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PERSPECTIVAS DA UTILIZAÇÃO DOS ÓLEOS DA MACAÚBA (ACROCOMIA ACULEATA (JACQ.) LODD. EX MART) NO DESENVOLVIMENTO DE COSMÉTICOS. F. C. Callegari 1 ; E. C. Cren 1 ; M. H. C. Andrade 1 1 Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Engenharia Departamento de Engenharia Química E-mail para contato: [email protected] RESUMO Visando fortalecer a implantação da cultura da Macaúba, por agregação de valores, vislumbra-se o aproveitamento dos óleos extraídos da polpa e da amêndoa do fruto para a produção cosméticos. Na composição do óleo da polpa predominam os ácidos oleico e palmítico e no óleo da amêndoa os ácidos láurico e oleico. Esses componentes são emolientes naturais semelhantes aos presentes na epiderme, possibilitando seguir uma tendência cosmética do uso de produtos biomiméticos. Ainda, a presença de quantidades significativas de vitaminas A, E e β-caroteno no óleo da polpa, direciona o aproveitamento das propriedades farmacológicas desse composto natural. Neste trabalho apresenta-se uma comparação entre as propriedades relevantes dos óleos da polpa e da amêndoa da Macaúba com óleos de amêndoa (Prunus dulcis) e coco ( Cocos nucifera), típicos da indústria de cosméticos, além do óleo de pequi ( Caryocar brasiliense), outra matéria-prima brasileira inovadora na indústria de cosméticos. 1. INTRODUÇÃO A procura por novas matérias-primas e tecnologias para o desenvolvimento de formulações cosméticas cada vez mais eficazes e compatíveis aos diferentes tipos de pele e de produtos tem sido uma constante por parte dos pesquisadores e formuladores da indústria de cosméticos. Os óleos vegetais são uma rica fonte de ácidos graxos e têm sido utilizados com sucesso em produtos cosméticos. Devido a propriedades lubrificantes, de amaciamento, de alisamento e de proteção, são classificados como emolientes. Esses óleos fazem a pele parecer lisa e devidamente umedecida. Recentemente, muita atenção tem sido voltada aos chamados óleos virgens, cujas composições são similares às presentes no interior de sementes de oleaginosas, sendo obtidos por prensagem a frio, de forma a assegura uma melhor qualidade do óleo. Óleos vegetais obtidos por esse método contém um grande número de compostos essenciais para o Área temática: Engenharia Ambiental e Tecnologias Limpas 1

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PERSPECTIVAS DA UTILIZAÇÃO DOS ÓLEOS DA

MACAÚBA (ACROCOMIA ACULEATA (JACQ.) LODD. EX MART) NO

DESENVOLVIMENTO DE COSMÉTICOS.

F. C. Callegari1; E. C. Cren1; M. H. C. Andrade1

1 Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Engenharia Departamento de Engenharia

Química

E-mail para contato: [email protected]

RESUMO – Visando fortalecer a implantação da cultura da Macaúba, por agregação de

valores, vislumbra-se o aproveitamento dos óleos extraídos da polpa e da amêndoa do

fruto para a produção cosméticos. Na composição do óleo da polpa predominam os ácidos

oleico e palmítico e no óleo da amêndoa os ácidos láurico e oleico. Esses componentes

são emolientes naturais semelhantes aos presentes na epiderme, possibilitando seguir uma

tendência cosmética do uso de produtos biomiméticos. Ainda, a presença de quantidades

significativas de vitaminas A, E e β-caroteno no óleo da polpa, direciona o aproveitamento

das propriedades farmacológicas desse composto natural. Neste trabalho apresenta-se uma

comparação entre as propriedades relevantes dos óleos da polpa e da amêndoa da Macaúba

com óleos de amêndoa (Prunus dulcis) e coco (Cocos nucifera), típicos da indústria de

cosméticos, além do óleo de pequi (Caryocar brasiliense), outra matéria-prima brasileira

inovadora na indústria de cosméticos.

1. INTRODUÇÃO

A procura por novas matérias-primas e tecnologias para o desenvolvimento de formulações

cosméticas cada vez mais eficazes e compatíveis aos diferentes tipos de pele e de produtos tem

sido uma constante por parte dos pesquisadores e formuladores da indústria de cosméticos.

Os óleos vegetais são uma rica fonte de ácidos graxos e têm sido utilizados com sucesso

em produtos cosméticos. Devido a propriedades lubrificantes, de amaciamento, de alisamento e

de proteção, são classificados como emolientes. Esses óleos fazem a pele parecer lisa e

devidamente umedecida. Recentemente, muita atenção tem sido voltada aos chamados óleos

virgens, cujas composições são similares às presentes no interior de sementes de oleaginosas,

sendo obtidos por prensagem a frio, de forma a assegura uma melhor qualidade do óleo. Óleos

vegetais obtidos por esse método contém um grande número de compostos essenciais para o

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organismo humano e muitos ingredientes de produtos cosméticos de alta qualidade destinados

aos cuidados da pele e cabelo.

Adicionalmente, destaca-se que, dependendo das percentagens individuais de ácidos graxos,

os óleos vegetais, apresentam uma variedade de propriedades. Graças à sua influência benéfica,

sobretudo na pele, os ácidos graxos são de grande importância na cosmetologia, tornando-se

componentes cada vez mais usados em formulações de cosméticos destinados para o cuidado diário

do rosto e do corpo. A principal razão é que a deficiência desses compostos pode causar secagem

excessiva da pele. Assim, os óleos vegetais entram como base para a formulação de cosméticos

principalmente por fazerem uma camada protetora sobre a epiderme evitando a perda de água através

da pele. Além disso, propiciam o amolecimento do estrato córneo e a redução de processos

inflamatórios da pele, diminuindo assim a sensação de dor (Zielinska e Nowak, 2014).

Outro componente para a formulação de cosméticos, as vitaminas têm sido reconhecidas como

ingredientes extremamente valiosos em todos os tipos de formulações, pelos benefícios oferecidos para

a pele, tais como a supressão de pigmentação e hematomas, a estimulação da síntese de colágeno, o

refinamento da superfície da pele, e efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios. O efeito antioxidante é

particularmente apreciado, pois os radicais livres gerados pela radiação UV ou poluentes são

efetivamente eliminados e incapacitados de danificar as células da pele. As vitaminas podem, assim,

melhorar significativamente o desempenho dos cosméticos (Lupo, 2001).

A palmeira Macaúba (Acrocomia aculeata), espécie abundante no cerrado brasileiro, produz

frutos com dois tipos de óleos diferenciados pelos seus perfis graxos e conteúdo vitamínico-nutricional,

merecendo destaque pelo potencial de produtividade industrial e, também, comercial devido às suas

características sensoriais específicas. (Andrade et al, 2006). Nesse contexto, com o objetivo de

evidenciar o potencial de uso dos óleos extraídos da polpa e da amêndoa do fruto da Macaúba para a

formulação de produtos cosméticos para a pele humana, o presente trabalho se constitui em um

levantamento de informações com comparação entre propriedades e características dos óleos da

Macaúba com os óleos vegetais de Coco (Cocos nucifera), Amêndoa (Prunus dulcis) e Pequi

(Caryocar brasiliense). A base para o levantamento das informações a serem apresentadas são

provenientes de pesquisas internas do Laboratório da Macaúba do Departamento de Engenharia

Química da UFMG e da revisão de literatura externa, principalmente para os demais tipos de óleos.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. A pele humana e sua conservação

A principal função da pele dos seres vivos em geral, onde se inclui a pele humana, é a de

formar uma barreira entre o ambiente externo, hostil, e o meio interno. Assim, a pele deve fornecer

proteção contra choques mecânicos, luz ultravioleta, produtos químicos, microrganismos

patogênicos, e outros agentes ou meios externos. Ainda, para minimizar processos de dessecação

natural, a pele deve fornecer uma barreira à perda de água e eletrólitos (Elias et al, 2003).

A camada superior da pele, denominada estrato córneo, possui espessura de cerca de 30 µm,

sendo a principal barreira à perda de água a partir do corpo e também ao ataque químico e biológico

de agentes externos. Essas funções de barreira são principalmente propiciadas pela presença dos

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lipídios, que correspondem a aproximadamente 10% da massa seca do estrato córneo. Os lipídios

presentes no estrato córneo da pele tem uma composição única e são muito diferentes daqueles que

constituem a maior parte das membranas biológicas. Numa base de massa total de lipídios, a

composição em ácidos graxos do estrato córneo abdominal humano é de 19,3%, conforme apresentado

na Tabela 1 (Kligman, 1964).

Tabela 1 – Composição lipídica do estrato córneo abdominal humano

(%m/m do total de lipídios)

Esteróis livres 14,0

Ácidos graxos livres 19,3

C14:0 3,8

C16:0 36,8

C16:1 3,6

C18:0 9,9

C18:1 33,1

C18:2 12,5

C20:0 0,3

Triglicerídeos 25,2

Lipídios apolares 16,3

Esteróis de cera 6,1

Equaleno 6,5

n-alcanos 3,7

Esfingolipídios 18,1

2.2. Os óleos vegetais

Os óleos vegetais são produtos naturais constituídos por moléculas de triglicerídeos, compostos

por uma molécula de glicerol associada a três moléculas de ácidos graxos, em sua maioria contendo cerca

de 12 a 20 átomos de carbono e até duas duplas ligações. Segundo Fasina et al (2006), esses óleos

desempenham papéis funcionais e sensoriais especiais em produtos cosméticos, além de transportarem

vitaminas lipossolúveis (E, A, K e D) e fornecerem ácidos graxos essenciais como os ácidos linolênico e

linoleico. Os efeitos cosméticos e fisiológicos dos óleos vegetais variam conforme a origem da matéria

prima, podendo ser provenientes de frutas, polpas de frutas, castanhas, sementes e outras.

Os componentes mais importantes de óleos para a pele são as substâncias lipídicas,

principalmente por terem efeitos suavizantes, por complementarem os baixos teores lipídicos e por

formarem uma barreira impermeável à perda de umidade. Os triglicerídeos são quebrados na pele ou

durante os processos de digestão, tanto enzimática como reação hidrolítica, na qual os ácidos graxos

são liberados. Além dos três ácidos graxos livres também é liberada a glicerina, um componente

considerado fator de hidratação natural da pele (Lautenschläger, 2009).

Os ácidos graxos: O trabalho de Lautenschläger (2009) se constitui em uma revisão que

apresenta as características e propriedades dos principais ácidos graxos constituintes da pele,

conforme apresentado na Tabela 1. A seguir, destacam-se informações extraídas dessa referência

em relação aos principais ácidos graxos presentes nos óleos vegetais avaliados neste trabalho.

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O ácido palmítico (C16:0) é um componente da barreira da pele e em conjunto com as

ceramidas e colesterol, protege a pele contra a penetração de substâncias a partir do exterior. É

uma substância saturada, o que significa que a sua cadeia de 16 átomos de carbono contém o

número máximo possível de átomos de hidrogênio. O ácido palmítico não sofre processo de

rancificação e é estável contra a oxidação, sendo encontrado em maiores concentrações nos óleos

de abacate e de gérmen de trigo. O Ácido palmitoléico (C16:1) está presente no óleo de abacate

(cerca de 10%) e no óleo de macadâmia (20%), razão pela qual esses óleos possuem excelentes

características de cuidados da pele. Tal como o ácido palmítico, tem 16 átomos de carbono, no

entanto, é monoinsaturado. Monoinsaturado significa, neste caso, que o número máximo

possível de átomos de hidrogênio não está presente, pois faltam dois átomos. Este ácido graxo

também pertence aos lipídios naturais da pele.

O Ácido esteárico (C18:0) contém dois átomos de carbono a mais que o ácido palmítico, sendo

também um componente do estrato córneo, embora com uma concentração muito mais baixa. O ácido

oleico (C18:1) é comumente encontrado em grande quantidade em óleos vegetais. Considera-se que

esse ácido graxo possua um efeito impulsionador sobre a penetração dos agentes ativos, uma vez que

fluidifica a barreira da pele. Óleos ricos em ácido oleico espalham-se melhor na pele do que óleos com

uma alta porcentagem de ácidos saturados. O ácido linoleico (C18:2) constitui uma parte importante

da ceramida da barreira da pele, sem a qual a mesma se torna escamosa e seca. É considerado um

agente ativo eficaz contra distúrbios de queratinização, principalmente em torno das saídas das

glândulas sebáceas, o que o torna um agente eficaz contra a acne. Adicionalmente, sob a influência de

15-lipoxigenase, uma enzima natural do corpo, forma-se sobre a pele um metabólito que possui efeitos

anti-inflamatórios.

Os triglicerídeos de ácidos graxos saturados mais longos, como o ácido eicosanóico (C20:0),

ácido docosanóico (C22: 0) e o ácido lignocérico (C24:0) tem efeitos protetores da pele, mas apenas

pequenas quantidades destes ácidos podem ser encontrados em óleos vegetais.

Além dos ácidos graxos citados, merece destaque também o ácido láurico, que por ser

saturado contribui no endurecimento de sabões, além de ser um bom agente de limpeza e

contribuir para a formação de espuma. É utilizado em produtos cosméticos por suas habilidades

hidratantes e efeito contra acne, devido a propriedades antimicrobianas (Nakatsuji et al, 2009).

As vitaminas: Em produtos cosméticos, algumas das matérias-primas usadas contêm

naturalmente vitaminas em suas composições. Dessa forma, a presença de vitaminas em óleos

vegetais é uma característica almejada que merece ser avaliada e destacada.

Variadas formas de vitamina A, incluindo seus derivados e o betacaroteno (pró vitamina

A), são compostos que têm sido utilizados como aditivos populares em cosméticos por anos. O

betacaroteno, como um precursor dessa vitamina, é um potente antioxidante lipossolúvel capaz

de eliminar o oxigênio atômico, um radical livre altamente reativo. Além disso, o betacaroteno

tem demonstrado possuir efeitos fotoprotetores tópicos, demonstrados em estudos nas peles de

ratos e camundongos, cujos resultados comprovam a proteção contra os efeitos da radiação UVA,

conforme citado por Lupo (2001).

A vitamina E é um antioxidante natural presente em todos os óleos vegetais insaturados. Assim,

uma série de características dessa vitamina e seus derivados são potencializados para uso na área

cosmética. Devemos destacar os efeitos antioxidantes e remoção de radicais, os quais lhe conferem o

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termo “protetor”; proteção da vitamina A e seus derivados em combinação com a vitamina C; redução

do estresse causado pela radiação UV e processos inflamatórios; estimulação da formação de células;

e melhora da capacidade de retenção de umidade da pele. Conforme detalhado no trabalho de Lupo

(2001), vários estudos mostram a sua capacidade para reduzir a eritema e edema induzidas por radiação

UV e a formação de células queimadas pelo sol.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O perfil de ácidos graxos dos óleos extraídos da polpa e amêndoa da Macaúba e dos óleos

de Amêndoa, Coco e Pequi são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 - Composição de ácidos graxos dos óleos da Macaúba e outros óleos vegetais

Ácidos Graxos

(%)

Acrocomia

aculeata

Polpa (a)

Acrocomia

aculeata

Amêndoa(a)

Prunus

Dulcis(b)

Cocos

nucifera

(c)

Caryocar

brasiliensis

(d)

C8:0 - 4,15 - 7,8 -

C10:0 - 4,22 - 6,7 -

C12:0 - 41,42 - 47,5 -

C14:0 0,03 7,98 - 18,1 0,2

C16:0 16,51 5,98 6,48 – 6,29 8,8 41,1

C16:1 2,92 - 0,41 – 0,64 - 0,5

C18:0 2,89 3,38 1,60 – 1,76 2,6 1,9

C18:1 67,67 29,22 72,02 – 76,41 6,2 54

C18:2 8,82 3,43 14,71 – 18,92 1,6 0,9

C18:3 0,81 - - - -

(a) Pimenta et. al; (b) Celic e Balta, 2011; (c) Rossel et. al (1985); (d) Garcia et. al. (2007)

Relativo aos perfis verifica-se a predominância de ácidos graxos insaturados nos óleos da

polpa de Macaúba, amêndoa (Prunus dulcis) e pequi. Por outro lado, nos óleo de amêndoa de

Macaúba e óleo de coco predominam os ácidos graxos saturados. Conforme descrito, alguns dos

ácidos graxos presentes nesses óleos são bastante semelhantes aos apresentados no estrato córneo

da epiderme humana (Rieger, 1987 e Klingman, 1964), especialmente os ácidos palmítico, oleico

e linoleico, o que possibilita seguir mais uma tendência cosmética que é o uso de produtos que

favorecem a compatibilidade formulação-pele.

Conforme Çelic e Balta (2011), os ácidos graxos predominantes no óleo de amêndoa

(Prunus dulcis), são o oleico (72,02-76,41%) e o linoleico (14,71-18,92%). Essa composição

privilegiada explica e justifica o uso intensivo desse óleo como base para a formulação de um

grande número de produtos pelas indústrias de cosméticos, praticamente desde o início da

instalação desse setor. Dentre os ácidos graxos presentes no óleo de coco, Rossell et al (1985)

destaca os ácidos láurico (47,5%) e mirístico (18,1%), seguidos dos ácidos palmítico, caprílico

e cáprico. De acordo com Garcia et al (2007), o óleo de pequi apresenta em seu perfil de ácidos

graxos presença majoritária dos ácidos oleico (54%) e palmítico (41,1%).

Similarmente a outros autores (Coimbra e Jorge, 2011; Duarte et al, 2010; Hiane et al 2005; e

Rettore e Martins, 1983), Pimenta et al (2010) encontrou elevados teores de ácido oleico (67,67%) e

ácido palmítico (16,51%) no óleo de polpa de Macaúba e ainda a presença em menores quantidades

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dos ácidos linoleico, palmitoleico e esteárico. Ainda, no óleo de amêndoa da Macaúba foram

encontradas quantidades significativas de ácido láurico (41,42%) e oleico (29,22%).

Da analise do perfil graxo do óleo de polpa da Macaúba, constata-se uma similaridade com o

perfil do óleo de amêndoa (Prunus Dulcis), no que se refere ao percentual do ácido graxo oleico e a

presença, ainda que em menor do ácido graxo linoleico. Adicionalmente, esse óleo apresenta

quantidade superior do ácido palmítico. Assim, em função de seu perfil graxo, fica evidenciado o

potencial desse óleo para a produção de produtos cosméticos com função protetora para a pele

humana, podendo ser utilizado de forma única ou em complementação com outros óleos vegetais.

Por outro lado, o óleo da amêndoa da Macaúba, pela estreita similaridade ao óleo de coco

e pela predominância do ácido láurico, apresenta potencial para uso em cosméticos na

formulação de compostos para limpeza, tais como os utilizados em sabonetes, sabonetes líquidos

e shampoos. A Tabela 3 mostra as concentrações (mg/kg) de carotenoides e tocoferóis totais, dos

óleos comparados nessa pesquisa.

Tabela 3 - Carotenoides e Tocoferóis totais dos óleos de Macaúba e outros óleos vegetais

Vitaminas

(mg/kg)

Acrocomia

Aculeata

Polpa (a)

Acrocomia

Aculeata

Amêndoa (a)

Prunus

Dulcis

(b)

Cocos

Nucifera

(c)

Caryocar

Brasiliensis

(d)

Carotenoides totais 300,01 1,82 - - 356,4

Tocoferóis totais 212,95 23,10 407,67 11,76 6,07

(a) Coimbra e Jorge (2011), (b) Kodad et al (2014), (c) Yousefi et al, 2013, (d) Nery-Enes et

al (2011)

O óleo de coco apresenta concentrações modestas de tocoferóis e não foram detectados

carotenoides (Yousefi et al, 2013). Para o uso dos óleos avaliados neste trabalho em produtos

cosméticos, pode-se destacar a presença de carotenoides totais no óleo de pequi na concentração de

356,4 mg/kg, conforme apresentado por Nery-Enes et al (2011). Também, Kodad et al (2014)

encontraram uma quantidade expressiva de três principais tocoferóis em amêndoas marroquinas

colhidas em duas safras seguidas, anos de 2009 e 2010, totalizando 407,67 mg/kg.

Coimbra e Jorge (2011) identificaram e quantificaram carotenoides e tocoferóis nos óleos

da Macaúba. As concentrações significantes encontradas no óleo da polpa, 300,01 mg/kg de

carotenoides e 212,95 mg/kg de tocoferóis, potencializam o uso desses óleos para o setor de

cosméticos para a pele, principalmente porque essas substâncias possuem efeitos protetores e

antioxidantes.

4. CONCLUSÕES

Os resultados deste trabalho indicam que para o uso em cosméticos protetores da pele, a

Macaúba destaca-se pelas quantidades expressivas dos ácidos graxos oleico e palmítico e presença

do ácido linoleico no óleo da polpa. Adicionalmente, a presença dos ácidos graxos láurico e oleico

no óleo da amêndoa também o potencializa para uso no setor de cosméticos. Ressalte-se que o ácido

oleico possui como propriedade a facilidade de espalhamento, além de conferir proteção contra

penetração de substâncias a partir do exterior sobre os cosméticos de pele. Adicionalmente,

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quantidades significativas de tocoferóis e carotenoides presentes nesses óleos, por sua vez, implicam

na sua atuação como antioxidante, retardando o envelhecimento da pele.

Assim pode-se concluir que o óleo da polpa da Macaúba possui elevado potencial pra uso

na produção de cosméticos de pele. Por outro lado, o óleo da amêndoa se direciona para a

formulação de produtos que se utilizam de fonte do ácido graxo láurico, especialmente para a

função de limpeza. Assim, conforme descrito, os óleos extraídos da polpa e da amêndoa do fruto

da Macaúba podem ser indicados como mais uma fonte de óleos derivados de uma espécie nativa

do cerrado brasileiro, com ótimas características para aplicação na indústria de cosméticos,

inserindo-se na cadeia produtiva econômica e sustentável de produtos naturais.

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