PINHÃO (Semente) Setembro de 2014

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CONJUNTURA ESPECIAL PINHÃO (Semente) Setembro de 2014 Fonte: Certi, Fundação Grupo Boticário; www.google.com.br

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CONJUNTURA ESPECIAL

PINHÃO (Semente) Setembro de 2014

Fonte: Certi, Fundação Grupo Boticário; www.google.com.br

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1. INTRODUÇÃO O pinhão, que recentemente foi incluído na Política de Garantia de Preços Mínimos

para a Sociobiodiversidade (PGPM-Bio), permitirá o pagamento de subvenção aos produtores extrativistas, já nesta safra – 2014-2015, caso o preço de venda por parte dos produtores extrativistas alcance valores inferiores ao preço mínimo estabelecido pelo Governo Federal. É o primeiro produto da Região Sul do país a fazer parte da PGPM-Bio, se inserindo no contexto das políticas de apoio à conservação da araucária (Araucária angustifolia), espécie que teve exploração intensa e desordenada e cuja existência está ameaçada pelo corte e pela expansão da agricultura, da pecuária e das florestas comerciais de pinus (Pinus elliottii), situação esta que tem relação direta com a sobrevivência de numerosas espécies de animais que se alimentam do pinhão.

Em pouco mais de 100 anos, a exploração intensa e desordenada da araucária quase levou ao desaparecimento dessa espécie, sendo este um dos principais motivos para a inclusão do pinhão na política de garantia de preços mínimos, com vistas à preservação da espécie, bem como à garantia de renda para as famílias que trabalham com o extrativismo do pinhão. A araucária angustifólia, é uma árvore de destacada importância cultural, econômica e ambiental no Brasil, sendo que o termo pinhão geralmente designa as sementes da Araucária angustifolia.

Atualmente, as florestas de araucária, também conhecida como pinheiro-do-paraná ou pinheiro brasileiro, que antes cobriam boa parte de nossas serras meridionais, correspondem a apenas 2% da área total original, perfazendo aproximadamente 200 mil km², concentrados nos Estados da região Sul do Brasil (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e em algumas regiões altas de São Paulo e Minas Gerais, na região Sudeste.

Na Araucária angustifólia tudo pode ser aproveitado, desde as amêndoas/sementes, no interior das pinhas, principal produto comercial, que são ricas em amido, proteínas e gorduras, constituindo um alimento bastante nutritivo, até a resina que, destilada, fornece o alcatrão. Da sua madeira obtém-se a pasta de celulose que, após uma série de operações industriais dá origem ao papel. Por fim, gera ainda diversos óleos tais como a terebintina e o breu, utilizados em variadas aplicações industriais.

Constam neste trabalho informações sobre as características da cultura, aspectos socioeconômicos e da cadeia produtiva, oferta, demanda e preços nacionais, além do debate acerca do estabelecimento do preço mínimo do pinhão para a safra 2014/2015 e do limite de recursos por extrativista/DAP. Serviu de orientação para esse estudo, a proposta de preço mínimo apresentada ao Grupo Gestor da PGPM-Bio, que foi alicerçada em dados já coletados por técnicos que anteriormente acompanhavam esta cultura, na sistematização de informações bibliográficas e de empresas públicas (a Ceasa-PR, por exemplo), bem como em conversas (telefônicas e por e-mail) com extrativistas, comerciantes e entidades que trabalham com esta espécie.

2. CARACTERÍSTICAS DA CULTURA A araucária angustifólia é a única espécie do gênero araucária encontrada no Brasil e

pertence à família das araucariáceas. É uma planta nativa de mata atlântica do sul do Brasil, em regiões serranas ou de planaltos com altitudes elevadas e temperatura moderada durante o ano. A árvore cresce em solo fértil, em altitudes superiores a 500 m acima do nível do mar e atinge bom desenvolvimento em 50 anos, com média de vida variando entre 200 e 300 anos.

A araucária é uma planta dióica, ou seja, há árvores femininas e masculinas, com predominância de pinheiros masculinos tanto em áreas de ocorrência natural, como em plantios. Possui um longo ciclo reprodutivo, sendo que a primeira florada ocorre entre 15 anos, em planta cultivada isoladamente, e 20 anos, nas populações naturais. A floração feminina ocorre o ano todo, a masculina, de agosto a janeiro. A polinização ocorre nos meses de outubro a dezembro, sendo realizada predominantemente pelo vento, sendo que dois anos após, as pinhas amadurecem. Já a comercialização do pinhão praticamente se restringe aos meses de produção (abril a junho).

As árvores masculinas produzem o mingote e as femininas geram a pinha, em cujo interior encontram-se os pinhões. São árvores de grande porte com um tronco largo, reto e quase cilíndrico, podendo medir até 8,5 m de circunferência e atingir mais de 50 m de altura. Erguem-se

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retas, sem desvio e se ramificam no topo, formando a copa, com os ramos desenvolvendo-se horizontalmente e as pontas curvadas para cima, com folhas duras, pontiagudas e perenes.

Esta espécie apresenta maior ocorrência no Paraná (estado com maior área de araucárias), Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em regiões mais altas do sudeste (São Paulo e Minas Gerais), e também em pequenas manchas na Argentina e no Paraguai. É também conhecida pelo nome indígena curi, que deu origem ao nome da capital do Paraná, Curitiba.

É uma espécie resistente que tolera incêndios rasos em razão de sua casca grossa, que faz o papel de isolante térmico, disseminando-se facilmente em campo aberto. Uma árvore feminina produz anualmente uma média de 845 a 70 pinhas, cada uma com cerca de 90 pinhões em média. A pinha, fruto onde estão aglomerados os pinhões, é uma esfera compacta com diâmetro entre 15 cm e 20 cm, chegando a pesar, em média, 2,0 kg (MATTOS, 2011).

A pinha para se formar demora entre a floração, polinização, crescimento e amadurecimento, até três anos. O pinhão é a semente que tem cerca de 5 cm de comprimento, pesa cerca de 8,6 gramas e é recoberto por uma casca lisa de cor castanha, perdendo a viabilidade em apenas 120 dias. Ou seja, a pinha demora muito para se formar, mas o pinhão é altamente perecível.

A pinha tem quatro componentes: sementes (pinhão), eixo central, escamas estéreis ou não fertilizadas (falhas) e escamas férteis não fertilizadas ou abortadas (pinhões chochos). Uma pinha tem seu peso distribuído em média entre 44 – 55% de pinhão, de 3 – 9% do eixo central, de 7 – 10% de pinhões chochos e de 50 – 60% de “falhas” (VERNALHA et al. 1972; MANTOVANI et al. 2004; VIEIRA-DA-SILVA; REIS, 2009).

Nos primeiros anos, a produção de pinhão é pequena e, mesmo quando atinge a plena produção, as safras são cíclicas. Durante 2 ou 3 anos, produz abundantemente, reduzindo a produção posterior, gradativamente, nos 2 ou 3 anos seguintes (MATTOS, 1994).

Por causa da copa alta e frondosa, a araucária protege outras espécies importantes de plantas e árvores como a imbuia, o pinheiro bravo, canelas, cipós e plantas epífitas, como a erva-mate, que se desenvolve melhor perto de araucárias.

Os pequenos animais que se alimentam do pinhão, tais como o esquilo serelepe e a gralha azul, são responsáveis pela plantação dos pinheirais, uma vez que costumam conduzir os frutos a grandes distâncias, armazenando e enterrando grande quantidade de sementes no solo, os quais vão gerar novas árvores. Já o macaco bugio e o ouriço são capazes de debulhar cuidadosamente as pinhas que guardam os pinhões e o que sobra é aproveitada por besouros, formigas e uma infinidade de outros insetos.

A polpa do pinhão é a parte comestível, muito dura se estiver crua e macia quando cozida, sendo constituída basicamente de amido. Do ponto de vista nutricional, a semente da araucária apresenta alto valor alimentício, por ser rica em proteínas, cálcio, ferro, fósforo e vitaminas, além de possuir um teor de 50% a 60% de óleo. A tabela abaixo do valor nutricional do pinhão cozido aponta os componentes mais importantes deste alimento.

TABELA 1 - Composição dos Alimentos (Porção de100 g)

Calorias 195,5 Glicídios 41,92 g Proteínas 3,94 g Lipídios 1,34 g Cálcio 35 mg Fósforo 136 mg Ferro 0,70 mg

Fonte: Araucária angustifolia (Bertol.) Kuntze, 2014.

O modo de preparo (cozimento) não altera o valor nutricional do pinhão e suas propriedades continuam as mesmas, de modo que pode ser consumido assado ou cozido, destacando-se no preparo de farofas, entreveros e paçocas.

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3. ASPECTOS SÓCIOECONÔMICOS

Os índios paranaenses, coletores de alimentos, tinham o pinhão como um alimento por excelência e acabavam atuando como propagadores das florestas de pinheiros. Para a colheita, os índios botucudos tinham flechas especialmente adaptadas para derrubar as pinhas ainda presas, sendo que muitas vezes só se alimentavam de pinhão durante muitas semanas, assando-os na brasa. Os índios chamavam de curitiba toda uma extensa região onde os pinheiros predominavam e a palavra acabou por ser adotada para denominar a capital do Paraná, principal estado produtor.

A araucária está intimamente ligada à história econômica, cultural e social dos extrativistas, por isso deve ser respeitada, valorizada e preservada. Calcula-se que entre as décadas de 50 a 60, a madeira desta espécie entrou no auge das exportações do Brasil, sendo que para este feito foram derrubadas milhões de árvores. Trata-se assim de uma das espécies mais ameaçadas da flora paranaense, devido ao intenso desmatamento ocorrido nas últimas décadas. Neste contexto, sua recomposição tem recebido forte incentivo por parte de órgãos governamentais, estaduais e municipais, ligados ao meio ambiente e à agricultura.

Hoje a importância socioeconômica do pinhão, sobretudo nas regiões de maior pobreza, representa uma fatia significativa do emprego e renda, com fortes impactos na qualidade de vida de um grande contingente de pessoas, tanto na produção como na comercialização deste produto, servindo ainda de alimento de elevado valor nutricional para inúmeras famílias.

Os mapas abaixo apontam as áreas de ocorrência natural e a atual situação da araucária no Brasil, o que comprova a intensa exploração ocorrida.

Fonte: CN-RBMA - Projeto Inventário dos Recursos Florestais da Mata Atlântica, 2014.

De outro lado, há mais de 100 anos, na Região Centro-Sul do Paraná, iniciou-se o modelo de produção agrícola denominado Sistema Faxinal, que vem contribuindo de forma expressiva para a manutenção da cobertura florestal remanescente de floresta com araucária neste Estado. Neste sistema, as terras são divididas em dois grandes e diferentes grupos: áreas destinadas às plantações de produtos de uso privado e áreas utilizadas para a criação de animais e extrativismo, de uso comum, sem divisões e aberta para a circulação e uso de todas as famílias que residem na comunidade.

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Sistema Faxinal

Fonte: SILVA, 1995.

Tal sistema foi regulamentado no estado do Paraná em 1997, pelo Decreto Estadual N.º 3.446/97, que, de acordo com seu Art.1º, estabelece que:

"Ficam criadas no Estado do Paraná, as Áreas Especiais de Uso Regulamentado – ARESUR, abrangendo porções territoriais do Estado caracterizados pela existência do modo de produção denominado “Sistema Faxinal”, com os objetivos de criar condições para a melhoria da qualidade de vida das comunidades residentes e a manutenção do seu patrimônio cultural, conciliando as atividades agrosilvopastoris com a conservação ambiental, incluindo a proteção da Araucaria angustifolia”.

(Fonte: Sistema de Informações Ambientais/PR).

Os faxinalenses cuidam dos pinheirais principalmente para obter alimento e renda, sendo que em cada comunidade faxinal existem entre 100 a 200 famílias que trabalham com pinhão, erva mate, mel e agricultura em geral. A Embrapa realizou mapeamento e constatou que existem 227 comunidades faxinalenses, das quais 30 comunidades estão organizadas. Destaca-se que atualmente existem no território paranaense 28 Áreas Especiais de Uso Regulamentado – Aresurs.

O pinhão representa importante fonte de renda para os produtores rurais e uma opção a mais de alimento característico para a população em geral na região Sul do Brasil. Possibilita, assim, a obtenção de uma renda extra às famílias, além de ser um produto tradicional que ajuda a preservar o meio ambiente, pois sem a preservação do pinheiro não é possível tirar o pinhão.

Os 10 municípios onde o extrativismo do pinhão tem maior representatividade no Brasil estão apontados na tabela abaixo, que traz a produção verificada no ano de 2012, a evolução da renda per capta entre 2000 e 2010, além do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), para o ano de 2010.

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TABELA 2 - Produção, Renda Per capta e IDHM dos municípios de maior produção de pinhão

Município Produção (Ton) - 2012 Renda Per capita - 2000 Renda Per capita - 2010 IDHM - 2010

Pinhão/PR 900 308,00 454,31 0,654 Guarapuava/PR 380 583,96 750,09 0,731 Inácio Martins/PR 380 299,47 385,92 0,600 Turvo/PR 380 240,95 512,21 0,672 São Joaquim/SC 320 454,90 641,75 0,687 Clevelândia/PR 310 386,28 696,71 0,694 Imbituva/PR 300 371,38 553,65 0,660 Prudentópolis/PR 240 283,84 497,84 0,676 Painel/SC 220 429,39 511,70 0,664 Reserva do Iguaçu/PR 220 404,93 419,62 0,648

Média 365 376,31 542,38 0,668

Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, 2013 e IBGE, 2013.

Pode-se observar na tabela acima, que 8 dos 10 municípios de maior produção de pinhão estão situados no Paraná, tendo os 10 municípios apresentado IDHM médio (entre 0,6 e 0,699), com exceção de Guarapuava que apresenta IDHM alto (entre 0,7 e 0,799). Já em relação à renda per capita, percebe-se elevações consideráveis no período abrangido (2000 a 2010), com destaque para Clevelândia/PR (80%) e Prudentópolis/PR (75%). Em média, a elevação da renda per capta dos 10 municípios acima apontados foi de pouco mais de 44%, com destaque negativo somente para os municípios de Reserva do Iguaçu/PR e Turvo/PR, que apresentaram elevação de renda per capta de apenas 4% e 13%, respectivamente.

De outro lado, pouco se conhece sobre as implicações sociais, econômicas e ambientais da atividade de coleta e venda de pinhão, uma vez que ainda são relativamente restritas as publicações existentes sobre a cadeia produtiva desta cultura.

4. CADEIA PRODUTIVA

A cadeia do pinhão é apresentada no fluxograma abaixo. Este fluxo inicia-se na propriedade, com a coleta das sementes, que pode ser efetuada de duas maneiras: coleta no solo, quando os pinhões caem naturalmente com a maturação das pinhas (que abriga o conjunto de sementes – pinhão), atividade que em geral tem a participação de toda a família; ou pela derrubada das pinhas prematuramente, utilizando-se uma vara de bambu ou ainda, subindo-se nos galhos dos pinheiros. Ressalta-se, porém, que a maturação das pinhas se dá em diferentes épocas (cada variedade tem maturação em períodos diferentes), tornando a coleta relativamente incerta.

Cadeia Produtiva do Pinhão no Estado do Paraná

Fonte: SANTOS, et al, 2001.

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A cadeia extrativa do pinhão é bastante simplificada, não sendo verificado nenhum processo industrial, diferentemente do que acontece com outras amêndoas. Possivelmente esse é um dos maiores obstáculos à comercialização de um volume maior deste produto, tendo em vista a reduzida quantidade de uso de técnicas de conservação e industrialização, que se restringe (em raríssimos casos) ao uso de câmaras de refrigeração na conservação pós-colheita do pinhão.

Nestes termos, o fluxo de comercialização do pinhão é caracterizado pelo baixo grau de industrialização, ocasionado por dificuldades relativas a aspectos culturais, limitações de sazonalidade e quantidade produzida do produto.

Com relação aos fatores culturais, a semente é normalmente comprada in natura para ser preparada no domicílio do consumidor, ou já cozida e pronta para o consumo, em feiras livres ou pontos do varejo especializados. É possível encontrar ainda receitas já preparadas que fazem uso do pinhão, em feiras ou em alguns pontos do varejo, porém, esta forma corresponde a uma parcela bastante reduzida da quantidade consumida deste produto.

Com a queda das pinhas e sua exposição ao sol, os pinhões ficam à mercê das condições climáticas que podem fazer com que se deteriorem ou, por outro lado, que germinem ou se enterrem. Neste sentido, a qualidade do pinhão é muito influenciada pela forma como o produto é coletado, bem como o tempo passado entre a coleta e a comercialização e consumo.

A sazonalidade da produção, associada ao elevado grau de perecividade do pinhão, praticamente restringe a comercialização do produto aos meses de produção (março a junho), com volumes comercializados inexpressivos nos demais meses. Segundo MATTOS (1994), a produção de pinhas de Araucária tende a alternar, ou seja, durante 2 ou 3 anos, produz abundantemente, reduzindo a produção posterior, gradativamente, nos 2 ou 3 anos seguintes.

Considerando a necessidade de proteção do pinheiro e a consequente preservação da espécie, leis e portarias foram criadas, proibindo o abate de pinheiros adultos portadores de pinha, na época de queda das sementes (de abril a junho) e também a colheita de pinhão, por derrubadas de pinhas ainda imaturas, antes do dia 15 de abril, data aproximada do início do desprendimento das sementes.

Porém, há diferentes legislações estabelecidas em relação ao início da coleta da safra, que acabam por provocar certo desequilíbrio e muitas reclamações entre os dois principais Estados produtores – Paraná e Santa Catarina. No Paraná, a legislação pertinente estabelece o início da coleta do pinhão a partir do dia 15 de abril. Já em Santa Catarina, segundo a legislação estadual, o início da coleta da safra inicia-se no dia 1° de abril, antecipando, assim, em 15 dias, a coleta do pinhão em relação ao Paraná.

Do ponto de vista da apropriação dos rendimentos auferidos com a comercialização do pinhão, segundo pesquisa realizada por Santos et al (2001), no interior da cadeia produtiva deste produto, a maior parte da lucratividade é apropriada pelos intermediários (margem de 40%), responsáveis diretos pelo elevado percentual de acréscimo de preço ao produto disponibilizado para o consumidor final, conforme destacado na tabela abaixo.

TABELA 3 - Margem Bruta de Comercialização do Pinhão

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Fonte: SANTOS, et al 2001.

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5. PANORAMA NACIONAL

5.1 Oferta e demanda nacional

De acordo com os dados divulgados pelo IBGE, conforme demonstrado no gráfico abaixo, a produção nacional do pinhão em 2012 totalizou 9.638 toneladas, com valor total alcançando R$ 14.419 milhões e preço médio de R$ 1,501.

Fonte: IBGE, 2013.

Pode-se observar, também, no gráfico acima, a duplicação da produção nacional em pouco mais de uma década (2000 a 2012), que passou de 4.702 para 9.638 toneladas. Em relação ao valor da produção ocorreu um aumento de 4,7 vezes, passando de R$ 3,024 milhões para R$ 14,419 milhões. Percebe-se, assim, uma elevação significativa nos últimos anos, tanto da produção quanto do valor da produção, sendo que o valor da produção aumentou substancialmente mais do que a quantidade produzida, apontando para a valorização do produto.

Já em relação ao preço médio, ocorreu um aumento de 2,3 vezes, passando de R$ 0,64 para R$ 1,50, calculado a partir a divisão simples do valor total da produção pela produção no período considerado. Ressalta-se, porém, que os preços variam bastante, de acordo com o local da venda e com a época de comercialização.

A tabela exibida a seguir apresenta uma comparação entre dados do IBGE e da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do PR (Seab-PR), referentes à produção, valor bruto da produção e preços médios do pinhão para o Estado do Paraná.

1 O preço médio foi obtido dividindo-se o valor total da produção pela produção total ocorrida em 2012.

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TABELA 4 - Comparação de dados de produção, valor bruto da produção e preços do Pinhão - IBGE x Seab/PR

PRODUÇÃO (TON)

VBP (R$ MIL)

PREÇO (R$/kg)

PRODUÇÃO (TON)

VBP (R$ MIL)

PREÇO (R$/kg)

PRODUÇÃO (TON)

VBP (R$ MIL)

PREÇO (R$/kg) PRODUÇÃO VBP PREÇO

2002 1.997 1.857 0,93 1.081 875 0,81 916 982 0,12 46% 53% 13%2003 2.207 2.847 1,29 1.167 955 0,82 1.040 1.892 0,47 47% 66% 37%2004 3.542 3.860 1,09 1.407 1.240 0,88 2.135 2.620 0,21 60% 68% 19%2005 2.647 2.197 0,83 1.712 1.529 0,89 935 668 -0,06 35% 30% -8%2006 2.162 2.140 0,99 1.850 1.851 1,00 312 289 -0,01 14% 14% -1%2007 2.663 2.716 1,02 1.792 1.879 1,05 871 837 -0,03 33% 31% -3%2008 3.277 4.227 1,29 2.007 2.226 1,11 1.270 2.001 0,18 39% 47% 14%2009 3.989 5.424 1,36 2.253 2.751 1,22 1.736 2.673 0,14 44% 49% 10%2010 4.419 4.905 1,11 2.536 3.275 1,29 1.883 1.630 -0,18 43% 33% -16%2011 5.335 6.082 1,14 4.581 6.566 1,43 754 -484 -0,29 14% -8% -26%2012 6.065 7.339 1,21 5.932 8.902 1,50 133 -1.563 -0,29 2% -21% -24%2013 - - 1,37 - - - - - - - - -

IBGESEAB/DERALAno

DIFERENÇA DIFERENÇA %

Fonte: Seab/Deral e IBGE.

A Tabela acima demonstra a fragilidade dos dados oficiais do IBGE, fonte oficial de informações, amplamente utilizada por inúmeras instituições, uma vez que apresentam divergência média de 23% entre os dados do IBGE e da Seab, porém, com variações que alcançam valores de até 60%, 66% e 68%2. De qualquer forma, os dados, tanto do IBGE, quanto da Seab/PR, trazem importantes informações sobre os preços praticados, apesar destes também divergirem bastante dos preços informados pelos extrativistas e suas instituição, talvez em função daqueles serem preços médios e haver relativa variação destes de um município para outro e no decorrer da safra.

Segundo o IBGE, 99% de toda a produção nacional verificada no ano de 2012 foi proveniente da região sul do país. O maior volume de comercialização ocorre nos meses de junho e julho, época em que o pinhão é indispensável nas festas do Sul do país e nas festas juninas.

Os gráficos abaixo espelham a produção do pinhão e seus respectivos valores para o ano de 2012, por estado e em números percentuais, o que comprova a expressiva importância do Paraná em relação a este produto.

Fonte: IBGE,2013.

O Estado do Paraná é o maior produtor e consumidor brasileiro de pinhão, alcançando um volume de produção de 62%, tanto em relação à quantidade produzida (5.932 ton.), quanto em relação ao valor da produção no ano de 2012 (R$ 8,9 milhões).

A evolução da produção e do valor da produção de pinhão, estratificada por unidade da federação, ao longo dos 18 últimos anos, está apontada nos gráficos abaixo. 2 Produção em 2004; Valor Bruto da Produção em 2003 e Valor Bruto da Produção (VBP) em 2004, respectivamente.

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Fonte: IBGE, 2013.

A partir dos gráficos acima, pode-se perceber uma elevação gradual tanto da

quantidade produzida de pinhão extrativo, quanto do valor da produção no Brasil, no período observado (1994 – 2012), em especial nos últimos quatro anos da tabela (2009 – 2012). O Paraná foi o estado que apresentou maior elevação nos dois quesitos estudados, com pico considerável nos últimos 3 anos, ultrapassando o estado de Santa Catarina, por volta do ano de 2009.

Os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul apresentaram pequena elevação (relativamente constante), nos dois quesitos, no decorrer de todo o período observado. Já Minas Gerais e São Paulo apresentaram baixa (e estável) produção e valor da produção relativa, ao longo do período, sendo que São Paulo apontou pequena elevação nos dois itens analisados no ano de 2010, retornando porém aos patamares dos anos anteriores no ano seguinte (2011).

O volume (ton) e o valor da produção (R$) comercializado na Ceasa/PR, nos últimos cinco anos estão ilustrados no gráfico a seguir.

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Fonte: CEASA/PR, 2013.

Em 2013, a Ceasa do Paraná, Estado de maior produção extrativa do país, comercializou, através de suas cinco unidades, 668,12 ton. de pinhão, com valor total de pouco mais de 2 milhões de reais. O gráfico acima explicita a oscilação na produção de pinhão ao longo dos anos, com elevação da produção em três anos (2009 a 2011) e redução nos dois anos subsequentes (2012 e 2013). O ano de 2013 aponta situação um tanto quanto atípica, uma vez que ocorreu pequena redução na produção entre 2012 e 2013, acompanhada de um aumento significativo no valor da produção neste mesmo período. Tal situação só pode ser explicada pela elevação no preço do pinhão naquele ano (2013), tendo em vista a redução na oferta (escassez do produto).

Os municípios de maior produção de pinhão no Estado do Paraná estão concentrados em uma mesma região (Centro-Sul). A imagem a seguir apresenta a localização dos principais municípios produtores de pinhão no Estado do Paraná (verde), bem como os municípios que abrigam estruturas de Ceasa (vermelho).

Fonte: Conab/Geote.

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As tabelas que seguem, apresentam os principais municípios produtores de pinhão no Estado do Paraná no ano de 2012 (Tabela 5), bem como o volume de comercialização ocorrido nas Centrais de Comercialização (Ceasas) deste Estado (Tabela 6).

TABELA 5 - Municípios de maior produção TABELA 6 - Comercialização ocorrida na no estado do PR CEASAs do PR

Principais Municípios Produtores

Produção (Ton) em 2012

Municípios com Ceasa

Quantidade Comercializada em 2012

%

Pinhão 900 Curitiba 511,04 76,5 Guarapuava 380 Cascavel 106,1 15,9 Inácio Martins 380 Foz do Iguaçu 30,25 4,5 Turvo 380 Maringá 14,68 2,2 Clevelândia 310 Londrina 6,05 0,9 Imbituva 300 Prudentópolis 240 Reserva do Iguaçu 220 Fonte: CEASA/PR, 2013. Mangueirinha 210 Coronel Domingos Soares 200

Fonte: SEAB/PR, 2013.

Na Tabela 5, observa-se que, em 2012, a produção dos 10 principais munícipios produtores de pinhão do Paraná (3.520 ton.), correspondeu a 58% do total produzido neste estado (6.065 ton). Considerando os dados do IBGE – 5.932 ton de pinhão comercializadas – estes 10 municípios agregaram um percentual um pouco maior – 60%.

A partir da Tabela 6, pode-se observar que a cidade de Curitiba é o ponto de maior convergência da comercialização e do consumo no Estado, tendo sido responsável, em 2012, pela oferta de 76,5% deste total, com um volume de vendas de 511,03 ton. O segundo maior volume de comercialização foi registrado na Ceasa de Cascavel (106,10 ton/15,9%), seguida de Foz do Iguaçu (30,25 ton/4,5%), Maringá (14,68 ton/2,2%) e Londrina (6,05 ton/0,9%). A grande concentração da comercialização de pinhão nas Ceasas de Curitiba e Cascavel, aparentemente se dá em função da maior proximidade destas centrais com os municípios de maior produção, bem como pelo fato da Central de Curitiba (Capital do PR) encontrar-se em região de elevado contingente populacional.

Em Santa Catarina, a produção no ano de 2012 foi de 2.790 ton, sendo que os 7 municípios de maior produção (Tabela 7) forneceram pouco mais de metade do total produzido neste Estado. Já no Rio Grande do Sul, a produção alcançada em 2012, foi de 823 ton, apresentando baixa concentração de produção em relação aos municípios produtores.

Os municípios de maior produção nestes estados são apresentados abaixo:

TABELA 7 - Produção nos municípios de SC TABELA 8 - Produção nos municípios do RS

Municípios Produção (Ton) Municípios Produção (Ton) São Joaquim 330 São Francisco de Paula 72 Painel 220 Bom Jesus 41 Urupema 200 Ilópolis 32 Capão Alto 200 São José do Herval 30 Lages 190 Cambará do Sul 28 Bom Jardim da Serra 150 Carlos Barbosa 27 Urubici 140 Gramado 26

Fonte: IBGE, 2013.

Em Minas Gerais, apenas sete municípios apresentaram produção em 2012, destacando-se Marmelópolis com produção de 70 ton. de pinhão, o que corresponde a 80% da produção total deste Estado. Já em São Paulo, apenas Bom Sucesso do Itararé apresentou produção em 2012 (6 ton).

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A atuação da Conab no âmbito do Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, contempla o Pinhão desde o ano de 2009. O gráfico abaixo destaca que o ápice da aquisição ocorreu no ano de 2010 (89,4 ton), mantendo-se na casa de pouco mais de 70 toneladas nos dois anos seguintes (2011/2012), com redução acentuada no ano de 2013 (12,5 ton).

Fonte: Conab, 2014.

Do ponto de vista da distribuição geográfica (por estado) da aquisição do pinhão através do PAA, pode-se observar no gráfico abaixo que, no período de 2009 a 2013, Santa Catarina teve a maior quantidade adquirida – 170,5 ton, correspondente a 62,7% de todo o pinhão adquirido. O Paraná, principal Estado produtor, forneceu ao PAA, 98,3 toneladas de pinhão (36,1%). Já o Rio Grande do Sul e Minas Gerais, forneceram para o PAA, respectivamente, 3 ton (1,1%) e 348 kg (0,1%).

Fonte: Conab, 2013.

Por fim, cumpre destacar que a Associação dos Pinhoeiros dos Municípios de Tijucas do Sul/PR e São José dos Pinhais/PR (ASSOPINHO), composta atualmente por 26 extrativistas/comerciantes de beira de estrada, associados, que além da produção própria adquirem a produção de mais de 250 extrativistas, efetuam a comercialização de cerca de 200 ton/ano, em bancas rústicas dispostas ao longo da beira da BR 376 (na altura de São José dos Pinhais).

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5.2 Preços nacionais

O gráfico que segue apresenta a evolução do preço do pinhão nas estruturas da Ceasa-PR, ao longo dos últimos 5 anos, bem como os valores do custo de produção, levantados em 2011 e atualizados para os anos de 2012 e 2013.

Fonte: CEASA/PR, 2013.

Pode-se observar no gráfico acima que em 2013 o custo de produção do pinhão (custo variável utilizado na composição dos preços mínimos), de R$ 2,293, estava acima do valor médio de comercialização nas Centrais da Ceasa/PR de Maringá (R$ 1,38) e Londrina (R$ 2,05).

Em 2012, todas as Centrais da Ceasa no PR apresentaram preços médios com valores inferiores ao custo de produção variável (R$ 2,16), com exceção da Central de Cascavel (R$ 2,34). Já em 2011, primeiro ano em que foi levantado o custo de produção pela Conab, as Centrais de Curitiba (R$ 1,64), Cascavel (R$ 2,00) e Foz do Iguaçu (R$ 2,02), apresentaram preço médio inferior ao custo variável (R$ 2,04).

Tal situação em relação aos preços apresentados pelas centrais da Ceasa/PR, causa certa preocupação na fixação do preço mínimo, tendo por base exclusivamente o valor do custo de produção variável do produto, atualmente fixado em R$ 2,29, ainda mais quando se observa os preços médios praticados no último ano, que sofreram elevação considerável.

De outro lado há que se ressaltar que os preços praticados na Ceasa, em geral, são preços de atacado (saco de 20 kg), tendendo a serem superiores aos preços pagos aos produtores extrativistas. Da mesma forma, preços médios não refletem as oscilações existentes no decorrer do ano e de uma praça/município para outra. Neste sentido, é bem provável que os preços pagos aos produtos tenham alcançado preços inferiores ao preço mínimo estabelecido em algumas épocas em determinadas áreas.

Os preços pagos através do PAA, também servem de importante subsídio para o estabelecimento do preço mínimo para o pinhão, conforme apresentado abaixo.

3 Ver Anexo.

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Fonte: Conab, 2013.

Pode-se observar através do gráfico acima, uma acentuada variação nos preços praticados através do PAA, ao longo dos últimos 5 anos, tanto entre os Estados produtores em um mesmo ano, quanto em relação a cada Estado ao longo dos anos.

Levando em conta o Estado do Paraná, que concentrou cerca de 62% da produção de pinhão em 2012, verifica-se que o preço mínimo baseado no custo de produção variável permitiria, no caso da comercialização voltada para o PAA, o pagamento da subvenção neste Estado, em todos os anos posteriores ao levantamento do mesmo (2011 a 2013)4. Comparando o custo variável atualizado para o pinhão em relação ao ano de 2013 (R$ 2,16), com o preço praticado pelo PAA para este estado, neste mesmo ano (R$ 1,80), verifica-se que o valor estabelecido pelo PAA sequer cobria o custo variável de produção (17% inferior).

No Rio Grande do Sul, em relação ao ano de 2011, cujo valor de compra pelo PAA foi de R$ 1,69 e o preço mínimo fixado de R$ 2,04, seria possível o pagamento de subvenção. Já em Santa Catarina, Estado que mais acessou o PAA nos últimos 5 anos (62,7%), nos anos de 2011 e 2012, bem como no Rio Grande do Sul, no ano de 2013, não seria possível o pagamento de subvenção através da PGPM-Bio, tendo em vista que os preços praticados pelo PAA nestes Estados e nestes anos se encontravam acima do preço mínimo sugerido – SC (R$ 2,62 em 2011 e R$ 2,61 em 2012) e RS (R$ 4,36/2013)5. Sendo assim, o preço mínimo não surtiria efeito (em termos de subvenção), nestas ocasiões.

Somente recentemente a Conab começou a captar os preços de mercado do pinhão (maio de 2014), inicialmente para os Estados do Paraná e Santa Catarina, justamente no final da safra, quando os preços são mais elevados, tendo em vista a escassez do produto. A seguir é apresentado o gráfico que aponta os preços para os sete municípios onde a Conab iniciou o levantamento dos preços pagos ao produtor, num período de tempo de aproximadamente 2 (dois) meses. 4 Há que se debater como associar estes dois instrumentos de política pública – PAA e PGPM-Bio de forma a avaliar a pertinência da utilização dos dois instrumentos simultaneamente. Uma possibilidade seria a ancoragem do preço do PAA a um piso igual ao preço mínimo estabelecido, de modo que não haja pagamentos por parte do PAA, com valores inferiores ao mínimo. 5 O não acesso de SC ao PPA em 2013, em relação ao pinhão, pode ser fruto tanto da elevação considerável dos preços deste produto, como também do forte contingenciamento e corte de recursos que a Conab sofreu neste ano, o que dificultou sobremaneira toda a atuação operacional da Companhia.

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1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00P

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Data de coleta dos preços

GRÁFICO 11 - Evolução dos Preços do Pinhão entre 9/5 e 5/9/2014

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Pode-se perceber pelo gráfico acima, que somente o município de Guarapuava/PR apresentou preço pago ao produtor inferior ao preço mínimo estabelecido pelo Governo para a safra 2014-2015. O menor preço verificado foi de R$ 1,50, em Guarapuava/PR, no período de 9 a 23/5. Já o maior preço verificado foi de R$ 5,75, em São Francisco de Paula/RS, no período de 1/8 a 5/9.

TABELA 9 – Preço Médio do Pinhão

(Período – 9/5 a 4/7/2014)

Município Preço Médio

São Francisco de Paula (RS) 5,75 Fontoura Xavier (RS) 5,00 Turvo (PR) 4,91 Ilópolis (RS) 4,75 São Joaquim (SC) 4,23 Pinhão (PR) 4,03 Urubici (SC) 3,97 Painel (SC) 3,67 Irati (PR) 3,40 Guarapuava (PR) 3,16 Preço Mínimo 2,26

Fonte: Conab/SIAGRO.

Cumpre destacar, porém, que o período de coleta de dados para este produto ainda é muito recente, além dos dados serem do final da safra, quando os preços geralmente são mais elevados. Da mesma forma, as Superintendências Regionais da Conab do PR e SC destacaram que a produção neste ano foi muito baixa e que, justamente neste período (maio-julho), correspondente ao final da safra e de proximidade da época de frio e das festas juninas, a demanda aumenta, o que, consequentemente, proporciona elevação nos preços do pinhão.

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Buscando outras fontes de informações sobre os preços pagos ao produtor, efetuando contato com a Associação dos Pinhoeiros dos Municípios de Tijucas do Sul e São José dos Pinhais (ASSOPINHO), que informou que o preço praticado em 2012 variou entre R$ 2,00 e R$ 2,50, chegando, entretanto, em poucas ocasiões, a R$ 1,00. Já em 2013, o preço teria chegado a patamares de R$ 6,00, com partida (preço do início da safra) de R$ 2,00, estabilizando-se em R$ 3,00. Neste ano (2013), a comercialização do pinhão que em geral vai no máximo até setembro, praticamente terminou em meados de julho, tendo em vista a baixa produção, alcançando, assim, preços elevados.

O próprio Departamento de Economia Rural do Paraná já apontava para a redução da oferta do pinhão na safra de 2013, acompanhado pelo aumento de até 70% do preço pago pela semente e de mais de 140% no atacado (DORNELES, 2013).

Da mesma forma, consulta efetuada junto a extrativistas do município de Pinhão (município de maior produção do país), apontou preços de comercialização no ano de 2012 girando entre R$ 1,00 e R$ 1,20, sendo que no ano de 2013 os preços praticados atingiu a faixa de R$ 2,00 a R$ 2,20. Já em Inácio Martins/PR, terceiro município de maior produção do país (juntamente com Guarapuava e Turvo), os preços praticados em 2012 ficaram entre R$ 1,50 e R$ 2,20. Em 2013 o preço médio praticado neste município foi de R$ 3,00.

Neste contexto, tendo em vista as informações levantadas junto a alguns grupos de produtores de pinhão dos municípios do Paraná, podemos verificar a perspectiva de utilização do instrumento de subvenção da PGPM-Bio.

Por fim, segue tabela que aponta os preços recebidos (e declarados) pelos extrativistas faxinalenses da região metropolitana de Curitiba e Centro-Sul no ano de 2013, preços estes levantados em oficina para construção de indicadores da araucária e encaminhados pela Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses – APF realizada em fev. 2014.

TABELA 10 - Preços Recebidos pelos Extrativistas Faxinalenses em algumas regiões do Paraná

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Fonte: Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses – APF, 2014.

6. O PREÇO MÍNIMO ESTABELECIDO PARA A SAFRA 2014-2015 E O LIMITE DE RECURSOS POR EXTRATIVISTA/DAP

O objetivo da fixação de preços mínimos, de uma forma geral, é contribuir para o aperfeiçoamento das cadeias produtivas, reforçando o papel do Estado como agente indutor do desenvolvimento econômico e social. Também é esperada a ampliação da competitividade das cadeias produtivas, potencializando o acesso a mercados estratégicos (tais como os mercados institucionais), proporcionando, ainda, a regularização da oferta a partir da redução da oscilação dos preços.

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A Conab vem adotando o procedimento de levantamento e utilização dos custos de produção variável para a fixação dos preços mínimos dos produtos. Para elaboração da proposta de preço mínimo para o pinhão foram levantados os custos de produção nos municípios de São José dos Pinhais/PR e Guarapuava/PR, no decorrer da safra 2011/2012. Tal custo variável foi atualizado para 2014, alcançando os valores de R$ 2,29 e R$ 2,24, respectivamente, para os municípios de Guarapuava/PR e São José dos Pinhais/PR, sendo que o preço mínimo foi fixado a partir da média destes dois custos, equivalendo a R$ 2,26.

Ressalta-se, porém, que os preços praticados variam de acordo com o comprador:

• Atravessador – quando o extrativista não possui condições de entregar sua produção para cooperativas e associações ou vender diretamente para outros comércios, entregando seus produtos para intermediários a preços reduzidos.

• Comerciantes de beira de estrada6 (que em geral também são extrativistas) – que adquirem a produção de outros extrativistas, vendendo-a diretamente aos consumidores em barracas de beira de estrada, por preços relativamente superiores àqueles praticados pelos atravessadores.

• Varejistas e atacadistas (Ceasa) – venda direta, onde também são observados preços melhores do que àqueles praticados pelos atravessadores, porém, o volume de comercialização que se enquadra nesta modalidade é muito menor que aquele realizado nas demais modalidades.

No estabelecimento do preço mínimo do pinhão, o custo da mão de obra é o principal componente (representa cerca de 77% do custo total), porém, há ainda outros fatores importantes que influenciam o preço recebido pelos extrativistas, segundo relatos destes e de comerciantes do produto, quais sejam:

• “Bienalidade” da produção, caracterizada pela variação de anos com alta produção e outros com baixa produção7.

• Efeitos climáticos8.

• Aumento da demanda/consumo9.

Neste contexto, de modo a contemplar os demais fatores que influenciam o preço do pinhão e tendo em vista a expectativa de elevação dos preços para a safra 2014/15, seria importante considerar estes elementos para a elaboração do preço mínimo nas próximas safras.

Tal proposta tem por pretensão amenizar as fortes oscilações no preço recebido pelos extrativistas, provenientes das diferentes formas de comercialização, de eventuais efeitos climáticos, da relatada “bienalidade” e do aumento da demanda, sendo que a metodologia atualmente utilizada ne elaboração dos preços mínimos considera apenas o custo de produção variável.

De outro lado, cumpre reafirmar a expectativa de elevação dos preços do pinhão nesta safra (2014/2015), conforme relatado por alguns extrativistas, tendo em vista, fundamentalmente, o aumento da demanda e, a oferta ainda reduzida, bem como a “bienalidade”.

Com relação ao limite de recursos por produtor extrativista/DAP para a subvenção, seguindo-se a metodologia inicialmente proposta pela Conab, tal limite ficaria assim definido:

6 Característica da ASSOPINHO, anteriormente relatada, que comercializa cerca de 200 ton. de pinhão/ano, correspondendo a pouco menos que ¼ da produção do RS, no ano de 2012 (823 ton.). 7 Esta situação é uma característica da cultura do café, sendo própria da natureza fisiológica desta cultura, que necessita vegetar em um ano para produzir bem no ano seguinte. Em relação ao pinhão, além de alguns estudos bibliográficos atestarem esta situação, verificou-se, ainda relato, dos próprios extrativistas neste sentido. Porém, não se trata exatamente de bienalidade, uma vez que a florada de um ano só vai gerar o pinhão comercializável dois anos depois. Segundo Mattos (2011), geralmente há uma boa produção em dois anos, seguidos de dois ou três anos de escassez. 8 Segundo relatos de extrativistas, a geada ocorrida na época da floração do ano de 2011 comprometeu a safra de 2013, reduzindo a produção e, consequentemente, provocando aumento dos preços praticados (lei de oferta/demanda). 9 A proximidade da época de frio (inverno) e das festas juninas aumenta a demanda por este produto, provocando também elevação dos preços.

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TABELA 11 - Limite de subvenção para o pinhão

Produto

Unidade da Federação/

Regiões Amparadas

Preços Mínimos –

PM 2013/14 (R$/kg)

Menor Preço Recebido pelo

Extrativista – MP Safra 2012/2013 (1)

Subvenção Estimada (R$/Kg)

Produtividade Média por

Extrativista/Safra – PR (Kg) (2)

Limite de Subvenção/ Safra – LSPA 2013/14 (R$/Extrativista)

Pinhão Brasil 2,60 1,80 0,80 2.040 1.632,00

Fonte: Elaborada pelo autor.

(1) Adotou-se aqui o preço pago pelo PAA no ano de 2013, que utiliza metodologia própria para a fixação dos preços a serem pagos aos produtores. Tal proposta teve por base o fato de que todas as consultas efetuadas junto aos extrativistas foram informais e, sendo assim, passíveis de erro.

(2) Adotou-se a maior produtividade/safra/extrativista levantadas - São José dos Pinhais (2.040 kg/ha).

Porém, o Grupo Gestor da PGPM-Bio estabeleceu novo procedimento para o

estabelecimento dos limites por produtor, de forma que o limite para o pinhão foi fixado em R$ 2.000,00/extrativista (DAP).

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inclusão do pinhão na política de preços mínimos da PGPM-Bio, certamente vai trazer benefícios diretos e indiretos, tanto para os extrativistas quanto para a própria cultura da araucária, gerando renda para os extrativistas e auxiliando na conservação desta espécie que foi intensamente desmatada na mata atlântica do sul do Brasil, principal região de ocorrência.

Espera-se, assim, que com o estabelecimento do preço mínimo do pinhão, os extrativistas tenham condições de melhorar a oferta do produto por meio de cooperativas e associações, diminuindo a dependência de intermediários, além de obterem maior autonomia na determinação dos preços, garantindo, desta maneira, sua sustentação e, consequentemente, melhoria na renda e na qualidade de vida.

O pinhão é produto de grande representação social, ambiental e econômica para os povos faxinalenses, indígenas e quilombolas da região centro e centro-sul do Paraná e metropolitana de Curitiba, regiões de forte incidência do Pinheiro do Paraná, bem como para algumas regiões de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, encontrando-se ainda em alguns poucos municípios de Minas Gerais e São Paulo. Neste sentido, o estabelecimento do preço mínimo para o pinhão se integrará a outras políticas públicas associadas à conservação e uso da araucária, políticas estas que promovem o uso sustentável do pinhão, manejo da paisagem, regulamentações sobre época e intensidade de coleta e ações de fomento a uma cadeia produtiva sustentável.

Indiretamente, espera-se, também, a ampliação da produção e a melhor estruturação desta cadeia produtiva, com o apoio de associações e cooperativas que, ao concentrarem a produção, qualificando-a cada vez mais, possam começar a barganhar por melhores preços, auferindo melhor renda e consequentemente melhor qualidade de vida à população extrativista deste produto.

No que concerne à estruturação da Conab, a futura criação de uma gerência voltada especificamente para a agricultura familiar em todas as Superintendências Regionais, situação esta já aprovada pela Diretoria Colegiada deste órgão, muito provavelmente ampliará o acesso a programas tais como a PGPM-Bio e o PAA, uma vez que tal gerência vai tratar especificamente destes programas. Neste sentido, com uma maior divulgação da política estruturada da PGPM-Bio em especial nos Estados da região sul do país, focado nos principais municípios produtores, conforme apontado neste documento, espera-se que haja um acesso imediato à subvenção do pinhão, com ampliação gradativa do mesmo, o que evidentemente vai depender dos preços pagos aos produtores extrativistas, uma vez que a subvenção só é passível de acesso quando o preço pago ao produtor fica abaixo do preço mínimo fixado pelo Governo Federal.

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8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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BAVOSO, G. Araucaria angustifólia. Curitiba: PUCPR, [2009].

CARVALHO, P. E. R. Espécies florestais brasileiras: recomendações silviculturais, potencialidades e uso da madeira. Brasília: EMBRAPA – SPI, 1994. 640p.

CEASA. Estatísticas do comércio de pinhão. Curitiba: Ceasa, 2012.

CONAB. Preços pagos ao produtor pelo pinhão junto ao PAA. Brasília: Conab, 2014.

CONAB. Custo de produção do pinhão. Brasília: Conab, 2012.

DECRETO Estadual N.º 3.446/97. Sistema de Informações Ambientais. Disponível em: http://celepar7.pr.gov.br/sia/atosnormativos/form_cons_ato1.asp?Codigo=45 Visualizado em 31/01/2014.

DORNELES, R. C. Boletim do Pinhão. Curitiba: Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento/ Departamento de Economia Rural, Julho de 2013.

GOOGLE Maps. 2014.

GUERRA, M. P. et al. Exploração, manejo e conservação da araucária (araucária angustifólia). In: Sustentável mata atlântica: a exploração de seus recursos florestais. São Paulo: SENAC, 2002.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Pinheiro-do Paraná. 2001. Disponível em: http://www.ciflorestas.com.br/texto.php?p=pinheiro_parana Visualizado em: 03/02/2014.

IBGE. Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura. 2013.

MATTOS, J. R. O pinheiro brasileiro. Florianópolis, UFSC, 2011. 700p.

MATTOS, J. R. O pinheiro brasileiro. 2.ed. Santa Catarina: princesa, 1994. 225p. v.1.

PINHÃO-do-Paraná (Araucaria angustifolia): A árvore do pinhão. Disponível em: http://www.frutas.radar-rs.com.br/frutas/pinhao/pinhao.htm. Visualizado em 24/01/2014.

SANQUETTA, C. R.; NETTO, A. F. Pinheiro-do-paraná: lendas & realidades. Curitiba: Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná, 2000.

SANTOS A. J., et al. Aspectos Produtivos e Comerciais do Pinhão no Estado do Paraná. Curitiba, 2001.

SILVA, M. A contribuição de florestas de araucária para a sustentabilidade dos sistemas faxinais. Curitiba: UFPR, 2005. Dissertação de mestrado.

THOMÉ, N. Ciclo da madeira: história da devastação da floreta de araucária e do desenvolvimento da indústria da madeira em Caçador e na Região do Contestado no século XX. Caçador: Universal, 1995.

VERNALHA et al. 1972; MANTOVANI et al. 2004; VIEIRA-DA-SILVA; REIS, 2009, in: VIEIRA-DA-SILVA, Camila; MIGUEL, Lovois de Andrade; REIS, Maurício Sedrez. Utilizações alternativas para a “falha”, componente da pinha (Araucaria angustifolia), e seu potencial para a agricultura de base agroecológica. Cadernos de Agroecologia. Vol 6, No. 2, Dez 2011.

Sites Consultados:

http://www.rbma.org.br/anuario/mata_03_anosdedesttuicao_dest_araucaria.asp

(CN-RBMA - Projeto Inventário dos Recursos Florestais da Mata Atlântica).

http://www.pnud.org.br/IDH/Atlas2013.aspx?indiceAccordion=1&li=li_Atlas2013

(Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013).

Obs. Todas as fotos foram extraídas de: https://www.google.com.br

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9. ANEXO

TABELA 12 - Custo de Produção do Pinhão