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Plataforma computacinal para
projecto de sistemas de vácuo
Dissertação apresentada na Faculdade de Ciências e Tecnologia
da Universidade Nova de Lisboa para obtenção do
Grau de Mestre em Engenharia Física
João Trigueiro Santos
Orientador: Prof. Doutor Orlando Teodoro
Monte de Caparica, Maio de 2011
1
Agradecimentos
Gostaria de agradecer ao professor Orlando Teodoro, por me propor o
desenvolvimento deste projecto, e pela orientação dada durante este último ano.
2
Resumo
Neste projecto desenvolveu-se uma aplicação em Java para simulação de sistemas
de vácuo. A aplicação permite simular uma série de sistemas com topologias típicas de
sistemas de vácuo primário e alto-vácuo. Cada sistema permite o dimensionamento das
bombas de vácuo, câmaras, tubos, medidores de pressão, e a alteração do estado de
válvulas em tempo real, sendo a característica principal da plataforma poder observar a
evolução da pressão no tempo para cada sistema.
O algoritmo usado para o cálculo da evolução da pressão tem por base um novo
método, proposto por Livesey[2], para o cálculo do fluxo entre dois pontos a pressões
diferentes, unidos por um tubo. O fluxo é calculado a partir da solução de equações
termodinâmicas de fluxo adiabático. Este modelo de cálculo abrange todos os regimes
de escoamento, e não tem limitações práticas importantes.
O modelo usado foi comparado com o modelo clássico. Analisou-se a diferença dos
modelos para fluxos de gás em regime turbulento e em modo choked, e comparou-se a
evolução da pressão em sistemas de vácuo primário e alto vácuo.
3
Abstract
In this project, a Java application for simulating vacuum systems was developed.
The application allows the user to simulate a series of systems with typical topologies of
primary vacuum and high-vacuum systems. Each system allows the sizing of pumps,
vacuum chambers, ducts, gauges, and the change of valves‟ states in real time. The main
feature of the platform is to show the pressure evolution over time for each system.
The algorithm used to model the pressure evolution is based on a new method,
proposed by Livesey[2], to calculate the flow between two volumes at different
pressures, connected by a single duct. The flow is calculated from the solution of the
thermodynamic equations for adiabatic flow. This model covers all flow regimes, and
has no important practical limitations.
The Livesey model was compared with the classical model. The differences of the
models for choked and turbulent flow are analyzed, as well as the pressure evolution in
primary and high vacuum systems.
4
Índice de conteúdos
Agradecimentos ...........................................................................................................................1
Resumo ........................................................................................................................................2
Abstract ........................................................................................................................................3
Índice de conteúdos .....................................................................................................................4
Índice de Figuras ..........................................................................................................................6
I. Introdução e enquadramento ...................................................................................................8
1. Objectivos.............................................................................................................................8
2. Projecto de sistemas de vácuo .............................................................................................8
3. Fluxos e condutâncias ........................................................................................................10
3.1. Fluxo gasoso ................................................................................................................12
3.2. Modelo clássico de condutância ..................................................................................16
3.3. Introdução ao novo modelo ........................................................................................19
3.4. Evolução da pressão no tempo....................................................................................21
3.5. Comparação dos modelos de cálculo ..........................................................................23
II. Plataforma computacional .....................................................................................................27
1. Conteúdo ............................................................................................................................27
1.1. Sistemas de vácuo primário.........................................................................................27
1.2. Sistemas de alto-vácuo ................................................................................................30
2. Linguagem de programação Java .......................................................................................32
3. Desenvolvimento ...............................................................................................................33
4. Aplicações ..........................................................................................................................34
III. Fundamentos teóricos ...........................................................................................................35
1. Fluxo contínuo ....................................................................................................................35
2. Método de cálculo geral do fluxo contínuo ........................................................................37
3. Fluxo choked .......................................................................................................................39
4. Simplificação para fluxos e pressões baixas .......................................................................40
5. Fluxo molecular ..................................................................................................................40
5.1 Condutância molecular.................................................................................................41
6. Desgaseificação ..................................................................................................................42
6.1 Evolução da desgaseificação no tempo ........................................................................46
6.2 Fluxo de desgaseificação ..............................................................................................47
IV. Implementação dos fundamentos teóricos ..........................................................................48
5
1. Cálculo do fluxo contínuo ...................................................................................................48
2. Cálculo de Kc ......................................................................................................................49
3. Cálculo do Mach Number de entrada .................................................................................51
3.1. Método da falsa posição .............................................................................................51
4. Critérios de convergência ...................................................................................................53
4.1. Número de Reynolds ...................................................................................................53
4.2. Mach Number ..............................................................................................................53
5. Optimização do tempo de cálculo ......................................................................................54
5.1. Número de Reynolds ...................................................................................................54
5.2. Mach Numbers ............................................................................................................54
6. Taxa de desgaseificação .....................................................................................................55
7. Bombas de vácuo e evolução da sua velocidade de bombeamento ..................................58
7.1. Bombas com pressão mínima ......................................................................................60
7.2. Bombas com pressão mínima e máxima .....................................................................61
8. Determinação e optimização do intervalo de tempo entre iterações ................................63
9. Contribuição dos tubos de ligação para o volume ..............................................................65
V. Apresentação e discussão de resultados................................................................................66
1. Sistemas ensaiados.............................................................................................................66
2. Análise de resultados .........................................................................................................68
VI. Descrição da interface ...........................................................................................................72
VII. Conclusão .............................................................................................................................75
Referências Bibliográficas ..........................................................................................................76
6
Índice de Figuras
Figura 1- Exemplo de sistema de vácuo usado em análise de superfícies .................................................. 8
Figura 2 – Contribuições de fluxo ............................................................................................................ 12
Figura 3 – Fluxo laminar [5] .................................................................................................................... 13
Figura 4 – Fluxo turbulento [5] ................................................................................................................ 13
Figura 5 – Colisões com as paredes do tubo em regime molecular [5] ..................................................... 14
Figura 6 – Reservatório e tubo através do qual se faz o bombeamento[1] .............................................. 16
Figura 7 – Valor de Y em função da razão b/a (b<a) [4] .......................................................................... 17
Figura 8 – Valor de K em função da razão b/a (b<a) [4] .......................................................................... 18
Figura 9 – Condutância de tubos de diferentes diâmetros em função da pressão [1] .............................. 19
Figura 10 – Câmara com ligação a bomba de vácuo ............................................................................... 21
Figura 11 – Comparação de condutâncias em regime contínuo .............................................................. 23
Figura 12 – Comparação do fluxo para diferentes valores de K (Pu /Pd) ................................................... 24
Figura 13 – Desvio dos modelos de Livesey (Model) e de Knudsen em relação à solução de Sharipov e
Seleznev da equação de Bolztmann para um tubo longo ........................................................................ 25
Figura 14 – Comparação dos resultados do modelo de Livesey (linhas sólidas) com resultados
experimentais para o fluxo de ar por um orificio circular ........................................................................ 26
Figura 15 – a) Sistema Primário 1 ; b) Sistema Primário 2 [1] .................................................................. 27
Figura 16 – a) Sistema de Alto-Vácuo 1; b) Sistema de Alto-Vácuo 2 [1] .................................................. 29
Figura 17 – Processos até à execução de um programa em java ............................................................. 32
Figura 18 – Esquema da portabilidade dos programas escritos em Java ................................................. 33
Figura 19 - Parâmetros do fluxo adiabático ............................................................................................ 35
Figura 20 - Ciclo de cálculo do fluxo contínuo .......................................................................................... 38
Figura 21 – Processos de desgaseificação ............................................................................................... 43
Figura 22 – Diagrama de fluxos para o cálculo do fluxo contínuo ............................................................ 48
Figura 23 – Diagrama de fluxos para o cálculo de Kc .............................................................................. 50
Figura 24 – Exemplo: 1ª iteração ............................................................................................................ 52
Figura 25 - Exemplo: 2ª iteração ............................................................................................................. 52
Figura 26 – Decréscimo exponencial ....................................................................................................... 56
Figura 27 – Taxa de desgaseificação para o conjunto de 4 pontos da tabela 1 ........................................ 57
Figura 28 – Taxa de desgaseificação com transição “suave” ................................................................... 58
Figura 29 – Bomba de vácuo ................................................................................................................... 59
Figura 30 – Evolução da pressão num sistema de alto-vácuo, com diferentes volumes internos das
bombas .................................................................................................................................................. 59
Figura 31 – Comparação do efeito dos parâmetros ‘a’ e ‘b’ nas velocidades de bombeamento............... 61
Figura 32 – Evolução de velocidade de bombeamento com pressão mínima e máxima........................... 62
Figura 33 – Comparação dos resultados para diferentes valores da percentagem mínima de variação da
pressão ................................................................................................................................................... 64
Figura 34 – Ilustração da contribuição dos tubos para o volume das câmaras ........................................ 65
Figura 35 – Sistema primário para avaliação de resultados .................................................................... 66
Figura 36– Sistema de Alto-Vácuo para teste .......................................................................................... 67
Figura 37 – Comparação de resultados para a simulação do sistema de vácuo primário (Esquema 1) .... 68
Figura 38 – Comparação de resultados para a simulação do sistema de alto vácuo (Esquema 2) ............ 69
Figura 39 – Ensaio para análise do regime turbulento. ........................................................................... 70
Figura 40 – Comparação das condutâncias moleculares no sistema de alto vácuo .................................. 71
Figura 41 – Botões Start/Stop/Pause e vista do sistema.......................................................................... 72
Figura 42 – Indicadores de tempo e pressão e botões dos gráficos respectivos ....................................... 73
Figura 43 – Barra de controlo da velocidade de cálculo .......................................................................... 73
7
Figura 44 – Barra de controlo de válvula de fluxo controlado .................................................................. 74
Figura 45 - Pressão inicial ....................................................................................................................... 74
8
I. Introdução e enquadramento
1. Objectivos
Este projecto tem como objectivo desenvolver uma plataforma de cálculo para
sistemas de vácuo. A plataforma permitirá projectar, manipular e simular a evolução de
sistemas de vácuo primário e alto-vácuo, baseados em modelos pré-definidos. A
simulação deverá suportar todos os regimes de escoamento, assim como permitir uma
manipulação simples dos parâmetros que definem o sistema.
2. Projecto de sistemas de vácuo
Os sistemas de vácuo são hoje em dia uma parte essencial de inúmeros projectos
científicos e industriais, usados nas mais variadas aplicações, que se estendem a
praticamente todas as áreas de engenharia. Projectar correctamente estes sistemas é um
passo de extrema importância, pois o custo e o tempo despendido nesse trabalho podem
aumentar consideravelmente quando o resultado não corresponde ao esperado
(projectado).
Figura 1- Exemplo de sistema de vácuo usado em análise de superfícies
Uma das partes importantes do projecto de um destes sistemas consiste em
conseguir prever correctamente a evolução da pressão no seu interior, com base nos
componentes constituintes do sistema (bombas de vácuo, tubagem, etc.), e em
dimensionar estes componentes por forma a se obter a evolução de pressão desejada.
9
Para sistemas de vácuo primário, o processo é relativamente simples, mas para
sistemas de alto e ultra-alto-vácuo os cálculos necessários são mais elaborados. A
modelação do fluxo de ar bombeado do sistema torna-se mais complexa, devido à
mudança de regime (contínuo para molecular), e a contribuição da desgaseificação do
gás das paredes internas do sistema deixa de ser desprezável, pelo que fazer previsões
da evolução da pressão no tempo para estes sistemas pode ser uma tarefa difícil.
Por este motivo, uma plataforma computacional capaz de projectar sistemas de
vácuo terá grande utilidade, pois irá permitir o seu dimensionamento com relativa
facilidade, poupando-se tempo e evitando eventuais erros nos cálculos. Para além da sua
utilidade em áreas profissionais, é também bastante útil para um estudante poder
aprender e treinar a operação destes sistemas através de uma plataforma virtual. A
simulação deverá aproximar-se da realidade, de forma a que se possam realizar
alterações ao sistema em tempo real (abrir/fechar válvulas, etc.) e avaliar o sucesso ou
insucesso de certa operação, o que será bastante didáctico.
Com estes objectivos, propõe-se neste projecto o desenvolvimento de uma
aplicação disponível online, capaz de simular a evolução temporal de sistemas de alto-
vácuo, abrangendo todos os regimes de escoamento. Usando uma série de modelos
genéricos, pretende-se que o utilizador da plataforma possa definir e alterar os
parâmetros principais do modelo, tais como a velocidade de bombeamento da(s)
bomba(s) de vácuo, as características das conexões usadas (tubos cilíndricos,
rectangulares, o seu comprimento, raio, etc.), válvulas, volume da(s) câmara(s), etc.
Serão usadas na plataforma computacional topologias típicas pré-definidas, de sistemas
de vácuo primário e alto-vácuo, e espera-se que o uso destes modelos seja suficiente
para abranger os tipos de sistemas de vácuo mais importantes, e que a plataforma criada
sirva como uma boa substituição a um sistema real.
É possível encontrar no mercado outras plataformas de simulação de sistemas
vácuo, como o VacMaster 2.0®, ou o VacSim
®, embora a distribuição deste tenha sido
aparentemente descontinuada (o site não se encontra disponível). Ambos os softwares
têm a possibilidade de construir sistemas de vácuo com base em listas de bombas
presentes no mercado, materiais dos componentes, escolha da natureza do gás presente
no sistema, entre outras características, que são boas qualidades neste tipo de
plataforma. No entanto, a interface dos programas é pouco intuitiva, e a sua aplicação
para uso didáctico fica bastante comprometida por isso.
10
A plataforma VacMaster 2.0® baseia-se nos princípios da condutância clássica, que
tem em conta os regimes de escoamento viscoso, molecular, e transitório, mas não o
regime turbulento, nem o limite de velocidade do gás ao escoar por um tubo (velocidade
do som). A base física da plataforma computacional criada neste projecto será feita a
partir de um modelo de cálculo de fluxos proposto por Livesey [2], que suporta todos os
regimes de escoamento e tipos de tubos, e é portanto um avanço em relação ao modelo
de condutância clássico. Espera-se que o uso deste novo modelo permita simular um
sistema de vácuo de forma mais realista, e com menos limitações.
3. Fluxos e condutâncias
A geração de vácuo num sistema fechado consiste essencialmente na remoção de
átomos/moléculas de gás do interior desse sistema. Como a taxa de transferência do gás
determina a evolução da pressão no interior do sistema, a descrição desta grandeza é
essencial para a física da geração de vácuo.
A taxa de transferência de gás define-se como a quantidade de gás transportada por
unidade de tempo. Como não existe apenas uma grandeza para determinar uma
quantidade de gás, pode-se calcular esta taxa de várias formas, quer seja pelo volume de
gás transportado, massa de gás ou quantidade de partículas/moles.
Considere-se a taxa de partículas:
Recorrendo à equação dos gases, o número de moléculas pode ser substituido por:
Considerando a temperatura constante, tem-se:
11
Em ciência de vácuo, é comum usar-se a taxa , chamada de fluxo pV, ou throughput.
Esta taxa é proporcional à taxa , e tem a vantagem de ser mais fácil de trabalhar, pois
a sua gama de valores é mais pequena, e as grandezas pressão e volume são
relativamente simples de medir num sistema de vácuo, ao contrário da massa ou número
de particulas. Esta taxa é também referida como taxa de fluxo (flow rate), ou
simplesmente fluxo, representa-se habitualmente pela letra Q e tem as unidades
.
O volume de gás bombeado relaciona-se com o fluxo Q pela expressão:
(1)
Em que corresponde ao volume de gás bombeado por unidade de tempo, ou
velocidade de bombeamento.
A entrada/saída de gás num sistema fechado produz uma variação de pressão no seu
interior. Para uma câmara de volume V, num intervalo de tempo , durante o qual se
pode considerar o fluxo total Q constante, esta variação de pressão é dada por:
(2)
Nesta equação, o fluxo Q corresponde à soma de todos os fluxos de entrada e saída
de gás da câmara, que se dividem essencialmente em 3 contribuições:
A parcela refere-se ao fluxo gasoso, que é correspondente ao gás “livre” retirado
da câmara, corresponde ao fluxo de desgaseificação, e ocorre devido à desorção das
particulas de gás das paredes da câmara, e corresponde ao fluxo de gás que entra na
câmara devido a possíveis fugas (falhas no isolamento do sistema).
12
Figura 2 – Contribuições de fluxo
O fluxo por fugas pode ser facilmente simulado a partir de um valor directo,
constante ou não, mas o fluxo gasoso e o fluxo por desgaseificação têm de ser
modelados, o que se pode tornar bastante complexo. Algumas formas de modelação
destes fluxos serão descritas no decorrer deste trabalho, uma vez que são essenciais para
poder prever o comportamento de um sistema de vácuo. Além disso será introduzido
um novo modelo de cálculo para o fluxo gasoso , que, embora seja mais complexo
que os modelos clássicos, espera-se que produza melhores resultados, e que não tenha
limitações na sua aplicação.
3.1. Fluxo gasoso
Em sistemas de vácuo, o bombeamento do gás do interior de uma câmara é feito
através de bombas de vácuo, ligadas à câmara geralmente por um tubo/orifício com uma
certa condutância. A bomba expele o gás que está no seu interior para a atmosfera,
fazendo com que a pressão num dos lados do tubo diminua, e criando assim um
gradiente de pressão até ao outro lado, ligado à câmara. Como os gases se deslocam da
pressão alta para a pressão baixa, este gradiente cria um fluxo de gás ao longo do tubo,
do interior da câmara para o interior da bomba, diminuindo assim a pressão na câmara.
O conhecimento das leis que determinam o comportamento deste fluxo é vital para
poder projectar um sistema de vácuo e conhecer o seu desempenho, pois não é possível
prever a evolução da pressão no interior do sistema sem saber a quantidade de gás que
entra/sai, por unidade de tempo.
À medida que a pressão do sistema diminui, a natureza do fluxo ao longo do tubo
vai-se alterando. Ao bombear-se o gás a partir da pressão atmosférica, o fluxo irá passar
pelos regimes contínuo, intermédio e molecular.
13
Fluxo contínuo
O fluxo contínuo pode ter duas formas de propagação, laminar e turbulenta. Estes
tipos de fluxo ocorrem quando o percurso livre médio das partículas é bastante inferior
às dimensões do tubo, e o comportamento do gás é governado pelas suas forças de
inércia e viscosidade, assim como as forças de atrito com a superfície do tubo.
Fluxo viscoso ou laminar - Este regime ocorre quando a velocidade do fluxo é
relativamente baixa, e as moléculas do gás deslocam-se todas na mesma direcção, com
as camadas exteriores a deslocarem-se mais lentamente, devido ao atrito com a
superfície do tubo. O gás desloca-se em camadas paralelas, cada uma com velocidade
aproximadamente constante, e a velocidade das partículas é tanto maior quanto mais
afastadas da superfície estiverem.
Figura 3 – Fluxo laminar [5]
Fluxo turbulento - Em regime turbulento, o gás desloca-se caoticamente, criando
remoinhos e vortexs que dificultam a sua propagação. Este tipo de fluxo ocorre quando
a velocidade e a pressão do gás são altas. Quando a velocidade do gás aumenta, as
forças de atrito das camadas exteriores aumentam também, causando maior
desaceleração nesta zona, que leva à deflexão das camadas interiores, criando um fluxo
mais caótico.
Figura 4 – Fluxo turbulento [5]
14
Para saber o tipo de fluxo em regime contínuo, usa-se o número de Reynolds, que
representa o quociente entre as forças de inércia e as forças de viscosidade do gás ao
percorrer o tubo. Para um fluxo Q, o número de Reynolds tem o valor de [2]:
(3)
Em que é o fluxo de gás, M a massa molar do gás, a constante dos gases, a
temperatura, o perimetro da secção, e a viscosidade do gás.
Definindo , em que corresponde ao Shape Factor da secção do
tubo, podemos dizer que o fluxo se encontra em regime de escoamento laminar quando
, e em regime turbulento quando , estando em regime de
trânsição entre estes dois valores[2].
Fluxo molecular
Com a diminuição da pressão e da velocidade do gás, o regime do fluxo altera-se de
contínuo para molecular. O livre percurso médio das partículas começa a aumentar, e as
forças de viscosidade do gás tornam-se gradualmente menos relevantes. Em regime
contínuo, as partículas colidem maioritariamente entre si, devido ao baixo percurso livre
médio, mas, com a diminuição da pressão e da velocidade, este número de colisões
começa a diminuir, e as colisões das partículas com as paredes do tubo deixam de ser
desprezáveis. Em regime intermédio, os dois tipos de colisões ocorrem com a mesma
frequência, e em regime molecular a quantidade de colisões entre moléculas torna-se
desprezável, e são as colisões com as paredes do tubo que ditam o comportamento do
fluxo.
Figura 5 – Colisões com as paredes do tubo em regime molecular [5]
15
Uma forma de determinar a transição do fluxo contínuo para molecular é usando o
número de Knudsen, definido por:
(4)
Este expressão corresponde ao quociente entre o livre percurso médio das partículas do
gás e o diâmetro do tubo. Assim, quanto maior for valor de Kn, maior será o número de
colisões das moléculas com as paredes do tubo (maior corresponde a menos colisões
com moléculas, e menor D corresponde a uma distância menor entre colisões com o
tubo).
O regime diz-se contínuo enquanto , e torna-se molecular a partir de
. Entre estes dois valores, o fluxo encontra-se no regime intermédio.
O livre percurso médio é dado por:
(5)
Em que é a constante de Boltzmann, T a temperatura, P a pressão e d o diâmetro
médio das partículas do gás. Para o ar a 20º, o percurso livre médio é aproximadamente:
Substituindo o valor do percurso livre médio na equação (4), podemos usar o valor
da pressão média no tubo para determinar a natureza do regime. Considerando o gás
como ar, a 20ºC, chega-se às seguintes relações[4]:
Fluxo contínuo - mbar cm
Fluxo molecular - mbar cm
Fluxo intermédio - mbar cm
16
Estas condições são aplicáveis a um tubo cilíndrico, uma vez que D representa o
diâmetro do tubo. No entanto, podem ser usadas como aproximações para outras
geometrias, considerando D a menor dimensão linear da secção do tubo, ou usando o
diâmetro hidráulico (13).
3.2. Modelo clássico de condutância
Figura 6 – Reservatório e tubo através do qual se faz o bombeamento[1]
Os tubos num sistema de vácuo actuam como as resistências num sistema eléctrico,
isto é, dificultam a passagem do gás/corrente, diminuindo a velocidade de
bombeamento do sistema. Conhecendo a condutância do tubo (inverso da impedância) e
a diferença de pressão aos terminais do tubo, é possível calcular o valor do fluxo, a
partir da expressão:
(6)
em que C é a condutância do tubo. No modelo clássico, esta condutância calcula-se com
base no conhecimento do regime de escoamento do gás. Neste capítulo serão
apresentadas as expressões clássicas para o cálculo da condutância em regime viscoso,
molecular e intermédio, para o ar a 20ºC.
Condutância em regime viscoso
A condutância em regime contínuo, num tubo cilíndrico, é dada pela expressão:
(7)
17
Em que e L correspondem ao diâmetro e ao comprimento do tubo, em cm, e
corresponde à pressão média do tubo, em mbar.
Para um tubo de secção rectangular, a condutância viscosa é dada por:
(8)
Em que e correspondem ao comprimento de cada lado da secção, em cm. A
variável Y depende da relação , da seguinte forma:
Figura 7 – Valor de Y em função da razão b/a (b<a) [4]
Condutância em regime molecular
A condutância em regime molecular, para o ar a 20ºC, num tubo cilíndrico, é dada
pela expressão:
(9)
Para um tubo de secção rectangular, a condutância molecular será dada por
18
(10)
Em que K depende também da razão , de acordo com o seguinte gráfico:
Figura 8 – Valor de K em função da razão b/a (b<a) [4]
Condutância em regime intermédio
No regime intermédio, o valor da condutância pode-se obter através da soma dos
valores da condutância nos regimes contínuo e molecular. Assim, para um tubo
cilíndrico:
E para um tubo de secção rectangular:
19
Figura 9 – Condutância de tubos de diferentes diâmetros em função da pressão [1]
Na figura 9 pode-se ver a transição de regimes, traduzida na evolução da
condutância de um valor constante, a pressões baixas, correspondentes ao regime
molecular, para valores dependentes da pressão, na zona de regime viscoso. Como as
expressões usadas para calcular o valor da condutância dependem directamente do
regime do fluxo, o seu uso pode comprometer a continuidade dos resultados. Para além
disto, este modelo clássico de condutância não está correctamente adaptado ao regime
turbulento, e produz resultados menos reais neste regime.
Por estes motivos, decidiu-se abandonar o modelo clássico de cálculo de fluxos,
baseado nas equações de condutância, e decidiu-se implementar o modelo proposto por
Livesey[2] para o calculo de fluxo.
3.3. Introdução ao novo modelo
O fluxo através de um tubo ou orifício é normalmente calculado usando o valor da
sua condutância, a partir de expressões adequadas ao regime de escoamento.
Quando a velocidade do fluxo é muito alta, estas expressões são imprecisas, pois o
fluxo pode alcançar um estado de velocidade máxima – fluxo choked, em que alcança a
velocidade do som. Uma forma de solucionar este problema é resolver as equações
termodinâmicas de fluxo adiabático. Esta solução traz consigo alguns problemas, pois a
resolução destas equações torna-se bastante difícil para pressões e fluxos baixos, devido
20
ao elevado grau de convergência necessário para chegar a um bom resultado nestas
circunstâncias.
O algoritmo aqui usado foi proposto e publicado por Livesey[2], e permite o
cálculo do fluxo entre dois pontos a diferentes pressões, separados por um tubo, e é
valido em todos os regimes de escoamento. A solução é feita através da solução das
equações termodinâmicas para pressão e fluxos maiores, e do uso de simplificações
destas equações para pressões e velocidades mais baixas, de modo a não se terem os
problemas de convergência já referidos. O fluxo total será dado pela expressão:
(11)
Onde Qv é o fluxo contínuo, e Qm o fluxo molecular.
A função é a uma função do número de Knudsen. Como o valor de vai
ser obtido directamente a partir da condutância molecular do tubo, esta função é
necessária para ponderar o seu valor adequadamente ao regime do fluxo. Como o valor
do número de Knudsen quantifica a transição do regime contínuo para molecular, a
função depende do seu valor, e é definida por:
(12)
Sendo L o comprimento do tubo, e:
A que a variável corresponde ao diâmetro hidráulico do tubo. Este termo é útil
quando se trabalha com tubos de secção não circular, pois permite encontrar um
diâmetro “equivalente”, e assim usar as expressões habituais para tubos cilíndricos.
Pode ser calculado pela expressão:
(13)
21
O número de Knudsen aqui usado tem o valor de:
(14)
O calculo dos fluxos e será descrito em pormenor nos capítulos III e IV. O
método de cálculo tem alguma complexidade, e considera-se que a descrição presente
no artigo publicado por Livesey[2] esta bastante condensada, e pode ser até de difícil
interpretação. Por esta razão, o modelo apresentado neste trabalho apresenta uma
descrição mais detalhada de alguns dos passos necessários para o cálculo do fluxo, em
particular do fluxo contínuo .
3.4. Evolução da pressão no tempo
Considere-se o seguinte sistema:
Figura 10 – Câmara com ligação a bomba de vácuo
Este sistema consiste numa câmara de volume , à pressão , ligada por um tubo
a um volume mais pequeno, , que por sua vez tem uma saída de gás com velocidade
de bombeamento .
Pode-se considerar este sistema como o equivalente a uma câmara ligada a uma
bomba de vácuo, de velocidade de bombeamento S, por um tubo de condutância C,
sendo que o volume representa o interior da bomba, onde se dão os processos físicos
que permitem bombear o ar da câmara. representa o fluxo por desgasificação das
paredes da câmara 1.
Para calcular a variação das pressões e é necessário calcular primeiro o valor
do fluxo . Como o fluxo entre estes dois volumes faz variar o valor das pressões, o
22
valor do fluxo altera-se com elas, num processo contínuo. Tendo em conta que pelo
modelo usado nesta plataforma[2] não é possível chegar a uma expressão analítica
directa para o valor do fluxo, não vai ser também possível encontrar uma expressão
analítica para a evolução da pressão no tempo, uma vez que o fluxo tem de ser
recalculado sempre que as pressões se alteram. Para resolver este problema, é necessário
simular a evolução temporal do sistema num processo iterativo infinitesimal, onde em
cada passo o sistema avança no tempo um intervalo infinitesimal , e durante o qual se
pode considerar o fluxo constante. Para um intervalo , a variação das pressões e
é dada por:
Para o volume 1:
Para o volume 2:
O fluxo de saída devido à velocidade de bombeamento S é dado por:
Consequentemente, tem-se:
Estas equações podem ser simplificadas para uma equação mais geral, que tem a forma:
Sendo o somatório de todas as parcelas de fluxo a entrar ou sair do volume .
Após o cálculo de e , pode-se “avançar” com o sistema no tempo.
23
3.5. Comparação dos modelos de cálculo
Relativamente ao método clássico aqui apresentado, o modelo proposto por
Livesey, usado no programa, tem a vantagem de se adequar ao regime turbulento, e de
ter em consideração a ocorrência de fluxo choked. Para além destas vantagens directas,
a transição de regimes é feita de forma mais contínua, uma vez que as contribuições do
fluxo contínuo e molecular estão sempre presentes, com a particularidade de o fluxo
molecular evoluir gradualmente, devido à ponderação com a função do número de
Knudsen (12).
De acordo com a publicação de Livesey[6], este modelo produz bons resultados,
coerentes com dados publicados, teóricos e experimentais. Fornece uma solução única
(no sentido de consistir num único modelo) para o cálculo de fluxo em quaisquer
condições, tubos curtos e longos, diferenças de pressão pequenas ou altas, qualquer
regime de escoamento, com suporte para o fluxo choked, o que faz deste modelo uma
solução bastante adequada ao uso numa plataforma computacional.
Podemos ver no gráfico seguinte a diferença dos valores obtidos pelos dois
modelos para a condutância de um tubo de 20 cm de comprimento e 2 cm de diâmetro,
em função da pressão média no tubo:
1 10 100 1000
100
1000
10000
100000
Condutâ
nci
a (
l/s )
Pressão (mbar)
Modelo Classico
Modelo Livesey
Figura 11 – Comparação de condutâncias em regime contínuo
24
A diferença dos modelos nas pressões muito altas, onde ocorre o regime turbulento,
é claramente visível por este gráfico. O modelo clássico não tem em consideração as
turbulências do fluxo ao atingir certas pressões/velocidades, turbulências estas que
interferem com o “livre” escoamento do gás. Por este motivo, o modelo clássico
mantém a variação linear da condutância com a pressão média, enquanto que no modelo
de Livesey a condutância cresce mais lentamente quando a pressão se aproxima da
pressão atmosférica (e o regime se torna turbulento), como se prevê teoricamente.
Outra diferença importante entre os modelos é a do cálculo do fluxo para diferenças
de pressão altas nos terminais de um tubo. A partir de certo valor da razão entre estas
pressões, o fluxo atinge a sua velocidade máxima, e entra em regime choked. Este tipo
de situações ocorre em vários processos/experiências que envolvem sistemas de vácuo,
e é portanto importante mostrar como o valor do fluxo se altera nesta situação:
1 10
0,01
0,1
1
10
100
1000
Q (
mb
ar
l /s
)
Pressure ratio
Modelo Classico
Modelo Livesey
Figura 12 – Comparação do fluxo para diferentes valores de K (Pu /Pd)
Podemos ver neste gráfico a evolução do fluxo ao longo de um tubo de 50 cm de
comprimento e 2 cm de diâmetro, em função da razão K entre as pressões aos terminais
do tubo, Pu e Pd. A pressão mais baixa, Pd, é mantida a 0.1 mbar, e aumentou-se
gradualmente o valor da pressão Pu. Neste ensaio, o fluxo entrou em modo choked
quando o valor de K é sensivelmente igual a 7.5. A partir deste valor, podemos observar
pelo gráfico que os modelos deixam de produzir o mesmo valor para o fluxo Q. Como o
modelo de Livesey tem em consideração a limitação da velocidade do fluxo, os valores
25
nesta zona são mais pequenos. A consideração deste limite é tanto mais importante
quanto maior for o valor de K, pois será também maior a diferença entre os valores dos
dois modelos.
A grande desvantagem do modelo de Livesey é a sua complexidade, em particular
o tempo de cálculo necessário para obter resultados coerentes. Isto acontece porque o
processo de cálculo do fluxo implica uma série de processos iterativos, e da resolução
de algumas equações sem solução analítica.
Para o uso em cálculos onde a precisão dos resultados não é muito importante, ou
para simples resolução de problemas didácticos, o modelo clássico é mais
recomendável, uma vez que é bastante simples de implementar, e produz bons
resultados na maioria dos casos. No entanto, esta plataforma computacional deve estar
preparada para qualquer situação, pelo que a escolha do modelo proposto por Livesey é
obviamente a melhor escolha, relativamente ao modelo clássico.
Existem ainda uma série de outros modelos baseados em expressões empíricas e
soluções numéricas, e que têm grande utilidade em certos casos práticos, mas cuja
aplicação está geralmente restrita a circunstância particulares (como tubos longos,
orifícios, diferenças de pressão muito altas, etc.), ou têm alguma limitação teórica. O
modelo proposto por Livesey e adoptado neste plataforma não tem estas limitações
práticas dos outros modelos, e é aplicável a todos os tipos de fluxos, assim como
qualquer comprimento de tubo. A publicação do modelo[6] está acompanhada por
algumas comparações com resultados experimentais e com os resultados produzidos por
outros modelos. Estas comparações indicam que o modelo produz resultados correctos,
em concordância com os modelos já existentes e com resultados experimentais
publicados.
Figura 13 – Desvio dos modelos de Livesey (Model) e de Knudsen em relação à solução de Sharipov e Seleznev da equação de Bolztmann para um tubo longo
26
Figura 14 – Comparação dos resultados do modelo de Livesey (linhas sólidas) com resultados experimentais para o fluxo de ar por um orifício circular
27
II. Plataforma computacional
1. Conteúdo
A plataforma computacional é constituída por uma série de sistemas de vácuo, onde
será possível para cada um simular a sua evolução no tempo. Estes sistemas descrevem
topologias tipicamente usadas em projectos de sistemas de vácuo, e estas devem ser
simples o suficiente para poderem ser usadas como material didáctico, mas também
complexas o suficiente para que possam ter utilidade prática em projectos de
engenharia.
Serão implementados os seguintes sistemas de vácuo:
Sistema de vácuo primário com bombeamento por bomba rotativa
Sistema de vácuo primário com bombeamento por bomba rotativa + bomba roots
Sistema de alto-vácuo com bombeamento por bomba rotativa + bomba
Turbodrag
Sistema de alto-vácuo com bombeamento por bomba rotativa + bomba difusora,
com bypass
Todos os sistemas têm uma câmara de bombeamento com medidor e pelo menos
uma válvula de entrada de ar na câmara.
1.1. Sistemas de vácuo primário
Figura 15 – a) Sistema Primário 1 ; b) Sistema Primário 2 [1]
28
Sistema primário 1
Este sistema tem uma topologia simples, e corresponde a uma bomba rotativa ligada
a uma câmara de vácuo pelo tubo C1 e válvula V1. Tem ainda uma válvula de entrada
de ar, V2, e um medidor de pressão, M1. O sistema tem as seguintes características:
Tabela 1 – Características do Sistema Primário 1
* - Predefinição
Sistema primário 2
Este sistema é ligeiramente mais complexo que o sistema primário 1. Possui duas
bombas de vácuo, rotativa e roots, ligadas em série através do tubo C1. A bomba roots
está ligada à câmara de vácuo, pelo tubo C2 e válvula V1, a câmara tem um medidor de
pressão M1, duas válvulas de entrada de ar, V2 e V3, sendo a válvula V3 de fluxo
controlado. O sistema tem as seguintes características:
29
Tabela 2 – Características do Sistema Primário 2
Figura 16 – a) Sistema de Alto-Vácuo 1; b) Sistema de Alto-Vácuo 2 [1]
30
1.2. Sistemas de alto-vácuo
Sistema de alto-vácuo 1
Consiste num sistema de alto-vácuo relativamente simples. Uma bomba rotativa
está ligada a uma bomba Turbodrag, através do tubo C1 e válvula V1. A bomba
Turbodrag está ligada à câmara de vácuo também por um tubo e válvula, C2, e V2. A
válvula V3 serve para entrada de ar, e os sensores M1 e M2 medem a pressão à entrada
da bomba rotativa e no interior da câmara, respectivamente. O sistema tem as seguintes
características:
Tabela 3 – Características do Sistema de Alto-Vácuo 1
31
Sistema de alto-vácuo 2
Consiste num sistema semelhante ao anterior, mas com uma bomba de difusão, em
vez da Turbodrag. Como a bomba de difusão funciona com aquecimento de óleo, não
pode ser exposta a pressões altas com o óleo aquecido, pelo que é necessário um bypass
à bomba, feito pela válvula e tubo V3 e C3, respectivamente. Por este mesmo motivo, o
programa deverá informar o utilizador quando a bomba de difusão estiver exposta a
uma pressão demasiado alta (maior que 0.1 mbar habitualmente). O sistema tem as
seguintes características:
Tabela 4 - Características do Sistema de Alto-Vácuo 2
32
Tabela 5 - Características do Sistema de Alto-Vácuo 2
2. Linguagem de programação Java
O Java é uma linguagem de programação em classes, com uma sintaxe similar à do
C++. Permite a criação de GUI (Graphic User Interface), para o desenvolvimento de
programas que requeiram uma interacção com o utilizador. Os seus programas podem
ainda ser executados através de um web browser, conhecidos por “applets”.
Uma das principais e mais úteis características do Java é a sua portabilidade. Isto
significa que um programa escrito em linguagem Java deverá correr de forma igual em
qualquer sistema operativo/hardware que suporte esta linguagem. Isto é alcançado
compilando o código inicial para um código intermédio, denominado Java Bytecode em
vez de compilar directamente para a “linguagem da máquina” (Machine Code). As
instruções presentes no Java Bytecode são análogas às de Machine Code, mas são
desenhadas para serem lidas por uma máquina virtual (Java VM), escrita
especificamente para o hardware do computador em questão.
Figura 17 – Processos até à execução de um programa em java
Isto permite que o mesmo programa, escrito com o mesmo código, possa correr em
qualquer PC, desde que este tenha uma máquina virtual específica para as suas
características (sistema operativo e hardware), pois a máquina virtual de Java será capaz
de ler o Java Bytecode, e convertê-lo para o Machine Code do PC onde está a correr.
33
Podemos ver no esquema seguinte o caminho de um ficheiro de código, escrito num
ficheiro de extensão .java. Este é compilado para um ficheiro .class, que depois será
lido pela máquina virtual (Java VM) de cada computador diferente.
Figura 18 – Esquema da portabilidade dos programas escritos em Java
A dupla conversão de código implica que o programa corra mais lentamente que o
mesmo programa escrito noutra linguagem (que não tenha esta característica). No
entanto, a tecnologia Java tem evoluído, e já disponibiliza compiladores “Just-in-Time”,
que compilam o Java Bytecode para Machine Code durante a execução do programa.
Ao longo dos anos, esta adição à VM foi optimizada ao ponto da sua performance
rivalizar com a da linguagem C.
3. Desenvolvimento
O desenvolvimento da plataforma começou com a escrita em linguagem de
programação do modelo físico proposto para o cálculo de fluxo entre dois pontos,
separados por uma condutância, à qual se seguiram alguns testes de avaliação, para
determinar se o algoritmo foi escrito correctamente. O modelo físico para o calculo de
fluxo encontra-se descrito no capitulo III.
Após esta fase inicial, avaliou-se a melhor forma de adaptar este cálculo de fluxo à
simulação da evolução de pressão no tempo num sistema de vácuo completo. Foi
estudada a forma como varia a pressão em função do valor do fluxo, como se controla o
avanço do sistema no tempo, ou como se simula a velocidade de bombeamento das
34
bombas de vácuo, entre outros pormenores. Estas implementações estão descritas no
capitulo IV.
Após a conclusão da fase do estudo da implementação do algoritmo, procedeu-se ao
desenvolvimento da interface da plataforma, com a implementação das topologias dos
sistemas de vácuo primário e alto vácuo propostos. Os componentes essências da
interface do programa estão descritos no capitulo VI.
4. Aplicações
Esta plataforma de cálculo será bastante útil para uma vasta gama de aplicações,
pois qualquer projecto em que um sistema de vácuo esteja envolvido poderá beneficiar
do seu uso.
A plataforma poderá ser útil para projectar e/ou dimensionar os diversos
componentes que compõem um sistema - os tubos que fazem as ligações, o modelo de
bomba a usar (tipo, velocidade, etc.), quanto tempo poderá o sistema demorar a atingir a
pressão final, o valor desta pressão final, entre muitas outras hipóteses.
Outra vantagem desta plataforma é a sua utilidade didáctica. Por ser possível aceder
pela internet e ter uma interface intuitiva, será possível aprender diversos conceitos
sobre vácuo, fluxos, condutância, etc., de uma forma simples e experimental.
Os alunos poderão alterar diversos componentes do sistema, ligar/desligar válvulas
e bombas, e saber assim quais as consequências das suas acções/alterações. A prática
neste tipo de operações deverá evitar erros posteriores em laboratório, poupando tempo
e evitando que material se danifique.
35
III. Fundamentos teóricos
A equação geral de fluxo (11) apresentada no capítulo I.3.3 pressupõe o cálculo do
fluxo contínuo e do fluxo molecular, Qv e Qm. Neste capítulo será descrito o cálculo
destes valores, e de outras grandezas necessárias, como os Mach Numbers do gás à
entrada e saída de um tubo de ligação, ou o darcy friction factor, um factor que
quantifica a relevância das perdas de energia do fluxo devido ao atrito do gás com as
paredes do tubo e devido às turbulências internas criadas pelo próprio gás. Além dos
valores do fluxo contínuo e molecular, descreve-se ainda um modelo de cálculo para o
fluxo de desgaseificação, causado pela desorção de moléculas de gás das superfícies
internas do sistema.
1. Fluxo contínuo
Considere-se o seguinte sistema:
Figura 19 - Parâmetros do fluxo adiabático
O gás irá fluir do volume a pressão Pu (upstream pressure) para o volume a
pressão Pd (dowstream pressure), através do tubo que faz a ligação. O termo Ma
corresponde ao Mach Number (fracção da velocidade do som) do gás, T0 a temperatura
do gás parado (a temperatura ao longo do tubo não é constante) e Q o valor do fluxo
induzido pela diferença de pressões.
Considera-se inicialmente o gás na câmara, à pressão Pu. Ao deslocar-se pelo tubo,
o gás aumenta de velocidade, atingindo a velocidade máxima à saída deste. Os valores
Man, Pn, Tn, e Max, Px, e Tx correspondem ao Mach number, pressão e temperatura à
entrada e saída do tubo, respectivamente.
36
O cálculo do fluxo contínuo é baseado nas equações de fluxo adiabático, em
particular uma equação que nos dá a relação dos Mach numbers de entrada e saída do
tubo com a sua geometria.
(15)
Em que é a razão dos calores específicos, e o head loss, definido por:
(16)
Este termo corresponde à contribuição da geometria do tubo na equação (15). O termo
é um coeficiente de perdas de fluxo devido a obstruções no tubo, tais como cantos
(um ângulo de 90º corresponde a nc=1). A variável corresponde a uma alternativa ao
comprimento do tubo, aqui chamada de “comprimento efectivo”, e é usado no cálculo
do fluxo contínuo como substituto do comprimento real. O termo corresponde ao
Darcy friction factor, cujo cálculo será descrito mais a frente.
O comprimento efectivo é dado por:
Pode-se ainda chegar à seguinte relação, verdadeira quando o fluxo está em regime
viscoso laminar (em oposição a turbulento):
(17)
Aqui, corresponde à conductância viscosa do tubo, calculada à pressão .
corresponde ao termo , sendo a constante dos gases, a área da secção
do tubo, a massa molar do gás e a sua temperatura.
Conhecendo o valor do Mach Number de entrada é possível determinar o valor do
fluxo contínuo, que será dado por:
37
(18)
A partir do valor de (3), é possível calcular o Darcy friction factor, ,
necessário para a determinação do fluxo. Para o escoamento viscoso laminar, com
, tem-se:
(19)
Em regime turbulento, , é calculado pela expressão:
(20)
Em que corresponde à rugosidade das paredes do tubo. Para o regime de transição,
pode ser obtido através de uma interpolação linear entre os valores limite (
), isto é, os valores podem ser obtidos pela equação da recta que
une os dois pontos.
2. Método de cálculo geral do fluxo contínuo
No início dos cálculos, só se tem conhecimento das pressões à entrada e saída do
tubo, Pu e Pd. Para iniciar o cálculo do fluxo contínuo é preciso conhecer primeiro o
regime de escoamento, ou seja, o valor do número de Reynolds. Porém, este valor só
pode ser calculado conhecendo previamente o valor do fluxo, pela equação (3), pelo que
é necessário começar por assumir arbitrariamente um valor do número de Reynolds, e
efectuar os cálculos a partir daí. Usando este valor, calcula-se o fluxo correspondente, e
usa-se depois o valor desse fluxo para voltar a calcular o número de Reynolds.
38
Figura 20 - Ciclo de cálculo do fluxo contínuo
Começa-se por assumir um valor para o número de Reynolds (e consequentemente
um regime de escoamento). O Darcy friction factor é calculado com base neste valor, e
depois usado para a determinação do fluxo. Este valor de fluxo é depois usado para
recalcular o número de Reynolds, dando inicio a uma nova iteração. Repetindo este
processo, os valores irão convergir, ou seja, a cada iteração do ciclo os valores de cada
variável aproximam-se cada vez mais do seu valor “real”. O processo acaba quando se
atingir o grau de convergência desejado, dado por um valor de variação mínima
escolhido para uma das variáveis.
Para o fluxo contínuo normal (não choked), a relação entre os Mach Numbers de
entrada e saída do tubo é a seguinte:
(21)
Esta equação define apenas em função de , o que permite eliminar
da equação (15), e assim resolvê-la para encontrar . Conhecendo o Mach Number
de entrada, o fluxo pode ser calculado pela equação (18).
39
3. Fluxo choked
Dentro do tubo, o gás não pode ultrapassar a velocidade do som. Assim, a
velocidade máxima possível do fluxo é atingida quando . Neste cenário, o
fluxo encontra-se choked, e o seu cálculo terá de ser feito tendo este limite em
consideração.
A velocidade do fluxo irá depender da razão entre as pressões à entrada e saída do
tubo. Existe uma razão mínima entre as pressões a partir da qual o fluxo atingirá a
velocidade do som na saída do tubo. Assim, se a razão entre as pressões for maior que
este valor, o fluxo estará choked. O valor da razão entre pressões mínima é dado por:
(22)
Para calcular este valor, é preciso primeiro calcular o valor correcto de .
Assumindo primeiro um valor para o número de Reynolds (como se explicou
anteriormente), o valor de pode ser encontrado a partir da solução da equação (15),
com . A partir daqui é possível calcular o fluxo, usando a equação (18).
Calcula-se depois o número de Reynolds pela expressão (3), e repete-se o ciclo, até ao
grau de convergência desejado, como já foi descrito.
Usando agora o valor obtido de para calcular o , compara-se este valor com
o de K. Sendo:
Se , então o fluxo encontra-se choked. Neste caso, o fluxo é calculado
usando a expressão:
(23)
40
4. Simplificação para fluxos e pressões baixas
Para pressões e fluxos baixos, a solução das equações termodinâmicas torna-se
muito difícil de alcançar, uma vez que o número de iterações necessárias para alcançar o
mesmo grau de convergência sobe bastante. Para resolver este problema, podem-se usar
algumas aproximações.
Estas aproximações devem ser usadas quando o seguinte critério for verdadeiro:
(24)
Se esta inequação for verdadeira, então podemos determinar o fluxo contínuo
directamente, através das seguintes expressões:
Se , tem-se:
(25)
Em que corresponde à condutância viscosa do tubo, calculada à pressão .
Se , tem-se:
(26)
Para encontrar o número de Reynolds correcto, usa-se o mesmo método usado no cálculo
normal, isto é, assume-se um valor inicial, e repete-se o cálculo até à convergência desejada.
5. Fluxo molecular
Para o cálculo do fluxo molecular usa-se a expressão habitual para o cálculo de
fluxos, com recurso à condutância do tubo, mas com algumas alterações no cálculo
desta. Assim, o fluxo molecular terá o valor de:
41
(27)
Sendo a conductância molecular, cuja cálculo será explicado a seguir, e a
diferença de pressões .
5.1 Condutância molecular
A condutância molecular é calculada a partir da expressão:
(28)
Em que é a conductância molecular duma secção do tubo, e a probabilidade de
trânsmissão do tubo (duct transmission probability), ambas calculadas especificamente
para o tipo de secção (tubo cilíndrico ou tubo rectangular).
A condutância molecular de uma abertura é dada por:
(29)
Em que A é a área da secção do tubo.
Condutância tubo cilíndrico:
Para o tubo cilíndrico, pode ser calculado da seguinte forma:
(30)
Em que R é o raio do tubo, e o comprimento equivalente, obtido através da equação:
42
Condutância tubo rectangular:
Sendo os parâmetros do tubo: , com , e .
Define-se
, e compara-se com o valor de . Se ,
então .
A partir daqui pode-se calcular pelas seguintes expressões:
Finalmente:
(31)
6. Desgaseificação
Os diferentes graus de vácuo dividem-se em:
Vácuo primário – 1013 mbar a 10-3
mbar
Alto vácuo – 10-3
mbar a 10-8
mbar
Ultra-alto vácuo – a partir de 10-8
mbar
Em vácuo primário e alto vácuo, a contribuição da desgaseificação do gás das
paredes do sistema para a pressão final é relativamente desprezável, embora para as
pressão mais baixas em alto vácuo esta já tenha relevância. Se não houvesse fluxo de
desgaseificação, e só fosse necessário bombear o gás que se encontra inicialmente
43
“livre” dentro do sistema, toda a tecnologia de vácuo seria bastante mais simples, e
alcançar pressões na zona de ultra-alto vácuo seria uma tarefa muito menos árdua.
A desgaseificação num sistema de vácuo consiste na libertação de partículas de gás
presentes nas paredes das câmaras/tubos/etc. para o sistema, aumentando a sua pressão.
Figura 21 – Processos de desgaseificação
Existem uma série de processos que contribuem para a libertação de partículas de
gás pela superfície de um material. Estas podem penetrar pelo exterior, por permeação e
difusão, ou podem ser adsorvidas na superfície, criando uma ligação de atracção, e ser
posteriormente desorvidas, quando a partícula adquire energia suficiente para quebrar
essa ligação. O processo que maior efeito tem na pressão dos sistemas de vácuo é o de
desorção/adsorção. Este processo será aqui analisado, de forma a poder acrescentar a
sua contribuição no cálculo da evolução da pressão no sistema [3].
Para uma molécula adsorvida na superfície de um material, a probabilidade de esta
se libertar, por unidade de tempo, é dada por:
(32)
Em que é a frequência de oscilação da molécula, uma espécie de número de
tentativas de “libertação” por segundo, é a energia de activação para desorpção,
a constante de Boltzmann e a temperatura.
44
A quantidade de moléculas desorvidas por unidade de tempo e por unidade de área
pode ser descrita pela equação:
Em que corresponde ao número de moléculas adsorvidas por unidade de área.
Para aumentar a precisão do cálculo, pode-se ter ainda em conta o número de
moléculas novas adsorvidas por unidade de tempo, por unidade de área, que é dado por:
Em que „ ‟ é definido como a taxa de moleculas a atingir a superfície, por unidade
de area, e „ ‟ é a probabilidade de uma molécula que atinge a superfície ser adsorvida,
ou coeficiente de acomodação (sticking coefficient).
A função „ ‟ pode ser calculada da seguinte forma:
Em que „ ‟ é a concentração de moléculas do gás, e a sua velocidade térmica
média. O valor de pode ser calculado por:
Em que „ ‟ é a massa de uma molécula, a constante de Boltzmann e a
temperatura.
A concentração „ ‟ pode ser obtida a partir da lei dos gases, e é dada por:
45
Substituindo o valor de e , tem-se:
(33)
Que também pode ser escrito na forma:
Em que é a massa molar do gás, em kg/mol, e a constante dos gases.
O coeficiente de acomodação „ ‟ será função da temperatura da superfície e da sua
cobertura (quantidade de área sem moléculas adsorvidas), e é dado por:
(34)
em que é a fracção de área ocupada, e corresponde ao valor de „ ‟ para , à
temperatura . O valor da fracção de área ocupada é dado por:
Sendo o número máximo de moléculas possível de adsorver.
A função pode ser simplificada para dar a fracção de área disponível, pelo que
será dada por:
Uma vez que corresponde à fracção de área ocupada.
46
Número de moléculas numa monocamada
Uma monocamada consiste numa camada superficial com espessura de 1 átomo,
constituída por átomos adsorvidos na superfície dos materiais do sistema de vácuo.
Considerando uma molécula de diâmetro „ ‟, e assumindo que as moléculas formam
uma grelha quadriculada, o número de moléculas na monocamada (completa) por
unidade de área é dado por:
Para o caso de o gás ser ar, podemos considerar o diâmetro médio das moléculas
como aproximadamente 0.3 nm. O número de moléculas por unidade de área neste caso
será de aproximadamente
6.1 Evolução da desgaseificação no tempo
Uma vez que o sistema avança no tempo diferencialmente, é possível calcular o
número de moléculas a ser desorvidas e adsorvidas independentemente para cada
instante. Assumindo que inicialmente toda a superfície está coberta por moléculas do
gás adsorvidas (monocamada completa), para o primeiro instante:
Com
Para o próximo cálculo, terá o valor de , e o número novo de
moléculas adsorvidas será actualizado pelo valor , pelo que .
O número total de moles retiradas/acrescentadas ao gás da câmara por
adsorção/desorção, no intervalo de tempo , é dado por:
47
sendo a area da superfície, e o número de Avogadro. A taxa de transferência de
molés de gás para o sistema é portanto dada por:
6.2 Fluxo de desgaseificação
Usando a equação dos gases, é possível saber o valor do fluxo de desgaseificação:
(35)
O valor deste fluxo conclui as grandezas necessárias para o calculo da evolução da
pressão, e – fluxo gasoso, fluxo de desgaseificação, e fluxo de fugas, sendo
que o fluxo de fugas é característico de cada sistema, e o seu valor tem de ser indicado
directamente pelo operador. Pode-se agora proceder à implementação dos conceitos
descritos neste capítulo a um sistema de vácuo completo, e avaliar os algoritmos
(processos iterativos, resolução de funções sem solução analítica, etc.) necessários para
o cálculo do fluxo gasoso, com base no modelo de Livesey.
48
IV. Implementação dos fundamentos teóricos
1. Cálculo do fluxo contínuo
Tal como já foi referido, o cálculo do fluxo contínuo entre dois pontos a pressões
diferentes, usando o método proposto por Livesey, não tem uma solução analítica.
Assim, é necessário um processo iterativo cíclico, onde as mesmas variáveis são
recalculadas consecutivamente, para chegar a uma convergência nos resultados. O
algoritmo utilizado consiste em:
Figura 22 – Diagrama de fluxos para o cálculo do fluxo contínuo
49
Começando por assumir um número de Reynolds para os cálculos, a primeira tarefa
será determinar se o fluxo se encontra choked. Se , o fluxo alcançou a
velocidade do som, e tem de ser calculado por outra expressão. O seu valor será obtido a
partir do valor de , como indica a equação (23).
No caso contrário, o algoritmo segue para o cálculo do fluxo contínuo “normal”.
Começando por usar o valor do número de Reynolds inicial (arbitrário), calcula-se o
Darcy friction factor e o Mach Number de entrada. A partir deste valor é possível
calcular o fluxo, de acordo com a equação (18).
Para confirmar que o fluxo calculado está em concordância com o número de
Reynolds utilizado no início do ciclo para o calculo, o seu valor é recalculado, pela
equação (3). Este novo valor é depois comparado com o número de Reynolds anterior.
Se o critério de convergência for validado, retorna-se o valor do fluxo contínuo
calculado. Caso contrário, recomeça-se o cálculo (com o novo número de Reynolds). O
valor deste e de outros critérios de convergência está definido no capítulo IV.4
2. Cálculo de Kc
No diagrama anterior, o passo inicial corresponde ao cálculo do valor de . Para
encontrar este valor, é necessário calcular o valor do fluxo assumindo que este alcançou
a sua velocidade máxima, ou seja, que a velocidade à saída do tubo é igual à velocidade
do som ( ).
Assim, usa-se um processo iterativo cíclico semelhante ao anterior, com alguma
simplificação nas contas, e usa-se depois o valor do fluxo máximo calculado para
retornar o valor de .
Como se pode ver na figura 23, o algoritmo tem o mesmo ciclo do cálculo do fluxo
contínuo. Começa-se por assumir um valor para o número de Reynolds, e repetem-se os
cálculos do fluxo até se obter a convergência desejada. A diferença para este cálculo
está do Mach Number de entrada, que é feito a partir da condição .
50
Figura 23 – Diagrama de fluxos para o cálculo de Kc
Simplificação para fluxos e pressões baixas
No caso da condição da equação (24) ser verdadeira, o algoritmo da figura 22 não é
utilizado, e o fluxo pode ser calculado directamente. No entanto, como este cálculo
depende do regime de escoamento, é necessário confirmar o valor do fluxo calculado
com o valor do número de Reynolds assumido, da mesma forma descrita anteriormente.
51
3. Cálculo do Mach Number de entrada
Para calcular o Mach number de entrada no tubo é necessário resolver a equação
(15). Como esta equação não tem solução analítica, não é possível determinar
directamente o valor de , mesmo conhecendo todas as outras variáveis. Para isso é
necessário implementar um algoritmo de procura de raízes, tipicamente através de
processos iterativos.
O primeiro passo para qualquer um destes algoritmos é transformar a função na
forma , e procurar depois a raiz da função, isto é, o valor de para o qual
é zero.
Assim, para a equação (15) tem-se:
Existem vários métodos para a procura da raiz de uma função, entre eles o método
da bissecção, o método de Newton, ou o método da falsa posição, entre outros. O
método aqui usado será o da falsa posição, pela sua rapidez e robustez de execução, pois
combina as vantagens o método da bissecção e o método da secante (existem outros
algoritmos mais eficazes que este, que tiram partido das vantagens de vários métodos ao
mesmo tempo, mas cuja implementação é de maior complexidade).
3.1. Método da falsa posição
Para começar são necessários dois limites laterais, isto é, dois valores limites de ,
e , tais que . Isto assegura que a função tem um zero no
intervalo . Para o nosso caso, estes valores serão os limites possíveis de , ou
seja, 0 e 1.
Partindo destes pontos, o método irá iterativamente cortar o intervalo, para ,
sempre contendo entre estes pontos a raiz da função. O passo para cada iteração consiste
em:
52
Começa-se por construir a recta que une a . Definindo o ponto como
a raiz desta recta.
Para qualquer função , e intervalo , terá o valor de:
Figura 24 – Exemplo: 1ª iteração
Se tiver o mesmo sinal que , como no exemplo da figura 24, ou seja, se
a raiz estiver entre e , o intervalo da próxima iteração terá como valores
e . Caso contrário, tem-se e .
Na próxima iteração do exemplo teremos:
Figura 25 - Exemplo: 2ª iteração
53
Nesta 2ª iteração, os limites iniciais são , sendo que corresponde a , e
a . A nova recta que une a corta a abcissa em . Como tem o
mesmo sinal que , os limites para a 3a iteração terão os valores de
e .
O processo continua indefinidamente, até que se decida que o intervalo é
pequeno o suficiente, ou que está perto do zero o suficiente, ou simplesmente pre-
definindo um número fixo de iterações.
4. Critérios de convergência
Ao longo do cálculo do fluxo contínuo existem ciclos de convergência, onde é
necessário impor um limite ao cálculo, através de um critério. Para cada uma das
variáveis a convergir, os critérios são os seguintes:
4.1. Número de Reynolds
Três destes ciclos correspondem ao cálculo do número de Reynolds, e estão
presentes no cálculo do fluxo contínuo “normal”, fluxo contínuo choked, e na
aproximação para pressões e fluxos baixos.
Usa-se o seguinte critério de convergência para a determinação dos números de
Reynolds nestes ciclos:
Ou seja, o ciclo chega ao fim quando a variação do número de Reynolds for inferior
a uma parte em cem mil, ou quando se repetirem 20 ciclos, com um mínimo de 2.
4.2. Mach Number
Outro processo convergente presente no algoritmo corresponde ao método da falsa
posição, usado para calcular o Mach Number de entrada. Independentemente da
54
equação usada (para o fluxo “normal” ou choked), o critério de convergência usado é o
mesmo.
Sendo a raiz que se procura, e os limites à esquerda e direita da
raiz, respectivamente, o critério de convergência é alcançado quando as duas condições
seguintes forem verdade:
5. Optimização do tempo de cálculo
Para diminuir o tempo de cálculo sem comprometer a precisão dos resultados,
foram feitos os seguintes melhoramentos ao algoritmo:
5.1. Número de Reynolds
Ao se escolher um número inicial arbitrário constante, para todos os cálculos deste
ao longo do bombeamento, o número de ciclos necessários irá eventualmente começar a
aumentar, uma vez que o número de Reynolds inicial é constante, enquanto o número de
Reynolds real vai decrescendo à medida que o sistema é bombeado, distanciando-se
gradualmente do valor inicial.
Para resolver este problema, o algoritmo irá usar como valor inicial arbitrário o
último número de Reynolds calculado (para o tubo em questão), o que diminui
consideravelmente o número de ciclos necessários.
5.2. Mach Numbers
O número de iterações necessárias para encontrar a raiz de uma função usando o
método da falsa posição está directamente relacionado com o valor dos limites à
esquerda e à direita da raiz. No caso do Mach Number, os limites teóricos seriam 0 e 1
(o Mach Number representa a velocidade do gás, relativamente à velocidade do som.
Como o gás não pode passar da velocidade do som, o limite será 1).
55
Para aproximar os limites iniciais do valor da raiz, os limites máximos 0 e 1 serão
substituídos por valores próximos da última raiz calculada. Este valor corresponderá a
1% da distância da raiz ao limite máximo.
Assim, o valor inicial do limite lateral esquerdo será:
E o limite lateral direito:
Antes de se iniciar o cálculo do Mach Number com estes limites, é necessário
valida-los, ou seja, certificar-se que a raiz se encontra se encontra entre e . Para
isso, basta que:
No caso da raiz ficar fora dos limites calculados, restauram-se os limites para os
valores máximos, 0 e 1.
6. Taxa de desgaseificação
O método descrito no capítulo III.5 para calcular a taxa de desgaseificação e a sua
contribuição para a pressão na câmara, embora teoricamente correcto, não será usado
nos cálculos do programa. Isto acontece porque é bastante difícil simular correctamente
uma série de factores necessário para o seu cálculo, como o preenchimento das
monocamadas (existe mais que uma monocama? quantas estão preenchidas? etc.), ou
como a dificuldade em encontrar valores para as energias de desorção e coeficiente de
acomodação correctos - as superfície das câmaras de vácuo não correspondem
exactamente aos materiais testados para a obtenção destes valores, são superfícies
“técnicas”, impossíveis de reproduzir.
Por este motivo, a taxa de desgaseificação será obtida a partir de valores
experimentais directos, a indicar pelo utilizador. A sua evolução será simulada a partir
56
do conjunto de pontos recebidos, e terá um decréscimo exponencial entre cada ponto,
dado pelas equações descritas em seguida:
Considere-se a seguinte recta
Figura 26 – Decréscimo exponencial
A recta presente neste gráfico consiste num decréscimo exponencial de y em função
de x, entre (x0,y0) e (x1,y1). A sua equação é dada por:
Com
, e
O valor da taxa com é então dado por:
(36)
Para , a taxa será dada pela recta obtida entre o conjunto de pontos seguintes,
(x1,y1) e (x2,y2).
57
Considere-se o seguinte conjunto de pontos arbitrários, usados apenas para
exemplificação da taxa de desgaseificação que se obtém a partir das equações descritas:
tempo (h) Taxa (mbar l /cm2 s)
0.01 2.50E-07
1 2.50E-09
10 2.50E-11
100 2.50E-12
Tabela 6 – Conjunto de pontos para taxa de desgaseificação
A taxa de desgaseificação correspondente terá o seguinte aspecto:
Figura 27 – Taxa de desgaseificação para o conjunto de 4 pontos da tabela 1
Desenvolveu-se ainda outra evolução para a taxa de desgaseificação, com base na
equação:
58
O cálculo de e é feito de forma análoga à descrita anteriormente, e o resultado é
uma transição mais suave entre os vários segmentos da função. A taxa de
desgaseificação calculada a partir dos pontos da tabela 5 tem o seguinte aspecto:
Figura 28 – Taxa de desgaseificação com transição “suave”
7. Bombas de vácuo e evolução da sua velocidade de bombeamento
O algoritmo aqui descrito necessita sempre de dois valores de pressão, para além
das dimensões do tubo, para poder calcular o fluxo ao longo deste. Como não é possível
ter uma pressão/variação de pressão sem ter um volume, as bombas de vácuo aqui
usadas têm um volume interno, que contribui para os cálculos. Esta situação é realista,
uma vez que as bombas de vácuo possuem de facto este volume, dentro do qual o gás
atravessa uma série de processos que levam ao seu bombeamento.
59
Figura 29 – Bomba de vácuo
A figura 29 representa uma bomba de vácuo, de volume e pressão . O fluxo Q
entra na bomba alterando a sua pressão, ao mesmo tempo que os mecanismos internos
expulsam o ar, com uma velocidade de bombeamento „ ‟.
O volume e velocidade de bombeamento definem a bomba de vácuo, sem que seja
necessário mais nenhum parâmetro ou variável para a simular (à excepção das bombas
difusoras, que não devem operar a certas pressões, o que tem de ser simulado). Assim, a
diferença entre os diferentes tipos de bomba está apenas no seu volume interno, e na sua
velocidade de bombeamento em função da pressão.
Para ter uma ideia da influência do volume interno das bombas na evolução da
pressão, simulou-se a evolução no tempo de um sistema de alto-vácuo com uma câmara
de 50 litros, uma bomba rotativa de 2 l/s e uma bomba turbo molecular de 50 l/s. Os
tubos de ligação entre as bombas e a câmara têm 10cm de comprimento e 2 cm de
diâmetro. A simulação é feita para diferentes valores do volume interno das bombas:
0 50 100 150 200 250 300 350 400
1E-3
0,01
0,1
1
10
100
1000
10000
100000
Pre
ssão
(P
a)
Tempo (s)
5 litros
1 litro
0.1 litros
Figura 30 – Evolução da pressão num sistema de alto-vácuo, com diferentes volumes internos das bombas
60
Pode-se ver aqui como o volume interno das bombas influencia directamente o
tempo de bombeamento, o que torna este um parâmetro importante nos cálculos. Assim,
o volume interno da bomba será um dos parâmetros a escolher pelo utilizador, pois
depende da bomba em questão que se quer simular.
A velocidade de bombeamento de uma bomba de vácuo não é constante, pelo que é
necessário criar um modelo matemático para a sua variação. Existem dois tipos gerais
de bombas, e respectivos bombeamentos – bombas que operam até uma pressão
mínima, e bombas que começam a operar a partir de uma pressão máxima, até à pressão
mínima (que pode ser infinitamente pequena). Para além do valor das pressões limite, as
curvas de bombeamento podem ter diferentes formas. Com o objectivo de simular estas
diferentes variações, foram criados dois modelos matemáticos para a velocidade de
bombeamento:
7.1. Bombas com pressão mínima
Assumindo que a velocidade de bombeamento depende apenas da pressão interna
da bomba, pode-se simular a evolução da sua velocidade de bombeamento com base
numa série de parâmetros:
Definindo previamente a velocidade de bombeamento máxima, , e a pressão
mínima que a bomba atinge, , a simulação pode ser feita através da variação
exponencial da velocidade de bombeamento com a pressão da câmara:
(37)
Em que „ ‟ e „ ‟ são constante arbitrárias, que ajudam a definir a forma da
exponencial. A variável „ ‟ altera declive do bombeamento, enquanto que a variável „ ‟
altera a pressão em que o bombeamento começa a decair. Ambas as variáveis são
adimensionais.
Para uma bomba rotativa típica com e , têm-se os
seguintes resultados, em função de diferentes valores de „ ‟ e „ ‟:
61
0,1 1 10 100 1000 10000 100000
1E-5
1E-4
1E-3
0,01
0,1
1
10
100
Vel
oci
dad
e d
e B
om
bea
men
to (
l/m
)
Pressão (Pa )
a=100,b=2
a=20, b=4
Figura 31 – Comparação do efeito dos parâmetros ‘a’ e ‘b’ nas velocidades de bombeamento
Estão representadas neste gráfico a série vermelha, com um valor de e
, e a série preta, com „ ‟ = 100 e . Como a série preta tem um valor
de mais elevado, começa a decair primeiro que a série vermelha. No entanto, como o
valor de da série vermelha é maior, esta acaba por decair mais rapidamente, como se
pode observar. Ao alcançar o valor da pressão mínima da bomba (1 Pa neste caso), a
série vermelha tem uma velocidade de bombeamento inferior em mais que uma ordem
de grandeza em relação à série preta, que começou a decair a uma pressão maior que a
série vermelha. Assim, se o valor da velocidade de bombeamento para a pressão mínima
não for o desejado, as variáveis a e b podem ser usadas para tentar ajustar esse valor
para o pretendido.
7.2. Bombas com pressão mínima e máxima
Esta velocidade de bombeamento é simulada de forma semelhante à anterior. A sua
evolução é obtida a partir da combinação de exponenciais, dependentes da pressão a que
a bomba está exposta. A diferença para este caso é a da necessidade de duas
exponenciais, para simular o aumento e diminuição de velocidade de bombeamento.
Aproveitando a equação anterior, que produz uma subida de pressão a partir do valor de
62
, é possível obter uma exponencial idêntica, mas com o comportamento inverso,
isto é, um decréscimo da pressão a partir de um valor de pressão máxima ( ). Esta
exponencial é equivalente à anterior, mas com o valor inverso do expoente:
(38)
Combinando as duas exponenciais, obtêm-se uma velocidade de bombeamento que
aumenta de valor a partir de um valor , e começa a decrescer a partir de .
A equação que traduz este funcionamento é dada por:
(39)
Os diferentes parâmetros das exponenciais mantêm o seu efeito anterior, ou seja,
„ ‟ e „ ‟ ajustam a pressão em que a velocidade de bombeamento cresce/descresce, e
„ ‟ e „ ‟ ajustam o declive desta variação. Para , ,
, , , obteve-se o seguinte resultado:
Figura 32 – Evolução de velocidade de bombeamento com pressão mínima e máxima
63
8. Determinação e optimização do intervalo de tempo entre iterações
O valor do intervalo de tempo entre cada iteração tem de ser calculado de forma
a que as alterações de pressão não sejam muito altas, comparadas ao valor da pressão
nesse instante.
Para que a alteração máxima de pressão em qualquer ponto do sistema seja de por
cento, isto é, para que nenhum dos pontos de pressão tenha uma variação maior que
por cento, o valor de será calculado da seguinte forma:
Uma variação de por cento na pressão (positiva ou negativa), traduz-se numa
variação de:
Para o volume 1:
Substituindo o valor de na equação (2)
Para o volume 2:
Assim, ficamos com dois valores de : e . Como o sistema avança no
tempo todo de uma vez, ou seja, não faz sentido físico ter intervalos de tempo diferentes
dentro do mesmo sistema, a solução é escolher o mais pequeno dos dois, para garantir
que nenhum dos componentes excede a alteração de por cento.
Pode-se ainda deduzir uma expressão geral para , com base na equação (2)
(40)
64
Para encontrar um valor de suficientemente baixo para não comprometer a
continuidade e veracidade dos resultados, mas também suficientemente alto para não
afectar demais o tempo de cálculo, foram feitos alguns testes aos sistemas com
diferentes valores deste parâmetro.
200
0,1
1
10
100 5
2
0.5
0.1
Pre
ssao
(Pa )
Tempo(s )
Figura 33 – Comparação dos resultados para diferentes valores da percentagem mínima de variação da pressão
Os resultados presentes neste gráfico mostram a zona de transição de regime
(contínuo para molecular), pois é nesta zona que a alteração da percentagem mínima de
variação da pressão tem maior efeito. Os ensaios foram realizados para valores de „ ‟ de
5, 2, 0.5 e 0.1. Os resultados indicam que existe uma diferença dos ensaios a 5 e 2 por
cento para os ensaios a 0.5 e 0.1, e que a diferença entre estes últimos dois é mínima.
Como a 0.1 por cento o algoritmo realiza cerca de 5 vezes mais cálculos que a 0.5 por
cento, o programa começa a ficar bastante lento. Torna-se portanto evidente que o valor
de 0.1 é desnecessariamente baixo, e que se produzem resultados suficientemente
equivalentes a partir de 0.5 por cento, sem que haja necessidade de maior precisão a
partir deste valor.
65
9. Contribuição dos tubos de ligação para o volume
Para tornar a simulação do sistema o mais real possível, é preciso ter também em
conta o volume associado ao tubo, e o gás que nele se encontra presente. Assim, para a
variação da pressão no volume 1, os cálculos não serão feitos com o valor , mas com
, dado por:
Em que corresponde ao volume do tubo de ligação. O mesmo raciocinio é
aplicado para o volume 2. Esta substituição consiste em assumir que o ar que entra/sai
de cada câmara se “espalha” não apenas nessa câmara, mas também no tubo, sendo que
cada metade do tubo está associada à câmara a que se encontra ligada.
Figura 34 – Ilustração da contribuição dos tubos para o volume das câmaras
Se um certo volume tiver mais que um tubo ligado, o volume será dado por:
(41)
Em que a parcela corresponde ao somatório dos volumes dos tubos ligados à
câmara.
66
V. Apresentação e discussão de resultados
Para avaliação do algoritmo aqui usado, os valores da evolução da pressão no
tempo num sistema vácuo primário e alto-vácuo dados pelo programa serão comparados
com os valores obtidos usando as equações clássicas da condutância. Espera-se que os
resultados sejam equivalentes a partir do regime de fluxo viscoso laminar, uma vez que
o modelo clássico produz resultados correctos nesta zona. Como o algoritmo usado no
programa está preparado para o cálculo de fluxo em todos os regimes, a simulação será
feita a partir da pressão atmosférica, para verificar se existe alguma diferença entre os
dois modelos na fase inicial de bombeamento (regime turbulento).
1. Sistemas ensaiados
Sistema primário
Figura 35 – Sistema primário para avaliação de resultados Tabela 6, 7 e 8 – Características do sistema primário
67
Sistema de Alto Vácuo
Figura 36– Sistema de Alto-Vácuo para teste
Tabela 9, 10, 11 e 12 – Características do sistema de alto-vácuo
68
Tabela 13 - Características da câmara do sistema de alto vácuo
2. Análise de resultados
Para o sistema primário, bombeado apenas por uma bomba rotativa, foram obtidos
os seguintes resultados:
0 200 400 600 800 1000
0,01
0,1
1
10
100
1000
Pre
ssa
o(m
ba
r)
Tempo (s)
Modelo Classico
Modelo Livesey
Figura 37 – Comparação de resultados para a simulação do sistema de vácuo primário (Esquema 1)
E para o sistema de alto vácuo, com uma bomba turbo-molecular:
69
0 200 400
1E-5
1E-4
1E-3
0,01
0,1
1
10
100
1000
Pre
ssa
o(m
ba
r)
Tempo (s)
Modelo Classico
Modelo Livesey
Figura 38 – Comparação de resultados para a simulação do sistema de alto vácuo (Esquema 2)
Analisando os resultados do sistema primário, podemos concluir pela sua
semelhança (as duas curvas estão sobrepostas) que o algoritmo usado no programa para
o cálculo de fluxo produz valores relativamente correctos para o regime contínuo, uma
vez que o modelo clássico de cálculo está habitualmente em concordância com
resultados experimentais. A evolução da pressão na fase inicial de bombeamento é igual
nos dois modelos, o que significa que não houve alterações visíveis nos resultados na
zona de regime turbulento, o que se pode dever à elevada condutância do tubo simulado.
Uma simulação feita com tubos com uma condutância mais baixa, ou com uma bomba
com velocidade de bombeamento mais alta, pode trazer diferenças nos resultados na
zona de regime turbulento (a condutância do tubo actua como “limite” para o volume
bombeado, portanto quanto maior for a velocidade de bombeamento da bomba, mais
influência terá a condutância no valor do fluxo).
Para analisar o efeito da diferença dos modelos na zona de regime turbulento,
realizou-se um ensaio extra ao sistema primário 1, alterando-se o tubo C1 para um de
baixa condutância (comprimento de 1 metro e diâmetro de 1 cm), e a bomba rotativa
para uma de velocidade de bombeamento alta, de 10 litros por segundo. Obtiveram-se
os seguintes resultados:
70
0 20 40 60 80 100 120 140 160
0,1
1
10
100
1000
Pre
ssã
o (
mbar)
Tempo (s)
Modelo Classico
Modelo Livesey
Figura 39 – Ensaio para análise do regime turbulento.
O ensaio aqui apresentado mostra que a condutância em regime turbulento
calculada pelo modelo de Livesey é mais baixa que a condutância calculada pelo
modelo clássico. Esta diferença traduz-se num decréscimo de pressão mais rápido no
modelo clássico (condutância maior), visível nesta figura, em particular nos instantes
iniciais, onde o regime turbulento tem lugar (a análise do número de Reynolds indica
que neste ensaio o fluxo está em regime turbulento nos primeiros 20 segundos).
No ensaio ao sistema de alto vácuo, os resultados obtidos diferem ligeiramente na
zona inicial de fluxo molecular, o que se pode dever à diferença no cálculo do fluxo
neste regime. Enquanto que no modelo clássico o fluxo em regime molecular é
calculado directamente pela diferença de pressões, multiplicada pelo valor da
condutância molecular, o algoritmo usado no programa não o faz desta forma. Como
não existe separação explícita dos regimes no programa, o fluxo molecular é ponderado
pela função do número de Knudsen , indicada na equação (12). Este ponderação
resulta numa diferença do valor do fluxo molecular na fase inicial deste regime, como
se pode verificar pelo gráfico da figura 40.
71
0 100 200 300 400
0,1
1
10
Ve
locid
ad
e B
om
be
am
en
to (
l/s)
Tempo (s)
Modelo Classico
Modelo Livesey
Figura 40 – Comparação das condutâncias moleculares no sistema de alto vácuo
Perto dos 200 segundos a condutância molecular tradicional passa a ser calculada
(linha azul), o que indica a passagem para o regime molecular (Kn>1). A condutância
molecular calculada no programa, devido ao ponderamento pela função do número de
Knudsen, aumenta bruscamente de valor na mesma zona, mas demora uns segundos a
atingir o seu valor máximo, o que pode explicar a ligeira diferença dos valores da
pressão nesta fase.
72
VI. Descrição da interface
A gestão de cada sistema de vácuo é feita numa janela independente, onde se
podem encontrar os indicadores e botões de controlo, cada um com uma função
específica para comandar o sistema. Neste capítulo serão descritos alguns destes
indicadores/controladores.
Figura 41 – Botões Start/Stop/Pause e vista do sistema
Botão Start – Inicia/recomeça a contagem de tempo no sistema, ao mesmo tempo que
desactiva a edição das características dos diversos componentes do sistema (dimensões
dos tubos, volume da câmara de vácuo, etc.).
73
Botão Pause – Interrompe a passagem de tempo. Neste estado, é possível recomeçar a
contagem de tempo, sem nenhuma alteração ao sistema, clicando no botão Start.
Botão Stop – Devolve ao sistema o seu estado inicial, interrompendo a contagem de
tempo. As bombas e válvulas voltam ao seu estado inicial (ligadas/desligadas,
abertas/fechadas), a contagem do tempo recomeça do zero, todas as pressões voltam ao
valor definido no campo da pressão inicial, e volta-se a activar a edição das
características dos componentes do sistema.
A figura mostra ainda a vista do sistema corrente, com os indicadores de estado
(círculos verdes e vermelhos) para as válvulas e bombas. Um clique nestes círculos
altera o estado da válvula/bomba. A cor verde representa uma válvula aberta/bomba
ligada, e a cor vermelha uma válvula fechada/bomba desligada.
Figura 42 – Indicadores de tempo e pressão e botões dos gráficos respectivos
Time: Indica o intervalo de tempo que passou no sistema desde que a sua contagem foi
iniciada
M1/M2: Indica o valor da pressão lida no sensor M1/M2 em mbar
Chart M1/M2: Abre uma janela com o gráfico dos valores de M1/M2 registados em
função do tempo.
Figura 43 – Barra de controlo da velocidade de cálculo
Cada sistema presente no programa pode funcionar a três velocidades diferentes –
Normal, Fast e Faster, escolhidas pelo slider visível na figura.
74
A velocidade Normal aproxima-se da realidade, isto é, o tempo que passa no
sistema é aproximado do tempo que passa para o utilizador. A velocidade Fast
corresponde a um factor de 5, ou seja, 5 segundos no sistema correspondem a 1 segundo
para o utilizador. A velocidade Faster corresponde à velocidade máxima possível para o
cálculo. Qualquer uma destas velocidades está limitada pelo tempo de cálculo, o que
quer dizer que é possível um sistema à velocidade Fast ser mais lento que a realidade.
Figura 44 – Barra de controlo de válvula de fluxo controlado
No sistema primário nº2 a válvula V3 é uma válvula de fluxo controlado. O valor
deste fluxo é manipulado no slider visível na figura, e indicado no texto acima do slider,
em mbar l /s (se a válvula estiver fechada o texto muda para “Closed”).
Figura 45 - Pressão inicial
O valor introduzido pelo utilizador neste campo dita o valor da pressão inicial de
todos os componentes do sistema. O valor predefinido é de 105 Pascais (pressão
atmosférica).
75
VII. Conclusão
Pode-se concluir que a plataforma computacional proposta neste projecto foi
realizada com êxito. Os sistemas de vácuo primário e alto-vácuo simulados encontram-
se a funcionar correctamente, e as modificações propostas para os vários parâmetros que
definem os sistemas foram todas implementadas correctamente, assim como as
manipulações em tempo real. O novo modelo físico para o cálculo do fluxo foi
implementado com sucesso, e a comparação com o modelo físico baseado nas equações
de condutância revelou que os resultados obtidos com o novo algorítmo estão próximos
da realidade.
Durante o desenvolvimento da plataforma ocorreram dificuldades inesperadas,
como a modelação da taxa de desgaseificação e da velocidade de bombeamento das
bombas de vácuo. Isto aconteceu porque não existem expressões gerais para estes
valores, cada bomba de vácuo tem a sua curva de velocidade de bombeamento
característica, e cada superfície tem a sua taxa de desgaseificação, diferente de qualquer
outra. Para corrigir esta falha, foi introduzida no programa a possibilidade de leitura de
um ficheiro com tabelas de valores para estes parâmetros, permitindo ao utilizador a
máxima personalização.
Como perspectivas de melhoramentos futuros da plataforma, pode-se disponibilizar
uma lista de materiais a escolher, aos quais estará associada uma determinada evolução
da taxa de desgaseificação, ou uma lista do tipo de gás(es) presente(s) no sistema. A
estrutura interna do programa já está preparada para esta característica, sendo apenas
necessário adicionar os valores para cada material/gás ao código, e implementar a
interface necessária. Outra característica a acrescentar seria uma listagem de bombas de
vácuo presentes no mercado, libertando o utilizador da necessidade de ajustar a equação
da velocidade de bombeamento, ou de gerar um ficheiro com os valores desejados.
Estas alterações iriam aproximar consideravelmente a plataforma do mundo “real”, o
que iria contribuir bastante para a sua aplicação directa em projectos de engenharia.
76
Referências Bibliográficas
[1] Obtido de Engenharia do vácuo: http://www.metrovac.eu/tmef/
[2] Livesey, R. (2004). Solution methods for gas flow in ducts through the whole pressure
regime. pp. 101-107.
[3] Chambers, A. (2006). Modern Vacuum Physics.
[4] A. M. C. Moutinho, M. E. (1980). Tecnologia de vácuo.
[5] Jousten, K. Handbook of Vacuum Technology
[6] Livesey, R. (2000). Method for calculation of gas flow in the whole pressure regime through ducts of any length. pp. 101-107.