piloto acrobacias_2

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106 v 17 DE SETEMBRO DE 2009 Terminado o Secundário, chega a al- tura de entrar para a universidade. E as paixões do avô confundem-se, de forma clara, com as opções da neta. Diana en- trou para Comunicação Social e Cultu- ral, na Universidade Católica. O seu avô também era jornalista – escrevia uma página sobre aviação, no Diário Popular, e, quando residiu em Angola, foi corres- pondente do Sunday Times, entre ou- tros jornais internacionais. APANHEM-NA, SE PUDEREM Para Diana, a entrada na faculdade coin- cidiu com a vontade de tirar a licença de Piloto Particular de Aviões (PPA). Por isso, congelou a matrícula e candidatou- se a hospedeira de bordo, na extinta Air Luxor, tendo conseguido entrar. Traba- lhou durante um ano para pagar aquele curso – e, em definitivo, percebeu que era aos comandos de um avião que queria es- tar. Troca a licença de PPA pela de Piloto de Linha Aérea. Os pais ajudam-na – os custos ascendiam a mais de 50 mil euros – e volta aos estudos universitários. De 2005 a 2007, a sua vida transformou-se numa rotina rígida. De manhã, frequen- tava a faculdade, à tarde tinha aulas na escola de aviação e, à noite, preparava os voos do dia seguinte. Terminou a li- cenciatura em Comunicação Social e o curso de piloto e conseguiu trabalho no grupo Omni Aviation. Estava, por fim, no mundo dos aviões a sério. Diana Silva começa, então, a assis- tir a eventos com outros entusiastas da acrobacia. Num desses espectáculos, em Évora, sentiu «a verdadeira adrenalina» pela primeira vez. Voou com um amigo, o piloto Luís Garção, num Cessna. Des- cobriu, aí, o que, na verdade, lhe dava prazer. «Foi único. Tive a certeza de que queria mesmo fazer acrobacia.» Traçou ali um objectivo e não descan- sou enquanto não o concretizou. Em No- vembro de 2007, enquanto tirava o curso de instrutora de voo, conheceu João Bettencourt, um ano mais velho, que lhe dava as aulas. Depressa perceberam que, além da acrobacia, havia mais coisas a uni-los e começam a namorar. Um ano depois, deslocam-se aos EUA: aprendem a domar os ares num avião mítico para os acrobatas, o Pitts Special – um biplano, pequeno e aparentemente frágil. Agora em Portugal, querem formar uma equipa de acrobacia que possa par- ticipar em campeonatos internacionais, mas, para isso, precisam de um avião e de patrocínios. Como diz a Rainha – nome de combate de Diana Silva, dado pelos colegas –, «um avião não se empresta». O casal negoceia a compra de um Pitts S, a tal aeronave mítica, que pode custar entre 60 mil e cem mil euros. E o céu é o limite. Diana e João pretendem, tam- bém, revolucionar a forma de fazer pu- blicidade, no nosso país: «Imagine-se o impacto de percorrer a costa, no Verão, com apresentações de acrobacia asso- ciadas a uma marca!», propõe ela, entu- siasmada. Desde que ninguém se lembre da tropelia do avô de Diana, há 40 anos, a ideia tem tudo para dar certo. FIGURA SOCIEDADE Tudo está desenhado na nossa cabeça. Em acrobacia a sério, não se inventa’ Diana Gomes da Silva 1 3 4 8 9 5 7 1 1 2 2 6 3 4 5 6 4 2 3 Cuban Eight Vista de terra, a manobra ganha a forma do número oito. O avião sobe, o piloto faz um , ficando de cabeça para baixo, e, quando começa a descida, dá a volta à aeronave, que regressa à posição inicial. O processo repete-se na direcção oposta Dança aérea As acrobacias que se executam no ar estão definidas e têm regras fixas. Aqui ficam os nomes e as explicações das três manobras favoritas da aviadora The Split-S Parece um meio , mas, nesta manobra, o avião desce em vez de subir. Quando inicia a descida, o piloto vira o avião ao contrário, que acabará direito ao completar a queda em arco loop loop INFOGRAFIA AR/VISÃO Hammerhead Na Europa, é também chamada . Consiste em fazer subir o avião, até atingir uma posição completamente perpendicular em relação ao solo. Quando o avião começa a perder força, o piloto deixa-o cair para um dos lados, terminando paralelo ao solo Stall Turn

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2 3 Terminado o Secundário, chega a al- tura de entrar para a universidade. E as paixões do avô confundem-se, de forma clara, com as opções da neta. Diana en- trou para Comunicação Social e Cultu- ral, na Universidade Católica. O seu avô também era jornalista – escrevia uma página sobre aviação, no Diário Popular, e, quando residiu em Angola, foi corres- pondente do Sunday Times, entre ou- tros jornais internacionais. 106 v 17 DE SETEMBRO DE 2009 Diana Gomes da Silva Stall Turn

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106 v 17 DE SETEMBRO DE 2009

Terminado o Secundário, chega a al-tura de entrar para a universidade. E as paixões do avô confundem-se, de forma clara, com as opções da neta. Diana en-trou para Comunicação Social e Cultu-ral, na Universidade Católica. O seu avô também era jornalista – escrevia uma página sobre aviação, no Diário Popular, e, quando residiu em Angola, foi corres-pondente do Sunday Times, entre ou-tros jornais internacionais.

APANHEM-NA, SE PUDEREM Para Diana, a entrada na faculdade coin-cidiu com a vontade de tirar a licença de Piloto Particular de Aviões (PPA). Por isso, congelou a matrícula e candidatou-se a hospedeira de bordo, na extinta Air Luxor, tendo conseguido entrar. Traba-lhou durante um ano para pagar aquele curso – e, em definitivo, percebeu que era aos comandos de um avião que queria es-tar. Troca a licença de PPA pela de Piloto de Linha Aérea. Os pais ajudam-na – os custos ascendiam a mais de 50 mil euros – e volta aos estudos universitários. De 2005 a 2007, a sua vida transformou-se numa rotina rígida. De manhã, frequen-

tava a faculdade, à tarde tinha aulas na escola de aviação e, à noite, preparava os voos do dia seguinte. Terminou a li-cenciatura em Comunicação Social e o curso de piloto e conseguiu trabalho no grupo Omni Aviation.

Estava, por fim, no mundo dos aviões a sério. Diana Silva começa, então, a assis-tir a eventos com outros entusiastas da acrobacia. Num desses espectáculos, em Évora, sentiu «a verdadeira adrenalina» pela primeira vez. Voou com um amigo, o piloto Luís Garção, num Cessna. Des-cobriu, aí, o que, na verdade, lhe dava prazer. «Foi único. Tive a certeza de que queria mesmo fazer acrobacia.»

Traçou ali um objectivo e não descan-sou enquanto não o concretizou. Em No-vembro de 2007, enquanto tirava o curso

de instrutora de voo, conheceu João Bettencourt, um ano mais velho, que lhe dava as aulas. Depressa perceberam que, além da acrobacia, havia mais coisas a uni-los e começam a namorar. Um ano depois, deslocam-se aos EUA: aprendem a domar os ares num avião mítico para os acrobatas, o Pitts Special – um biplano, pequeno e aparentemente frágil.

Agora em Portugal, querem formar uma equipa de acrobacia que possa par-ticipar em campeonatos internacionais, mas, para isso, precisam de um avião e de patrocínios. Como diz a Rainha – nome de combate de Diana Silva, dado pelos colegas –, «um avião não se empresta». O casal negoceia a compra de um Pitts S, a tal aeronave mítica, que pode custar entre 60 mil e cem mil euros. E o céu é o limite. Diana e João pretendem, tam-bém, revolucionar a forma de fazer pu-blicidade, no nosso país: «Imagine-se o impacto de percorrer a costa, no Verão, com apresentações de acrobacia asso-ciadas a uma marca!», propõe ela, entu-siasmada. Desde que ninguém se lembre da tropelia do avô de Diana, há 40 anos, a ideia tem tudo para dar certo.

FIGURA SOCIEDADE

‘Tudo está desenhado na nossa cabeça. Em acrobacia a sério, não se inventa’ Diana Gomes da Silva

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Cuban EightVista de terra, a manobra ganha a forma do número oito. O avião sobe,o piloto faz um , ficando de cabeça para baixo, e, quando começaa descida, dá a volta à aeronave, que regressa à posição inicial.O processo repete-se na direcção oposta

Dança aéreaAs acrobacias que se executam no ar estão definidas e têm regras fixas.Aqui ficam os nomes e as explicações das três manobras favoritas da aviadora

The Split-SParece um meio , mas, nesta manobra,o avião desce em vez de subir. Quando iniciaa descida, o piloto vira o avião ao contrário, queacabará direito ao completar a queda em arco

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INFOGRAFIA AR/VISÃO

HammerheadNa Europa, é também chamada

. Consiste em fazersubir o avião, até atingir umaposição completamenteperpendicular em relaçãoao solo. Quando o avião começaa perder força, o piloto deixa-ocair para um dos lados,terminando paralelo ao solo

Stall Turn