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    Histria social de elites

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    Crditos das fotografias da capa:

    1. Diretoria da Caixa Cooperativa de Crdito Santa-Cruzense, 1912. Monografiaempresarial de 50 anos do Banco Agrcola Mercantil S.A. CEDOC-UNISC.

    2. Msicos fundadores do Centro-Musical Porto-Alegrense, 1920. Arquivo doSindicato dos Msicos Profissionais do Estado do Rio Grande do Sul.

    3. Membros do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul (1936). Acervo da

    famlia Vieira Rocha.4. Reunio de maons em Santa Cruz do Sul, dcada de 1920. Acervo do Sport

    Club Corinthians. CEDOC-UNISC.

    5. Maioria Liberal na Assemblia Provincial em 1889. Excavaes Historicas Gaspar Silveira Martins e outras figuras do Rio Grande do Sul CompilaoPosthuma. Olympio Duarte. Porto Alegre, 1933. IHGRGS.

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    Flavio M. Heinz

    (Organizador)

    Histria social de elites

    2011

    OI OSE D I T O R A

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    Dos autores [email protected]

    Editorao: Oikos

    Reviso: Lus M. Sander

    Capa: Flvio Wild

    Arte-final: Jair de Oliveira Carlos

    Impresso: Rotermund S. A.

    Conselho Editorial:

    Antonio Sidekum (Ed. Nova Harmonia)Arthur Blasio Rambo (UNISINOS)Avelino da Rosa Oliveira (UFPEL)Danilo Streck (UNISINOS)Elcio Cecchetti (ASPERSC)Ivoni R. Reimer (PUC Gois)Luis H. Dreher (UFJF)Marluza Harres (UNISINOS)Martin N. Dreher (IHSL e CEHILA)Milton Schwantes (UMESP)Oneide Bobsin (EST)Raul Fornet-Betancourt (Uni-Bremen e Uni-Aachen/Alemanha)Rosileny A. dos Santos Schwantes (UNINOVE)

    Editora Oikos Ltda.Rua Paran, 240 B. Scharlau Cx. P. 108193121-970 So Leopoldo/RSTel.: (51) 3568.2848 / Fax: [email protected]

    Histria social de elites / Organizador Flavio M. Heinz. So Leopoldo:Oikos, 2011.

    168 p.; 16 x 23cm.

    ISBN 978-85-7843-209-6

    1. Elite. 2. Histria social Elite. 3. Histria. I. Heinz, Flavio M.

    CDU 316.344.42

    H673

    Catalogao na Publicao: Bibliotecria Eliete Mari Doncato Brasil CRB 10/1184

    Esta publicao apresenta resultados parciais de pesquisas desenvolvidas no mbitodo projeto PROCAD-NF/CAPES Composio e recomposio de grupos dirigentesno Nordeste e no Sul do Brasil: uma abordagem comparativa e interdisciplinar, reu-nindo equipes do PPGH-PUCRS, PPGS-UFS e PPGCP-UFPR.

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    Sumrio

    Apresentao ....................................................................................... 7

    Condicionantes sociais na composio do alto oficialatomilitar brasileiro (1850-1930) .............................................................. 11

    Ernesto Seidl

    Um negcio entre famlias. A elite poltica do Rio Grande do Sul(1868-1889) ........................................................................................ 28

    Jonas Moreira Vargas

    A transformao do universo das elites no Brasil ps-1930:uma crtica sociolgica ....................................................................... 56

    Adriano Codato

    Promotores em uma instituio em formao: prosopografia etrajetrias dos membros do Ministrio Pblico do RS

    atuantes no Estado Novo .................................................................... 74Marcelo Vianna

    O uso da prosopografia para o estudo de elites locais: o casodos empresrios de Santa Cruz do Sul ................................................. 97

    Andrius Estevam Noronha

    Os agentes do Cinema Novo e os seus antagonistas:ensaio prosopogrfico ....................................................................... 114

    Ricardo De Lorenzo

    Viver da Msica no Brasil: trajetria e estratgias do Centro Musical

    Porto-Alegrense (1920-1933) ............................................................. 134Julia da Rosa Simes

    Nota sobre o uso de anurios sociais do tipo Whos whoem pesquisa prosopogrfica .............................................................. 154

    Flavio M. Heinz

    Sobre os autores ............................................................................... 167

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    Histria social de elites

    Apresentao

    H cinco anos, na apresentao de uma obra coletiva que havia orga-nizado sobre a pesquisa em histria de elites e os usos da prosopografia1,expus ao leitor a ambio que orientara aquela empreitada, a saber, a deoferecer a estudantes e profissionais da rea balanos historiogrficos den-

    sos e estudos pontuais que sugerissem modelos para se pensar a aplicabi-lidade do mtodo [prosopogrfico]. A ideia era sustentar, do ponto devista terico-metodolgico e historiogrfico, as vantagens de se fazer umahistria e uma micro-histria social de elites. Nestes cinco anos, um grandenmero de pesquisadores em Histria e Cincias Sociais incorporou, seno o mtodo, pelo menos um vis quantitativo de tipo prosopogrficoem suas pesquisas sobre elites. Seria demasiado atribuir esse fato ao impac-to de um livro o movimento do campo profissional dos historiadores (ouaquele dos cientistas sociais) e a definio da agenda de pesquisa da reapossuem seus prprios e complexos caminhos , mas certo que a sistema-

    tizao ali proposta encontrou leitores interessados e dispostos a uma infle-xo metodolgica que ajudaria a reposicionar a investigao sobre elites nocampo de uma histria social renovada e vibrante. Rede, campo, estratgia,mediador, formao, agente, carreira, recurso, capital, repertrio, profis-so, comparao e espao so apenas alguns dos topnimos desta novageografia da pesquisa histrica e social sobre o poder e seus agentes.

    Os textos aqui reunidos expem a riqueza deste momento. Eles so,em boa medida, fruto da crescente aplicao do modelo da histria socialde tipo prosopogrfico para a pesquisa de coletividades institucionais, pro-fissionais ou polticas. Tambm refletem certo estgio incipiente, verda-

    de do dilogo interdisciplinar entre Histria, Cincia Poltica e Sociolo-gia. Contudo, preciso destacar que o presente volume j tributrio desteincipiente dilogo. Com efeito, parte significativa das discusses aqui repli-cadas foi travada no interior de grupos de pesquisa associados, desde o final

    1 HEINZ, Flavio M. (org.).Por outra histria das elites. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

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    Apresentao

    de 2009, no projeto PROCAD-NF/CAPES Composio e recomposiode grupos dirigentes no Nordeste e no Sul do Brasil: uma abordagem com-parativa e interdisciplinar. Este projeto rene equipes dos programas deps-graduao em Histria da Pontifcia Universidade Catlica do RioGrande do Sul, de Cincia Poltica da Universidade Federal do Paran e deSociologia da Universidade Federal de Sergipe.

    Os textos

    O primeiro dos textos deste volume, de Ernesto Seidl, Condicionantessociais na composio do alto oficialato militar brasileiro (1850-1930), concentrasua na anlise na carreira de dois militares de alto nvel, na segunda metadedo sculo XIX e primeira metade do sculo XX. O autor demonstra a exis-tncia de uma extensa rede que os conectava ao mundo do poder social epoltico nos perodos em anlise e como essa rede influiu decisivamente emsuas trajetrias de sucesso profissional. Ao cotejar carreiras, Seidl mostracom preciso como a corporao militar, longe de apoiar-se numa lgicaessencialmente profissional e meritocrtica, logo autnoma, esteve perma-nentemente sujeita s injunes da poltica e de um complexo sistema de

    relaes de poder.O tema proposto por Jonas Vargas, no texto seguinte, apoia-se numaperspectiva semelhante. Em Um negcio entre famlias A elite poltica doRio Grande do Sul (1868-1889), o autor nos mostra, apoiado em farta docu-mentao, a dinmica do sucesso da franja superior da elite regional nasduas ltimas dcadas do Imprio. Investigando esta elite da elite regio-nal, cujo diferencial foi exatamente o de ter podido estender seu poderpara alm das fronteiras provinciais e ingressar no universo restrito e alta-mente prestigioso da poltica na Corte, o autor expe de forma irretocvel opapel decisivo que as redes familiares, a camaradagem escolar e o prestgio

    social tiveram em sua projeo e consagrao.Em A transformao do universo das elites no Brasil ps-30: uma crticasociolgica, Adriano Codato expe uma reflexo de tipo bastante diversodas anteriores. Realizando um formidvel esforo de sistematizao teri-ca e historiogrfica, o autor busca compreender a natureza das modifica-es nas elites polticas e administrativas do pas a partir do Estado Novo.No modelo proposto por Codato, a mudana nos perfis sociais e profissio-

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    nais da elite brasileira a chave para a compreenso da reconfigurao dapoltica no pas. Na contramo de explicaes essencialistas que povoam oimaginrio (e a cincia) sobre o campo do poder e seus agentes no Brasil, ocientista poltico lana um olhar propriamente histrico sobre a dinmicado Estado e sua configurao interna, atentando para a necessidade de sebuscar compreender o movimento, as identidades e o perfil das elites ps-30 sob a luz da nova dinmica institucional do regime varguista.

    O texto seguinte, Promotores em uma instituio em formao: prosopo-grafia e trajetrias dos membros do Ministrio Pblico do RS atuantes no Estado

    Novo, de Marcelo Vianna, exemplifica, sem que este tenha sido um objetivoprevisto no livro, o modelo proposto por Codato. Ministrio Pblico e pro-motores, instituio e agentes, so exemplares do processo em curso deredefinio do perfil de atuao profissional das elites do Estado. A trajet-ria do Ministrio Pblico no sentido de seu fechamento institucional e desua crescente autonomizao, as novas competncias requeridas, os even-tos marcantes (concursos) e os tipos de investimento de carreira que se po-pularizam entre promotores e candidatos a promotor, poca, so as bali-zas desse processo. Apresentando densa pesquisa emprica e tratamentorigoroso dos dados, o trabalho de Vianna expe de forma categrica o car-

    ter fundacional do processo em que instituio e agentes estiveram en-volvidos ao longo do Estado Novo.

    O prximo texto, de Andrius Noronha, O uso da prosopografia para oestudo de elites locais: um esboo metodolgico (o caso dos empresrios de SantaCruz do Sul), recupera passo a passo o roteiro da pesquisa da tese de douto-rado realizada pelo autor, destacando algumas etapas tecnicamente rele-vantes e desafiadoras da pesquisa prosopogrfica, em especial aquelas dadelimitao do grupo a ser estudado e do tratamento de sua diversidadegeracional.

    Os dois textos seguintes, Os agentes do Cinema Novo e seus antagonis-

    tas: ensaio prosopogrfico, de Ricardo De Lorenzo, e Viver da msica no Bra-sil: trajetria e estratgias do Centro Musical Porto-Alegrense (1920-1933), de JuliaSimes, remetem a um universo em primeira impresso um pouco maisdistanciado do universo da poltica e do Estado, at aqui explorado. Digoem primeira impresso porque ambos os autores terminam por recuperarde certa forma a incidncia da poltica e do poltico em suas anlises. O

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    Apresentao

    elemento comum destes textos o de destacar elites ou grupos profissio-nais do campo artstico.

    Esta uma direo possvel e cada vez mais frequente dos trabalhosem histria social de elites: a incluso das dinmicas de emergncia, conso-lidao ou desestruturao de grupos profissionais como objetos legtimosda pesquisa histrica. Assim, ao cotejar os cineastas do Cinema Novo e ogrupo de cineastas que denomina seus antagonistas, De Lorenzo realizauma operao metodolgica sofisticada, contrapondo dois perfis coletivosde cineastas e mostrando como a dimenso do sucesso ou da notoriedade

    est associada, para alm da simples validao esttica, a uma srie de outrasvariveis, como as conexes com a imprensa e o acesso ao financiamen-to estatal.

    Por sua vez, os msicos do Centro Musical Porto-Alegrense analisa-dos por Simes se oferecem lente da micro-histria social como o fariamcertas elites profissionais circunscritas a um determinado quadro instituci-onal, como os mdicos de uma faculdade ou os engenheiros de uma escolapolitcnica. O que atrai o historiador social anlise desse grupo de msi-cos a capacidade de se mergulhar numa coletividade mais ou menos coe-sa, mais ou menos delimitada, de uma trajetria plena de historicidade,

    detentora de esquemas de produo simblica e de reproduo profissionalespecficos. No caso em tela, a autora reconstitui de forma elegante e preci-sa o timing infeliz que combina a trajetria declinante de uma atividadeprofissional e a crescente imposio, interna e externa, de sua instituciona-lizao. Tal como no texto j citado de Vianna, Simes descobre nos msi-cos porto-alegrenses das primeiras dcadas do sculo XX, em seu movi-mento em direo associao, uma tima oportunidade para a realizaode uma histria social de profisso e de instituio.

    Por fim, um pequeno esboo metodolgico de minha autoria, Nota sobre o uso de anurios sociais do tipo Whos Who em pesquisa prosopogrfica,

    evoca o uso destas fontes biogrficas padronizadas que so os dicionriosbiogrficos e os anurios sociais para a elaborao de biografias coletivasde elites ou grupos profissionais.

    Boa leitura a todos.Flavio M. Heinz

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    Histria social de elites

    Condicionantes sociais na composio

    do alto ofic ialato mili tar brasileiro

    (1850-1930)

    Ernesto Seidl

    Se as noes de hierarquia institucional e de mrito so moeda cor-rente nos estatutos do Exrcito brasileiro desde meados do sculo XIX, asevidncias empricas coletadas ao se examinarem as carreiras profissionaisdo alto oficialato militar at o final da Primeira Repblica trazem tona demodo contundente a discrepncia entre princpios formais e realidade ob-jetiva na estruturao daquela carreira. Sem dvida, a configurao do Exr-cito no perodo oferece caso exemplar de um amlgama combinando si-multaneamente princpios meritocrticos atrelados lgica escolar, uni-

    versalidade das regras e ao cumprimento previsto de etapas de carreira comoutros baseados, sobretudo, no prestgio social e em relaes de reciproci-dade pessoal1.

    Embora a literatura acadmica, de horizontes variados, faa mlti-plas referncias a este tipo de situao, com frequncia em termos bastantegerais com respeito a um Estado patrimonial, neopatrimonial ou estamen-tal, a uma burocracia ou cultura burocrtica brasileira, ou ainda, maisgenericamente, a uma cultura brasileira avessa a regras formais e essencial-mente personalista , so menos comuns estudos que tentem dar conta em-piricamente da questo2. Alm disso, como destaca Garcia Jr. (1993, p. 89),

    o clientelismo frequentemente descrito como uma sobrevivncia de pr-ticas polticas tradicionais, destinadas a desaparecer quando o Estado nacio-

    1 Este artigo d continuidade a discusses sobre a formao de elites institucionais no Brasiliniciadas em Seidl (2002, 2008a, 2008b, 2009, 2010).

    2 Um dos poucos exemplos o trabalho de Coradini (1997) sobre as elites da Medicina.

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    nal instalado. Por essa tica, a coexistncia entre instituies pblicasracionais e de carter universal (representao poltica e burocracias admi-nistrativas), situadas no topo do Estado, e o particularismo das clientelaslocais interpretada como um momento de transio.

    A perspectiva assumida neste texto evita qualquer discusso acercade um suposto cartertransitrio (logo, evolutivo) dos padres de funciona-mento do Estado e de suas instituies no Brasil. Muito menos se trata deadotar posturas normativas face a evidncias de falta/presena de determi-nados elementos na ordem poltica do pas: racionalidade, meritocracia,

    liberalismo, clientelismo, patrimonialismo, favoritismo... O ponto de inte-resse da discusso aqui proposta est na possibilidade de apreenso de par-te das lgicas sociais e culturais operantes na esfera do Estado atravs doestudo das engrenagens de constituio de uma determinada elite ao longode um perodo histrico de progressiva modernizao do aparato de admi-nistrao estatal.

    Com este tipo de expediente, acredita-se ser possvel avanar algo nacompreenso de uma srie de processos que compem o que se convencio-nou chamar de construo do Estado nacional. com essa perspectiva,portanto, que o exame dos itinerrios sociais e profissionais dos membros

    do generalato do Exrcito brasileiro entre 1850 e 1930 empreendido nesteestudo ganha sentido. Entre outros aspectos, permite que se enfrentem ques-tionamentos sobre prticas sociais, concepes e significados em jogo nainterao de atores e de grupos que so a carne e o osso de instituiesburocrticas e de corporaes profissionais do Estado. Esse o tipo de pro-blemtica encarada, por exemplo, ao se objetivarem as condies de reali-zao de uma carreira de xito ou de formao de uma elite, se assim sepreferir no Exrcito.

    Optou-se neste trabalho pela apresentao de dois casos de carreirasmilitares bem-sucedidas3. Ambos situam-se entre a segunda metade do s-

    culo XIX e as primeiras dcadas do sculo XX, porm se desenvolvem emcontextos distintos de fortes mudanas ideolgicas e poltico-institucionais,

    3 A investigao envolveu um conjunto de 56 carreiras de generais do Exrcito nascidos no esta-do do Rio Grande do Sul.

    SEIDL, E. Condicionantes sociais na composio do alto oficialato militar brasileiro (1850-1930)

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    como a crise do Imprio, a afirmao do republicanismo e as disputasem torno da adoo de modelos burocrtico-organizacionais. Nos dois ca-sos, a anlise procura objetivar os patrimnios de recursos disponveis paraos agentes em diferentes etapas e contextos de seus itinerrios em conexocom as estratgias de carreira adotadas e com o acionamento de repertriosmarcados por relaes de reciprocidade e filiaes a grupos polticos.

    General Medeiros Mallet (1840-1907): a herana militar

    e as vantagens de um bom nomeFilho do renomado marechal Emlio Luiz Mallet, baro de Itapevi e

    futuro patrono da Artilharia do Exrcito brasileiro, nascido na Frana masde carreira transcorrida no Brasil imperial, Joo Nepomuceno era o maisnovo dentre quatro irmos. Pelo lado paterno, sua famlia descendia deantiga nobreza feudal e guerreira da Frana, sendo seus ancestrais os Siresde Graville, destacados bares feudais da Alta Normandia (Almeida, 1961,p. 147). Seu av era armador de navios, proprietrio de um estaleiro emDunquerque e possuidor de fortuna, mas perdera tudo por ocasio darevoluo nas Antilhas. Nessas condies, transferiu-se com a famlia para

    o Brasil em 1818 e logo tratou de adquirir terras na baixada fluminense,para plantao de cana-de-acar. No ano seguinte, sua esposa, dama deilustrao incomum e irm do naturalista Pierre Denys de Montfort,fundou o Colgio Mallet, que funcionou, com bom xito, por muitos anos(ibid, p. 175). Este estabelecimento, [...], tornou-se logo famoso e, em suassalas de aula, passou a abrigar as meninas das mais importantes famlias daCorte (ALVES, 1979, p. 44).4

    Remonta a esse perodo o estabelecimento de relaes da famliaMallet com o imperador e seus crculos mais prximos, as quais seriam

    4 A principal fonte utilizada sobre as origens familiares, o itinerrio escolar e os primeiros anos decarreira de Mallet foi a biografia produzida sobre seu pai, membro do panteo militar nacional(Alves, 1979, p. 44). Estas informaes foram complementadas com outras relativas ao conjuntode sua carreira, os laos com a poltica e suas tomadas de posio, disponveis de modo esparsoem Almeida (1961), Banha (1984), Beloch & Abreu (1984), Bento (1976, 1994, 1995), Cunha(1966), Lago (1942), Magalhes (1958), McCann (2009), Malan (1988) e Silva (1940).

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    mantidas e reforadas pelos familiares ao longo de todo o Imprio. Atravsda maonaria, Jean Antoine, av de Joo Nepomuceno, entrara em conta-to com o Prncipe Regente, vindo a se tornar seu amigo, assim como deoutras eminentes personalidades da poca. Inicialmente, essa amizadeiria refletir-se sobre o Colgio, no tardando que comeasse a receber bol-sistas da Casa Imperial (ibid, p. 44). Porm, ainda muitos outros benefci-os seriam dispensados em seu nome.

    Emlio Luiz, filho de Jean Antoine, havia iniciado os estudos na Fran-a e na Blgica, onde cursara as primeiras letras e humanidades, vindo pos-

    teriormente a ingressar na Escola Militar de Saint-Cyr e a concluir o cursode Matemtica. No Brasil, antes de ingressar nas fileiras do Exrcito, co-meara a trabalhar como professor no Colgio fundado por sua av. Noentanto, no demoraria a lhe surgir a oportunidade de seguir o seu cami-nho. Sua entrada na carreira que o levaria ao mais alto posto militar deu-se a partir de um convite direto do imperador, o qual, ao prestigiar o casalMallet com sua presena em uma festa de formatura, conhecera o jovemprofessor Emlio pessoalmente, muito alto, extrovertido e bem falante.Sabendo de sua vocao para a carreira das armas desde a Frana, convi-dou-o logo a juntar-se ao florescente exrcito brasileiro, em vias de organi-

    zao (ibid, p. 44 e segs.), o que se deu de fato em 1822, quando Emlioassentou praa como 1 cadete5.

    Designado para servir no extremo sul do pas na Campanha da Cis-platina (1825-1828), aps o final da guerra Emlio casou-se em Bag comJoaquina Castorina de Medeiros, filha do coronel e abastado fazendeiroAntnio Medeiros da Costa. Ao ser demitido do Exrcito em 1831, porefeito da lei que impedia a permanncia de estrangeiros nas fileiras da ins-tituio, passou ento a administrar uma das fazendas de seu sogro naque-la cidade, inicialmente com a produo de alfafa e em seguida montando

    5 Adotado em Portugal no sculo XVII, o ttulo de cadete conferia aos filhos da nobreza o direitoa ingressar na carreira das armas com a honra de oficiais, abrindo-lhes assim privilgios nega-dos a outros grupos sociais. Transplantado para o Brasil, sofreu modificaes significativas emseu contedo e usos. Originalmente destinado aos jovens que tivessem comprovada sua ascen-dncia nobre, o ttulo de cadete rapidamente passou a ser alvo de camadas menos restritas dapopulao. Mais detalhes em Cidade (1961), Cunha (1966) e Seidl (2010).

    SEIDL, E. Condicionantes sociais na composio do alto oficialato militar brasileiro (1850-1930)

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    uma olaria. Em pouco tempo tornou-se figura de destaque local e nacomunidade reconhecido como elemento de cultura superior, com a men-te orientada para o progresso e a civilizao (ibid., p. 74). Do matrimniohouve quatro filhos: os trs homens foram militares e a filha casou com umcoronel possuidor de muitas terras. Os dois irmos mais velhos no tive-ram o mesmo xito militar que Joo Nepomuceno, filho mais novo dafamlia. Um deles, Pedro Flix, deixou o Exrcito no posto de capito, po-rm logo assumiu o Comando Superior da Guarda Nacional em So Ga-briel, no posto de tenente-coronel. Era tambm proprietrio da antiga fa-

    zenda do Itapevi e destacado membro do Partido Liberal nas regies deCacequi, So Vicente e Rosrio. Casou com Bernardina Leocdia dosSantos, filha do coronel Serafim Jos dos Santos, proprietrio de terras noUruguai. Seu outro irmo, Jlio Antnio, chegou ao posto de major.

    De modo semelhante entrada de seu pai na carreira das armas, tam-bm Joo Nepomuceno teve a possibilidade de prosseguir seus estudos e tercontato direto com a vida na Corte imperial a partir do uso do capital derelaes acumulado pelo grupo familiar. Tendo iniciado os estudos em Bag,onde frequentou o curso primrio e parte do secundrio com real provei-to, foi levado pelo pai ao Rio de Janeiro em princpios de 1856, com desti-

    no ao Colgio Episcopal de So Pedro de Alcntara, onde ficou aos cuida-dos do velho amigo da famlia, ex-presidente da provncia de Santa Cata-rina e marechal Joo Carlos Pardal, seu futuro sogro. Seguindo a vocaomilitar, vinda de geraes na famlia, Joo Nepomuceno teve seu ingressocomo praa em 1857. Em paralelo, aps 20 anos de afastamento do Exrci-to, a esta altura seu pai j havia sido readmitido ao oficialato.

    Ao lado das ligaes com o imperador, sem dvida um dos maiorestrunfos de que dispunham os Mallet em meio ao conjunto de relaesapresentadas determinante no sucesso das carreiras tanto do pai quan-to do filho, ambos militares que chegaram ao topo da hierarquia do Exrci-

    to , era a amizade entre Emlio Luiz e o militar e lder poltico Osrio(futuro marechal, senador e ministro da Guerra). Esta remontava ao tempoem que Emlio Luiz viera servir no Rio Grande do Sul onde se conhece-ram e se tornaram grandes amigos quando ainda eram oficiais nos primei-ros postos e era igualmente transpassada por uma relao de parentescoindireto e de compadrio. Osrio era casado com Francisca Fagundes, filha

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    de Zeferino Fagundes de Oliveira, fazendeiro e juiz de Paz de Bag, o qualera concunhado do coronel Antnio de Medeiros (sogro de Mallet), poissuas esposas eram irms. A noiva de Osrio era, portanto, prima-irm daesposa de Emlio Luiz Mallet e este foi seupadrinho de casamento.

    Como foi possvel constatar para parcela muito expressiva dos oficiaisdo Imprio, a constituio de uma aliana matrimonial entrelaando fa-mlias de militares detinha espao importante entre as estratgias de re-produo social e de ampliao do capital social com base na famlia6.Assim como nos casos de seu pai e irmos, os dois matrimnios de Joo

    Nepomuceno permitiram-lhe acumular gama crescente de relaes dentroe fora do meio militar. Em seu primeiro casamento, desposara a filha doento coronel e futuro marechal Joo Carlos Pardal, amigo antigo de seupai e de infncia do Imperador, o qual, entre outros cargos importantes,fora presidente da Provncia de Santa Catarina, diretor do Arsenal de Guerrada Corte, Secretrio do Conselho Supremo Militar e governador das Ar-mas da Corte. Desse enlace resultaram trs filhos: Joo Carlos, escritor e jornalista; Emlia, que casou com o coronel Francisco de Castilhos Jac-ques; e Ana, que casou com o marechal Antnio Geraldo de Souza Aguiar.Em suas segundas npcias, em 1880, novamente Joo Nepomuceno uniu-

    se famlia de um militar de alta patente. Casou com Maria Carolina Velo-so Pederneiras, filha do marechal gacho Inocncio Veloso Pederneiras (ba-ro de Bojuru), ex-Comandante da Escola Militar de Porto Alegre e porduas vezes eleito deputado.

    Tendo realizado seus estudos militares e obtido os cursos de Enge-nharia Geogrfica e Militar, de Artilharia e ainda o ttulo de Bacharelem Cincias Fsicas e Matemticas, Joo Nepomuceno tambm teve aoportunidade de ir ao campo de batalha durante a Guerra do Paraguai,onde serviu no posto de capito junto a seu pai e ao general Osrio. Esteltimo, ao ser escolhido para assumir o Ministrio da Guerra em 1878,

    tratou em seguida de convidar o ento major Joo Nepomuceno para seu

    6 Quanto utilizao de estratgias matrimoniais e suas relaes com a reproduo social, verDesrosires (1978), Charle (1987) e Bourdieu (1980, 1989, 1994). Sobre grupos familiares ecarreiras no Exrcito, consultar Seidl (2002).

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    Gabinete, pois Osrio, a cujas ordens servira no Paraguai, muito o aprecia-va, pela inteligncia e valor pessoal e desejava tambm assim prestar umahomenagem ao velho Emlio Luiz Mallet, ainda brigadeiro e a quem confi-ara o comando da fronteira Quara-Livramento (ALMEIDA, 1961, p. 194).Ainda alm disso, o ministro, que sempre procurou recompensar a todosos bravos do Paraguai, elevou-o ao posto de tenente-coronel, por mereci-mento. Com a morte de Osrio em 1879, o presidente do Conselho deMinistros, que o substituiu na pasta da Guerra, nomeou o tenente-coronelMallet segundo comandante da Escola Militar da Praia Vermelha, na capi-

    tal federal.Embora oriundo de grupo familiar aristocrtico, filho de um ma-

    rechal do Exrcito e baro do Imprio com fortes vnculos na Corte, o con-texto poltico e as experincias no Exrcito em especial o fato de servir noParaguai favoreceram em Joo Medeiros Mallet uma orientao afinadacom o tom de sua gerao. Politicamente, era considerado um republica-no histrico; do ponto de vista militar, apresentava uma postura profissio-nalizante e modernizadora. Sua passagem como ministro da Guerra, aos59 anos de idade, foi marcada por esforos para reformular a organizao eo treinamento da corporao (McCann, 2009, p. 106-117).

    Tendo tomado parte nas deliberaes do Clube Militar no perodoque antecedeu o golpe de 1889, e sendo amigo de Pedro II pois, comovisto, herdara um conjunto de relaes com a Coroa que remontavam aoav paterno, sabendo entret-las e ampli-las , Mallet foi incumbido pelogrupo de proclamadores de falar com o imperador deposto para queembarcasse na mesma noite do golpe republicano. Como ocorreu commuitos outros oficiais no incio da Repblica, Mallet foi imediatamentealado a um posto poltico, sendo nomeado governador do Estado do Cea-r e graduado coronel por servios relevantes ao regime. Poucos anosmais tarde, j no posto de general e envolvido na agitao poltica contra o

    governo do marechal Floriano Peixoto, assinou o manifesto dos 13 gene-rais, sendo ento reformado por motivos polticos. Dois anos mais tar-de, porm, revertia ativa, vindo pouco tempo depois a ocupar cargos dealto escalo, como o de ministro do Supremo Tribunal Militar e o de minis-tro da Guerra.

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    General Bertoldo Klinger (1884-1969):um jovem turco entre a tcnica e a poltica

    O estudo da trajetria de Bertoldo Klinger revela condies sociaisde realizao profissional que diferem em certa medida daquelas apre-sentadas pelo conjunto de altos oficiais examinados. Os principais recursose estratgias utilizados para a ascenso condio de elite do Exrcito con-tinuaram a ser basicamente o uso de relaes personificadas com membrosda elite militar e com agentes ligados s esferas mais altas do poder poltico,

    relaes estas geralmente acumuladas atravs do grupo familiar. No entan-to, o que h a ser destacado em seu caso a forma como tais recursos, emcombinao com outros mais especficos, foram obtidos e mobilizados,configurando uma situao particular.

    Contrariamente ao que ocorre na maioria dos casos estudados, em que,de modo geral, j de incio os agentes detinham montante relativo de capitalsocial herdado, cuja estrutura fundamental se baseava em relaes do grupocom agentes prximos ao poder poltico e burocracia estatal, o caso deKlinger tem-se situao algo diversa. Ao passo que a maior parte das trajet-rias dos componentes da elite estudada seguia a direo que ia da utilizao

    de relaes com agentes socialmente bem posicionados polticos e militaresde alta patente em especial sua reconverso em trunfos militares e outros(cargos poltico-administrativos, ttulos de nobreza), v-se em seu caso, mar-cado pela ausncia relativa de um capital slido de relaes e de notoriedade,investimento muito grande na aquisio de recursos de natureza escolar ecultural, orientado desde cedo pelos pais, e a adoo de estratgias de carrei-ra mais arriscadas. Assim, medida que seus sucessos e, em particular, suaconcepo marcante frente profisso permitiam-lhe acumular certo pres-tgio militar, teve a possibilidade de desenvolver gradativamente boas rela-es internas e externas instituio, as quais seriam fundamentais para seu

    progresso futuro. Por fim, ao atingir uma posio de maior prestgio no seiodo Exrcito, deu-se seu envolvimento mais direto com a poltica, como nomovimento de 30 e na revoluo paulista de 1932, de onde resultaramtanto sua promoo ao generalato quanto sua reforma precoces.

    Um dos indcios mais evidentes do esforo empreendido por Bertol-do Klinger na obteno de recursos culturais e escolares, mas tambm da

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    transmisso domstica de um determinado capital cultural pelos pais e suaforte orientao ao filho para os estudos7, encontra-se em suas disposies escrita e, de modo geral, a atividades ligadas literatura e ao jornalismo.Ao longo da vida, produziu quantidade extraordinria de material escrito,chegando a um total de 24 livros, entre tradues de obras alems e partici-pao em coletneas e outros, e mais de 140 artigos, incluindo notas, edito-riais e tradues. SuasNarrativas autobiogrficas, que serviram como princi-pal fonte para este trabalho, so compostas de sete longos volumes e forameditadas entre 1944 e 1953, cada volume correspondendo a um posto seu

    na hierarquia militar. Alm disso, Klinger defendia uma Ortografia Simplifi-cada Brasileira, por ele criada em 1940, cuja ideia central era simplificar eracionalizar a lngua portuguesa, estabelecendo para cada fonema ape-nas um nico grafema. Toda sua publicao a partir daquela data, incluin-do a autobiografia, foi escrita de acordo com aquelas regras.

    Bertoldo Klinger nasceu em Rio Grande, extremo sul do Rio Grandedo Sul, em 1884, filho de um imigrante austraco e de uma descendente dealemes. Seu pai trabalhou como agricultor (colono) e professor at 1883,tornando-se ento proprietrio de uma cervejaria e ampliando em breve onegcio com a produo de malte. Em 1891, pouco depois da promulgao

    da Constituio que permitia a nacionalizao dos imigrantes, foi nomea-do capito da Guarda Nacional, chegando ao posto de major e tambmvindo a ocupar o cargo de conselheiro municipal. Alguns anos mais tarde,Antnio Klinger fechou suas duas fbricas e se transformou em represen-tante de uma poderosa cervejaria, sediada em Pelotas e pertencente a seusdois cunhados, ao mesmo tempo em que abria uma fbrica de sabo e develas, depois transformada em fbrica de gelo. Alm dos cunhados, outrosparentes prximos possuam cervejarias em Porto Alegre e So Loureno.Pelo ramo materno, Bertoldo descendia da famlia Ritter, a quem maistarde, quando j reformado, Klinger dedicar uma (ltima) obra intitulada

    Uma famlia Ritter no Brasil desde 1846, na qual escreve que, em um sculo deexistncia no pas, esta j somava 385 famlias, com cerca de 2.000 pessoas.

    7 A respeito das relaes entre a posio social dos agentes, a transmisso do capital cultural e oincentivo familiar ao investimento em diferentes recursos escolares e culturais, ver Bourdieu(1966 e 1979).

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    A nfase nos estudos, desde pequeno, foi um dos traos marcantes desua infncia e adolescncia, o que futuramente lhe traria benefcios impor-tantes na carreira que vislumbrava. Em casa, falava alemo com os pais etomou aulas particulares para aperfeioar a lngua, tendo tambm recebidoum bom ensino de francs. Fez os estudos bsicos em dois colgios ale-mes e um francs, em Rio Grande, onde permaneceu at os 15 anos deidade, quando ento entrou para a Escola Preparatria e de Ttica de RioPardo. Atrado pelo Exrcito desde que era criana, sem jamais ter pen-sado em outra profisso, teve seu ingresso na carreira em 1899. Segundo

    Klinger, esse lhe foi facilitado [...] porque me apresentei carregado de pre-paratrios, pois aos treze anos e quatorze fizera, com bom xito, na dele-gacia da instruo pblica, [...], exames de portugus, francs, alemo, ge-ografia, histria, aritmtica, lgebra e geometria. Alm disso, essa baga-gem me permitiu fazer em dois anos o curso daquela escola, que normal-mente era de trs (KLINGER, 1944, p. 18). De estatura muito baixa,temendo no ser aceito no Exrcito, levou consigo duas cartas de reco-mendao cuja origem no revela , uma ao comandante da Escola eoutra a um capito professor.

    Uma vez aceito, destacou-se rapidamente em meio aos colegas, rece-

    bendo o prmio de melhor aluno da Escola. Deu continuidade aos estudosmilitares na Escola da Praia Vermelha, mas foi excludo em 1904 por tomarparte na Revolta da Vacina, quando foi preso e, em seguida, anistiado. Trans-ferido para o Realengo, pde ento concluir os cursos de Engenharia e deEstado-Maior. Terminada sua formao como oficial, aps servir em diver-sas comisses de engenharia, surge-lhe a oportunidade de tomar parte emum grupo de oficiais que estagiariam na Alemanha, conseguindo uma vaga.

    A partir deste estgio, do qual tirou grande proveito pela familiari-dade com a lngua e recebeu grandes elogios de seus superiores alemes,a carreira de Klinger seria pautada pela constante defesa da utilizao de

    esquemas organizacionais e avanos tcnico-blicos importados da Alema-nha. Ao retornar do estgio, juntamente com outros oficiais fundou e foiredator-chefe da revista militarA Defesa Nacional, futuro principal meio dedivulgao daqueles princpios. Ao lado de uma defesa da adoo das tc-nicas e materiais empregados pelo exrcito alemo, colocavam igualmentenfase na aplicao da lei do recrutamento por sorteio, na ampliao do

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    ensino militar secundrio e superior e na modernizao do Exrcito comoum todo8.

    Valendo-se habilmente desse trunfo, Klinger dedicaria grandes esfor-os em divulgar suas posies com respeito identidade militar e s ta-refas do Exrcito nacional, especialmente atravs de artigos na revista eem jornais. Inicialmente centrado em defender as tcnicas e os armamen-tos alemes, medida que adquiriu maior notoriedade e alcanou postosmais elevados na hierarquia passou a tomar posies mais explcitas e mar-cadas frente aos mecanismos de ascenso militar e ao universo da polti-

    ca. Em suma, dado o desfavorecimento imposto por suas condies sociais,cujos recursos tinham pouco valor objetivo no interior da esfera militar,Klinger tendia a adotar estratgias de maior risco, como fica claro em seuincessante questionamento das regras que regulavam a carreira de oficial.Com efeito, no h nada de fortuito no fato de ele se opor com tanta vee-mncia a mecanismos que valorizavam recursos dos quais no dispunha,ou seja, aqueles com base em relaes pessoais e materializados no favori-tismo, filhotismo, apadrinhamento e outros equivalentes. Em contra-partida, lanava-se na luta, como dizia, pela valorizao do oficial detropa e do servio arregimentado, da instruo e preparao tcni-

    ca e daquilo que chamava de religio e higiene do trabalho.A intensidade das crticas e comentrios de Klinger realidade

    do Exrcito, crescente a partir da criao de A Defesa Nacional9, teve impactoforte sobre sua posio no interior da instituio. Em 1918, ao se pronunciarcontrrio escolha de ministros civis para pastas militares e ao contrato deuma misso militar francesa que seria encarregada de promover uma reorga-nizao institucional, teve seu nome excludo do quadro de promoes parao perodo. Particularmente quanto Misso Francesa, mesmo integrando acomisso de oficiais encarregada de receb-la, manifestou fortes restries a

    8 Pela influncia da doutrina alem em suas argumentaes, os oficiais agrupados em torno darevista passaram a ser chamados dejovens turcos, em aluso aos militares turcos que, depois deestagiarem na Alemanha, introduziram reformas polticas e militares em seu pas. Ver mais arespeito em McCann (1984, 2009).

    9 Foi redator-chefe da revista de 1913-1915 e de 1918-1920. Tambm escrevia com regularidadena imprensa civil, mais assiduamente na Gazeta de Notcias, graas s relaes que o nossocompanheiro de redao Pantaleo Pessoa estabelecera com o simptico secretrio CndidoCampos [...] (Klinger, 1946, p. 141).

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    seus objetivos. A este posicionamento seguiu-se seu envio como adido mili-tar ao Peru, afastando-o temporariamente do centro das discusses militares.

    De volta ao Brasil em 1922, ops-se ao levante tenentista eclodido noRio de Janeiro e no Mato Grosso, constituindo-se aos poucos em um deseus maiores opositores. Segundo o oficial gacho, este movimento no iaalm da expresso de interesses meramente pessoais perpassados porambies de carter poltico. No entanto, ao mesmo tempo em que con-denava o envolvimento de militares com a poltica em um dado plano,sustentava-o em outro, mais elevado, pessoalmente desinteressado. E

    para isso, aproximando-se cada vez mais de uma posio nitidamente mili-tarista, no sentido da concepo de um oficialato militar como frao sociale politicamente privilegiada a participar da poltica nacional, Klinger pro-cedia em seus textos a uma redefinio da concepo de poltica, dividin-do-a entre verdadeira poltica e politicagem. Da primeira, e exclusi-vamente desta, deveriam ocupar-se por excelncia os militares, posto queseriam melhor preparados para executar as tarefas de interesse nacio-nal, sem particularismos e interesses de outra natureza.

    Ao tentar definir os limites do legtimo e do ilegtimo quanto parti-cipao dos militares na poltica, por meio de categorias como defesa e

    interesse nacional, politicagem e verdadeira atividade poltica, Klinger passavatambm a afirmar a vocao das Foras Armadas para o papel de lide-rana do pas, identificando-as com os mais altos valores da nao. En-tretanto, ainda que apresentasse tais concepes, seu envolvimento maisdireto em movimentos de cunho poltico s se daria no perodo prximo smudanas ocorridas em 1930, das quais foi um dos protagonistas. At l,seria procurado em diversas oportunidades para liderar levantes e conspira-es contra a situao poltica em vigor, notadamente pelos lderes tenentis-tasJoaquim e Juarez Tvora, com quem manteria contato ao longo de anos.Por suspeita de colaborao com os rebeldes que ocuparam So Paulo por

    trs semanas em 1924, Klinger foi julgado e preso, embora negasse a acusa-o, afirmando somente ter sido procurado durante a fase conspirativa10.

    10 Em suas memrias, de trs volumes, Juarez Tvora afirma que a participao de Klinger foibem mais expressiva, pois ele teria integrado o estado-maior do general Isidoro Lopes, seuconterrneo.

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    Nesse perodo, viria a aumentar suas atividades jornalsticas, inician-do colaborao no peridico O Jornal, mediante recomendao sua ao Dr.Chateaubriand feita pelo major Leito de Carvalho, e tambm retornan-do redao de A Defesa Nacional. Com respeito a suas atividades no quedenomina a frente da imprensa, Klinger escreve que de qualquer modoeram ainda, a bem dizer, servio militar: com a pena, utilizando a maisampla publicidade, eu prolongava e aumentava a minha atuao profissio-nal, com tendncias de doutrinao, para alm e acima do estreito raio dasminhas funes militares (id., 1950, p. 101-102). De fato, amplamente

    conhecido por suas publicaes, estas lhe forneciam canal importante decontato com os principais lderes polticos do pas. Em 1929, recebeu oconvite de Assis Chateaubriand para conversar com Osvaldo Aranha e Afr-nio de Melo Franco dois lderes oposicionistas pertencentes AlianaLiberal e apoiar a chapa Getlio-Joo Pessoa. Inicialmente avesso ideia,meses mais tarde, aps entendimento promovido por seu velho amigogeneral Malan, um dos subchefes do Estado-Maior do Exrcito, assumiu achefia do Estado-Maior do 1 Grupo de Regies Militares (sediado no Rio),comandado pelo general gacho Joo de Deus Menna Barreto, a quemKlinger diz ter convencido a aderir ao movimento.

    Uma vez realizada a destituio do ento presidente Washington Luse dominada a situao pelos revolucionrios, Bertoldo Klinger passou acomandar o Estado-Maior das autodenominadas foras pacificadoras,isto , os contingentes da capital comprometidos com o golpe, e foi tam-bm nomeado chefe de Polcia do Distrito Federal. Porm, em pouco tempoviria a romper com os ideais da revoluo, segundo ele trados em nomede todos os vcios que sempre condenara, mas principalmente a aplicao deregras externas na gesto das carreiras de oficiais do Exrcito, como ocorreucom as rpidas promoes de oficiais revolucionrios e, em particular, nocaso dos primeiro-tenentes promovidos por merecimento11.

    Ele prprio fez parte da primeira leva de generais escolhidos pelonovo governo ao lado de Gis Monteiro, ainda tenente-coronel em 1931,

    11 Desde a introduo do regulamento do Exrcito de 1850, as promoes at o posto de capitodeveriam ser exclusivamente regidas pelo princpio da antiguidade, subentendida a posse docurso das armas.

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    promovido a coronel e general no espao de dois meses (!) , tornando-seum dos mais jovens generais do Exrcito brasileiro de toda a Repblica, aos47 anos de idade. Em seguida promoo, foi nomeado para servir emMato Grosso (segundo ele, umFar West), como forma de afast-lo do cen-tro do poder, demonstrando-se ento cada vez mais hostil corrente hege-mnica dos tenentes.

    Quando no Mato Grosso, estabeleceu contatos no Rio de Janeirocom oficiais igualmente contrrios ao tenentismo e ao Governo Provisrio,os quais organizaram a Unio da Classe Militar(UCM), para defender o

    reforo da disciplina e o afastamento das foras armadas da vida poltica.A partir desse ncleo, formaram-se os primeiros entendimentos entre cor-rentes militares dissidentes e as foras paulistas que tambm combatiam ogoverno central e defendiam a devoluo da autonomia estadual e a re-constitucionalizao do pas, liderados pelo general gacho Isidoro DiasLopes. Klinger aderiu ao movimento e assumiu o comando das forasconstitucionalistas que desencadearam sua ao em So Paulo em 1932,episdio relatado no livro-depoimentoNs e a ditadura a jornada revolucio-nria de 1932, escrito em colaborao com outros futuros generais.

    Com a derrota da revoluo, Klinger foi preso e exilado em Lisboa,

    onde, juntamente com outros oficiais constitucionalistas, criou um con-selho de generais para reorganizar o movimento. Depois do exlio, dedi-cou-se com intensidade literatura, redigindo suas memrias, traduzindopublicaes alems e ainda realizando estudos genealgicos da famliamaterna e uma nova ortografia para a lngua portuguesa.

    Consideraes finais

    A perspectiva assumida na pesquisa que deu origem a este trabalhoapostou na capacidade de se compreender as lgicas de funcionamento de

    parte do Estado brasileiro a partir de uma de suas corporaes mais funda-mentais. Mais do que isso, procurou tambm captar em alguma medidaparte das relaes entre determinados grupos sociais e conjuntos de opor-tunidades ofertadas pela estrutura estatal em perodo de franca expansoinstitucional.

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    Como demonstrado, a baixa autonomia da carreira militar frente lgica da poltica, do pertencimento familiar e das relaes personalizadaspermite entender as fortes ambiguidades, tenses e aparentes absurdos ges-tados dentro de um espao oficialmente regido pelo princpio do mrito eda racionalidade burocrtica. por essa via, portanto, que ganham inteligi-bilidade investimentos, lances e apostas de agentes sociais para quem asnoes deprofisso e de carreira militarjamais se limitaram s meras defini-es regimentais produzidas pelo Estado. Embora produzidas com a racio-nalidade do mrito, estas foram majoritariamente interpretadas e consumi-

    das em favor de grupos j beneficiados por origens sociais mais elevadas epor inseres em redes de relaes privilegiadas.

    Os dois casos aqui sumariamente apresentados parecem dar indica-es suficientes sobre a estrutura de constrangimentos que pautava as car-reiras no Exrcito entre o segundo Imprio e o final da Repblica Velha.Em que pese se enquadrarem em momentos histricos diferentes, os itine-rrios dos oficiais refletem a combinao de determinantes que mesclamconcepes profissionais e princpios ideolgicos variados e, em parte con-traditrios, como a oposio meritocracia versusprivilgio, ou universalis-mo versusparticularismo, sem falar das lutas pela definio do militare de

    seu papel na sociedade.Destaque-se, inclusive, que em mais de uma conjuntura a prpria

    afirmao de umprofissionalismo militar entendido como vocao ao exer-ccio do comando do pas e/ou capacidade de interpretar a nao, como foitambm o caso de outros grupos de intelectuais(PCAUT, 1990) , serviuao oficialato como mvel de luta contra outros grupos dirigentes na buscade espao no poder. Da mesma forma, a mobilizao de fraes do Exr-cito em torno de princpios de legitimao variados, como o abolicionis-mo e o republicanismo, a meritocracia e a modernidade tcnica, que ga-nharam voz atravs de clubes, grupos e revistas, um dos melhores exem-

    plos dos instrumentos manipulados por um grupo social forjado pelo pr-prio Estado nas lutas por prestgio e autoridade dentro do espao do po-der no Brasil.

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    Um negcio entre famlias

    A elite po ltica do Rio Grande do Sul (1868-1889)

    Jonas Moreira Vargas

    Nos ltimos anos, uma srie de estudos vem demonstrando, a partir

    de uma rigorosa pesquisa emprica, a importncia das elites provinciais noprocesso de construo do Estado imperial e sua atuao no interior dosistema poltico monrquico.1 O presente estudo segue o caminho destasnovas anlises. O objetivo investigar o topo da elite poltica rio-grandense,onde um nmero pequeno de indivduos concentrou boa parte dos princi-pais cargos e, portanto, o acesso direto ao mundo poltico da Corte. Estencleo poltico era composto pelos conselheiros e ministros de Estado, ossenadores e os deputados gerais. A ocupao de cargos nestas instituiesfazia parte de um arranjo estratgico de famlias da elite, num projeto queenvolvia a busca por riqueza, status social e poder poltico, alm da diversi-

    ficao da atuao de seus membros tanto em postos de mando locais quantonacionais. Neste sentido, a cpula do governo imperial era formada pormembros de famlias enraizadas nos mais distantes municpios do pas, deonde as mesmas dirigiam a poltica local, influam nas eleies e agiamintensamente no interior dos canais de mediao que constantemente seabriam entre as parquias e a Corte.2

    O recorte temporal se justifica por dois motivos. Em 1868, o PartidoProgressista foi extinto e seus componentes se distriburam entre os parti-dos Conservador e Liberal. Portanto, o perodo entre 1868 e 1889 favorece

    1 Ver, por exemplo, Graham (2001), Dolhnikoff (2005), Martins (2007). Para uma autora sinto-nizada com estas ideias e que tambm defende a existncia de um Imprio negociado verDantas (2009). Gouva (2008) tambm destacou a extraordinria importncia dos espaospolticos intermdios regionais e locais nesta dinmica poltica, por meio do estudo da par-ticipao das elites regionais na Assembleia Provincial fluminense.

    2 Devidamente aprofundadas em Vargas (2010).

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    uma melhor comparao entre ambos os partidos.3 Outro fator importante que aps a Guerra do Paraguai o Rio Grande do Sul ampliou sua impor-tncia poltica em nvel nacional. Entre 1878 e 1889, a provncia teve maisministros de Estado do que em todas as dcadas anteriores somadas, o queestimula ainda mais a investigao dos fatores que levaram esta gerao apenetrar no rgido ncleo da poltica central.

    Apresentando a elite poltica

    A seleo dos cargos polticos aqui analisados excluiu os vereadorese deputados provinciais, por ocuparem espaos de influncia local e pro-vincial, e os presidentes de Provncia, porque a grande maioria dos queocuparam o cargo era formada por polticos de outras provncias nomea-dos pelo governo central. Tais particularidades no contribuem para a pro-posta da presente anlise, pois dizem pouco sobre quem compunha o topoda elite poltica no Rio Grande do Sul, ou seja, ocupava os principais car-gos de mediao poltica entre a provncia e a Corte e possua uma forterelao eleitoral com as famlias das elites locais.4

    O Conselho de Estado, rgo que Joaquim Nabuco chamou de o c-

    rebro da monarquia, era um espao reservado aos polticos mais experien-tes do Imprio e que, a partir de uma convocao do imperador, deliberavamsobre assuntos de carter nacional, muito embora questes provinciais e atmesmo locais tambm acabassem minando as reunies. Ao contrrio dosministros de Estado, mas assim como os senadores, os conselheiros, uma veznomeados pelo imperador, exerciam seu cargo de maneira vitalcia.5 Entre1868 e 1889, o Rio Grande do Sul teve somente um conselheiro de Estado.

    3 Esta polarizao dominou o panorama poltico provincial at meados de 1889, quando, pela

    primeira vez, o Partido Republicano Rio-Grandense obteve mais votos que o Conservador naseleies provinciais (FRANCO, 1996). Mas antes disto, seu eleitorado dificilmente ultrapassouos 10% da provncia e nenhum membro do PRR acessou os cargos aqui analisados (VARGAS;SACCOL, 2010).

    4 No entanto, para uma anlise dos deputados provinciais ver Vargas (2010). Ainda esta por serfeito um estudo sobre os presidentes da Provncia. Consideraes iniciais foram realizadas emVargas (2008).

    5 Embora este rgo de poder tenha sido estudado por vrios autores, recomendo Martins (2007).

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    Os ministros de Estadoeram os agentes do Poder Executivo imperial.Antes de 1847, o imperador os escolhia livremente, e aps esta data, elepassou a indicar somente o presidente do Conselho de Ministros, que, porsua vez, distribua as pastas aos seus correligionrios. At 1861, as pastasministeriais eram as seguintes: Guerra, Marinha, Justia, Fazenda, Neg-cios Estrangeiros e Imprio. Aps esta data, somaram-se a Agricultura,Comrcio e Obras Pblicas. O nmero de rio-grandenses a ocuparem al-gum ministrio durante o perodo estudado foi de oito polticos.

    Assim como o Conselho de Estado, o Senado era uma das institui-

    es mais conservadoras e elitistas do regime monrquico brasileiro. Pri-meiro, porque o mandato era vitalcio e reunia os lderes polticos maisexperientes da poca. Segundo, porque eram escolhidos pelo imperador apartir de uma lista trplice sufragada pelos eleitores provinciais. Cada pro-vncia possua uma representao proporcional sua populao. Ao RioGrande do Sul eram reservadas trs cadeiras. Apenas para comparao,Minas Gerais possua 10 senadores, Bahia e Pernambuco possuam seiscada, So Paulo e Cear quatro e o Rio de Janeiro trs.6 Entre 1868 e 1889,o Rio Grande do Sul teve oito senadores.

    Os deputados gerais exerciam mandatos de quatro anos, mas como

    em vrias ocasies as Cmaras foram dissolvidas, muitos no completaramsua legislatura. Como demonstrou Miriam Dolhnikoff, este era o espaoprivilegiado para a atuao das elites provinciais. Para tornar-se um depu-tado geral, o candidato no dependia de uma seleo to rigorosa quantoum senador, ministro ou conselheiro de Estado. Sua entrada neste crculorestrito dava-se depois de meses de negociaes nos seus distritos eleitoraise era consagrada aps uma vitria em pleitos bastante disputados. O RioGrande do Sul tinha direito a seis cadeiras por legislatura e teve 29 deputa-dos gerais durante o perodo analisado.

    Ao comporem o topo da elite poltica no Rio Grande do Sul, os mes-

    mos passaram a ter acesso direto aos diversos recursos materiais e imateriaisque emanavam do mundo da Corte. Portanto, ao se inserirem na elite pol-tica imperial, estes homens, que j eram bastante conhecidos e respeitados

    6 A melhor obra sobre o Senado nas ltimas dcadas da Monarquia a de Leite (1979).

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    na provncia, puderam ampliar ainda mais as suas clientelas regionais, re-produzindo a desigualdade socioeconmica dentro da prpria provncia egarantindo a permanncia da sua posio de elite. Portanto, ao ocuparemaltos cargos polticos, a sua capacidade de fazer e encaminhar pedidos e deconceder favores aumentou muito o seu poder (VARGAS, 2010). Neste sen-tido, dentro do mundo da poltica, eles passaram a ocupar um papel central.

    Os polticos que ocuparam altos cargos na Corte, independentemen-te da provncia que representavam, no devem ser vistos somente como osresponsveis por dirigir os negcios da nao. A expectativa dos seus fami-

    liares, das suas clientelas e dos seus eleitores e aliados polticos possuaum peso igual ou maior do que as suas obrigaes para com o governoimperial.7 Neste sentido, todos eles recebiam a funo de diminuir o abis-mo espacial e temporal que separava as suas parquias de origem da Corte.Esta distncia constitua-se num obstculo por onde somente alguns pou-cos indivduos conseguiam transitar com distino e dele obter ganhos. Aoromperem com a barreira que dividia estes dois mundos, eles tornavam-semediadores, interligando as suas aldeias com a capital do pas.8 Tal faa-nha oferecia aos mesmos um acesso mais qualificado ao ncleo poltico doImprio e lhes conferia o poder de captar recursos materiais (terras, escravos,

    animais, cargos, dinheiro) e imateriais (ttulos, favores e prestgio social) paraas suas provncias, servindo de informantes tanto aos seus co-provincianoscomo ao governo central.

    A anlise da elite poltica

    O conjunto de caractersticas que possibilitava a um indivduo ultra-passar o mundo da parquia e ingressar no mundo da Corte deve ser com-

    7 Para uma anlise mais aprofundada ver, por exemplo, Graham (1997) e Martins (2007).8 De acordo com Sydel Silverman, o mediador um tipo especfico de intermedirio, respons-

    vel por estabelecer uma conexo entre um sistema local e outro nacional, onde aquele estnecessariamente inserido neste. Seria como um municpio dentro de um estado ou uma aldeiadentro de um reino, por exemplo. No entanto, para uma melhor utilizao do termo, Silvermandeixa claro que o mediador um indivduo que rene em si (por tanto atributo exclusivamen-te pessoal e no transmissvel) a habilidade de interagir tanto com o sistema local quanto como nacional (SILVERMAN, 1977, p. 293-304).

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    preendido de forma dinmica, como fruto do investimento econmico desuas famlias e do manejo das redes de relaes polticas em que o mesmoestava inserido. Desde o sculo XVIII, o surgimento de lideranas militaresnas muitas guerras em que o Rio Grande do Sul esteve envolvido e a impor-tncia da economia pecuarista e charqueadora foram traos estruturais destasociedade e deixaram profundas marcas em sua elite poltica e nobilirqui-ca. sob a luz destes fatores que devemos entender as estratgias das fam-lias de elite para buscar o exerccio dos principais cargos, o que ser analisa-do adiante. Somados s origens sociais e geogrficas, estes fatores ajuda-

    vam a condicionar a trajetria dos mesmos e influam em suas escolhas nasreas da formao educacional, da profisso e das opinies polticas, entreoutras. Tambm necessrio ressaltar que as mesmas escolhas estavam in-timamente relacionadas s mudanas conjunturais de ordem poltica e so-cioeconmica ocorridas ao longo de suas vidas e que, portanto, no esta-vam determinadas desde a sua infncia.9

    Somando todos os que ocuparam os cargos mencionados, e tendoem vista que alguns deles acumularam um ou mais destes, temos 34 indiv-duos.10 Entre os mesmos, oito foram senadores, oito foram ministros e umfoi conselheiro de Estado. Como quatro senadores tambm foram minis-

    tros e o nico conselheiro tambm foi ministro e senador, o topo desta elite(conselheiros, ministros e senadores) reunia 12 indivduos. Eles pertenciamao alto escalo da elite poltica rio-grandense e estavam hierarquicamenteacima dos outros 22 que foram somente deputados gerais. Esta distinoexige uma abordagem em separado. Para fins analticos, chamarei o esca-lo poltico superior de o Grupo dos 12. Como somente um poltico foi con-selheiro de Estado, irei analisar apenas os ministros e senadores, pois oestudo de apenas um conselheiro, no caso Gaspar Silveira Martins, seriaquase um ensaio biogrfico. Entretanto, este solitrio conselheiro tambmfoi ministro, senador e deputado geral. Portanto, ele no deixar de ser

    9 O mtodo prosopogrfico a principal referncia para a anlise dos dados a seguir. Para maio-res detalhes sobre o mtodo ver Stone (2011), Heinz (2006) e Charle (2006). Realizei coment-rios mais aprofundados em Vargas (2010).

    10 As informaes que ajudaram a compor os dados aqui analisados foram extradas de dicion-rios biogrficos, publicaes especializadas e fontes documentais diversas. O repertrio dasmesmas foi melhor explicitado em Vargas (2010).

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    analisado com o restante do grupo. Talvez muitos dos equvocos da historio-grafia rio-grandense sobre este tema sejam fruto exatamente de uma anli-se exclusivista do papel de Silveira Martins.11

    Ministros e senadores

    Dos oito ministros, apenas o general Manuel Lus Osrio (marqusdo Herval) no possua curso superior. Ele assumira a pasta da Guerra (1878-1879) mais pelo seu prestgio militar do que por sua carreira parlamentar

    que era completamente inexpressiva.12 Jos Antnio Corra da Cmara, ovisconde de Pelotas, outro militar nacionalmente respeitado, formou-se naEscola Militar de Porto Alegre (1855), vindo a ocupar a mesma pasta daGuerra (1880). Gaspar Silveira Martins (ministro da Fazenda em 1878),Henrique Francisco dvila (ministro da Agricultura, Comrcio e Obras-Pblicas em 1883) e Antnio Ferreira Vianna (ministro do Imprio e daJustia em 1888-1889) formaram-se em Direito na Faculdade de So Pauloe na mesma turma (1855). Outros dois bacharis foram escolhidos minis-tros Francisco Antunes Maciel (ministro do Imprio em 1883-1884), quese diplomou em Montevidu, no incio da dcada de 1870, e Jos Francisco

    Diana (ministro de Estrangeiros em 1889), tambm formado em So Pau-lo, em 1868. O ltimo ministro da lista foi Antnio Eleutrio de Camargo(ministro da Guerra em 1885), diplomado em Engenharia Militar no Riode Janeiro, em 1856. possvel, portanto, perceber que quatro destes pol-ticos formaram-se no ano de 1855, sendo trs em Direito e na mesma tur-ma. Isto evidencia que as redes sociais desta elite podiam comear desde a juventude, ampliando-se ao longo do tempo, quando os seus colegas defaculdade j ocupavam postos importantes em nvel nacional.

    11 Sobretudo a respeito da elite poltica monrquica ser basicamente formada por estancieiros daregio da Campanha, o Partido Liberal ser hegemnico naquela regio e com exceo deSilveira Martins os outros serem meros polticos de aldeia. Para maiores detalhes, ver Vargas(2010).

    12 O que no significa que Osrio no participasse do mundo da poltica. Agindo fora do mundodos parlamentos e articulando a poderosa rede de relaes que possua entre os estancieiros,ele foi fundamental na reorganizao do Partido Liberal nos fins da dcada de 1850, sempretrabalhando pela eleio de seus candidatos (VARGAS, 2010).

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    Quanto aos senadores pelo Rio Grande do Sul, entre 1868 e 1889, tm-se os seguintes polticos: Lus Alves de Lima e Silva, o duque de Caxias (1843-1880), Jos de Arajo Ribeiro, o visconde do Rio Grande (1848-1879),Antnio Rodrigues Fernandes Braga (1870-1875), Florncio Carlos de Abreue Silva (1880-1881), Manuel Lus Osrio (1877-1879), Jos Antnio Cor-ra da Cmara, o visconde de Pelotas (1880-1889), Gaspar Silveira Martins(1880-1889) e Henrique dvila (1882-1889). Destes oito senadores, os l-timos quatro j foram citados anteriormente por terem sido tambm minis-tros de Estado. importante considerar que, destes senadores, cinco j eram

    adultos quando estourou a Revolta dos Farrapos (1835-1845). Os mesmosparticiparam da Guerra seja como autoridades administrativas (ArajoRibeiro e Fernandes Braga), seja como militares (Caxias, Pelotas e Osrio).Um detalhe importante que todos eles estiveram do lado legalista, o queindica que eram fiis Coroa desde longos anos. Este era um fator funda-mental para serem escolhidos na lista trplice pelo imperador, em vista davitaliciedade do cargo. Alm disso, Osrio, Pelotas e Caxias tiveram im-portantes participaes nas lutas contra Rosas, na dcada de 1850, e Sola-no Lopez, na dcada de 1860 o que refora sua ligao com os interessespolticos da Coroa. J Arajo Ribeiro e Fernandes Braga eram formados

    em Coimbra, o que o inseria no grupo de bacharis estudado por Jos Murilode Carvalho (2003) e que contribuiu significativamente com a construodo Estado imperial.

    Tendo apresentado o topo desta elite, agora possvel analis-la con-juntamente. A tera parte dos membros do Grupo dos 12estava alinhada aoPartido Conservador (Braga, Arajo Ribeiro, Caxias e Ferreira Vianna).Isto evidencia a hegemonia poltica que os liberais exerceram na provnciae que j foi enfatizada por outros autores (PICCOLO, 1974; CARNEIRO,2000). Entre os ministros de Estado, somente Ferreira Vianna era conserva-dor. O predomnio dos liberais entre os ministros fica mais evidente ao se

    considerar que Vianna construiu toda a sua carreira fora da provncia ondenascera.13 Esta informao bastante significativa, pois revela que, quando

    13 Natural de Pelotas, Antnio Ferreira Viana (1834-1905) formou-se em Direito em So Paulo,em 1855, sendo promotor pblico no Rio e deputado geral pela mesma Provncia em diversaslegislaturas.

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    os conservadores assumiam o poder na Corte e organizavam a lista dospossveis ministros lembrados para ocuparem as pastas, no chamavam seuscorreligionrios sul-rio-grandenses para o governo. Este fenmeno podeser reflexo dos perodos de relativa fraqueza em que o Partido Conservadorencontrou-se no Rio Grande do Sul. Alm disso, a violenta ciso internado partido em 1870 (entre lobos e cordeiros) e a oposio que muitos con-servadores rio-grandenses fizeram ao Gabinete Rio Branco (1871-1875)podem ter acabado com qualquer chance dos mesmos serem convocadospara algum ministrio.14

    Com relao instruo educacional, 92% dos membros do grupopossuam formao superior, constituindo-se em exceo apenas o generalOsrio. A grande maioria era formada em Direito, sendo cinco em SoPaulo, dois em Coimbra e um em Montevidu. A ausncia completa debacharis formados em Recife um demonstrativo de que esta faculdadeexerceu um papel secundrio na formao dos principais membros da elitepoltica do Rio Grande do Sul. Os outros trs membros diplomados havi-am estudado na Escola Militar do Rio de Janeiro. A partir destes dados, possvel inferir a profisso seguida pelos mesmos. Em nmeros, tm-se seisadvogados, trs militares, um diplomata, um engenheiro e um desembarga-

    dor. Muitos dos advogados tambm atuavam no jornalismo poltico. O des-taque a total ausncia dos mdicos e dos padres, profissionais presentesem outras elites polticas da poca, mas que no conseguiram superar osmilitares e advogados nas disputas eleitorais da Provncia.15

    No sculo XIX, no era raro os membros das elites terem seus rendi-mentos provenientes de outras ocupaes econmicas. Portanto, alm depoderem exercer mais de uma profisso, muitos deles tambm eram gran-des proprietrios de terra. Geralmente estas atividades econmicas eramcompartilhadas com membros de sua famlia. O alto nvel de educao e asprofisses escolhidas permitem inferir que os mesmos pertenciam a famlias

    da elite econmica da provncia, pois o investimento na formao superior

    14 Sobre esta ciso ver Piccolo (1974) e Carneiro (2000). Para argumentos que mostram a forado Partido Conservador na campanha ver Vargas (2010).

    15 A presena dos mdicos e padres no topo da elite poltica imperial foi demonstrada por Carva-lho (2003).

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    era bastante custoso. Neste sentido, a origem social dos polticos analisadospode ser indicada pela atividade econmica e/ou a profisso dos seus pais.Pelo menos seis membros do Grupo dos 12vinham de famlias de ricos es-tancieiros, ou seja, a metade deles eram pecuaristas. Quanto aos outros, umera filho de um charqueador que tambm criava gado, outro de um ricocomerciante e trs de oficiais militares, cujo patrimnio fundirio no pare-cia ser de monta. O caso mais interessante foi o de Antnio Eleuthrio deCamargo. Filho de um policial de poucas posses, conseguiu sentar praa noExrcito, sendo encaminhado Escola Militar. Formado em Engenharia,

    tornou-se redator-chefe do jornal liberalA Reforma, onde seguiu fielmenteo seu chefe Silveira Martins, e, depois de ser deputado por vrios manda-tos, tornou-se ministro da Guerra, em 1885. Sua trajetria revela que haviaespaos para a ascenso social, em investimentos que conjugassem a meri-tocracia com o patronato dos grandes lderes polticos.16

    A anlise do local de nascimento complementa a da origem social eajuda a revelar quais regies estavam mais propensas a formarem jovenscapazes de ingressar no topo da elite poltica, uma vez que o mais comumeram as carreiras se iniciarem desde a juventude nas prprias academias deensino superior do Imprio. Analisando os seus dados biogrficos percebe-

    se que deste grupo provinha de um eixo mais prximo ao litoral (RioGrande [um], Pelotas [dois], Conceio do Arroio [um], Jaguaro [dois] ePorto Alegre [trs]). Daqueles dois rio-grandenses que no provinham des-te eixo, pelo menos um migrou definitivamente at ele para construir suacarreira: o j mencionado Eleuthrio de Camargo, natural de Uruguaiana.Gaspar Silveira Martins tambm migrou para Porto Alegre, mas nuncaabandonou suas bases econmicas em Bag. Caxias foi o nico polticonascido em outra provncia: Rio de Janeiro. Portanto, pode-se afirmar queos membros do Grupo dos 12no eram, na sua grande maioria, filhos deestancieiros da regio da Campanha.17 Muitos dos pais destes polticos real-

    mente eram criadores de gado, porm suas propriedades se localizavam

    16 Neste sentido, as trajetrias do general Osrio e de Florncio Carlos de Abreu e Silva tambmso elucidativas (VARGAS, 2010).

    17 Mesmo que se considere Jaguaro com um perfil geoeconmico semelhante ao da Campa-nha, somente 1/3 dos polticos pertenceriam a esta regio.

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    nos municpios mais prximos do complexo charqueador pelotense, e nona fronteira oeste da provncia.

    Investigando a carreira poltica dos membros do Grupo dos 12, perce-bem-se alguns indicadores em destaque. Existia uma espcie de hierarquiapoltica que parece ter condicionado a carreira de alguns, tendo sido con-tornada por outros. Antes de eleger-se ao Senado ou receber uma pastaministerial, novedestes polticos haviam exercido mandatos de deputadosprovinciais e, posteriormente, de deputados gerais, ingressando no Grupodos 12aps adquirir uma certa experincia na poltica parlamentar. Apenas

    trs romperam com esta tendncia e foram exatamente aqueles que cons-truram suas carreiras no campo de batalha Osrio, Caxias e Pelotas.

    Quanto faixa etria necessria para o ingresso no Grupo dos 12,nohouve um padro rgido de recrutamento, mas alguns comentrios mere-cem ser feitos. Caxias, com 40 anos, e Arajo Ribeiro, com 48, ingressaramno Grupo dos 12na dcada de 1840. Todos os outros 10 foram recrutadosaps 1868 nosso marco temporal. Entre os dois mais jovens esto o citadoCaxias (40 anos) e Florncio de Abreu (40 anos). O mais velho a ingressarno Grupo dos 12foi Manuel Osrio, que se elegeu senador aos 69 anos. Osegundo e o terceiro mais velhos foram Antnio Braga (65 anos) e o viscon-

    de de Pelotas (56 anos). Percebe-se, portanto, que, dos trs polticos maisvelhos a ingressarem no Grupo, os dois principais militares sul-rio-granden-ses esto presentes. Se reduzirmos esta anlise apenas aos oito ministros,Osrio e Pelotas constituem-se nos dois polticos com maior idade (bemacima da mdia de 44 anos apontada por Carvalho [2003]) trazendo umaoutra excepcionalidade para as suas carreiras. Entre os oito senadores, so-mente dois no foram presidentes de Provncia: novamente Pelotas e Os-rio. Isto revela ainda mais a inexperincia poltico-administrativa de suasmetericas carreiras polticas, muito diferentes daquelas construdas pe-los bacharis em Direito.

    Portanto, os militares tiveram uma presena notvel neste grupo, poiseles compuseram a metade dos membros que conseguiram acumular umacadeira no Senado com uma pasta ministerial. Este se constituiu num traocaracterstico da Provncia. O Rio Grande do Sul, junto com Santa Catari-na, foi uma das nicas provncias que teve senadores militares nas duasltimas dcadas da monarquia, ou seja, num momento em que os mesmos

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    vinham sendo institucionalmente afastados desta elite.18 Outro fator im-portante que o Ministrio da Guerra foi a nica pasta em que os rio-grandenses conquistaram um destaque em nvel nacional.19 Portanto, a ca-minhada poltica dos militares at a Corte encontrou obstculos diferentesdos enfrentados pelos bacharis em Direito. Numa provncia onde as guer-ras foram quase que endmicas, os altos oficiais nutriram um alto prestgiosocial. A converso do mesmo em capital poltico lhes possibilitou ascen-der diretamente ao Grupo dos 12, e tal faanha foi facilitada aps da Guerrado Paraguai, onde os rio-grandenses tiveram papel marcante (VARGAS,

    2010). O mesmo no ocorreu com os advogados, que tiveram que cumprirum longo estgio na Cmara dos Deputados at chegarem ao topo da-quela elite poltica.

    Os deputados gerais

    Entre 1868 e 1889, o Rio Grande do Sul teve 29 deputados gerais.Cabe ressaltar que eram reservadas aos sul-rio-grandenses seis cadeiras porlegislatura e que muitos destes 29 deputados foram eleitos mais de uma vezao longo destes 20 anos. Alm disso, sete destes 29 deputados conseguiram

    ascender ao Grupo dos 12. Com relao filiao partidria dos mesmos,verifica-se um equilbrio maior que no Grupo dos 12, pois foram 13 deputa-dos conservadores e 16 liberais, embora estes ltimos tenham acumuladomais mandatos. O ndice de deputados gerais com formao superior pra-ticamente o mesmo que o dos membros do Grupo dos 12, pois somente doisdeles no tinham diploma. Irineu Evangelista de Souza, o visconde de Mau,

    18 Conforme Carvalho (2003), tanto os militares quanto os magistrados, a partir da Lei eleitoralde 1855, foram sofrendo uma srie de restries quanto s suas candidaturas, pois se acredita-

    va que o sucesso do processo de profissionalizao das Foras Armadas e do Judicirio deve-ria afastar seus membros da poltica.

    19 O Rio Grande, durante todo o perodo imperial, teve 13 ministros (6 % do total). Destes, seteocuparam a pasta da Guerra, o que indica que os membros da elite poltica desta provnciaeram mais lembrados e recrutados para a Corte quando os assuntos eram desta competncia.Entre 1832 e 1889, 52 homens ocuparam o Ministrio da Guerra, sendo 11 da Corte, sete doRio Grande do Sul, sete de Portugal e sete baianos, apenas para citar as principais regiesrepresentadas (o restante estava distribudo pelas outras provncias).

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    comerciante e banqueiro conhecido nacionalmente, e Joaquim Pedro Sal-gado, coronel da Guarda Nacional de Porto Alegre e empregado pblicoda Fazenda Provincial, tinham contra si este indicador, que reduzia as chan-ces dos candidatos.

    Quanto ao curso de formao superior dos mesmos, percebe-se que20 deputados eram bacharis em Direito, isto , 69% do grupo. Destes, 13formaram-se em So Paulo, cinco em Recife, um em Olinda e um em Mon-tevidu.20 Portanto, apesar de Recife ter tido importncia na constituiodeste grupo, fica evidente que a Academia Paulista exerceu a maior influ-

    ncia na formao da elite poltica rio-grandense. Completando o grupotemos um formado na Escola Militar, dois formados em Engenharia e qua-tro em Medicina todos no Rio de Janeiro. Isto indica que, apenas ao iremestudar fora de sua Provncia, quase 1/3 deles j havia frequentado a Corte,retornando para suas provncias com uma rede de relaes sociais bastanteampla. Com relao profisso, tem-se, portanto, um grande predomniodas carreiras jurdicas, com destaque para os advogados, que somavam 17indivduos (59% dos deputados). O restante estava composto por quatromdicos, trs magistrados, dois engenheiros, um empregado pblico, umbanqueiro e um militar. Portanto, possvel perceber que, neste espao de

    poder poltico, os mdicos conseguiram penetrar com mais facilidade, mas,quando enfrentavam os advogados e militares nas eleies para o Senado,eles eram derrotados. Tal tendncia parece revelar que o potencial eleitoraldos mesmos no encontrava dimenses provinciais, mas apenas distritais, oque pode ser consequncia do carter mais localizado do exerccio de suaprofisso.

    A origem social dos deputados gerais praticamente a mesma dossenadores e ministros. Dos 29 deputados, obtiveram-se informaes para20 deles. Destes, pelo menos 10 tinham pais estancieiros, trs charqueado-res, dois comerciantes. Outros quatro eram filhos de militares e um de ma-

    gistrado. Alguns estancieiros tambm eram oficiais da Guarda Nacional eoutros militares tambm criavam gado. possvel que entre os nove seminformaes seguras tambm haja criadores de gado. No que diz respeito

    20 O curso jurdico de Olinda transferiu-se para Recife em 1854.

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    aos locais de nascimento, apenas trs deputados gerais eram naturais deoutras provncias. importante destacar a nfima representao (apenasdois deputados) do que poderia ser considerado como metade norte daprovncia na poca: Antnio Antunes Ribas, representante de Santo nge-lo, era advogado formado em So Paulo e tambm foi jornalista. 21 EgdioBarbosa de Oliveira Itaqui era advogado formado pela mesma faculdade.Abriu banca em Itaqui, onde permaneceu por muitos anos at mudar-separa a capital, tambm procura de melhores oportunidades profissionaise polticas. Esta pouca representatividade pode ter contribudo para a gran-

    de adeso da regio ao republicanismo, algo que se tornou mais evidenteno incio do sculo XX.22

    possvel verificar que 11 deputados (38%) eram naturais do eixoPorto Alegre, Rio Grande e Pelotas, o que evidencia que este grupo da elitepoltica tinha fortes razes nos centros mais urbanizados e financeiramentemais desenvolvidos da provncia. Alm disso, muitos deles tinham laos deparentesco com estancieiros, negociantes e charqueadores nestas localida-des, isto quando eles prprios no o eram. Pode servir como exemplo oadvogado conservador Ildefonso Simes Lopes, irmo do coronel Joo Si-mes Lopes, visconde da Graa rico charqueador em Pelotas.23 Francisco

    Antunes Maciel e Francisco Carlos de Arajo Brusque, pelo lado liberal, eJoo Jacintho de Mendona e seu filho Joaquim Jacintho de Mandona,pelo conservador, foram outros pelotenses que apresentaram o mesmo tipode ligaes familiares. Prximo a Pelotas, em Jaguaro, estavam os advoga-dos Henrique Francisco dvila e Jos Francisco Diana estancieiros escios em uma empresa bancria. Outro deputado vinculado a esta regiofoi o visconde de Mau, que, apesar de ter nascido em Arroio Grande,

    21 Ribas tambm advogou em Cruz Alta, cidade maior e onde certamente conseguia melhoresrendimentos, e posteriormente migrou para Porto Alegre, talvez com o mesmo fim. Por laosde matrimnio, sua famlia ligou-se ao poderoso cl dos Pinheiro Machado, que possuamterras em So Luiz Gonzaga municpio vizinho.

    22 Ver, por exemplo, Love (1975); Flix (1987); Franco (1996).23 Tambm era um dos chefes conservadores de maior prestgio. Comandante da Guarda Nacional

    em Pelotas, tambm foi presidente da Provncia em 1871, poca em que o irmo ocupava umacadeira na Cmara.

    VARGAS, J. M. Um negcio entre famlias A elite poltica do RS (1868-1889)

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    mudou-se jovem para a Corte, onde fez carreira comercial e fixou sua resi-dncia.

    Outra parcela deste grupo possua um perfil mais urbano, muito em-bora se entrelaasse com famlias de proprietrios de terra. O mdico Lusda Silva Flores e o advogado Florncio de Abreu, ambos liberais, eramhomens com fortes razes em Porto Alegre, assim como o conservador etambm mdico Jos Bernardino da Cunha Bittencourt. O militar ManuelMarques de Souza, conde de Porto Alegre, ao casar-se com a filha do Ba-ro de Saican, aproximou-se de uma fortuna bastante significativa, apesar

    de ser toda ela constituda fora do pas.24 O mdico Joaquim Pedro Soaresclinicava em Porto Alegre e era casado com a filha de Joo Dias de Castro,estancieiro em Piratini e presidente da Provncia em uma ocasio.

    Na regio central-colonial do Rio Grande do Sul, encontramos umparlamentar natural de Cachoeira e trs de Rio Pardo, sendo estes ltimostrs conservadores. Paulino Rodrigues Fernandes Chaves era magistrado efilho do senador Pedro Chaves. Inocncio Veloso Pederneiras e AntnioAlves Guimares Azambuja eram aparentados e pertenciam a famlias deestancieiros de Rio Pardo, onde possuam fortes bases polticas. O liberalFelisberto Pereira, advogado e empregado pblico, construiu a sua carreira

    profissional e poltica em Porto Alegre.Dos 29 deputados, sete (24%) eram naturais da regio da campanha,

    ndice menor que os do eixo litorneo acima descrito. Joaquim Pedro Sal-gado nasceu em Alegrete, mas migrou para Rio Pardo e, posteriormente,para Porto Alegre, onde se estabeleceu definitivamente. Suas relaes coma Campanha perderam-se ao longo da vida, tanto que sempre se elegeupelo distrito eleitoral da capital. Caso idntico foi o do engenheiro AntnioEleuthrio de Camargo, citado anteriormente. Nascido em Uruguaiana,ele passou a concentrar os seus investimentos polticos muito mais na capi-tal do que naquela regio. Fernando Osrio nasceu em Bag, mudou-se

    menino para Pelotas, onde construiu toda a sua carreira como advogado e

    24 Jos Maria da Gama Lobo Coelho dEa (baro de Saican) era brigadeiro do Exrcito. Por serprimognito de sua famlia, herdou bens vinculados ou de Morgado na Europa, consistindoem sete Fazendas sitas, parte do Reino de Portugal, e parte em Olivena, no Reino de Espa-nha, e uma casa na praa de Elvas (CARVALHO, 1937, p. 216).

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    jornalista e vinculou-se a famlias de charqueadores deste municpio. En-tretanto, dois deputados conservadores mantiveram-se advogando em suasterras na Campanha, formando um forte ncleo deste partido. O advogadoSeverino Ribeiro Carneiro Monteiro era neto de Bento Manoel Ribeiro efilho de Vitorino Monteiro, baro de So Borja, com estncias em Quara eAlegrete. Tornou-se chefe poltico conservador entre 1877 e 1886. Seu alia-do foi o ad