Pespectiva bíblica diante do aumento do divórcio entre os cristãos

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1 www.juliosevero.com Perspectiva bíblica diante do aumento do divórcio entre os evangélicos Julio Severo O número de divórcios vem crescendo dramaticamente na sociedade. Esse crescimento mostra que muitos casais o consideram uma opção importante quando um casamento não vai bem. No Brasil, um de cada quatro casamentos acaba em divórcio e nos Estados Unidos o problema atinge quase metade dos casamentos. Mas o que impressiona mais é que estudos mostram que os cristãos são tão vulneráveis ao divórcio quanto qualquer outra pessoa. Todos os anos, milhares de cristãos decidem, por diversos motivos, terminar seu casamento. Um estudo realizado pelo Barna Research Group revela que o índice de divórcio entre os cristãos americanos está realmente um pouco mais elevado do que entre os que não são cristãos. Entre os adultos que não são cristãos, 24 por cento estão atualmente ou já estiveram divorciados. Em comparação, 27 por cento dos crentes que acham que nasceram de novo estão nessa mesma situação. Essa tendência prejudica o testemunho dos cristãos na sociedade. Há a informação de que até os ateus estão, com alegria, utilizando o mesmo estudo para anunciar que quem não crê em Deus tem o índice mais baixo de divórcio.[1] Embora pareça uma opção aceitável no caso de um casamento infeliz e tumultuado, o divórcio sempre deixa cicatrizes numa família. Filhos de pais divorciados muitas vezes desenvolvem depressão e ansiedades profundas de si mesmos, suas famílias e seus relacionamentos com os pais e amigos. O divórcio torna as crianças novas quietas e deprimidas e os adolescentes, revoltados, agressivos e até mesmo vulneráveis à delinquência e às drogas. Pesquisas também mostram que pessoas separadas e divorciadas sofrem mais sentimentos de infelicidade, solidão e doenças crônicas e agudas do que as pessoas casadas ou solteiras. [2] Não há dúvida de que o divórcio é um mal que vem crescendo no meio das igrejas. Não há cristão que não conheça casal dentro da igreja se separando ou já separado. Os exemplos incluem até evangélicos em posição de liderança. Não é fácil lidar com tudo o que está relacionado com o divórcio e o recasamento. Até mesmo estudiosos da Bíblia têm muita dificuldade para debater essas questões num nível teológico. Portanto, não é sem razão que haja opiniões e interpretações variadas. Tudo o que sabemos sobre os sentimentos de Deus é que ele declarou: “Odeio o divórcio”. (Ml 2:16) Fica

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Divórcio, recasamento e Bíblia

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Perspectiva bíblica diante do aumento do

divórcio entre os evangélicos

Julio Severo

O número de divórcios vem crescendo dramaticamente na sociedade. Esse

crescimento mostra que muitos casais o consideram uma opção importante

quando um casamento não vai bem. No Brasil, um de cada quatro casamentos

acaba em divórcio e nos Estados Unidos o problema atinge quase metade dos

casamentos. Mas o que impressiona mais é que estudos mostram que os

cristãos são tão vulneráveis ao divórcio quanto qualquer outra pessoa.

Todos os anos, milhares de cristãos decidem, por diversos motivos, terminar

seu casamento. Um estudo realizado pelo Barna Research Group revela que o

índice de divórcio entre os cristãos americanos está realmente um pouco mais

elevado do que entre os que não são cristãos. Entre os adultos que não são

cristãos, 24 por cento estão atualmente ou já estiveram divorciados. Em

comparação, 27 por cento dos crentes que acham que nasceram de novo

estão nessa mesma situação. Essa tendência prejudica o testemunho dos

cristãos na sociedade. Há a informação de que até os ateus estão, com alegria,

utilizando o mesmo estudo para anunciar que quem não crê em Deus tem o

índice mais baixo de divórcio.[1]

Embora pareça uma opção aceitável no caso de um casamento infeliz e

tumultuado, o divórcio sempre deixa cicatrizes numa família. Filhos de pais

divorciados muitas vezes desenvolvem depressão e ansiedades profundas de

si mesmos, suas famílias e seus relacionamentos com os pais e amigos. O

divórcio torna as crianças novas quietas e deprimidas e os adolescentes,

revoltados, agressivos e até mesmo vulneráveis à delinquência e às drogas.

Pesquisas também mostram que pessoas separadas e divorciadas sofrem

mais sentimentos de infelicidade, solidão e doenças crônicas e agudas do que

as pessoas casadas ou solteiras. [2]

Não há dúvida de que o divórcio é um mal que vem crescendo no meio das

igrejas. Não há cristão que não conheça casal dentro da igreja se separando

ou já separado. Os exemplos incluem até evangélicos em posição de liderança.

Não é fácil lidar com tudo o que está relacionado com o divórcio e o

recasamento. Até mesmo estudiosos da Bíblia têm muita dificuldade para

debater essas questões num nível teológico. Portanto, não é sem razão que

haja opiniões e interpretações variadas. Tudo o que sabemos sobre os

sentimentos de Deus é que ele declarou: “Odeio o divórcio”. (Ml 2:16) Fica

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então uma pergunta intrigante: Por que está aumentando entre os evangélicos

algo que Deus odeia? Por isso, existe uma necessidade de abordar o assunto

da forma mais bíblica possível e da forma mais próxima dos sentimentos de

Deus, a fim de que mais casamentos possam ser preservados. Cabe, é claro,

principalmente à liderança adquirir um conhecimento bíblico adequado a fim de

aplicá-lo para proteger seus rebanhos das tendências que estão destruindo os

casamentos no mundo.

Portanto, o estudo presente foi preparado para enriquecer nosso conhecimento

sobre o assunto com uma visão breve no Novo Testamento (NT). O objetivo

não é tratar dos complexos problemas que ocorrem depois que um casal

evangélico já seguiu a tendência de divórcio ou recasamento. Tudo o que se

pretende é chegar a uma perspectiva da Palavra de Deus que seja útil para os

casais evangélicos, antes que eles pensem em seguir essa tendência.

O que a Bíblia diz?

O que o NT ensina sobre o divórcio? É comum hoje entender que em Mateus

19:9 Jesus permite o divórcio somente em situações de infidelidade conjugal.

Mas, se essa interpretação for correta, como é que ficam os casos envolvendo

violência doméstica e abandono?

Essa passagem na verdade trata de um problema relativamente comum entre

os judeus daquela época: divórcio e recasamento. Geralmente, o judeu queria

o divórcio a fim de poder se casar novamente. O Antigo Testamento (AT)

permitia essa possibilidade por razões mais amplas do que a infidelidade

conjugal. É por isso que os apóstolos pareceram decepcionados com a posição

“restritiva” de Jesus.

Contudo, Jesus tinha um jeito especial de lidar com situações complicadas.

Quando os líderes religiosos judeus trouxeram uma mulher apanhada no ato de

adultério diante de Jesus, a atitude dele foi extremamente inteligente. Em vez

de se mostrar contra ou a favor, ele lhes deu uma resposta que os conduziu a

uma profunda reflexão do estado de vida de cada um deles: “Quem estiver sem

pecado, jogue a primeira pedra”. (Cf. Jo 8:2-11)

Na passagem sobre o divórcio, Jesus agiu da mesma forma, numa situação

igualmente complicada. Ele respondeu aos líderes religiosos judeus de um

modo que pudesse levá-los a refletir mais no que é o casamento diante de

Deus. Ele disse: “Eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher,

exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher, estará cometendo

adultério”. (Mt 19:9 NVI)

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Os outros Evangelhos também citam a mesma passagem, mas não fazem

nenhuma referência ao trecho em que Jesus menciona “exceto por imoralidade

sexual”:

Em Marcos, Jesus diz: “Todo aquele que se divorciar de sua mulher e se casar

com outra mulher, estará cometendo adultério contra ela”. (Mc 10:11 NVI)

Em Lucas, Jesus diz: “Quem se divorciar de sua mulher e se casar com outra

mulher estará cometendo adultério, e o homem que se casar com uma mulher

divorciada estará cometendo adultério”. (Lc 16:18 NVI)

Por que parece haver tal contradição nas declarações de Jesus nos

Evangelhos? Por que Mateus resolveu tratar do assunto de modo diferente?

Enquanto em Marcos e Lucas Jesus parece ser categoricamente contra o

recasamento, em Mateus ele mostra que há uma situação especifica em que

um homem ou mulher pode se divorciar e casar novamente. Em outras

palavras, somente a imoralidade sexual permite essa possibilidade. Como

explicar essa diferença de ensino?

Entendendo o objetivo de cada livro da Bíblia

Embora tenhamos a Bíblia como uma coleção completa de livros hoje,

originalmente cada livro (no caso, cada Evangelho) foi escrito como uma carta

dirigida a pessoas especificas. Os livros de Marcos, Lucas e João foram

escritos de modo geral para cristãos que não eram judeus. No primeiro século

da era cristã, nenhuma igreja possuía sozinha todos os livros do NT. Só

séculos mais tarde é que as igrejas passaram a desfrutar das bênçãos de

possuir a coleção completa das cartas reunidas dos apóstolos.

Assim, tratando-se dos Evangelhos na época em que foram escritos há dois mil

anos, uma igreja em determinado lugar recebeu o Evangelho de João, outra

recebeu o Evangelho de Marcos e um homem importante chamado Teófilo

recebeu o Evangelho de Lucas. Essas cartas foram preparadas para cristãos

sem muito conhecimento nos costumes judaicos. Mas para quem foi escrita e

dirigida a carta de Mateus?

Um fato importante é que o NT foi escrito em grego, a língua mais usada pelo

mundo na época dos apóstolos. No entanto, especialistas acreditam que o

único livro do NT que originalmente não foi escrito em grego é Mateus, que se

presume ter sido escrito primeiro em aramaico, a língua utilizada pelos judeus

da época. Mais tarde, o Evangelho de Mateus foi traduzido para o grego.

Então, sabe-se que três Evangelhos foram escritos para quem não era judeu, e

apenas um trata das necessidades especificas dos judeus.

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Portanto, na passagem de Jesus sobre o divórcio, Marcos e Lucas não

mencionaram o trecho “exceto por imoralidade sexual” por um nobre motivo:

eles queriam poupar a mente dos cristãos não-judeus das questões

particulares dos judeus. Da mesma forma, Paulo, que era judeu e tinha um

ministério voltado para alcançar quem não era judeu, jamais tocou no assunto

da “exceção” de Jesus, a fim de não confundir os não-judeus. Marcos, Lucas e

Paulo sabiam o que Jesus havia dito, mas sabiam também que a declaração

completa só era relevante para os judeus. Assim sendo, o que um judeu era

levado a pensar quando ouvia: “Quem se divorciar de sua esposa e se casar

com outra mulher comete adultério, a não ser no caso de adultério”?

Adultério como crime social

Os judeus viviam de acordo com as leis do AT. Para eles, só havia uma lei para

o pecado do adultério. “Se um homem cometer adultério com a mulher de

outro, ele e a mulher deverão ser mortos”. (Lv 20:10 BLH) A pena de morte,

aplicada no cônjuge culpado, liberaria o cônjuge inocente para se casar com

outra pessoa. Há outras evidências bíblicas que mostram que só a morte de

um cônjuge libera o outro, se assim ele o desejar, para um novo casamento.

Em Romanos Paulo diz: “Por exemplo, pela lei a mulher casada está ligada a

seu marido enquanto ele estiver vivo; mas, se o marido morrer, ela estará livre

da lei do casamento. Por isso, se ela se casar com outro homem enquanto seu

marido ainda estiver vivo, será considerada adúltera. Mas se o marido morrer,

ela estará livre daquela lei, e mesmo que venha a se casar com outro

homem, não será adúltera”. (Rm 7:2-3 NVI, o destaque é meu.) Qualquer

judeu, como o próprio Paulo, podia compreender que a única base para o

recasamento é a morte do outro cônjuge.

No entanto, se alguém que não pertencia ao povo de Israel lesse Mateus 19:9,

ele entenderia que só pode haver divórcio em caso de adultério. Ele entenderia

dessa forma justamente porque sua mente não teria condições de ver o texto

como um judeu, que conhecia o AT. Assim, ele não saberia que há uma

penalidade máxima para o pecado do adultério.

Embora o AT desse liberdade para os judeus se divorciarem por vários motivos

para poderem se casar novamente, Jesus limitou essa liberdade a um único

motivo, mas com uma resposta que tinha como objetivo levar os judeus a

refletir profundamente no significado e projeto de Deus para a união familiar.

Além disso, ele mostrou que a lei de divórcio do AT foi estabelecida por causa

da dureza de coração do próprio povo de Deus.

Como todo bom judeu, os discípulos de Jesus apreciavam a lei de divórcio do

AT. É por isso que eles expressaram descontentamento e desapontamento

com o posicionamento de Jesus permitindo divórcio e recasamento somente no

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caso de imoralidade sexual. Eles disseram: “Se o relacionamento de um

homem com sua esposa é assim, não vale a pena casar!” (Mt 19:10 ISV)

O que os deixou assim desanimados, e o que também deixaria qualquer outro

judeu no mesmo estado de insatisfação, é que ao aceitar o posicionamento de

Jesus, o judeu que pretendia se divorciar e casar novamente teria de aceitar a

lei divina que trata da pena para o pecado do adultério.

Espaço para a graça da restauração

Entretanto, onde fica o espaço para a graça de Deus em toda essa situação em

que fica aberta a possibilidade de recasamento somente com a morte do

cônjuge culpado? O judeu que lesse o Evangelho de Mateus teria,

inevitavelmente, de ler a passagem logo antes da declaração de Jesus sobre o

divórcio (Mt 18:23-35). Quando Mateus escreveu aos judeus, sua carta não

tinha capítulos nem versículos. Assim, a passagem sobre o perdão (Mt 18:23-

35) estava unida à passagem sobre o divórcio (Mt 19:1-12). Então, antes de

pensar em divórcio o judeu já precisaria pensar em perdão. Com a direção do

Espírito Santo, o judeu obediente a Jesus poderia liberar o perdão e deixar a

graça de Deus vencer e prevalecer onde o pecado queria destruir.

Portanto, é possível entender que a graça do perdão está disponível para curar

e restaurar casamentos. A graça de Jesus veio para restaurar, não destruir.

Contudo, um cristão não-judeu interpretaria a passagem de Mateus como se o

NT permitisse divórcio apenas no caso de adultério. Tal interpretação deixaria

sem resposta algumas importantes questões: Como, por exemplo, ficaria a

situação de esposas casadas com homens beberrões, violentos ou até

criminosos?

Como Paulo tratou a questão

Paulo, que pregava a graça de Deus e era hostilizado pelos judeus legalistas,

abordou o assunto da separação. Ele ensinou: “Aos casados dou este

mandamento, não eu, mas o Senhor: Que a esposa não se separe do seu

marido. Mas, se o fizer, que permaneça sem se casar ou, então, reconcilie-

se com o seu marido. E o marido não se divorcie da sua mulher… Por causa

dos problemas atuais, penso que é melhor o homem permanecer como está.

Você está casado? Não procure separar-se”. (1 Co 7:10-11, 26-27a NVI, o

destaque é meu.) Em situações em que um cônjuge descrente resolve se

separar, Paulo via na separação liberdade para o cônjuge crente: “Todavia, se

o descrente separar-se, que se separe. Em tais casos, o irmão ou a irmã não

fica debaixo de servidão; Deus nos chamou para vivermos em paz.” (1 Co 7:15

NVI)

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É claro que na opinião de Paulo o estado ideal para os solteiros era não se

casarem, a fim de estarem livres para servir ao Senhor. Então, no caso de um

cristão casado se separando, a ideia não é outra: sua liberdade é oportunidade

de servir ao Senhor sem nenhum impedimento. Paulo via um homem ou

mulher fora do casamento como um cristão inteiramente livre para trabalhar

para Deus, sem as preocupações e ocupações que tomam o tempo quando

alguém é casado e é obrigado a pensar em suprir as necessidades do cônjuge.

Ele diz: “Por causa dos problemas atuais, penso que é melhor o homem

permanecer como está. Você está… solteiro? Não procure esposa… Gostaria

de vê-los livres de preocupações. O homem que não é casado preocupa-se

com as coisas do Senhor, em como agradar ao Senhor. Mas o homem casado

preocupa-se com as coisas deste mundo, em como agradar sua mulher, e está

dividido. Tanto a mulher não casada como a virgem preocupam-se com as

coisas do Senhor, para serem santas no corpo e no espírito. Mas a casada

preocupa-se com as coisas deste mundo, em como agradar seu marido”. (1 Co

7: 26-27b, 32-34 NVI)

Ainda que nunca tivesse tratado diretamente do problema do divórcio, Paulo

compreendia que a única razão para o recasamento é a morte de um dos

cônjuges. Ele diz: “A mulher está ligada a seu marido enquanto ele viver. Mas,

se o seu marido morrer, ela estará livre para se casar com quem quiser,

contanto que ele pertença ao Senhor. Em meu parecer, ela será mais feliz se

permanecer como está”. (1 Co 7:39-40a NVI)

Os apóstolos vieram a compreender bem essa verdade, porém por um tempo

acharam muito difícil aceitar a perspectiva de casamento que Jesus havia

colocado diante deles. É por isso que eles disseram aborrecidos: “Se a

situação de um homem com sua esposa é assim, não é vantajoso nem

aconselhável casar”. (Mt 19:10 AB) Isto é, se o único motivo para o

recasamento é a morte de um cônjuge, eles achavam que o melhor era não

casar! Afinal, qual o judeu que se divorciaria se soubesse que não poderia

casar de novo? Para eles, era muito difícil aceitar o casamento como uma

aliança para a vida inteira, “até que a morte os separe”.

Então Jesus lhes respondeu: “Nem todos podem aceitar esta verdade sobre o

casamento. Mas Deus capacitou alguns para aceitá-la. Há motivos

diferentes por que alguns homens não podem se casar. Alguns homens

nasceram sem a capacidade de se tornar pais. Outros foram incapacitados

assim mais tarde na vida por outras pessoas. E outros homens renunciaram ao

casamento por causa do reino do céu. Mas a pessoa que está em condições

de se casar tem de aceitar esse ensino sobre o casamento”. (Mt 19:11-12 NCV,

o destaque é meu.) Nem todos, no meio do próprio povo de Deus, conseguem

aceitar o projeto de casamento de Deus, mas somente os que foram

capacitados. É óbvio que o ser humano tem a capacidade de desunir onde há

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corações endurecidos, porém Jesus declarou: “Portanto, não deixem ninguém

separar o que Deus uniu”. (Mt 19:6b GW) Não é que ele não estivesse

consciente dos problemas que um casamento enfrenta. É que ele sabia que

Deus tem o poder de capacitar para união, fortalecimento, perdão e

restauração onde há corações abertos. Nenhum casal é perfeito, mas quando

se abre espaço para Deus capacitar, as situações mais difíceis podem se

tornar oportunidades para experimentar grandes vitórias (cf. Tg 1:2-4,12).

Modelos são indispensáveis

Examinamos um pouco o que a Palavra de Deus diz. Agora, o que se pode

fazer para que menos casais evangélicos sigam a tendência de divórcios e

recasamentos no mundo? A resposta são os líderes cristãos. Eles têm um

chamado especial para “serem exemplos para o rebanho seguir”. (1 Pe 5:3b

GW) O que então qualifica um homem para liderar e servir de modelo? “É

necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher,

moderado, sensato, respeitável, hospitaleiro e apto para ensinar”. (1 Tm 3:2

NVI, o destaque é meu.) É possível também traduzir essa passagem assim:

“Portanto, é necessário que o pastor tenha um caráter que ninguém possa

culpar de nada, tenha tido só uma esposa ou tenha se casado uma vez

só…” Outros líderes da igreja também devem ter a mesma qualificação (cf.

vers. 11).

Por que Deus estabelece que a liderança deve ter um padrão de vida familiar?

Vivemos num mundo cheio de influências erradas. Por isso, Deus quer que

pelo menos na igreja as famílias tenham a oportunidade de ver exemplos

diferentes dos que existem no mundo e se modelar através desses bons

exemplos. A Bíblia mostra que pastores e outros líderes, casados só uma vez,

são o exemplo e o modelo ideal para a congregação. Por quê? Porque o ser

humano tem uma fraqueza: imitar quem está em posição de autoridade ou

destaque. Embora muitas pessoas não imitem aqueles que elas adoram, a

realidade mostra que a vida errada de muitos artistas de TV agora é vivida por

um grande número de seus admiradores.

Paulo colocou ordem na liderança porque certamente as congregações não-

judias tinham vários casos de divórcio e recasamento. Assim, era preciso

estabelecer bons modelos, para que os exemplos do mundo não fizessem

parte da vida da igreja. O divórcio é um problema que afeta toda a sociedade,

porém deve haver um padrão melhor na liderança para que o que é comum no

mundo não seja normal na igreja.

Deus odeia o divórcio, mas os cristãos de hoje estão sendo de tal forma

afetados por imagens, exemplos e modelos de divórcios e recasamentos da

sociedade que eles estão começando a se conduzir como se Deus amasse

esses problemas!

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O modo ideal de neutralizar a influência negativa do mundo nos casamentos da

igreja é fazer o que Paulo orienta: colocar na liderança homens que tenham um

exemplo excelente. Esses líderes serão uma influência positiva na vida das

famílias da igreja. Quando virem seu pastor e outros líderes amando a esposa,

sendo fiel a ela e preservando a união familiar, muitos vão seguir seu exemplo.

Versão em inglês deste artigo:

Growth of divorce among Christians: a biblical perspective

Abreviaturas de versões bíblicas:

AB: Amplified Bible (Bíblia Ampliada)

BLH: Bíblia na Linguagem de Hoje

GW: God’s Word (A Palavra de Deus)

NCV: New Century Version (Versão do Novo Século)

NVI: Nova Versão Internacional

Notas:

[1] http://www.cbn.com/cbnnews/news/020211a.asp

[2] Informações extraídas do CD-Rom The Family in América, New Research (digital archive), março de 1987-julho de 1996.

Fonte: www.juliosevero.com