PLANEJAMENTO E GESTÃO DE SISTEMAS INTENSIVOS DE ... · de compra do boi magro, o preço dos...

14
II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte PLANEJAMENTO E GESTÃO DE SISTEMAS INTENSIVOS DE PRODUÇÃO DE CARNE BOVINA EM CONFINAMENTO RODRIGO OTÁVIO SPENGLER BEEF TEC - Consultoria Pecuária Campo Grande/MS [email protected] 1. INTRODUÇÃO A pecuária brasileira se desenvolveu baseada em sistemas extensivos de exploração graças a grande extensão territorial e aos baixos preços de terra no passado aliado ao clima bastante favorável ao desenvolvimento das forrageiras tropicais proporcionando alimentar os animais de uma forma prática e econômica. No entanto, a estacionalidade da produção forrageira faz com que tenhamos uma grande oferta de forragens no período das aguas e uma baixa oferta no período da seca. Essa característica faz com que tenhamos maior taxa de lotação e de ganho de peso no verão em relação ao inverno. Desta forma um planejamento nutricional para o rebanho que contemple essas variações se faz necessário, onde podemos utilizar varias tecnologias para fazer a adequação. Dentre elas podemos destacar algumas, como o diferimento de pastagens, pastagens de inverno, suplementação volumosa, semiconfinamento e confinamento. Nas décadas de 70 e 80, existia uma grande variação nos preços pagos pela arroba devido à estacionalidade de oferta de animais para o abate no período do verão. Esse fator foi o que primeiro impulsionou os confinamentos no Brasil, onde alguns produtores perceberam a oportunidade de maiores ganhos explorando esse diferencial de maiores preços durante a entressafra. À medida que os produtores conseguiram aumentar a oferta de animais durante a entressafra, o diferencial de preço que havia, foi diminuindo e os confinamentos precisaram se modernizar, e a necessidade de se obter maior eficiência passou a ser um fator primordial para a sobrevivência da atividade. De acordo com estudos, a intenção de confinamento no Brasil aponta para um volume de aproximadamente 3,7 milhões de bovinos de corte em 2013, o que representa cerca de 8% do total de animais abatidos (Banco Original, 2013). Uma participação relativamente

Transcript of PLANEJAMENTO E GESTÃO DE SISTEMAS INTENSIVOS DE ... · de compra do boi magro, o preço dos...

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

PLANEJAMENTO E GESTÃO DE SISTEMAS INTENSIVOS DE PRODUÇÃO

DE CARNE BOVINA EM CONFINAMENTO

RODRIGO OTÁVIO SPENGLER

BEEF TEC - Consultoria Pecuária – Campo Grande/MS

[email protected]

1. INTRODUÇÃO

A pecuária brasileira se desenvolveu baseada em sistemas

extensivos de exploração graças a grande extensão territorial e aos

baixos preços de terra no passado aliado ao clima bastante favorável ao

desenvolvimento das forrageiras tropicais proporcionando alimentar os

animais de uma forma prática e econômica.

No entanto, a estacionalidade da produção forrageira faz com que

tenhamos uma grande oferta de forragens no período das aguas e uma

baixa oferta no período da seca. Essa característica faz com que

tenhamos maior taxa de lotação e de ganho de peso no verão em

relação ao inverno. Desta forma um planejamento nutricional para o

rebanho que contemple essas variações se faz necessário, onde

podemos utilizar varias tecnologias para fazer a adequação. Dentre elas

podemos destacar algumas, como o diferimento de pastagens,

pastagens de inverno, suplementação volumosa, semiconfinamento e

confinamento.

Nas décadas de 70 e 80, existia uma grande variação nos preços

pagos pela arroba devido à estacionalidade de oferta de animais para o

abate no período do verão. Esse fator foi o que primeiro impulsionou os

confinamentos no Brasil, onde alguns produtores perceberam a

oportunidade de maiores ganhos explorando esse diferencial de maiores

preços durante a entressafra. À medida que os produtores conseguiram

aumentar a oferta de animais durante a entressafra, o diferencial de

preço que havia, foi diminuindo e os confinamentos precisaram se

modernizar, e a necessidade de se obter maior eficiência passou a ser

um fator primordial para a sobrevivência da atividade.

De acordo com estudos, a intenção de confinamento no Brasil

aponta para um volume de aproximadamente 3,7 milhões de bovinos de

corte em 2013, o que representa cerca de 8% do total de animais

abatidos (Banco Original, 2013). Uma participação relativamente

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

pequena se compararmos a outros países grandes produtores de carne.

A Argentina atualmente confina 50% dos animais abatidos, a África do

Sul 80%, Austrália 33%, Estados Unidos e Canadá praticamente 100%

(Deblitz, 2011).

Atualmente no Brasil, a redução da abertura de novas áreas para

a exploração agropecuária é uma realidade. Isso limita em extensão

territorial disponível para o uso do solo com atividades produtivas e traz

como consequência a competição das mesmas por áreas com maior

potencial produtivo. Temos visto claramente no Brasil Central nos

últimos anos o avanço de culturas como cana, floresta, soja e milho

sobre áreas de pastagens. Este processo deve continuar ocorrendo e o

ritmo do seu crescimento vai ser ditado pelo grau de rentabilidade que

essas atividades vão oferecer quando comparadas à pecuária explorada

na mesma propriedade. Uma das consequências disso é a valorização

da terra e como a pecuária não vai ter novas fronteiras de terras baratas

para migrar, como ocorria no passado, será necessário adequarmos os

sistemas de produção a este novo cenário que vem se desenhando.

O crescimento do uso de integração entre lavoura, pecuária e

floresta nas suas diversas modalidades, assim como o uso do

confinamento são exemplos de tecnologias que serão cada vez mais

utilizadas para atender o aumento da necessidade de produção de

alimentos e demais produtos agropecuários.

Estudos da FAO apontam para uma demanda crescente no

consumo de carnes para os próximos anos, incluindo a carne bovina.

Nesse cenário o Brasil aparece como um dos países de maior

potencial para ocupar esse espaço no mercado internacional devido ao

grande rebanho que possui e ao grande espaço para ganhos de

produtividade que existe na pecuária brasileira.

O confinamento deve exercer um papel fundamental nesse

processo de aumento de produtividade do setor.

Para tanto é de fundamental importância que o confinamento seja

muito bem planejado e gerido. É uma atividade que na maioria das

vezes tem margens de lucro muito estreitas e pequenos detalhes podem

fazer toda a diferença e lucro e prejuízo.

Nesta apresentação temos o objetivo de contribuir com

informações que possam ser úteis aos interessados em montar um

confinamento ou aos que já possuem um. Serão abordadas questões

fundamentais no que diz respeito ao planejamento e gestão de

confinamento de gado de corte.

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

2. Benefícios diretos e indiretos da engorda de bovinos em confinamento

O confinamento como modelo de negócio pode ser separado basicamente

em duas modalidades, o especulativo e o estratégico. O confinamento

especulativo é quando a atividade fim é o próprio confinamento e visa

normalmente se beneficiar do diferencial de preço entre safra e entressafra.

Nesta modalidade os bois magros são adquiridos diretamente no mercado. Já

o confinamento estratégico é quando o mesmo esta inserido dentro de um

sistema de produção onde pode haver o ciclo completo ou apenas recria e

engorda.

No confinamento estratégico existe uma série de benefícios que o mesmo

pode trazer para o sistema de produção. Vamos exemplificar alguns deles:

Aliviar as pastagens no período da seca. Este sem dúvida é um dos

maiores benefícios. Esta característica permite por si o melhor

aproveitamento das pastagens durante o verão, fazendo com que ocorra

um aumento na produção de carne por hectare a custo baixo. Ainda

ocorre como benefício indireto uma baixa taxa de lotação na entrada do

período chuvoso que é de extrema importância para permitir um rápido

reestabelecimento das pastagens atuando como fator de prevenção a

degradação das pastagens.

Redução da idade de abate. Em sistemas de recria e engorda a pasto,

a introdução do confinamento pode aumentar a produção de carne por

hectare à pasto em cerca de 25% devido à redução do peso médio dos

animais à pasto, fazendo com que haja um aumento da lotação em

cabeças com a mesma carga de unidade animal.

Redução da necessidade de área. Permite ampliar a atividade sem a

necessidade de aquisição de novas áreas, permitindo ganhos de escala.

Maior facilidade de ajustar o grau de acabamento aos interesses do

mercado.

Permite produção de carne de melhor qualidade principalmente devido à

redução da idade de abate e ao melhor grau de acabamento de carcaça.

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

Eventualmente melhor preço de venda. No passado o diferencial de

preço entre safra e entressafra chegava a mais de 20%. Hoje isso

reduziu muito, mas na maioria dos anos ainda se consegue algum

diferencial.

Aumento do giro de capital. Retorno mais rápido do capital investido.

Redução na produção de gases de efeito estufa. Isso ocorre por vários

motivos. O animal é abatido com menos tempo de vida e em

consequência produz menos gases. As dietas baseadas em grãos e o

uso de aditivos melhora a eficiência energética da fermentação ruminal e

também reduz a produção de metano.

3. Planejamento da atividade de confinamento

Mas como em todas as atividades, existem os prós e os contras, no

confinamento não seria diferente. Nas atividades muito intensivas, o risco tende

a aumentar. Existem, principalmente, os riscos de produção, sanitários, sócio

ambiental e de mercado.

É de fundamental importância que se tenha um bom planejamento da

atividade. São necessários mais controles operacionais e gerenciais, melhor

qualificação de mão de obra, constante acompanhamento do mercado de gado

e de insumos. Como o custo é muito alto e as margens são estreitas e qualquer

erro pode fazer a diferença entre o sucesso ou fracasso na atividade

Para quem pretende montar um confinamento, alguns pontos fundamentais

a serem observados são:

Localização geográfica;

Aptidão da propriedade;

Localização dentro da propriedade;

Adequação ambiental do projeto;

Capacidade administrativa dos gestores do empreendimento;

Mão-de-obra qualificada;

Logística em relação à aquisição de grãos, subprodutos agroindustriais;

Logística em relação à reposição de animais para engorda;

Previsão adequada de recursos para investimento e capital de giro;

Correto dimensionamento da infraestrutura e maquinário;

Alternativas de comercialização na região.

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

4. Gestão de Confinamentos

A gestão dos confinamentos visa em última análise a obter lucro e para tanto

deve ser realizada através do gerenciamento adequado de recursos e pessoas.

4.1. Formação do custo e compra de insumos

Os principais fatores que definem a rentabilidade do confinamento são o preço

de compra do boi magro, o preço dos alimentos, o preço de venda da arroba e

a conversão alimentar. Na tabela 1 apresentamos uma simulação para

exemplificar de forma resumida os principais números para análise financeira

do confinamento. Os índices zootécnicos serão discutidos mais adiante.

Tabela 1 – Exemplo de custos e resultados de um confinamento.

Peso do animal magro (Kg) 380

Preço do Kg vivo R$ 3,00

Preço do animal R$ 1.140,00

Frete R$ 35,00

Protocolo Sanitário R$ 4,50

Custo de venda (NF, taxas, etc…) R$ 10,00

Custo da diária - Alimento R$ 4,30

Custo da diária - Fixo + Operacional R$ 1,00

Desembolso total R$ 1.719,50

Período de confinamento (Dias) 100

Ganho de peso em confinamento (Kg/dia) 1,500

Peso final 530

Rendimento de carcaça 54,00%

Preço de venda da arroba R$ 98,00

Receita total R$ 1.869,84

Lucro R$ 150,34

Lucro % 8,04%

Lucro mensal 2,41%

Ponto de equilíbrio R$ 90,12

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

Quando analisamos a composição custos de um confinamento podemos

observar a importância de cada item e nos dá uma direção clara de onde

devemos concentrar nossos esforços. A figura 1 foi feita com base nos dados

da Tabela 1 e como podemos ver compra do gado magro correspondeu por

66,30% dos custos, seguido pela despesa com os alimentos com 25,01% dos

custos, portanto é onde definitivamente não pode se errar. Uma reposição de

gado magro mal feita ou custos elevados no preço dos alimentos podem

comprometer seriamente a rentabilidade da atividade. Não que os outros itens

não sejam importantes, mas tem menor impacto no resultado final.

Figura 1 – Distribuição dos custos do confinamento

Para isso é de fundamental importância acompanhar o mercado de reposição e

de insumos. O gestor do confinamento deve estar constantemente bem

informado, assinar informativos, estar sempre em contato com fornecedores e

corretores, avaliar grupos de compra coletiva e acompanhar as tendências de

mercado futuro, tentando sempre identificar oportunidades de bons negócios.

Preço do animal 66,30%

Frete 2,04%

Protocolo Sanitário 0,26%

Custo de venda (NF,

taxas, etc…) 0,58%

Custo da diária - Alimento 25,01%

Custo da diária - Fixo + Operacional

5,82%

Participação nos custos

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

Uma dúvida frequente é a categoria ou raça ou qualidade ideal do animal para

se confinar. Na verdade o animal ideal é o que dá mais lucro é obvio, mas

vamos à algumas considerações. Um animal de genética ruim, mesmo

desempenhando menos no confinamento pode dar um lucro maior que um

animal de genética excepcional, depende do preço que eu pago em cada um.

Então podemos concluir que cada mercadoria tem seu preço e o animal inferior

pode ser um bom negócio dependendo do que se paga nele e o desafio é esse.

Quanto posso pagar a mais por um animal de genética superior que vai

desempenhar melhor? Quanto ele vai converter melhor?

São perguntas complexas e de difícil resposta. Para tanto é importante ter

históricos das compras e seus resultados zootécnicos e econômicos o que

pode auxiliar e muito balizar as compras.

As fêmeas, por questões fisiológicas são menos eficientes na engorda que os

machos e na maioria das vezes em que são confinadas é em se utilizando o

confinamento como ferramenta de manejo ou em uma boa oportunidade de

compra ou para nichos de mercado como no caso das novilhas.

Outro fator importante que norteia a escolha da raça e da categoria dos

animais a serem confinados é em função da necessidade de atendimento de

algum nicho de mercado ou aliança mercadológica onde na maioria das vezes

se consegue um prêmio para animais produzidos dentro do padrão desejado.

4.2. Planejamento e estratégias de venda de bovinos

Conforme foi descrito anteriormente, o valor de venda da arroba é um dos

principais fatores que determinam a rentabilidade do confinamento.

As principais alternativas para se tentar ter um bom preço de venda são os

mecanismos de proteção de preço nas suas diversas modalidades, a

agregação de valor para mercados específicos e em alguns casos os

incentivos públicos.

Como principais ferramentas de proteção de preço podemos citar:

Mercado a termo: É um contrato firmado entre o produtor e o frigorífico

onde se define antecipadamente a quantidade, a data, o tipo de animal a

ser entregue e o preço que será pago na ocasião. Esse preço é ofertado

pelo frigorífico e tem como referencia o mercado futuro e o diferencial de

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

base para a região onde esta localizada a propriedade. Não há a

necessidade de ajustes até o vencimento do contrato;

Mercado futuro: O produtor fixa um preço de venda no mercado futuro.

Funciona como se fosse um seguro de preço, onde o produtor vai ser

remunerado exatamente no preço em que foi vendido à futuro, corrigido

para a região em que ele está e descontando as taxas da bolsa de

valores e a comissão da corretora. Esta operação deve ser realizada

obrigatoriamente através de uma corretora credenciada na bolsa de

valores. Exige compensações diárias das oscilações de preço o que

pode ser um tanto penoso para quem não esta organizado para esta

atividade;

Mercado de opções: Tem o custo do prêmio que é o valor que se paga

por arroba para se ter uma garantia de preço mínimo de venda para a

data de vencimento do contrato. A vantagem é que se a arroba subir

além do valor estipulado no contrato de opção, o produtor continua

ganhando ao contrario do hedge no mercado futuro;

Como algumas opções de agregação de valor para mercados específicos e

incentivos públicos podemos citar:

Mercado Europeu: Exige que os animais sejam rastreados. O diferencial

que os frigoríficos pagam a mais varia muito em função da demanda e

da oferta de animais para esse mercado. Temos observado prêmios de

R$ 1,00 à R$ 3,00 por arroba;

Cota Hilton: Exige que os animais tenham sido rastreados até os 10

meses de idade. Devem ser abatidos entre 22 e 24 meses, com no

máximo dois dentes, ser alimentados exclusivamente à pasto e o peso

de abate não pode ultrapassar 460 Kg. Os prêmios tem variado de R$

1,00 à R$ 2,00 por arroba;

Programas específicos dos frigoríficos e Supermercados. Exemplos:

o Programa Angus Marfrig: Exige animais com um mínimo de 50%

de grau de sangue da raça Aberdeen Angus. Machos inteiros tem

que ter dentes de leite. Fêmeas e machos castrados até 2 dentes.

Peso mínimo de 225 Kg para carcaça dos machos e 195 kg para

fêmeas. Acabamento mínimo mediano. Premiação de até 10%

para machos e até arroba do macho mais 8% para fêmeas.

o Programa “No Ponto” JBS: Para machos castrados que não

sejam de origem leiteira com maturidade de 0 à 6 dentes com

gordura mediana e uniforme. Premia até R$ 5,00 por arroba.

o Produtos TAEQ do grupo Pão de Açucar

Associações. Exemplos:

o Associação sul-mato-grossense dos produtores de novilho

precoce: Atualmente conta com três alternativas para

comercialização dos animais dos associados. Um com a rede

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

Carrefour de Supermercados. Abates no frigorífico Navicarnes em

Rochedo-MS. Exige fêmeas com carcaça acima de 180 Kg,

machos com carcaça de 210 à 225 kg acabamento mínimo de

3mm e máximo de 10mm de gordura. Os animais cruzados com

até 30 meses e nelore até 36 meses. A segunda opção é para a

marca “Primo Corte” da própria associação. O abate também é no

Navicarnes e aceita apenas novilhas com peso de carcaça acima

de 180 Kg, com no mínimo de 5mm de gordura e idade máxima

de 30 meses para animais cruzados e 36 meses para animais da

raça nelore. A terceira opção é uma parceria com o frigorífico

JBS. Exige machos castrados ou inteiros com peso mínimo de

carcaça de 240 Kg, vacas com mínimo de 210 kg e novilhas com

mínimo de 180 Kg, todos com no mínimo 5mm de gordura. A

idade máxima de 30 meses para animais cruzados e 36 meses

para animais da raça nelore para bois e novilhas e vacas com

idade livre;

o Programa Carne Angus Certificada;

o Carne Certificada Pampa da Associação Brasileira de Hereford e

Braford;

o Bonsmara Beef;

Programa de incentivo à produção do novilho precoce: Incentivo

fornecido pelo governo do Mato Grosso do Sul onde o ICMS sobre a

carne pode ter uma redução nos seguintes níveis de incentivo: redução

de 67% do ICMS – animais com apenas dentes de leite, sem nenhuma

queda; redução de 50% do ICMS – animais com no máximo dois dentes

permanentes, sem a queda dos 1ºs médios; e redução de 33% do ICMS

– animais com no máximo quatro dentes permanentes (castrados), sem

a queda dos 2ºs médios. Os animais deverão ter peso mínimo de

carcaça de 180 kg para as fêmeas e 225 Kg para os machos.

Carne Orgânica: Animais criados em sistemas extensivos no pantanal.

São rastreados ao nascimento. Animais abatidos e processados pelo

JBS.

Como pudemos ver, as alternativas para agregação de valor são muitas e a

escolha de qual é mais interessante participar vai variar em funçãodas

características de cada empreendimento e da possibilidade de se ajustar em

cada programa.

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

4.3. Principais métricas utilizadas em confinamento

“Você não pode melhorar o que você não controla. Você não pode controlar o

que você não mede. Você não pode medir o que você não define”. (Autor

desconhecido)

Quando falamos de métricas em confinamento, devemos fazer algumas

considerações à respeito. A primeira delas é que o volume de informações à

serem coletadas e analisada normalmente é muito grande. Existe a

necessidade de padronização dessas métricas para não correr o risco de se

comparar medições realizadas com diferentes metodologias. Existe a

necessidade de mão-de-obra qualificada e em grande parte dos casos é

fundamental que se tenha um controle informatizado dessas informações.

De longe, a métrica mais utilizada para medir desempenho em confinamento é

o ganho médio diário. Apesar de ser uma medida de ser facilmente tomada, ela

esta sujeita a grandes variações por questões de manejo e de dieta e é onde

na maioria das vezes as pessoas comparam coisas diferentes.

O manejo prévio a uma pesagem pode fazer com que o animal tenha variações

que variam na prática de 4% à 10% do peso vivo. É uma diferença imensa e é

devido principalmente a diminuição do conteúdo gastrointestinal e algumas

vezes a desidratação..

Se pensarmos que um animal de 400 kg pelo simples fato de dormir preso

pode ter uma perda de cerca de 5% do peso vivo, estamos falando de 20 Kg e

que em uma engorda de 80 dias representam 250 gramas por dia. Quanto

comparado à um animal idêntico que não teve esse mesmo manejo, o ganho

de peso seria 250 gr por dia superior. Apenas por diferença na metodologia de

pesagem.

Como vimos, nem sempre o ganho médio diário é um bom indicativo para se

comparar confinamentos por exemplo Quando tenho o mesmo manejo, na

mesma fazenda, com a mesma dieta, aí sim pode ser um parâmetro para

comparar desempenho. Mas ainda assim tem algumas ineficiências. Animais

que tem o mesmo ganho, mas com rendimento de carcaça diferentes, tem

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

resultados econômicos diferentes. Existem muitos consultores e pesquisadores

que utilizam o ganho de peso corrigido pelo rendimento de carcaça, que seria

uma forma justa de corrigir o ganho de peso vivo pelo ganho em carcaça que

em última análise é o que interessa.

O rendimento de carcaça é uma métrica muito utilizada e é obtida dividindo-se

o peso da carcaça pelo peso vivo do animal antes de ir para o abate.

Uma medida de eficiência muito utilizada é a conversão alimentar, onde se

mede quantos quilos de matéria seca de alimento foi necessário para se

ganhar um quilo de peso vivo.

E atualmente a métrica de eficiência mais utilizada é a conversão alimentar em

carcaça onde se calcula quantos quilos de matéria seca de alimento foi

necessário para se ganhar uma arroba de carcaça.

É importante salientar que todas essas métricas estão sujeitas à ineficiências

devido ao desconhecimento do rendimento de carcaça na entrada do

confinamento. Hoje de praxe a maioria das empresas e consultores utiliza

como rendimento de entrada 50%. E se utiliza isso por falta de coisa melhor.

Este é um ponto na análise das métricas em confinamento que precisaria ser

melhor discutido para tentarmos propor metodologias para correção desse

jejum de entrada de acordo com a nutrição e o manejo prévio à entrada do

confinamento.

4.4. Principais controles realizados

Em um confinamento é de suma importância que se tenha uma forma

organizada e sistematizada de coleta e análise de informações de forma que se

possa durante o andamento do confinamento, que é um processo de duração

relativamente curta, analisar se os processos em andamento estão dentro de

parâmetros satisfatórios ou não e tomar decisões para corrigir problemas, caso

seja necessário. Em propriedades que não tem um acompanhamento mínimo

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

pelo menos do consumo dos animais, caso ocorram problemas, provavelmente

só serão notados quando os animais forem embarcados e o desempenho ficar

aquém do esperado, quando será tarde de mais para ver quais foram as

causas do problema. O acompanhamento do que ocorre em um confinamento

deve ser diário e rigoroso. Para isso é importante definir a ferramenta de

controle adequada a cada empreendimento e o que deve ser controlado.

Hoje existem diversos softwares para controle de confinamento. Existem

alguns que fazem controles em planilhas eletrônicas. A ferramenta não precisa

ser complexa. Precisa ser simples de operar e controlar o mínimo necessário.

Todos os aspectos do gerenciamento de um confinamento devem ser focados

em ter a máxima consistência e tudo o que for feito fora disso lhe custará

dinheiro. Devemos identificar e monitorar todos os pontos críticos visando

minimizar perdas e maximizar resultados

Os principais pontos a serem controlados e monitorados são:

Consumo:

o Consumo de matéria original por cabeça por dia;

o Consumo de matéria seca por cabeça por dia;

o Consumo de matéria seca em porcentagem do peso vivo;

o Quantidade de sobras de ração;

Estoque:

o Variação entre previsto e realizado entre carga e descarga de

ração;

o Entrada de matéria prima;

o Variação de matéria seca dos ingredientes;

o Composição bromatológica dos ingredientes;

o Baixa no estoque pelo realizado da carga;

Controle de movimentação dos animais:

o Origem;

o Ocorrências sanitárias;

o Carências do manejo profilático e medicamentosas;

o Mortes

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

o Problemas de adaptação

o Abates

o Transferências

Controle de fábrica de ração

o Qualidade de mistura

o Volume produzido

o Produtos para outras finalidades

o Perdas

o Logística dos vagões

Índices de desempenho

o Ganho médio diário

o Ganho corrigido pelo rendimento

o Rendimento de Carcaça

o Eficiência alimentar

o Conversão alimentar

o Conversão em carcaça

Índices econômicos

o Custo da diária

o Custo operacional

o Custo Fixo

o Custo da arroba produzida

o Lucro

o Margem

o Desembolso por cabeça

4.5. Manejo alimentar

O manejo alimentar do confinamento esta relacionado principalmente com a

distribuição da ração no cocho e tudo o mais que envolve esse processo, como

frequência, horários, proporções em cada trato, qualidade da mistura, leitura de

cocho e outros e visa principalmente otimizar o consumo dos animais, diminuir

a variação na oferta e no consumo de ração, evitar desperdícios, evitar

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

problemas metabólicos, prever desempenhos e melhorar a conversão

alimentar.

A leitura de cocho é feita de uma a duas vezes por dia e visa dar uma

informação à pessoa que faz o manejo do arraçoamento no que diz respeito

aos ajustes que se fazem necessários na quantidade de ração à ser fornecida

para cada lote. Este manejo visa ajustar a quantidade de ração fornecida para

cada lote de forma que não haja sobras, o que representa uma perda

econômica e de forma que não falte ração no cocho, o que poderia limitar

desempenho ou causar problemas metabólicos em caso de consumo

excessivo após um período de restrição, nem que este período seja pequeno.

No confinamento é importante que se tenha uma rotina muito bem definida. Os

animais se acostumam à ela e tudo que muda gera stress. Os horários,

proporções fornecidas e outros manejos devem seguir uma rigorosa rotina.

5. Considerações Finais

O confinamento de gado de corte é uma atividade que esta em expansão no

Brasil e vai estar cada vez mais presente no cotidiano da pecuária de corte. É

uma atividade complexa que exige muito da equipe gestora do

empreendimento para que se tenha sucesso na atividade, mas por outro lado

pode recompensar muito bem quem se dispor a praticar a atividade com

profissionalismo. Muito já se fez, mas ainda serão necessárias muitas

pesquisas no Brasil para podermos ajustar os manejos, dietas, instalações,

processamento de grãos e outras questões que exigem mais respostas

adequadas à nossa realidade.