Perissinotto & Codato, Por um Retorno à Sociologia das Elites

10
7 REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, Nº 30: 7-15 JUN. 2008 Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 16, n. 30, p. 7-15, jun. 2008 DOSSIÊ “ELITES POLÍTICAS”  Apresentação Por um retorno à Sociologia das Elites Recebido em 17 de abril de 2008. Aprovado em 2 de maio de 2008. Quando Gaetano Mosca publicou o seu Elementi di Scienza Politica, em 1896, lançou com ele um programa de pesquisa novo e promissor. O sociólogo italiano determinou que as “minorias politicamente ativas” deveriam ser, para os cien- tistas políticos, o objeto de análise mais importan- te. Dado o caráter oligárquico de todos os gover- nos, um estudo científico da política teria de estar atento não ao número de governantes (conforme a classificação aristotélica tradicional: um, pou- cos, muitos), mas aos mecanismos sociais e polí- ticos responsáveis pela formação, pelo recruta- mento, pela socialização e pela conduta dessas minorias. A Ciência Política, principalmente anglo-saxã, levou a sério esse decreto. Talvez não seja exage- rado afirmar que as “elites políticas” foram um dos assuntos mais estudados ao longo do século XX. Em especial depois das traduções para o in- glês das obras de Vilfredo Pareto (  Mind and Society, editado em 1935) e de Mosca (The Ruling Class, em 1939), uma série de trabalhos empíricos sobre as minorias dominantes nas sociedades de- mocráticas veio à luz. Após a II Guerra, vários cientistas sociais, de orientações diversas, dedi- caram-se ao estudo das elites políticas e acres- centaram às contribuições clássicas um significa- tivo avanço metodológico. Nomes como Harold Lasswell, James Burham, David Riesman, Floyd Hunter, Charles Wright Mills, Robert Dahl, William Kornhauser, Seymour Lipset, Maurice Duverger, Raymond Aron, Giovanni Sartori, Peter Bachrach, Morton Baratz, Tom Bottomore, Ralph Miliband pro- duziram, cada um à sua maneira, estudos ligados ao problema fundamental que consiste em saber como se formam e são recrutadas as minorias or- ganizadas que dominam uma dada comunidade. A partir de meados da década de 1960 e início da década de 1970 houve, contudo, uma diminui- ção no interesse dos cientistas sociais pelo tema. A Ciência Política e a Sociologia Política redes- cobriram as instituições políticas; ao mesmo tem- po em que voltaram os estudos sobre regimes, partidos e eleições, o Estado capitalista e suas re- lações com a economia capitalista acabou polari- zando as atenções de boa parte dos estudiosos. Essa constatação, entretanto, deve ser qualifi- cada, tendo em vista as particularidades do cam- po científico dos diversos países. Se houve uma queda significativa nos estudos sobre as elites políticas nos países centrais (Estados Unidos e Europa), não chegou a ocorrer um desapareci- mento completo das pesquisas dedicadas às mi- norias politicamente ativas 1 . O declínio no inte- resse pelo assunto, porém, foi bem mais radical no Brasil, onde, a partir de meados da década de 1980, os estudos sobre as elites políticas, que nunca foram abundantes 2 , praticamente desapa- receram. Uma das razões que esteve na origem desse desinteresse pelo tema reside no surgimento de novas perspectivas teóricas e novos programas empíricos de pesquisa, cujas indagações não mais conferiam às elites políticas e sociais um lugar central. Para sermos mais específicos, o arrefecimento da preocupação dos cientistas so- ciais pelo tema das elites deve-se, em essência, às críticas formuladas a partir de três perspectivas bem distintas: o estruturalismo marxista, o institucionalismo de escolha racional e a Sociolo- gia Relacional de Pierre Bourdieu. As críticas são contundentes e, não raro, convincentes. Não acre- 1 Cf., por exemplo, a ampla gama de inquéritos editados em Czudnowski (1982) e Clarke e Czudnowski (1987). 2 Dois estudos praticamente isolados foram MacDonough (1981) e Carvalho (1996).

Transcript of Perissinotto & Codato, Por um Retorno à Sociologia das Elites

7/31/2019 Perissinotto & Codato, Por um Retorno à Sociologia das Elites

http://slidepdf.com/reader/full/perissinotto-codato-por-um-retorno-a-sociologia-das-elites 1/9

7

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, Nº 30: 7-15 JUN. 2008

Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 16, n. 30, p. 7-15, jun. 2008

DOSSIÊ “ELITES POLÍTICAS”

 Apresentação

Por um retorno à Sociologia das Elites

Recebido em 17 de abril de 2008.Aprovado em 2 de maio de 2008.

Quando Gaetano Mosca publicou o seuElementi di Scienza Politica, em 1896, lançou comele um programa de pesquisa novo e promissor.O sociólogo italiano determinou que as “minorias

politicamente ativas” deveriam ser, para os cien-tistas políticos, o objeto de análise mais importan-te. Dado o caráter oligárquico de todos os gover-nos, um estudo científico da política teria de estaratento não ao número de governantes (conformea classificação aristotélica tradicional: um, pou-cos, muitos), mas aos mecanismos sociais e polí-ticos responsáveis pela formação, pelo recruta-mento, pela socialização e pela conduta dessasminorias.

A Ciência Política, principalmente anglo-saxã,

levou a sério esse decreto. Talvez não seja exage-rado afirmar que as “elites políticas” foram umdos assuntos mais estudados ao longo do séculoXX. Em especial depois das traduções para o in-glês das obras de Vilfredo Pareto ( Mind and Society, editado em 1935) e de Mosca (The RulingClass, em 1939), uma série de trabalhos empíricossobre as minorias dominantes nas sociedades de-mocráticas veio à luz. Após a II Guerra, várioscientistas sociais, de orientações diversas, dedi-caram-se ao estudo das elites políticas e acres-centaram às contribuições clássicas um significa-tivo avanço metodológico. Nomes como HaroldLasswell, James Burham, David Riesman, FloydHunter, Charles Wright Mills, Robert Dahl, WilliamKornhauser, Seymour Lipset, Maurice Duverger,Raymond Aron, Giovanni Sartori, Peter Bachrach,Morton Baratz, Tom Bottomore, Ralph Miliband pro-duziram, cada um à sua maneira, estudos ligadosao problema fundamental que consiste em sabercomo se formam e são recrutadas as minorias or-ganizadas que dominam uma dada comunidade.

A partir de meados da década de 1960 e inícioda década de 1970 houve, contudo, uma diminui-

ção no interesse dos cientistas sociais pelo tema.A Ciência Política e a Sociologia Política redes-cobriram as instituições políticas; ao mesmo tem-po em que voltaram os estudos sobre regimes,

partidos e eleições, o Estado capitalista e suas re-lações com a economia capitalista acabou polari-zando as atenções de boa parte dos estudiosos.

Essa constatação, entretanto, deve ser qualifi-cada, tendo em vista as particularidades do cam-po científico dos diversos países. Se houve umaqueda significativa nos estudos sobre as elitespolíticas nos países centrais (Estados Unidos eEuropa), não chegou a ocorrer um desapareci-mento completo das pesquisas dedicadas às mi-norias politicamente ativas1. O declínio no inte-

resse pelo assunto, porém, foi bem mais radicalno Brasil, onde, a partir de meados da década de1980, os estudos sobre as elites políticas, quenunca foram abundantes2, praticamente desapa-receram.

Uma das razões que esteve na origem dessedesinteresse pelo tema reside no surgimento denovas perspectivas teóricas e novos programasempíricos de pesquisa, cujas indagações não maisconferiam às elites políticas e sociais um lugarcentral. Para sermos mais específicos, oarrefecimento da preocupação dos cientistas so-

ciais pelo tema das elites deve-se, em essência, àscríticas formuladas a partir de três perspectivasbem distintas: o estruturalismo marxista, oinstitucionalismo de escolha racional e a Sociolo-gia Relacional de Pierre Bourdieu. As críticas sãocontundentes e, não raro, convincentes. Não acre-

1 Cf., por exemplo, a ampla gama de inquéritos editadosem Czudnowski (1982) e Clarke e Czudnowski (1987).

2 Dois estudos praticamente isolados foram MacDonough(1981) e Carvalho (1996).

7/31/2019 Perissinotto & Codato, Por um Retorno à Sociologia das Elites

http://slidepdf.com/reader/full/perissinotto-codato-por-um-retorno-a-sociologia-das-elites 2/9

7/31/2019 Perissinotto & Codato, Por um Retorno à Sociologia das Elites

http://slidepdf.com/reader/full/perissinotto-codato-por-um-retorno-a-sociologia-das-elites 3/9

9

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, Nº 30: 7-15 JUN. 2008

les atributos (todos ou uma parte deles) e os tiposde decisões elaboradas pelo grupo em questão.Qualquer interrogação sobre a natureza das deci-sões – sua orientação, por exemplo – está obriga-da a ao menos levar em consideração a naturezadas elites como um provável fator explicativo. Ou,por outra, invertendo o argumento e devolvendoa tarefa: a irrelevância das elites (estatais) para asdecisões (estatais) é que deveria ser, desde logo,comprovada.

II. O INSTITUCIONALISMO DE ESCOLHARACIONAL E OS ATORES INTERCAMBIÁ-VEIS

O estruturalismo marxista não foi a única teo-ria social que propôs desconsiderar os atributosdas elites como uma variável legítima para enten-

der-se as decisões públicas. O “institucionalismode escolha racional” adotou a mesma postura,apesar de seus simpatizantes partirem de pressu-postos teóricos inteiramente diferentes.

Para o institucionalismo de escolha racional, ocontexto institucional é a variável independente queexplica a conduta de atores políticos tidos comoracionais. Segundo G. Tsebelis, esse tipo de abor-dagem focaliza as coerções impostas aos atoresracionais pelas instituições de uma sociedade epostula que a ação individual é uma adaptação óti-

ma a um ambiente institucional determinado. De-fende-se, portanto, que as “regras do jogo”condicionam o comportamento dos atores e, emconseqüência, os outputs do sistema político(TSEBELIS, 1998, p. 51). Se a conduta dos ato-res é interpretada estritamente como uma reaçãoracional aos constrangimentos impostos pelas re-gras institucionais, então para essa teoria decidi-damente não é prioritário, e nem mesmo impor-tante, perguntar-se a respeito da história pregressa,da origem de classe ou dos valores culturais dosatores políticos. Na verdade, na presença de umdeterminado ambiente institucional, os indivíduossão intercambiáveis, isto é, seja qual for o seubackground social (alto, baixo) e ideológico (radi-cal, liberal), eles agiriam da mesma maneira exa-tamente porque são todos atores que racionalmentebuscam sempre maximizar seus objetivos (idem,p. 54-55).

Essa variante do institucionalismo trouxe umaimportante contribuição à Ciência Política. Frenteà hegemonia das interpretações “societalistas”, ospesquisadores filiados a essa corrente teórica mos-

traram que as “instituições contam”, isto é, queseu desenho, suas normas e suas regras são im-portantes para compreender adequadamente a açãodos atores políticos.

Há, entretanto, dois limites analíticos quandose reduz o comportamento político a uma reaçãoracional frente a regras institucionais determina-das. A identificação desses limites, aliás, permitedefender a tese complementar (e não oposta) deque, tanto quanto as instituições, “as elites con-tam”.

O primeiro grande problema doinstitucionalismo de escolha racional (assumidoexplicitamente pelos seus defensores, diga-se depassagem) reside no fato de essa teoria não terabsolutamente nada a dizer sobre o processo de

constituição dos gostos e preferências dos atorespolíticos (cf. BECKER, 1990, p. 5; TSEBELIS,1998, p. 54, n. 36). Mais do que isso, aespecificidade dos gostos e das preferências dosatores não entra na explicação dos comportamen-tos políticos. Não interessa, nessa concepção, ofato de que indivíduos são algumas vezes porta-dores de preferências políticas radicalmente dife-rentes, mas sim que tais preferências serão per-seguidas racionalmente por meio de estratégiassemelhantes em função de um mesmo contextoinstitucional.

Esse tipo de estratégia analítica, ainda que con-tribua para entender a semelhança de comporta-mentos entre atores com orientações políticasmuito discrepantes (por exemplo: a conduta par-lamentar de um líder trabalhista social-democratae de um dirigente industrial adepto do fascismo),nada diz sobre o conteúdo substantivo dessas es-tratégias. Sendo assim, a teoria da escolha racio-nal pode explicar o desenvolvimento da ação, masquase nada diz sobre o motivo que conduz os ato-res a agir em uma ou em outra direção. Trata-se,portanto, de uma racionalidade institucionalmentesituada, mas socialmente desencarnada. A nossover, não é plausível supor que os agentes, ao in-gressarem na política, dispam-se de todos os va-lores e preferências que lhes foram inculcados aolongo dos processos de socialização primária, se-cundária e política. Por essa razão, a análise doprocesso de recrutamento das elites (os canaisque conduziram os indivíduos a posições de man-do, por exemplo) e do seu background social é, anosso ver, indispensável.

7/31/2019 Perissinotto & Codato, Por um Retorno à Sociologia das Elites

http://slidepdf.com/reader/full/perissinotto-codato-por-um-retorno-a-sociologia-das-elites 4/9

10

APRESENTAÇÃO

Um segundo problema do institucionalismo deescolha racional consiste em tratar as instituiçõespolíticas como “variável independente”desconectada do contexto social. Quanto a esteponto, é preciso recordar uma platitude: as insti-tuições não são entidades abstratas que surgemdo nada. Ao contrário, são fatos históricos con-cebidos e construídos não por atores racionaissocialmente desencarnados, mas por agentes so-ciais historicamente situados, portadores de valo-res específicos, com interesses socialmente de-terminados e com uma lista de idéias pré-conce-bidas acerca do que devem ser as instituições po-líticas. Desnecessário lembrar também que osconstrangimentos institucionais de hoje são a ex-pressão e a cristalização de escolhas feitas no pas-sado. Essas escolhas só poderiam ser explicadasem função dos contextos, do legado cultural,institucional, político e da natureza dos agentesenvolvidos no processo (cf. THELEN &STEINMO, 1994, p. 2-3; IMMERGUT, 1998, p.19-22).

Com relação a este ponto em especial, e semqualquer pretensão de formalização nem originali-dade, poderíamos ensaiar uma distinção. Há, deum lado,  períodos históricos cruciais, marcadospor transições políticas, revoluções sociais, guer-ras de independência, guerras de conquista etc.;

de outro,  períodos históricos rotineiros, isto é,momentos em que as escolhas feitas pelas lide-ranças políticas, assim como o processo decisório,parecem seguir procedimentos e regras estáveis,garantindo, no mais das vezes, um alto grau deprevisibilidade aos comportamentos sociais. Pa-rece correto supor, por outro lado, que a naturezada elite política é tanto mais importante quantomais crucial for o período histórico analisado:em momentos de mudança social há mais deci-sões a tomar, mais opções a fazer, mais alternati-vas a legitimar. Já em períodos normais, marca-dos pela estabilidade (momentos de reproduçãosocial), o impacto dos atributos das elites políti-cas tenderia por sua vez a ser fortemente media-do pelas regras institucionais e pelas rotinasdecisórias pré-estabelecidas, o que não equivale adizer que esses atributos não tenham aí importân-cia alguma.

III. A CRÍTICA DA SOCIOLOGIA RELACIONALDE PIERRE BOURDIEU

Segundo Pierre Bourdieu, a teoria sociológicadeve promover uma ruptura com a visão

essencialista encontrada em pesquisas influencia-das pela problemática elitista e pelos adeptos dométodo prosopográfico4. Esses estudos, aindasegundo o sociólogo francês, começam em geraldefinindo uma dada população para, em seguida,estudar os atributos (em sua língua: o capital eco-nômico, social, político, cultural etc.) dos agen-tes que a compõem. Ao fazerem isso, os analistasestariam sujeitos a dois enganos.

Primeiro, a teoria das elites tenderia a natura-lizar as propriedades sociais distintivas dos gru-pos dominantes, como se fossem recursos ine-rentes à superioridade inata de seus membros. Esseprimeiro pecado é, em geral, acompanhado porum outro, que consiste na incapacidade de essespesquisadores adotarem uma  pe rs pectiva

relacional dos grupos estudados. Se percebessemque “o real é relacional” (BOURDIEU, 1989a, p.28), os investigadores em questão teriam tambémse dado conta de que os atributos investigadoscomo propriedades individuais são, na realidade,a expressão das propriedades derivadas das posi-ções objetivas ocupadas pelos agentes no espaçosocial.

Conforme essa perspectiva relacional, porexemplo, o quantum de capital escolar vinculadoa uma dada posição no campo cultural está direta-mente vinculado ao quantum do mesmo capital

vinculado a uma outra posição no mesmo campo.Para Bourdieu, o poder não é uma relação entre“indivíduos”, mas uma relação entre diferentes posições que distribuem desigualmente os capi-tais específicos de um campo, o que, por sua vez,confere aos ocupantes dessas posições potencialidades distintas para produzir ganhos naslutas que caracterizam o mesmo campo. Só fazsentido estudar os atributos dos agentes se o es-tudo servir ao objetivo último da Sociologia, a sa-ber, captar a “sócio-lógica” objetiva que rege ofuncionamento de um campo. Fora desse regis-

tro, o estudo das elites de pouco serviria.

4 Conforme a definição já clássica de Lawrence Stone, “aprosopografia é a investigação das características comunsdo passado de um grupo de atores na história por meio doestudo coletivo de suas vidas. O método empregado con-siste em definir um universo a ser estudado e então a eleformular um conjunto de questões padronizadas – sobrenascimento e morte, casamento e família, origens sociais eposições econômicas herdadas, local de residência, educa-ção e fonte de riqueza pessoal, religião, experiência profis-sional e assim por diante” (STONE, 1971, p. 46).

7/31/2019 Perissinotto & Codato, Por um Retorno à Sociologia das Elites

http://slidepdf.com/reader/full/perissinotto-codato-por-um-retorno-a-sociologia-das-elites 5/9

11

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, Nº 30: 7-15 JUN. 2008

As críticas de Bourdieu são na realidade ummodo mais sofisticado de apresentar aquilo queautores como Anthony Giddens e Robert Putnamchamaram de so what question (GIDDENS, 1974,p. xii-xiii; PUTNAM, 1976, p. x). Afinal de con-tas, diante daqueles estudos sociográficos, depoisde um longo e exaustivo trabalho de pesquisa emque são reveladas algumas características “essen-ciais” dos membros da elite política, cabe per-guntar: e daí? Isto é: o que tais característicasexplicam? Sem isso, o estudo das elites políticasseria apenas uma descrição adequada do “perfilsocial” dos seus membros, o que pouco ou nadadiz de fato sobre a estrutura e o  funcionamentoda sociedade em questão.

Entretanto, como o próprio Bourdieu (1989b,

p. 374) reconheceu, romper com a concepçãoessencialista é um tanto difícil, pois as proprieda-des das posições sociais sempre se manifestamcomo atributos individuais. Nesse sentido, não hácomo evitar a constatação de que para recons-truir o sistema objetivo de posições no mundosocial (ou em um campo específico) é precisosempre recorrer, inicialmente, ao inventário dospredicados pessoais de uma dada “população”,conferindo a esses atributos um tratamento esta-tístico comum. Como as informações sobre omundo social estão associadas a indivíduos é a

eles que devemos dirigir-nos para indagá-los acercadas propriedades sociais que os constituem(BOURDIEU, 1989a, p. 29). Existem, a propósi-to, sugestões técnicas abundantes nas pesquisasconduzidas por Bourdieu para recolher e proces-sar esse tipo de informação (técnicasprosopográficas, quadro sinóptico das caracterís-ticas pertinentes dos agentes e das instituições eorganizações a que eles pertencem, questionári-os, sondagens, entrevistas em profundidade,etnografia de casos específicos, observação par-ticipante etc.).

Feitas as contas, algumas proposições deBourdieu sobre os grupos socialmente dominantessugerem todavia o retorno, sob nova roupagemterminológica, da abordagem “posicional”, à laWright Mills (1981), com base em um conceitonão menos tradicional de poder (“capital”), i. e.,‘poder como a posse de uma quantidade determi-nada de recursos’. Quanto a esse ponto, vale a penafazer alguns comentários sobre o estudo feito porum dos seus mais renomados seguidores.

Em Les élites de la République, o historiador

social Christophe Charle apresenta os procedimen-tos técnicos para delimitar o grupo de elites quepretende estudar durante os anos iniciais da IIIRepública francesa. Charle, seguindo as orienta-ções da Sociologia Relacional, recusa uma defini-ção formalista e substancialista do grupo, queconsistiria em atribuir arbitrariamente a alguns in-divíduos uma dada posição de elite. Assim, para adelimitação do coletivo a ser analisado, o estudio-so deve lançar mão de fontes que evidenciem o julgamento social da época, tais como dicionári-os, anuários, publicações do tipo Qui êtes-vouz?,Tout Paris etc. Em seguida, seria preciso identifi-car, dentro dessa enorme população revelada pe-las fontes históricas, um “núcleo duro”, que, parao caso de Charle, é composto apenas por empre-sários, altos funcionários e professores universi-tários. Define-se assim a “elite pela posse de umcerto poder [...]”. O resultado líquido aqui é umuniverso de 1 093 indivíduos que ocupam “osescalões superiores de cada grande categoria”social. Por fim, o autor apresenta o conjunto devariáveis a serem coletadas a fim de refazer a tra- jetória e captar a posição social dos indivíduosnos campos analisados: variáveis demográficas,sociais, culturais, ideológicas, políticas,consagratórias e financeiras (CHARLE, 1987, p.12-22). A partir dessas informações, Charle afir-ma que os grupos dominantes na França, entre

1871 e 1940, teriam deixado de ser uma “classedirigente” (os “notáveis” que controlavam todosos recursos sociais mais importantes), para frag-mentarem-se em uma “classe dominante”, carac-terizada pela dispersão desse controle entre gru-pos dominantes especializados (idem, cap. 1).

Assim, apesar de dizer que não pretende inici-ar o trabalho de pesquisa por definições formalistase/ou substancialistas, ao fim e ao cabo Charle adotaos mesmos procedimentos usualmente utilizadospelos estudiosos das elites políticas e sociais. Oautor afirma inicialmente que submeterá a defini-ção do grupo à percepção dos contemporâneos.Adota-se, portanto, o que a literatura chama de“método reputacional”, cuja maior fragilidade con-siste em basear-se demasiadamente em percep-ções subjetivas cujos critérios, exatidão oupertinência nunca se podem precisar ao certo. Noentanto, logo em seguida, Charle muda de estra-tégia e lança mão daquilo que a literatura chamade “método posicional”, bem mais adequado aocaso, diga-se de passagem, já que as elites a se-rem estudadas (administrativa, universitária e eco-

7/31/2019 Perissinotto & Codato, Por um Retorno à Sociologia das Elites

http://slidepdf.com/reader/full/perissinotto-codato-por-um-retorno-a-sociologia-das-elites 6/9

12

APRESENTAÇÃO

nômica) são formadas por indivíduos que con-trolam as posições institucionais superiores emuma dada comunidade ou instituição. Essa defini-ção é condizente com a Sociologia de Bourdieu,que utiliza como sinônimos os termos “poder” e“capital”, como anotamos acima. O capital é umatributo de posição e, em conseqüência, o podertambém deve sê-lo. Assim, se definimos “elite”como um grupo que detém poder, estamos, aomesmo tempo, dizendo que a elite é um grupoque ocupa uma  posição dominante (i. e., umaposição que fornece aos seus membros umquantum maior de capital). Ter (mais) poder sig-nifica ter (mais) recursos que a posição objetiva(dominante) coloca à disposição dos agentes (do-minantes) – valendo o inverso para os domina-dos. O passo seguinte é fazer uma “Sociologiadas posições institucionais” (WRIGHT MILLS,1985, p. 63), vinculando os seus achados à teoriados campos.

Como se vê, os pressupostos teóricos da So-ciologia Relacional de Pierre Bourdieu não são in-compatíveis com aquilo que normalmente se faznos estudos das elites sociais e políticas. Há, ali-ás, certo exagero por parte da Sociologia Políticafrancesa contemporânea na crítica aos aspectos“naturalizantes” e “essencialistas” dos estudos“elitistas”. Temos dúvidas se o primeiro termo

aplica-se até mesmo a autores clássicos, comoGaetano Mosca, em geral acusado do pecadooposto, isto é, de certo “sociologismo”. No quediz respeito ao segundo termo da crítica, é verda-de que não há nas pesquisas sobre grupos de elitegrande preocupação em sofisticar teórica emetodologicamente a visão relacional das análisessobre o poder. No entanto, é inegável que essetipo de perspectiva está presente, ainda que demaneira embrionária, em quase todos os inquéri-tos que têm como objeto de análise “as elites”.Basta lembrar aqui o conceito de elite com o quala maioria dos estudiosos opera, isto é,

a elite comoum grupo formado por indivíduos que, no seucampo de atividade, conseguem apropriar-se emmaior quantidade dos bens ali valorizados. Aomesmo tempo, reconhece-se que essa apropria-ção ocorre em detrimento da “não-elite”, definidacomo os desprovidos desses bens ou como aque-les que os possuem em menor quantidade.

Por fim, vale observar que não há razão parareduzir os trabalhos sobre elites ao problema dopoder, isto é, limitá-los ao problema do predomí-nio dos interesses de uma minoria politicamente

ativa sobre os interesses dos dominados. Estudoslongitudinais (“históricos”) podem revelar infor-mações importantes a respeito da evolução da pró-pria estrutura social ao longo do tempo. Nessescasos, lembra Putnam (1976, p. 43), pode-se fa-zer uma espécie de “sismologia” na qual os dadosdiacrônicos sobre grupos de elite funcionariamcomo um aparelho que registraria mudanças maisprofundas na estratificação social. Algumas im-portantes questões podem ser formuladas a partirde dados dessa natureza, como, por exemplo: (i)quais recursos (sociais, econômicos, políticos,simbólicos) eram importantes no passado paraaceder posições de elite e quais são importantesno presente? (ii) Como – e em que ritmo – mu-danças na estrutura socioeconômica são refleti-das na estrutura de elite? (iii) Os caminhos per-corridos, isto é, as “avenidas” de acesso a posi-ções de elite mudaram? (iv) A estrutura do grupomudou ao longo do tempo, ou seja, ela passou(ou não) por um processo de “democratização”,de “popularização” etc.? Essas são questões deci-sivas na compreensão da evolução histórica e dastransformações sociais de uma dada comunida-de.

IV. UMA AGENDA DE PESQUISA

No dossiê que a Revista de Sociologia e Polí-tica publica neste número o leitor encontrará arti-

gos que lidam com vários dos temas analisadosnesta apresentação. Um breve resumo dos traba-lhos publicados revela a existência de uma agendade pesquisa diversificada, tanto do ponto de vistametodológico quanto temático, ainda que, nesteúltimo caso, perceba-se certo predomínio do pro-blema do recrutamento da elite parlamentar e desua profissionalização política.

O que condiciona a ação dos deputados brasi-leiros? O trabalho de Débora Messenberg estudaa elite legislativa no Brasil no período posterior àAssembléia Nacional Constituinte de 1987-1988 echama a atenção para variáveis de outro tipo, emgeral pouco mobilizadas quando se trata de enten-der as ações dos políticos, como suas “orienta-ções culturais”. Um achado relevante dessa mu-dança de enfoque é que identidades regionais di-ferenciadas, por exemplo, demarcam comporta-mentos e estilos diversos de fazer política.

Qual o caminho para chegar-se à câmara altano Uruguai? O artigo de Eduardo Bottinelli discu-te os diversos tipos de trajetória política das elitesparlamentares uruguaias após a ditadura militar.

7/31/2019 Perissinotto & Codato, Por um Retorno à Sociologia das Elites

http://slidepdf.com/reader/full/perissinotto-codato-por-um-retorno-a-sociologia-das-elites 7/9

13

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, Nº 30: 7-15 JUN. 2008

Estudando 38 senadores na legislatura 2005-2010,procura mostrar padrões comuns de carreira,mobilidade interpartidária e divergências existen-tes entre políticos filiados a partidos tradicionais ea agremiações de esquerda.

Políticos profissionais são invariavelmenteambiciosos e tendem a buscar posições cada vezmais prestigiosas, influentes ou poderosas? Re-nata Florentino propõe-se a mapear os perfis bio-gráficos daqueles que tendem a abandonar a car-reira política ou a candidatar-se a postos parla-mentares de menor prestígio em relação àquelesexercidos anteriormente. Pesquisando as dispu-tas legislativas entre 1990 e 2006, elenca algumasvariáveis explicativas a fim de explicar esse pro-cesso de exclusão ou auto-exclusão da vida polí-

tica.Quais são as condições para a

profissionalização política? Elas são sempre asmesmas ou variam conforme as configuraçõesregionais? Os deputados federais de dois estadosmuito diferentes entre si – o Maranhão e o RioGrande do Sul – são o tema do artigo de IgorGrill. Analisando a trajetória, a base social e asconcepções desse grupo heterogêneo durante umintervalo de tempo bem considerável, de 1946 a2006, são comparadas uma lista de questões co-muns tais como: a heterogeneidade social, as

condições que permitem ou presidem a ascensãopolítica, as estratégias de conversão de bases so-ciais em apoios eleitorais e a própria legitimidadedos papéis políticos nessas unidades da federa-ção.

O artigo de Adriano Codato propõe-se a refle-tir sobre um problema clássico nessa área de es-tudos: quando e como os políticos tornam-se maisprofissionais, ou, por outra, o que explicaria apermuta de um tipo social (o notável) para outro(o especialista) e a conversão da natureza dos re-cursos políticos legítimos em uma determinadasociedade? A partir do exame das propriedadespolíticas e das características socioocupacionaisdos representantes da bancada de São Paulo naAssembléia Nacional Constituinte de 1946, o arti-go procura avaliar a capacidade explicativa de trêstipos de variáveis para entender esse processo: a“social”, isto é, as grandes transformações na es-trutura socioeconômica; a “institucional”, ou ascondições de competição política e participaçãono governo, e a “contextual”.

Um dos problemas mais recorrentes nos estu-dos de elite no Brasil são as fontes de pesquisa.Embora tenha havido já um avanço considerávelnesse ponto, as abordagens prosopográficas fari-am mal em fiar-se apenas nas informações dispo-níveis nos portais eletrônicos das assembléiaslegislativas brasileiras sobre os deputados estadu-ais e distritais da legislatura de 2003-2007. SérgioBraga e Maria Alejandra Nicolas constroem emseu texto um indicador bastante útil para avaliar emensurar o grau de disponibilidade das informa-ções sobre tais atores na web.

Mudando o foco dos parlamentares para ou-tro grupo de elite, só recentemente descoberto pelaCiência Política brasileira, o estudo de AndréMarenco dos Santos e Luciano Da Ros analisa os

padrões de recrutamento dos ministros dos ór-gãos de cúpula do poder Judiciário brasileiro en-tre 1829 e 2006. Com base em quatro tipos deinformação a respeito dos membros do SupremoTribunal de Justiça (1829-1890) e do SupremoTribunal Federal (1891-2006) – posição social,origem geográfica, instituição escolar e naturezada carreira –, demonstra a mudança ao longo dotempo dos “caminhos que levam à Corte” no Bra-sil. A pesquisa salienta a progressiva autonomiada corte suprema no período posterior à promul-gação da Constituição de 1946, ao detectar um

lento incremento de indivíduos provenientes douniverso exclusivamente jurídico, entre outrosachados.

O gracejo sobre a imprevisibilidade das deci-sões dos operadores do Direito deve ter lá suarazão de ser. Afinal, com base em quê julgam os juízes? O artigo de Renato Perissinotto e seuscolaboradores propõe uma estratégia de pesquisada elite judiciária que integre assuntos em geraltratados separadamente: os valores dos agentes,as instituições e/ou os processos de socialização eo conteúdo das decisões dos magistrados. Inves-

tigando o Tribunal de Justiça do Paraná, constataa utilidade em reunir em um mesmo inquérito vá-rias dimensões para entender e explicar o com-portamento desses agentes.

Wilson Oliveira enfrenta (e desmistifica) umdaqueles assuntos sobre os quais poucos pergun-tam-se, porque acreditam que ou já sabem a res-posta ou que ela está ao alcance da mão, bastandoconsultar os registros. É o caso dos dirigentesdas organizações ambientalistas e dos movimen-

7/31/2019 Perissinotto & Codato, Por um Retorno à Sociologia das Elites

http://slidepdf.com/reader/full/perissinotto-codato-por-um-retorno-a-sociologia-das-elites 8/9

14

APRESENTAÇÃO

tos ecológicos: imagina-se que eles ocupem asposições de cúpula com base no capital escolaracumulado e na legitimidade conferida pela perí-cia técnica que esses assuntos exigem. Analisan-do esse pessoal desde os primórdios doecologismo no Brasil (1970) até muito recente-mente (2004), Oliveira argumenta que as posiçõesde elite tendem a ser ocupadas por um tipo socialque conjuga exercício de funções técnicas noambientalismo com a inserção simultânea emmúltiplas redes de organizações políticas e movi-mentos sociais e a ocupação de postos em dife-rentes esferas.

Os dois artigos que encerram o Dossiê sãoestudos históricos. Luciano Abreu destaca umaelite incomum: a oligarquia política estadual re-

manescente no regime do Estado Novo. Esmiu-çando a política sulriograndense após 1937, de-monstra que o governo hipercentralizador de Ge-túlio Vargas teve de estabelecer algum compro-misso com as elites estaduais, com base nacooptação e na conciliação.

O estudo de Ernesto Seidl destaca as variadas

combinações de recursos e estratégias acionadospela elite do Exército brasileiro entre o Império e aI República, em especial o uso de relações basea-das na reciprocidade pessoal e as tomadas de po-sição política, para a ascensão na carreira. A apre-sentação e a discussão de duas trajetórias permi-tem entender não só os mecanismos híbridos derecrutamento e seleção regulados por lógicas con-traditórias, mas as transformações do espaço po-lítico e os processos de inovação institucional emcurso no Brasil do período.

O dossiê é uma amostra reduzida da vitalidadecrescente dessa área de estudos, da capacidadede renovação dos seus temas, métodos e aborda-gens e do vasto campo a explorar ainda quandose trata das “elites”. Por falar nelas, esses artigos

são também uma prova daquela capacidade daSociologia ser sempre inconveniente: mostrar ascondições sociais de produção do mundo social eda posição – privilegiada – de alguns agentes so-ciais nele.

 Renato M. Perissinotto e Adriano Codato

BECKER, G. S. 1990. The Economic Approach

to Human Behavior . Chicago : University of Chicago.

BOURDIEU, P. 1989a. Introdução a uma Socio-logia Reflexiva. In : _____. O poder simbóli-co. Lisboa : B. Brasil.

_____. 1989b. La noblesse d’État : grandes écoleset esprit de corps. Paris : Minuit.

BUNCE, V. 1981.  Do New Leaders Make a Difference? Executive Succession and PublicPolicy under Capitalism and Socialism.Princeton : Princeton University.

CARVALHO, J. M. 1996.  A construção da or-dem : a elite política imperial. Teatro de som-bras : a política imperial. Rio de Janeiro :Relume-Dumará.

CHARLE, C. 1987. Les élites de la République(1880-1900). Paris : Fayard.

CLARKE, H. D. &  CZUDNOWSKI, M. M.(eds.). 1987. Political Elites in Anglo- American Democracies : Changes in StablesRegimes. DeKalb : Northen Illinois University.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CZUDNOWSKI, M. M. 1982. Does Who Governs

 Matter? DeKalb : Northern Illinois University.GIDDENS, A. 1974. Preface. In : STANWORTH,

P. & GIDDENS, A. (eds.). Elites and Power in British Society. Cambridge : CambridgeUniversity.

HUNT, L. 2007. Política, cultura e classe na Re-volução Francesa. São Paulo : Companhia dasLetras.

IMMERGUT, E. M. 1998. The Theoretical Coreof the New Institutionalism. Politics & Society,London, v. 26, n. 1, p. 5-34, March.

MCDONOUGH, P. 1981. Power and Ideology in Brazil. New Jersey : Princeton University.

MILIBAND, R. 1982. Resposta a NicosPoulantzas. In : BLACKBURN, R. (org.). Ide-ologia na Ciência Social. São Paulo : Paz eTerra.

POULANTZAS, N. 1982. O problema do Estadocapitalista. In : BLACKBURN, R. (org.). Ideo-logia na Ciência Social. São Paulo : Paz eTerra.

7/31/2019 Perissinotto & Codato, Por um Retorno à Sociologia das Elites

http://slidepdf.com/reader/full/perissinotto-codato-por-um-retorno-a-sociologia-das-elites 9/9

15

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, Nº 30: 7-15 JUN. 2008

_____. 1986. Poder político e classes sociais. SãoPaulo : M. Fontes.

PUTNAM, R. D. 1976. The Comparative Studyof Political Elites. New Jersey : Prentice Hall.

STONE, L. 1971. Prosopography.  Daedalus, v.100, n. 1, p. 46-79, Winter.

THELEN, K. &  STEINMO, S. (eds.). 1994.Structuring Politics : Historical Institutionalism

in Comparative Analysis. Cambridge :Cambridge University.

THERBORN, G. 1989. ¿Como domina la classedominante? Ciudad de México : Siglo XXI.

TSBELIS, G. 1998.  Jogos ocultos. São Paulo :USP.

WRIGHT MILLS, C. 1981. A elite do poder . 4ªed. Rio de Janeiro : Zahar.