Perfil Rural jovem - Revista DBO março 2013

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p anorama 16 DBO março 2013 n MÔNICA COSTA [email protected] U m grupo de jovens aposta no poder da internet para a criação de um fórum nacional de debates do agro- negócio. É a Rural Jovem, entidade criada, em 2010, como um departamento da So- ciedade Rural Brasileira (SRB), sediada em São Paulo. O grupo já reúne quase 200 integrantes, entre membros da diretoria e associados espalhados pelo País. São ad- vogados, economistas, administradores, engenheiros agrônomos e zootecnistas, muitos deles filhos de fazendeiros, que buscam uma interface de comunicação mais moderna, capaz de mobilizar o se- tor. “Nossa geração tem o poder das redes sociais a seu favor, o que facilita a rápida troca de informações e opiniões, além da difusão de tecnologias”, explica Bento Mi- neiro, 22 anos, recém-formado em Ciên- cias Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e diretor da Rural Jovem. Mineiro não vê a classe ruralista como “conservadora”. Para ele, a dificuldade em avançar em algumas questões que envol- vem interesses diferentes deve-se às di- mensões continentais do País. “É fato que o setor carece de unidade na representação. Um de nossos desafios é justamente deixar as diferenças regionais de lado e tratar, ra- cionalmente, de temas de interesse de toda a cadeia”, afirma Mineiro. “Nossa partici- pação política é muito menor do que nossa importância econômica. O que esperamos é que a próxima geração de jovens esteja mais afinada na luta por políticas sintoni- zadas com a realidade do setor”, comple- menta André de Paiva Freitas, 23 anos, for- mado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP) e vi- ce-diretor do departamento de representa- ção jovem da SRB. FÓRUM DE DEBATES – A criação do gru- po teve como pano de fundo a discussão do Código Florestal. Todos os seus membros estudam em grandes centros urbanos e per- ceberam que havia muita desinformação sobre o tema, tanto entre seus colegas de estudo, quanto entre os próprios produtores rurais. “Daí surgiu a necessidade de nos or- ganizar para defender o setor junto a pesso- as de nossa própria faixa etária”, continua o diretor da Rural Jovem, que é formada exclusivamente por associados de 18 a 30 anos. A diretoria do departamento é com- posta por oito membros. Mais 30 pessoas participam ativamente das reuniões perió- dicas e debates. Também são promovidos fóruns de discussão na página criada em uma rede social, que já conta com mais de 150 seguidores. “Convidamos pessoas com competência para conversar com a gente e, dessa forma, passarmos a entender melhor o setor”, diz João Francisco Adrien, 22 anos, estudante de economia na PUC/SP e também integran- te da vice-diretoria da Rural Jovem. “Quere- mos formar uma comunidade virtual de jo- vens rurais, independente das entidades que integram, para troca de ideias e experiên- cias”, diz Mineiro, rechaçando a possibilida- de de transformar a RJ no porta voz exclusi- vo das demandas de sua geração. “Tentamos motivar os jovens, estejam eles onde estive- rem, para se organizarem em grupo nos sin- dicatos, federações estaduais, associações de produtores e cooperativas. O importante é que haja coesão e coerência frente às de- mandas locais”, diz Adrien. O QUE QUEREM – A percepção do grupo em relação ao que pensam os jovens urba- nos sobre o agronegócio é clara: “A eles não interessam recordes de produção, mas sim que durante o processo produtivo meio ambiente e direitos trabalhistas sejam res- peitados”, diz Adrien. Assim, a propos- ta dos membros da RJ é demonstrar que a agropecuária adota processos sustentáveis, para, então, mudar o olhar da população sobre o setor produtivo. “Não queremos exaltar o produtor, mas também não acei- tamos mais a imagem do Jeca Tatu, pois os homens que trabalham a terra, hoje, fazem parte de um mundo globalizado, têm inter- net em casa, aplicam tecnologias moder- Um novo olhar sobre o agronegócio Jovens produtores apostam nas mídias sociais para unificar o setor Encontro com o deputado Paulo Piau durante a Expozebu, em Uberaba, MG, estimulou a campanha “Assina Dilma”.

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Rural jovem - Revista DBO março 2013

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16 DBO março 2013

n Mônica costa [email protected]

Um grupo de jovens aposta no poder da internet para a criação de um fórum nacional de debates do agro-

negócio. É a Rural Jovem, entidade criada, em 2010, como um departamento da So-ciedade Rural Brasileira (SRB), sediada em São Paulo. O grupo já reúne quase 200 integrantes, entre membros da diretoria e associados espalhados pelo País. São ad-vogados, economistas, administradores, engenheiros agrônomos e zootecnistas, muitos deles filhos de fazendeiros, que buscam uma interface de comunicação mais moderna, capaz de mobilizar o se-tor. “Nossa geração tem o poder das redes sociais a seu favor, o que facilita a rápida troca de informações e opiniões, além da difusão de tecnologias”, explica Bento Mi-neiro, 22 anos, recém-formado em Ciên-cias Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e diretor da Rural Jovem.

Mineiro não vê a classe ruralista como “conservadora”. Para ele, a dificuldade em avançar em algumas questões que envol-vem interesses diferentes deve-se às di-mensões continentais do País. “É fato que o setor carece de unidade na representação. Um de nossos desafios é justamente deixar as diferenças regionais de lado e tratar, ra-cionalmente, de temas de interesse de toda a cadeia”, afirma Mineiro. “Nossa partici-pação política é muito menor do que nossa importância econômica. O que esperamos é que a próxima geração de jovens esteja mais afinada na luta por políticas sintoni-zadas com a realidade do setor”, comple-menta André de Paiva Freitas, 23 anos, for-mado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP) e vi-ce-diretor do departamento de representa-ção jovem da SRB.

Fórum de debates – A criação do gru-po teve como pano de fundo a discussão do Código Florestal. Todos os seus membros estudam em grandes centros urbanos e per-ceberam que havia muita desinformação sobre o tema, tanto entre seus colegas de estudo, quanto entre os próprios produtores rurais. “Daí surgiu a necessidade de nos or-ganizar para defender o setor junto a pesso-as de nossa própria faixa etária”, continua o diretor da Rural Jovem, que é formada exclusivamente por associados de 18 a 30 anos. A diretoria do departamento é com-posta por oito membros. Mais 30 pessoas participam ativamente das reuniões perió-dicas e debates. Também são promovidos fóruns de discussão na página criada em uma rede social, que já conta com mais de 150 seguidores.

“Convidamos pessoas com competência para conversar com a gente e, dessa forma, passarmos a entender melhor o setor”, diz João Francisco Adrien, 22 anos, estudante de economia na PUC/SP e também integran-

te da vice-diretoria da Rural Jovem. “Quere-mos formar uma comunidade virtual de jo-vens rurais, independente das entidades que integram, para troca de ideias e experiên-cias”, diz Mineiro, rechaçando a possibilida-de de transformar a RJ no porta voz exclusi-vo das demandas de sua geração. “Tentamos motivar os jovens, estejam eles onde estive-rem, para se organizarem em grupo nos sin-dicatos, federações estaduais, associações de produtores e cooperativas. O importante é que haja coesão e coerência frente às de-mandas locais”, diz Adrien.

O que querem – A percepção do grupo em relação ao que pensam os jovens urba-nos sobre o agronegócio é clara: “A eles não interessam recordes de produção, mas sim que durante o processo produtivo meio ambiente e direitos trabalhistas sejam res-peitados”, diz Adrien. Assim, a propos-ta dos membros da RJ é demonstrar que a agropecuária adota processos sustentáveis, para, então, mudar o olhar da população sobre o setor produtivo. “Não queremos exaltar o produtor, mas também não acei-tamos mais a imagem do Jeca Tatu, pois os homens que trabalham a terra, hoje, fazem parte de um mundo globalizado, têm inter-net em casa, aplicam tecnologias moder-

um novo olhar sobre o agronegócioJovens produtores

apostam nas mídiassociais para

unificar o setor

Encontro com o deputado Paulo Piau durante a Expozebu, em Uberaba, MG,

estimulou a campanha “Assina Dilma”.

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nas na produção e agem como quaisquer outros empresários”, completa Adrien.

Nesses dois anos de existência da Ru-ral Jovem, seus membros participaram de feiras e congressos, tanto no Brasil quanto no Mercosul, para apresentar sua proposta e buscar parcerias. “A Federação da Agri-cultura do Rio Grande do Sul, por exem-plo, tem um grupo com mais de 600 jo-vens, mas eles não interagiam com o resto do País. Nós fomos lá para propor isso”, diz Mineiro. Em São Paulo, o grupo programa ações conjuntas com o Comitê de Jovens Empreendedores do Agronegócio (CJE Agro) da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Alguns de seus representan-tes também já visitaram os Estados do Para-ná, Mato Grosso, Minas Gerais e até Paler-mo, na Argentina, com o mesmo objetivo.

“Nossa ideia é inserir o Brasil na Farm, Federação das Associações Rurais do Mer-cosul, uma entidade muito antiga e bastan-te respeitada no bloco”, aponta Adrien. No próximo mês de maio, os membros da RJ pretendem trazer representantes da Farm Jovem para participar de debates na Agrishow, em Ribeirão Preto, SP, e na Ex-pozebu, em Uberaba, MG. “O objetivo é que eles mostrem a realidade em seus pa-íses para uma plateia formada principal-mente por universitários”, informa.

mOdO de atuaçãO – A proprosta da Ru-ral Jovem é tratar grandes temas de forma

embasada. No caso do Código Florestal, por exemplo, o grupo convidou, em abril de 2012, o então relator do projeto, Pau-lo Piau, para explicar-lhes detalhadamen-te as mudanças propostas. Dessa inicia-tiva, surgiu a campanha “As-sina Dilma”, em contrapon-to ao movimen-to “Veta Dil-ma”, criado por ONGs ambientalistas. “A campanha não foi radical como a dos nossos opositores, mas mostrou, de maneira clara, os riscos que o veto representava para o produtor”, explica André Freitas.

O grupo também promoveu um debate na PUC/SP, assistido por mais de 150 pes-soas, que reuniu o deputado federal Ivan Valente, defensor dos ideais ambientalis-tas; Francisco Graziano, representante do setor produtivo; um membro da Socieda-de Rural Brasileira e um do Greenpeace. “Quase fomos apedrejados, mas todos pu-deram ouvir os dois lados e isso foi muito bacana”, lembra Mineiro. “Conseguimos entrar em um espaço onde nunca se discu-tiu o Código Florestal do ponto de vista do produtor rural” completou Freitas.

No fim de 2012, o tema escolhido pelo grupo foi comunicação. Executivos de pu-blicações relacionadas ao agronegócio com grande penetração nas mídias digitais fo-ram convidados para falar com os jovens. “Aprendemos a usar ferramentas para dis-seminar as informações de maneira mais eficiente”, aponta Adrien. Outros grandes temas estão na pauta da RJ, como política

agrícola, infraestrutura e reforma agrária. “Ainda não temos maturidade para apresen-tar soluções nessas áreas, mas queremos co-locá-las em debate, para começar a assimilar e processar informações”, conclui. n

QueM é QueM na RuRal JoveM

Movimentação dos jovens começou a partir das discussõesdo Código Florestal

“Tem muito especulador imobiliário dono de fazenda. A gente se vê como produtor rural, não como fazendeiro.” André de PAivA FreitAs, administrador de empresa e gestor da área de citricultura na Fazenda Colina, em Marinópolis, onde o pai, Gil Menezes Freitas, cuida da área de pecuária.

“Hoje o produtor rural é um homem moderno, que tem internet em casa.” João Adrien, estudante de Ciências Econômicas. É assessor da presidência da SRB e ajuda a mãe, Mariana Adrien, na gestão da Fazenda Palmeira da Serra, que trabalha com lavoura e pecuária em, Pratânia, interior de São Paulo.

“O nosso objetivo é atingir o maior número possível de pessoas da nossa geração, para que eles entendam e reivindiquem melhorias para o setor.” Bento Mineiro, cientista social, que trabalha na administração da Fazenda Sant’Anna, em Rancharia, interior de São Paulo junto com o pai, o pecuarista Jovelino Mineiro.

Como participar

Além de ter menos que 30 anos, o interessado em integrar a Rural Jovem deve estar ligado ao setor, não neces-sariamente à terra. “Muitos de nossos integrantes não possuem nem um pé de terra, mas atuam em atividades relacio-nadas ao agronegócio, dentro e fora da porteira da fazenda”, afirma Freitas. Para se cadastrar, basta enviar um e-mail para [email protected]. Após o envio dos dados, o interessado é incluso no mailing do grupo e passa a participar de sua pá-gina no Facebook.