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I.B.G. I.B.G. I.B.G. Informativo Brasileiro do Grande Oriente SÃO PAULO - MAIO 2013 VOLUME 1 - EDIÇÃO 1 Revoluções no Mundo Árabe IDH não reflete realidade para a população Em busca da democracia Causas e Consequências As primeiras eleições livres Passatempo A REVOLUÇÃO DE JASMIM O aroma de jasmim da pequena Tunísia leva consigo o desejo de liberdade por todo o Mundo Árabe Pág. 4 "Liberdade". Túnis, 22/01/2011. Foto: Reuters PÁG. 6 PÁG. 3 PÁG. 5 PÁG. 8 PÁG. 9 PÁG. 7

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I.B.G.I.B.G.I.B.G. Informativo Brasileiro do Grande Oriente

SÃO PAULO - MAIO 2013 VOLUME 1 - EDIÇÃO 1

Revoluções no

Mundo Árabe

IDH não reflete

realidade para a

população

Em busca da

democracia

Causas e

Consequências

As primeiras

eleições livres

Passatempo

A REVOLUÇÃO DE JASMIM

O aroma de jasmim da pequena Tunísia leva consigo o desejo de liberdade por todo o Mundo Árabe

Pág. 4

"Liberdade". Túnis, 22/01/2011. Foto: Reuters

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Informativo Brasileiro do Grande Oriente 2

Editorial

A Primavera Árabe começou em um pequeno país no Norte da África, com uma população pequena, homogênea e edu-

cada, que possuia um identidade nacional coesa e com uma instituição militar desengajada. O país apresenta bons índices

de desenvolvimento humano e praias paradisíacas para ninguém botar defeito. A flor nacional do país possui um dos aro-

mas mais deliciosos. Mas nessa Primavera, não há flores que se cheirem.

Os países do Mundo Árabe não aguentaram as más condições de vida, a opressão de seus governos seculares e por isso,

vestiram seus espinhos em sinal de resistência aos abusos de ditadores corruptos.

As revoltas se alastraram por todo o Mundo Árabe, e apesar de todos os ditadores resistirem, muitos caíram, mas infeliz-

mente alguns, pretendem afundar o barco com todos dentro.

Dando foco a revolução da Tunísia, o país que era governado há 23 anos por Zine al-Abidine Ben Ali, decidiu não tolerar

mais a mão de ferro do tirano, nem a desigualdade social ou seus luxos exorbitantes junto à seu clã. O povo queria um

basta, e não sossegou até ver Ben Ali sair do país como um fugitivo.

Inúmeras foram as desilusões que se sucederam com os governantes que tentavam liderar a população. Mas o povo está

decidido pela democracia, e sendo assim, na liderança, só fica quem o povo eleger.

Ninguém disse que a transição de um autoritarismo, para uma democracia seria fácil e parece que o povo está calejado de

saber disso. Aliás, eles mesmos não vão permitir que seja tão fácil. Para conquistar a confiança dos Tunisianos, o líder da

nação terá que fazer por merecer.

Informativo Brasileiro do Grande Oriente fala sobre a Revolução de Jasmin.

EQUIPE I.B.G.O

EVOLIN

RICARDO

R.A.: 20354068

GABRIELA

OLIVEIRA

R.A.: 20369738

GIOVANNA

OLIVEIRA

R.A.: 20392047

JULIANA

CAJUELA

R.A.: 20332523

VANESSA

RAMALHO

R.A.: 20342074

Centenas de pessoas saíram às ruas da capital tunisiana pedir à saída do president Zine al-Abidine Ben Ali. Foto: AFP

Universidade Anhembi Morumbi — Campus Vila Olímpia — Relações Internacionais — 1º Semestre — Noturno

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Informativo Brasileiro do Grande Oriente 3

Revoluções no Mundo Árabe

M anifestações popula-

res, crises políticas e

econômicas profundas, insur-

gências armadas, intervenção

militar externa e lutas sectá-

rias. Tudo isso, nos últimos

dois anos, abala os alicerces

do Oriente Médio e do norte

da África, onde boa parte dos

países compõe o mundo ára-

be – nações cujas populações

compartilham, em sua maio-

ria, a religião islâmica e a

língua e a cultura árabe.

No início de 2011, revolu-

ções jovens, modernas e se-

culares depuseram os ditado-

res da Tunísia e do Egito,

causando uma onda de revol-

tas que avançou além de suas

fronteiras, tornando-se mais

complexas e muito mais vio-

lentas. Tais revoluções fica-

ram conhecidas como, Pri-

mavera Árabe. Há mais de

dois anos, a Tunísia viveu

um momento histórico para

todo o mundo árabe quando,

em 14 de janeiro de 2011,

Zine al-Abidine Ben Ali, di-

tador há 23 anos, foi derru-

bado pela força do próprio

povo. O episódio ficou co-

nhecido como Revoluções de

Jasmim, a flor nacional da

Tunísia.

Rapidamente, o aroma de

jasmim da pequena Tunísia

chegou ao gigantesco Egito –

país mais influente e populo-

so do mundo árabe. Demons-

trações populares que tive-

ram como epicentro a Praça

Tahir, no centro do Cairo,

derrubaram o ditador Hosni

Mubarak, em 11 de fevereiro

de 2011, o que contribuiu

para espalhar os protestos

pela região. As revoluções

populares expressaram-se de

diferentes formas em países

como Líbia, Síria, Jordânia,

Barein, Iêmen, Marrocos,

Líbano, Árabia Saudita etc.

No entanto, em vez de deixa-

rem o poder ou promoverem

reformas para melhorar a

situação em seus países, os

governantes usaram a força,

com intensidades variadas,

para dispersar a multidão nas

ruas e abafar protestos. Co-

mo resultado, a Síria, por

exemplo, está imersa em

uma guerra civil, enquanto

outros se encontram em gra-

ves crises políticas, que se

prolongam há meses.

As revoluções não se restrin-

gem apenas ao enfrentamen-

to com a velha ordem e seus

regimes autocráticos. Todos

os países da região lidam

com problemas que envol-

vem seus sistemas políticos,

regidos por elites corruptas,

alianças internas e externas e

a insatisfação entre os jo-

vens, que representam cerca

Os espinhos de resistência

de metade da população, e

anseiam por uma democra-

cia. Diversos componentes

se misturam nesse caldeirão

em ebulição, como a atuação

de grupos religiosos funda-

mentalistas, o enriquecimen-

to de urânio para fins nuclea-

res e o conflito por terra en-

tre palestinos e Israel. Há

muitas mudanças em curso

no mundo árabe.

Os movimentos populares

derrubaram governos, mas

construir Estados democráti-

cos exige um caminho longo

e cheio de mais conflitos.

Mão de manifestante com os dizeres "nós venceremos" em árabe e as

bandeiras da Líbia, Síria, Iêmen, Tunísia e Egito. Sanaa, 10/2011.

Mulheres pintam nas mãos as cores de bandeiras de Iêmen, Tunísia, Líbia,

Síria e Egito. Iêmen, 04/11/2011 (Foto: Reuters)

RAIO-X - TUNÍSIA

NOME República da Tunísia

POPULAÇÃO 10,7 milhões

ÁREA 163,6 km²

INDEPENDÊNCIA da França,

em 1956

GOVERNO regime semipresi-

dencial, comandado pelo pre-

sidente Moncef Marzouki e

pelo premiê Ali Larayedh

PIB US$ 44,7 bilhões

PIB PER CAPITA US$ 4.151

IDH 94º

Fontes: ONU e FMI

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Informativo Brasileiro do Grande Oriente 4

A Revolução de Jasmim

A s revoluções que tive-

ram início em dezem-

bro de 2010 na Tunísia, ilus-

traram a desesperança e falta

de perspectivas dos jovens

no país. O desemprego atin-

ge duramente jovens escola-

rizados que apesar da qualifi-

cação, não encontram empre-

go. Em protesto as condições

econômicas e sociais do país,

Mohammed Bouazizi, de 26

anos, ateou fogo ao próprio

corpo em 17 de dezembro de

2010. Ele era um vendedor

ambulante de frutas, com

diploma universitário, que

sustentava a numerosa famí-

lia na cidade de Sidi Bouzid

– região pobre do centro-

oeste da Tunísia. Seu ato ex-

tremo ocorreu após uma dis-

cussão com policiais e fiscais

do governo que confiscaram

sua mercadoria. Bouazizi

morre em 4 de janeiro de

2011 e transforma-se em

símbolo da frustração dos

jovens tunisianos com a difí-

cil vida sob a ditadura de 23

anos de Zine al-Abidine Ben

Ali.

A situação de Bouazizi era a

mesma dos 60% dos jovens

da população da Tunísia, que

são formados em universida-

des, mas não encontram tra-

O melhor veneno para os ditadores veio no menor frasco

centes ao partido do ditador.

Na capital Túnis, manifes-

tantes, exigindo sua renúncia

imediata, saquearam e incen-

diaram casas de familiares

do ditador, que, segundo a

Reuters, foram presos. No

interior, marchas com mais

de 10 mil jovens foram regis-

tradas, além de saques e ex-

plosões de postos policiais.

Os conflitos se intensifica-

ram, o espaço aéreo da Tuní-

sia foi fechado, foi declarado

estado de emergência e civis

morreram em confrontos

com a polícia. Ben Ali fugiu

para a Arábia Saudita e o

primeiro ministro, Moham-

med Ghannouchi, assumiu

até que as eleições ocorres-

sem. Pela primeira vez, um

líder local foi derrubado pela

força de pressão do próprio

povo.

Os tumultos sem precedentes

que abalaram a Tunísia fo-

ram acompanhados com

atenção por meio dos canais

regionais de TV via satélite e

da internet, em todo o Mun-

do Árabe. E a faísca criada

pela pequena Tunísia, se

alastrou pelo Oriente Médio

e norte da África.

balho, porcentagem que du-

plica os 30% de desemprego

entre os jovens em geral.

Protestos alastraram-se pelo

país, em razão do alto de-

semprego, da inflação e da

crescente disparidade entre

ricos e pobres, incluindo o

modo de vida extravagante e

opressor da família de Ben

Ali e da primeira-dama Leila

Trabelsi. A família Trabelsi

atuava como uma máfia, ex-

torquindo lojistas, banquei-

ros e investidores estrangei-

ros, além de se apossar de

empresas de aviação e de

TV. O embaixador america-

no na Tunísia, em telegrama

confidencial divulgado pelo

WikiLeaks, chegou a descre-

ver (e profetizar) a família

Trabelsi como a principal

culpada pelo desgaste do re-

gime.

A Tunísia foi o país que di-

tou a tendência da utilização

da tecnologia e das redes so-

ciais nas revoluções. O celu-

lar esteve onipresente e foi a

grande ferramenta de propa-

gação de palavras de ordem e

organização de manifesta-

ções nos países árabes. Suas

frases e fotos eram transmiti-

das pelo Twitter e Facebook,

e seus vídeos, colocados no

Youtube, o que ajudou a in-

flar os movimentos contra o

regime.

Conflitos violentos assola-

ram o país. A ONU chegou a

suspeitar que atiradores de

elite dispararam contra jo-

vens.

Na tentativa de frear as ma-

nifestações, o governo corta

serviços de internet e sinais

de comunicação sem fio. Em

anúncios televisivos, Ben Ali

insiste em caracterizar a in-

satisfação da população co-

mo obra de “terroristas” e

agentes estrangeiros, o que

só intensifica os protestos

exigindo a renúncia do dita-

dor.

Ele ordena um cessar fogo às

tropas, faz tentativas de tran-

sição política com membros

do antigo regime, baixa o

preço do pão, volta liberar a

utilização do YouTube e

afirma que deixará o poder

em 2014, quando o país pas-

saria por novas eleições.

Insuficientes, os anúncios

não interromperam os protes-

tos que exigiam a renúncia

do primeiro-ministro, do pre-

sidente interino e de todos os

membros do gabinete perten-Mohammed Bouazizi, 26 anos,

feirante que se imolou.

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Informativo Brasileiro do Grande Oriente 5

IDH não reflete realidade, para a população

E mbora jamais tenha

sido uma democracia, o

país governado por 23 anos

pelo ditador Zine al-Abidine

Ben Ali, ostenta indicadores

sociais e econômicos melho-

res que os dos vizinhos, ma-

tem relações estreitas com

EUA e Europa e é tido como

um destino turístico dos mais

seguros. Aos olhos das agên-

cias de classificação de risco,

a Tunísia tinha um dos me-

lhores ambientes para inves-

timento e negócios em toda a

região. Possui um dos me-

lhores Índices de Desenvol-

vimento Humano (IDH) do

continente e é visto como

uma das nações mais secula-

res do mundo árabe.

IDH

O IDH mede o crescimento

econômico acompanhado

pela melhoria da qualidade

de vida da população e por

alterações profundas na es-

trutura econômica.

O governo da Tunísia regis-

tra a seu favor uma das mais

nítidas progressões mundiais

de IDH ao ocupar a 94ª posi-

ção no ranking mundial – o

Brasil ocupa a 84ª. A Tunísia

Índice responsável pelas medidas da qualidade do crescimento econômico, não representou a re-

alidade para Tunisianos

deram início a Primavera

Árabe tiveram proporções

inéditas, mas anterior a ela,

ocorreram protestos menores

contra a incapacidade do go-

verno de criar condições de

emprego.

As manifestações na Tunísia

expõe o fracasso de um siste-

ma visto por muito tempo no

Ocidente, como um modelo

no mundo árabe.

LIBERDADE POLÍTICA E DE

IMPRENSA

O sistema de governo da Tu-

nísia, laico e estável, era

comparado ao da Turquia.

Embora denunciado com fre-

quência por violação de li-

berdades políticas – conside-

rado indicador vital para o

desenvolvimento humano –

o regime direitista não tinha

histórico de violência como

o Iraque de Saddam Hussein

ou a atual Síria. O clima de

insatisfação generalizada se

dá também, pela ausência de

imprensa livre e de pluralida-

de partidária. A Anistia In-

ternacional acusa o regime

de torturar oponentes e a

ONG Repórteres Sem Fron-

teiras, em 2013, rebaixou o

país da 134ª para a 138ª posi-

ção no ranking mundial da

liberdade de imprensa.

Segundo analistas, o clima

de tranquilidade aparente era

reflexo de um pacto implíci-

to imposto por Ben Ali à po-

pulação. Pelo acordo, os tu-

nisianos aceitaram um Esta-

do onipresente, policial e

controlador em troca de ser-

viços públicos de qualidade e

paz para todos.

é um dos raros Estados afri-

canos a entrar na lista dos

países com IDH alto. A evo-

lução é atribuída pela ONU a

“reformas impressionantes”

nas áreas de saúde e educa-

ção. A expectativa de vida é

de 74 anos, contra 70 para a

média dos países árabes.

O crescimento do rendimen-

to anual per capita foi de cer-

ca de 3% ao longo dos últi-

mos 40 anos – segundo Rela-

tório de desenvolvimento

humano de 2010 da ONU –

ligado à prudência fiscal e

monetária e ao investimento

em infraestruturas de trans-

portes e comunicações.

EDUCAÇÃO

A educação é o grande cen-

tro das atenções da Tunísia.

As matrículas escolares au-

mentaram substancialmente,

sobretudo, depois de o país

legislar 10 anos de escolari-

dade obrigatória em 1991.

Houve também progresso

nas diferenças sociais entre

homens e mulheres, pois cer-

ca de 6 em cada 10 estudan-

tes universitários são mulhe-

res.

DIFERENÇAS SOCIAIS

A Tunísia é há décadas men-

cionada como um dos países

árabes e muçulmanos onde

os direitos da mulher são os

mais avançados. Mas as desi-

gualdades ainda persistem,

como demonstra a classifica-

ção da Tunísia (45º de 146

países).

Os cuidados com a saúde

reprodutiva e os contracepti-

vos que estão facilmente dis-

poníveis, contribuem para o

declínio rápido da fertilidade

– abaixo de dois filhos por

mulher. E as elevadas taxas

de vacinação contra o saram-

po e a tuberculose renderam

sucessos na saúde, tal como

a erradicação da poliomieli-

te, da cólera, da difteria e da

malária.

Porém, as revoltas põem em

xeque um sistema considera-

do exemplar no mundo ára-

be. O sentimento de que os

números favoráveis não se

refletiam no dia a dia da po-

pulação foi um dos princi-

pais motores dos protestos.

DESEMPREGO

A insatisfação com o sistema

é maior entre os jovens, que

representam cerca de metade

da população desses países.

Essa nova geração teve aces-

so à educação, mas está desi-

ludida com a falta de pers-

pectivas e sofre com alto ín-

dice de desemprego.

O desemprego oficial é de

13%. Entre os jovens a taxa

dobra. As manifestações que

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Informativo Brasileiro do Grande Oriente 6

Em busca da democracia

A formação histórica do

Estado da Tunísia deu-

se de modo derivado, pois o

país foi colonizado pelos

franceses.

Em 1956, a França concedeu

independência à Tunísia. Ha-

bib Bourguiba, o principal

líder nacionalista, foi eleito

para a presidência em 1959,

transformando-se posterior-

mente em presidente vitalí-

cio. Em meados dos anos 80,

greves e manifestações refle-

tiam a crescente insatisfação

com seu governo. Em 1987,

o líder foi considerado inca-

paz de governar, sendo subs-

tituído em um golpe de Esta-

do, por seu primeiro-ministro

Zine al-Abidine Ben Ali, que

governou por 23 anos a Tu-

nísia, vencendo sucessivas

eleições de fachada até sua

deposição em janeiro de

2011.

A forma de governo na Tuní-

sia é mista, ou seja, possui

um presidente, um primeiro-

ministro e uma Assembleia

Nacional, que deve ser com-

A transformação do sistema autocrático para o democrático demandará trabalho e paciência

que têm de executá-la e ad-

ministrar a coisa pública.

Mas tão ou mais intrincado é

o processo de construção de

um sistema democrático, que

é principal reivindicação das

manifestações populares, em

sociedades com um histórico

restrito a governos autoritá-

rios, como a Tunísia.

Os manifestantes, num pri-

meiro impulso, estavam cer-

tos de seu propósito, porém

saber quais medidas preci-

sam ser tomadas para alcan-

çar tal propósito, não é tão

simples.

O primeiro procedimento

democrático foi tomado – a

Tunísia realizou sua primeira

eleição livre. O país que de-

flagrou a Primavera Árabe

saiu na frente no processo de

transformação política em

um clima de celebração, co-

roado por um índice de vota-

ção que atingiu 90%, de

acordo com a comissão elei-

toral.

posta por membros eleitos

por voto direto para mandato

de 5 anos. E seu regime re-

presentativo é o de uma Re-

pública Presidencialista, que

se caracteriza pela indepen-

dência dos Poderes, ou seja,

não há subordinação de um

para outro, não há suprema-

cia de um sobre o outro. Os

Poderes são independentes

dentro das atribuições que a

Constituição lhe outorga. E o

Poder Executivo é exercido

de maneira autônoma pelo

Presidente, que é um órgão

do Estado, que traça os ru-

mos da política e dirige a

administração, com inteira

autonomia em relação ao Le-

gislativo.

Porém o cenário na Tunísia

não era exatamente este. O

tipo de governo que se confi-

gurava no país era o Despo-

tismo, no qual um só gover-

na, porém sem lei e sem re-

gra, pois tudo se move de

acordo com sua vontade ou

capricho. Ben Ali manipulou

todas as eleições que ocorre-

ram no período em que se

manteve como Presidente,

razão por ter permanecido no

poder até 2011. Além do fa-

tor medo – segundo Maquia-

vel, a forma mais segura de

se manter no poder é sendo

temido – que por muito tem-

po serviu para manter o des-

contentamento da população

sob controle. Porém o medo

foi superado.

Os protestos na Tunísia, não

se restringem apenas ao des-

contentamento com a velha

ordem, mas também por an-

seio à democracia.

Democracia é o regime em

que o governo é exercido

pelos cidadãos, quer direta-

mente, quer por meio de re-

presentantes eleitos por esses

mesmos cidadãos. Mais

compreensivamente, pode-se

dizer que democracia é a for-

ma do governo em que o po-

vo toma parte efetiva no es-

tabelecimento das leis e na

designação dos funcionários

O então presidente da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, em 7 de novembro

de 2008 (Foto: AFP)

Manifestante agita bandeira da Tunísia diante de tanque durante mani-

festação em Túnis. (Foto: AFP)

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Informativo Brasileiro do Grande Oriente 7

Causas e Consequências

ATOR INTERNACIONAL

O ator internacional é toda a

autoridade, todo o organis-

mo, todo grupo e, inclusive,

toda pessoa que goza de ha-

bilidade para mobilizar re-

cursos que lhe permitam al-

cançar seus objetivos, que

tenha capacidade para exer-

cer influência sobre outros

atores e que goze de certa

autonomia.

Podemos classificar a popu-

lação da Tunísia, como o

principal ator dos fenômenos

que resultaram na Primavera

Árabe. São os chamados ato-

res infraestatais.

A população reprovava, a

vida em um Estado policial,

corrupto e com hábitos es-

banjadores, enquanto vivia

em situação de pobreza e

Os atores que causaram a revolução, veem surgir as consequências para a política externa do país.

ções democráticas em certos

casos, o governo de Barack

Obama teme as consequên-

cias das mudanças na região

que podem levar a instabili-

dade política, e em última

instância, à chegada de gru-

pos extremistas islâmicos ao

poder.

Para os governos ocidentais,

as autocracias árabes serviam

como aliadas contra os gru-

pos fundamentalistas islâmi-

cos, que lutam pela implanta-

ção de Estados religiosos

regidos pelo Alcorão e que

pregam a jihad (guerra santa)

contra o Ocidente.

descaso. As manifestações

começaram após a imolação

de Mohammed Bouazizi.

O povo da Tunísia encontrou

meios de enfrentar e resistir a

violência da polícia, alcança-

ram o propósito de derrubar

o governo de Ben Ali e con-

tinuam lutando para alcançar

a democracia. A pequena

Tunísia influenciou as mani-

festações no grandioso Egito,

e foi motivação para os de-

mais países do Mundo Ára-

be, que passam por crises em

seus sistemas políticos auto-

cráticos.

POLÍTICA EXTERNA

Política externa é o conjunto

das atividades políticas atra-

vés das quais os Estados pro-

movem seus interesses pe-

rante outros Estados.

Tradicionalmente, os Estados

Unidos mantêm alianças com

várias ditaduras árabes para

assegurar seus interesses es-

tratégicos na região. O Ori-

ente Médio abriga as maiores

reservas de petróleo e gás do

planeta. Os EUA possuem

bases militares na região pa-

ra proteger seus interesses e

supervisionar a saída do óleo

por mar.

Com a onda de revoltas que

ocorreram, a política externa

norte-americana para o mun-

do árabe tornou-se insusten-

tável. Ao mesmo tempo em

que expressa apoio a aspira-Manifestantes protestam nas ruas de Túnis, capital da Tunísia, para marcar

a data em que a Primavera Árabe surgiu. (Foto: AFP)

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Informativo Brasileiro do Grande Oriente 8

As primeiras eleições livres

S em tradição democráti-

ca, após décadas sob

uma ditadura desde a inde-

pendência da França, em

1956, e com a mesma consti-

tuição desde 1959. As doutri-

nas contidas no corpo do Al-

corão são os fundamentos da

legislação e da Constituição

do país, obra sagrada dos

muçulmanos. Por constitui-

ção entende-se, conjunto de

regras e princípios que irão

determinar a formação de um

Estado, conferindo-lhe sua

estrutura, sua organização e a

divisão de poderes, bem co-

mo os direitos e garantias

essenciais. Composta por

6.326 versículos, nos quais

há desde instruções para o

casamento até regras sobre

como o governante deve agir

na cobrança de impostos, o

Alcorão é um livro religioso

O povo sente o gusto da democracia e o desgosto do islã graças aos conservadores salafistas.

é assassinado e sua morte

abre uma crise política. Pro-

testos ganham as ruas. Os

salafistas são apontados co-

mo culpados e o governo,

por não coibi-los. Belaid era

um dos principais críticos ao

governo islâmico da Tunísia

e à violência de grupos extre-

mistas. Em meio à crise, o

primeiro-ministro Hamadi

Jebali pede demissão, após

não obter consenso para for-

mar um governo técnico. O

novo primeiro-ministro, Ali

Larayedh, assume pedindo

apoio popular e unidade para

consolidar a democracia.

abrangente, que aborda ques-

tões econômicas, jurídicas e

políticas.

Pela primeira vez, em 23 de

outubro de 2011, a Tunísia

foi às urnas para suas primei-

ras eleições livres.

Partido Ennahda (Partido do

Renascimento Islâmico) lide-

rado por Rachid Ghannouchi

vence as eleições com o dis-

curso que promete um islã

com democracia. O partido

islamista Ennahda conquis-

tou a maior bancada na As-

sembleia Constituinte, adota

a moderação e se coliga com

forças não religiosas para

designar um governo até as

eleições gerais. Em seu dis-

curso, Rachid, chefe do par-

tido, afirma que o caminho

para a democracia, passa pe-

lo Islã.

O ex-líder oposicionista,

Mocef Marzouki é eleito pre-

sidente da Tunísia, indireta-

mente pela maioria dos votos

na Assembleia Constituinte e

nomeia Hamadi Jebali como

seu chefe de governo.

Em março de 2012, o En-

nahda anuncia o caráter laico

da nova Constituição, que

deverá mencionar a sharia,

lei islâmica.

A tensão interna elevou-se,

ainda mais, quando os con-

servadores salafistas que de-

fendem um Estado islâmico,

passaram a promover ações

violentas e protestos. Em 07

de fevereiro de 2013, o líder

da oposição, Chockri Belaid,

Rachid Ghannouchi, líder da sigla Nahda, depois de votar (Foto: Associated

Press)

Novo presidente tunisiano, Moncef Marzouki, (esquerda) cumprimenta o

interino Fouad Mebazaa (Foto: Reuters)

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Informativo Brasileiro do Grande Oriente 9

Passatempo

Nas manifestações políticas, os símbolos utilizados em faixas, cartazes, camisetas e bandeiras, se-

jam escritos, sejam imagens, transformam-se em ícones do movimento, pois trazem as ideias de-

fendidas em formas obrigatoriamente muito resumidas e diretas. Com um bom repertório político,

histórico e artístico, temos mais possibilidades de compreender as mensagens, bem como de en-

tender o que ocorre no mundo atual.

Tunisianos fazem protesto em solidariedade a Basma Khalfaoui Belaid,

cujo marido político, Chokri Belaid, foi assassinado (Foto: AFP) Egípcios exibem cartaz com imagens de Mubarack e dos 5 presidentes dos

EUA desde 1981 (Foto: Folha de São Paulo)

Cartaz pop com o rosto do ditador egípcio Hosni Mubarack (Foto: AFP) Manifestante protesta contra o ex-presidente tunisiano Ben Ali em 20 de

junho em frente ao tribunal em Túnis (Foto: AFP)

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Informativo Brasileiro do Grande Oriente 10

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