PERMANENTE DE TEATRO - Facebook · mais marcantes nomes do teatro do século XX, o ator...

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XIX FÓRUM Torre de Moncorvo PERMANENTE DE TEATRO palcos palcos REVISTA # 14 - novembro`17

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XIX FÓRUM

Torre de Moncorvo

PERMANENTE DE TEATRO

palcospalcosREVISTA

# 14 - novembro`17

edit

ori

al A revista Palcos está de volta para a sua segunda

edição do ano em curso. Esta edição sucedeu ao

Fórum Permanente de Torre de Moncorvo que foi

realizado no passado mês de Outubro e que coincidiu

com o IV Festival de Teatro Ibérico realizado em

parceria com o Município local e a nossa congénere

Espanhola, a Escenamateur e contando com o apoio

do GAFT – alma de Ferro.

Esta edição é também a última do ciclo dos atuais

órgãos sociais da FPTA. É tempo de os associados

começarem a refletir sobre o futuro que virá a

seguir e também sobre a forma como querem que

esta entidade leve por diante os seus objetivos

primordiais: contribuir para o desenvolvimento do

teatro, através da promoção de diversas iniciativas,

em todo o território nacional, que se enquadrem

dentro dos princípios de formação, organização e

divulgação dos seus produtos e atividades e, das suas

associadas.

Aproveito, pois, para agradecer aos meus colegas do

conselho editorial e ao professor João Maria André

a colaboração prestada que ajudou a cimentar a

importância desta publicação.

O futuro será aquilo que nós (todos) quisermos e é

necessário que novos protagonistas se perfilem no

horizonte…

Queria destacar, a nível nacional, duas notas

positivas: a Web Sumit que se realizou em Lisboa

de 6 a 9 de novembro, a maior feira de startups

do mundo que se transformou no palco do

empreendedorismo tecnológico. Para as startups, a

Web Summit foi uma oportunidade para se darem

a conhecer, cativarem clientes e encontrarem

potenciais investidores, tendo estado em Lisboa

empresas de mais de 60 países. A segunda nota

positiva foi o facto de o nosso País ter sido eleito a 8

de Novembro, de novo, para o Conselho Executivo da

Unesco sendo que este era um desiderato prioritário

para o governo, dado que é sinal do reconhecimento

internacional da importância que o nosso país atribui

ao multilateralismo, conforme ficou bem patente

no trabalho aberto, transparente e inclusivo que

Portugal desenvolveu durante o mandato que exerceu

no Comité do Património Mundial da UNESCO e

constitui uma mais-valia para a projeção da imagem

do nosso país a nível internacional permitindo uma

capacidade de intervenção acrescida na comunidade

internacional. Com 195 estados-membros e oito

membros-associados, esta agência da ONU tem

um objetivo ambicioso: "Construir a paz no espírito

dos homens através da educação, ciência, cultura e

comunicação".

Neste número vamos saber um pouco mais sobre

Rui Ferreira, formador de iluminação nos Fóruns

da FPTA, traçamos também uma panorâmica sobre

o Fórum de Torre de Moncorvo e levantamos o véu

sobre os anfitriões do próximo Fórum Permanente

que vai acontecer em Esmoriz nos dias 24, 25 e 26

de março de 2018: o Grupo de Teatro Renascer; O

professor João Maria André fala-nos de um dos

mais marcantes nomes do teatro do século XX, o

ator inglêsEdward Gordon Craig.Para refletir, sugiro

o texto da rubrica Boca de Cena que se dirige aos

associados.

Eis aqui, em resumo, os temas que iremos abordar

nas próximas páginas desta nossa (vossa) Palcos

Espero que gostem!

Fernando Rodrigues

Director da Revista PALCOS

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FICHA TÉCNICAPropriedade Federação Portuguesa de Teatro

Praça José Afonso, 15 E | C.

C. Colina do Sol, Loja 55 | 2700-495 Amadora

Diretor Fernando Rodrigues

Conselho Editorial Tânia Maria Falcão, José Teles, Anabela Teixeira, Manuel Ramos Costa e Bruno Gomes

Colaborador permanente João Maria André

Fotografia Alice Grade e Carla Ferreira

Grafismo e Paginação DENOMEDIA

Periodicidade Semestral | Edição Digital

Índice

editorial 2 conversas de bastidores - Rui Ferreira 4-11 estreia - XIX Fórum Permanente de Teatro 12-14 boca de cena - Esforço e dedicação 15-16programa de sala - Esmoriz / Renascer 17-20reportório - Edward Gordon Craig 21-24sem palco - O Aleph 25-27

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Filho de Maria José da Silva Ferreira e de Joaquim Ferreira, Rui Manuel da Silva Ferreira,

nasceu a 11 de Setembro de 1974, na Sagrada Família, em Angola, de onde veio, com 9

meses, para morar na Amadora. Aqui passou a sua infância com os seus dois irmãos – ele é

o do meio - e bem assim com os seus amigos de rua, jogando à bola, ao pião e às escondidas

entre outras brincadeiras. «Nessa altura – diz-nos – sinto que havia realmente a amizade.

Éramos todos como uma equipa. Não havia interesses e egoísmos.»

Como quase todos os rapazes, o Rui gostava de ser jogador de futebol. Na altura, porém,

não tinha idealizado qualquer profissão, embora aos 13 anos tenha começado a ir trabalhar

com o seu pai aos fim-de-semana e nalguns dias de férias, a pintar casas, para poder ter

algum dinheiro extra para si.

«O tempo da infância passa tão depressa que nem damos por isso.»Diz-nos, acrescentando:

«No entanto, quando somos jovens parece que é uma eternidade!» E prossegue: «Tinha

6 anos quando experimentei o sentimento de perda, com o falecimento da minha avó,

com quem morávamos. Marcou-me também ver, mais tarde,alguns dos meus amigos

desaparecer em por causa da droga.» Concluindo: «Eu também sofri muito, até aos dez

anos, com bronquite asmática, que veio a passar com a idade.»

Casado com Carla Ferreira, com quem tem duas lindas filhas – Inês e Beatriz, – o Rui é um

tipo fantástico, cheio de humildade, muito afetuoso, dedicado e objetivo. Sempre ávido

de conhecimento, é igualmente bom a ensinar – que o digam os formandos que têm

frequentado o painel de luminotecnia, nos fóruns permanentes de teatro da Federação!

Trabalha numa fábrica por turnos e nos tempos livres dedica-se apaixonadamente à família

e ao teatro. Gosta de jogar à bola, de passear e de petiscar, coleciona moedas, selos, notas,

etc. Diz-se ator, cenógrafo e técnico luz/som. Amigo do próximo, está sempre pronto para

ajudar. Além das formações de Teatro, o Rui tem formação de socorrista e de Desfibrilhação

Automática Externa. E ainda de Empilhadores e Pontes rolantes contra pesados e de

Combate a incêndios com extintores. Gosta de cozinhar e de dar sangue.É dador há vinte

anos. E por fim, gosta mais de falar do que escrever. Pois bem, falemos, então…

***

RUI FERREIRA Luz, som, acção.

Manuel Ramos Costa - Família, o que representa

para ti?

Rui Ferreira – A família para mim significa, casa,

estabilidade, apoio, conforto, amigos.

Sei que o teatro não estava nos teus planos. Como

foi então que ele surgiu na tua vida?

No 7 º ano, na Escola Secundária da Falagueira, tive

uma professora que quis fazer uma performance de

teatro acerca da meteorologia, em que entrei com a

minha amiga Carla Chambel (hoje, atriz), que era da

minha turma. Mas ficou por aí. O teatro propriamente

dito surgiu em 2002, quando a minha mulher se

inscreveu num curso de atores no Teatro Passagem

de Nível. Era eu que a ia levar e depois buscar, até que

um dia o Sr. Porfírio Lopes disse para eu ir visitar o

espaço e ver o curso. Fui, inscrevi-me e fiz o curso. No

ano seguinte ingressei na Direção como Secretário,

passei depois para Instalações e Património e, desde

2007, fui o Diretor técnico/responsável no Auditório

de Alfornelos, até Março deste ano.

Fizeste formação na área da iluminação, com quem?

Fiz formação com o Mestre, Orlando Worm, em 2009;

com o Paulo Prata Ramos, em 2012; e com o Mário

Pereira, em 2014, que me ensinou e ajudou muito

quando ia aos Recreios da Amadora.Fiz também dois

cursos de Light Designer e Técnico de Iluminação

Chamsys Magic Q, sobre ledes e robótica/ 2 módulos,

em 2015 e 2016.

A luz desenha-se? Explica-nos.

A luz desenha-se, sim, e muitas vezes num espectáculo

é tão importante como o trabalho do ator. A luz marca

espaços, acompanha a ação, cria ambientes (dia /

noite), dá profundidade (contras), produz destaques,

seguimentos de atores (followspot), faz portas,

corredores, usando-se fumo ou safex (produto de

marcação de luz). Na peça «Pessoa», os projetores

pontuais eram todos medidos com fita métrica,

para que fossem todos iguais. Entendo que para se

fazer um bom desenho de luz é necessário, além de

conhecimentos técnicos, ter sensibilidade.

Trata-se de um trabalho ingrato, porque todos

querem ser atores para receber «palmas», enquanto

os técnicos muitas vezes não têm agradecimentos

nem tão pouco os seus nomes aparecem nos

cartazes. E contudo, a conceção de um desenho de

luz é um trabalho complexo, desenvolvido ao longo de

muitos ensaios e de interação com os encenadores,

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Rui Ferreira

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cenógrafos e figurinistas.

O técnico de luz é dos primeiros a chegar ao teatro

para as montagens e verificações. E é o último a

sair. Ou seja, a luz é o conjunto de ideias, de ações e

ambientes, que estão desenhadas/predefinidas antes

da montagem.

E o som, também. Com quem aprendeste a fazer

desenhos de som?

Já fazia desenhos de som, com efeitos e músicas desde

2003/4 em peças e animações do Teatro Passagem

de Nível. Mas em 2012 obtive de facto formação de

Desenho de Som, com o Pedro Esteves.

Se te fosse dado viajar agora, para onde irias? E

levarias o quê ou quem contigo?

Talvez Paris, Disneylândia. Levaria as minhas filhas,

pois estão sempre a perguntar quando é que podemos

lá ir. (Apesar de eu já lá ter ido duas vezes, é um lugar

que nos faz sonhar!)

O que te levaria a parar o mundo?

Não sei, se tenho tantos poderes para isso… Andamos

numa vida sempre a correr… Cada um olha cada vez

mais só para o seu umbigo… Que se eu parasse o

mundo acho que não alterava nada. Seria um esforço

em vão. Na verdade, se eu não mudar a minha

maneira de ser, não são os outros que o irão fazer…

Normalmente dizem todos que querem mudar o

mundo, mas ninguém muda a si próprio.

As gentes do teatro – dizem – são supersticiosas. E

tu és?

Por acaso não sou, passo muitas vezes por debaixo

do escadote.

O que é que, como pessoa, olhando ao teu redor,

mais te dói?

Ver tanta injustiça e tanta pobreza.

Partindo da frase que se segue, completa o teu

pensamento: «Não sou feito de fotocópias. Sou

feito de…»

Mim próprio.

Se tivesses de te pintar de alto-abaixo, que cores

utilizarias?

Muitas vezes pintar-me-ia de preto. Preto é uma cor

neutra e absorve todas as outras, (absorver/observar/

aprender). E também de branco. Branco é o conjunto

de todas as cores, e na nossa vida precisamos de

todas.

Há quem afirme que o teatro está cheio de pessoas

orgulhosas e arrogantes, de mercenários e traidores

e que tal facto ilustra bem o estado miserável em

que a nossa sociedade mergulhou. Que dizes tu

disto?

Infelizmente, não é só no teatro, e a nossa sociedade é

o espelho, quando só se olha para o próprio umbigo.

Teatro Passagem de Nível. Fala-nos do teu percurso

neste grupo.

Em 2002 fiz um Curso de teatro (Oficina de Teatro)

assim composto: Adereços/Cenografia, com Rita

Mandeiro e Jorge Venâncio; Desmontagem de Texto,

Porfírio Lopes; Iniciação à Técnica de Representar,

Isabel Leitão; Movimento e Caracterização, Nani

Lima; Voz e Dança, Cristina Benedita, num total de 72

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reshoras de formação. Em 2004/5, fui Diretor do Teatro

Passagem de Nível, tendo como cargo o de Secretário;

Em 2006/7, Diretor em Instalações e Património;

E de 2007 a 2017 Vice - Presidente do TPN, Área

Técnica. Fui durante dez anos responsável Técnico do

Auditório de Alfornelos, com programação regular,

festivais de teatro (Amadora em Cena e Mostin –

Mostra de Teatro para Infância); Serões dos Poetas,

todos os meses; Intercâmbios de norte a sul do país;

performances, animações, Oficinas de Teatro, saraus,

fados, música, dança, cinema. Em 2015 dei formação

no Auditório de Alfornelos; E fiz uma «Oficina de

atores-Interpretação» – ministrada pelo diretor André

Pais Leme e os atores Alexandre Dantas e Cláudia

Ventura, da Companhia Cia Falácia, Rio de Janeiro. Em

2006 estive na organização do III Congresso da Anta na

Amadora onde fui o responsável técnico, nos Recreios

da Amadora, e em 2015, na Organização do XIV Fórum

Permanente de Teatro Amadora. Participei como

ator em várias peças, animações e performances. Fiz

cenografianas peças «Fotos de fogo», «Aventuras de

animais e outros que tais» e «Aventuras do Tozé»,

adereços. Fiz vários desenhos de luz em saraus na

Escola de dança Aysel Dance, Academia dÀrtes Vera

Wilson e em concertos de música, Pedro Branco,

Filipa Pais, e em noites de Fados. Em teatro, além de

peças como ator, cenografia, desenho de luz e som,

e ultimamente técnico de luz, fiz e continuo a fazer

também fotografia de cena.

O que é que verdadeiramente te faz feliz?

Ter saúde. Ser reconhecido pelo meu trabalho. Faz

bem à autoestima. Estar com a família/filhas.

Para além do Passagem de Nível, sabemos que tens

colaborado com outros grupos e em vários eventos.

Quais?

Felizmente tenho tido amigos que têm reconhecido

o meu empenho e o meu trabalho nesta área.

Colaborei com o Grupo Hidroprojecto, em «Vic e

o Ambiente», para o qual fiz o desenho de luz e a

técnica; Teatro Nova Morada, a pedido do encenador

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res Nuno Loureiro, na Peça «O Macaco do rabo cortado»,

o desenho de luz e a técnica, no Teatro Turim em

Benfica e nos Recreios da Amadora; «O teu sonho»,

da Escola de Teatro Musical, (Casa do Artista), com

construção cénica, adereços, operador audiovisual,

desenho de luz e técnica; Casa do pessoal da Epal,

Grupo de Teatro H20, «Os crimes de Diogo Alves»,

em que fui ator; Projeto de Eva Lourence, «No Fim da

Linha»,com encenação de Nuno Loureiro, e no elenco

Alcinda Melo, Helena Laureano, Hugo Sequeira, para

o qual fiz o desenho de Luz e a técnica; «Começar

Acabar», de João Lagarto, desenho de luz e técnica);

Cia.Falácia (Rio de Janeiro), «Histórias que não

deviam ser contadas», no Auditório de Alfornelos e

Chapitô), desenho de luz; Gatem espelho Mágico,

«Quebra-Nozes», no Fórum Luísa Todi, desenho de

luz; e noutros espetáculos na parte técnica.

Como achas que anda atualmente a Cultura?

A nossa Cultura está como o nosso país,tem pouco

investimento.

És técnico de luz e de som mas também ator. Se te

fosse dado seguir unicamente por uma das áreas,

qual delas escolherias?

São três áreas completamente distintas, mas sinto-

me mais à vontade como técnico de luz. Gosto

principalmente de criar desenhos de luz e de ver

depois o espetáculo por fora.

Eu sei que para um artista todos os trabalhos são

especiais. Mesmo assim arrisco em perguntar-te:

Até agora qual foi trabalho que mais gostaste de

fazer? Porquê?

Não posso eleger só um, mas destaco «No fim

da linha», pela temática sobre o tráfico humano/

prostituição; «Pessoa», vencedor do Conte 2016;

«A moura» (Prémio de melhor desenho de Luz, em

Esmoriz); «Quebra Nozes», que no Fórum Luísa Todi

esteve sempre lotado; e a minha última experiência,

como figurante na peça «Pedro e Inês», produzida

pela Acal para a Viagem Medieval de Santa Maria da

Feira, com um elenco de mais de cem pessoas (atores,

figurantes e dançarinos), numa grande encenação

do meu grande amigo Manuel Ramos Costa. Foi

igualmente uma experiência muito agradável para a

minha família que nela também participou.

E o mais inusitado ou esquisito?

Alguns. Uns devido ao contexto… Houve um

espetáculo em que tive de fazer a técnica, depois do

intervalo, porque o técnico, embriagado, começou

a cometer muitas falhas, muitas vezes em blackout,

e como tinha sido eu a montar o espectáculo e

tinha visto o ensaio… fiz o trabalho. Outra vez, em

Alfornelos tínhamos começado a representar a peça

«Alice no país das maravilhas», e passado um bocado

começou-se a ouvir um cão a ladrar… Era uma velhota,

que levava uma mala ao ombro e tinha lá dentro um

caniche.

O que mais admiras num espetáculo?

A simplicidade.

De todos os espetáculos que já viste, quais foram os

que mais te agradaram e porquê?

Felizmente já vi bastantes. Gosto de ver teatro para a

infância,clássicos, com as minhas filhas, com os quais

se aprende algumas coisas. Realço no entanto «O Rei

Lear» e «A Casa do Lago», com o Sr. Ruy de Carvalho.

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Há quem diga que a multimédia está a adulterar o

teatro. Que dizes?

Nalguns casos, há excessos de vídeo-projeções

e robóticas que não se percebe o porquê… Em

concertos aceitam-se. Na minha opinião, está-se a

sair fora do teatro tradicional. No entanto, há casos

em que funciona como um complemento. Tenho visto

peças em que se não fosse a vídeo-projeção a fazer o

cenário e as mudanças de cena, perdiam muito…

Quando saídos das Academias, a maioria dos

atores e técnicos de teatro não encontra trabalho.

E para poderem sustentar-se acabam por trabalhar

noutras áreas, como por exemplo a restauração. Na

tua opinião o que falta aos artistas portugueses?

Infelizmente, não é só no teatro. Devia de haver

parcerias /protocolos entre Teatro, Companhias e

Escolas Superiores, Academias, etc. Por vezes as

pessoas acomodam-se e não procuram outros estilos,

outras regiões.

Como vês o teatro na educação portuguesa?

Na minha opinião é positivo porque, o Teatro tem

disciplina, rigidez, horários, trabalho em equipa,

voluntariado e engloba várias vertentes, tanto na

respiração, voz, escrita criativa, figurinos, cenografia,

etc. É uma mais-valia na formação das pessoas.

O que pensas das ações que a FPT (Federação

Portuguesa de Teatro) tem levado a efeito,

designadamente: o Fórum Permanente de Teatro e

o Conte?

As ações da Federação principalmente o Fórum

Permanente de Teatro, são de aplaudir e agradecer,

à Federação, aos grupos organizadores e municípios

o esforço /trabalho que fazem de 6 em 6 meses, para

que o pessoal dos grupos de teatro de Norte a sul do

pais, possa aprender o básico, explorar e aperfeiçoar

algumas técnicas, a um preço simbólico. O Fórum

para mim também foi uma escola onde adquiri bases

que não tinha. Por sua vez, o CONTE é um Festival

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tido

res de Teatro muito importante, realizado em parceria

com a Câmara Municipal Póvoa de Lanhoso e com o

apoio da Fundação Inatel. Participei neste concurso

duas vezes: uma foi com a peça «Fotos de Fogo»,

cenografia e desenho de luz; a outra, em 2016,com a

peça, «Pessoa», que obteve o Prémio Ruy de Carvalho

para Melhor Espetáculo.

Tens participado como formador desde o XIII Fórum

Permanente de Teatro. Fala-nos desta experiência…

Para mim tem sido uma experiência maravilhosa e

estou extremamente agradecido ao Luís Mendes que

foi a primeira pessoa a convidar-me e aos restantes

membros da direção da FPTA que continuam

a apostar e acreditar em mim. É muito bom

podermos experimentar realidades completamente

diferentes da nossa, noutros auditórios, com outros

equipamentos, etc., o que nos proporciona também

aprender e partilhar conhecimentos. Sinto-me pois

honrado e agradecido por poder estar nesta família

de grandes mestres desta arte. Venha o próximo…

Que dirias tu, em jeito de conselho, aos jovens

que pretendem seguir artes e, mais propriamente,

Teatro?

Digo que não desistam dos seus sonhos e que têm de

trabalhar muito. Que procurem aprender sempre e

que sejam briosos em tudo o que façam.

Para além da tua profissão e do Teatro, que outros

valores te prendem à vida?

A minha família, as minhas filhas, jogar à bola,

passear, fotografia, dar uns mergulhos e comer uns

bons petiscos. Aproveitem a vida passa tão rápido.

Se fosses um grão num saco cheio de areia, achas

que te reconhecerias?

Se fosse o único grão, claro que sim, pelos óculos,

pelo sorriso.

Sei que gostas de cozinhar e que o fazes muito

bem… Que pratos teus mais nos recomendarias?

Depende da ocasião, felizmente, sei fazer de tudo um

pouco, grelhados, sopas, sobremesas… Ah! Faço um

bolo de bolacha com mousse de chocolate, muito

bom. E Bacalhau à Gomes Sá (não faço na Bimby).

Qual é o teu lema de vida?

Estar bem comigo próprio. Se tenho que fazer algo,

procuro fazê-lo sempre o melhor possível.

Que compras gostarias de fazer agora mesmo para

teu conforto ou para conforto dos teus?

Neste momento não tenho nada em mente, mas

basta-me ter saúde, que já é um grande conforto para

mim.

***

A simplicidade que ele tanto admira num espetáculo não deixará certamente de ser

semelhante à simplicidade com que ele tem correspondido e continua a corresponder

às muitas solicitações das pessoas que o rodeiam onde quer que esteja: em família, no

trabalho, no teatro ou até mesmo nesta entrevista para a «palcos». Com simplicidade e

prontidão. Ah! E com um sorriso. O seu sorriso por detrás dos óculos.

Manuel Ramos Costa

Encenador/dramaturgo

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XIX FÓRUM PERMANENTE DE TEATROIV Festival Ibérico de Teatro

TORRE DE MONCORVO

Torre de Moncorvo acolheu o XIX Fórum Permanente

de Teatro, uma organização da Federação Portuguesa

de Teatro em parceria com o GAFT – Alma de Ferro.

A título excecional, decorreu em simultâneo o IV

Festival Ibérico de Teatro, com a mesma parceria,

incluindo a congénere espanhola Escenamateur.

A Federação Portuguesa de Teatro contou com

a parceria institucional do Município de Torre de

Moncorvo e o Fórum aconteceu um pouco por toda a

vila: Escola Sabor Artes, Centro de Memória, Museu

do Ferro, Celeiro, Junta de Freguesia e Cineteatro.

A combinação entre os dois eventos permitiu a

apresentação de 6 espetáculos: no Cineteatro –

“Leandro, O Rei da Helíria” pelo ARCA – Associação

Recreativa e Cultural de Aveleda; “A Mandrágora”

pelo GAFT- Alma de Ferro; “Visitando a la señora

Green” pelo Paraskenia Teatro, de Talavera de La Reina

– Toledo e o vencedor do CONTE 2017 – “Palco de

Babel” pelo Grupo Dramático e Recreativo da Retorta.

O evento contemplou ainda dois espetáculos infantis

para as escolas de Torre de Moncorvo: “O Avião que

tinha medo das alturas” pela Contacto de Ovar e

“Ângela e as Caramelas Voadoras” pelo ATA – Grupo

de Teatro Artimanha. No Largo General Claudino foi

possível assistir ao espetáculo espanhol “Macb[eat]

h” pelo grupo Melpómene de Madrid.

Depois das boas-vindas do grupo anfitrião e do

Município de Torre de Moncorvo, eis que chega o

momento de acolher os participantes desta XIX edição

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estr

eiado Fórum: Associação Teatro sem Dono, ATA – Acção

Teatral Artimanha, Ateneu Artístico Vilafranquense,

Clube da Sertã – A.Com.Te.Ser – Companhia Teatral

da Sertã, Contacto – Companhia de Teatro Água

Corrente de Ovar, GAFT – Alma de Ferro, GETAS

– Centro Cultural de Sardoal, Grupo de Teatro

Renascer, Grupo Nun´Álvares Teatro Vitrine, Teatro

Nova Morada, TIL – Teatro Independente de Loures,

TPN – Teatro Passagem de Nível, ACAL – Associação

Cultural e Artística da Lourocoop, Plebeus Avintenses

e Confederaçao – Colectivo de Investigação Teatral.

Os grupos tinham à sua escolha 11 painéis de

formação:

JOGO DRAMÁTICO – “Vamos Brincar ao Faz de Conta”

– MARIA JOÃO VIEIRA; PREPARAÇÃO DO ACTOR –

“Respiração e Voz” – SÓNIA SOUSA; IMPROVISAÇÃO

TEATRAL – “Improvisação Dirigida” – NUNO LOUREIRO;

CRIAÇÃO E CONSTRUÇÃO DO ESPECTÁCULO – JORGE

FRAGA; TEATRO MUSICAL – INÊS SANTOS; DANÇAS

MEDIEVAIS – MARIA SALVATERRA; ILUMINAÇÃO

DE CENA – “Os Equipamentos e a Montagem” –

RUI FERREIRA; CENOGRAFIA E ADEREÇOS – JOÃO

BARROS; ESCRITA CRIATIVA – MANUEL RAMOS COSTA;

CARACTERIZAÇÃO – AURORA GAIA; FOTOGRAFIA DE

CENA – PAULO SOUSA.

O habitual espaço de debate- “Painel de Dirigentes”

decorreu no Auditório do Centro das Memórias onde

foram debatidos alguns projectos, assim como o

futuro da FPTA.

O XIX Fórum Permanente de Teatro homenageou

o dramaturgo Jorge Luís Borges. Escritor, poeta,

tradutor, crítico literário, ensaísta e bibliotecário de

ascendência judaico-portuguesa, nasceu em Buenos

Aires, na Argentina, a 24 de agosto de 1899. A sua

ascendência portuguesa deve-se ao bisavô, Francisco

Borges, que nasceu em Portugal, em 1770, tendo

vivido em Torre de Moncorvo, antes de emigrar

para a Argentina, onde casou. O próprio escritor

sempre assumiu a sua ascendência Portuguesa e

Moncorvense. Em 1984, é-lhe atribuído título de

Cidadão Honorário Moncorvense.

A homenagem, singela mas genuína, foi realizada

pelo grupo de formandos do painel de Escrita

Criativa a cargo de Manuel Ramos Costa. Baseados

no texto intitulado “O Aleph”, com encenação de

Daniela Serra Cardoso (GAFT- Alma de Ferro) e

orientação do respetivo formador, apresentaram um

excelente e interessante exercício de representação.

Esta apresentação foi apoiada pelos formadores e

formandos dos Painéis de Caracterização, Iluminação

e Construção de Cenografia e Adereços.

O XIX Fórum termina com a fotografia de grupo, entre

risos, abraços e a alegria contagiante que une esta

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XIX FÓRUMPERMANENTE

de

TEATRO

IV FESTIVAL IBÉRICO DE TEATRO

TORRE DE MONCORVO5 6 7 8 de

. . eout. 2017

“grande família” que é a Federação Portuguesa de

Teatro.

Será em Esmoriz que fechamos um ciclo de XX edições

do Fórum Permanente de Teatro pela mão do Grupo

de Teatro Renascer nos dias 23, 24 e 25 de março

de 2018. Esperam-nos muitas surpresas, animação,

convívio e grandes estórias que teremos para recordar

neste caminho que o Fórum já percorreu.

Tânia Falcão

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esta será a última vez, nesta revista, que me dirijo

a vós na qualidade de Presidente da Federação

Portuguesa de Teatro. O mandato que se iniciou em

Janeiro de 2014 em Sardoal, terminará em Março de

2018 em Esmoriz no XX Fórum Permanente de Teatro.

Cumpre-me pois fazer um balanço deste mandato

difícil, com alterações significativas a nível da Direção

que se verificaram ao longo deste período, mas que

apesar das contrariedades, foi possível com muito

esforço e dedicação manter a funcionalidade da sua

equipa.

Foram aperfeiçoados e consolidados projetos,

iniciaram-se outros, mas mais importante do que

tudo isto foram as “sementes” que se lançaram para

a próxima equipa que se seguirá. É impensável para

mim, depois de todo o trabalho efetuado em prol do

projeto Federação Portuguesa de Teatro, que não

exista boa vontade e capacidade para que se continue

a lutar pelo Teatro e pelas Associadas.

A FPTA é um bem inequívoco que devemos manter e

preservar. O seu papel é demasiado importante para

se extinguir. Assim sendo é urgente que as Associadas

que compõem e são a FPTA se articulem e garantam a

sustentabilidade do projeto. Imaginem a quantidade

de pessoas que já passaram pela FPTA e o contributo

que lhe deram. Está na hora de outros se prestarem

a esse papel com a mesma vontade e afinco e com

novas ideias.

Certamente que muitos dirão que diariamente o

tempo é escasso e por isso receiam tal compromisso.

É normal que tenham essa atitude porque de facto

é necessário tempo. Mas para além do tempo o

mais importante é ter Amor- é preciso amar-se o

Teatro e as pessoas que trabalham em equipa nas

nossas Associações. Só o amor permitirá ultrapassar

barreiras e ultrapassar as dificuldades.Este é o maior

contributo que podemos dar pela Cultura e pela

nossa Comunidade.

A FPTA não parará nunca. Ela vive por si própria,

expectante por novos intervenientes com vontade

de impulsionar o seu crescimento e consequente

valorização.

Aos Associados desta Federação sinto-me na

obrigação de vos endereçar algumas palavras:

ESFORÇO E DEDICAÇÃO

boca

de

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Foi uma honra, um orgulho imenso, dirigir com os restantes elementos da Direção,

o seu destino. Perdoem-me as falhas (que foram muitas reconheço), mas acreditem

que tudo aquilo que fizemos foi o possível e com a melhor das intenções –

engrandecer o Teatro e a Cultura!

A FPTA precisa de voluntários. Agora mais do que nunca, depois de colocarmos “o

carro em andamento” não podemos deixar que pare. É preciso que alguém o conduza

e lhe coloque o combustível necessário para chegar ao destino. Não tenham medo.

Os caminhos podem ser tortuosos, mas nada se consegue sem esforço e dedicação.

Acredito em todos vós porque vos conheço e sei que somos uma família.

Vamos mantê-la unida!

Tânia Maria Falcão

(Presidente da FPTA)

boca

de

cena

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prog

ram

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sal

aA CIDADE DE ESMORIZ

esmoriz é uma cidade portuguesa do concelho de

Ovar, com 9,05 km² de área e 11 448 habitantes. Tem

o estatuto de cidade desde 1993, e é cidade geminada

com a de Draveil, em França.

As suas origens remontam aoperíodo da ocupação

romana, quando se denominava "Ermeriz" ou

"Hermeriz". A primeira referência histórica a Esmoriz

remonta às Inquirições de 1288. Posteriormente, há

também referências a Esmoriz num Foral de 1514.

A 29 de março de 1955 ascendeu ao estatuto de vila

e, mais tarde, a 2 de junho de 1993 ascendeu ao de

cidade.

Ao longo dos séculos, a fertilidade das terras de

Esmoriz e os seus recursos naturais foram razões

determinantes para a fixação da população nesta

zona. As principais atividades centravam-se na Arte

Xávega, na Tanoaria e na Cordoaria.

Atualmente essas atividades não têm tanta

preponderância como antigamente sendo que a elas

se juntaram novas indústrias, como por exemplo a de

móveis, confecções, construção civil, e outras.

Em termos de património edificado destacam-se os

antigos Palheiros, abrigos de pescadores no passado,

e os templos, nomeadamente a Igreja Matriz de

Nossa Senhora da Assunção, a Capela de Nossa

Senhora da Penha e a Capela da Praia. A cidade tem

ainda uma forte ligação à poetisa Florbela Espanca,

sendo que em Esmoriz se situa uma das casas onde a

poetisa passou largos períodos da sua vida.

A cidade conta ainda com um monumento em

homenagem ao Tanoeiro e outro aos Pescadores,

antigas atividades económicas expressivas para a sua

economia.

Em termos de espaços verdes, a Cidade de Esmoriz é

brindada com a beleza de dois espaços emblemáticos:

a célebre Barrinha de Esmoriz e o magnífico Parque

Ambiental do Buçaquinho.

A estes espaços naturais soma-se a Praia de Esmoriz,

um dos maiores areais a norte do país, com condições

de excelência.

Para além dos seus espaços verdes, naturais e

monumentos, a cidade de Esmoriz caracteriza-se pela

Praia de Esmoriz

prog

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sal

a

18

sua dinâmica associativa. Esmoriz conta com mais

de 40 associações, desde as ligadas ao desporto, à

cultura, à juventude e ao ambiente.

Esmoriz caracteriza-se ainda pela sua gastronomia

de excelência, sendo possível encontrar restaurantes

de todas as gamas: desde os tradicionais aos mais

requintados.

A cidade conta igualmente com todas as

infraestruturas necessárias para bem receber

e acolher quem nos visita: desde um Parque de

Campismo e um Hotel, passando por uma biblioteca.

Esmoriz dispõe ainda de Posto de Saúde, Quartel

de Bombeiros e da GNR, bem como de estação de

comboio, que facilita a acessibilidade de quem nos

queira visitar.

JFE / João Gomes

Passadiços da Barrinha de Esmoriz

Parque Ambiental do Buçaquinho

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sal

aBREVE HISTORIALGrupo de Teatro Renascer

“Aos sete dias do mês de Maio de mil novecentos

e noventa e dois, um conjunto de cidadãos, no uso

dos seus direitos cívicos, reuniram-se às vinte e uma

horas e trinta minutos (…). Resolveram os seguintes

cidadãos (…) prepararem-se para formar um grupo de

Teatro. (…) ”

E assim ficou escrita a primeira ata do livro do Grupo

Teatro Renascer que começou esta viagem na Cidade

de Esmoriz.

A constituição oficial do Grupo deu-se a 30 de Junho

de 1992 e nos estatutos o destino ficou traçado: “A

associação tem por fim representar peças de autores

nacionais e estrangeiros, organizar espetáculos de

nível cultural e publicar boletins informativos”. Um

destino implacável e próspero que se vai cumprindo e

repartindo pelas pessoas que se orgulham de tomar

parte nele.

O Renascer deu os seus primeiros passos com

espetáculos de “Revista”, estilo que marcou

fortemente os primeiros anos da vida da coletividade.

Entretanto, ávido por experimentar e mostrar

variedade, começou a apresentar diferentes tipos

de espetáculo. Esta mudança retirou o rótulo

exclusivamente “revisteiro” do Renascer e o Grupo

passou a apresentar-se cada vez mais versátil,

primando atualmente pelas peças infantis, pelos

dramas e comédias.

Em 2000 iniciou o seu projeto mais importante-

o Festival de Teatro de Esmoriz- propondo-se a

organizar anualmente, entre setembro e dezembro,

um evento com várias peças de estilos variados

apresentadas por Grupos de Teatro de diversas

origens. O objetivo é fomentar o gosto pelo teatro,

educar e tornar a população da Cidade mais sensível

à cultura e a outras formas de teatro. Em cada edição,

convida sempre uma personalidade diferente ligada

ao Teatro para “apadrinhar” o evento, tendo estado

já presentes nomes como Júlio Cardoso, Alfredo

Correia, Ruy de Carvalho, Odete Santos, Irene Cruz,

Almeno Gonçalves, Manuel Bola, António Capelo,

Joaquim Nicolau e Heitor Lourenço.

Em 2013 deu início à organização de mais dois projetos

de continuação para dinamizar o plano cultural de

Esmoriz: o ATI– Amostra de Teatro Infantil (evento

composto por vários Grupos e peças especialmente

para a infância), actualmente inserido no Festival de

Teatro de Esmoriz; e o Vi(r)ver Teatro (evento que visa

levar a palco um espetáculo de teatro mensalmente

ao público da cidade).

Em 2017, uma nova iniciativa foi lançada pelo Grupo

de Teatro Renascer. Com o objetivo claro de inovação,

e aproveitando como mote os seus 25 anos, foi

criado o I FESTIVAL SET’ARTES, evento promovido

pela primeira vez nos dias 21 e 22 de Julho de 2017.

20

prog

ram

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sal

a O Festival Set’Artes trata-se de um evento cultural

que pretende promover as Sete Artes nacionais e

internacionais, um evento que reúne no mesmo

espaço e em somente dois dias, todas as formas de

expressão de arte e cultura.

O Grupo Teatro Renascer é sócio fundador da

Federação Portuguesa de Teatro, participa ativamente

em iniciativas de intercâmbio cultural, Festivais de

Teatro e também de cariz competitivo. Em 2017 o

Grupo de Teatro Renascer passou a ser o associado

nº 1 das FPTA após renumeração aprovada em

assembleia geral.

É uma associação com tradição, mas que se afirma

jovem e dinâmica. Aposta na formação e no teatro

de qualidade, revela-se cada vez mais ambiciosa

e empenha-se cada vez mais no futuro e em novos

desafios.

21

rep

ort

óri

o

edward Gordon Craig é o nosso convidado de hoje

para as “conversas com os mestres” que temos

vindo a ensaiar já há algum tempo. Talvez menos

conhecido do que os anteriores convidados, é no

entanto mais um dos grandes visionários do teatro na

primeira metade do século XX, incendiando com os

seus textos publicados na primeira década o estado

das coisas existente. Ombreia, como teorizador e

encenador, com os grandes nomes que, em diversos

países da Europa, foram acendendo e renovando as

perspectivas da arte cénica com os Teatros de Arte,

desde a Rússia, com Stanislavski e depois Meyerhold

e a França com Paul Fort, à Alemanha, com Reinhardt,

à Suíça com Adolphe Appia e à Inglaterra com

Gordon Craig. As suas reflexões continuam a ser

profundamente actuais constituindo um desafio

CONVERSAS COM OS MESTRES O actor e as emoções

“É assim que o pensamento do actor é dominado pela sua emoção, a qual consegue

destruir o que o pensamento queria criar; e, triunfando a emoção, o acidente sucede ao

acidente. E chegamos ao seguinte: que a emoção criadora, na origem, de todas as coisas,

é depois destruidora. Ora a Arte não admite o acidente. De modo que o que o actor nos

apresenta não é uma obra de arte, mas uma sucessão de testemunhos involuntários. […]

«O artista», diz Flaubert, «deve estar na sua obra como Deus no universo, invisível e todo

poderoso; adivinha-se por toda a parte, não se vê em parte alguma. É preciso elevar a arte

acima dos sentimentos pessoais e da sensibilidade nervosa. É chegado o momento de dar

à Arte a mesma perfeição que às ciências físicas por meio de um método inflexível.» […]

Tudo leva a crer que a verdade verá a luz em breve. Suprimi a árvore autêntica que

colocastes em cena, suprimi o tom natural, o gesto natural e acabareis por suprimir o actor

igualmente. É o que acontecerá um dia e gosto de ver certos Directores de teatro a encarar

esta ideia desde já. Suprimi o actor e retirareis a um grosseiro realismo os meios de florir em

cena. Já não haverá personagem viva para confundir no nosso espírito a arte e a realidade;

já não haverá personagem viva em que as fraquezas e as comoções da carne sejam visíveis.

O actor desaparecerá; no seu lugar veremos uma personagem inanimada que terá, se

quiserdes, o nome de Super-marioneta — até ter conquistado um nome mais glorioso. […]

Esta não rivalizará com a vida, mas irá para além dela; não figurará o corpo de carne e

osso, mas o corpo em estado de êxtase e, enquanto dela emanar um espírito vivo, revestir-

se-á de uma beleza de morte.”

(Edward Gordon CRAIG, “L’acteur et la sur-marionette”, in Edward Gordon CRAIG, L’Art du

théâtre, Éditions Circé, 1999, pp. 81-82, 94 e 99.)

rep

ort

óri

o

sempre renovado a quem quer pensar radicalmente

“a arte do teatro”. É este, aliás, o título da recolha de

uma parte significativa dos seus textos, publicada pela

primeira vez em 1911 e em que se inserem quer os

dois diálogos que têm como título o título do próprio

livro, “A arte do teatro”, quer o pequeno texto que

elegemos para esta conversa, intitulado “o actor e

a super-marioneta”, publicado pela primeira vez na

revista The Mask, em 1908, que serviu de suporte

à divulgação das suas ideias e à publicação das suas

provocações ao teatro do seu tempo.

Neste caso, sob o polémico título “O actor e a super-

marioneta” Gordon Craig propõe-se pensar as

bases científicas da arte teatral, elevada à “suprema

perfeição” anunciando, no “teatro do amanhã”, a

“substituição” dos actores vivos e vibrantes que

povoam os palcos do seu tempo por seres que

designa “super-marionetas”.

O desafio é pensar a arte do actor, em comparação

com as outras artes, por um lado, mas tendo em conta

a sua especificidade por outro. E, ao pensar a arte do

actor, trata-se de pensar aquilo que constitui o actor

como tal, ou seja, aquilo que constitui a essência do

teatro, que não é, como a visão dominante na segunda

metade do século XIX aceitava facilmente, o texto,

com as suas palavras, entoações ou jogos literários,

mas o gesto, a dança e o movimento. O pai do

dramaturgo, gostava Gordon Craig de repetir, não foi

o poeta dramático mas o dançarino: é no movimento,

ou seja, no ritmo, na cor, nas linhas cruzadas, na

gestualidade que está a fonte e a raiz do teatro e

não na declamação mais ou menos pomposa de um

texto literário. E pensar no movimento é pensar no

corpo e na energia que nele se pode inscrever para

fazer da matéria, da carne, da respiração e do sangue

a personagem inventada e reelaborada à revelia das

vontades espontâneas e confusas que o habitam. E é

aqui que ganha sentido a comparação com as outras

22

rep

ort

óri

o

23

artes: o escultor trabalha a pedra que está aí, muda

e queda, com infinitas formas dentro dela mas sem

as discutir, sem as reclamar, sem vaidosamente as

ostentar, a pedra neutra, a pedra vazia que pode ser

tudo precisamente por se apresentar assim vazia;

o pintor encontra-se perante uma tela, igualmente

vazia, donde todas as cores poderão brotar, onde

todos os jogos se poderão ensaiar e tecer, onde a luz

pode lutar com a sombra, não pelas mãos da tela,

mas pelas mãos do artista, pela sua inteligência, pela

sua dinâmica criadora. O mesmo faz o músico com

os sons que faz brotar do silêncio, com as notas que

inscreve na pauta, com o ritmo que não pré-existe à

música que compõe. Se o actor é um criador como

o escultor, o pintor ou o músico, bem diferente é,

no entanto, o seu trabalho pelas condições em que

é realizado: porque o actor vai trabalhar o corpo

que ele é, com gestos, expressão e movimento, mas

esse corpo que o actor é é também um corpo com

vontade, com paixões e emoções, com inclinações,

vícios, clichés, modos de ser e de estar, jeitos de

dizer, de afirmar e de negar, ou seja, é um laboratório

psíquico em plena efervescência, em permanentes

transmutações, em imitações da natureza que são

apenas isso, “grosseiras imitações da natureza”.

É no teatro das emoções que se joga a grandeza

ou a mediocridade do actor. É nele que se joga

a especificidade da sua arte, é nele que o actor se

ganha ou se perde, porque na sua base está a sua

duplicidade. O actor é um ser humano como qualquer

outro ser humano: tem os dias preenchidos pelas

ocupações mais diversas, tem as horas habitadas

pelas emoções mais díspares, tem o tempo repleto

de alegrias e tristezas, êxitos e contrariedades,

aborrecimentos e prazeres e é com todo esse

material vivo e efervescente que chega a um ensaio,

se aproxima do seu papel e tenta dar corpo e voz

ao corpo e à voz das personagens. No momento do

ensaio ou no momento do espectáculo o actor está

“saturado”: saturado de vida, saturado de ritmos,

saturado de gestos e de movimentos, saturado

de pensamentos, saturado na sua mente e na sua

vontade, saturado na sua maneira de falar e na sua

maneira de calar, saturado de ser e de não-ser. Teve

um dia cheio de alegrias e vai pedir-se-lhe que chore

a morte de Ofélia? Está perturbado pela tristeza da

morte de um ente querido e pede-se-lhe que entoe

uma declaração de amor a Julieta? É este o verdadeiro

drama do actor; não da personagem, mas do actor,

esse ser frágil, inconstante e contingente que se abre

à personagem. É o drama da sua duplicidade. Por um

lado é um ser humano com nome, com vida própria,

com hábitos, com vontade e com vontades; por

outro é uma personagem que descola do drama, da

acção, que ganha vida própria e que não pode estar

sujeita aos caprichos e às inconstâncias de quem a

representa. Esta é a grandeza da arte de representar

e as rasteiras da sua astúcia. Ser e não ser, é essa a

questão, a questão maior do teatro. Se o teatro é

uma alquimia de emoções, começa por sê-lo dentro

do próprio actor. Porque o pensamento diz uma

coisa, mas as emoções que o actor sente, transporta

e tende a exprimir dizem outra coisa traindo o que o

pensamento criador reclama no acto da sua perfeição.

Quando a emoção do actor triunfa, a arte deixa de

ser arte, para ser uma sucessão de acidentes, de

imitações servis, de quedas em série na contingência

da banalidade da vida.

Neste aspecto, penso, Gordon Craig afasta-se

decididamente da utilização da memória afectiva de

Stanislavski no processo de preparação do actor e de

construção da personagem, mesmo tendo em conta

que o encenador russo postula sempre um controle

das emoções dessa memória pelo pensamento. Mas

se Stanislavski sugere que o actor mergulhe dentro

de si próprio e beba na memória das suas emoções

o impulso para desenhar e criar a personagem, o

encenador inglês reclama antes um esvaziamento

rep

ort

óri

o do corpo e da mente, como se o espaço vazio de

Peter Brook não fosse apenas o espaço cénico, mas

também o espaço interior.

É neste contexto que deve ser interpretada a ideia

visionária de Gordon Craig de que o actor do futuro

tenderá a ser substituído por uma super-marioneta.

Não se trata, de maneira nenhuma, de apontar para

um trabalho meramente mecânico na preparação do

actor como se o corpo e a mente do actor fossem

apenas dispositivos mecânicos cujos fios seriam

manipulados pelo encenador ou até mesmo pelo

próprio actor. Esta super-marioneta não é uma

máquina nem pode ser comparada a uma máquina,

tal como os actores não podem ser vistos como mero

joguete de partituras desenhadas fora deles, do seu

pensamento e da sua criatividade. Precisamente

porque não é de uma simples marioneta que se trata,

mas de uma super-marioneta. Assim, não sendo

uma simples marioneta, a super-marioneta tem

pensa¬mento, tem chispa, tem luz, tem imaginação,

tem criatividade. A única coisa que partilha com a

marioneta é o vazio total das emoções para que as

emoções da personagem possam encher o corpo e a

mente do actor, para que o desenho da personagem

seja perfeito e puro, para que a arte seja total e não

uma colecção de acidentes dependentes de emoções

e paixões demasiado volúveis e contingentes que

habitariam o interior do actor. O que significa que

uma super-marioneta, essa super-marioneta que

substituirá o actor, não é um boneco morto, mas,

como diz Gordon Craig, estará “para além da vida”,

será “um corpo em estado de êxtase”, emanando

dela um “espírito vivo”, que se “revestirá de uma

beleza de morte”.

É para preparar em nós esse estado semelhante ao

de super-marioneta que o treino quotidiano e os

exercícios de aquecimento e relaxamento antes dos

ensaios e dos espectáculos servem: esvaziar o corpo,

esvaziar o espírito, para que um novo corpo e um novo

espírito tomem posse deste pedaço de matéria que

somos e o transformem num processo incandescente

que é uma verdadeira alquimia de emoções.

João Maria André

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25

sem

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co

Texto produzido no âmbito do Painel de Escrita

Criativa, orientado por Manuel Ramos Costa, no XIX

Fórum Permanente de Teatro, em Torre Moncorvo,

Outubro de 2017

O ALEPH escrito pelos formandos do painel de Escrita

Criativa no XIX Fórum Permanente de Teatro.

Ana Rita Tavares (Acal), Bruno Joaquim Quelhas

Costa (Os Plebeus Avintenses), Eliana Berenguel

(TIl), Ricardo André Castro Fernandes (A.Com. Te. Ser

- Clube da Sertã), José Manuel Brás Ferreira (GAFT -

Alma de Ferro), Maria de Fátima Costa Monteiro (GT

Renascer), Cristiana Almeida (GAFT- Alma de Ferro).

A partir do texto homónimo de Jorge Luís Borges.

QUADRO 1

NARRADOR 1 (Canta os versos iniciais utilizando o

tema do ADESTE FIDELIS.)

(No final do canto, é interrompido pelo NARRADOR 2

que grita a fórmula seguinte:)

NARRADOR 2 -Beatriz, Beatriz, que morreste infeliz!

Beatriz, Beatriz, que morreste infeliz!

NARRADOR 1 - Beatriz Viterbo, mulher anjo e mulher

fatal, morreu só, em imperiosa agonia, numa manhã

de Fevereiro de 1929.

NARRADOR 2 - Beatriz, Beatriz, que morreste infeliz!

Beatriz, Beatriz, que morreste infeliz!

NARRADOR 1 - Mas não só de Beatriz falaremos

nesta história. Dois pretendentes, tem Beatriz: Carlos

Argentino e Borges, sem apelido. Apenas BORGES.

NARRADOR 2 - Beatriz, Beatriz, que morreste infeliz!

Beatriz, Beatriz, que morreste infeliz!

NARRADOR 1 - Carlos Argentino, o robusto,

o encanecido, de traços finos, o autoritário, o

ineficiente. Ou seja, completamente insignificante.

(Abre luz sobre cadeirão onde CARLOS está sentado.)

CARLOS (Com livro na mão, lê.) - Vi, como o grego, as

cidades dos homens, os trabalhos, os dias de vária luz,

a fome; Não corrijo os factos, não falseio os nomes,

mas le voyage que narro é... autour de ma chambre.

(Apaga a luz sobre CARLOS.)

NARRADOR 1 - E o Borges? Pouco há a dizer sobre o

BORGES. O BORGES era apaixonado pela Beatriz... E

chega para a história!!

(Luz sobre o Borges.)

NARRADOR 2 - Beatriz, Beatriz, que morreste infeliz!

Beatriz, Beatriz, que morreste infeliz!

NARRADOR 1 e 2 (Olhando um para o outro) - Ah,

pois morreste!

QUADR0 2

(Luz fraca em cima dos Narradores, que estão

estáticos.)

CARLOS (Fecha o livro estrondosamente. Abre luz em

toda a cena.)

BEATRIZ 2 (Que estava escondida atrás do cadeirão,

surge lentamente atrás de CARLOS e dança

sedutoramente)

CARLOS (Em tom malicioso.) - Borges, meu amigo, cá

estás, um ano depois...! Como todos os anos!

BORGES 1 (Em tom nostálgico) - Como todos os

anos... A 30 de Abril! Sem falta! (Surge em redor de

BORGES 1 a figura de BEATRIZ 1, que deambula junto

dele, lentamente)

CARLOS - Telefonei-te para tomarmos leite juntos,

O ALEPH

sem

pal

co

26

no salão-bar que os proprietários da minha casa

inauguraram na esquina.

BORGES 1 (Resignado) - Sim, como queira!

CARLOS - Sabes porque te chamei?

BORGES 1 - Soube que quer vender a casa. Os seus

40 anos ainda não lhe ensinaram nada? Não sabe que

esta é a casa de Beatriz? Ainda a vejo em todas as

paredes, em todos os espaços sinto a sua presença.

(Movimentos sincronizados entre BORGES 1 e BEATRIZ

1 durante alguns momentos. Foco de luz em ambas

as personagens. Ouve-se a música do filme Amélie.)

CARLOS (com desordem) - Tu não sabes nada sobre

Beatriz!

(A música baixa mas não desaparece).

BORGES 1 (Falando para o vazio) - Eu amei-a de

verdade.

CARLOS (Falando para o vazio) - Eu tive-a por inteiro.

(Termina a música).

BORGES 1 (sonhador) - Beatriz!

CARLOS (contraditório) - Beatriz Elena!

BORGES 1 (Em retaliação a Carlos mas com voz doce)

- Beatriz Elena Viterbo!

NARRADOR 2 - Beatriz, Beatriz que morreste infeliz!

Beatriz, Beatriz que morreste infeliz!

(A luz incide mais forte.)

NARRADOR 1 - Beatriz querida, Beatriz perdida para

sempre! Beatriz, a causadora da loucura dos homens!

O que Borges queria, Carlos ofereceu-lhe! O Aleph: o

multum in parvo! (noutro tom) O muito em pouco!

BORGES 1 - O Aleph? Que é isso de Aleph?

CARLOS - Não sabes o que é o Aleph? Desconhecia

tamanha ignorância...

BORGES 1 - Aleph: O ponto que contem todos os

pontos. O lugar onde estão todos os lugares, onde

estão todas as fontes de luz, onde posso ter tudo o

que quiser.

CARLOS - Muito bem! Incluindo a Beatriz. Tenho-a no

porão!

BORGES 1 (irradia felicidade agitando-se)

BORGES 1 - No porão? Onde?

CARLOS - Eu indico-te o caminho. (Carlos aponta o

caminho e BORGES 1 vai até à escadaria. Baixa a luz

de palco lentamente.)

QUADR0 3

BORGES 1 (Desce as escadas cambaleando, repetindo

a fórmula.) - Vou ver Beatriz! Quero a Beatriz! A

Beatriz é minha!

(Cada vez mais intensamente tornando-o obsessivo

quase paranóico.)

- Vou ver Beatriz! Quero a Beatriz! A Beatriz é minha!

(Repete a fórmula vezes sem conta ainda em palco

com voz baixa mas obsessiva.)

- Vou ver Beatriz! Quero a Beatriz! A Beatriz é minha!

(Entretanto ouve-se o Narrador.)

NARRADOR 1 - Pobre Borges. Deixou-se soterrar por

um louco, depois de tomar um veneno. Carlos, para

defender o seu delírio, para não saber que estava

louco, tinha de matá-lo. (Narrador solta gargalhada.)

(No final da gargalhada ouve-se intensamente a

fórmula)

- Vou ver Beatriz! Quero a Beatriz! A Beatriz é minha!

BORGES 1 (Rodopia no final das escadas dá de

caras com o globo e tenta tocar-lhe. Tenta fazê-lo

rodar ligeiramente e nesse momento há “blackout”.

Escuridão apenas. Ouve-se um grito forte e neste

momento há troca de BORGES 1 por BORGES 2.

Follow spot em cima da personagem.)

BORGES 2 (Rodopia freneticamente o globo e repete

sem

pal

co

27

a mesma fórmula de forma obcecada em frente da

imagem do globo)

- Vou ver Beatriz! Quero a Beatriz! A Beatriz é minha!

BORGES 2 (Gargalhada tresloucada evidenciando a

loucura mas também a vitória.)

- Formidável! Sim, formidável!

(Levanta a cabeça em direcção ao plano superior.)

- Obrigado, Carlos Argentino. Aproveita a demolição

da tua casa. Agora sim, a

Beatriz é minha!

BORGES 2 (Interage com o público tocando em cada

espectador de forma evasiva e repete a fórmula):

- Beatriz! És tu? És tu, Beatriz?

(Follow spot segue a personagem. Sai de cena gritando

por Beatriz em plena loucura até desaparecer de

cena.)

Fim