Miofuncional Orofacial. 5. Título.

FOLHA DE APROVAÇÃO

Rosana Luzia Rodrigues Gomes Freitas Perfil de fluência da fala e atividade dos músculos orofaciais de sujeitos com gagueira e falantes fluentes Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Mestre em Ciências Médicas. Área de Concentração: Morfofisiologia das Estruturas Faciais Aprovado em:

Banca Examinadora

Prof. Dr._____________________________________________________________ Instituição_____________________________ Assinatura:_____________________ Prof. Dr._____________________________________________________________ Instituição_____________________________ Assinatura:_____________________ Prof. Dr._____________________________________________________________ Instituição_____________________________ Assinatura:_____________________ Prof. Dr._____________________________________________________________ Instituição_____________________________ Assinatura:_____________________

DEDICATÓRIA

À Deus, por ter me concedido infinitas graças e por me permitir viver de forma prazerosa, conquistando sempre meus sonhos. Ao meu querido e amado esposo José Wanderley, pelo incentivo, compreensão, amor e incansável apoio ao longo do período de elaboração deste trabalho. Aos meus lindos filhos Gabriela e João Vitor, que sempre foram a maior alegria e inspiração de minha vida.

AGRADECIMENTOS

À minha família, a causa de ser do que tenho recebido. À Profa. Dra. Cláudia Maria de Felício, que nos anos de convivência e amizade, muito me ensinou, proporcionando-me oportunidades e contribuindo sempre para meu crescimento profissional, científico e intelectual. Meu muito obrigada e minha eterna admiração! À Profa. Dra. Simone C. Hallak Regalo, pelo carinho, atenção, disposição e sugestões na conclusão deste trabalho. Ao Prof. Dr. Mathias Vitti, pela oportunidade de utilizar o laboratório de eletromiografia, pela confiança e pelo carinho com que sempre me recebeu, sendo sua colaboração indispensável na realização dos exames. À Profa. Dra. Beatriz Helena V. M. Ferriolli, pelo carinho e auxílio na seleção dos sujeitos para esta pesquisa. À Profa. Dra. Inge Elly Kienle Trindade pelas valiosas sugestões oferecidas na finalização deste trabalho. À Fonoaudióloga e amiga Cláudia L. Pimenta Ferreira, pelo carinho, paciência e auxílio prestado na diagramação e execução deste trabalho. À Profa. Dra. Luciana V. Voi Trawitzki, pela amizade e incentivo durante esta jornada. Aos sujeitos desta pesquisa, pelo interesse e participação, permitindo a execução deste trabalho. À CAPES, pela concessão da bolsa de mestrado.

RESUMO

RESUMO FREITAS, R. L. R. G. Perfil de fluência da fala e atividade dos músculos orofaciais de sujeitos com gagueira e falantes fluentes. 2007. 123 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2007.

O objetivo desta pesquisa foi comparar sujeitos com queixa de gagueira e sem

queixa de fala quanto: ao perfil de fluência da fala, à condição miofuncional orofacial,

à atividade eletromiográfica dos músculos masseteres, temporais, orbicular da boca,

fascículos superior e inferior e supra-hióideos. Participaram 10 sujeitos com gagueira

e 10 sem gagueira, denominados como grupo controle, pareados por gênero e

idade, cuja média foi 13,4 anos (mínimo = 10 e máximo = 18 anos). Os grupos foram

definidos a partir da análise de amostras de fala, de acordo com a avaliação do perfil

de fluência da fala do ABFW-Teste de Linguagem. Posteriormente, os sujeitos

passaram por avaliação das condições miofuncionais orofaciais, na qual foi utilizado

o protocolo com escores AMIOFE. Para a análise da atividade muscular foi utilizado

o Eletromiógrafo K6-I EMG Light Channel Surface Electromyography (Myo-tronics

Co. Seattle, WA, EUA) de oito canais. Foram empregados eletrodos duplos, de

superfície de cloreto de prata, descartáveis (Duotrodes, Myo-tronics Co., Seattle,

WA), contendo um gel condutor (Myogel- myo-tronics Co., Seatlle,WA). Os eletrodos

foram posicionados nos músculos masseter e temporal, bilateralmente, orbicular da

boca, fascículos superior e inferior e na musculatura supra-hiódea, seguindo a

orientação das fibras musculares. Um eletrodo de referência (terra) foi posicionado

próximo à nuca do sujeito. As condições clínicas investigadas foram: apertamento

dental em máxima intercuspidação habitual, emissão de uma palavra e duas frases;

compressão labial, lateralização dos lábios unidos para a direita e esquerda,

protrusão labial, retração labial, mastigação de barra de cereais, repouso antes e

após os exercícios, e as tarefas de língua, envolvendo sua protrusão, lateralidade

intra e extra bucal direita e esquerda, retração, elevação intra-oral, abaixamento

intra-oral e vibração. Os dados relativos ao perfil de fluência da fala e às condições

miofuncionais orofaciais foram analisados pelo teste Mann-Withney. Os dados da

eletromiografia foram normalizados pela atividade do apertamento dental em

máxima intercuspidação habitual e transformados em logaritmo na base 10. A

comparação dos grupos foi realizada pelo teste t-Student para dados não pareados.

Não houve diferença entre os grupos quanto à freqüência de disfluências comuns,

mas sim quanto à freqüência de disfluências gagas. A análise do perfil de fluência da

fala permitiu caracterizar precisamente os grupos de sujeitos gagos e falantes

normais. Nas condições miofuncionais orofaciais o desempenho na função de

deglutição foi a única diferença verificada entre os grupos. Não houve diferença

entre os grupos estudados quanto à atividade eletromiográfica dos músculos

temporal e masseter e do músculo orbicular da boca, fascículo inferior, nas

condições clínicas analisadas. A atividade do músculo orbicular da boca, fascículo

superior, do grupo com gagueira foi significantemente menor do que no grupo

controle, para a maioria das condições clínicas analisadas. O presente estudo

permitiu concluir que os grupos estudados apresentaram perfis de fluência diferentes

na fala espontânea, fato que permitiu a caracterização destes como grupo de

sujeitos com gagueira e grupo controle. Em relação à eletromiografia, a diferença

entre os grupos foi evidenciada pela menor atividade do músculo orbicular da boca,

fascículo superior, no grupo com gagueira em comparação ao grupo controle.

Palavras-chave: fala, disfluência, eletromiografia de superfície, avaliação

miofuncional orofacial.

ABSTRACT

ABSTRACT

FREITAS, R. L. R. G. Speech fluency profile and activity of orofacial muscles in stutterers and control group. 2007. 123 f. Dissertation (Master) - Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2007.

The objective of this study was to compare stutterers and non-stutterers in terms of:

speech fluency profile, orofacial myofunctional status, electromyographic activity of

muscles: masseter, temporal and orbicular oris upper and lower fasciculi, and

suprahyoid. The study involved 10 stutterers and 10 non-stutterers, who were paired

according to gender and age (average: 13.4 years). The groups were formed after an

analysis of speech samples, according to the assessment of speech fluency traits by

the ABFW-Language Test. The orofacial myofunctional characteristics were then

assessed through the protocol AMIOFE with scores. To analyze muscle activity a K6-

I EMG Light Channel Surface Electromyograph (Myo-tronics Co. Seattle, WA, EUA)

of eight channels was used. Disposable (Duotrodes, Myo-tronics Co., Seattle, WA)

surface electrodes of silver cloreto were used with a conductor gel (Myogel- myo-

tronics Co., Seatlle,WA). Electrodes were placed on masseter and temporal muscles,

bilaterally, on the orbicular oris upper and lower, and on the suprahyoid muscles.

Following clinical conditions were examined: tooth clenching at maximum habitual

intercuspidation, utterance of one word and two phrases; lip compression,

lateralization of closed lips to the right and to the left; lip protrusion; lip retraction; the

chewing of cereal bars; rest before and after exercise; and tongue tasks including

protusion; right and left, intra and extra mouth lateralization; retraction; intraoral

raising, lowering and vibration. The data concerning speech fluency profile and

myofunctional orofacial characteristics were analyzed through the Mann-Whitney

test. The results of electromyography were standardized per tooth clenching at MIH

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABFW Teste de Linguagem

AMIOFE Avaliação Miofuncional Orofacial com Escores

EMG Eletromiografia

GG Grupo de Sujeitos com Gagueira

GC Grupo Controle

MD Músculo Masseter Direito

ME Músculo Masseter Esquerdo

MIH Máxima Intercuspidação Habitual

OBS Músculo Orbicular da Boca, Fascículo Superior

OBI Músculo Orbicular da Boca, Fascículo Inferior

SUH Músculos Supra-Hióideos

TD Músculo Temporal Direito

TE Músculo Temporal Esquerdo

SUMÁRIO

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................17

2 PROPOSIÇÃO....................................................................................................... 21

3 REVISÃO DA LITERATURA..................................................................................23

3.1 Fala......................................................................................................................24

3.2 Eletromiografia em Estudos de Fala................................................................35

3.3 Gagueira .............................................................................................................47

4 MATERIAL E MÉTODO .........................................................................................80

4.1 Sujeitos ..............................................................................................................81

4.2 Critérios de Inclusão .........................................................................................81

4.3 Critérios de Exclusão ........................................................................................82

4.4 Local da Pesquisa ..............................................................................................82

4.5 Procedimentos ...................................................................................................82

5 RESULTADOS ........................................................................................................90

5.1 Perfil de Fluência da Fala ...................................................................................91

5.2 Avaliação miofuncional orofacial (AMIOFE) ...................................................94

5.3 Análise Eletromiográfica ....................................................................................94

6 DISCUSSÃO ..........................................................................................................109

7 CONCLUSÃO ........................................................................................................127

REFERÊNCIAS .......................................................................................................129

APÊNDICE ...............................................................................................................137

ANEXOS ..................................................................................................................139

INTRODUÇÃO

2

1 INTRODUÇÃO

A gagueira é um distúrbio da expressão verbal que afeta principalmente a

fluência da fala. Ela está sempre ligada à presença de um interlocutor e caracteriza-

se como um distúrbio funcional, uma vez que os gagos não apresentam alterações

anatômicas nos órgãos fonoarticulatórios.

Na fala do sujeito com gagueira ocorrem repetições de sons e sílabas,

bloqueios, prolongamentos de sons, intrusões de sons ou segmentos, e pausas de

mais de dois segundos (ANDRADE, 2000b, 2000a; ANDRADE; SCHOCHAT, 1999,

BARBOSA; CHIARI, 1998; JUSTE; ANDRADE, 2006; VAN RIPER; EMERICK,

1997).

Inúmeras pesquisas e teorias acerca da gagueira procuram explicar a sua

etiologia. No entanto, ainda não há um consenso sobre os motivos que levam um

sujeito a gaguejar.

Segundo Meira (1997-1998), na década de 30 do último século a gagueira foi

atribuída a um problema na dominância hemisférica cerebral que prejudicaria a

sincronização necessária para uma fala fluente, mas também considerada um

comportamento aprendido, havendo durante a fala uma inabilidade no movimento da

musculatura específica da fala. Posteriormente, surgiu a teoria da multicausalidade.

Vários estudiosos, ao longo dos anos, estabeleceram relações da gagueira

com diversos fatores, como: a instalação da gagueira a partir da ação do

interlocutor, que enfatiza a disfluência no período em que ela faz parte do

desenvolvimento, isto é, de 2 a 5 anos (JONHSON, 1942), os processos

psicológicos – emocionais ou aprendizagem (VAN RIPER, 1954), e a tensão da

musculatura orofacial (MANSCHRECK; KALOTKIN; JACOBSON, 1980).

3

Especificamente, o estudo de Meira (1983), que foi desenvolvido seguindo os

princípios das Ciências Humanas, permitiu concluir que sujeitos que gaguejam

apresentam alterações musculares (tônus tendendo à hipertonia ou à hipotonia) nas

áreas oral, cervical e diafragmática contribuindo para a disfluência da fala.

Do ponto de vista motor, várias considerações têm sido realizadas a respeito

desse distúrbio da comunicação, dentre elas que a gagueira pode ser uma ruptura

temporal da programação simultânea e sucessiva de movimentos musculares

(GUITAR et al., 1988); um erro na seqüência de comandos motores normais que

leva ao atraso na produção de sons; uma reação de evitação antecipatória e de

hipertonia (GUITAR et al., 1988); uma atividade muscular estranha

4

muscular dos órgãos fonoarticulatórios no momento da produção de fala, sendo o

único que pode revelar quando e como um músculo é ativado, além de revelar a

coordenação dos diferentes músculos envolvidos em um determinado movimento

articulatório (MARCHIORI; VITTI, 1996), o que é particularmente relevante na

gagueira, objeto de estudo do presente trabalho.

Considerando que a fala é executada por estruturas orofaciais comuns às

demais funções estomatognáticas (respiração, deglutição e mastigação), parece

pertinente também investigar as condições miofuncionais orofaciais no processo de

avaliação de sujeitos com gagueira, devido a importância das bases fisiológicas para

a fala.

Há uma visão clínica muito difundida de que a gagueira está associada a

altos níveis de atividade muscular, com base nisso, freqüentemente são

estabelecidas metas para a terapia visando promover a redução dessa atividade.

Identificar correlatos fisiológicos de níveis alterados de fluência pode esclarecer

sobre os mecanismos da fala disfluente (TASKO; MCCLEAN; RUNYAN, 2007) e

pode prover conhecimento para o desenvolvimento de objetivos e procedimentos.

PROPOSIÇÃO

6

2 PROPOSIÇÃO

O objetivo desta pesquisa foi comparar indivíduos com queixa de gagueira e

sem queixa de fala quanto:

- ao perfil de fluência da fala;

- à condição miofuncional orofacial,

- à atividade eletromiográfica dos músculos masseteres, temporais, orbicular da

boca, fascículos superior e inferior, e supra-hióideos.

REVISÃO DA LITERATURA

8

3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 Fala

A produção da fala foi descrita por Jenkins (1978) como a produção de um

som pela laringe, isto é, fonação, o qual é modificado por ressonância do ar nos

vários espaços entre a laringe e os lábios, sendo conhecido como articulação. As

estruturas que atuam como câmaras de ressonância são o vestíbulo entre as pregas

vocais verdadeiras e falsas; entre a laringe e a raiz da língua que, possivelmente,

envolve a epiglote; entre a parede faríngea e o palato mole e úvula; entre o dorso da

língua e a superfície posterior do palato duro; entre o dorso da língua e a superfície

anterior do palato duro; entre a ponta da língua e os dentes; entre os dentes e os

lábios; e a passagem nasal. A língua, dentre outros articuladores, tem um papel no

monitoramento dos movimentos da fala, por meio da retroalimentação realizada por

seus receptores, e eles se apresentam em maior quantidade na parte anterior da

língua, onde são produzidos os sons de articulações mais complexas.

De acordo com Moon et al. (1993), a produção da fala requer habilidades em

vários níveis, por exemplo, motor, fonológico, sintático, semântico e pragmático,

entre outros. Em várias tarefas de fala é difícil separar o processo de habilidade

motora dos processos que operam em outros níveis. Além disso, várias tarefas de

fala não permitem medir separadamente a integridade do controle motor de cada

articulador. Em contraste, o uso de tarefas motoras que envolvem os articuladores

mas não usam fala permitem medir o controle motor separadamente dos outros

níveis. Os autores estudaram a habilidade de sujeitos adultos jovens para seguir

sinais alvo com o lábio inferior, mandíbula, ou laringe, examinar as habilidades dos

sujeitos para seguir diferentes freqüências sinusoidais e sinais alvo imprevisíveis.

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Vinte e cinco falantes normais seguiram sinais-alvo sinusoidais e imprevisíveis, por

meio de movimentos com o lábio inferior e com a mandíbula e modulação da

freqüência fundamental. A acuracidade na tarefa de seguir os sinais variou como

uma função da freqüência alvo e articulador usado. Os resultados quantificaram as

habilidades visuomotoras de falantes normais ao usarem a musculatura da fala e

mostraram o potencial dessas tarefas visuomotoras na avaliação do controle

articulatório da fala.

De acordo com Milloy (1997), o trato vocal do bebê está equipado para a fala

desde o nascimento e passa por transformações substanciais durante o primeiro ano

de vida, chegando a um amadurecimento e aproximando sua produção sonora do

adulto. O comportamento produtivo da fala do infante indica que determinadas

propensões perceptivas podem dirigir o desenvolvimento fonético, e o ritmo é muito

importante no desenvolvimento vocal inicial, por exemplo, no uso repetido do

balbucio “da da da”. A aquisição da fonologia interage com a aquisição do controle

motor da fala. A criança precisa da habilidade para acionar o trato vocal para

produzir sons isolados e para ordenar os movimentos dos músculos, de modo a

produzir seqüência de sons. O desenvolvimento da precisão de movimentos e do

aumento da habilidade léxica da criança, acompanhada pela crescente capacidade

de auto-regulagem, conduz ao estabelecimento de um sistema produtivo de fala

automático, seguro e inteligível. A idade em que as crianças com desenvolvimento

normal adquirem a práxis de produção da fala (articulação) é de aproximadamente

seis anos. O autor considerou que esta é efetivada quando as habilidades motoras

atingem o estágio de movimento automático que as capacite a produzir uma

articulação segura nas tentativas de produção. Os estágios na motricidade da

criança caminham em direção à independência adulta, mas ainda pouco se sabe a

10

respeito de quais estratégias a criança usa para estabelecer a habilidade para os

movimentos seqüenciais e adquirir a precisão de localização espacial no

desenvolvimento motor. É razoável supor que a consciência dos resultados da ação

e da repetição, por tentativa e erro, da seriação de movimentos ordenados, conduz à

capacidade de auto-observação e regulagem. A redução de movimentos

redundantes e a seleção da lateralidade no curso de ações repetidas indicam que a

memória motora está se desenvolvendo e a inibição é empregada para restringir

movimentos irrelevantes. De acordo com o autor, crianças sadias e normais,

adquirem a fala relativamente rápido e geralmente sem esforço. Somente em casos

de incapacidade o processo se torna penoso e pleno de dificuldades.

Felício (1999) discutiu o processo de produção da fala. Primeiramente,

explicou que a fala é um processo sensório-motor que envolve várias estruturas e

sistemas musculares, tais como lábios, mandíbula, maxila, dentes, língua,

velofaringe e complexo laríngeo respiratório, que formam câmaras de ressonância, a

fim de amplificar o som produzido na laringe. A inervação dos mesmos ocorre pelos

pares de nervos cranianos: facial, trigêmeo, hipoglosso, vago e glossofaríngeo. A

produção da fala exige uma atividade coordenada dos músculos respiratórios, faciais

e mandibulares, que se caracterizam por movimentos na articulação dos sons,

sendo que os impulsos nervosos para a musculatura esquelética envolvida na fala

são provenientes das áreas corticais motoras ou das áreas corticais de associação

que se dirigem aos núcleos bulbares na formação reticular. Já os músculos

esqueléticos fonoarticulatórios são controlados pelos sistemas piramidal e

extrapiramidal, além de fibras de origem cerebelar. De modo geral, a autora

descreveu que a área motora pré-central dos dois hemisférios cerebrais controla os

músculos da laringe e do sistema estomatognático, a coordenação da ação motora

11

da fala provém da área de Broca e a memória para sons e compreensão da

linguagem é proveniente da área de Wernicke. A autora relatou também que há

duas correntes de interpretação do controle motor da fala, sendo que uma propõe

que o processo neural que controla a fala origina-se no córtex e os geradores de

padrão de respiração e mastigação no tronco cerebral não estão envolvidos, ao

passo que a outra corrente considera que estes geradores de padrão estão

presentes na produção da fala. Assim, o controle motor dos movimentos orofaciais

pode ser modulado por mecanismos neurais e há grandes diferenças nas estratégias

usadas para a fala e para outras tarefas orais. Por fim, a autora salientou a

necessidade e a importância da obtenção de informações sobre os movimentos dos

articuladores para que o controle e o mecanismo de produção de fala sejam

realmente entendidos.

Epstein et al. (1999) investigaram a localização anatômica e fisiológica do

controle de captura de fala induzida pela estimulação magnética transcraniana

repetitiva (rTMS), e examinaram a relação do controle da fala com a função da

linguagem. Participaram 7 homens e 3 mulheres, com idade média de 35,7 anos (21-

48 anos), todos destros. Os sujeitos foram informados que era esperado que o

estimulador magnético afetasse o rendimento da fala que seria aplicado em áreas

cerebrais diferentes, enquanto os sujeitos passavam por uma bateria de testes. A

maioria das tarefas foram iniciadas segundos antes da estimulação magnética. A

performance de cada tarefa foi marcada por dois examinadores, usando escala de 0-

5, com zero representando nenhuma interferência detectável. No grupo estudado,

que apresentou preferência manual direita e que tinham forte probabilidade de

dominância hemisférica esquerda, a estimulação magnética (rTMS) sobre a área

frontal postero-inferior esquerda produziu prejuízos específicos na produção verbal.

12

A área de supressão da fala sobrepõe a posição caudal do giro pré-central

esquerdo, congruente com a região onde a estimulação produz movimentos da face

direita. A interferência magnética prejudicou muito a fala espontânea e a leitura em

voz alta. Em três sujeitos a supressão consistiu em mutismo total e os outros

conseguiram produzir sons completamente ininteligíveis. O efeito foi menor na

repetição, nomeação, canto, compreensão e praxia oral. A escrita de números foi

geralmente preservada. A nomeação e a repetição de frases foram às vezes

acompanhadas com lentificação das respostas e ocasionalmente gagueira ou

vocalizações explosivas. Erros afásicos foram raros. A praxia oral foi muito pouco

afetada. A estimulação do lado direito durante o canto aboliu a melodia em dois

sujeitos, mas afetou muito pouco a produção da fala. A análise da supressão

magnética da fala sustenta a atual interpretação de organização da linguagem como

modular, mais que o antigo conceito de uma única área da fala que produz as

múltiplas funções. Contudo, diferentes módulos funcionais podem ainda sobrepor-se

no mesmo espaço cortical. Os autores concluíram que o local de supressão da fala

parece ser o córtex motor facial. Muitos aspectos da supressão magnética da fala

assemelham-se àquelas de desordens articulatórias e diferem daquelas das afasias

clássicas e inclui proeminente dissociação entre os diferentes tipos de produção da

fala.

Kent (2000) revisou as características do controle motor da fala e uma classe

de desordens da comunicação conhecidas como desordens motoras da fala. De

acordo com o autor, o controle motor refere-se a sistemas e estratégias que regulam

a produção de fala, incluindo o planejamento e preparação dos movimentos (às

vezes chamados de programa motor) e a execução dos planos de movimento

resultam em contrações musculares e deslocamento de estruturas.

13

Tradicionalmente, o controle motor da fala é distinguido das operações fonológicas,

mas em algumas teorias recentes, há uma deliberada “confusão” das fronteiras entre

a representação fonológica e as funções motoras. Além disso, há uma contínua

discussão na literatura se determinadas desordens da fala, especialmente, a apraxia

de fala e a gagueira, deveriam ser compreendidas nos níveis fonológico, motor, ou

ambos.

Andrade (2000a) discutiu o processamento neurolingüístico da fala quanto

aos aspectos da fluência. Inicialmente, relatou que a comunicação humana implica

que uma pessoa envie uma mensagem a um interlocutor. Para isso, faz-se

necessário que o som desta mensagem atinja a cóclea, onde é decodificado e

traduzido em impulsos nervos, para então ser enviado ao córtex auditivo, na área de

Wernicke, responsável pela percepção e compreensão da fala. Então, as

informações recebidas são enviadas à área de Broca, integrando-se àquelas

oriundas das áreas corticais sensoriais, da memória e dos centros emocionais do

cérebro. Desta forma, essas informações associam-se ao signo e às combinatórias

morfo-sintático-semântico-fonológico-pragmáticas, ocasionando a produção da fala.

A articulação dos sons resulta da ativação dos neurônios motores superiores e

inferiores que determinam a função muscular específica da fala, ou seja, lábios,

língua, palato mole e duro, mandíbula e laringe. Segundo a autora, a fluência da fala

depende do equilíbrio do sistema simbólico, que integra os componentes cognitivos,

lingüísticos e segmentais, e do sistema de sinais, que determina a duração

proporcional da sílaba na palavra e a ordem de seqüencialização ordenada dos

espaços fonéticos. Deste modo, quando estes sistemas (segmentação e ordenação)

estão em desequilíbrio, o fluxo da fala será involuntária e temporariamente rompido,

gerando as disfluências. Assim, a fluência depende da integração harmônica entre

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os processamentos da fala e da linguagem e dos processamentos dos centros de

controle das emoções e da memória.

Andrade (2000b) realizou uma revisão para apresentar um protocolo para a

avaliação objetiva da fluência da fala, em desenvolvimento pelo Laboratório de

Investigação Fonoaudiológica da Fluência e das Desordens da Fluência, o qual já

fora aplicado em diferentes populações (crianças, adolescentes, adultos, fluentes e

disfluentes) para avaliar o perfil da fluência desses grupos. A proposta com este

teste foi facilitar a tomada de decisões diagnósticas. De acordo com a autora a

metodologia proposta permite que o protocolo seja adotado tanto na avaliação inicial

quanto para o acompanhamento na terapia fonoaudiológica. Para complementar a

revisão, também foi apresentado um resumo dos achados da pesquisa realizada

pela mesma autora e colaboradores com sujeitos fluentes, falantes do Português, de

forma que os parâmetros pudessem contribuir como elemento de comparação.

Deste modo, numa amostra de fala composta por 200 sílabas expressas (fluentes),

os intervalos de confiança a 95%, encontrados para adultos fluentes foram:

disfluências comuns: 11,8 – 20,6; disfluências gagas: 0,1 – 2,0; velocidade de fala:

sílabas/minuto: 218,8 – 256,5; palavras/minuto: 117,3 – 140,3; porcentagem de

descontinuidade de fala: 7,3 – 9,9; porcentagem de disfluências gagas: 0,2 – 0,7.

De acordo com McClean e Tasko (2002) a coordenação motora da fala

envolve, mais provavelmente, o acoplamento entre sistemas neurais que inervam

músculos orofaciais, laríngeos e respiratórios. Assim, os autores estudaram a

natureza e extensão do acoplamento do sistema orofacial com o respiratório e o

laríngeo, o que foi feito indiretamente por correlação de velocidades orofaciais com a

freqüência fundamental, intensidade vocal e volume inspiratório durante a fala. Para

isso, 14 sujeitos adultos repetiram um simples teste de emissão de fala de variadas

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velocidades e intensidades vocais enquanto foram obtidos registros do sinal acústico

e dos movimentos do lábio superior, inferior, língua, mandíbula, caixa torácica e

abdômen. Entre sujeitos e medidas de velocidade orofacial (14 sujeitos X 4

estruturas), foram obtidas correlações significantes para a freqüência fundamental

em 42 dos 56 casos, para intensidade, em 35 dos 56 casos, e para volume

inspiratório, em 14 dos 56 casos. Estes resultados sugerem que durante a produção

de fala há um significante acoplamento neural do sistema muscular orofacial com os

sistemas laríngeo e respiratório, envolvidos na vocalização. Comparações entre as

quatro estruturas orofaciais revelaram altas correlações para a mandíbula em

relação às outras estruturas orofaciais. Isto sugere uma conectividade mais forte

entre os sistemas neurais que ligam a mandíbula com os sistemas laríngeo e

respiratório. Este achado pode ser relevante para sustentar a teoria da produção de

fala, que sugere que o circuito neural envolvido no controle motor da mandíbula para

a fala tenha evoluído para formar elos relativamente fortes com sistemas envolvidos

na vocalização.

Tasko e McClean (2004) avaliaram como o comportamento cinemático

orofacial varia e investigaram a fala em relação à tarefa, em um grupo de 15 homens

adultos saudáveis. As tarefas de fala incluíram uma frase sem sentido com uma alta

freqüência de consoantes plosivas, uma sentença, uma leitura oral de uma

passagem e um monólogo espontâneo. Além disso, condições de taxa e intensidade

foram variadas por frase sem sentido e sentença. As posições articulatórias do lábio

superior, lábio inferior, lâmina da língua e mandíbula foram registradas e as medidas

refletiram as características médias de movimentos individuais, isto é, pico de

velocidade, distância e duração, e a variabilidade espacial total dos articuladores em

cada tarefa. Os resultados mostraram um número de diferenças relacionadas às

16

tarefas e condições no comportamento cinemático da fala. O resultado mais

importante da comparação das tarefas foi que na tarefa de fala sem sentido os

movimentos foram mais amplos, rápidos e longos do que nas tarefas de fala com

sentido. Para o lábio inferior e a língua, houve diferenças relacionadas às tarefas na

variabilidade espacial. Mudanças na intensidade e taxa revelou variações nas

medidas cinemáticas que foram freqüentemente complicadas pela identidade do

articulador e o tipo de tarefa. Os resultados sugerem que um limite expandido de

tarefas de fala e condições pode auxiliar no estudo de comportamentos motores de

fala normais e com distúrbios.

Andrade (2006) apresentou os resultados do estudo a respeito do perfil de

fluência da fala de acordo com a idade e gênero. A amostra contou com 594

participantes, sem qualquer tipo de queixa de gagueira, atual ou pregressa, de 2 a

99 anos de idade. Foram investigados: tipologia das disfluência; velocidade de fala –

fluxo de palavra por minuto e fluxo de sílaba por minuto – e freqüência de rupturas –

número de disfluência por minuto e porcentagem de disfluências gagas. Assim,

valores de referência de normalidade em vários aspectos da fluência podem ser

extraídos da referida obra. Segundo a autora, a fluência refere-se ao fluxo contínuo

e suave de produção da fala. Para que a fala seja fluente, dois sistemas

operacionais neurais devem estar temporalmente equilibrados antes que a

mensagem gerada chegue ao córtex motor. O primeiro desses sistemas é o

simbólico, que integra os componentes cognitivos, lingüísticos e segmentais da fala,

determinado a forma e o conteúdo da mensagem. Esse sistema responde pela

segmentação das saliências fonológicas pontuais (ritmo e entonação) e fragmentais

(começo, meio e fim). O segundo sistema é o de sinais, que integra os componentes

prosódicos e paralingüísticos, determinando altura, intensidade, duração e qualidade

17

das sílabas. O sistema de sinais determina a duração proporcional da sílaba na

palavra e a ordem de seqüencialização dos espaços fonéticos. Quando esses dois

sistemas – segmentação e ordenação – operam em equilíbrio, a fala é gerada sem

rupturas. Quando os sistemas estão em desequilíbrio, a fluxo de fala é involuntário e

temporariamente rompido, gerando as disfluências.

Devido à falta de informações sobre a relação entre a habilidade em

movimentos orofacias (isolados e coordenados) e na fala, Felício et al. (2006)

analisaram o desempenho de crianças em tarefas de mobilidade dos componentes

do sistema estomatognático em relação ao desempenho na fala e à faixa etária. 150

crianças, de 6 a 12 anos de idade, foram avaliadas quanto à mobilidade isolada de

lábios, língua e mandíbula. Para avaliação da fala foram aplicados os protocolos de

fonologia do ABFW (WERTZNER, 2000) e calculado o índice de porcentagem de

consoantes corretas (PCC). A amostra foi dividida nas seguintes faixas etária: faixa I

-72 a 96 meses, faixa II - 97 a 120 e faixa III - 121 a 151 meses. A média de

mobilidade de lábios foi maior na faixa etária III do que na faixa II e esta maior que

na faixa I. As médias de mobilidade da língua e da mandíbula, das provas de

diadocinesia, PCC nas provas de nomeação, imitação e o PCC Total aumentaram

da faixa I para a faixa II, mas não desta para faixa III. Foram constatadas as

seguintes correlações positivas e significantes: o desempenho na prova de

mobilidade isolada de lábios com o PCC na prova de Imitação; a medida de abertura

bucal (mm) com o PCC nas provas de Imitação, Nomeação e PCCTotal; as provas

de diadocinesia com o PCC na prova de Imitação e o PCC Total; as provas /pa/ e

/pataka/ com o PCC na prova de nomeação. Também, a idade das crianças foi

correlacionada positivamente à mobilidade isolada de lábios, à mobilidade de

mandíbula –abertura, lateralidade direita e protrusão (extensão medida em mm), à

18

prova de diadococinesia /pataka/, e aos três índices de PCC. O desempenho de

crianças em tarefas de mobilidade de lábios e medidas de excursão da mandíbula,

bem como nas provas de foram relacionados ao desempenho na fala, medido pelo

PCC, e à idade. Os índices de PCC também foram correlacionados à idade dos

sujeitos.

3.2 Eletromiografia em Estudos de Fala

Harris, Lisaught e Schvey (1965) analisaram, por meio de eletromiografia de

agulha, a participação da musculatura dos lábios superiores e inferiores durante a

produção dos fonemas /p/ e /b/. Encontraram pequenas diferenças, estas, até

inexistentes para alguns sujeitos, o que, provavelmente, segundo os autores, não

permitiu uma distinção da atividade muscular desenvolvida durante a produção

destas consoantes.

MacNeilage e DecClerk (1969) estudaram o controle motor na produção da

fala, avaliando com eletromiografia de agulha os músculos orbiculares da boca,

abaixador do lábio inferior e musculatura do palato mole, durante a emissão de 36

seqüências consoante-vogal-consoante. Os eletromiogramas demonstraram que

existem alguns efeitos do controle motor de vogais e consoantes finais, dependendo

do fonema precedente. Menos freqüentes foram os efeitos denominados, direita-

para-esquerda, quando um fonema posterior influencia ações anteriores.

Persson, Leanderson e Öhman (1969) investigaram, com eletromiografia de

agulha, as ações dos músculos orbiculares superior e inferior da boca, mentual,

abaixador do ângulo da boca, elevador do lábio superior e abaixador do lábio inferior

durante a fala. Identificaram dois tipos de atividades: (1) atividade tônica que

precede a atividade articulatória e ocorre nos músculos elevador e abaixador do

19

lábio superior e inferior; e (2) atividade articulatória a qual pode ser excitatória,

ocorrendo no orbicular superior e inferior da boca, mentual e abaixador do ângulo da

boca, ou inibitória, observada no abaixador do lábio inferior e músculos do lábio

superior. Observaram também que, os padrões eletromiográficos associados com

um dado som variam consideravelmente com o contexto lingüístico e com a

presença de distúrbios neurológicos.

Leanderson, Persson e Öhman et al. (1971) analisaram a atividade

eletromiográfica de músculos peribucais, durante a articulação de seqüências vogal-

consoante-vogal, dentro de um contexto lingüístico pré-fixado, utilizando para isso,

eletromiografia de agulha. Seis músculos foram selecionados para os registros:

elevador do lábio superior, orbiculares superior e inferior da boca, mentual,

abaixador do lábio inferior e abaixador do ângulo da boca. As comparações dos

registros tomados em diferentes experimentos revelaram um alto padrão de

reprodutibilidade, para um mesmo fonema. Dois tipos de atividades foram

evidenciados: postura da fala, caracterizada pela atividade do elevador do lábio

superior, abaixador do lábio inferior e mentual, ocorrida cerca de 500 milissegundos

antes do 1° sinal acústico e atividade articulatória, que ocorre durante as emissões

dos fonemas em todos os músculos examinados. Para os gestos que demandam

movimentos circulares dos lábios, como nas emissões de |y| e |u|, a atividade pode

ser observada no orbicular superior e inferior, abaixador do ângulo da boca e

mentual. Para os que favorecem os movimentos de extensão, como em |i|, a

atividade é mais evidente no elevador do lábio superior e abaixador do lábio inferior.

A produção do |p| demanda 2 gestos opostos: o fechamento ou fase implosiva, onde

a atividade é visualizada nos músculos orbiculares superior e inferior da boca,

abaixador do ângulo da boca e mentual e abertura ou fase de plosão, onde a

20

atividade é deslocada para os músculos de extensão labial, acompanhado de um

novo “estouro” de atividade no músculo mentual. As análises demonstraram,

também, que foi possível distinguir 2 grupos antagonistas: um, de abertura ou

extensão labial e outro de fechamento ou arredondamento labial. Entre estes

grupos, existiram sinais de inervação recíproca, ou seja, atividade em um músculo

reduziu a atividade em seu antagonista. Segundo os autores, o grau de atividade da

unidade motora em um músculo usado para a produção de certos sons foi

fortemente dependente da sua ativação precedente.

Folkins (1981) pesquisou o comportamento dos músculos masseter, temporal,

pterigóideo medial e lateral, durante a fala. Observou que o pterigóideo medial foi

mais ativo para os movimentos de fala do que o masseter e o temporal. Explicou o

autor que, algumas das potenciais diferenças fisiológicas podem ser responsáveis

por este fato, tais como: características das unidades motoras ou tipos de fibras.

Também encontrou variabilidade entre os sujeitos no comportamento do pterigóideo

lateral, em relação ao movimento de elevação da mandíbula nas produções de

sílabas, ao que atribui prováveis diferenças de colocações de eletrodos sobre as

cabeças do pterigóideo. Destacou que a dedução importante deste trabalho

provavelmente seja que a extensa variabilidade entre graus de atividade muscular é

o resultado de diferentes combinações que podem ser usadas para realizar um

movimento, isto é, durante a fala os sujeitos teriam flexibilidade para usar diferentes

combinações de músculos para movimentos similares. Portanto, as diferenças

funcionais entre músculos elevadores da mandíbula podem ser relativamente

pequenas entre muitos movimentos de fala.

Farret, Vitti e Farret (1982) avaliaram eletromiograficamente os músculos

mentual e abaixador do lábio inferior em sujeitos com distúrbios de fala e sujeitos

21

com fala normal. Durante a emissão de vocábulos, evidenciaram, em algumas

ocasiões, altos potenciais eletromiográficos em sujeitos com distúrbios de fala.

Sugeriram que nesses sujeitos a emissão de um vocábulo pode recrutar vários

músculos inadequadamente, resultando em um efeito de maior atividade.

O’Dwyer et al. (1983) analisaram eletromiograficamente 18 músculos labiais,

linguais e mandibulares em sujeitos normais e com paralisia cerebral, durante uma

série de movimentos mandibulares, faciais e de fala. Observaram que os níveis de

amplitude de atividade, a duração de construção e a quantidade de músculos

recrutados para a maioria dos movimentos foram significantemente maiores em

sujeitos com paralisia cerebral. Justificaram os diferentes padrões temporais de

coativação muscular em sujeitos com paralisia cerebral pela disparidade no uso dos

músculos orbicular superior e inferior da boca, abaixador do lábio inferior e mentual

e, ainda, nos músculos elevador do lábio superior, zigomático, bucinador e risório,

indicando uma sincronia significativamente reduzida nestes músculos. Também

salientaram que uma possível inabilidade para comunicar adequadamente

comandos motores pode ter originem em vias nervosas de transmissões

descendentes danificadas.

Rastatter e De Jarnette (1984) pesquisaram a atividade dos músculos

orbiculares da boca, fascículos superior e inferior e masseter em crianças com fala

normal, com distúrbios de fala e adultos. Encontraram, para o orbicular da boca,

fascículo inferior, pouca variação de atividade em crianças com distúrbios de fala, ao

que eles atribuíram como possível limitação de flexibilidade no controle de certas

articulações. Segundo esses autores, a flexibilidade reduzida faz com que essas

crianças não sejam capazes de compensação durante a fala, resultando em

articulações distorcidas. Para o orbicular da boca, fascículo superior, entretanto, os

22

coeficientes de variação foram altos em crianças com distúrbios de fala, concluindo

que, em certos casos, alguns músculos que atuam na fala são incapazes de

compensação, enquanto outros são livres para variar seus padrões de atividades. As

crianças com articulação normal e adultos apresentaram coeficientes de variação

relativamente similares para cada músculo.

Moore, Smith e Ringel (1988) compararam a coordenação da atividade

eletromiográfica nos músculos da mastigação durante movimentos mandibulares e

na fala. Observaram que a mastigação exibiu um dominante padrão de ativação

recíproca dos antagonistas e que a coativação dos antagonistas nunca foi

observada durante a mastigação. A fala demonstrou uma tendência oposta, sendo

que a coativação dos antagonista foi mais freqüente e a reciprocidade entre os

antagonista raramente ocorreu. Os autores acreditam que estes dados refletem os

seguintes tipos de organização: 1) a ativação recíproca de antagonistas é imposta

por um gerador de padrão no tronco encefálico, para a mastigação; 2) a ativação

recíproca dos antagonistas é imposta por uma estrutura cortical durante a oscilação

voluntária da mandíbula; 3) a co-contração de antagonistas é imposta por uma

estrutura cortical isolada durante a fala contínua e alguns movimentos mandibulares.

Peters, Hulstijn e Starkweather (1989) investigaram o tempo de reação de 20

sujeitos adultos com gagueira e 20 sujeitos adultos fluentes, com o auxílio da

eletromiografia de superfície, durante emissões consideradas fluentes. Foram

investigados os tempos de reação em emissões longas e curtas, uma vez que os

autores partiram do pressuposto que a complexidade motora envolvida na emissão

de palavras pode determinar o aparecimento de rupturas no fluxo contínuo da fala.

Os resultados apontam que, tanto para os sujeitos gagos quanto para os sujeitos

fluentes, houve aumento no tempo de reação com o aumento da extensão das

23

emissões, sendo esse aumento maior no grupo de sujeitos gagos. Também foi

observado nesse grupo que, nas emissões longas, a latência no tempo de reação foi

concentrada no início da emissão, indicando que estes sujeitos podem ter uma

dificuldade na programação motora de fala.

McClean (1991), realizou mudanças na pressão intraoral sinusoidal, com

amplitudes pico-a-pico de 2-6 cm H2O, as quais foram aplicadas às freqüências de

2-14 Hz, a fim de avaliar as respostas eletromiográficas do músculo do lábio à

estimulação oral por pressão. As respostas reflexas foram observadas na

eletromiografia do músculo do lábio de 6 sujeitos. Os resultados demonstraram que

entre os sujeitos, a fase de respostas eletromiográficas variou de uma maneira linear

com a freqüência dos estímulos. Isto sugere que as resposta foram mediadas sobre

um caminho reflexo com uma latência de resposta relativamente fixa. O fato de que

os reflexos podem ser eliciados nos músculos labiais com as mudanças de pressão

oral, similares àquelas que ocorrem na fala, aumenta a probabilidade de que

respostas mecanorreceptoras às mudanças na pressão intraoral estejam envolvidas

na integração sensoriomotora para a produção de fala.

Moore (1993) buscou compreender a organização coordenativa de vários

movimentos, dentre os quais estavam incluídos os de mastigação e fala. Segundo o

autor, o controle motor dos movimentos orofaciais pode ser modulado por

mecanismo neurais, incluindo tronco cerebral e influências corticais. Os resultados

indicaram uma possível plasticidade coordenativa dos músculos mandibulares e

grandes diferenças nas estratégias coordenativas aparentes da fala e de outras

tarefas. Isso foi explicado pelas demandas específicas das tarefas e complexidade

coordenativa, isto é, na mastigação é preciso gerar forças oclusais e repetição

rítmica, enquanto na fala deve-se alcançar a configuração do trato vocal e

24

coordenação inter-articuladores. Mais especificamente, na fala verificou-se

predominante simetria bilateral na atividade muscular e ausência de inibição

recíproca dos músculos antagonistas, o que é essencial na mastigação. Ao

contrário, na fala músculos antagonistas, como masseter e digástrico, foram

coativados, sugerindo uma estrutura organizacional subjacente completamente

diferente entre as duas atividades. Baseado em estudos prévios e em seus achados,

o autor concluiu que o controle motor da fala pode se dar por vários mecanismos em

diferentes níveis, incluindo frações de geradores de padrão.

Wohlert e Goffman (1994) examinaram a organização motora humana da

região perioral de 8 sujeitos adultos normais que executaram tarefas orais, incluindo

protrusão de lábios, mastigação e fala. Correlações entre sinais eletromiográficos

registrados nos quadrantes ao redor dos lábios foram calculadas a fim de determinar

os parâmetros de acoplamento motor. Os resultados indicaram que a musculatura

perioral é flexível na organização de saída. Na tarefa de protrusão a correlação da

atividade em todos os quadrantes foi alta e positiva. Durante a tarefa de mastigação,

as correlações foram moderadas, com um forte padrão bilateral através dos lábios

superior e inferior. As tarefas de fala mostraram baixos níveis de correlação entre os

quadrantes, mas novamente o padrão foi mais correlacionado bilateralmente do que

ipsilateralmente. Os resultados são comparados a estudos da inervação muscular

oral em humanos e animais e também são relacionados às hipóteses de parâmetros

de controle corticais para movimentos orais.

Goffman e Smith (1994) dividiram a região perioral em quatro quadrantes e

realizaram registros eletromiográficos para cada área. A função de coerência, isto é,

a correlação dos quadrantes cruzados entre os sinais computados de cada

freqüência no espectro, foi usada para determinar os aspectos de organização dos

25

territórios da unidade motora e examinar níveis potenciais mais altos, originados do

“input” nas tarefas de fala e não fala. As funções de coerência foram computadas

entre os pares eletromiográficos e foram examinados por valores significantes no

alcance de 20-240 Hz. Os achados sugerem que territórios da unidade motora

perioral são organizados em quadrantes que não se sobrepõem. Os autores

interpretaram que os valores de correlação, encontrados na tarefa de protrusão,

sugerem impulsos neurais altamente coordenados entre os quadrantes para tal

tarefa. Além disso, os resultados não refletem na periferia o padrão hipotetizado de

dominância cortical, mas para os autores isso não precisa necessariamente ocorrer.

Embora, o hemisfério possa dominar num tipo de movimento planejado, o núcleo

motor no tronco cerebral pode produzir atividade equilibrada, quando os trajetos ipsi

e contralateral existem no córtex.

McClean e Clay (1995) realizaram um estudo com o propósito de descrever

as características de ativação das unidades motoras do músculo orbicular da boca

em relação à velocidade de fala e estrutura fonética. Foram obtidos registros

eletromiográficos e de deslocamento bidimencional do lábio inferior de três adultos.

Os registros da unidade motora foram obtidos pelos músculos orbicular da boca

fascículo inferior, abaixador do lábio inferior e mentual. As tarefas envolveram

repetição de sílabas com estrutura consoante-vogal de 1 a 4 sílabas por segundo. O

correspondente às velocidades de disparo, foram obtidas nas 11 unidades motoras.

As velocidades de disparo das unidades motoras do músculo orbicular da boca

fascículo inferior e do músculo mentual aumentaram conforme a velocidade da

sílaba mudou de 1 para 3 sílabas por segundo. O músculo abaixador do lábio inferior

e as unidades motoras tônicas mostraram pequena ou nenhuma modulação em

suas velocidades de disparo com a velocidade de fala. Os dados de velocidade de

26

disparo e observações relacionadas no movimento labial e níveis eletromiográficos

sugerem que processos neuromecânicos distintos controlam os movimentos labiais

nas velocidades de fala baixa e alta. Tanto os dados cinemáticos como os

eletromiográficos sustentam a expectativa de que a estrutura fonética tem seus

maiores efeitos na abertura do lábio comparada aos movimentos de fechamento nas

sílabas de estrutura consoante-vogal. Os níveis de ativação dos músculos orbicular

da boca fascículo inferior e mentual tenderam a ser mais altos para as produção do

fonema /p/ comparadas aos fonemas /w/ e /f/. Isto pode estar relacionado as

requisições para o completo fechamento e a elevados níveis de pressão intraoral

para a produção do fonema /p/.

Marchiori e Vitti (1996) explicaram que uma técnica de alta sensibilidade para

quantificar o comportamento e atividade muscular é a eletromiografia. Inicialmente,

esta foi utilizada na investigação da dinâmica da mastigação e, em 1961,

começaram a ser realizados os estudos da musculatura labial, a fim de

complementar métodos acústicos e fonéticos da análise da palavra. A

eletromiografia pode ser aplicada na pesquisa da fala e é o único que pode revelar

quando um músculo é ativado, como é ativado e revelar também a coordenação de

diferentes músculos envolvidos em um movimento. Diversos estudos evidenciam

que por meio da eletromiografia pode-se verificar que os músculos em repouso não

geram potenciais elétricos, permanecendo retilínea a linha base do eletromiógrafo,

conservando as condições de elasticidade passiva dos tecidos, requisitada para a

manutenção do tônus muscular. Sujeitos com distúrbio de comunicação, em

comparação com sujeitos falantes normais, pelo esforço para a emissão de um

vocábulo podem recrutar vários músculos inapropriados, gerando efeito de maior

atividade. De acordo com os autores, somente a eletromiografia pode habilitar o

27

clínico para observar hiperatividade da musculatura para um determinado

movimento da fala e que, sendo assim, o profissional poderá trabalhar a musculatura

no sentido de reduzir sua função e alcançar um padrão de atividade ideal.

Com o objetivo de investigar os mecanismos que atuam na coordenação dos

padrões de atividade muscular e suas modificação durante a fala, Marchiori, Vitti e

Oliveira (1999-2000) realizaram avaliações eletromiográficas do músculo orbicular

da boca, fascículos superior e inferior, em 40 sujeitos, dos quais 10 apresentavam

oclusão clinicamente normal e 30 apresentavam maloclusão classes I, II divisão 1 e

II de Angle. A partir do registro eletromiográfico durante a produção de 20 vocábulos

previamente selecionados, foram obtidos os valores médios de atividade

eletromiográfica para os referidos músculos. Os resultados evidenciaram que

sujeitos com maloclusão apresentam flexibilidade muscular reduzida, o que diminui

sua habilidade para compensar movimentos. Os sujeitos com maloclusões classe I e

classe III apresentaram, respectivamente, maiores limitações no músculo orbicular

da boca, fascículo superior e maior limitação na flexibilização do fascículo inferior.

Foi observado ainda, diferentes graus de flexibilidade desta musculatura, de acordo

com o movimento executado. Os resultados evidenciaram também, que a

maloclusão predispõe a uma inadequação muscular entre os músculos orbicular da

boca fascículo superior e fascículo inferior durante a fala.

Segundo Wohlert e Hammen (2000), mudanças nos parâmetros

suprassegmentais da fala podem exigir ajustes no controle motor oral que são

refletidos na atividade da musculatura perioral. Os autores avaliaram possíveis

diferenças na atividade muscular durante a fala, por meio da obtenção de sinais

eletromiográficos de superfície perioral em 20 adultos. Os sujeitos leram um

parágrafo em voz alta na velocidade habitual e no auto-julgamento de velocidades

28

proporcionalmente mais lentas e mais rápidas: na intensidade habitual e em níveis

proporcionalmente menos e mais intensos, e de uma maneira precisa. Os resultados

da análise da amplitude eletromiográfica mostrou efeitos de tarefa significantes, com

altas médias de amplitudes para a fala lenta e suave, sendo compatíveis com o

modelo de reorganização multidimensional do controle motor da fala por mudanças

suprassegmentais aplicadas na fala encadeada.

Wohlert e Smith (2002) hipotetizaram que as medidas de produção de fala de

crianças podem apresentar alta variabilidade em análises cinemática e acústica,

quando comparadas aos adultos. A hipótese foi testada por análise eletromigráfica

das formas de onda produzidas pela repetição de uma frase dita por crianças de 7

anos, 12 anos e adultos jovens. As formas de onda eletromiográficas registradas

com eletrodos de superfície no lábio superior foram claramente moduladas de uma

maneira consistente, correspondendo ao fechamento para consoantes bilabiais na

fala. Assim, foi possível de analisar a amplitude correspondente à eletromiografia

retificada com um índice de variabilidade de frase-nível, previamente utilizado com

os dados cinemáticos. As crianças de 7 e 12 anos foram significantemente mais

variáveis nas produções repetidas que os adultos jovens. Esses resultados apóiam a

idéia que crianças estão usando combinações variantes de atividade muscular para

alcançar as metas fonéticas. Até os 12 anos, estas crianças não foram semelhantes

aos adultos em suas performances.

De acordo com McClean e Tasko (2002), compreender como a atividade da

musculatura orofacial covaria através de mudanças na velocidade de fala e

intensidade tem implicações para o controle neural de produção da fala e o uso de

procedimentos clínicos que manipulam a prosódia. Portanto, os autores realizaram

um estudo que envolveu a análise de correlação de médias da atividade de lábio

29

inferior e músculos mandibulares aos parâmetros: distância, velocidade e duração

dos movimentos de lábios e mandíbula. Os registros foram obtidos em movimentos

orofaciais, atividade muscular e sinal acústico de 3 falantes normais que repetiram

um simples teste vocal, com taxas (velocidade) de fala alvo variando de 60% a 160%

de suas taxas habituais e intensidades vocais alvo de -6dB a +6dB, em relação à

sua intensidade habitual. Os eletrodos foram posicionados na amostra

primeiramente nos músculos mentual, abaixador do lábio inferior, ventre posterior do

digástrico e músculos masseteres. Deslocamentos bidimencionais do lábio inferior e

mandíbula no plano médio-sagital foram registrados com um sistema

eletromagnético. Todos os participantes produziram mudanças lineares na

porcentagem da duração da expressão vocal relacionada aos alvos auditivos para a

variação de velocidade da fala. As variações na intensidade alcançadas foram de

-10 dB a +8 dB. As médias eletromiográficas para todos os músculos investigados

foram bem correlacionadas com parâmetros específicos do movimento. Nas

condições de intensidade, o nível eletromiográfico foi positivamente correlacionado à

velocidade e distância do movimento em todos os participantes. Nas condições de

taxa, o nível eletromiográfico foi negativamente correlacionado com a duração do

movimento de todos os participantes, enquanto maior variabilidade inter-

participantes foi notada para correlações relacionadas a eletromiografia para

velocidade e distância. Para o controle de intensidade, é sugerido que o “input”

neural convergindo para os motoneurônios orofaciais variam monotonicamente com

a distância e a velocidade do movimento. Ao contrário, o controle da taxa parece ser

mais fortemente relacionada às características temporais do “input “neural do que ao

nível de ativação.

30

3.3 Gagueira

Kalotkin, Manschreck e O'Brien (1979) compararam os níveis de tensão

eletromiográfica de gagos adultos com falantes fluentes, partindo do pressuposto de

que se os níveis mais altos de tensão estão presentes entre os gagos

independentemente das características de sua disfluência, a eletromiografia pode ter

utilidade diagnóstica valiosa para maiores investigações. Foram avaliados 6 adultos

gagos, de severidade variável, sendo 2 mulheres e 4 homens, com idades entre 24 e

33 anos, pareados aos sujeitos controles por idade e sexo. Os registros

eletromiográficos dos músculos masseteres foram obtidos durante a fala ininterrupta

dos sujeitos por 10 minutos e durante um repouso de 10 minutos após esta tarefa,

quando os mesmos foram instruídos a permanecer com seus músculos relaxados.

Os resultados indicaram que os níveis eletromiográficos durante a fala espontânea /

encadeada dos gagos foram maiores do que os dos sujeitos do grupo controle,

diferindo significantemente. Porém, as medidas dos níveis de tensão

eletromiográfica durante o repouso não diferiram entre os grupos. Além disso, não

houve correlação entre os níveis eletromiográficos e a severidade da gagueira para

os gagos. Os autores concluíram que a eletromiografia pode ser uma ferramenta de

importante valor diagnóstico na gagueira, tendo maior sensibilidade do que a

avaliação clínica de rotina para a detecção e caracterização das anormalidades

subclínicas da fala, entretanto, uma replicação deste estudo com uma amostra mais

ampla se faz necessária para que os resultados possam ser generalizados.

Zimmermann (1980) propôs um modelo preliminar para a disfluência,

baseado nos dados e discussão de dois artigos precedentes. A gagueira é

identificada como movimentos padrões associados com disfluências julgadas

perceptivamente. É sugerido que as estruturas da fala operam dentro de certos

31

limites de variabilidade em termos de sua movimentação padrão e relações temporal

e espacial inter-articuladores. Esta variabilidade pode ser influenciada por eventos

emocionais, perceptivos e/ou fisiológicos. Quando os limites “normais” são

excedidos, os impulsos nervosos aferentes gerados alteram os ganhos de reflexos

cerebrais associados. Alterações dos reflexos tiram o sistema articulatório do

equilíbrio e ocorre uma falha no comportamento, geralmente manifestada como

oscilações ou posicionamento estático. A influência de variáveis fisiológicas e

ambientais nos processos neuromotores, levando a estes parâmetros, é enfatizada.

É sugerido, contudo, que um entendimento dos muitos comportamentos associados

à gagueira é impossível somente por análise das interações comportamentais e

neurofisiológicas entre as estruturas respiratórias, laríngeas e supraglóticas.

De acordo com Manschreck, Kalotkin e Jacobson (1980), embora não

esclarecida a etiologia da gagueira, uma origem imediata de gagueira é a

incoordenação expressa nos mecanismos periféricos da fala. Vários investigadores

notaram tensão muscular periférica aumentada, associada ao ato de gaguejar e

recentemente, um pequeno número de casos relatados afirma o benefício do

treinamento muscular laríngeo, submandibular, e do músculo masseter em casos

gagueira. Portanto, os autores tiveram como objetivo determinar se (1) o

“biofeedback” eletromiográfico pode ajudar gagos crônicos a controlarem a tensão

do masseter na fala; (2) com o treinamento a gagueira melhora; (3) no seguimento, a

despeito de alguma queda na aprendizagem, a resposta eletromiográfica e a

fluência podem ser mantidas. 8 sujeitos gagos, todos refratários a outros tratamentos

e que tinham gagueira desde os 10 anos de idade foram avaliados por meio de

tarefas de fala e de leitura. Nenhum tinha recebido tratamento com “biofeedback”.

Os resultados indicaram a utilidade do treinamento com eletromiografia biológica

32

para reduzir a tensão do masseter e foram consistentes com relatos prévios de que

a aprendizagem da redução da tensão deste músculo é uma técnica útil para

melhorar a fluência de sujeitos gagos.

Meira (1983) buscou uma compreensão da gagueira enquanto fenômeno.

Foram coletados depoimentos de 9 profissionais que trabalhavam com a gagueira e

de 7 gagos adolescentes e adultos que estavam em terapia durante a realização do

estudo. Os gagos foram filmados falando sobre qualquer assunto, em intervalos não

fixados, de forma de que os filmes constituíram uma fonte secundária de

observações e uma possibilidade de constatação do que estava sendo visto. As

interpretações foram realizadas com base na fenomenologia, o que possibilitou o

conhecimento da gagueira pela experiência consciente da mesma. Quanto à

literatura, a autora observou uma preocupação dos autores em definir, explicar e

categorizar a gagueira, apresentando uma classificação das teorias em orgânicas,

psicológicas e do comportamento aprendido. Além disso, reconheceu na postura dos

autores, indicações dadas pelos métodos das ciências naturais e concluiu que os

mesmos se detiveram a observar e descrever o fato gagueira, mantendo-se distante

do fenômeno gagueira e perdendo, portanto, a possibilidade de “dês-velá-lo”. Na

análise dos depoimentos dos profissionais, observou que as respostas apontaram

uma busca dos mesmos por definições e tentativas de classificação da gagueira,

além de respostas que mostraram uma preocupação com os métodos de terapia,

com o diagnóstico e com o gago. Isso também explicitou uma visão da gagueira

como um fato, afastando-os da possibilidade de “dês-velar” a gagueira como

fenômeno e de chegar à sua essência, interrogando-a, refletindo sobre ela,

buscando compreendê-la e interpretá-la. Na interpretação dos depoimentos dos

gagos, a autora observou que, de início, o gago busca as causas da gagueira,

33

preocupando-se com seus efeitos em si e nos seus interlocutores, dirigindo a sua

consciência para fora. Portanto, foi possível notar um distanciamento da gagueira

como fenômeno, que permanece oculto para o gago, e um conseqüente

agravamento do sintoma. Porém, na medida em que o processo de conscientização

da gagueira se desenvolveu na terapia, os sujeitos foram gradativamente,

conhecendo sua gagueira e podendo falar sobre ela. Num outro momento, a autora

seguiu uma trajetória em direção à gagueira como fenômeno com-o-gago, que

durante a terapia desenvolveu a consciência de seu corpo e de sua gagueira.

Entretanto, o que foi constatado inicialmente foi o que se chamou de “invólucros” da

gagueira, os quais a ocultavam como fenômeno. Estes, por sua vez, constituem

tensões nas regiões oral, cervical e diafragmática, que se relacionam, impedindo o

sinergismo muscular necessário para uma fala fluente. Assim, a autora constatou a

necessidade de “dissolver” tais invólucros a fim de chegar ao fenômeno, o que foi

obtido por meio de uma abordagem fenomenológica do corporal, a partir da qual

chegou-se à gagueira pura. Por fim, ao final da trajetória trilhada com o terapeuta, os

gagos apresentaram uma fala fluente, ou com leves disfluências esporádicas, que

não chegam a interromper o fluxo da fala e tampouco a caracterizar o que é

comumente rotulado por gagueira.

McClean, Goldsmith e Cerf (1984) buscaram descrever os padrões temporais

e as características espectrais do antagonista do músculo orbicular da boca

eletromiograficamente e o deslocamento labial durante disfluências bilabiais em

adultos gagos. Os registros eletromiográficos foram obtidos em 5 adultos gagos para

o músculo mentual e para a unidade motora do músculo abaixador do lábio inferior,

que foram ativados de uma maneira recíproca durante a fala fluente. Os resultados

demonstraram que, durante as disfluências (N = 91), estas mesmas unidades

34

motoras foram ativadas primariamente e de uma maneira recíproca, ou o músculo

abaixador do lábio inferior não foi ativado. De acordo com os autores, estes achados

não são consistentes com relatos prévios de que as disfluências de gagos envolvem

co-contração e em geral, aumento nos níveis de ativação dos músculos

antagonistas. Os autores discutiram os mecanismos de tremor da gagueira e

sugeriram um refinamento na classificação das disfluências dos gagos, baseada nas

diferenças individuais da eletromiografia do lábio e espectro de deslocamento.

De acordo com McClean (1987) a capacidade de registrar reflexos

musculares específicos dos músculos periorais com eletrodos de superfície poderia

ter significância prática para o estudo das desordens de produção de fala. No

presente estudo, os eletrodos de superfície foram utilizados para descrever os

reflexos periorais em 7 sujeitos gagos e 5 não gagos. Para isso, os registros

eletromiográficos foram obtidos nos locais dos eletrodos associados com o músculo

orbicular da boca fascículo inferior e com o músculo abaixador do lábio inferior

durante as tarefas/gestos de pressionamento e de depressão do lábio inferior.

Durante a manutenção postural destes gestos, estímulos mecânicos inócuos foram

aplicados no canto da boca. De acordo com os resultados, as médias dos sinais

eletromiográficos para os dois gestos e locais dos eletrodos revelaram quatro

componentes de respostas reflexas distintos: dois excitatórios (E1 e E2) e dois

componentes de supressão (S1 e S2). Durante o pressionamento do lábio, o

eletrodo do músculo orbicular da boca fascículo inferior mostrou uma proeminente

resposta E1 em todos os sujeitos e, durante a depressão do lábio inferior, o local do

músculo abaixador do lábio inferior mostrou um padrão de resposta inicial S1-E2 nos

sujeitos não gagos. Estas observações são consistentes com descrições prévias dos

reflexos periorais envolvendo eletrodos intramusculares. As diferenças quantitativas

35

nos reflexos periorais não foram observadas nos sujeitos gagos e nos não gagos.

Porém foi notada uma diferença no padrão de resposta reflexa entre os dois grupos

durante a depressão do lábio inferior no local do eletrodo do músculo abaixador do

lábio inferior.

Guitar et al. (1988) examinaram a atividade muscular dos lábios durante a

produção da fala, no intuito de proporcionar informações sobre a natureza do

bloqueio na fala de sujeitos com gagueira. A investigação foi elaborada para

descrever o tempo relativo dos músculos abaixador do ângulo da boca e abaixador

do lábio inferior em 3 homens adultos gagos e 3 não gagos, durante a produção da

fala. Nenhum dos sujeitos gagos havia recebido tratamento prévio. As informações

dos músculos foram obtidas por meio de eletromiografia de superfície. Previamente,

foi realizado julgamento perceptivo auditivo da fala dos sujeitos gagos, sendo

categorizada como fluente, indecisa ou gaga. Nos registros eletromiográficos foi

observado que na maioria das emissões, o músculo abaixador do ângulo da boca se

contraiu primeiro e em seguida o abaixador do lábio inferior também foi ativado nas

amostras de todos os não gagos. Entretanto, na fala dos gagos houve, com

freqüência, inversão da seqüência, isto é, o abaixador do lábio inferior foi ativado

primeiro, ou então houve início incorreto da atividade do abaixador do ângulo da

boca, ou seja, longos atrasos para o início desta atividade, evidenciando uma

dificuldade no fechamento da boca e no relaxamento da face, devido ao

“enrijecimento” precoce, com altos níveis de atividade. Os autores destacaram que

os gagos estariam, assim, manifestando uma resposta aprendida, como uma

antecipação dos comportamentos aparentemente “fora de controle”. Os resultados

sugeriram que a gagueira seria, então, uma disfunção da programação simultânea e

37

seqüências de respostas e vulneráveis a interferências de outras atividades neurais.

Os resultados a respeito de coordenação bimanual em gagos são consistentes com

um modelo que atribui a interferência, em parte, a processos inter-hemisféricos,

possivelmente envolvendo a área motora suplementar. Uma implicação da pesquisa

é que a disfluência presente na gagueira seria somente uma manifestação de uma

disfunção maior na organização e planejamento motor e cognitivo.

Uma análise dos movimentos dos lábios e mandíbula foi realizada por

McClean, Kroll e Loftus (1990), a fim de avaliar a fala fluente de gagos e de

descrever possíveis efeitos da terapia de fala. Para isso, utilizaram um sistema de

medida de tensão/pressão/força para traduzir os movimentos de lábio e mandíbula

durante repetições fluentes de “sapapple” em adultos gagos e não gagos. Assim,

foram mensurados 15 movimentos padrões no fechamento labial para o som |p|

inicial em um grupo de 10 falantes normais, 10 gagos que não tinham tido terapia de

fala recentemente e 8 gagos passando por um programa intensivo de terapia de fala,

envolvendo modificação no tempo de fala. O grupo sem terapia e os não gagos não

diferiram significantemente na duração do movimento da mandíbula e nos picos de

velocidade do lábio superior, inferior e mandíbula. O tempo padrão esperado para

picos de velocidade de lábios e mandíbula no fechamento dos lábios foi o padrão de

ocorrência mais freqüente, mas desvios deste parâmetro foram observados em

ambos gagos e não gagos. A ocorrência de inversões foi mais freqüente no grupo de

terapia e isso foi associado com o aumento na duração dos movimentos

mandibulares entre os sujeitos. Isso sugere que para o tipo de movimento estudado,

anormalidades na fala fluente de gagos são provavelmente o resultado mais de

ajustes adquiridos do que de propriedades do sistema neuromotor que envolve a

disfluência.

38

Denny e Smith (1992) registraram a atividade eletromiografia dos músculos

do lábio, mandíbula e pescoço durante fala espontânea de 17 sujeitos gagos. Os

resultados indicaram que as oscilações como tremor no limite de 5–15 Hz e altas

amplitudes de eletromiográficas ocupam um contínuo comum dos padrões motores

que podem ocorrem nos gagos. Num extremo desse contínuo, a fala gaguejada foi

distinguida por amplas distribuições, altas amplitudes oscilatórias e coerência

relativamente alta da freqüência de oscilação. No outro extremo, nem a atividade

oscilatória nem a amplitude foram maiores para a fala gaguejada; de fato a fala

gaguejada e fluente foram geralmente associadas com amplitudes eletromiográficas

aproximadamente iguais. Estes resultados sugerem que não há um cenário singular

de eventos fisiológicos que caracterizam uniformemente a disfluência em todos os

sujeitos.

Van Lieshout et al. (1993) analisaram sinais eletromiográficos do músculo

orbicular da boca, fascículo inferior evocados por gestos de protrusão labial, a fim de

verificar se gagos, em sua fala perceptualmente fluente tiveram altos níveis de

atividade eletromiográfica e mais longa duração da mesma. Quinze gagos vinte

falantes controle, pareados por idade e sexo, foram examinados. Ambos os grupos

fizeram parte de um experimento de tempo de reação, usando itens verbais de

diferentes comprimentos (sílabas, palavras e sentenças). As medidas da atividade

do músculo orbicular da boca, fascículo inferior, foram tomadas durante gestos de

protrusão labial para o som |o|. Somente as provas de fala perceptualmente fluente

foram analisadas e os resultados mostraram que gagos têm níveis de atividade

eletromiográfica maiores no momento de início/disparo da fala e durante a produção

de fala do que os não-gagos. A maior diferença entre os 2 grupos, entretanto, foi

39

encontrada para a medida do pico de latência, que provou ser uma característica

distintiva muito poderosa na diferenciação entre gagos e não-gagos.

Van Lieshout et al. (1995) investigaram as mudanças nos lábios superior e

inferior na amplitude eletromiográfica integrada e medidas temporais relacionadas a

fatores lingüísticos conhecidos por sua influência na gagueira. Sujeitos não gagos

primeiro leram, e então, verbalizaram sentenças de extensões variáveis (fator de

extensão da sentença), nas quais caracteres sem significado, porém

fonologicamente apropriados, foram variados em sua posição dentro da sentença

(fator de posição da palavra) e seu tamanho (fator de tamanho da palavra). Foi

hipotetizado que a produção de tensão, gestos de vogais arredondadas na posição

inicial das palavras, palavras mais longas e palavras em sentenças longas seria

caracterizada por mudanças específicas na amplitude eletromiográfica integrada, o

que refletiria um aumento nas demandas motoras da fala, intuitivamente definidas

como esforço articulatório. Basicamente, os achados corroboraram as suposições

dos autores, mostrando que palavras e vogais em posição inicial das sentenças têm

durações mais curtas em combinação com uma atividade eletromiográfica integrada

aumentada. Similarmente, os autores encontraram um aumento da atividade

eletromiográfica integrada em vogais de mais curta duração para palavras mais

longas e em posição final da sentença. Para sentenças mais longas, encontraram

um claro aumento na velocidade de fala, mas contrariamente às suas expectativas,

uma redução na atividade eletromiográfica integrada. Foi investigado que isto pode

estar relacionado ao uso de uma estratégia de redução do movimento para permitir

velocidades de fala maiores com aumentada co-articulação. Assim, os dados podem

ilustrar porque os gagos podem correr maior risco de gaguejar nestes locais

lingüísticos de gagueira, e porque eles podem usar uma estratégica de solução para

40

diminuir as demandas motoras na produção de fala. Este estudo mostrou que

especificações de alta ordem (lingüísticas) podem ter claros efeitos na produção

motora da fala.

Kelly, Smith e Goffman (1995) realizaram uma investigação preliminar de

relações entre o desenvolvimento de gagueira e a maturação do processo motor da

fala. Para isso, registraram a atividade eletromiográfica dos músculos orofaciais em

crianças que gaguejam e em falantes fluentes, durante a fala fluente e disfluente.

Nove crianças gagas (8 meninos e 1 menina), com idades de 2:7 a 14:0 anos e 9

crianças não gagas pareadas por idade e sexo foram os sujeitos. Pares de eletrodos

de superfície foram colocados nos músculos digástrico – ventre anterior, levantador

do lábio superior, e orbicular da boca, fascículo inferior. Vinte segmentos de fala

gaguejada (das crianças gagas) e fala perceptualmente fluente foram extraídos das

amostras de fala espontânea das crianças. Os resultados indicaram que as 3

crianças gagas mais velhas mostraram evidência de oscilações na atividade

eletromioigráfica como tremores num alcance de 5 a 15 Hz durante a gagueira nos

músculos levantador do lábio superior, orbicular da boca, fascículo inferior ou ventre

anterior do digástrico. Além disso, a criança gaga mais nova e a criança não gaga

demonstraram picos de espectro primários de 1 a 4 Hz durante a fala gaguejada

e/ou fala perceptualmente fluente. Os autores hipotetizaram que a emergência de

instabilidade, tal como tremor no processo motor da fala de crianças gagas pode

coincidir com aspectos de maturação neural geral e com o desenvolvimento da

gagueira.

Starkweather (1995) relacionou a gagueira à função motora. Segundo o autor,

o gago tensiona a musculatura ao articular alguns fonemas, como resultado do

medo, da luta para fugir da palavra ou da antecipação da palavra, havendo assim,

41

uma extraordinária atividade muscular. Isto pode variar de sujeito para sujeito e de

situação para situação, e a atividade da musculatura para a fala pode atingir níveis

tais, que o gago teria dificuldades para inibí-la ou demoraria para retornar à condição

inicial de fala sem tensão.

Os processos neurais subjacentes ao início da fala podem envolver redução

na excitabilidade do impulso sensório para mecanorreceptores que são mediadores

dos movimentos de fala. Com base nisso, McClean (1996) realizou um experimento

para testar a hipótese de que a redução da excitabilidade não é tão efetiva em

sujeitos que gaguejam. Foram analisados os reflexos do músculo labial em 14

adultos gagos antes da produção de palavras monossilábicas iniciadas pela

consoante /p/. O primeiro componente dos reflexos do músculo labial (R1) foi

quantificado em termos de porcentagem de modulação de níveis médios de resposta

eletromiográfica do lábio superior e inferior em relação aos reflexos eliciados durante

provas de não-resposta, e comparados aos resultados obtidos em estudo anterior

com sujeitos fluentes. Dentre os 14 sujeitos fluentes, 11 apresentaram atenuação

significante de R1 entre os locais registrados dos lábios superior e inferior. Em

contraste, uma atenuação significante R1 foi observada em somente 4 dos 14 gagos

testados. Como um grupo, os gagos apresentaram menos atenuação R1 antes da

fala fluente nos registros do lábio inferior comparados aos sujeitos não-gagos.

Segundo Van Lieshout, Hulstijn e Peters (1996), do ponto de vista

comportamental, a gagueira envolve uma ruptura involuntária na produção motora

da fala. Um dos fatores mais salientes quanto ao impacto na gagueira, influenciando

o controle motor da fala é o tamanho da palavra. O comprimento de uma seqüência

verbal pode influenciar o tempo de processamento de dois diferentes estágios. De

modo geral, o primeiro estágio envolve a criação e planejamento de um plano motor

42

(verbal) abstrato, iniciando no processo de codificação fonológico, usando a

informação na forma de palavra do léxico mental. O segundo estágio envolve a

tradução subseqüente do plano motor abstrato num apropriado comando muscular

(preparação do comando muscular). O estudo testou se pessoas que gaguejam, em

comparação com falantes controle, têm mais problemas na reunião de planos

motores abstratos. Não foram usadas sentenças para não haver confusão com

fatores sintáticos e prosódicos, mas sim variação no número de sílabas por palavra,

em passos de 1. O tempo de reação da fala e a duração da palavra como uma

estimativa do tempo de execução da fala foi medido. Também foi realizada a

eletromiografia integrada, para registrar o início da atividade dos lábios e medir a

atividade respiratória. Foi verificado que durante a fala perceptivamente fluente,

pessoas que gaguejam, quando comparadas a falantes controles, exibiram: a) mais

longo tempo de reação, mas o efeito de grupo foi significante somente para

nomeação de figuras; b) mais longa duração das palavras; c) maior aumento na

duração de palavras, para palavras mais longas; d) significante atraso no tempo

relativo de eventos motores específicos, em particular no início da eletromiografia do

lábio superior e no início da compressão torácica; e) ordem diferente de disparo no

início da eletromiografia dos lábios, sendo que o início da eletromiografia do lábio

inferior ocorreu antes que o do lábio superior. Os autores concluíram que os

resultados do estudo não sustentam a hipótese de que pessoas que gaguejam

diferem de pessoas que não gaguejam na reunião de planos motores abstratos para

a fala. Os achados sugeriram que pode existir uma diferença entre os grupos na

estratégia de controle motor preferida.

Segundo Van Riper e Emerick (1997), a gagueira é definida pela fala anormal

na qual ocorrem repetições e prolongamentos de sons e sílabas, interrupções, além

43

de movimentos associados com o corpo. A gagueira é considerada um problema de

origem multicausal, sendo que a maioria das explicações contém um pouco de

verdade, porém nenhuma é totalmente satisfatória.

Meira (1997-1998) realizou uma apresentação histórica dos estudos da

gagueira, enfocando seus aspectos principais. Segundo a autora, os estudos sobre

a gagueira foram iniciados na década de 20, quando Trevis, realizou a primeira

pesquisa sobre o assunto, propondo que ela deveria decorrer de um problema na

dominância hemisférica cerebral que prejudicaria a sincronização necessária para

uma fala fluente. No entanto, essa teoria não foi comprovada, e em 1936, Van Riper

defendeu que a gagueira seria um comportamento aprendido, e que, durante a fala

havia uma inabilidade no movimento da musculatura específica. Em 1942, Johnson

elaborou a teoria avaliativa na qual a gagueira é atribuída à reação negativa dos pais

diante da disfluência apresentada pela criança. Em 1950, Wischner defendeu que há

uma luta antecipatória do gago na tentativa de reduzir a ansiedade provocada pela

gagueira, sendo que esta ansiedade só é resolvida quando a gagueira completa-se,

isto é, reforçando-a ainda mais. Em 1954, Van Riper afirmou sua teoria da

multicausalidade da gagueira, que diz que ela advém de fatores emocionais,

orgânicos ou é um comportamento aprendido; Travis, em 1957, abandonou sua

crença na dominância hemisférica, passando a ver a gagueira como uma

psiconeurose. No final da década de 50, Eisenson apresentou a teoria perseverativa,

na qual considera que a gagueira é causada por uma tendência orgânica. Mysac,

em 1960, traz a idéia de que a gagueira é um problema de automatização da fala e

ocorre devido a uma falha em algum circuito de “feedback” auditivo. Bloodstein, em

1961, propôs que a gagueira fosse vista como tensão e fragmentação, as quais se

desenvolviam das pressões de comunicação que acontecem na vida diária.

44

De acordo com Barbosa e Chiari (1998), simplificando as teorias a respeito da

gagueira apresentadas por diversos autores, é possível dividi-las segundo duas

linhas básicas: aquelas que investigam os fatores funcionais e as que focalizam os

fatores constitucionais. As teorias funcionalistas centram sua atenção na

investigação dos fatores psicológicos e sociais e as teorias de base constitucional

centram-se em variáveis orgânicas. Apesar de muitas teorias propostas, diversos

autores relataram seu desconhecimento sobre a causa da gagueira. A tendência das

pesquisas atuais firma-se no sentido de uma linha mais organicista, mas existem

críticas sobre a sua utilidade e a forma como elas têm sido conduzidas. As autoras

citaram, dentre outras, a teoria que explica que há excessiva tensão muscular na

produção da fala, em função da dificuldade que o sujeito que gagueja têm para inibir

a atividade da musculatura, que assim demora a voltar aos níveis normais de tensão

após terem sido ativados. Quanto à terapia de gagueira, diversas abordagens

privilegiam o trabalho com os sintomas de fala gaguejada e buscam melhorar tal

comportamento, e outras julgam que o sujeito que gagueja não deve controlar o seu

padrão de fala, mas aprender a enfrentar as reações de medo e de evitação.

Existem ainda as terapias multidimensionais, nas quais são utilizadas várias

técnicas: treino articulatório, relaxamento, dessensibilização da gagueira, auto

controle, fala lentificada, dentre outros. As autoras afirmaram que as pesquisas em

direção à causa (ou às causas) da gagueira devem avançar nos próximos anos em

função da tecnologia, do aprimoramento nos instrumentos de avaliação e pela

aproximação entre as diversas ciências que se interessam pelo estudo da fala

humana.

Zackiewicz (1999) realizou um estudo com objetivo de descrever e comparar

sujeitos com gagueira e fluentes, em relação aos aspectos quantitativos e

45

qualitativos das disfluências. Foram avaliados 60 sujeitos, com idades entre 18 e 58

anos, sendo 30 sujeitos com gagueira e 30 falantes fluentes. As amostras de fala

foram coletadas em 5 situações diferentes (monólogo a partir de figura; leitura de um

texto em voz alta; monólogo a partir de temas de conteúdo pessoal; diálogo iniciado

pela pesquisadora a respeito de um dos temas não escolhido pelo sujeito; diálogo

sob pressão, onde a pesquisadora apresentou objeções, dúvidas, discórdias,

interrupções verbais à fala do sujeito, além de perda e diminuição da sua atenção) e

avaliadas por meio de um instrumento americano de avaliação das disfluências –

Systematic Disfluency Analysis (CAMPBELL; HILL, 1994) e de um protocolo de

triagem fonoaudiológica, utilizado no Laboratório de Investigação Fonoaudiológica

da Fluência e das Desordens da Fluência do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade

de Medicina da USP. Os resultados demonstraram que em relação aos aspectos

quantitativos, os sujeitos com gagueira apresentaram um maior número de

disfluências, tanto disfluências caracterizadas como gagas quanto disfluências

comuns a todos os falantes. Quanto aos aspetos qualitativos das disfluências,

expresso por pontuações, os sujeitos com gagueira também obtiveram maiores

valores do que os fluentes. As disfluências consideradas normais variaram de uma

situação para a outra, enquanto as disfluências gagas permaneceram constantes. A

variação das disfluências, entre as situações, ocorreu de modo simultâneo para

ambos os grupos. O instrumento utilizado possibilitou, de forma eficiente, a

verificação dos objetivos desse estudo. Os resultados também foram discutidos

quanto a sua importância clínica e social. A autora considerou que, de modo geral, a

variação da fluência entre as situações de fala foi semelhante nos dois grupos

pesquisados, indicando que a performance dos sujeitos com gagueira é variável de

uma situação para a outra, na mesma proporção do que para sujeitos fluentes.

46

Poderia ser sugerido, então, o uso de apenas uma situação de fala, sem que isso

comprometesse significativamente a avaliação das disfluências no diagnóstico inicial

da gagueira. A autora concluiu que tais considerações necessitam maior

investigação, uma vez que para a clínica fonoaudiológica, um maior entendimento

do padrão de fluência de sujeitos adultos e o desenvolvimento de instrumentos de

avaliação da gagueira poderiam possibilitar desde um diagnóstico diferenciado até

um acompanhamento dos progressos terapêuticos, permitindo embasamento dos

seus procedimentos em dados mais objetivos.

Andrade e Schochat (1999) realizaram um estudo com dez adultos gagos e

que não possuíam antecedentes de alterações auditiva, cognitiva ou neurológica.

Foi realizada a identificação e quantificação das disfluências, segundo padrões pré-

determinados de tipicidade, a fim de diferenciar as disfluências comuns, que são

aquelas apresentadas por todos os falantes (hesitações, interjeições, repetição de

frases) daquelas patológicas (repetições de palavras, de sílabas, de sons,

prolongamentos, bloqueios e pausas), sendo que todas foram classificadas quanto

ao grau de severidade. A avaliação do processamento auditivo central foi realizada

por meio de testes de dígitos dicóticos, dicóticos de sons ambientais, teste de

seqüência de freqüência e teste de seqüência de duração, no intuito de avaliar os

aspectos neuroaudiológicos dos sujeitos gagos. Os resultados destas avaliações

demonstraram que os comprometimentos dos padrões de fala – disfluência – estão

acompanhados de alterações no processamento auditivo, sendo o grau desse

comprometimento vinculado à severidade da desordem comunicativa. No entanto, as

autoras colocam que tais dados não devem ser considerados conclusivos nem

generalizados, tendo em vista o tamanho reduzido da amostra.

47

Oliveira et al. (2000) relataram que a gagueira caracteriza-se por desordens

no sistema motor da produção da fala, que podem se manifestar tanto em nível de

programação como de execução de movimentos, sendo que a desestabilização dos

processos de produção de fala resulta na interrupção da fluência. Com base neste

pressuposto, os autores realizaram um estudo para comparar os aspectos temporais

da fala perceptivamente fluente de gagos e não-gagos durante a produção repetida

da sílaba |pa|, por meio da avaliação aerodinâmica-acústica. A eletroglotografia foi

empregada para avaliar o comportamento glótico, a pletismografia para avaliar os

movimentos respiratórios, e a eletromiografia para verificar a manifestação da

atividade fisiológica da produção da fala, principalmente na avaliação da atividade

labial. Os dados foram sugestivos de ausência de comprometimento motor da fala

fluente de gagos, porém os autores chamam a atenção para o fato de que em

alguns casos podem haver alterações significativas em pelo menos um dos

subsistemas envolvidos na produção ou na programação motora da fala.

De acordo com McClean e Runyan (2000), a gagueira pode ser caracterizada

como uma desordem na coordenação de diferentes sistemas musculares. Os

aspectos básicos da fisiologia, a velocidade de lábios e língua em relação à

mandíbula podem ser dimensões importantes para a avaliação motora entre

pessoas que gaguejam. Os autores utilizaram um sistema eletromagnético com 38

adultos, sendo 29 com gagueira e 9 falantes normais, a fim de se obter as medidas

de velocidade dos lábios, da língua e da mandíbula na emissão repetida de uma

palavra simples. Usando julgamentos de categoria de severidade de gagueira, a

razão de velocidade da língua para a velocidade da mandíbula foi significantemente

maior em pessoas com gagueira severa, comparada aos falantes fluentes e outros

sujeitos com gagueira. Aumentos significantes na razão de velocidade lábio-

48

mandíbula e língua-mandíbula com a severidade da gagueira foi também refletida na

análise de correlação para um contínuo de medidas de severidade da gagueira.

Essas tendências na razão de velocidade foram relacionadas ao aumento na

velocidade de lábios e língua e diminuição da velocidade da mandíbula com

severidade da gagueira. Os autores explicaram que a diminuição da velocidade da

mandíbula pode ser uma estratégia compensatória, a fim de reduzir a excessiva

energia aplicada dos mecanoreceptores da mandíbula.

Peters, Hulstijn e Van Lieshout (2000), baseados nos resultados da

investigação eletromiográfica da atividade muscular laríngea e a articulatória durante

a fala fluente e não fluente de pessoas gagas, discutiram que do ponto de vista

motor, a gagueira pode ser caracterizada como uma disfunção no tempo e

coordenação de um dos subsistemas (respiratório, articulatório ou laríngeo). Foi

verificado distorção da reciprocidade normal dos músculos abdutores em falas não

fluentes, o que os levou a hipotetizar que a gagueira pode estar ligada a uma

descoordenação da atividade entre os subsistemas motores envolvidos na

produção. Assim, na perspectiva do controle motor da fala, a gagueira é descrita

como um transtorno da atividade muscular coordenada do sistema laríngeo, com um

tempo descoordenado dos movimentos laríngeo, respiratório e articulatório,

sugerindo que na gagueira os mecanismos da fala responsáveis pelo ajuste preciso

destas musculaturas são operados menos eficazmente. Os autores citaram um

modelo que integra os vários estágios e processos envolvidos na produção da fala,

que são: conceitualização (onde os conceitos a serem expressos são transformados

em mensagem pré-verbal); formulação (onde os conceitos são transformados em

uma forma verbal ou lingüística) e articulação (onde o plano fonético é recuperado

de um programador pré-articulatório, iniciado e executado). Ainda na articulação são

49

distinguidos três estágios: o estágio de montagem do plano motor, o estágio de

preparação muscular, no qual o comando muscular é voltado ao contexto da

atividade motora verbal e o estágio de execução do comando muscular, no qual os

comandos são iniciados e executados. Isto decorre do fato de que as unidades

motoras dos músculos no sistema motor efetor da fala são ativados, aumentando as

contrações musculares e, conseqüentemente, aumentando os movimentos dos sub-

sistemas respiratório, fonêmico e articulatório, envolvidos na produção da fala, que

resulta em diferenças de pressão de ar que geram as ondas sonoras. Partindo

destes pressupostos, a gagueira pode ser vista como uma deficiência na habilidade

motora da fala, e podem existir variáveis que afetam a freqüência da fala, bem como

o componente motor do seu movimento. Os autores sugeriram que para acessar a

coordenação e o tempo da produção da fala em sujeitos gagos e não gagos, é

preciso se obter medidas nos campos respiratório, fonêmico e articulatório.

Alvarez, Sanchez e Zaídan (2002) descreveram um caso clínico por meio de

uma abordagem neuropsicológica multidimensional do processamento auditivo, a

qual norteou os estudos sobre o sujeito com gagueira, do gênero masculino, de 19

anos e 8 meses, canhoto, estudante com o 2º grau completo, e início da gagueira

por volta dos 12 ou 13 anos. Sua gagueira se caracterizava por repetições da sílaba

inicial. Os sujeito passou por avaliação periférica e central da audição. Os resultados

desta avaliação levaram ao diagnóstico de disfunção/lesão de conexão inter-

hemisféricas direitas, caracterizando um distúrbio de processamento auditivo central

– subperfil déficit de prosódia ou déficit de função não-verbal, o que segundo as

autoras, acredita-se que reflita uma disfunção hemisférica direita. A avaliação

neuropsicológica complementar apontou dificuldades visuo-construtivas e de

comunicação não-verbal, déficit na etapa de armazenamento da memória de curto

50

prazo e levantou a possibilidade de uma depressão, a qual foi confirmada por

avaliação psiquiátrica. Assim, na intervenção fonoaudiológica, foram traçadas

condutas terapêuticas com tarefas de estimulação específica do hemisfério direito,

enfatizando o treinamento auditivo diferenciado das características psico-acústicas

de freqüência, intensidade e duração mediado por estimulação tátil-cinestésica e

informações alusivas-visuais. As autoras abordaram os fundamentos da avaliação

da função auditiva central e destacam que o histórico dos sujeitos é a chave do

diagnóstico diferencial. Além disso, cada teste da avaliação é sensível a

disfunções/lesões em determinadas regiões do sistema nervoso central. Segundo as

autoras, as possíveis causas neurofuncionais da gagueira têm sido discutidas

permanecendo sua etiologia indefinida. A gagueira constitui ainda, uma alteração

que afetaria os múltiplos sistemas neurais da fala, uma vez que há evidências que

os gagos, ao falar, apresentam uma ativação aumentada e difusa do sistema motor.

Já ao realizar leitura eles apresentam uma ativação diminuída das vias auditivo-

linguísticas esquerdas, responsáveis pela automonitoração da fala e do sistema

frontotemporal. Assim, puderam concluir que por meio deste estudo de caso

demonstrou-se a utilidade dos testes auditivos centrais na pesquisa da natureza da

gagueira, de forma que a configuração do padrão específico de achados,

evidenciado pela análise combinada dos resultados dos testes, permitiu o

diagnóstico e o tratamento apropriados.

Ferriolli (2002) apresentou um relato de caso, de um sujeito gago, de 33 anos,

do gênero masculino, seguindo os pressupostos da análise do discurso. A partir da

anamnese e avaliação, o sujeito foi diagnosticado como “estando gago”, já que

possui toda a sintomatologia descrita na literatura e, em seguida, seu discurso e o de

52

repouso, para a atividade dos lábios e da língua, porém, o grupo com antecedentes

para gagueira apresentou maior tensão em vários dos aspectos testados na

atividade da língua, em diferentes faixas etárias. Quanto aos movimentos de

lateralização e protrusão da língua, foi verificado na maioria das medidas obtidas,

que o grupo de pesquisa apresentou resultados com maior tensão. As análise intra-

grupo não possibilitaram identificação de nenhum aspecto, dentro dos avaliados,

que pudesse sugerir diferenciação entre os sujeitos em decorrência do grau de

proximidade do antecedente genético. A autora concluiu que as hipóteses não foram

confirmadas e que, pelo reduzido número de sujeitos, os resultados obtidos não têm

poder de generalização.

Ludlow e Loucks (2003) realizaram uma revisão para determinar quais

mecanismos neurais podem ser disfuncionais em gagos. Três fontes de evidências

foram revisadas. 1) estudos de inter-relações dinâmicas entre as regiões cerebrais

durante a fala normal e em sujeitos gagos sugerem que a temporalização da

atividade neural em diferentes regiões pode ser anormal em gagos. 2) as lesões

cerebrais associadas com a gagueira adquirida indicam que em alta porcentagem de

casos, as regiões primárias da fala e da linguagem não são afetadas, mas as lesões

envolvem outras estruturas, tal como o gânglio basal, que pode modular as regiões

primária da fala e da linguagem. 3) para caracterizar a desordem do controle motor

na gagueira, também foram investigadas similaridades e diferenças das distonias

focais tais como disfonia espasmódica e síndrome de Tourettes. A revisão indicou

que as anormalidades no controle central em gagos não se devem a distúrbios de

uma região particular do cérebro, mas de preferência, a um sistema que interfere

com processamento rápido e dinâmico da fala para a produção.

53

De acordo com Andrade, Cervone e Sassi (2003), a fala fluente é a habilidade

de falar com continuidade, em uma velocidade sustentável e sem esforço. O nível de

fluência parece variar de um sujeito para outro, e em um mesmo sujeito dependendo

do dia, das emoções, do objetivo de um assunto de conversa e das diferentes

situações de comunicação dentro da vida diária. A velocidade de fala é um dos

parâmetros analisados quando investigando fluência da fala e é uma importante

variável na avaliação de sujeitos com queixas de comunicação. De acordo com a

literatura, a velocidade de fala é também um importante índice quando analisamos a

eficácia de tratamento, já que um dos objetivos da terapia de fala é oferecer ao

paciente a habilidade de apresentar o mesmo modelo de fala daqueles sujeitos sem

déficit de comunicação. Alguns autores acreditam que há duas teorias principais

relacionadas à velocidade de fala e gagueira. A primeira é o modelo psicolingüístico

na qual as crianças e adultos gagos requerem mais tempo para processar

informações lingüísticas e fonológicas. Por causa desta demora, o nível de fluência

nos gagos é menor que nos falantes fluentes. A segunda teoria considera a gagueira

como uma desordem neuromotora e rítmica que está ligada á velocidade da

articulação e reflete os movimentos compensatórios. A taxa de fala pode ser

mensurada não somente palavras por minuto, que indica a taxa na qual a

informação é produzida, mas também em sílabas por minuto, que indica a taxa de

articulação, que é a taxa na qual as estruturas envolvidas na produção de fala são

modificadas. Resultados de um estudo desenvolvido entre falantes adultos fluentes

da língua portuguesa Brasileira indicaram que a taxa de fala normal está em torno

de 218,8 á 256,5 sílabas por minuto e 117,3 à 140,3 palavras por minuto. As autoras

concluíram em seus estudos que em relação à variação de palavras por minuto,

quanto mais severa era a gagueira, menor era o número de palavras produzida por

54

minuto; para avaliação das sílabas por minuto, a diferença entre o índice de

severidade da gagueira também indicou um decréscimo, ou seja, quanto mais

severa a gagueira mais baixa a habilidade de articulação. O estudo confirma

achados sobre falantes da Língua Inglesa Americana, apontando para uma relação

direta entre aumento do índice da severidade da gagueira e redução da taxa de fala,

não somente para produção de informação, mas também para transição da

articulação. As autoras ainda relatam que no Brasil, a avaliação da gagueira é

usualmente indireta, perceptual, e baseada exclusivamente nas queixas do paciente

ou no julgamento de profissionais, e que os testes objetivos que quantificam a

patologia são importantes para o diagnóstico, tratamento e prognóstico.

Max, Caruso e Gracco (2003) investigaram a hipótese de que as diferenças

neuromotoras entre gagos e não gagos não se limitam a movimentos envolvidos na

produção de fala. Para isso coletaram dados cinemáticos de 10 adultos gagos e 10

não gagos pareados por gênero e idade durante movimentos de fala, movimentos

orofaciais que não envolvem a fala e movimentos do dedo. Os resultados revelaram

diferenças significantes entre os sujeitos gagos e não-gagos nas várias

mensurações de movimentos de fechamento (mas não de abertura) de lábio e

mandíbula durante a fala perceptualmente fluente. Além disso, houve diferenças

significantes entre os grupos de gagos e não gagos quanto as latências de duração

e pico de velocidade do movimento de flexão (mas não de extensão) do dedo. Os

achados sugeriram que diferenças entre sujeitos gagos e não gagos não estão

confinadas aos processos sensoriomotores envolvidos na produção da fala ou aos

movimentos regulares do sistema orofacial geral. Segundo os autores, parece que

os grupos mostram diferenças generalizadas na duração de certas metas de

movimentos direcionados entre sistemas motores não relacionados.

55

Andrade (2004) abordou a relação entre o processamento motor e a ruptura

da fala, ou seja, a gagueira. Acredita que o componente genético subjacente seria a

predisposição para uma resposta ineficiente quanto ao esforço muscular e a sua

resposta autônoma, tendo como conseqüência o início de contrações em tempos

diferentes ou um percurso com atos desincronizados. A autora relatou que a teoria

de abordagem motora da gagueira considera a velocidade articulatória, isto é, o

quão rápido a pessoa é capaz de produzir as sílabas, como o melhor indicador do

sistema motor da fala. Para produzir fala fluente o sujeito precisa mover as várias

partes do trato vocal, rápida e suavemente, permitindo uma inteligibilidade silábica

contínua e produzida em pouco tempo, sendo que quanto mais rápido os

movimentos da fala, mais elevada é a atividade muscular. Como esses músculos

são organizados em conjuntos antagônicos (a contração de um requer o simultâneo

relaxamento/extensão de outro), o aumento da rapidez do movimento pode causar

uma sobrecarga, provocando a contração de outros músculos e estresse,

manifestado por rupturas involuntária e não passíveis de recuperação automática,

além de oscilações e tremores associados à fala, caracterizando a gagueira. Durante

a trajetória da fala na gagueira, existe uma ruptura que ainda não foi esclarecida;

esta ruptura pode decorrer da diminuição do tempo de reação (saída de uma

posição de repouso para uma posição ativa na articulação), de um desequilíbrio na

interação entre o evento lingüístico (pré-motor ) e o evento motor (ato programado),

de uma descoordenação dentro da própria estrutura organizacional da linguagem,

ou de uma descoordenação dentro da própria estrutura da fala.

De acordo com McClean, Tasko e Runyan (2004), considerando gagueira

como um problema na coordenação dos movimentos de diferentes sistemas

musculares envolvidos na produção da fala, é lógico que esforços sejam feitos para

56

quantificar e comparar a força do acoplamento neural entre sistemas musculares em

pessoas que gaguejam e aquelas que não gaguejam. A questão foi estudada pela

correlação da velocidade de diferentes estruturas orofaciais com a freqüência

fundamental (F0) e a intensidade em produções fluentes na repetição de uma frase

simples sem sentido em níveis de intensidade habitual, alto e baixo. Foi assumido

que as correlações indiretamente refletem a força de acoplamento neural entre cada

estrutura orofacial e o sistema laringo-respiratório. Um sistema eletromagnético foi

empregado para registrar os movimentos dos lábios superior e inferior, língua e

mandíbula. O sinal acústico da fala foi registrado e usado para obter as medidas de

Freqüência fundamental (F0) da vogal e intensidade. As correlações foram reduzidas

em pessoas que gaguejam comparadas às que não gaguejam para o lábio inferior e

a língua, embora a magnitude da diferença desses grupos tenha covariado com os

níveis de F0 e intensidade. Os resultados sugerem que a diferença entre grupos no

padrão de correlação reflete a força reduzida de acoplamento do lábio inferior e da

língua e o sistema laringo-respiratório em gagos, o que pode ter relação com a

descoordenação temporal na gagueira.

Sassi e Andrade (2004) realizaram uma revisão da literatura a respeito dos

aspectos neuromotores da gagueira e as propostas existentes para o uso da

realimentação no tratamento desta patolologia. Segundo as autoras, com o avanço

da tecnologia, os estudos relacionados à gagueira desenvolvimental apontam como

fator causal a falta de temporalização entre os processamentos envolvidos na fala,

decorrente de uma disfunção neuromotora. Sendo assim, tratamentos que

favorecem a expansão do tempo de processamento para a fala e a suavização da

tensão articulatória promovem a fluência. Estudos de neuroimagem, com exames de

PET (tomografia por emissão de pósitrons), SPECT (tomografia por emissão de

57

fóton) e MRI (ressonância magnética), apontam alguns resultados para sujeitos com

gagueira, tais como: a ativação cerebral para a linguagem é difusa e

predominantemente à direita; existe um hipometabolismo permanente no núcleo

caudado esquerdo, estando este núcleo 50% menos ativo que nos falantes fluentes;

aparentemente existe uma menor atividade do circuito cerebelar; e, finalmente, uma

hipoatividade das áreas associadas ao processamento da linguagem e uma

hiperatividade das áreas associadas à função motora. As autoras abordaram

também, que dentro de uma perspectiva neuromotora, a gagueira pode ser

considerada uma desordem decorrente da disfunção dos mecanismos do controle

sensório-motor do sistema nervoso central. Alguns autores investigaram o uso da

eletromiografia de superfície como forma de tratamento para reduzir a gagueira,

baseando-se no fato de que o excesso de tensão muscular em partes do corpo

relacionadas à fala e movimentos motores inadequados seriam fatores responsáveis

pelas rupturas de fala. A realimentação fornecida pela eletromiografia de superfície

permite o monitoramento objetivo da tensão muscular envolvida na produção da fala

com a conseqüente redução dos eventos de gagueira. Contudo, os poucos estudos

existentes na literatura falham em comprovar a generalização quando esta forma de

tratamento é utilizada.

McClean, Tasko e Runyan (2004) objetivaram replicar e ampliar achados

prévios de que (a) durante a fala fluente de pessoas que gaguejam e daqueles que

não gaguejam há diferença em seus movimentos de fechamento do trato vocal

(MAX; CARUSO; GRACCO, 2003) e (b) taxas relacionadas à velocidade de lábios e

língua e velocidade de mandíbula aumentam com a severidade da gagueira

(MCCLEAN; RUNYAN, 2000). Um sistema eletromagnético foi usado para gravar

movimentos de lábio superior, lábio inferior, língua e mandíbula de 43 não gagos e

58

37 gagos durante produções de uma frase sem sentido e a uma sentença.

Mensuração e análise da velocidade dos movimentos, durações, e proporção de

velocidade de lábios e língua para velocidade de mandíbula foram representadas em

produções fluentes de uma frase sem sentido e de uma sentença. Comparações

estatísticas foram feitas entre os gagos com níveis baixos e altos de severidade de

gagueira e não gagos. Variações significantes entre grupos para os movimentos de

velocidade e duração foram observados, mas o padrão desses efeitos foi complexo

e não replicou os resultados dos dois estudos anteriores. Na frase sem sentido,

reduções significantes na duração de fechamento do lábio inferior, duração de

fechamento da mandíbula, e velocidade de fechamento da mandibula foram

aparentes nos sujeitos gagos. Na tarefa de sentença, os sujeitos com alta

severidade de gagueira mostraram elevada duração de “abertura” e “fechamento” da

língua. Para o movimento de “abertura” da língua na sentença, sujeitos com baixo

nível de severidade de gagueira apresentaram velocidade elevada e os sujeitos com

alto nível de severidade de gagueira apresentaram velocidade reduzida. As

velocidades elevadas para os sujeitos com baixo nível de gagueira são interpretadas

como um fator contribuinte para a disfluência da fala, a redução da velocidade e

aumento das durações em sujeitos com alta severidade de gagueira são atribuídos a

um comportamento adaptativo com a intenção de facilitar a fluência de fala. Efeitos

significantes de grupo não foram verificados para as taxas de velocidade

mensuradas. Os resultados são discutidos em relação a análises multivariadas

pretendendo identificar subgrupos de gagos.

Venkatagiri (2004) descreveu uma hipótese sobre gagueira que distingue entre

dois métodos de organização de planos motores da fala para uma expressão –

construção da fala, que envolve uma preparação em tempo real de planos motores

59

para a fala e fala concatenada, que envolve a recuperação e encadeamento de

planos motores de sílabas estocados na memória. É hipotetizado que a gagueira

reduz significantemente quando a pessoa que gagueja fala em padrões de fala tais

como sussurro e fala prolongada porque a tarefa de fala não habitual requer

construção da fala. Ao contrário de quando a pessoa que gagueja fala em seu

padrão habitual, concatenando planos motores de sílabas estocados em sua

memória. Estudos sobre tempo de reação e efeito da freqüência da palavra no

padrão de gagueira mostra que as pessoas que gaguejam são mais lentas na

recuperação de planos motores estocados durante a fala concatenada. Por outro

lado tarefas que antecipam o plano motor como leitura, produção de fala seriada e

tarefas de adaptação de gagueira aceleram a recuperação do plano motor e, assim,

reduzem a quantidade de gagueira. A lenta recuperação de planos motores de

sílabas leva a uma incompleta especificação no plano motor da sentença e a

gagueira ocorre quando o sistema articulatório se esforça para executar um plano

motor não especificado.

McAllister e Kingston (2005) discutiram os casos de dois meninos em idade

escolar, de inteligência normal e sem qualquer lesão neurológica conhecida,

descrevendo suas repetições na parte final das palavras. Suas falas foram

registradas durante a conversa espontânea, leitura e repetição de sentenças. As

repetições ocorreram em todas as três condições de fala, embora a maioria das

ocorrências tenham sido observadas na fala espontânea, e em ambas as palavras

de conteúdo e função. Os sujeitos não exibiram qualquer consciência aparente de

suas disfluência, nenhuma tensão muscular anormal e nenhum comportamento

acessório.

60

Code, Lincoln e Dredge (2005) examinaram as assimetrias laterais na

abertura da boca em homens destros gagos (N = 11) e não gagos. Para isto, as

assimetrias laterais na abertura bucal foram registradas em vídeo e os participantes

foram analisados enquanto produziam palavras iniciadas com os fonemas bilabiais

/b, p, m/. De acordo com os resultados, os sujeitos não gagos apresentaram uma

preferência esperada de abertura bucal para a direita durante a tarefa, enquanto um

grupo de sujeitos gagos, que foi combinado por sexo e idade, produziu um padrão

de abertura para a esquerda ou bilateral. A diferença entre os grupos foi significante.

Além disso, houve mais variabilidade nas assimetrias laterais da boca nos sujeitos

gagos. Os autores interpretaram este achado como uma “soma” à hipótese de que o

controle hemisférico aberrante para a fala está envolvido na gagueira. A assimetria

na abertura bucal parece não ter função lingüística direta, e os autores discutiram as

possíveis implicações do fenômeno para modelos de planejamento e programação

de fala.

Juste e Andrade (2006) realizaram um estudo com os objetivos de classificar,

quantificar e comparar as tipologias de rupturas apresentadas na fala de crianças

gagas e fluentes; e de verificar se as diferentes classes gramaticais de palavras

interferem na ocorrência de rupturas de fala em crianças gagas e fluentes. Foram

avaliadas 80 crianças, de 4.0 a 11.11 anos de idade, de ambos os sexos, divididas

em 2 grupos, sendo 40 crianças com diagnóstico de gagueira no grupo de pesquisa

e 40 crianças fluentes no grupo controle, pareadas ao primeiro grupo em relação à

idade e sexo. Os resultados indicaram que os grupos não se diferenciaram quanto à

ocorrência de rupturas comuns e que as rupturas gagas foram predominantes no

grupo de crianças com gagueira. Em relação à classe gramatical, as rupturas foram

mais freqüentes nas palavras funcionais, para ambos os grupos. As autoras

61

concluíram que a análise das rupturas da fala, tanto em termos de tipologia quanto

em termos gramaticais, traz um grande número de informações necessárias para a

avaliação e diagnóstico da gagueira infantil, uma vez que aponta diferenças e

semelhanças entre crianças gagas e fluentes, separando aspectos inerentes ao

desenvolvimento da linguagem infantil.

Sawyer e Yairi (2006) investigaram os relacionamentos entre a extensão da

amostra de fala e a disfluência resultante em 20 crianças gagas que exibiram um

amplo alcance de níveis de disfluência. Especificamente, os autores examinaram se

o número relativo de disfluências gagas por 100 sílabas, assim como a extensão das

disfluências (número de interações por evento disfluente), variou sistematicamente

entre 4 sessões consecutivas de 300 sílabas na mesma amostra de fala. A diferença

no número de disfluências gagas por 100 sílabas entre as sessões anterior e

posterior da amostra de fala foi significante. Em adição, a extensão da amostra de

fala teve uma influência crítica na identificação da gagueira em crianças exibindo

níveis relativamente baixos de disfluência. Os resultados indicaram que, no geral, a

média do grupo para disfluências gagas cresceu grandemente com o aumento do

tamanho da amostra. A extensão dos eventos disfluentes não diferiram

significantemente com o aumento do tamanho da amostra; contudo, houve grandes

diferenças para algumas crianças.

Tasko, McClean e Runyan (2007) avaliaram gagos com níveis variáveis de

fluência, verificando quais correlações fisiológicas de níveis de fluência alterados

podem levar a uma compreensão sobre os mecanismos da fala disfluente. Este

estudo examinou medidas respiratórias, cinemática orofacial e acústicas em 35

gagos que completaram um mês de um programa de tratamento intensivo para a

gagueira. Os resultados mostraram uma marcante redução na severidade da

62

gagueira ao completar o programa de tratamento. Juntamente com a redução na

severidade da gagueira, os sujeitos tiveram um aumento na amplitude e duração de

suas respirações de fala, redução do volume pulmonar durante a inspiração,

redução da amplitude e velocidade de movimentos dos lábios previamente à

emissão de teste, aumento das durações dos movimentos de lábios e mandíbula, e

redução da velocidade das sílabas. Um modelo de regressão múltipla que incluiu

duas medidas respiratórias e uma medida da cinemática orofacial obteve 62% de

variância nas mudanças na severidade da gagueira. Finalmente, houve uma fraca,

mas significante tendência da fala dos sujeitos com as grandes reduções na

severidade da gagueira ser julgada como mais artificial.

MATERIAL E MÉTODO

64

4 MATERIAL E MÉTODO

O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com

Seres Humanos da Universidade de Ribeirão Preto – Memorando Com Ét / 153/03.

(Anexo A)

4.1 Sujeitos

Participaram da pesquisa 20 sujeitos, de ambos os sexos, com idade entre 10

e 18 anos, sendo 10 com queixa de gagueira e outros 10 falantes sem queixa de

fala, que integraram o grupo controle.

Os sujeitos com queixa de gagueira foram selecionados da lista de espera de

um programa para tratamento de gagueira da Universidade de Ribeirão Preto –

UNAERP e convidados a participar do estudo.

Os sujeitos do Grupo Controle foram convidados a participar do estudo, os

quais foram pareados por idade e sexo.

Os sujeitos de ambos os grupos foram esclarecidos quanto aos objetivos e

métodos da pesquisa e assinaram o Termo De Consentimento Livre e Esclarecido

(Apêndice A), o qual também foi assinado pelos pais ou responsáveis.

4.2 Critérios de Inclusão

Foram considerados como critérios de inclusão no grupo de sujeitos com gagueira:

ser alfabetizado, ter queixa de gagueira, não ter sido submetido a tratamento prévio

visando a resolução da gagueira e ser diagnosticado como portador de gagueira a

partir da metodologia proposta por Andrade (2000b; 2000c).

66

necessário de sílabas (mínimo 200 sílabas expressas, ou seja, de sílabas não

disfluentes) para a análise.

A análise foi realizada por duas examinadoras – fonoaudiólogas –

devidamente calibradas, sendo uma a autora deste projeto. Para tanto foi utilizado o

Protocolo para Avaliação da Fluência, proposto por Andrade (2000b; 2000c) (Anexo

B), isto é, um método para avaliar o perfil da fluência dos sujeitos, identificando e

quantificando as disfluências.

As amostras de fala foram transcritas, literalmente, em sua totalidade (sílabas

fluentes e disfluentes), seguindo os critérios abaixo descritos:

1. Eventos de disfluência: marcados em negrito

2. Seguimento ininteligível: ~~~~~~~~

3. Interrupção do terapeuta: //

4. Hesitação: #

5. Pausa: ________

6. Bloqueio: / antes da sílaba bloqueada

7. Prolongamento: _ depois do segmento (som ou sílaba prolongada)

8. Intrusão na palavra: o segmento de intrusão vem entre / /

Quanto à tipologia das disfluências, foi marcado na linha correspondente do

quadro do protocolo, o número de ocorrências para cada tipo de disfluência. Então

foram somados o número total de tipologia comum e o de tipologia gaga

separadamente. As disfluências comuns são: hesitações; interjeições; revisões;

palavras não terminadas; repetições de segmentos e repetições de frases. Já as

disfluências gagas são: duas ou mais repetições de sons e/ou sílabas e/ou palavras;

prolongamentos; bloqueios; pausas e intrusão.

67

Quanto à velocidade de fala, foram considerados:

� o fluxo de palavras por minuto – que mede a taxa de produção de

informação, e para tanto, foi cronometrado (cronômetro digital HERWEG)

o tempo total da amostra, contado o número total de palavras expressas

produzidas e aplicada a regra de compatibilização por minuto;

� o fluxo de sílabas por minuto – que mede a taxa de velocidade articulatória

e, para tanto, foi cronometrado o tempo total da amostra, contado o

número total de sílabas expressas produzidas e aplicada a regra de

compatibilização por minuto.

Quanto à freqüência de rupturas, foram analisadas:

� porcentagem de descontinuidade de fala: mede a taxa de rupturas no

discurso. Foi contado o número total de rupturas comuns e gagas, e

calculada a porcentagem;

� porcentagem de disfluências gagas: mede a taxa de rupturas gagas. Foi

contado o número total de rupturas gagas e calculada a porcentagem.

Após as análises desses itens, a seleção de sujeitos para cada grupo seguiu

os parâmetros estabelecidos para idade e gênero de Andrade (2006).

4.5.2 Avaliação Miofuncional Orofacial

A avaliação foi realizada por inspeção visual, durante a sessão. Os sujeitos

ficaram sentados numa cadeira com encosto, sem apoio de cabeça, e com os pés

apoiados no chão.

Os componentes do sistema estomatognático foram avaliados em termos de

aspecto e postura. A língua, os lábios a mandíbula foram avaliados também a partir

de tarefas motoras orais: movimentos isolados e coordenação de movimentos.

68

Posteriormente, foram avaliadas as funções de deglutição - líquido e sólido – e

mastigação, usando o protocolo de avaliação miofuncional com escores – AMIOFE –

(FELÍCIO; FERREIRA, 2006).

O Protocolo AMIOFE tem como base modelos prévios de avaliação, e foram

acrescentadas escalas numéricas que refletissem as características físicas e os

comportamentos orofaciais.

Na análise foi considerado normal: movimentos isolados de cada

componente, precisos e sem tremor. Foi considerado como alteração: falta de

precisão no movimento, tremor, movimentos associados de outros componentes

(exemplo, lábios que acompanham os movimentos da língua), e ainda, a

incapacidade para realizar o movimento. Utilizando o Protocolo AMIOFE, o

examinador atribui escores numa escala de 3 pontos: 2 = normal, 1 = habilidade

insuficiente e 0 = ausência de habilidade ou não realização da tarefa. Na deglutição,

foi considerado padrão normal, quando o sujeito apresentava língua contida na

cavidade oral, contração dos músculos elevadores e o vedamento anterior da

cavidade oral sem esforço. Na mastigação, o sujeito foi orientado a mastigar o

alimento (biscoitos recheados Bono®) de modo habitual. Na análise foram

considerados: a trituração: se foi bilateral alternada, bilateral simultânea, unilateral

crônica (95% do tempo de um mesmo lado da cavidade oral), preferência

mastigatória unilateral (66% de um mesmo lado), ou anterior (FELÍCIO, 2002).

Além da descrição no protocolo específico, as funções de mastigação e

deglutição receberam escores como normal (2), disfunção leve (1), ou disfunção

grave (0). Outros comportamentos foram assinalados quando normais como escore

1 e alterados escore 0. O escore total do sujeito em cada função foi definido pela

somatória.

69

4.5.3 Análise Eletromiográfica

Foi realizada a avaliação eletromiográfica dos músculos orofaciais dos

sujeitos de ambos os grupos, no Laboratório de Eletromiografia e Diagnóstico

Oclusal Computadorizado do Departamento de Morfologia, Estomatologia e

Fisiologia da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São

Paulo.

A avaliação da atividade muscular foi realizada por meio de registros

eletromiográficos – Eletromiógrafo K6-I EMG Light Channel Surface

Electromyography (Myo-tronics Co. Seattle, WA, EUA) de oito canais – dos

músculos orbicular da boca, fascículos superior (OBS) e inferior (OBI), masseter (M)

e temporal (T), porção anterior, durante o repouso e durante as atividades que

envolveram efetiva participação labial, mastigatória e supra-hióidea nas seguintes

condições clínicas e ordem:

1. Repouso (condição postural habitual) antes das outras condições, isto é, pré-

exercícios;

2. Apertamento dental em máxima intercuspidação habitual (MIH);

3. Compressão recíproca dos lábios, protrusão e retração labial.

4. Laterotrusão de lábios (direita e esquerda);

5. Protrusão da língua;

6. Lateralização intra-bucal da língua (direita e esquerda);

7. Lateralização extra-bucal da língua (direita e esquerda);

8. Retração da língua;

9. Elevação da língua (intra-bucal);

10. Abaixamento da língua (intra-bucal);

11. Vibração da língua;

70

12. Mastigação habitual de barras de cereal Nutry® (2,5 x 2,5cm);

13. Apertamento bilateral com algodão (roletes de algodão);

14. Musculatura supra-hióidea (SUH), nos movimentos de elevação e abaixamento

da mandíbula;

15. Produção de fala, repetindo os seguintes estímulos:

Palavra: PAI,

Frase 1: EU DIGO PAI OUTRAVEZ,

Frase 2: PEGUEI BATATA NO CAMINHÃO.

16. Repouso (condição postural habitual) pós-exercícios.

Todos os movimentos foram previamente praticados imitando o examinador e

durante o exame foram realizadas três repetições e considerada a média.

4.5.4 Posicionamento dos eletrodos:

Os eletrodos duplos, de superfície de cloreto de prata, descartáveis

(Duotrodes, Myo-tronics Co., Seattle, WA), foram posicionados sobre a região da

pele dos músculos orbicular da boca, fascículos superior e inferior, masseter e

temporal, porção anterior, de ambos os lados, seguindo a orientação paralela aos

feixes de fibras da musculatura e na região supra-hiódea. Um eletrodo de referência,

terra, foi posicionado próximo à nuca do paciente. Previamente à colocação dos

eletrodos, a pele dos locais em estudo foi limpa com álcool 70o GL, com a finalidade

de eliminar resíduos de gordura ou poluição, que eventualmente estivessem

presentes na pele do paciente.

71

4.5.5 Registro eletromiográfico:

Durante o registro eletromiográfico, foi mantido um ambiente calmo, silencioso

e com baixa luminosidade, estando o sujeito sentado em uma cadeira confortável

(tipo escritório), em postura ereta, com a planta dos pés apoiadas no solo, enquanto

os braços ficarão apoiados nas pernas. A cabeça ficou posicionada de forma ereta,

tendo o plano de Frankfurt como parâmetro de posicionamento.

Previamente à realização de cada experimento, foram dadas as instruções e

explicações necessárias, solicitando sempre ao sujeito que permanecesse o mais

calmo possível, respirando lenta e pausadamente.

4.5.6 Análise dos dados

Os grupos foram comparados quanto ao perfil de fluência da fala e a condição

miofuncional orofacial pelo teste não-paramétrico Mann-Whitney.

Com relação aos dados eletromiográficos foram consideradas as médias das

repetições em cada condição clínica e estas normalizadas pela atividade do

apertamento dental em MIH e passaram por transformação logarítmica na base 10.

As comparações foram efetuadas pelo teste paramétrico t-Student para variáveis

independentes, obedecendo assim o nível de mensuração dos dados e a

normalidade ou não da distribuição. O nível de significância adotado foi p= 0,05.

RESULTADOS

73

5 RESULTADOS

5.1 Perfil de Fluência da Fala

5.1.1 Disfluências Comuns

Comparando os grupos quanto à freqüência de disfluências comuns, houve

diferença estatística apenas na repetição de palavras (p<0,005). Não foi possível

realizar a comparação para o item repetição de segmentos porque a média e o

desvio-padrão do grupo controle foi igual a zero. Não houve diferença no total de

disfluências comuns. As médias e desvios-padrão estão na Tabela 1.

Tabela 1- Disfluências Comuns – médias e desvios-padrão de acordo com o grupo

GG GC

Média Desvio Padrão

Média Desvio Padrão

Hesitação 2,80 0,92 2,30 0,96 Interjeição 3,70 0,62 5,90 1,35 Revisão 1,10 0,35 0,50 0,27 Palavra não Terminada 1,40 0,45 0,30 0,15 Repetição de Palavras 2,80 0,68 0,10** 0,10 Repetição de Segmentos 0,8 1,41 0 0 Repetição de Frases 0 0 0 0 Total de Disfluências Comuns 12,90 1,31 9,10 1,77

Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC) **Diferença significante estatisticamente: p<0,01

5.1.2 Disfluências Gagas

Quanto às disfluências gagas houve diferença estatística significante entre

os grupos no total de disfluências gagas (p<0,0001). Analisando por itens, as

diferenças ocorreram na freqüência de repetição de sílabas (p< 0,05) e pausas (p<

0,001). Não foi possível comparar os grupos nos itens repetição de sons,

prolongamento, bloqueio e intrusão porque o desvio padrão do grupo controle foi

74

igual a zero. As médias e desvios-padrão de cada grupo estão na Tabela 2 e

ilustradas no Gráfico 1.

Tabela 2 – Disfluências Gagas – Médias e Desvio Padrão de acordo com o Grupo

GG GC

Média Desvio padrão

Média Desvio padrão

Repetição de sílabas 1,50 1,58 0,10* 0,32 Pausas 3,40 2,32 0,30*** 0,67 Repetição de sons 2 2,12 0 0 Prolongamento 4,7 4,95 0 0 Bloqueio 7,1 5,65 0 0 Intrusão 1,3 0,70 0 0 Total de disfluências gagas 19,80 13,73 0,40*** 0,70

Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC) Diferença significante estatisticamente: *p<0,05; ** p<0,01; ***p<0,001

0

5

10

15

20

25

GG GC

Méd

ias

Repetição de sílabas Pausas Repetição de sons

Prolongamento Bloqueio Intrusão

Total de disf luências gagas

Gráfico 1. Perfil da Fluência – Disfluências Gagas. Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC).

75

5.1.3 Velocidade de Fala e Freqüência de Rupturas

Foram constatadas diferenças significantes entre os grupos quanto à:

velocidade de fala – número de palavras por minuto e número de sílabas por minuto

(p<0,01); e também na freqüência de rupturas, isto é, porcentagem de

descontinuidade na fala (p<0,001) e porcentagem de disfluências gagas (p<0,0001).

As médias e desvios-padrão são apresentados na Tabela 3 e ilustrados no Gráfico 2.

Tabela 3 - Perfil da Fluência – Taxas GG GC Média Desvio

padrão Média Desvio

padrão Velocidade de fala (palavras/minuto) 96,84 30,59 149,32** 30 Velocidade de fala (sílabas/minuto) 161,26 50,81 255,79** 45,49 Porcentagem de descontinuidade de fala (%)

16,35 7,03 4,65*** 2,67

Porcentagem de disfluências gagas (%)

9,9 6,87 0,2*** 0,35

Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC) Diferença significante estatisticamente: **p<0,01; ***p<0,001

0

50

100

150

200

250

300

Palavras/Minuto Sílabas/Minuto

GG

GC

Gráfico 2. Perfil da Fluência – Velocidade de Fala. Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC).

76

5.2 Avaliação miofuncional orofacial (AMIOFE)

Na avaliação miofuncional orofacial os grupos se diferenciaram de modo

significante quanto ao desempenho na função de deglutição (p<0,05). Não foi

possível realizar o cálculo nos itens mobilidade da mandíbula e mastigação porque

não houve desvio padrão no grupo sem queixa de disfluência. A Tabela 4 apresenta

as médias dos escores.

Tabela 4 - Médias e desvios-padrão dos escores obtidos na avaliação miofuncional orofacial

GG GC

Escores Esperados

Média Desvio Padrão

Média Desvio Padrão

Mobilidade de lábios 08 7,90 0,32 7,90 0,32 Mobilidade de língua 12 11,30 1,16 11,80 0,42 Mobilidade de mandíbula 12 11,60 0,52 12,00* 0,00 Posição dos lábios 02 1,50 0,85 1,90 0,32 Posição da língua 02 1,80 0,42 1,90 0,32 Deglutição 10 8,60 1,71 9,90* 0,32 Mastigação 05 4,80 0,42 5,00 0,00 Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC). Diferença significante estatisticamente: *p<0,05

5.3 Análise Eletromiográfica

5.3.1 Atividade Eletromiográfica dos Músculos Masseteres e Temporais (Fascículo Anterior) do Grupo de Sujeitos com Gagueira e Grupo Controle

As condições clínicas investigadas foram: apertamento dental com rolo de

algodão entre os dentes, mastigação de barra de cereais, emissão de palavras e

frases, repouso antes e após os exercícios.

Não houve diferença estatística significante entre os grupos quanto à

atividade eletromiográfica dos músculos masseteres e temporais nas condições

clínicas analisadas.

77

Nas Tabelas 5 e 6 são apresentados as médias das atividades

eletromiográficas dos músculos masseter e temporal, direito e esquerdo,

normalizadas pela atividade desses mesmos músculos em MIH e transformadas em

logaritmo na base 10. Nas Tabelas 7 e 8 são apresentados as comparações, pelo

tete t-Student, entre os grupos quanto às atividades eletromiográficas destes

mesmos músculos. Nos Gráficos 3, 4 e 5 estão ilustradas as médias normalizadas

pela atividade em MIH (não transformada em logaritmo), das condições clínicas

emissão das Frases 1 e 2, mastigação de barra de cereais, repouso antes e após o

exercício, visando facilitar a visualização.

Tabela 5 - Atividade eletromiográfica dos músculos masseteres normalizada pela atividade em MIH e transformada em logaritmo na base 10

GG GC Condições Clinicas MD ME MD ME

Repouso pré exercícios -1,54 -1,65 -1,44 -1,53 Emissão de palavra 0,06 0,04 0,12 0,04 Emissão da frase 1 -1,35 -1,45 -1,17 -1,31 Emissão da frase 2 -1,36 -1,45 -1,16 -1,3 Mastigação de barra de cereais -0,31 -0,36 -0,15 -0,18 Máximo apertamento com rolos de algodão 0,05 0,01 -0,02 0,0 Repouso pós exercícios -1,74 -1,78 -1,43 -1,59 Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC), Masseter (M), Direito (D), Esquerdo (E) Tabela 6 - Atividade eletromiográfica dos músculos temporais normalizada pela atividade em MIH e transformada em logaritmo na base 10

GG GC Condições Clinicas TD TE TD TE

Repouso pré exercícios -1,37 -1,39 -1,45 -1,36 Emissão de palavra 0,06 0,07 0,06 0,10 Emissão da frase 1 -1,25 -1,28 -1,22 -1,23 Emissão da frase 2 -1,21 -1,23 -1,12 -1,19 Mastigação de barra de cereais -0,32 -0,26 -0,23 -0,18 Máximo apertamento com rolos de algodão 1,09 1,31 1,05 1,32 Repouso pós exercícios -1,53 -1,54 -1,44 -1,45 Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC), Temporal (T), Direito (D), Esquerdo (E)

78

Tabela 7 – Comparação entre os grupos pelo teste t-Student para amostras independentes

Músculo Masseter Direito Esquerdo

Condições Clínicas t

Diferença das

Médias (GC - GG)

p t

Diferença das

Médias (GC - GG)

p

Repouso Pré-Exercícios 0,51 0,10 0,62 0,85 0,12 0,41 Emissão de Palavra 0,74 0,14 0,47 1,02 0,13 0,32 Emissão da Frase 1 1,04 0,18 0,32 1,15 0,14 0,27 Emissão da Frase 2 1,17 0,19 0,26 1,25 0,15 0,23 Mastigação de Barra de Cereais 1,87 0,16 0,09 2,05 0,17 0,06 Máximo apertamento com rolos de algodão 0,70 -0,07 0,50 0,19 -0,02 0,85 Repouso Pós-Exercícios 1,49 0,31 0,15 1,25 0,19 0,23 Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC), Masseter (M), Direito (D), Esquerdo (E) Tabela 8 - Comparação entre os grupos pelo teste t-Student para amostras independentes

Músculo Temporal Direito Esquerdo

Condições Clínicas t

Diferença das

Médias (GC - GG)

p t

Diferença das

Médias (GC - GG)

p

Repouso Pré-Exercícios 0,61 0,08 0,55 0,15 0,03 0,88 Emissão de Palavra 0,36 -0,04 0,73 0,12 0,02 0,91 Emissão da Frase 1 0,31 0,03 0,76 0,34 0,05 0,74 Emissão da Frase 2 0,86 0,09 0,40 0,26 0,05 0,80 Mastigação de Barra de Cereais 0,93 0,08 0,36 0,65 0,08 0,52 Máximo apertamento com rolos de algodão 0,20 -0,04 0,85 0,03 0,01 0,98 Repouso Pós-Exercícios 0,75 0,09 0,46 0,46 0,09 0,65 Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC), Temporal (T), Direito (D), Esquerdo (E)

79

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

MD1 ME1 TD1 TE1 MD2 ME2 TD2 TE2

méd

ias

(mic

rovo

lts)

GG

GC

Gráfico 3. Médias eletromiográficas dos músculos masseteres e temporais na emissão das frases 1 e 2. Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC), Masseter (M), Temporal (T), Direito (D), Esquerdo (E), Frase 1 (1), Frase 2 (2)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

MD ME TD TE

méd

ias

(mic

rovo

lts)

GG

GC

Gráfico 4. Médias eletromiográficas dos músculos masseteres e temporais na mastigação de barra de cereais. Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC), Masseter (M), Temporal (T), Direito (D), Esquerdo (E)

80

0,00

0,01

0,02

0,03

0,04

0,05

0,06

0,07

0,08

0,09

0,10

MD pré ME pré TD pré TE pré MD pós ME pós TD pós TE pós

méd

ias

(mic

rovo

lts)

GG

GC

Gráfico 5. Média eletromiográfica dos músculos masseteres e temporais durante o repouso pré e pós exercício. Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC), Masseter (M), Temporal (T), Direito (D), Esquerdo (E)

5.3.2 Atividade Eletromiográfica dos Músculos Orbicular da Boca, Fascículos Superior e Inferior, do Grupo de Sujeitos com Gagueira e Grupo Controle

As condições clínicas investigadas foram: repouso pré-exercícios, emissão de

uma palavra e duas frases, compressão labial, lateralização dos lábios unidos para a

direita e esquerda, protrusão labial, retração labial, mastigação de barra de cereais,

repouso pós-exercícios.

Em todas as condições clínicas a atividade do músculo orbicular da boca,

fascículo superior, foi maior no grupo controle do que no grupo com gagueira, com

diferença estatisticamente significante entre os grupos nas seguintes condições:

emissão das frases 1 e 2, lateralização dos lábios unidos para a direita e esquerda

(p<0,05), mastigação de barra de cereais, repouso antes e após os exercícios

(p<0,01).

Não houve diferença estatística significante entre os grupos quanto à

atividade do músculo orbicular da boca fascículo inferior.

81

As médias das atividades eletromiográficas do músculo orbicular da boca

normalizadas pela atividade deste mesmo músculo, durante o apertamento em MIH,

e transformada em logaritmo na base 10 são apresentadas na Tabela 9. Os

resultados do teste t-Student encontram-se na Tabela 10.

Nos Gráficos 6, 7, 8, 9 estão ilustradas as médias normalizadas pela atividade

em MIH (não transformadas em logaritmo), respectivamente das condições clínicas

emissão das frases 1 e 2, lateralização dos lábios para a direita e para a esquerda,

mastigação de barra de cereais e repouso antes e após os exercícios, nas quais

houve diferenças significantes entre os grupos com relação ao músculo orbicular da

boca, fascículo superior.

Tabela 9 - Médias eletromiográficas do músculo orbicular da boca, fascículos superior e inferior, normalizada pela atividade em MIH e transformadas em logaritmo

Orbicular da Boca Fascículo superior Fascículo inferior

Condições Clínicas GG GC GG GC

Repouso Pré-Exercícios -0,63 -0,23 -0,78 -0,76 Repouso Pós-Exercícios -0,80 -0,30 -1,02 -0,79 Emissão de Palavra 0,21 0,49 0,20 0,34 Emissão da Frase 1 0,48 0,83 0,41 0,56 Emissão da Frase 2 0,41 0,85 0,41 0,61 Mastigação de Barra de Cereais 0,77 1,30 0,71 0,96 Lateralização dos lábios unidos para a direita 0,46 1,05 0,32 0,70

Lateralização dos lábios unidos para a esquerda 0,55 1,02 0,32 0,70

Compressão labial 0,74 1,06 0,52 0,65 Protrusão labial 0,91 1,11 0,69 0,82 Retração labial 0,19 0,47 0,08 0,34 Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC)

82

Tabela 10 - Comparação entre os grupos pelo teste t-Student test para amostras independentes

Orbicular da Boca Fascículo superior Fascículo inferior

Condições Clínicas t

Diferença das

Médias (CG –GG)

p t

Diferença das

Médias (CG –GG)

p

Repouso Pré-Exercícios 3,23 0,40 0,006* 0,14 0,02 0,89 Repouso Pós-Exercícios 3,32 0,50 0,006* 1,58 0,22 0,13 Emissão de Palavra 1,44 0,27 0,17 0,66 0,14 0,52 Emissão da Frase 1 2,05 0,35 0,043* 0,65 0,15 0,52 Emissão da Frase 2 2,83 0,44 0,011* 0,92 0,20 0,37 Mastigação de Barra de Cereais

3,32 0,52 0,004* 1,38 0,25 0,19

Lateralização dos lábios unidos para a direita 2,43 0,59 0,026* 1,75 0,37 0,10

Lateralização dos lábios unidos para a esquerda 2,55 0,47 0,023* 2,0 0,38 0,06

Compressão labial 1,67 0,32 0,11 0,91 0,14 0,37 Protrusão labial 1,15 0,20 0,27 0,77 0,13 0,45 Retração labial 1,43 0,28 0,17 1,36 0,26 0,19 Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC). *Diferença significante estatisticamente: p<0,05

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

OBS OBI

méd

ias

(mic

rovo

lts)

GG

GC

Gráfico 6. Médias eletromiográficas do músculo orbicular da boca, fascículos superior e inferior, na produção da frase 2. Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC), Orbicular da Boca (OB), Fascículo Superior (S), Fascículo Inferior (I)

84

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0,90

1,00

OBS pré OBI pré OBS pós OBI pós

méd

ias

(mic

rovo

lts)

GG

GC

Gráfico 9. Médias eletromiográficas do músculo orbicular da boca, fascículos superior e inferior, durante o repouso pré e pós exercícios. Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC), Orbicular da Boca (OB), Fascículo Superior (S), Fascículo Inferior (I), Pré Exercícios (Pré), Pós Exercícios (Pós)

5.3.3 Atividade Eletromiográfica dos Músculos Orofaciais do Grupo de Sujeitos com Gagueira e Grupo Controle Durante as Condições Clínicas em que Foram Solicitados Movimentos da Língua

As condições clínicas investigadas que envolveram a solicitação de

movimentos da língua foram: protrusão, lateralização intra-bucal direita, lateralização

intra-bucal esquerda, lateralização extra-bucal direita, lateralização extra-bucal

esquerda, retração, elevação intra-bucal, abaixamento intra-bucal, vibração. Nestas

condições foram considerados todos os músculos, isto é, masseter, temporal,

orbicular da boca e supra-hióideos. As médias normalizadas pela atividade no

apertamento dental em MIH dos respectivos músculos e transformadas em logaritmo

na base 10 estão nas Tabelas 11 e 12. Os resultados do teste t-Student, da

comparação entre os grupos encontram-se nas Tabelas 13 a 16.

Houve diferença estatística significante entre os grupos apenas quanto à

atividade eletromiográfica do músculo orbicular da boca, fascículo superior, nas

85

condições clínicas: protrusão da língua (p=0,05), lateralização da língua intra-bucal

direita (p<0,039), lateralização da língua extra-bucal direita (p<0,041), retração da

língua (p<0,020). Houve tendência à diferença entre os grupos na atividade

eletromiográfica da musculatura supra-hióideos na condição clínica elevação da

língua intra-oral (p=0,062). No Gráfico 10 são apresentadas as médias normalizadas

do músculo orbicular da boca, fascículo superior, pela atividade em MIH, das

condições em que houve diferença significante entre os grupos e no Gráfico 11, as

médias da musculatura supra-hióidea.

Tabela 11 – Médias eletromiográficas normalizadas pela atividade no apertamento dental em MIH e transformadas em logaritmo para o Grupo com Gagueira

Grupo com Gagueira

MD ME TD TE OBS OBI SUH

Protrusão -1,34 -1,48 -1,26 -1,24 -0,19 -0,15 0,18

Lateralização intra-bucal D -1,30 -1,26 -1,24 -1,28 0,49 0,57 0,13

Lateralização intra-bucal E -1,15 -1,43 -1,25 -1,31 0,55 0,55 0,16

Lateralização extra-bucal D -1,24 -1,43 -1,30 -1,31 -0,17 -0,11 0,11

Lateralização extra-bucal E -1,26 -1,36 -1,36 -1,25 -0,12 -0,03 0,13

Retração -1,30 -1,43 -1,09 -1,11 -0,43 -0,35 -0,21

Elevação intra-bucal -1,37 -1,43 -1,11 -1,17 -0,25 -0,22 -0,23

Abaixamento intra-bucal -1,38 -1,48 -1,27 -1,23 -0,25 -0,24 -0,18

Vibração -1,42 -1,48 -1,27 -1,30 -0,13 -0,22 -0,08

Masseter (M), Temporal (T), Orbicular da Boca (OB), Fascículo Superior (S), Fascículo Inferior (I), Supra-hiódeos (SUH), Direito (D), Esquerdo (E)

86

Tabela 12 - Médias eletromiográficas normalizadas pela atividade no apertamento dental em MIH e transformadas em logaritmo para o grupo controle

Grupo Controle MD ME TD TE OBS OBI SUH

Protrusão -1,20 -1,32 -1,35 -1,30 0,28 -0,10 0,28

Lateralização intra-bucal D -1,18 -1,23 -1,25 -1,29 0,89 0,75 0,29

Lateralização intra-bucal E -1,18 -1,36 -1,25 -1,28 0,76 0,70 0,36

Lateralização extra-bucal D -1,24 -1,29 -1,25 -1,28 0,19 0,05 0,28

Lateralização extra-bucal E -1,12 -1,34 -1,29 -1,27 0,18 -0,04 0,31

Retração -1,25 -1,38 -1,02 -1,06 0,00 -0,43 -0,09

Elevação intra-bucal -1,26 -1,39 -1,12 -1,08 -0,01 -0,34 -0,03

Abaixamento intra-bucal -1,33 -1,33 -1,29 -1,25 -0,01 -0,28 -0,12

Vibração -1,23 -1,38 -1,18 -1,22 0,18 -0,06 0,04

Masseter (M), Temporal (T), Orbicular Da Boca (OB), Fascículo Superior (S), Fascículo Inferior (I), Supra-hiódeos (SUH), Direito (D), Esquerdo (E)

87

Tabela 13 - Comparação entre os grupos, pelo teste t-Student para amostras independentes, quanto à atividade do músculo masseter

Músculo Masseter Direito Esquerdo

Condições Clínicas t Diferença

das Médias (GC - GG)

p t Diferença

das Médias (GC - GG)

p

Protrusão 0,85 0,14 0,41 1,17 0,15 0,26 Lateralização intra-bucal D 0,70 0,12 0,49 0,19 0,03 0,85 Lateralização intra-bucal E 0,14 -0,03 0,89 0,60 0,08 0,56 Lateralização extra-bucal D 0,01 0,00 1,00 1,04 0,14 0,32 Lateralização extra-bucal E 0,79 0,15 0,44 0,17 0,03 0,87 Retração 0,27 0,05 0,79 0,36 0,05 0,73 Elevação intra-bucal 0,54 0,11 0,60 0,29 0,04 0,77 Abaixamento intra-bucal 0,29 0,05 0,77 0,92 0,15 0,37 Vibração 1,02 0,19 0,32 0,84 0,11 0,41 Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC). Tabela 14 - Comparação entre os grupos, pelo teste t-Student para amostras independentes, quanto à atividade do músculo temporal

Músculo Temporal Direito Esquerdo

Condições Clínicas t Diferença

das Médias (GC - GG)

p t Diferença das

Médias (GC - GG)

p

Protrusão 0,69 -0,08 0,50 0,35 -0,06 0,73 Lateralização intra-bucal D 0,08 -0,01 0,94 0,07 -0,01 0,95 Lateralização intra-bucal E 0,01 0,00 1,00 0,17 0,03 0,87 Lateralização extra-bucal D 0,25 0,05 0,81 0,17 0,03 0,87 Lateralização extra-bucal E 0,46 0,07 0,65 0,13 -0,03 0,90 Retração 0,49 0,07 0,63 0,32 0,05 0,75 Elevação intra-bucal 0,13 -0,02 0,90 0,51 0,09 0,61 Abaixamento intra-bucal 0,12 -0,02 0,91 0,10 -0,02 0,92 Vibração 0,74 0,09 0,47 0,40 0,08 0,69 Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC).

88

Tabela 15 - Comparação entre os grupos, pelo teste t-Student para amostras independentes, quanto à atividade do músculo orbicular da boca, fascículos superior e inferior

Músculo Orbicular da Boca Fascículo Superior Fascículo Inferior

Condições Clínicas t Diferença

das Médias (GC - GG)

p t Diferença

das Médias (GC - GG)

p

Protrusão 2,1 0,5 0,05* 0,049 0,284 0,78 Lateralização intra-bucal D 2,2 0,4 0,04* 1,263 0,180 0,22 Lateralização intra-bucal E 0,9 0,2 0,37 0,936 0,144 0,36 Lateralização extra-bucal D 2,2 0,4 0,04* 0,843 0,163 0,41 Lateralização extra-bucal E 1,7 0,3 0,11 0,051 -0,009 0,96 Retração 2,6 0,4 0,02* 0,492 -0,084 0,63 Elevação intra-bucal 1,4 0,2 0,18 0,629 -0,121 0,54 Abaixamento intra-bucal 1,3 0,2 0,21 0,184 -0,039 0,85 Vibração 1,7 0,3 0,11 0,667 0,165 0,51 Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC). *Diferença significante estatisticamente: p < 0,05 Tabela 16 - Comparação entre os grupos, pelo teste t-Student para amostras independentes, quanto à atividade dos músculos supra-hióideos

Músculos Supra-Hióideos

Condições Clínicas t Diferença das

Médias (GC - GG)

p

Protrusão 0,59 0,10 0,56 Lateralização intra-bucal D 1,49 0,16 0,16 Lateralização intra-bucal E 1,62 0,20 0,13 Lateralização extra-bucal D 1,28 0,17 0,22 Lateralização extra-bucal E 1,45 0,18 0,17 Retração 1,34 0,12 0,20 Elevação intra-bucal 1,99 0,20 0,06 Abaixamento intra-bucal 0,61 0,06 0,55 Vibração 0,67 0,12 0,51 Grupo com Gagueira (GG), Grupo Controle (GC).

DISCUSSÃO

91

6 DISCUSSÃO

A fala é um processo sensório-motor que envolve lábios, mandíbula, maxila,

dentes, língua, velofaringe e complexo laríngeo respiratório, os quais formam

câmaras de ressonância, a fim de amplificar o som produzido na laringe (FELÍCIO,

1999). A produção da fala exige atividade coordenada dos músculos respiratórios,

faciais e mandibulares, que resulta em movimentos de articulação dos sons (MOON

et al., 1993).

A observação de significante acoplamento neural do sistema muscular

orofacial, principalmente da mandíbula, com os sistemas laríngeo e respiratório,

parece sustentar a teoria de que o circuito neural envolvido no controle motor da

mandíbula para a fala tenha evoluído para formar elos relativamente fortes com

sistemas de vocalização (MCCLEAN; TASKO, 2002).

O desenvolvimento da precisão de movimentos e do aumento da habilidade

léxica da criança, acompanhada pela crescente capacidade de auto-regulagem,

conduz ao estabelecimento de um sistema produtivo de fala automático, seguro e

inteligível (MILLOY, 1997).

A síntese rápida, precisa e coordenada dos múltiplos movimentos línguo-

buco-vocais, dentro de longas seqüências de fonemas representa uma das mais

extraordinárias tarefas executadas pelo sistema motor humano (EPSTEIN et al.,

1999).

O controle motor refere-se aos sistemas e as estratégias que regulam a

produção de fala, incluindo o planejamento e a preparação dos movimentos (as

vezes chamados de programa motor), bem como a execução dos planos de

92

movimentos que resultam em contrações musculares e deslocamento de estruturas

(KENT, 2000).

A fala fluente é a habilidade de falar com continuidade, em uma velocidade

sustentável e sem esforço (ANDRADE et al., 2003). Em outras palavras, a fluência

refere-se ao fluxo contínuo e suave de produção da fala (ANDRADE, 2006) que

exige uma programação cerebral complexa, onde há necessidade de uma

integração harmônica dos processamentos auditivo, da linguagem e da fala e dos

centros de controle das emoções e da memória, além de depender, também, do

produto da experiência e da visão de mundo e da imagem pessoal do interlocutor

(ANDRADE, 2000a; 2004; SASSI; ANDRADE, 2004).

Quando os mecanismos responsáveis pelos ajustes precisos das atividades

respiratória, fonatória e articulatória operam com menor precisão, resultam

freqüentemente em prejuízos na fluência da fala (PETERS; HULSTIJN; VAN

LIESHOUT, 2000).

A gagueira tem sido estudada a partir de diferentes perspectivas teóricas

(FERRIOLLI, 2002; MEIRA, 1983; 1997-1998; VAN RIPER; EMERICK, 1997) e

atribuída a vários fatores (KENT, 2000; MCCLEAN; RUNYAN, 2000; PETERS;

HULSTJIN; STARKWEATHER, 1989), dentre os quais estão aqueles relacionados à

produção motora da fala, que não se restringem às alterações musculares

(STARKWEATHER et al., 1995), mas sim à disfunção na programação e/ou

execução dos programas motores (GUITAR et al., 1988; VAN LIESHOUT et al.,

1996; OLIVEIRA et al., 2000), uma desordem na coordenação de diferentes

sistemas musculares envolvidos na produção vocal e na articulação (MCCLEAN;

RUNYAN, 2000; MCCLEAN; TASKO, 2003; 2004; PETERS; HULSTIJN; VAN

LIESHOUT, 2000). Também há hipóteses a respeito de alguma relação entre

93

gagueira e comprometimento no processamento auditivo (ALVAREZ; SANCHEZ,

ZAÍDAN, 2002; ANDRADE; SCHOCHAT, 1999).

Como sintetizou Andrade (2004), durante a trajetória da fala na gagueira,

existe uma ruptura que ainda não foi esclarecida. Esta ruptura pode decorrer da

diminuição do tempo de reação (saída de uma posição de repouso para uma

posição ativa na articulação), de um desequilíbrio na interação entre o evento

lingüístico (pré-motor) e o evento motor (ato programado), de uma descoordenação

dentro da própria estrutura organizacional da linguagem, ou de uma

descoordenação dentro da própria estrutura da fala.

Para determinar se uma disfluência é normal ou gaga, é necessário que se

tenha avaliado o perfil de fluência do sujeito, quanto à tipologia e à freqüência das

rupturas durante o seu discurso.

Quanto à tipologia, as rupturas podem ser classificadas como disfluências

comuns, pois podem ocorrer na fala de qualquer falante, são elas: hesitações,

interjeições, revisões, palavras incompletas, repetições de palavras, segmentos e

frases. Outros tipos de rupturas podem ocorrer esporadicamente na fala de todos os

sujeitos, porém são sugestivas de maior comprometimento no processamento de

fala e, portanto, são classificadas como disfluências gagas, isto é, repetições de

sons e sílabas, bloqueios, prolongamentos de sons, intrusões de sons ou

segmentos, e pausas de mais de 2 segundos (ANDRADE, 2000a, 2000b;

ANDRADE; SCHOCHAT, 1999; BARBOSA; CHIARI, 1998; JUSTE; ANDRADE,

2006; VAN RIPER; EMERICK, 1997; ZACKIEWICZ, 1999).

As freqüências das rupturas são medidas em porcentagem de

descontinuidade de fala que mede a taxa de rupturas no discurso, e a porcentagem

94

de disfluências gagas que mede a taxa de rupturas consideradas sugestivas de

gagueira (ANDRADE, 1999; 2000a, 2000b, 2000c).

Também a velocidade de fala é um importante indicativo do grau de fluência,

pois refere-se ao fluxo de palavras por minuto e ao fluxo de sílabas por minuto, que

respectivamente indicam a velocidade em que a informação é produzida e a

velocidade articulatória, isto é, a velocidade de modificação das estruturas da fala

(ANDRADE, 2000a, 2000c; 2003).

No presente estudo, a análise segundo o Protocolo do Perfil da Fluência

(ANDRADE, 2000b, 2000c) permitiu verificar que quanto à freqüência total de

disfluências comuns não houve diferença entre o grupo controle e o grupo com

gagueira, como também verificado previamente (JUSTE; ANDRADE, 2006), apenas

a repetição de palavras foi significantemente maior no grupo com gagueira.

Como mencionado, as disfluências comuns ocorrem também na fala de

sujeitos fluentes, podendo representar manifestações de incertezas lingüísticas do

sujeito durante a sua fala, ou visam ampliar a compreensão da mensagem

(ANDRADE, 2000a; ANDRADE; SCHOCHAT, 1999; BARBOSA; CHIARI, 1998;

JUSTE; ANDRADE, 2006; VAN RIPER; EMERICK, 1997).

No que diz respeito às disfluências gagas, houve diferença estatística entre

os grupos quanto à somatória dos escores. Vários dos comportamentos

considerados como disfluências gagas foram pouco apresentados nas amostras

coletadas do grupo controle, como a repetição de sílabas e pausas, ou sequer foram

apresentados, como a repetição, o prolongamento de sons, o bloqueio e a intrusão

de sons ou segmentos.

Foram constatadas, ainda, diferenças significantes entre os grupos quanto à

velocidade de fala, sendo que a tendência foi do grupo com gagueira apresentar

95

menor número de palavras e de sílabas por minuto em comparação aos falantes

normais.

Em relação à freqüência de ruptura na fala, tanto a porcentagem de

descontinuidade de fala quanto a porcentagem de disfluências gagas, foram maiores

no grupo com gagueira em relação ao grupo controle.

Para a faixa etária compreendida neste estudo, de 10 a 18 anos de idade, o

intervalo de confiança relativo à porcentagem de descontinuidade de fala é de 6,23 -

13,75, e de porcentagem de disfluências gagas é 0,7-3,33, de acordo com os

parâmetros de normalidade estabelecidos por Andrade (2006). Com base nestes

intervalos, o grupo controle do presente estudo encontra-se dentro do padrão de

normalidade, mas não o grupo de sujeitos gagos. Esses valores também estão de

acordo com a literatura (ANDRADE, 2000b, 2000c; ANDRADE; SCHOCHAT, 1999;

BARBOSA; CHIARI, 1998; JUSTE; ANDRADE, 2006; VAN RIPER; EMERICK,

1997). Portanto, o instrumento utilizado nesta pesquisa para avaliar o perfil de

fluência/disfluência dos sujeitos, o Protocolo do Perfil da Fluência (ANDRADE,

2000b, 2000c) e os parâmetros de normalidade para várias faixas etárias,

estabelecidos a partir de estudo da mesma autora (ANDRADE, 2006), permitiram

caracterizar os grupos em gagos e não gagos.

No Brasil, a avaliação do sujeito portador de gagueira, na maioria das vezes,

restringe-se às queixas dos pacientes e aos julgamentos perceptivos dos

profissionais. Testes padronizados e objetivos que permitem quantificar a patologia

são importantes para o diagnóstico, tratamento e prognóstico (ANDRADE et al.,

2003).

No presente estudo, a extensão da amostra de fala de cada sujeitos foi de

200 sílabas expressas, de acordo com o protocolo empregado e como utilizado em

96

outras pesquisas (ANDRADE, 2006), contudo amostras de 300 palavras têm sido

comparadas e com base nos resultados, a extensão da amostra de fala tem

influência crítica na identificação da gagueira em crianças exibindo níveis

relativamente baixos de disfluência (SAWYER; YAIRI, 2006). Assim, provavelmente

amostras mais extensas sejam necessárias para o diagnóstico nos casos em que

possam ocorrer incertezas.

Quanto às condições miofuncionais orofaciais, o falante normal produz fala

fluente movendo seus articuladores dentro de certos alcances de velocidade e

deslocamento e dentro, também, de certos posicionamentos e tempo

interarticuladores. A instabilidade neste sistema operante de coordenação

interarticuladores gera eventos de disfluência e os gagos possuem seus sistemas

neuromotores da fala mais susceptíveis a desestabilização (ZIMMERMANN,1980). A

dificuldade na programação dos comandos motores específicos da fala pode afetar a

fluência, levando à gagueira (PETERS; HULSTJIN; STARKWEATHER, 1989).

Considerando que a fala é executada por estruturas orofaciais comuns às

demais funções estomatognáticas (respiração, deglutição e mastigação), parece

pertinente investigar as condições miofuncionais orofaciais no processo de avaliação

de sujeitos com gagueira. Embora isto não seja comum na literatura, provas de

mobilidade e motricidade orofacial foram incluídas no presente estudo, devido a

importância das bases fisiológicas para a fala.

Como explicado previamente, o processamento neuromuscular pode ser

avaliado pelas evidências do comportamento muscular que contribui para a

produção normal da fala, assim, (1) a força e tônus muscular indicam a capacitação

para a contração; (2) a velocidade do movimento indica a capacidade de variação

das estruturas envolvidas e suas possibilidades de seqüencializações; (3) a

97

extensão do movimento indica como os articuladores se modificam durante o curso

do movimento e (4) a precisão e estabilidade do movimento indicam a coordenação

entre força; velocidade; extensão; direção e temporalização. Se qualquer um desses

traços estiver comprometido, o sistema motor estará afetado adversamente

(ANDRADE, 2002).

Na análise dos resultados da avaliação miofuncional orofacial com escores

(AMIOFE) foi possível observar que o grupo de gagos e o grupo controle se

diferenciaram de modo significante apenas quanto ao desempenho na função de

deglutição.

Não foi possível encontrar na literatura informações que nos permitissem

discutir tal resultado. Estudos que pudessem avaliar a função, por meio de com

outros exames, talvez trouxessem maiores esclarecimentos a respeito da

coordenação neuromotora envolvida.

A respeito das demais provas, os resultados parecem indicar dois modos de

interpretação, isto é, ou realmente os sujeitos com gagueira não apresentam

diferenças no desempenho em relação a falantes fluentes, ou as provas não foram

eficientes para acessar o controle neuromuscular. Todavia, o desempenho de

sujeitos em certas provas, como as aplicadas neste estudo, parece indicativo do

processo de maturação dos comportamentos musculares envolvidos na produção da

fala, uma vez que foi constatada relação deste com a idade e com o desempenho

em tarefas de fala (FELÍCIO et al., 2006).

Em estudo longitudinal realizado anteriormente, não foi detectada diferença

quanto ao desenvolvimento das funções de sucção e mastigação entre crianças com

e sem antecedentes genéticos para a gagueira, na faixa etária de 30 a 60 meses

(ANDRADE, 2002).

98

Outros estudos a respeito de gagueira que tenham descrito resultados a

respeito da avaliação miofuncional orofacial não foram localizados na literatura.

Deste modo, estudos complementares serão necessários para a obtenção de uma

resposta a respeito da utilidade e/ou necessidade da avaliação miofuncional

orofacial dentre as provas para o diagnóstico, não apenas do distúrbio de

comunicação, mas para a definição dos aspectos envolvidos em casos de gagueira.

A análise eletromiográfica tem sido utilizada para explorar a atividade da

musculatura orofacial em falantes normais e a relação entre os músculos (FOLKINS,

1981; HARRIS et al., 1965; LEANDERSON et al., 1971; QUIRCH, 1965;

MACNEILAGE; DECCLERK, 1969; MARCHIORI; VITTI, 1996; MCCLEAN, 1991;

MCCLEAN; CLAY, 1995; MCCLEAN; TASKO, 2003; MOORE, 1988; 1993;

PERSSON et al., 1969; WOHLERT; GOFFMAN, 1994; WOHLERT; HAMMEN, 2000;

WOHLERT; SMITH, 2002); na presença de maloclusão (MARCHIORI; VITTI;

OLIVEIRA, 2000) e em distúrbios da comunicação (FARRET et al., 1982; O’DWYER

et al., 1983; RASTATTER; DEJARNETTE, 1984), dentre eles a gagueira

(ANDRADE, 2002; DENNY; SMITH, 1992; GUITAR et al., 1988; HERMENS et al.,

2000; KALOTKIN; MANSCHRECK; O’BRIEN, 1979; KELLY; SMITH; GOFFMAN,

1995; MCCLEAN, 1987; MCCLEAN; GOLDSMITH; CERF, 1984; MCCLEAN;

RUNYAN, 2000; PETERS; HULSTIJN; VAN LIESHOUT, 2000; VAN LIESHOUT et

al., 1993; 1995; VAN LIESHOUT; HULSTIJN; PETERS, 1996;).

O processamento neurofisiológico da fala fluente depende da estabilidade da

coordenação temporal entre as habilidades de execução motora e o desempenho do

99

No presente estudo, considerando a atividade eletromiográfica dos músculos

masseter e temporal, não houve diferença estatisticamente significante entre os

grupos de sujeitos com gagueira e falantes normais.

Há mais de 25 anos atrás, foi detectada, por meio de eletromiografia,

diferença significante na tensão do músculo masseter entre adultos gagos e falantes

fluentes, contudo, não houve correlação entre o nível de tensão e a severidade da

gagueira (KALOTKIN; MANSCHRECK; O'BRIEN, 1979). Também, programa de

treinamento com “biofeedback” eletromiográfico foi planejado para reduzir a tensão

do músculo masseter, num esforço para melhorar a fluência (MANSCHRECK;

KALOTKIN; JACOBSON, 1980).

No presente estudo, a não diferenciação significante entre os grupos com

relação à atividade eletromiográfica dos músculos masseter e temporal durante a

fala, nas tarefas orofaciais que não envolveram fala e no repouso, não confirmam as

hipóteses e os achados mencionados.

Em estudo prévio, foi observada durante a fala uma grande variabilidade

relativa ao grau de atividade entre músculos, para repetição das mesmas sílabas

com movimentos mandibulares similares (FOLKINS, 1981), o que pode resultar em

diferenças pequenas entre os músculos elevadores da mandíbula.

Assim, mesmo considerando a hipótese de que os gagos apresentem alguma

disfunção no controle motor da fala, a ausência de diferenças significantes entre eles

e falantes fluentes, considerando a eletromiografia, sugere que a atividade dos

músculos masseter e temporal não seja o parâmetro diferencial.

Quanto ao músculo orbicular da boca, fascículo superior, a atividade

estatisticamente menor no grupo com gagueira em comparação ao grupo controle,

parece relacionada a alguma inabilidade do sistema de produção da fala, mas que

100

também está presente em outras tarefas motoras orais (MAX; CARUSO; GRACCO,

2003; WEBSTER, 1990), como verificado no presente estudo na mastigação e em

certos movimentos labiais.

A razão pela qual os grupos apresentaram diferença na atividade no músculo

orbicular da boca, fascículo superior, mas não no fascículo inferior, em parte pode

ser explicada por achados prévios de que, provavelmente, na musculatura perioral

haja um padrão independente de controle para os movimentos orais, devido à

inervação da divisão superior e inferior do lábio ser realizada por diferentes

subnúcleos do nervo facial (GOFFMAN; SMITH, 1994; WOHLERT; GOFFMAN,

1994).

A tensão antecipatória, resultando em atividade muscular aumentada, que os

sujeitos com gagueira teriam dificuldade em inibir durante a fala, tem sido

considerada uma possível explicação para a gagueira (GUITAR et al., 1988;

STARKWEATHER,1995), o que poderia estar relacionado à menor atenuação da

excitabilidade do impulso sensório para mecanorreceptores que são mediadores dos

movimentos de fala (MCCLEAN, 1996). Tem ainda sido sugerido que os sujeitos

com gagueira, durante a fala fluente, apresentam aumento na atividade do músculo

orbicular da boca, fascículo inferior, comparados a não gagos (VAN LIESHOUT et

al., 1993).

Os resultados da presente pesquisa não concordam com esta visão de

hiperatividade muscular e são consistentes com estudos que evidenciam que a

gagueira não está associada com níveis altos e não usuais de atividade na

musculatura labial (DENNY; SMITH, 1992; KELLY; SMITH; GOFFMAN, 1995;

SMITH, 1989). Na literatura também não há concordância quanto ao fato de gagos

apresentarem aumento da ativação de determinados músculos (MCCLEAN;

101

GOLDSMITH; CERF, 1984), ou tensão muscular anormal (MCALLISTER;

KINGSTON, 2005).

Em estudo com crianças na faixa etária de 42 a 60 meses não foi detectada

diferença para as atividades EMG do lábio inferior em repouso, na tensão mínima e

máxima na emissão da palavra “pai” e em outras tarefas envolvendo movimentos

labiais entre crianças com e sem antecedentes genéticos para a gagueira

(ANDRADE, 2002).

Outro estudo, no qual foram feitos registros eletromiográficos dos músculos

dos lábios, mandíbula e pescoço durante a fala de sujeitos com gagueira, indicou

que as oscilações como tremor no limite de 5-15 Hz e altas amplitudes EMGs podem

ocupar um mesmo contínuo de padrão motor. Na realidade, demonstrou-se que a

fala fluente e a gaguejada às vezes estão associadas a amplitudes EMG

aproximadamente iguais (DENNY; SMITH, 1992).

Kelly, Smith e Goffman (1995) hipotetizaram que a emergência de

instabilidade no processo motor da fala de crianças gagas pode coincidir com

aspectos de maturação neural geral e com o desenvolvimento da gagueira, com

base na observação de oscilações na atividade EMG indicativas de tremor, num

alcance de 5 a 15 Hz, durante a gagueira nos músculos levantador do lábio superior,

orbicular da boca, fascículo inferior, ou ventre anterior do digástrico em crianças com

gagueira em torno de 14 anos, mas não em crianças nas fases iniciais de

desenvolvimento.

De fato, os estudos de Smith e colaboradores indicam que o aspecto anormal

na atividade EMG observado em sujeitos que gaguejam, principalmente em adultos,

tem sido o tremor na musculatura orofacial e laríngea durante as disfluências (visto

102

como repetidas quebras de atividade muscular no limite de 5 a 15 Hz) (DENNY;

SMITH, 1992; KELLY; SMITH; GOFFMAN, 1995; SMITH, 1989).

Cabe acrescentar que, os grupos do presente estudo apresentaram

diferenças quanto ao perfil de fluência da fala, de acordo com todos os parâmetros

usados na análise, o que permitiu caracterizá-los em grupo de sujeitos com gagueira

e grupo controle. Mas, diferentemente das situações de fala espontânea, durante o

registro eletromiográfico não houve disfluência perceptível. Como os sujeitos

repetiram os enunciados emitidos pelo examinador, uma explicação pode ser a

seguinte hipótese, proposta por Venkatagiri (2004): as condições que positivamente

antecipam a recuperação do plano motor, como leitura, produção de fala seriada,

repetição da fala de outros, aceleram a recuperação dos planos motores e, com isso,

reduzem a quantidade de gagueira.

Outros autores concluíram que a mudança na velocidade de fala, geralmente

reduzida, de sujeitos com gagueira pode ser uma solução estratégica para diminuir a

demanda motora na produção da fala (VAN LIESHOUT et al., 1995; VAN

LIESHOUT; HULSTIJN; PETERS, 1996), um comportamento adaptativo,

compensatório, com a intenção de facilitar a fala fluente (ANDRADE et al., 2003;

MCCLEAN; RUNYAN, 2000; MCCLEAN; TASKO; RUNYAN, 2004). Apesar da

velocidade não ter sido mensurada durante os registros eletromiográficos, mudanças

nesse parâmetro podem ter ocorrido.

A comparação de dados antes e após tratamento da gagueira corroboram a

conclusão dos estudos anteriores, tendo em vista que a fala dos sujeitos com as

grandes reduções na severidade da gagueira, em análise perceptiva, foi julgada

como mais artificial. Juntamente com a redução na severidade da gagueira, os

sujeitos tiveram um aumento na amplitude e duração da respiração durante a fala,

103

redução do volume pulmonar durante a inspiração, redução da amplitude e

velocidade de movimentos dos lábios, aumento das durações dos movimentos de

lábios e mandíbula, e redução da velocidade das sílabas (TASKO; MCCLEAN;

RUNYAN, 2007).

Em outro estudo havia sido sugerido que anormalidades em certos

parâmetros na fala fluente de gagos podem resultar mais de ajustes adquiridos do

que de propriedades do sistema neuromotor que envolvem a disfluência (MCCLEAN;

KROLL; LOFTUS, 1990).

A respeito das condições clínicas que envolveram a solicitação de

movimentos da língua, as diferenças entre os grupos foram verificadas na atividade

EMG do músculo orbicular da boca, fascículo superior, nas condições clínicas:

protrusão da língua, lateralização da língua intra-bucal direita, lateralização da língua

extra-bucal direita, retração da língua. Na atividade da musculatura supra-hióidea, a

qual está mais relacionada aos movimentos, houve apenas tendência à diferença

entre os grupos na condição clínica elevação da língua. Em todas elas os sujeitos

gagos apresentaram médias menores que o grupo controle.

A maior atividade EMG no músculo orbicular da boca, fascículo superior, do

grupo de falantes normais em comparação aos sujeitos com gagueira talvez possa

sugerir que os gagos apresentem um déficit no acoplamento neural dos articuladores

lábios e língua. Essa suposição é derivada de achados que indicam que pessoas

que gaguejam têm reduzida força de acoplamento dos sistemas lábio inferior-língua

com o sistema respiratório e que isso pode contribuir para a descoordenação

temporal e a gagueira (MCCLEAN; TASKO, 2004).

Existe uma coordenação entre a língua e os lábios que é constatada desde as

fases muito precoces do desenvolvimento. Por exemplo, movimentos periféricos

104

mais delicados dos lábios, que coincidem com a maturação da língua, são

observados na medida em que a sucção vai sendo substituída por outras formas de

alimentação (JENKINS, 1978). Também, a função de deglutição exemplifica muito

bem esta interação funcional (ou disfuncional) entre os músculos inervados pelo

nervo hipoglosso e aqueles inervados pelo facial, uma vez que a participação ativa

da musculatura perioral durante a deglutição é um indicador de que há um desvio

nesta função (MARCHIORI; VITTI, 1996), dentre outras coisas pela ação

inadequada da língua.

No estudo de Andrade (2002), assim como não foram encontradas diferenças

nas atividades envolvendo os lábios, também não houve diferença com relação aos

movimentos da língua entre crianças com e sem antecedentes genéticos para a

gagueira, embora a autora tenha relatado que observou naquelas com antecedentes

genéticos, maior tensão nos movimentos de lateralização e protrusão da língua.

Na literatura consultada, as pesquisas sobre gagueira que investigaram

tarefas de língua focalizaram mais as diferenças cinemáticas e de velocidade.

McClean e Runyan (2000) observaram aumento na velocidade de lábios e

língua e diminuição da velocidade da mandíbula de acordo com o aumento

severidade da gagueira. Os autores explicaram que a diminuição da velocidade da

mandíbula pode ser uma estratégia compensatória, a fim de reduzir a excessiva

energia aplicada dos mecanoreceptores da mandíbula.

Diferenças entre falantes normais, gagos com baixo e alto nível de severidade

foram observadas em relação à duração e à velocidade dos movimentos de lábios,

mandíbula e língua, mas o padrão desses efeitos foi complexo. Para os sujeitos com

baixo nível de gagueira, a velocidade elevada foi interpretada como um fator

contribuinte para a disfluência da fala, enquanto a redução da velocidade e aumento

105

das durações entre os sujeitos com alta severidade de gagueira foram atribuídos a

um comportamento adaptativo com a intenção de facilitar a fluência da fala

(MCCLEAN; TASKO; RUNYAN, 2004).

Assim, foi sugerido que na gagueira os mecanismos da fala responsáveis

pelo ajuste preciso da musculatura respiratória, laríngea e articulatória são operados

menos eficazmente. Deste modo, a gagueira pode ser vista como uma deficiência na

habilidade motora da fala, podendo existir variáveis que afetam a freqüência da fala,

bem como o componente motor do seu movimento (PETERS; HULSTIJN; VAN

LIESHOUT, 2000).

A possibilidade de diferença na estratégia de controle motor entre sujeitos

com gagueira em comparação a falantes normais foi apontada com base na

constatação de que os primeiros, durante a fala fluente, apresentaram significante

atraso no tempo relativo de eventos motores específicos, em particular, no início da

atividade do lábio superior e da compressão torácica; ordem diferente de disparo dos

lábios, ocorrendo no lábio inferior antes que no do lábio superior (VAN LIESHOUT et

al., 1996). Resultados similares haviam sido encontrados por Guitar et al. (1988).

Segundo Andrade (2004), o componente genético subjacente à gagueira seria

a predisposição para uma resposta ineficiente quanto ao esforço muscular e a sua

resposta autônoma, tendo como conseqüência o início de contrações em tempos

diferentes ou um percurso com atos desincronizados.

Em síntese, baseado na literatura, do ponto de vista motor o fator causal da

gagueira pode ser uma disfunção no tempo e na coordenação da atividade de um

dos subsistemas motores (respiratório, articulatório ou laríngeo) no que se refere aos

aspectos básicos da fisiologia e desenvolvimento (MCCLEAN; RUNYAN, 2000;

PETERS; HULSTIJN; VAN LIESHOUT, 2000); um fraco acoplamento neural entre

106

sistemas articulatórios, como lábio inferior e língua e o sistema laríngo-respiratório

(MCCLEAN; TASKO, 2004), isto é, a falta de temporalização entre os

processamentos envolvidos na fala, decorrente de uma disfunção neuromotora

(SASSI; ANDRADE, 2004); ou ainda ou um aberrante controle hemisférico para a

fala (CODE; LINCOLN; DREDGE, 2005); uma anormalidade no controle central que

interfere no processamento rápido e dinâmico para a produção da fala, sem que

esteja envolvido distúrbio de uma região particular do cérebro (LUDLOW; LOUCKS,

2003).

Além disso, vem sendo defendido que a diferença entre sujeitos gagos e

fluentes não está associada com níveis altos e não usuais de atividade na

musculatura labial (DENNY; SMITH, 1992; KELLY; SMITH; GOFFMAN, 1995;

SMITH, 1989), tampouco está confinada ao processo sensório-motor subjacente à

produção da fala. Achados sugerem que há diferenças generalizadas na duração de

certos movimentos dirigidos a uma meta em sistemas motores não relacionados

(MAX; CARUSO; GRACCO, 2003), e não especificamente na amplitude

eletromiográfica ou nos movimentos do sistema orofacial (MAX; CARUSO;

GRACCO, 2003; WEBSTER, 1990).

O estudo da literatura e os resultados da presente pesquisa, isto é, a não

diferenciação significante entre os grupos quanto às condições miofuncionais

orofaciais e quanto à atividade EMG dos músculos masseter, temporal e orbicular da

boca, fascículo inferior; a menor atividade no grupo com gagueira em comparação

ao grupo controle quanto ao músculo orbicular da boca, fascículo superior, em várias

condições clínicas, inclusive naquelas em que foram solicitados movimentos da

língua permitem sugerir que: os gagos apresentam um déficit no acoplamento neural

dos articuladores lábios e língua; o comportamento da musculatura orofacial

107

semelhante à tensão, visualmente observado durante a fala gaguejada, pode ser um

processo compensatório à fisiologia neuromuscular anormal; outras pesquisas

podem ser necessárias para verificar a utilidade de provas de avaliação clínica

miofuncional orofacial; um maior número de casos deveria ser investigado a fim de

que se possa concluir a respeito da utilidade de técnicas de relaxamento para os

músculos orofaciais no tratamento da gagueira; as condutas visando a coordenação

inter-articuladores e a pneumofonoarticulatória deveriam ser investigadas quanto à

efetividade terapêutica em casos de gagueira.

CONCLUSÃO

109

7 CONCLUSÃO

O presente estudo permitiu concluir que:

1) Não houve diferença entre os grupos quanto à freqüência de disfluências

comuns, mas sim quanto à freqüência de disfluências gagas. Portanto, a análise do

perfil de fluência da fala permitiu caracterizar precisamente os grupos de sujeitos

gagos e falantes normais.

2) Nas condições miofuncionais orofaciais o desempenho na função de

deglutição foi a única diferença verificada entre os grupos.

3) Não houve diferença entre os grupos com relação à atividade

eletromiográfica dos músculos masseter, temporal e orbicular da boca, fascículo

inferior, nas condições clínicas analisadas.

4) A atividade do músculo orbicular da boca, fascículo superior, do grupo

com gagueira foi significantemente menor do que no grupo controle, para a maioria

das condições clínicas analisadas, inclusive naquelas em que foram solicitados

movimentos da língua.

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APÊNDICE

APÊNDICE A – Termo de consentimento livre e esclarecido Eu,____________________________________________,RG _________________, assino esse Termo de Consentimento com a finalidade de autorizar minha participação como sujeito da pesquisa “Análise eletromiográfica da musculatura facial durante a produção de fala de indivíduos portadores de gagueira”, sob responsabilidade da Profa. Dra. Claudia Maria de Felício e da Fga. Rosana Luzia Rodrigues Gomes Freitas e Profa. Dra. Simone Regalo e afirmo que foram dadas todas as explicações necessárias para eu tomar essa decisão de livre e espontânea vontade.

Tenho conhecimento que: 1. O estudo tem por objetivo verificar, através da eletromiografia, se durante a

emissão da fala de indivíduos gagos ocorre muita tensão dos músculos orais e como essa musculatura funciona.

Além dos dias que comparecerei na Clínica de Fonoaudiologia da Universidade de Ribeirão Preto para a avaliação da gagueira, também comparecerei no Laboratório de Eletromiografia e Diagnóstico Oclusal Computadorizado do Departamento de Morfologia, Estomatologia e Fisiologia da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, onde serão realizados os registros eletromiográficos por um dentista capacitado para tal.

Na avaliação da gagueira terei que responder às perguntas, contar uma história e tudo será registrado num gravador. O exame de eletromiografia mede como a musculatura está funcionando e é semelhante a um eletroencefalograma, não causa dor.

Para o exame de eletromiografia, primeiramente serei instruído para manter-me o mais calmo possível, respirando lenta e pausadamente. Sentarei em uma cadeira confortável, em postura ereta, com a planta dos pés apoiadas no solo, enquanto meus braços ficarão apoiados nas minhas pernas. Minha cabeça também ficará posicionada de forma ereta. A minha pele será limpa com álcool 70º GL, com a finalidade de eliminar resíduos de gordura ou poluição. Então, serão colocados alguns eletrodos com fitas adesivas sobre os músculos da minha face e um eletrodo de referência próximo à minha nuca. A partir disso, o exame será iniciado, mantendo o ambiente calmo, silencioso e com baixa luminosidade, em que serei instruído a emitir algumas palavras. Depois terei que repetir as palavras por 4 vezes para se realizar outro registro, e realizar alguns movimentos com a boca.

2. Os procedimentos não causarão desconforto. O incômodo que sentirei nesse exame será o de retirada da fita adesiva de minha pele.

3. Não haverá riscos durante os exames. 4. Os pesquisadores se comprometem a prestar assistência integral no

decorrer da pesquisa, se algum problema decorrer desta. 5. Caso ocorra algum dano à minha saúde, em razão da participação na

pesquisa, os pesquisadores serão responsáveis por quaisquer despesas. 6. Os pesquisadores manterão sigilo sobre minha participação na pesquisa. 7. Como minha participação é voluntária, tenho o direito de interrompê-la em

qualquer momento, sem sofrer penalizações. 8. Recebi uma cópia desse termo de Consentimento. Ribeirão Preto, _____de_________de 200___.

____________________________ Paciente ou responsável RG/ Telefone: _____________________________ ___________________________ Fga. Rosana L. R. G. Freitas Claudia Maria de Felício RG / Telefone: RG/Telefone

ANEXOS

ANEXO A – Memorando do comitê de ética em pesquisa da unaerp

ANEXO B – Protocolo para Avaliação da Fluência - Andrade, 2000

Protocolo para Avaliação da Fluência - Andrade, 2000

Nome:

Data:

Tipo de Controle:

1. Tipologia das Disfluências:

Disfluências Comuns Disfluências Gagas

Hesitações Repetição de sílabas

Interjeições Repetição de sons

Palavras não terminadas Prolongamentos

Repetição de palavras Bloqueios

Repetição de segmentos Pausas

Repetição de frases Intrusão de sons ou segmentos

Total Total

2. Velocidade de Fala:

Fluxo de palavras por minuto Fluxo de sílabas por minuto

3. Freqüência de rupturas

% de Descontinuidade de Fala % de Disfluências Gagas

4. Concomitantes físicos

Tipos Número de ocorrências

Desvios de sons

Movimentos faciais

Movimentos de cabeça

Movimentos de extremidades

5. Transcrição da amostra da fala

6. Transcrição da mensagem expressa

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