Perigo nem sempre vem de fora
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B.3DIÁRIO capital Porto Velho-ro . sexta-feIRa, 15 De aBRIl De 2011
ESCOLAS. Debate sobre insegurança ganha reforço em episódios de Porto Velho que se contrastam com Realengo
Perigo nem sempre vem de fora
“Quando meus filhos eram pequenos a gente os deixava no colégio e sabia que esta-riam em segurança. Hoje não tenho tanta certeza”. A afir-mação é de Maria do Rosário, vendedora de 34 anos e mãe de Isabel, 16, e Júlio, 14. Ma-ria faz parte de um grupo de mães que não confia mais na escola como um local seguro. Tanta desconfiança tem moti-vo: o aumento significativo de casos de violência dentro do ambiente escolar.
Um dia após o massacre numa escola do bairro Realen-go, no Rio de Janeiro, onde 12 crianças foram assassinadas, a escola Estadual Orlando Frei-re, em Porto Velho, passou por uma situação que deixou temerosos mães e alunos: um dos estudantes foi flagrado com uma faca nas dependên-cias do colégio. O que mostra que a violência nem sempre vem de fora.
De acordo com Sueli de Souza, vice-diretora da esco-la, a situação aconteceu em decorrência de uma briga com um colega no dia anterior. Sabendo do ocorrido, a orien-tadora da escola, Edite Naka-mura, procurou os alunos envolvidos e conversou sobre o desentendimento. Mesmo
após a conversa, a direção foi alertada por outros alunos que um deles portava uma arma no ambiente escolar. Os funcionários da escola, então, se mobilizaram para observar. “Não podíamos chegar e re-vistar a bolsa. Montamos uma estratégia para chegar até ele sem o constranger. Hou-ve todo um cuidado”, conta a vice-diretora.
Desde então a patrulha es-colar está presente na escola. Mas Sueli sabe que a situação é provisória: “a equipe faz um trabalho em mais de 20 esco-las da cidade” e não consegue estar presente todos os dias.
Sueli está no cargo há pouco tempo, já que a nova direção assumiu no dia 15 de março, e então afirma ser o primeiro caso envolvendo armas dentro do colégio nes-te período. “Anteriormente a essa data eu não sei dizer como a escola estava funcio-nando”, conta.
Na visão de Sueli, casos isolados como o ocorrido não geram insegurança no restan-te dos alunos. Ela afirma que “eles agem normalmente”.
A Orlando Freire possui um histórico de violência: em 2006 um aluno foi assassina-do a tiros dentro do banheiro da escola. O menino estudava no colégio desde a 5ª série e estava cursava o primeiro ano do Ensino Médio.
Alunos conversam tranquilamente na escola em que o portão estava aberto
Psicóloga Fátima vê solução longe da sala de aula
Conceição fala sobre medidas da Seduc
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A escola, ambiente aparentemente seguro, ganha o foco de discussões sobre insegurança, gerando preocupação para os pais e autoridades
Larissa Tezzari [email protected] @diarioAmazonia
Quando a equipe do Diá-rio da Amazônia chegou à Escola Estadual Duque de Caxias para conversar com o diretor da escola, Geovaldo Oliveira, um fato logo chamou a atenção: o portão principal estava aberto, dando livre acesso à entrada de qualquer pessoa, não havendo nenhum tipo de procedimento de iden-tificação aos visitantes.
O diretor afirma que a in-segurança faz parte do cotidia-no dos alunos e professores e que vários casos de desenten-dimentos já foram registrados do lado de dentro do muro do colégio. “Aqui tem tido vários tipos de brigas, tanto de aluno com aluno, aluno com pro-fessor e aluno com direção”, conta. Geovaldo responsabi-liza a falta de segurança e de profissionais como os princi-pais fatores da realidade da escola. “Não temos supervisor, não temos orientador na parte da noite, não temos porteiro, pessoal de cozinha e limpeza e nem funcionários na secreta-ria”, afirma, apontando as de-ficiências da rede de ensino.
O caso se torna ainda mais grave quando o diretor conta a situação da escola no perío-do noturno. “A insegurança é total. Tenho comigo um docu-mento de uma professora que está solicitando afastamento porque está sendo jurada de morte por um aluno”, diz o di-retor, que também afirma ser ameaçado por estudantes.
O comportamento de gru-pos de alunos está assustando não só quem trabalha na esco-la como também profissionais que atuam perto do prédio. A Associação dos Empreendedo-res da Praça de Alimentação do Ginásio Cláudio Coutinho enviou ao diretor, na última quarta-feira, ofício informan-do que alguns alunos vestidos com uniformes do Duque de Caxias frequentam as lan-chonetes próximas ao ginásio no horário em que deveriam estar em aula. Segundo Ana Lúcia Araújo, tesoureira da associação, o grupo pratica atos de vandalismo, consome bebidas alcoólicas e utiliza en-torpecentes no local. O ofício foi enviado com o intuito de cobrar providências por parte da escola.
Geovaldo diz que atitudes como essas e a falta de pro-teção também refletem no comportamento dos alunos. “Quando eles olham aquele portão aberto, ficam aflitos, ainda mais depois de tudo que viram na televisão”, destaca, referindo-se ao caso da escola, no Realengo.
O diretor está no cargo há pouco mais de um mês e diz que desde que entrou o portão da escola fica aberto. Geovaldo afirma que um “quadro de ne-cessidades” foi encaminhado para a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), onde foram listados todos os profissionais que a escola necessita, mas ainda não recebeu resposta.
PORtõES AbERtOS, APESAR
DO mEDO
Conceição Pinheiro, co-ordenadora pedagógica da Seduc, informou que a se-cretaria, desde as mudanças ocorridas no último gover-no, está contratando, priori-tariamente, pro-fessores e equipe dos setores de apoio e adminis-trativo. “Estamos com um déficit de profissionais no período da noite. Pesso-as que saíram e ainda não foram substituídas. Por questão de se-gurança estamos tentando fazer isso o quanto antes”, adiantou a coorde-nadora, que foi, em seguida, avisada pela equipe do Diá-rio que no período da tarde o portão de acesso à Duque
de Caxias também estava sem vigilante. “O relatório do déficit é noturno. Não sa-bíamos que existia essa de-ficiência também nos outros períodos”, explicou.
Quanto às su-postas ameaças sofridas por pro-fessores, Concei-ção afirmou que a equipe tem que to-mar uma atitude, “não pode ouvir uma queixa e não fazer nada”. Para a coordenadora, o aluno que agride, mesmo que ver-balmente, precisa
ser orientado e corrigido. Ela garante que a denúncia será investigada, já que “a postura da Seduc, quando informada sobre algum caso de violência ou porte de arma dentro das
dependências das escolas, é agir imediatamente”.
A coordenadora disse que não pode estabelecer um pra-zo para que seja feita a con-tratação de novos profissio-nais: “Eu não tenho como dar uma data. A gente está em processo, chamando os con-cursados”.
Para Conceição, o caso do massacre na escola do Rio de Janeiro reabriu o leque de debates, discussões e questio-namentos. “Mas a gente não pode começar a conversar so-bre o assunto a partir de uma situação como essa”, opina.
A coordenadora ainda des-taca a “Cultura de Paz”, um projeto que reúne várias ações conjuntas, trabalhadas dentro das escolas, em parceria com órgãos, como a Promotoria da Infância e Juventude e Polícia Militar.
SEDuC DESCOnhECE FALtA DE VigiLAntE
Maria de Fátima Melo, que trabalha como psicóloga, des-de 2003, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Jorge Teixeira, zona Leste de Porto Velho, possui uma visão próxima das mudanças dos úl-timos anos e garante que as al-terações não ocorrem apenas no comportamento das crianças e, sim, na sociedade, de maneira geral. Para a psicóloga, a socie-dade mudou, evoluiu em certos aspectos, mas outros ficaram atrasados. “A gente não se pre-parou enquanto escola, enquan-to sociedade, para essa nova demanda que estava chegando. E essa nova realidade nos pegou de surpresa”, afirma.
A psicóloga considera que a mudança começa a ser percebi-da na população. “Começamos a nos organizar para lidar com essa violência, oferecer palestra sobre o bullying, um assunto que tem sido muito falado. Mas essas atitudes começaram agora
e as mudanças vêm ocorrendo faz tempo”.
Ela acredita que a solução para os atos violentos começa longe das salas de aula. Fátima expõe que primeiro é preciso preparar os professores para lidar com esses adolescentes, quando esses ainda estão cur-sando uma faculdade. “Os jo-vens de hoje não são os mesmos de anos atrás. Hoje eles questio-nam, se informam mais rápido que os professores e conversam mais sobre tudo”, afirma.
Segundo Fátima, o choque acontece porque alguns pro-fessores não estão preparados para esse novo aluno. “Essa nova geração é imediatista. Eles não têm mais paciência de esperar uma informação, de esperar que as situações se re-solvam naturalmente. Hoje eles querem resolver tudo sozinhos e de forma rápida”, explica, acrescentando ainda que esse “é um processo em cadeia”.
DEVERES
Fátima destaca que no Estatuto da Criança e do Adolescente, assim como di-reitos, esses jovens também possuem deveres que devem ser respeitados.
A falta de profissionais na área da orientação, assim como psicólogos e assisten-tes sociais, é apontada por ela como um dos pontos que prejudicam o bom andamento escolar. “Não é só um acom-panhamento dentro da escola. Vamos às casas dos alunos, conversamos com os pais, par-ticipamos do cotidiano deles”.
Ainda de acordo com a psi-cóloga, os esforços têm surtido efeito: “Eu trabalho aqui no [bairro] Ulisses Guimarães, na zona Leste, considerada como zona vermelha no índice de violência e os nossos alunos são extremamente tranqui-los”, confirma contente.
SOCiEDADE DESPREPARADA PARA nOVA REALiDADE
quanto às supostas ameaças,
conceição afirma que equipe tem que tomar
uma atitude
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