PERSPECTIVAS EPISTEMOLÓGICAS DA BIOÉTICA BRASILEIRA A PARTIR DA TEORIA DE THOMAS KUHN

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Aline Albuquerque S. de Oliveira et al. Revista Brasileira de Bioética. Volume 1, n. 4, 2005. Pp. 363-385

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  • Universidade de Braslia

    Ctedra UNESCO de Biotica

    Programa de Ps-Graduao em Biotica

    PERSPECTIVAS EPISTEMOLGICAS DA BIOTICA BRASILEIRA A

    PARTIR DA TEORIA DE THOMAS KUHN*

    Aline Albuquerque S. de Oliveira**

    Karin Calazans Villapouca***

    Prof. Dr. Wilton Barroso****

    * Publicado na Revista Brasileira de Biotica. Volume 1, n. 4, 2005. Pp. 363-385

    ** Advogada da Unio, Mestre em Direito/UERJ, Professora do CEUB.

    *** Advogada.

    **** Professor Adjunto do Departamento de Filosofia da UnB, Orientador da Pesquisa.

  • 2

    RESUMO: O presente artigo aponta para uma reflexo epistemolgica da biotica

    brasileira, a partir de tendncias fundamentadas, principalmente, na adequao de

    suas teorias ao contexto scio-econmico e cultural de nosso pas. Destacam-se seis

    importantes vertentes, quais sejam: biotica autonomista; biotica de interveno;

    biotica da proteo; biotica da teologia da libertao; biotica crtica de

    inspirao feminista e biotica feminista e anti-racista, para mostrar que o

    surgimento de uma comunidade cientfica de bioeticistas, nos termos da teoria de

    cincia de Thomas Kuhn, pode ser uma realidade no Brasil. Alm disso, analisou-se

    o contedo da Carta de Braslia e apontou-se a ocorrncia do Sexto Congresso

    Mundial de Biotica, realizado em Braslia, no ano de 2002, como dados essenciais

    para indicar a existncia de consensos entre os pesquisadores nacionais.

    UNITERMOS: Biotica; Epistemologia; Paradigma.

    SUMARY: This article presents an epistemological consideration about Brazilian

    Bioethics from the point of view of tendencies whose theories are mainly based on

    the social, economics and cultural context of our country. We point out six schools

    to show that the emergence of a scientific community of bioethics researchers, in

    the terms of Thomas Kuhn scientific theory, might be a reality in Brazil. These

    schools are: autonomist bioethics, bioethics of intervention, bioethics of protection,

    theology of liberations bioethics,feminist and anti-racist bioethics and critical

    bioethics with feminist inspiration. Moreover, we analyze the content of Carta de

    Braslia and point out the Sixt World Congress of Bioethics, taken in Brasilia,

    2002, as essential facts that indicate the existence of common beliefs among

    national researchers.

    KEYWORDS: Bioethics; Epistemology; Paradigm.

  • 3

    1. Introduo

    A biotica como um campo de saber surge na dcada de setenta nos Estados

    Unidos e passa, atualmente, por uma fase de consolidao. Nos ltimos anos, a

    disciplina biotica est sendo includa em currculos de diversos cursos de

    graduao, despontando como linha de pesquisa em cursos de ps-graduao e

    sendo objeto de estudo de inmeros centros de pesquisa, o que tem contribudo para

    o aprofundamento de suas bases tericas.

    O desenvolvimento da biotica no Brasil iniciou-se, muito tmida e

    pontualmente, nos anos oitenta. Nessa fase, em razo da ausncia de centros de

    pesquisa em biotica e produo cientfica nacional, houve a importao de

    propostas tericas no estudo da biotica, principalmente da teoria principialista,

    formulada nos Estados Unidos da Amrica, por Beauchamp e Childress (1).

    Entretanto, a partir dos anos noventa, percebe-se a construo paulatina de uma

    perspectiva biotica brasileira, contextualizada e voltada para a elaborao de

    aportes tericos que consideram a realidade dos pases latino-americanos. Isso foi

    conseqncia direta do surgimento de ncleos de estudo em biotica, que

    proporcionaram a pesquisa por bioeticistas ptrios, da publicao da Revista

    Biotica pelo Conselho Federal de Medicina, da instituio do Conselho Nacional

    de tica em Pesquisa, e da criao da Sociedade Brasileira de Biotica. E, ainda, no

    ano de 2002, a biotica brasileira alcanou um importante patamar no debate

    mundial ao sediar, em Braslia, o Sexto Congresso Mundial de Biotica. A partir de

    uma minuciosa formao das mesas de conferncias e debates, o citado Congresso

    propiciou a discusso das principais questes bioticas enfrentadas pelos pases

    perifricos, que muitas vezes so relegadas pelos bioeticistas dos pases centrais.

  • 4

    Ficou ressaltado que questes polticas, econmicas e sociais no podem ficar

    apartadas da discusso biotica contempornea.

    Assim, no Brasil, podemos destacar dois eixos principais para a

    consolidao desse saber: 1) o da construo e aprimoramento de teorias ticas

    fundamentadas no contexto brasileiro; 2) o da discusso e elaborao de um

    estatuto epistemolgico, cujo cerne o questionamento ontolgico da biotica e sua

    caracterizao como campo de conhecimento.

    O presente trabalho tem como objetivo trazer discusso esses dois eixos,

    de modo que possamos refletir sobre as escolas da biotica elaboradas no Brasil

    com base na teoria da cincia. O marco terico adotado quanto s questes

    epistemolgicas foi a teoria formulada por Thomas S. Kuhn. Tal opo se deu em

    virtude da importncia que Kuhn confere histria para o entendimento da

    concepo de cincia, indicando como caminho o estudo da evoluo das idias,

    mtodos e tcnicas cientficas (2), contrapondo-se s abordagens generalizantes e

    desvinculadas do processo de construo coletiva do saber cientfico. Com efeito, a

    proposta desse artigo a compreenso da biotica brasileira, analisando o

    movimento evolutivo de suas idias, com base nas teorias elaboradas em seis

    escolas especficas.

    A teoria kuhniana estabelece que a formao de saberes se funda num

    processo permeado por uma tenso constante entre os pensamentos convergentes e

    os pensamentos divergentes. Assim, utilizamos a perspectiva de Kuhn para perceber

    o processo de consolidao da biotica brasileira, demonstrados pontos de consenso

    e dissenso entre as teorias. Segundo o enfoque kuhniano, a existncia de progresso

    num campo do saber passa pela prefigurao de consensos mnimos.

  • 5

    Para a elaborao e discusso dos dois eixos apontados, foram escolhidas

    seis escolas da biotica brasileira, so elas: autonomista; biotica de interveno;

    biotica da proteo; biotica da teologia da libertao; biotica crtica de

    inspirao feminista; e biotica feminista e anti-racista. A despeito da relevncia

    das outras escolas existentes, tal escolha teve como base o texto denominado

    Panorama da biotica brasileira (3) e a dissertao de mestrado de Mauro Prado

    (4). Essa opo tambm considerou a quantidade de publicaes dos tericos das

    seis escolas analisadas, que tambm se destacam por suas participaes em

    congressos nacionais e internacionais.

    Nesse sentido, o presente trabalho pretende contribuir para a reflexo

    epistemolgica da biotica brasileira, a partir da teoria kuhniana de cincia.

    Inicialmente, delineamos pressupostos elementares da concepo cientfica de

    Kuhn. Num segundo momento, apresentamos as caractersticas principais de seis

    tendncias tericas. Por ltimo, considerando a noo de matriz disciplinar,

    identificamos as acepes comuns entre as escolas, apontamos a construo coletiva

    do programa do Sexto Congresso Mundial de Biotica, e analisamos a existncia de

    um exemplar na comunidade de bioeticistas brasileiros.

    2. Premissas bsicas do pensamento de Kuhn

    Para utilizar as propostas de Kuhn em nosso artigo, a primeira noo a ser

    exposta a de paradigma. No significado mais corrente, paradigma um modelo

    ou padro aceito (5), ou seja, uma construo terica que, em razo de sua

    capacidade para a resoluo de problemas relevantes, assim considerados pela

    comunidade cientfica, adquiriu um status superior em relao s demais teorias.

    No obstante o sentido usual adotado, ele foi criticado por Masterman, a qual

    aponta que, em A estrutura das revolues cientficas, o termo paradigma

  • 6

    utilizado com, aproximadamente, vinte e dois significados diferentes (6). Essa gama

    ampla de significados ensejou diversas crticas, que ressaltaram a vagueza da noo

    de paradigma e sua impreciso conceitual. Em 1969, como uma tentativa de

    resposta aos crticos, Kuhn estabeleceu a idia de matriz disciplinar, redefinindo os

    elementos paradigmticos e sua relao com a constituio de um campo do

    conhecimento.

    A matriz disciplinar refere-se a paradigma em sentido lato e exemplar em

    sentido estrito. Dessa forma, passa-se a trabalhar com dois sentidos de paradigma.

    No de matriz disciplinar, tem-se o conjunto de elementos consensuais de

    determinado grupo de cientistas; no de exemplar, a concreta soluo de um

    problema que foi adotada de forma compartilhada pelos membros da comunidade

    cientfica.

    Primeiramente, importante destacar os componentes da matriz disciplinar:

    generalizaes simblicas; modelos; e exemplares. Os trs elementos de uma matriz

    disciplinar possuem caractersticas paradigmticas, ou seja, constituem pontos

    consensuais de uma comunidade cientfica que so compartilhados por seus

    integrantes.

    As generalizaes simblicas so equaes fundamentais de uma teoria,

    proposies formuladas e aceitas pelo grupo. Essas formulaes destinam-se

    prtica e soluo de problemas concretos, na medida em que formulam

    proposies cuja aplicao forma uma totalidade. As proposies so inteligveis

    apenas a partir de um nmero ilustrativo de aplicaes. A idia de proposio

    comum contrape-se a de soluo individual e isolada de um problema, marcada

    pela ausncia de liame terico entre as vrias solues, no permitindo com isso, a

  • 7

    construo de um saber racional, uma vez que os significados dos conceitos

    empricos so fixados pelas proposies tericas compartidas.

    Os modelos, por sua vez, realizam a interao entre as generalizaes

    simblicas e os exemplares, identificando os problemas no resolvidos e assentando

    a relao de semelhana entre estes e os exemplares, com o objetivo de que lhes

    sejam aplicadas as mesmas proposies utilizadas no exemplar, se houver

    identificao suficiente.

    A matriz disciplinar se assenta sobre a noo de paradigma decomposto em

    elementos consensuais mltiplos. No entanto, aps 1969, segundo Barroso (7),

    Kuhn passa a empregar, com maior freqncia, o termo paradigma com o

    significado de exemplar. realada por Kuhn a necessidade de consensos para a

    caracterizao de um saber como cincia normal, no sentido de que apenas um

    ponto bsico deve ser essencialmente consensual numa comunidade cientfica: a

    concreta resoluo de determinado problema. Portanto, no presente trabalho,

    adotamos a idia de paradigma desenvolvida a partir de 1969, na Estrutura das

    revolues cientficas. Utilizaremos as noes de matriz disciplinar e exemplar,

    principalmente, em virtude de se tornarem sucedneo da concepo geral de

    paradigma.

    Considerando a proeminncia da noo de exemplar sobre os demais

    componentes da matriz disciplinar, no desenvolvimento da cincia madura, tem-se

    uma fase inicial, denominada cincia pr-normal ou pr-consensual, na qual no se

    verifica a existncia de elementos mnimos de convergncia, e a fase da cincia

    normal ou madura, em que h a presena de exemplares. A passagem da cincia

    pr-normal para a cincia madura se d de forma gradativa, podendo, muitas vezes,

    levar dcadas. Na cincia madura, h a possibilidade da explicao mais complexa

  • 8

    da realidade processada, no se verificando a inteno de inovar por meio de

    fundamentos, e sim de tentativas constantes de expandir a correspondncia entre a

    teoria e o mundo fenomnico, sem, contudo, a v pretenso de predizer e manipular

    toda a realidade.

    A construo de um saber cientfico, sob o enfoque kuhniano, implica a

    participao ativa da comunidade cientfica, na medida em que os consensos

    mnimos sero estabelecidos pelos seus membros atravs de atividades constantes,

    que envolvem a indicao de tcnicas de ensino/aprendizagem e de comunicao. A

    constituio de um objeto cientfico no se encontra dissociado da realidade

    concreta. A identificao do objeto atravessa as escolhas de pesquisadores

    influenciados por seus valores. Assim, o pensamento kuhniano ressalta a

    importncia da atividade da comunidade cientfica para a formatao de um saber.

    No nosso entender, as escolas aqui levantadas prefiguram a existncia de

    uma comunidade cientfica na biotica brasileira, pois seus formuladores e seus

    adeptos encontram-se unidos pelo estudo em comum, com a absoro da mesma

    literatura e desenvolvem uma comunicao freqente no interior dos grupos em que

    esto inseridos. Nesse sentido, seguindo os passos de Kuhn (8) a fim de identificar a

    maturidade epistemolgica da biotica, parte-se para busca dos elementos tericos

    mnimos que promovam uma relativa unanimidade entre os bioeticistas ptrios.

    Para isso, apresentamos a seguir um perfil das seis escolas da biotica brasileira.

    3. Escolas da biotica brasileira

    3.1. Escola da biotica autonomista

    A corrente denominada biotica autonomista parte da idia de autonomia do

    sujeito como norte para o entendimento e resoluo de conflitos ticos no campo da

    biotecnologia e medicina. Essa corrente vem sendo desenvolvida por Marco Segre,

  • 9

    conforme se pode verificar em vrios artigos seus, bem como no livro, em co-

    autoria com Cludio Cohen, intitulado Biotica (9).

    Segre estabelece uma diferenciao entre moral e tica com base nos

    conceitos de autonomia e heteronomia kantianos. A moral, caracterizada como

    heternoma, comparada idia de superego advinda da psicanlise, na medida em

    que seria a introjeo de valores impostos e aceitos sob o medo do castigo. Essa

    moral, fixada de forma autoritria atravs dos vrios cdigos de conduta presentes

    na sociedade, no revela opo normativa livre e consciente do sujeito, portanto,

    consoante Segre, incapaz de fundamentar a autonomia. Assim, se a moral ou

    qualquer cdigo de conduta infundido exteriormente ao sujeito no podem embasar

    uma biotica autnoma, dever-se- recorrer noo de tica. Para Segre, a tica no

    se subsume racionalidade kantiana, embora considere que a autonomia advm da

    faculdade do sujeito de se auto-legislar, uma vez que acrescenta a emoo ao

    processo de constituio de normas prprias.

    A emoo um fator de relevncia equnime razo na percepo e

    elaborao dos conflitos, pois o inconsciente, noo indispensvel para o

    entendimento de autonomia segundo Segre, tem como substrato os sentimentos.

    Dessa forma, o sujeito, ao processar um conflito tico, coloca-se como racional e

    concomitantemente como ser crdulo, no afastando suas crenas de seu

    posicionamento tico; assim, a pluralidade de crenas e sentimentos no deve ser

    desconsiderada na apreciao de qualquer conflito tico.

    A condio tica autnoma, ou seja, a partir da percepo individual do

    conflito, fundamentada na emoo e na razo, o sujeito constri sua norma de forma

    coerente. A coerncia um dado ressaltado por Segre, sendo considerada resultado

    do equilbrio emocional adquirido a partir da percepo dos sentimentos

  • 10

    conflitantes e do ajustamento entre eles, ou seja, uma conseqncia do

    desenvolvimento do ego.

    Com efeito, o enfoque dado por Segre autonomia parte de noes

    psicanalticas, contrapondo moral atrelada ao superego tica vinculada ao

    ego. A tica autonomista permite a crtica, uma vez que nenhum corpo normativo

    aceito sem a avaliao do ego; por outro lado, a moral recepcionada a partir da

    introjeo de normas decorrente do medo do castigo ou do anseio pelo

    reconhecimento. A tica predominantemente individual, ligada s noes

    intrnsecas ao sujeito, e apenas perpassando por ele, os conflitos podero ser

    dirimidos. Ressaltando a acepo do sujeito como ncleo de sua teoria, assenta

    Segre que o princpio fundamental da tica o respeito ao ser humano, entendido

    como ser autnomo e apto a atuar socialmente (10).

    Na relao entre a tica social e a pessoal deve-se levar em conta as

    emanaes ticas de cada um dos sujeitos, a fim de ajust-las necessidade da

    coexistncia humana. Desse modo, as decises de mbito social apenas sero postas

    se houver instncias de debate permissoras da manifestao da autonomia

    individual. O ponto central, assim, o posicionamento individual diante dos

    dilemas ticos, porque cada sujeito, com suas particularidades, adotar uma opo

    em face das questes bioticas. Ainda, segundo a biotica autonomista, em razo da

    pluralidade axiolgica, somente a biotica laica pode ser manifestao da

    autonomia, uma vez que a religio baseia-se em hierarquizao e assentamento de

    valores.

    Por fim, sob a tica da biotica autonomista, qualquer posicionamento deve

    considerar a liberdade individual e a possibilidade de se perceber conflitos e fazer

    opes fundamentadas nos sentimentos e racionalidade singulares, sem o recurso a

  • 11

    um cdigo normativo prvio ou superior, salvo se essa hiptese representar uma

    escolha deliberada do sujeito autnomo, realizada aps o crivo de seu ego.

    3.2. Escola da biotica de interveno

    A biotica de interveno ou biotica dura se insere no movimento que

    intitulado como perspectiva crtica brasileira. A biotica brasileira, na dcada de

    oitenta e incio de noventa, basicamente se reportava ao arcabouo terico de

    Beauchamp e Childress (11), fundamentado em quatro princpios: autonomia,

    beneficncia, no-maleficncia e justia. Entretanto, com o desenvolvimento da

    pesquisa em biotica no Brasil, alguns bioeticistas nacionais, dentre eles Volnei

    Garrafa, Dora Porto e Mauro Prado, principais expoentes da biotica de

    interveno, rechaaram a importao descontextualizada de teorias ticas

    estrangeiras com vistas formulao de uma teoria que se adequasse s

    contingncias de um pas perifrico com grave quadro de excluso social.

    Assim, a biotica de interveno reflete o processo de elaborao de uma

    teoria que inclua a realidade scio-econmica brasileira e os problemas no campo

    da sade e da biotecnologia decorrentes desse contexto. Para tanto, a fim de

    demarcar o objeto que separa a biotica brasileira da produzida nos pases centrais,

    Garrafa formula a noo de biotica das situaes emergentes, abrangendo aqueles

    conflitos que surgiram em razo do desenvolvimento biotecnolgico, e biotica das

    situaes persistentes, considerando as questes que h muito esto presentes nos

    debates ticos, como, por exemplo, o aborto, a eutansia e as relacionadas

    alocao de recursos sanitrios, discriminao e excluso social (12). Com isso,

    a biotica sob essa perspectiva tem como principal objeto situaes persistentes

    originadas da desigualdade social, sob o vis da defesa dos excludos e dos

    vulnerveis.

  • 12

    A biotica de interveno critica a atitude apoltica de algumas teorias

    estrangeiras e enfatiza a necessidade de se construir uma biotica que intervenha

    diretamente na realidade. Assim, indica a necessidade de premissas capazes de

    embasar prticas interferentes no contexto scio-econmico e cultural e que

    percebam a pluralidade moral presente nas sociedades contemporneas.

    Partindo do pressuposto de que os problemas advindos da desigualdade

    social nacional e internacional devem ser foco da biotica desenvolvida em um pas

    perifrico, a biotica de interveno adota, na esfera pblica, o consequencialismo

    solidrio, e na esfera privada, a contextualizao dos conflitos ticos. No mbito

    coletivo, enfatiza a responsabilidade do Estado no que tange soluo dos dilemas

    persistentes, principalmente a proteo dos vulnerveis e dos excludos. Desse

    modo, legitima-se o princpio da proteo como recurso a ser adotado pelo Estado

    a fim de justificar a defesa e o provimento do bem-estar da populao (13).

    Conforme os primeiros delineamentos da biotica de interveno, duas

    referncias tericas so utilizadas: a finitude dos recursos naturais e a questo

    relacionada corporalidade referente ao prazer e a dor (14). ressaltada a

    necessidade de controle do desenvolvimento desenfreado da tecnologia e da

    indstria, estimulado pela sociedade de consumo, aliada obrigao de se repor

    constantemente os recursos renovveis extrados. Segundo a biotica de

    interveno, esse pode ser um ponto tico universal de convergncia entre as

    pessoas envolvidas com as questes ambientais e preocupadas com o futuro do

    planeta. Tambm so ressaltadas por essa teoria as sensaes de prazer e dor, que

    apesar de serem diferentes para uns e outros, so passveis de serem percebidas por

    qualquer ser humano, por indicarem uma esfera de contato entre todas as pessoas,

    no obstante possurem posturas ticas completamente divergentes. Desse modo, o

  • 13

    pluralismo tico contemporneo apenas pode ser enfrentado no nvel da

    corporalidade, considerando o prazer e a dor como marcos para orientaes

    valorativas (15). Entretanto, enquanto no se verifica a consecuo desse processo,

    h que se recorrer a parmetros ticos universais, como os direitos humanos

    reproduzidos na Declarao Universal dos Direitos Humanos.

    A biotica de interveno se revela como uma perspectiva terica ainda em

    construo, mas com estrutura alicerada sobre premissas claras. Na mesma medida

    que se mostra fundamental a aceitao do pluralismo moral, a biotica de

    interveno tambm invoca a necessidade de uma biotica laica, ao propor a

    elaborao de uma teoria desvencilhada de cdigos, normas ou qualquer parmetro

    de conduta fechado. Defende que a biotica deve ser pautada sob a gide da

    liberdade, sem, contudo, se apartar de algumas finalidades bsicas, tais como: a

    tutela dos excludos; a afirmao do papel do Estado; o respeito aos direitos

    humanos. Essas so as alternativas apresentadas para se combater as injustias

    sociais.

    Portanto, sob o vis da biotica de interveno, ao Estado atribui-se o papel

    irrenuncivel de intervir diretamente em benefcio dos vulnerveis. Para tanto

    indispensvel o enfrentamento da questo acerca da alocao de recursos sanitrios,

    uma das situaes apontadas pelos tericos da biotica de interveno com uma das

    mais relevantes para a biotica brasileira. Desta forma, conclui-se que a biotica de

    interveno no apenas trata dos micro-problemas. Ao constatar a insuficincia

    terica do principialismo para lidar com os macro-problemas, essa escola da

    biotica entendeu que apenas o estudo aprofundado dos macro-problemas poderia,

    de fato, contribuir para a construo de um pensamento em biotica identificado

  • 14

    com a realidade prpria dos pases perifricos, nos quais as questes de natureza

    macro se revelam muito mais prementes.

    3.3. Escola da biotica da proteo

    A biotica da proteo construo dos bioeticistas Fermin Roland

    Schramm e Miguel Kottow. No artigo mais elucidativo sobre a biotica da proteo

    (16), h uma crtica contundente postura das correntes predominantes na biotica

    anglo-americana, quanto ao destaque conferido aos problemas ticos advindos da

    relao mdico-paciente e quanto teoria tica fundamentada nos quatro princpios

    desenvolvida por Beauchamp e Childress. Assim, Schramm e Kottow apontam que

    a problemtica em torno da sade pblica ficou renegada, uma vez que o modelo

    principialista no desenvolveu aportes tericos capazes de lidar com os dilemas

    especficos no mbito dessas questes. Como proposta, os referidos bioeticistas

    apresentam o princpio da proteo.

    Antes de formularem as bases do princpio da proteo, demonstram que o

    princpio da solidariedade, desenvolvido por Callahan (17), e a tica da

    responsabilidade, exposta por Jonas e Lvinas (18), no so hbeis para lidar com

    o papel do Estado diante dos mais frgeis e excludos, no obstante reconhecerem a

    importncia desses conceitos para a biotica.

    O princpio da proteo se fundamenta no papel mais elementar do Estado,

    que o de proteger a integridade fsica e patrimonial de todos os indivduos que se

    encontram em seu territrio, funo essa reconhecida desde o sculo XVIII.

    Contudo, ressaltam que, com o advento do Estado do bem-estar social, ampliaram-

    se as prestaes estatais, ou seja, passa a se considerar dever do Estado no apenas

    o respeito s liberdades pblicas, como tambm a prestao positiva de bens

    sociais. A proteo consiste em assegurar aos indivduos determinadas prestaes

  • 15

    que os possibilitem desenvolverem-se plenamente alm de atender a outras

    necessidades e interesses individuais e coletivos. Schramm e Kottow (19)

    enumeram as caractersticas do princpio da proteo, quais sejam: a gratuidade,

    no h um compromisso prvio de assumir uma atitude protetora; a vinculao, a

    atitude, uma vez assumida, torna-se um dever; a segurana efetiva das necessidades

    do afetado.

    Segundo a biotica da proteo, cabe ao Estado assumir obrigaes na esfera

    da sade pblica sob o fundamento de uma responsabilidade social relacionada aos

    necessitados. Entretanto, salientam que no se deve confundir proteo com

    paternalismo, pois, sob o vis da proteo, os agentes estatais apenas podem atuar

    em conformidade com as determinaes preestabelecidas de forma coletiva. Assim,

    uma vez decididas pela sociedade certas polticas sanitrias, cabe ao Estado, de

    forma irremedivel, contempl-las.

    A biotica da proteo parte do pressuposto de que a sade essencial para

    a qualidade de vida e, sem a sua tutela, no h como se operar o desenvolvimento

    de potencialidades pessoais. Da mesma forma, apenas atravs do Estado, a sade

    pode ser protegida, ou seja, no h como indivduos isolados exercerem

    satisfatoriamente a proteo defensiva, contra o adoecimento, ou proativa,

    salvaguarda de formas de viver saudveis (20).

    A despeito da imperatividade da atuao estatal a fim de propiciar bens em

    sade, a biotica da proteo no afasta a necessidade de se respeitar a pluralidade

    axiolgica presente nas sociedades atuais e a incorporao de uma moralidade laica

    (21). Desta forma, Schramm a define como uma biotica laica que possui a tarefa

    de proteo dos mais desamparados com intuito de alcanar a justia social.

  • 16

    Em textos mais recentes, percebe-se a aplicabilidade da biotica da proteo

    em dilemas ticos de diferentes naturezas, a despeito de ter se originado sob a tica

    da responsabilidade pblica, verifica-se que, em razo da riqueza argumentativa,

    pode ser aplicada ao mbito interpessoal. Nas relaes entre indivduos, a biotica

    da proteo tambm pode vir a desempenhar a tarefa fundamental de reequilibrar

    relaes originalmente desmedidas.

    3.4. Escola da biotica da teologia da libertao

    A partir das reflexes de Mrcio Fabri dos Anjos, a biotica brasileira

    recebeu muitas influncias da denominada Teologia da Libertao. De forma muito

    sucinta, essa corrente teolgica v a presena de Deus, Pai/Me, como o grande

    Criador do mundo. Os seres humanos so vistos como co-criadores do mundo e

    responsveis pela conduo de si mesmos Vida plena. J as potencialidades

    humanas so dons a serem desenvolvidos ao longo da existncia. (22). A escola que

    ser aqui analisada prope uma interface entre os conceitos teolgicos ocidentais

    catlicos e os da biotica.

    O princpio fundamental da tese defendida pelos telogos est na existncia

    de uma mstica que permeia a biotica, tanto quanto outros ramos do saber

    humano como, por exemplo, a poltica e a economia. A terminologia mstica por

    ser entendida partindo do enfoque etimolgico que significa as razes e motivaes

    ocultas que sustentam os critrios, as argumentaes, as propostas de atitudes e as

    normas em Biotica. (23) Tambm pode ser compreendida como os ideais, as

    projees utpicas, ou as esperanas dos tericos (24).

    Acrescenta-se noo de mstica, a existncia de campos de reflexo

    comum entre esses dois saberes, tais como: o avano da cincia e da tecnologia

    vivido pela sociedade contempornea; as novas interpretaes dos significados e do

  • 17

    prprio sentido da vida; a relao dos seres humanos entre si e destes com o meio

    ambiente. Os telogos acreditam que muitos bioeticistas, diferentemente do que

    ocorre com grande parte dos acadmicos dedicados a outras reas do saber, so

    tocados por um notrio senso de justia, solidariedade e humanismo (25).

    A Teologia da Libertao, em uma postura coerente com seus limites em

    lidar com um saber plural e secular como a biotica, estabelece uma proposta de

    apenas dar contribuies multidisciplinariedade caracterstica desse ramo do

    conhecimento humano. Podemos ressaltar a sugesto de se perceber as questes

    bioticas a partir de trs dimenses que se inter-relacionam: questes mini-

    sociais; questes midi-sociais; e questes macro-sociais. As primeiras podem

    ser entendidas como aquelas que contemplam as relaes interpessoais, a exemplo

    das familiares, das existentes entre o mdico e o doente etc. As segundas podem ser

    entendidas como as que envolvem iniciativas institucionais e grupais, exemplo as

    vividas pelos grupos de risco, grupos de pesquisa etc. J as terceiras trabalham com

    as grandes estruturas e os sistemas de vida social, como os organismos polticos da

    rea de sade, questes da socializao de recursos para a sade etc (26).

    A escola da Teologia da Libertao, de maneira muito peculiar, percebe o

    Brasil e todos os pases da Amrica Latina como terrenos muito frteis para sua

    atuao. Devido s inegveis desigualdades sociais desses pases, um dos principais

    focos de ateno dos telogos, os pobres so vistos como os que esto em condio

    mais vulnervel na sociedade. Portanto, perceptvel o engajamento scio-poltico

    de suas teorias. O texto de Anjos denominado Biotica nas desigualdades sociais

    (27) um exemplo clssico disso.

    Dessa forma, a interface da biotica com a teologia tem como objetivo

    essencial realizar o dilogo entre cincia e religio. H muitos preconceitos gerados

  • 18

    em torno da Igreja como inibidora do avano cientfico (28). Independentemente de

    quem tenha razo, por meio desse dilogo muitas questes podero ser melhor

    compreendidas e somadas criao de um lugar comum onde religiosos e pessoas

    no vinculadas aos preceitos teolgicos possam intercambiar idias e reformul-las,

    quando entenderem necessrio, em prol de um bem maior que a construo de

    uma sociedade mais justa e solidria.

    3.5. Escola da biotica crtica de inspirao feminista

    A biotica crtica de inspirao feminista, no contexto brasileiro, surgiu

    como uma resposta a certas questes ticas que dizem respeito principalmente

    sade e ao papel da mulher na sociedade.

    Duas pesquisadoras despontam nessa tendncia: Dbora Diniz e Marilena

    Corra. O texto intitulado Biotica feminista: o resgate do conceito de

    vulnerabilidade (29) demonstra didaticamente como a construo social do papel

    da mulher pode distorcer o sentimento de autonomia na hora da tomada de

    determinadas decises. Um exemplo bastante elucidativo a opo pelo uso das

    novas tecnologias de reproduo, normalmente invasivas e de alto custo financeiro

    e emocional, em caso de impossibilidade de gravidez natural. O que as autoras

    denominaram de vulnerabilidade moral da mulher perpassa pelas reflexes acerca

    da quase-obrigao de toda mulher gerar um filho como parte do imaginrio social.

    Para explicar a proposta da biotica feminista, destacam que esta no deve

    ser confundida com um discurso sexista. Esse rtulo visto como uma forma de

    mascarar e perpetuar os padres de desigualdade e opresso existentes. Lembram a

    necessidade de compreenso do significado, de um lado, de vulnerabilidade, e do

    outro, de diferena. A diferena pode ser entendida como um valor moral fruto de

  • 19

    conquistas histricas da humanidade na luta por uma convivncia democrtica em

    que a dignidade e a liberdade dos indivduos so princpios essenciais (30).

    Argumentam quanto ao consenso de que homens e mulheres so diferentes,

    principalmente se considerarmos aspectos fisiolgicos. No entanto, enfatizam que

    isso no significa dizer que a insero social das mulheres nas sociedades

    contemporneas deva continuar subjugada clssica dominao masculina que

    fragiliza, oprime e vulnerabiliza a condio feminina (31).

    3.6. Escola da biotica feminista e anti-racista

    A presente escola possui como figura representativa a bioeticista Ftima

    Oliveira.O atributo de anti-racista decorrente da crescente tomada de conscincia

    de toda a sociedade com relao necessidade de um posicionamento nesse sentido,

    assim como de aes concretas visando acabar com a perniciosa discriminao

    racial no pas. As anlises partem de polmicas em que mulheres e negros so

    representantes de grupos em visvel desvantagem no acesso aos bens da vida,

    portanto, muitas vezes, se encontram em condies de vulnerabilidade. Como a

    biotica um novo saber, permeado de muitas discusses de vanguarda, no

    poderia se furtar a refletir questes raciais e de gnero, to importantes

    contemporaneidade.

    Alm disso, Oliveira aborda a importncia da percepo de tipos de

    vulnerabilidade decorrentes da pobreza, tais como a vulnerabilidade social, cultural,

    tnica, poltica, econmica, educacional, e de sade. Para a autora, a pobreza e a

    fome so empecilhos ao desenvolvimento pleno das potencialidades genticas dos

    seres humanos, portanto precisam fazer parte do debate das biocincias (32).

    Com isso, considerando as perspectivas feminista e anti-racista como frutos

    de elaboraes acadmicas interligadas a teorias sociais e polticas que no

  • 20

    poderiam ser evitadas em um saber multidisciplinar, percebe-se a disposio da

    autora em divulgar outras abordagens de temas bastante discutidos em biotica. So

    enfoques necessrios que pretendem driblar o generalismo tico que muitas vezes

    deixa de contemplar nuances fundamentais da diferena humana.

    Uma vez apresentadas, em traos gerais, as seis tendncias de estudos

    brasileiros sobre biotica, expomos, a seguir, nossa proposta de enquadramento da

    biotica nacional como matriz disciplinar, considerando a teoria da cincia

    formulada por Kuhn.

    4. Matriz disciplinar e biotica brasileira

    4.1. Generalizaes simblicas

    Das seis tendncias, destacamos como pontos consensuais: a postura crtica contra a

    adoo automtica de aportes tericos advindos dos pases centrais e a preocupao

    em formular teorias que contemplem aspectos da realidade brasileira e dos pases

    perifricos como um todo. A construo epistemolgica da biotica brasileira

    perpassa pela anlise desses pontos consensuais, com o escopo principal de lhe

    fortalecer no cenrio internacional.

    Consideramos a biotica como matriz disciplinar, ou seja, um saber

    especfico dominado por alguns praticantes que demonstram em suas teorias a

    existncia de consensos mnimos. Tais compartilhamentos so decorrentes das

    escolhas tericas feitas pelos integrantes das escolas que criam uma comunidade

    cientfica. A caracterizao da biotica como campo do saber especfico, no

    obstante sua importncia, no ser alvo de discusso neste artigo. Nosso objeto a

    anlise da existncia de consensos coletivos entre os bioeticistas brasileiros.

    Os consensos mnimos podem ser decompostos em generalizaes

    simblicas e exemplares. As generalizaes simblicas so expresses formais

  • 21

    recebidas sem dissenso pelos membros do grupo, e sobre as quais so construdas

    as tcnicas de resoluo de problemas. No mbito da biotica, cincia no exata, as

    generalizaes simblicas no podem ser situadas na esfera de expresses lgicas e,

    sim, como crenas compartilhadas pelos bioeticistas. Assim, uma vez assentadas,

    entre os membros da comunidade cientfica, determinadas proposies, qualquer

    construo terica ulterior parte dessas premissas, no precisando justific-las

    reiteradamente. So esses consensos mnimos que refletem as percepes ticas da

    realidade partilhadas pelos bioeticistas.

    Se apontamos que os membros da comunidade biotica nacional giram em

    torno de uma matriz disciplinar, para se estabelecer as generalizaes simblicas, h

    que se buscar proposies compartilhadas entre as diversas escolas. Portanto, as

    generalizaes simblicas, compreendidas como noes fundantes gerais, sero

    extradas das escolas que formam o arcabouo terico no mbito da biotica

    brasileira.

    A partir das caractersticas principais das escolas aqui abordadas, podem ser

    enumerados elementos comumente aceitos por seus membros. Em primeiro lugar,

    destaca-se a proteo de pessoas fragilizadas. Essa fragilidade pode ser decorrente

    de condies inerentes pessoa, como sexo, etnia, idade, ou alguma enfermidade,

    ou de situaes que tornam os seres humanos mais expostos a influncias externas.

    perceptvel que as denominaes variam conforme a escola, contudo, nota-se que

    todas atribuem biotica brasileira a tarefa de ressaltar a proteo dos suscetveis,

    desamparados (33), excludos (34) (35), com autonomia reduzida, no sentido de

    Segre (36), bem como dos oprimidos (37). O primeiro elemento apontado revela o

    compromisso da biotica brasileira com a proteo dos frgeis, principalmente ao

    destacar o contexto de desigualdade socioeconmica do pas (38) (39) (40).

  • 22

    Como decorrncia do dever de se proteger os frgeis, independentemente da

    motivao para classific-los assim, tem-se a necessidade de se estabelecer quem

    vai efetivar a proteo. Se algumas pessoas ou parcelas da sociedade brasileira se

    encontram em situao de debilidade, medidas devem ser adotadas para que tal

    condio seja alterada ou, no mnimo, amenizada. Assim, aponta-se que, partindo

    das teorias bioticas tratadas, ao Estado deve ser atribuda a tarefa de proteo da

    comunidade, atravs, por exemplo, do monitoramento contnuo da pesquisa

    cientfica (41). O Estado possui o papel fundamental e indelegvel de adotar

    medidas protetoras (42) e de limitar o poderio econmico (43) refletido nos

    interesses mercadolgicos, por meio de produo normativa (44). Constata-se, desta

    forma, que a biotica brasileira destaca o Estado como agente principal na

    superao de fragilidade pessoal e coletiva. Principalmente, no tocante ao papel

    estatal na alocao de recursos e na supresso das iniqidades sociais (45).

    A biotica no Brasil assenta-se sobre uma concepo de tica laica ou civil

    (46) (47), como o contexto mais adequado para dirimir questes ticas (48),

    rechaando a soluo de problemas baseada em parmetros estritamente religiosos,

    com diminuto alcance social. No obstante a religiosidade da maioria da populao

    brasileira preciso no se trabalhar com dogmas na construo de uma teoria

    biotica (49), prescrevendo uma biotica sem concepes apriorsticas (50). Essa

    proposio associa-se a outra, compartilhada pelos bioeticistas mencionados,

    referente considerao da pluralidade moral contempornea (51) (52). A

    inexistncia de uma nica cosmoviso enfaticamente utilizada com o escopo de se

    demonstrar a necessidade de se encontrar pontos de interseo entre as diversas

    comunidades morais (53). Assim, observa-se que, a biotica brasileira, compartilha

    o entendimento de que, independentemente da teoria tica de fundo, as discusses

  • 23

    no podem ser pautadas por um encaminhamento que, a priori, seja excludente de

    moralidades antagnicas. Conseqentemente, parte-se do discurso laicizador em

    biotica, sem, entretanto, negar-se a dialogar com a abordagem teolgica (54).

    O respeito dignidade da pessoa humana outro ponto de destaque nas

    escolas apresentadas. A concepo de que a pessoa humana o alicerce axiolgico

    da biotica brasileira manifesta. Essa opo valorativa, entretanto, varia de

    roupagem nas diversas escolas. A regra que assenta a observncia da dignidade da

    pessoa humana (55), algumas vezes, aparece como a necessidade de no violao

    dos direitos humanos (56), outras, como a imperiosidade de se respeitar o indivduo

    (57) e, ainda, por meio da incorporao dos direitos das mulheres e das vtimas do

    racismo como direitos humanos, ressaltados por Oliveira (58). Completando a

    escolha axiolgica manifestada pelas escolas apontadas, tem-se para Schramm (59)

    as populaes humanas como objeto de tutela.

    Os aspectos compartilhados pelos representantes das escolas podem ser

    resumidos em: a proteo dos mais frgeis e o papel do Estado nessa tarefa, a

    despeito da relevncia conferida sociedade civil (60); a pluralidade moral aliada a

    uma biotica laica, sem pressupostos religiosos; e, por fim, o respeito dignidade

    da pessoa humana embasada nos direitos humanos como limites inegociveis para

    prticas sociais, delineamentos da biotica traduzida para o contexto brasileiro.

    Alm disso, percebe-se nitidamente que a comunidade de bioeticistas

    brasileiros j manifestou, recentemente, outras formas de consensos. A despeito da

    impossibilidade fsica de explorar devidamente a temtica, no se pode deixar de

    destacar que a construo coletiva do programa do Sexto Congresso Mundial de

    Biotica, realizado entre os dias 30 de outubro e 03 de novembro de 2002, em

    Braslia, demonstra cabalmente a existncia de consensos mnimos na biotica

  • 24

    brasileira. A Comisso Organizadora foi integrada por pessoas provenientes de

    diversas tendncias, como, p. ex., Volnei Garrafa, Fermin Roland Schramm, Mrcio

    Fabri dos Anjos, Marco Segre, que conseguiram alcanar um entendimento quanto

    ao tema oficial e programao cientfica do Congresso. Ou seja, constata-se a

    presena da preocupao com a perspectiva da multidisciplinariedade, o respeito ao

    pluralismo moral, e o enfoque nos macro-problemas relacionados ao poder e

    justia, como pontos de convergncia.

    Assim, a temtica do Sexto Congresso Mundial de Biotica, e seus

    desdobramentos no que tange escolha dos conferencistas e s sesses constituem

    material de extrema relevncia para se aprofundar o estudo, sob a tica kuhniana, da

    biotica brasileira. Cabe destacar, ainda, a repercusso mundial do referido

    Congresso, principalmente em razo do considervel nmero de participantes e da

    presena de bioeticistas de notria importncia, bem como de ter inserido na pauta

    da discusso biotica internacional questes at ento no debatidas a contento,

    como as relacionadas justia social. Considerando as peculiaridades do Sexto

    Congresso, apontamos como imprescindvel, em pesquisas a serem realizadas

    futuramente, o estudo do trabalho desenvolvido pela Comisso Organizadora do

    Congresso como reproduo de percepes compartilhadas pelos vrios bioeticistas

    representativos do pensamento nacional.

    4.2. Exemplares

    Os exemplares, isto , as solues de problemas aceitas consensualmente

    pelo grupo sero aqui abordados conforme a noo de paradigma. De fato, aps a

    publicao do psfacio de Estrutura das revolues cientficas, o sentido de

    exemplar foi assim compreendido (61): os problemas concretos conjugados com as

    solues anudas pelo grupo de pesquisadores formam um exemplar. A existncia

  • 25

    de um exemplar ou exemplos compartilhados fundamental para que um

    determinado saber adquira consistncia terica e possa alcanar o status de cincia

    normal.

    patente que, em razo das escolas da biotica brasileira ainda se

    encontrarem em estgio de elaborao terica, a presena de exemplares no

    facilmente verificvel. Na verdade, no obstante a relevncia da construo terica,

    na aplicabilidade de proposies consensuais e nas suas conseqncias tericas

    que se revela a habilidade maior de um bioeticista. Ao conferir respostas

    fundamentadas e satisfatrias para problemas em biotica, compreendendo-a como

    um saber aplicado, destinado reflexo e conformao de questes no campo da

    sade e da biotecnologia, qualquer elaborao terica no pode se apartar da

    imperatividade de demandas prticas. Portanto, a busca e anlise de exemplares

    de extrema relevncia para a conformao da biotica no Brasil.

    Partindo-se do entendimento de exemplar, h que se buscar um problema ao

    qual foi conferida uma soluo consensual, compartilhada majoritariamente, pelo

    grupo de bioeticistas no Brasil. Apontamos como problema a ser solucionado a

    tentativa de alterao do texto da Declarao de Helsinque, iniciada em 1997, e

    proposta pelos representantes da Associao Mdica dos Estados Unidos.

    A Declarao de Helsinque, elaborada em 1964, o documento que impe

    limites ticos da pesquisa em seres humanos, estabelecendo restries s prticas

    aparentemente cientficas que violem a autonomia e integridade fsica de pessoas.

    Na reunio anual da Associao Mdica Mundial, do ano de 1997, a

    delegao da Associao Mdica dos Estados Unidos apresentou vrias propostas

    de modificao substancial dos preceitos em vigncia da Declarao. Na 51a

    Assemblia Geral da AMM, em 1999, novamente, houve a tentativa de alterao da

  • 26

    Declarao. Entretanto, as sugestes foram apenas registradas no relatrio da

    reunio (62) e postergaram sua deliberao para a reunio que seria realizada em

    Edimburgo. Na Assemblia Geral da AMM, em Edimburgo, os membros presentes

    no aceitaram o inteiro teor das propostas apresentadas pelos representantes norte-

    americanos, contudo, foram inseridas algumas modificaes que tornaram o texto

    ambguo (63).

    Dentre as sugestes de alterao, importante destacar o duplo standard

    de tratamento (64). O item 2 do inciso II da Declarao de Helsinque impe que

    em qualquer estudo mdico, todos os pacientes incluindo os do grupo controle,

    se houver devem ter assegurados os melhores mtodos diagnsticos ou

    teraputicos comprovados. Essa regra estabelece que, mesmo diante da falta de

    mtodos diagnsticos ou teraputicos no local onde os participantes da pesquisa

    residem, esses tm direito que lhes sejam fornecidos os melhores mtodos referidos

    comprovados. Sutilmente, pretendem os norte-americanos, membros da Associao

    Mdica, alterar a redao do citado dispositivo. Sua inteno que os participantes

    da pesquisa tenham garantido apenas os mtodos diagnsticos ou teraputicos que

    lhes sejam acessveis, ou seja, disponveis no pas em que residem. Embora tnue a

    diferena entre melhores mtodos diagnsticos ou teraputicos comprovados e

    melhor mtodo diagnstico, profiltico, ou teraputico que em qualquer outra

    situao estaria disponvel (65), o que se prope a estipulao de duplo padro de

    pesquisa: um para ser aplicado em pases perifricos e outros em pases centrais

    (66), na medida em que nos primeiros, em grande parte, no h qualquer tratamento

    disponvel. Portanto, diante das desigualdades sociais existentes no mundo, tem-se

    que, nos pases pobres, as pesquisas sero realizadas sem a obrigatoriedade de se

  • 27

    assegurar aos participantes os mtodos j comprovados, acessveis, na maioria das

    vezes, apenas populao dos pases ricos.

    Ao se deparar com a gravidade do problema concreto tentativa de

    modificao de ponto crucial do texto da Declarao de Helsinque a comunidade

    de bioeticistas no Brasil se reuniu no Frum Nacional Declarao de Helsinki:

    Perspectivas da Sociedade Brasileira e aprovou a Carta de Braslia, em 08 de

    fevereiro de 2000. A soluo conferida pelos membros de grupos representativos da

    biotica brasileira foi no sentido de que a Declarao de Helsinque deve ser

    entendida como um documento consolidador de valores da humanidade, tendo

    como base os direitos humanos. Considerou-se, ainda, a necessidade da tutela de

    pessoas ou grupos que devem receber cuidados especiais vulnerveis em razo

    de no estarem aptas a se protegerem.

    A biotica brasileira possui pressupostos consensuais mnimos verificados

    nas escolas apresentadas, na constituio da pauta do Sexto Congresso Mundial, e

    na fundamentao da Carta de Braslia. A adoo dessas crenas compartilhadas

    permite que as formulaes ulteriores avancem, na medida em que no ser mais

    necessrio justificar previamente a escolha de tais proposies. Da mesma forma, a

    sua efetivao e insero social ser maior, uma vez que um discurso unssono

    propicia a divulgao da biotica para maior nmero de pessoas, democratizando-a,

    e o enfrentamento de questes ticas de forma comunitria, otimizando as aes dos

    bioeticistas, com o alcance de resultados mais slidos.

    5. Consideraes finais

    A biotica, enquanto campo de saber, apresenta-se de forma pluralista,

    acolhendo em seu corpo diferentes teorias ticas. Da mesma forma, as diversas

    correntes de pensamento devem procurar contextualizar sua aplicao de acordo

  • 28

    com a realidade observada. Apesar da validade dessas afirmaes, acreditamos que

    qualquer saber para se desenvolver e alcanar respaldo social precisa de consensos

    mnimos. A existncia de elementos paradigmticos possibilita a consolidao da

    comunidade de pesquisadores e a configurao acadmica do saber.

    Na realidade, embora plural e relativista, a biotica brasileira possui algumas

    proposies centrais e essenciais que no devem ser ignoradas. A elaborao da

    Carta de Braslia, no ano 2000, assinada por entes representativos da biotica

    nacional e a construo coletiva do programa do Sexto Congresso Mundial de

    Biotica, ocorrido no Brasil em 2002, revela a existncia desses elementos

    paradigmticos e de uma comunidade cientfica.

    Na dcada de noventa, com a emergncia da biotica crtica, os autores

    apontados fizeram observaes contundentes quanto adoo descontextualizada

    dos princpios, originalmente, decorrentes do Relatrio Belmont (67), e

    reelaborados por Beauchamp e Childress (68). O discurso, da maioria, foi no

    sentido da necessidade de se rechaar o emprego uniforme de princpios em

    primazia do respeito diferena moral verificada nas sociedades contemporneas.

    Contudo, a constatao factual da ausncia de uma moralidade comum no

    mundo atual no conduz ao entendimento de que no deva haver proposies

    consensuais dentro da biotica. A questo acerca da tentativa de alterao de alguns

    pontos fundamentais da Declarao de Helsinque paradigmtica nesse sentido. A

    adoo do relativismo e o desprezo por proposies inegociveis levam

    argumentao exposta por aqueles que sugerem a alterao do item referente ao

    duplo padro.

    A biotica brasileira, ao se posicionar criticamente em relao teoria

    predominante de Beauchamp e Childress (69), e ao absorver o pluralismo moral

  • 29

    contemporneo, no deve rechaar a presena de consensos compartilhados e

    principalmente de elementos paradigmticos que servem de ponto de partida para

    qualquer discusso tica. Ao contrrio, a proteo dos

    vulnerveis/frgeis/excludos/suscetveis; a observncia dos direitos humanos,

    compreendidos como limite tico incontestvel; a necessidade de participao de

    entes reguladores de condutas, estatais ou supraestatais, capazes de criar imposies

    a indivduos, grupos ou comunidades, so paradigmas da biotica brasileira,

    comunitariamente aceitos, necessrios para a soluo de conflitos ticos, que no

    devem ser menosprezados sob as argumentaes em torno da

    contextualizao/relativizao/pluralismo. No caso da Declarao de Helsinque

    ficou patente que indispensvel para o fortalecimento da biotica, e para o

    aumento de sua capacidade de interferncia na realidade o acolhimento de

    proposies paradigmticas.

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