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A GRANJA | 61 Milho + braquiária: TECNOLOGIA para o solo de SPD PLANTIO DIRETO Gessi Ceccon, analista da Embrapa Agropecuária Oeste C ultivar o solo com o mínimo re- volvimento necessário para a se- meadura das culturas, mantê-lo sem- pre coberto e trocar de cultura a cada se- meadura são os três princípios básicos para bem manejar o solo, nominado de sistema plantio direto (SPD). Na Região Centro- Oeste e parte das Regiões Sul, Norte e Nordeste, a base da economia agrícola tem Gessi Ceccon sido o cultivo de soja durante a primavera- verão e de milho no outono-inverno. Essa sucessão de culturas não é um sistema de cultivo perfeito, sob os princípios do SPD, mas a soja fixa nitrogênio atmosférico e o milho produz quantidade de palha maior do que muitas outras culturas de impor- tância econômica. Além disso, a soja e o milho têm estru- Soja após consórcio milho e braquiária, sucessão que não é um sistema de cultivo perfeito, mas a soja fixa nitrogênio atmosférico e o milho produz quantidade de palha maior

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Milho + braquiária:TECNOLOGIA para o solo

de SPD

PLANTIO DIRETO

Gessi Ceccon, analista da Embrapa Agropecuária Oeste

C ultivar o solo com o mínimo re-volvimento necessário para a se-meadura das culturas, mantê-lo sem-

pre coberto e trocar de cultura a cada se-meadura são os três princípios básicos parabem manejar o solo, nominado de sistemaplantio direto (SPD). Na Região Centro-Oeste e parte das Regiões Sul, Norte eNordeste, a base da economia agrícola tem

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sido o cultivo de soja durante a primavera-verão e de milho no outono-inverno. Essasucessão de culturas não é um sistema decultivo perfeito, sob os princípios do SPD,mas a soja fixa nitrogênio atmosférico e omilho produz quantidade de palha maiordo que muitas outras culturas de impor-tância econômica.

Além disso, a soja e o milho têm estru-

Soja após consórcio milho ebraquiária, sucessão que não éum sistema de cultivo perfeito,

mas a soja fixa nitrogênioatmosférico e o milho produz

quantidade de palha maior

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tura de máquinas à disposição para todo osistema produtivo e comercialização, tor-nando menos complexa a atividade agrí-cola com essas duas culturas. No entanto,a soja, por ser uma leguminosa, tem de-composição rápida da palha, e o milho,mesmo produzindo grande quantidade depalha, não cobre o solo de maneira unifor-me, deixando-o pouco protegido entre acolheita do milho e a semeadura da próxi-ma soja. A semeadura simultânea de umabraquiária com o milho safrinha é uma dasestratégias para manter o solo coberto e,assim, manter o milho como cultura de in-teresse econômico.

Rotação de culturas com braquiária— O cultivo consorciado de milho combraquiária é uma tecnologia que proporcio-na cobertura ao solo, atendendo a um dostrês princípios do SPD. O tempo em que abraquiária permanecerá no solo após a co-lheita do milho pode atender aos três prin-cípios. Quando a braquiária é mantida empastejo durante a safra de verão, ela pro-porciona rotação para a soja e, se for man-tida por 18 meses, até o cultivo da próxi-ma safra de soja, estará fazendo rotaçãode culturas também para o milho, atenden-do ao segundo princípio do SPD. Essa per-manência da braquiária na lavoura propor-ciona cobertura e ambiente físico no solo,para semeadura com o mínimo de revolvi-mento, atendendo assim aos três princí-pios do SPD. No entanto, quanto mais ele-mentos no sistema de produção, mais com-plexa é a atividade, o que requer planeja-mento refinado para execução de um pro-jeto, principalmente quando depende deinfraestrutura, de logística e do mercado.

Por mais antigo que seja o cultivo con-sorciado, a braquiária ainda causa inquie-tação em muitos profissionais da agricul-tura, seja por receio de perder produtivida-de do milho ou por dificuldades para des-secação da braquiária e semeadura da soja.A entrada de animais na lavoura tambémdificulta, mas é uma combinação perfeitapara que a braquiária atenda aos três prin-cípios do bom manejo do solo através daintegração lavoura pecuária (ILP).

A braquiária com milho é um impor-tante caminho para iniciar a ILP. Isso por-

que o agricultor dispõe de tecnologias pararealizar o cultivo consorciado, no qual apresença da braquiária pode melhorar ascondições físicas e químicas do solo e/ouformar a pastagem para os animais. Noentanto, se algum erro acontecer nesse pe-ríodo, o agricultor tem a oportunidade derecomeçar a cada cultivo de milho e repla-nejar a introdução dos animais em sua ati-vidade, uma vez que uma lavoura compasto proporciona melhorias para o solo.Já animais sem pasto acarretam em prejuí-zo para o agricultor/pecuarista.

Os objetivos do consórcio são produ-zir palha para cobertura do solo, pasto paraalimentação de animais ou palha e pastoem diferentes situações de cultivo. Já osobjetivos do cultivo consorciado indicama espécie forrageira e a população de plan-tas a serem utilizadas, assim como a esco-lha da espécie indica a dose de herbicida ecuidados necessários para a dessecaçãodessa forrageira no retorno com a soja.

Escolha da forrageira e população deplantas — A escolha da forrageira deveatender às exigências de cada cultivar emtermos de solo e clima, em que a Brachia-

ria ruziziensis é a espécie mais indicada paraatender ao princípio do solo permanente-mente coberto e poder iniciar uma ativida-de de ILP, por ser de fácil dessecação epermitir pastejo antes da semeadura da soja.A Brachiaria brizantha (cultivar marandu,xaraés ou piatã) ou o Panicum maximum(cultivar tamani, zuri, quênia ou momba-ça) devem ser utilizados para o cultivo commilho e, assim, formar pasto para ILP emSPD. Contudo, em sistema ILP torna-senecessária a semeadura de uma forrageiraperene solteira após a soja, para ter alimen-to para os animais ainda no início do perío-do seco, antes da colheita do milho con-sorciado, e proporcionar maior ganho depeso dos animais.

A população de plantas da forrageiraprecisa ser ajustada para não reduzir a pro-dutividade de grãos do milho, ou priorizare produzir maior quantidade de forragem,dependendo do objetivo do cultivo. Paraproduzir palha para o SPD, bastam entre 5e 10 plantas de braquiária por metro qua-drado, enquanto que, para produzir pasto,são necessárias entre 10 e 20 plantas pormetro quadrado. Para isso, deve-se utilizar

Na imagem, milho safrinha combaixa população de plantas de

Brachiaria ruziziensis, mas suficientepara boa cobertura do solo

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a “germinação” das sementes para estabe-lecer uma determinada população de plan-tas, e não apenas viabilidade. A viabilidadeé utilizada para indicar a qualidade das se-mentes em termos de comercialização,pois essas podem apresentar dormência.Porém, nem toda semente viável tem vi-gor para germinar e emergir em campo.Nesse mesmo sentido, também é impor-tante utilizar lotes de sementes com altapureza, o que já é um indicativo de melhorgerminação e diminuir a entrada de conta-minantes na lavoura. As modalidades decultivo do milho e da braquiária interferemna produtividade das duas espécies. O mi-lho adequadamente estabelecido exerce do-mínio sobre a forrageira, pois tem cresci-mento inicial mais rápido, e quanto menoro seu espaçamento entre linhas e maior a

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sua população de plantas, menor será aprodutividade de massa da forrageira. Es-sa é uma situação em que o milho produzgrãos e grande quantidade de palha, masé a braquiária a responsável por trazer aqualidade da cobertura para o SPD. Poroutro lado, quanto maior o espaçamentoentre as linhas de milho e quanto menor asua população de plantas, maior será a pro-dutividade de massa da forrageira, o queé desejável na produção de forragem apósa colheita do milho em ILP.

A implantação da braquiária com caixaadicional para as sementes permite posicio-ná-las no solo, assim como ajustar a quan-tidade de sementes para a populaçãodesejada de plantas. A utilização de discospara sementes, acoplados ao eixo das se-mentes de milho, dificulta o ajuste da po-pulação de plantas de braquiária, isso por-que vai depender da população de milho eda germinação da forrageira, para depoisescolher o diâmetro do furo do disco. Umaoperação adicional para semeadura da bra-quiária pode ser utilizada, desde que sejaantes da passagem da semeadora do milhoou demandará outra operação para incor-poração das sementes.

A profundidade de semeadura da for-rageira interfere na sua emergência e napopulação de plantas que, por sua vez,interfere na produtividade da forrageira.Planejar e estabelecer uma determinada po-pulação de plantas de braquiária dependeda qualidade das sementes, da profundi-dade de semeadura, do local e da épocado ano em que a semeadura será realiza-da. Aliado a esses fatores, o método de se-

meadura do consórcio interfere na germi-nação e emergência das plantas. Nos culti-vos de outono-inverno, em que as chu-vas costumam ser menores, é importan-te aprofundar as sementes da forrageira,em torno de 3 a 4 centímetros. As se-mentes distribuídas na superfície do solo,próximas aos discos de corte da semea-dora, são incorporadas com a operaçãode semeadura, e germinam com a umi-dade existente no solo; as sementes nãoincorporadas podem germinar com aschuvas ocorridas após a semeadura. Essaemergência defasada da braquiária emrelação à emergência do milho diminui acompetição da braquiária com o milho, ecom isso torna-se possível aumentar apopulação da braquiária para se obtermaior massa após a colheita do milho.

Braquiária para iniciar SPD — Coma escolha da forrageira apropriada serápossível deixá-la como pastagem para cria-ção e engorda de animais. Inicialmente, comos animais pastejando na lavoura apenasno período da seca, a fim de não compac-tar o solo, e depois, com plantio diretoestabelecido, os animais poderão perma-necer por mais tempo na lavoura, mesmono período chuvoso do ano. Com essesanimais pastejando a braquiária, torna-sepossível deixar a quantidade de palha ne-cessária para cobertura do solo e reduzir adose de herbicida necessária para desse-cação. A braquiária permanecerá sob pas-tejo o tempo necessário para realizar a ro-tação de culturas para a soja e para o milhosafrinha, e assim cultivar o solo em siste-ma plantio direto.

Gessi Ceccon: o cultivo consorciadode milho com braquiária

proporciona cobertura ao solo, oque atende a um dos três princípios

do SPD