Piramide do Conhecimento

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169 22 Capital Intelectual “O que sabemos é uma gota, o que não sabemos é um oceano” Isaac Newton Prof. Dr. Carlos Valente

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Uma breve descrição da Pirâmide do Conhecimento e como ela pode nos ajudar a administrar melhor a nossa sobrecarga de informações.

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“O que sabemos é uma gota, o que não sabemos é um oceano”Isaac Newton

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Doutor (UniBan) em Educação Matemática e Mestre (IPT) em Enge-nharia de Software. Pós-graduado em Análise de Sistemas (Macken-zie), Administração (Luzwell-SP), e Reengenharia (FGV-SP). Graduado e Licenciado em Matemática. Professor e Pesquisador da Graduação na FMU e Faculdade SUMARÉ. Professor de Pós-graduação (EaD) na ESAB - Escola Superior Aberta do Brasil. Autor de livros em Conecti-vidade Empresarial. Prêmio em E-Learning no Ensino Superior (ABED/Blackboard). Consultor de T.I. em grandes empresas como Sebrae, Senac, Granero, Transvalor etc. Viagens internacionais: EUA, França, Inglaterra, Itália, Portugal, Espanha etc.

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O mundo moderno sobrecarrega a todos com o excesso de dados e informações. E para descrevermos sobre isso na te-mática do Capital Intelectual precisamos mencionar a Pirâ-

mide do Conhecimento, ou Hierarquia do Conhecimento (em inglês, Hierarquia DIKW: Data-Information-Knowledge-Wisdow).

Muitas vezes essa especial pirâmide, creditada normalmente a Ackoff (1989) ou a Tuthil (1990), é confundida com a Hierarquia de Necessidades de Maslow (1962), por ter uma aparência visual análo-ga, no entanto, com aplicações e finalidades diferentes.

Se observarmos mais atentamente ao esquema do triângulo tri-dimensional, a seguir, veremos os quatro elementos citados anterior-mente da sigla germânica DIKW, ou seja, Data = Dados, Information = Informação, Knowledge = Conhecimento e Wisdow = Sabedoria.

Analisando essa pirâmide temos que a base é ocupada na sua maior parte da superfície com Dados, e apresenta os níveis a seguir, Informação e Conhecimento, cada vez mais afunilados até chegar-mos na Sabedoria. Ou seja, enquanto somos inundados de dados por todos os lados neste mundo cada vez mais tecnológico, pouco resta de absorção ou maturidade para processarmos todo esse volu-me de dados e informação para convertê-los em sabedoria.

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Existe uma antiga poesia do filósofo americano T.S. Eliot (1934) que retrata de forma poética essa realidade: "Where is the life we have lost in living? Where is the wisdom we have lost in knowledge? Where is the knowledge we have lost in information?" (Onde está a vida que nós perdemos ao viver? Onde está a sabedoria que nós perdemos no conhecimento? Onde está o conhecimento que per-demos na informação?).

No mundo acadêmico critica-se o uso indiscriminado da inter-net por causa disso. Enquanto os universitários e alunos estiverem somente navegando na camada de dados, pouco irão extrair de in-formação e conhecimento. Exige-se que seja seletivo nesse mundo de dados para que se possa, de forma inteligente, obter algo signifi-cativo para as nossas vidas.

Vários estudos comprovam que o Q.I. (Quociente da Inteligên-cia) "cai" quando a pessoa fica somente nessa camada de informa-ção. Aplicativos que ficam somente no processo de enviar e receber mensagens são uns dos mais relacionados nesses estudos.

Destaca-se na figura da Pirâmide do Conhecimento a divisão na metade dos elementos da informação. Dessa forma caracteriza-se que Dados e Informação sejam conceituados como sendo mais estrutura-dos, e por outro lado Conhecimento e Sabedoria como menos estrutu-rados. Se formos mais radicais poderemos afirmar que as duas primei-ras camadas pertencem a todos animais em sua sobrevivência diária, mas somente as duas últimas são de domínio exclusivo do ser humano.

Pode-se explicar melhor esse "divisor de águas" observando-se do lado direito as ferramentas de tecnologia associados a cada uma

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dessas divisões. Ou seja, os atuais Sistemas Gerenciadores de Banco de Dados (SGBD) têm muito mais condições de trabalhar com dados puros e processar informações para a tomada de decisões.

Isso remete aos Mainframes (computadores de grande porte), da década de 50, e que ainda sobrevivem a nossa época. Essa tec-nologia era apropriada para processar grande volume de dados. Os governos, grandes bancos e seguradoras abusaram desse recursos técnicos para movimentar números astronômicos pelo mundo.

Para termos uma noção do avanço do processamento de grande volume de dados desse tipo pode-se apresentar o case do recen-seamento americano. Conforme a orientação da ONU, todos os paí-ses, por meio de um acordo internacional para estabelecer padrões, devem realizar o censo a cada dez anos. No entanto, os EUA no censo de 1880 chegou a demorar sete anos para processar todos os dados da sua população. Ou seja, no censo de 1890 havia uma grande preocupação de como iriam trabalhar com tantos dados sem estourar o limite dos dez anos. Não se poderia entrar no próximo recenseamento ainda processando os dados do anterior.

Para tanto, houve nessa década toda uma comoção popular para

se descobrir uma solução técnica para a resolução desse problema go-vernamental. Graças à invenção de Herman Hollerith (1860-1929), que no Brasil ficou sendo conhecido pelas suas máquinas de produção de contracheques de pagamento (holerite), conseguiu atender esse quesi-to tecnológico e calcular o censo de 1890 em apenas um ano!!

Hollerith, que chegou a ser um dos fundadores da grande fa-bricante de Mainframes – a IBM, com o seu leitor de cartões per-furados e inspirado nos velhos teares, impulsionou os cartões de papel que uma vez perfurados eram lidos velozmente pelos compu-tadores de grande porte. Essa era a época que a área de tecnologia era chamada de C.P.D. – Centro de Processamento de DADOS. Pois, basicamente possuíam uma estrutura enorme e cara para poderem processar rapidamente os dados.

Percebe-se que, com essa revolução, podia-se ler grande vo-lume de dados brutos numa velocidade absurda para a época, e produzir informação gerencial estratégica e valiosa. No entanto, com o aumento de poder dos processadores e diminuição de custos de processamento, houve necessidade de extrair mais "leite dessas

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pedras". Os departamentos que eram responsáveis por tudo isso evoluiram o nome começando a chamar de T.I. – Tecnologia da IN-FORMAÇÃO (ou I.T. do inglês Information Technology). Não bastava somente produzir informação, precisava transformá-la em conheci-mento.

A humanidade chegou a passar por três ondas, conforme Toffler (1992). Nos primórdios da civilização, o poder residia em obter e dominar terras, essa seria a Era Agrícola – a primeira onda. No se-gundo momento, a revolução veio por meio da Era Industrial que possibilitou transformar a força humana em mecânica multiplicando as possibilidades da humanidade. Um típico representante dessa era revolucionária foi o automóvel.

Para muitos autores vivemos a terceira onda: A Era do Conheci-

mento. E quem possui ou controla o conhecimento domina o mer-cado. Exemplos seriam a própria IBM, Microsoft, Oracle (desenvol-vedora de Banco de Dados) e assim por diante.

Atualmente talvez tivéssemos que chamar a Era da Conectividade, pois temos acesso a dados e informação de qualquer lugar do mundo. Vivenciamos uma verdadeira revolução com a disponibilização da in-ternet para todos. Empresas que controlam essas tecnologias, as NTIC – Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, sobressaem no mercado, tais como a Apple e o Google. É nesse exato momento que nasce o conceito de Data Warehouse, Data Mining e Ontologias.

Data Warehouse (Data = dados, Ware = termo relacionado à tecnologia [software, hardware], House = casa e Warehouse = ar-mazém), logo, simplificando esse "pomposo" nome, teríamos como significado um grande "Armazém de Dados". Ou seja, enquanto um tradicional Banco de Dados nos propiciava por meio de dados ge-rar informação, com um "Armazém de Dados", que seria em termos práticos um conjunto de Bancos de Dados, pode-se produzir conhe-cimento e, oxalá, sabedoria.

Com o uso da tecnologia do Data Warehouse e o Data Mining (que pode-se traduzir como "mineração de dados") chegou-se ao clássico case do Walmart. Por meio de vários Bancos de Dados con-tendo informações de clientes, estoque, vendas e outros mais, con-segui-se obter um diferencial competitivo no mercado.

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Detectou-se que nas sexta-feiras as vendas de cervejas cresciam na mesma proporção que as de fraldas. Na tentativa de descobrirem como isso era possível imaginaram o cenário do executivo que ao sair do escritório já no último dia útil da semana, telefona para a esposa perguntando se precisa de alguma coisa, e tem como res-posta a necessidade de fraldas para os seus filhos. Ao colocarem nos supermercados estrategicamente as fraldas distantes da cerveja, conseguiram aumentar as vendas em mais de 20%. Conclusão: Mi-nerando os dados numa rede de informações obtém-se um conhe-cimento que resulta em aumento significativo de vendas.

O próprio Google usa do conceito de Ontologia para alavancar os seus negócios. Pode reparar que ao navegarmos pela Web e procurar-mos um item para comprar, de repente, todas as páginas começam a fazer propaganda justamente daquele desejo de compra. A técnica da ontologia permite armazenar dados significativos dos usuários de tal forma que vai se criando um perfil todo especial desse consumidor. Apresentar coisas que sejam interessantes, e com grande chances de consumo para esse usuário é o passo a seguir.

Mesmo se existirem palavras semelhantes numa busca pela in-ternet, como a palavra "rede", a ontologia permite descobrir pelo perfil do usuário, se ele está buscando por rede de computadores, por uma rede de pesca, ou ainda se quer adquirir uma simples rede para balançar em seu sítio nas férias.

Foi com muita propriedade que Canhos (1996), com uma devida

adaptação nossa, retrata todos esses importantes conceitos, fazendo uma analogia com o mundo oceânico: "Vivemos em oceanos de dados, rios de informação, lagos de conhecimento e gotas de sabedoria.”

● OBSERVAÇÃOEste trabalho foi baseado na Dissertação de Mestrado intitulada

"Arcabouço para o Desenvolvimento de Portais Colaborativos", e na Tese de Doutorado com o título "Aplicação dos conceitos da Inte-ligência Coletiva no Ensino da Matemática em Curso Superior", do autor deste capítulo.

Referências Bibliográficas:ACKOFF, R. L. From data to wisdom. Journal of Applied Systems Analy-

sis, Bailrigg, Lancaster: University of Lancaster, v. 16, p. 3-9. 1989.

CANHOS, D.A.L. Biodiversidade: Sistemas de Informação. Conceito, Infra-es-

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trutura e Política. (Gerente de Projetos, BDT - Base de Dados Tropical). 1996.

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DIKW Pyramid. In Wikipedia, The Free Encyclopedia. Retrieved 20:13, February 4, 2013, from http://en.wikipedia.org/w/index.php?title=DIKW_Pyramid&oldid=534288067. (2013, January 22).

MASLOW, A. Introdução à psicologia do ser. Rio de Janeiro: Eldorado. 1962.

MINERAÇÃO DE DADOS. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2012. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Minera%C3%A7%C3%A3o_de_dados&oldid=33246601>. Acesso em: 4 fev. 2013.

TUTHIL, G.S. Knowledge engineering: concepts and practices for knowledge-based systems. s.l.: Tab Books Inc. 1990.

TOFFLER, A. A terceira onda. 18. ed. Rio de Janeiro: Record, 1992.