Pobreza Urbana em Portugal · ajudar, aqueles que estão no poder do nosso ... um quinto dos...

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Pobreza Urbana em Portugal Sara Félix Coimbra, Dezembro 2008

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Pobreza Urbana em Portugal 

                                                         

                                                      Sara Félix 

Coimbra, Dezembro 2008 

 

Ficha Técnica 

 

Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Fontes de Informação 

Sociológica leccionada pelo Doutor Paulo Peixoto. 

 

● Título: Pobreza Urbana em Portugal  

● Autora: Sara Félix   

● Nº de Estudante: 20080945  

● Curso: Sociologia  

● Ano: 1º Ano  

● Imagem da capa retirada de: http://acertodecontas.blog.br   

● Página consultada a: 10 de Dezembro de 2008    Coimbra, Dezembro de 2008  Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra 

 

 

 

 

 

 

 

"A maior miséria das misérias é os miseráveis não a notarem, tão natural lhes 

parece." 

 (Jacinto Benavente) 

 

"A maneira mais segura de perpetuar a miséria é dar esmolas aos pobres, ao 

em vez de escolas e empregos." 

 (B. Calheiros Bomfim) 

 

"É preciso estudar as misérias dos homens, incluindo entre essas misérias as 

ideias que eles têm quanto aos meios para combatê‐las."  

(Friedrich Nietzsche) 

 

"Se a miséria de nossos pobres não é causada pelas leis da natureza, mas por 

nossas instituições, grande é a nossa culpa." 

 (Charles Darwin) 

 

"É comum que pessoas bem intencionadas se comovam ante a miséria que 

está ao alcance dos olhos, mas sejam indiferentes às legiões de miseráveis que 

não vêem, embora saibam de sua existência." 

 (B. Calheiros Bomfim) 

Índice 

 

1. Introdução                                                                                                                  1 

2. Estado das artes                                                                                                        3 

3. Desenvolvimento   

3.1 Pobreza e Exclusão Social                                                                                   5      

3.2 Os Sem‐abrigo                                                                                                      9 

3.3 Formas de integração/ Instituições de apoio às pessoas necessitadas   11 

4. Descrição detalhada da pesquisa                                                                         13 

5. Avaliação de uma página da Internet                                                                 14 

6. Ficha de leitura                                                                                                        16 

7. Conclusão                                                                                                                 21 

8. Referências bibliográficas                                                                                     22 

     Anexos  

                      A‐ Página da Internet avaliada                                                                       

                      B‐ Texto de suporte à ficha de leitura                                                          

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

1. Introdução  

 

Este  trabalho,  com  o  título  “Pobreza Urbana  em  Portugal”,  fala  exactamente 

disso, da pobreza que em Portugal se faz sentir, dos pobres, dos excluídos, dos 

sem‐abrigo  e  daqueles  que  tentam  o  máximo  que  conseguem  para  ajudar 

aqueles que deles necessitam. 

Considerei relevante a escolha deste tema, pois chegada uma época de paz, em 

que  a  abundância  de  comida  e  presentes  é  constante,  nada  melhor  que 

contrastar esse facto com algo a que a sociedade está constantemente a fechar 

os  olhos. Muitos  esquecem‐se  que  é  no  natal  que mais  devemos  relembrar 

quem não  tem uma mesa onde  se  sentar  em  redor dos  seus  e que  está nas 

nossas mãos  dar  aquele  empurrãozinho  para  que  isso mude,  e  isso  tem  que 

mudar! 

Estranho mas  real é o  facto de  ser principalmente nas  cidades grandes, onde 

deveria haver mais postos de trabalho que o desemprego é maior e causa que 

advém disso é a pobreza, pobreza essa que muitas vezes é  levada ao extremo, 

aumentando assim o número de pessoas sem‐abrigo no nosso país.  

É necessário que  todos  reunamos esforços para combater este  flagelo que há 

tanto tem assolado a nossa sociedade, e para isso todos têm que participar, não 

só o cidadão comum, mas principalmente aqueles que têm mais condições para 

ajudar,  aqueles  que  estão  no  poder  do  nosso  país  e  que  pouco  fazem  para 

ajudar quem realmente da sua ajuda necessita. 

No meu  trabalho restringi‐me a  temas  fundamentais no meu ponto de vista e 

assim dividi o desenvolvimento do meu trabalho em 4 pontos: 

• O que é a pobreza?  

• Exclusão Social  

 

• Os Sem‐abrigo  

• Formas de integração/ Instituições de apoio às pessoas necessitadas 

Seguidamente  descrevo  detalhadamente  a  minha  pesquisa,  procedendo  à 

avaliação de uma página da Internet, neste caso a página da Instituição OIKOS, e 

à realização de uma ficha de leitura. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2. Estado das artes 

 

A  pobreza  urbana  (urbana  porque  se manifesta  nos  espaços  urbanos)  é  um 

fenómeno mundial.  Em  Portugal  também  é bem  visível  a pobreza que  se  faz 

sentir nos grandes centros urbanos, daí Sofia Lobato Dias (2007), afirmar que “ 

um quinto dos portugueses vive com menos de 360 euros por mês. E 32% da 

população activa entre os 16 e os 34 anos seria pobre se dependesse só do seu 

trabalho”.  Estes  números  são  alarmantes  e  traduzem  a  realidade  em  que 

vivemos. 

A  pobreza  é  um  termo  que  não  é  fácil  de  explicar,  pois  conta  com  diversas 

definições, dadas ao longo dos anos. 

Importante  é  perceber  que  na maioria  das  vezes  a  pobreza  leva  à  exclusão 

social, a qual é vista por Robert Castel apud Wikipédia  (1990), “como o ponto 

máximo  atingível  no  decurso  da marginalização,  sendo  este,  um  processo  no 

qual  o  indivíduo  se  vai  progressivamente  afastando  da  sociedade  através  de 

rupturas consecutivas com a mesma”. 

“Os  pobres  existem!  E  estão  em  toda  parte.  É  preciso  dar‐se  conta  da existência  deles.  A  expressão  “os  pobres”  provoca,  nos  países  ricos,  o mesmo  efeito  que  nos  antigos  romanos  provocava  a  expressão  “os bárbaros”: confusão, pânico. Eles se empenhavam em construir muralhas e enviar exércitos para as fronteiras para vigiá‐los; nós fazemos a mesma coisa de outros modos. Entretanto, a história nos mostra que tudo  isso é inútil. Nossa tendência é  interpor entre nós e os pobres vidros duplos. O efeito desses vidros, hoje tão comuns, é impedir a passagem do frio e dos ruídos,  tudo abrandar,  fazer  tudo chegar abafado, atenuado. Com efeito, vemos os pobres que se movem, se agitam, gritam na tela da televisão, nas  

 

páginas dos  jornais e das revistas missionárias, mas o seu grito nos chega de muito  longe. Não  penetra  nosso  coração. Nós  nos  pomos  ao  abrigo deles. Com o  tempo,  infelizmente, nos acostumamos a  tudo,  inclusive, a miséria alheia. E ela não mais nos  impressiona tanto e nós acabamos por considerá‐la inevitável” (Lucci, 2003). 

Assim é de louvar todos aqueles que não criam barreiras entre ricos e pobres e 

que estendem a mão a qualquer um que necessite! 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

3.Desenvolvimento 

3.1 Pobreza e Exclusão Social 

 

Antes de mais  temos que  ter em  consideração a definição de pobreza e para 

isso  é  necessário  saber  que  existem  várias  definições  para  esse  termo. 

Pessoalmente apresentarei 3 das várias possíveis. 

Gilda Farrell (2000: 10) afirmou que “a pobreza corresponde a uma situação de 

insuficiência  de  recursos.  Traduz‐se  pela  impossibilidade  de  acesso  a  certos 

serviços básicos e abrange o conjunto da célula familiar”.  

 

“Os  sociólogos  e  investigadores  têm  favorecido  duas  abordagens  diferentes 

sobre a pobreza: a da pobreza absoluta e a da pobreza relativa. O conceito de 

pobreza absoluta está enraizado na ideia de subsistência – as condições básicas 

que permitem sustentar uma existência física saudável. Diz‐se que pessoas que 

carecem  de  requisitos  fundamentais  para  a  existência  humana  –  tal  como 

comida suficiente, abrigo e roupa – vivem em situação de pobreza. Considera‐se 

que o conceito de pobreza absoluta é universalmente aplicável. Defende‐se que 

os  padrões  de  subsistência  humana  são mais  ou menos  os mesmos  para  as 

pessoas  de  idade  e  constituição  física  equivalentes,  independentemente  do 

local onde vivem. Pode afirmar‐se que qualquer  indivíduo, em qualquer parte 

do mundo, vive na pobreza se estiver abaixo deste padrão universal. 

Contudo, nem  todos  aceitam  ser possível  identificar  tal padrão. Argumentam 

que é mais apropriado utilizar o conceito de pobreza relativa, que relaciona a 

pobreza com o padrão da vida geral prevalecente numa determinada sociedade.  

 

 

Os  defensores  do  conceito  de  pobreza  relativa  afirmam  que  a  pobreza  é 

culturalmente definida e não deve  ser medida de  acordo  com um padrão de 

privação universal. É errado assumir que as necessidades humanas são idênticas 

em  todo  o  lado  –  de  facto,  elas  diferem  entre  sociedades  e  no  seio  destas. 

Coisas  vistas  como  essenciais  numa  sociedade  podem  ser  consideradas  luxos 

supérfluos noutra (…)“ (Giddens, 2004: 313), (sublinhado do autor). 

 

Segundo  Maria  Eduarda  Ribeiro  (2007:  1),  “são  pobres  aqueles  que  estão 

privados  da  possibilidade  de  agir  por  própria  iniciativa  e  responsabilidade  e 

vivem e trabalham em condições indignas da pessoa humana”. 

 

No entanto todas estas definições apontam para uma pobreza  financeira, mas 

ela  não  se  traduz  só  no  pouco  dinheiro  que  as  pessoas  possuem,  refere‐se 

também à deficiente integração da pessoa na sociedade que a rodeia.  

 

Assim a exclusão social aparece sistematicamente  ligada à pobreza, como uma 

das  situações mais extremas que dela advém. Como  refere Anthony Giddens, 

(2004: 325), “entende‐se por exclusão social as formas pelas quais os indivíduos 

podem  ser afastados do pleno envolvimento na  sociedade”, mas ora vejamos 

uma definição mais minuciosa.  

“Procurando  num  Dicionário  de  Língua  Portuguesa  o  significado  da  palavra 

EXCLUSÃO, pudemos ler: acto ou efeito de excluir ou de ser excluído; excepção, 

reprovação. Um complemento viríamos a encontrar no Dicionário de Sinónimos: 

expulsão; privação; repulsa. De SOCIAL, sabemos ser termo que sempre implica 

a existência de vários; vários que devem relacionar‐se de um modo particular  

 

 

entre  si,  não  bastando  por  isso  que  existam  à  parte  uns  dos  outros,  sós, 

isolados; é suposto que existam em relação uns com os outros” (Loureiro, 1999: 

169). 

Assim concluímos que a exclusão social, priva o indivíduo de se relacionar com a 

outros,  contudo  “o que  caracteriza o  ser humano é o  facto de  se  tornar uma 

pessoa,  isto  é,  alguém  essencialmente  social,  capaz  de  adquirir,  criar  e 

perpetuar uma cultura, bem como o de fazer parte de uma grande rede que é o 

grupo humano, a sociedade em que vive” (Loureiro, 1999: 169). 

Mas  porquê  que  as  pessoas  excluem?  “A  primeira  forma  de  excluir  é  não 

aceitar, não compreender e criticar, sistematicamente, o que difere de nós. A 

alteridade  justifica‐se  naturalmente  e  por  ela  própria.  É  sinal  de  vitalidade 

cultural e responde negativamente, desde logo, a um preconceito que, vindo de 

ontem, ainda hoje, povoa algumas mentes: o da superioridade racial e cultural. 

Este  preconceito  exclui,  porque  hierarquiza,  exclui  porque  inferioriza,  exclui 

porque mutila  um  direito  insofismável:  o  da  igualdade  e  o  da  diferença. Um 

excluído  é  um marginalizado.  Regra  geral,  é  a  sociedade  que marginaliza  e 

exclui,  limitando  a  liberdade,  o  humanismo,  o  respeito,  enfim…  a  verdadeira 

dimensão humana.” (Oliveira 1999: 136). 

Aparentemente  todos  diferimos  uns  dos  outros,  temos  características  físicas 

diferentes,  idades  diferentes,  até  a  maneira  como  agimos  e  pensamos  é 

diferente, mas porquê pormos de parte as outras pessoas? “É completamente 

errado supor que as pessoas que parecem diferentes de “nós” devam, por isso, 

ser  postos  de  lado.  A  essência  da  resposta  está  em  que  o  contexto  social  e 

cultural deve ser totalmente analisado e compreendido para que a qualidade de 

“anormal” e “bizarro” desapareça”. (Oliveira 1999: 138). 

 

 “Com efeito, em  termos  sociais  tem existido  também uma evolução, mas no 

sentido  inverso ao desejado. As assimetrias, cada vez mais têm sido postas em 

relevo, de tal modo que, hoje, a cidade está cheia de “ilhas de exclusão”, bem 

visíveis, mesmo aos olhos dos menos atentos. Ilhas onde vivem seres humanos, 

afinal  homens  que  também merecem  ter  oportunidades  para  serem  felizes. 

Homens que aguardam a sua vez para fugir ao estado de Exclusão Social a que 

foram  condenados  por  alguns  daqueles  que  vivem  no  exterior  dessas  ilhas. 

Homens que aguardam o auxilio de outros homens, afinal  seus companheiros 

de viagem” (Gaspar, 1999: 189). 

Segundo  José  António  Oliveira  (1999:  136‐138)  “há  que  combater  hoje  os 

factores  que  originam  a  exclusão”,  pois  “ignorar  hoje  os  problemas  significa 

apanhá‐los amanhã com, pelo menos, o dobro da intensidade”, devemos assim 

unir esforços para a “construção de um futuro que se quer sempre melhor, mais 

justo, mais humano e menos de exclusão”.  

Assim  também  eu  concordo  que  o  tempo  fulcral  é  o  presente,  é  hoje.  Não 

devemos assim “deixar para amanhã o que podemos fazer hoje”. 

 

 

 

 

 

3.2 Os Sem‐abrigo 

 

“A maioria das pessoas pobres vivem em algum tipo de casa ou abrigo 

permanente. Aquelas que não o fazem, os sem‐abrigo, tornam‐se bastante 

visíveis nas ruas das cidades nos últimos vinte anos. A falta de lugar de 

residência permanente é uma das formas mais extremas de exclusão social. As 

pessoas sem residência permanente podem ser excluídas de muitas actividades 

diárias que os outros têm como garantidas, tal como ir para o trabalhão, manter 

uma conta bancária, conversar com os amigos ou mesmo receber cartas pelo 

correio” (Giddens, 2004: 330). 

Recorrendo a diversos estudos sobre indivíduos sem‐abrigo, Alfredo Bruto da 

Costa et al. constatou que “a larga maioria (75%) dos inquiridos dormia na rua. 

Os restantes 25% pernoitava em locais diversos: escadas, edifícios, automóveis 

ou autocarros, estações e, em pequena proporção (7%), em abrigos para os 

sem‐abrigo” 

 

No entanto, existem dois tipos de sem‐abrigo, os que o são por escolha sua e os 

que se deparam com esta situação devido a factores que não controlaram e que 

os empurraram para a miséria.  

Mas embora se pense o contrário, “grande parte dos sem‐abrigo não são ex‐

doentes mentais, nem alcoólicos ou consumidores regulares de drogas ilegais. 

São pessoas que acabaram por se encontrar nas ruas devido a problemas 

pessoais, muitas vezes mais do que um em simultâneo” (Giddens, 2004: 331). 

Em Portugal assiste‐se a um fenómeno degradante em que 30 % dos sem‐abrigo  

 

se encontram entre a casa dos 25 e a dos 34 anos, o que pode ser comprovado 

num artigo do Diário de Notícias que afirma que “um em cada três sem‐abrigo 

de Lisboa tem entre 25 e 34 anos. A grande maioria é do sexo masculino (76%), 

de nacionalidade portuguesa (64%) e não consome drogas (só 20% são 

toxicodependentes)”. 

Como forma de ganhar o pão que pelo trabalho não conseguem (pois o trabalho 

é‐lhes na maioria das vezes negado), os sem‐abrigo sentam‐se nas ruas a pedir 

esmolas, esmolas essas que não lhes devem ser também negadas, pois como 

refere Maria Antónia Lopes (2000: 83) “não se trata de caridade, mas de justiça. 

A assistência aos pobres é, pois, um dever absoluto para os ricos, é um direito 

inalienável dos pobres destituídos de capacidade de subsistência(…)”. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

10 

3.3 Formas de integração/ Instituições de 

apoio às pessoas necessitadas   

 

Várias instituições trabalham arduamente todos os dias para combater o flagelo 

que é a pobreza. Nomeadamente vou referenciar algumas daquelas que 

trabalham com pessoas sem‐abrigo, pois na minha opinião é importante ajudar, 

principalmente essas pessoas que já se encontram na margem da sociedade em 

que todos os dias são vividos na miséria extrema. 

Com isto surge o “Projecto de Integração para os Sem‐Abrigo” da Instituição de 

Solidariedade CAIS, o qual consiste na edição de revistas que seriam vendidas 

pelos sem‐abrigo, com a finalidade de uma parte do lucro das vendas ser 

entregue a essas pessoas, criando‐se assim “um campo de trabalho digno onde 

estas pessoas podiam começar a sua inserção na vida profissional, criando 

hábitos de trabalho, que os levaria a ambicionarem outros modelos de vida” 

(Reis, 1997: 134). 

Seguidamente contamos com o apoio da AMI‐ Assistência Médica Internacional 

‐ que pôs em vigor em Portugal o projecto Porta Amiga, que passou pela 

abertura de centros com serviços de refeitório, balneário, lavandaria, roupeiro, 

apoio social, apoio médico/enfermagem, apoio jurídico, clube de emprego e 

formação/ informação. Assim estes centros têm “vindo a prestar serviços 

dirigidos para populações em situação de pobreza, lidando com varias formas 

de exclusão social (imigrantes, idosos, sem‐abrigo, desempregados de longa 

duração, toxicodependentes, alcoolismo e isolamento social)” ( Martins, 1997: 

142). 

11 

Outro exemplo é o Exército de Salvação, integrante da Igreja Cristã, que tem 

como missão “proclamar o Evangelho de Cristo, persuadindo homens e 

mulheres a se tornarem discípulos de Jesus, empenhando‐se num programa de 

preocupação prática pelas necessidades da humanidade. Os seus serviços são 

oferecidos a todos, independentemente de raça, credo, cor, idade ou sexo” 

(Reis, 1997: 146). 

Para finalizar convém reforçar o nome da Associação OIKOS, que trabalha com 

pessoas necessitadas e que lançou a campanha “Pobreza Zero”, para tentar 

assim sensibilizar e recrutar pessoas para o combate à pobreza e á fome. 

Assim estas associações ajudam a que a sociedade se disponibilize a ajudar 

quem precisa, e como exprime Elian Alabi Lucci (2003) “amar os pobres 

significa principalmente respeitá‐los (é notório o preconceito contra os 

pobres, que são sistematicamente preteridos, digamos, no serviço público ou 

na vida em geral...) e reconhecer sua dignidade, sobretudo hoje quando, na 

sociedade globalizada em que vivemos, não se respeita de uma forma geral a 

dignidade da pessoa. Ela é apenas considerada como um comprador em 

potencial por aquilo que ela pode consumir e obviamente dar lucro”. 

 

 

 

 

12 

4.Descrição detalhada da pesquisa  

 

Inicialmente escolhi um tema de entre vários propostos pelo Doutor Paulo 

Peixoto, “A Pobreza Urbana”. 

Escolhido um tema prossegui a pesquisa bibliográfica do mesmo, deslocando‐

me para isso ao Centro de Estudos Socias e à Biblioteca da Faculdade de 

Economia da Universidade de Coimbra. Aí requisitei 4 livros que me pareciam 

interessantes, pois todos os outros encontrados não estavam disponíveis. Para 

chegar a estes livros elaborei uma pesquisa simples nos catálogos de ambas as 

bibliotecas em opção “todas as palavras” por pobreza urbana e também por 

exclusão social.  

Seguidamente passei a fazer a minha pesquisa na Internet, nomeadamente no 

motor de busca Google onde comecei por pesquisar em modo simples <pobreza 

urbana em Portugal> , onde foram registados cerca de 185.000 resultados. 

Depois pesquisei, também em modo simples <pobreza em Portugal>, 

encontrando 2.480.000 resultados. Prossegui com uma pesquisa por <exclusão 

social> tendo como resultado 5.240.000 páginas. Finalmente pesquisei <sem‐

abrigo>, encontrando 281.000 resultados para esse tema. 

Apesar de o meu trabalho apresentar poucas fontes, considero que isso se deve 

ao facto de, principalmente na Internet, as fontes consultadas repetirem 

demasiada informação, o que fez com que me restringisse apenas a algumas. 

 

 

 

 

13 

5.Avaliação de uma página da Internet 

 

Como um item integrante deste trabalho apresenta‐se a avaliação de uma 

página da internet. Para tal avaliação elegi a página da Instituição OIKOS 

(http://www.oikos.pt). 

A OIKOS é uma instituição sem fins lucrativos, reconhecida como ONGD ‐ 

Organização Não Governamental para o Desenvolvimento, que se destina a 

proporcionar uma vida digna a pessoas necessitadas. É composta por cidadãos 

dos dois sexos e de várias idades, que juntamente com governos, autarquias, 

organizações não‐governamentais, grupos de base, empresas, igrejas, centros 

de cultura e associações profissionais, trabalham com comunidades 

desfavorecidas dos países mais pobres. 

 Recentemente, esta instituição tem prestado um grande apoio quando 

qualquer das comunidades com que trabalha é vítima de catástrofes naturais ou 

provocadas pela mão humana.  

Esta ONGD, particularmente em Portugal, realiza programas de "Educação para 

o Desenvolvimento" para crianças e jovens, associações e empresas, com a 

finalidade de consciencializar essas pessoas a contribuírem para a erradicação 

da pobreza.  

Assim a OIKOS visa, não só com a ajuda humanitária mas também através de 

programas e projectos, dar a todos as pessoas uma vida digna, que deveria ser 

algo fixo na vida humana. 

14 

Esta página dispõe de uma razoável quantidade/ qualidade de informação sobre 

a temática do meu trabalho. Conta com sete separadores de fácil utilização, que 

reencaminham para subtemas específicos.  

A nível de ilustração, apresenta imagens oportunas, relacionadas com os 

assuntos expostos. 

Contém ainda hiperligações a sites, como PobrezaZero, Tierradetodos, 

DevelopmentPortal.eu, entre outros. 

 É uma página gratuita que carrega com muita rapidez e que apresenta a data e 

o número de visitantes, que neste caso era 1155976. 

Penso que a informação desta é credível, pois é a página oficial da Instituição 

OIKOS e a mesma disponibiliza o contacto de vários dos seus responsáveis. 

Esta página tem um carácter informativo mas também de auxílio para quem 

quer prestar a sua ajuda a pessoas necessitadas, através da possibilidade de 

inscrição em trabalhos de voluntariado e de contribuição com donativos.  

Analisando bem a finalidade desta página entendo que está organizada de uma 

maneira exímia, pois está acessível a todos e de fácil navegação.  

Em jeito de conclusão, considero que é uma página bastante interessante, com 

óptimo conteúdo e que consegue impressionar até o visitante menos sensível 

para esta causa que é a luta contra a pobreza.  

15 

6.Ficha de leitura 

 

Título da publicação: A habitação e a reinserção social em Portugal  

 

Autor : Carlos Pestana Barros et al. 

 

Local onde se encontra: Biblioteca da Faculdade de Economia da 

Universidade de Coimbra 

 

Data de publicação: 1997 

 

Edição: 1ª  

 

Local de Edição: Lisboa 

 

Editora: Vulgata 

 

Título do capítulo: “CAIS: Um Projecto de Integração para os Sem‐Abrigo”  

 

Autor do capítulo: Reis Marques 

 

Cota: 332 HAB 

 

Nº de páginas do capítulo: 133‐137 

 

Assunto: Exclusão Social 

 

16 

Palavras‐chave: Pobreza, exclusão social, integração 

Social, sem‐abrigo. 

 

Data de leitura: 23 de Dezembro de 2008 

 

Observações: A obra “A habitação e a reinserção social em Portugal” está 

bastante interessante, focando temas de exclusão social e tentando mostrar 

formas de combate a esse problema. Quanto ao capítulo que analisei entendi 

que, no âmbito do tema “Pobreza Urbana em Portugal”era muito relevante pois 

dava a conhecer um projecto que eu pessoalmente, considerei fantástico, pela 

forma como as pessoas que nele trabalharam mostraram uma solidariedade de 

aplaudir, dando hipótese das pessoas a quem todos viram a cara na rua lutarem 

e serem capazes de triunfar na vida. 

 

Notas sobre o autor 

Marques Reis foi o autor do capitulo que me propus a analisar, com o titulo de 

“CAIS: Um Projecto de Integração para os Sem‐Abrigo”, inserido na obra “A 

habitação e a reinserção social em Portugal”. 

 

 

Resumo 

A revista CAIS, editada pela Associação de Solidariedade Social Cais, nasce da 

vontade de fazer algo para ajudar pessoas sem‐abrigo, pessoas essas que 

revelam pouca auto‐estima e pouca força para enfrentarem o dia‐a‐dia. Assim 

os editores desta revista ambicionam acompanhar essas pessoas, através de 

técnicos, para assim as ajudarem a sair da marginalidade em que se encontram, 

tentando para isso também integrá‐las no mundo do trabalho. 

 

17 

Para esse segundo objectivo, que consta em oferecer uma base de rendimento 

àqueles que mais precisam, com a edição da CAIS, criaram‐se postos de vendas 

que logo foram preenchidos por essas pessoas. Estes postos tinham o objectivo 

de ao inserirem as pessoas na vida profissional, ajudarem à criação de hábitos 

de trabalho. 

O dinheiro ganho com cada venda, tinha o intuito de ser repartido da seguinte 

maneira: 200 escudos para o vendedor e 50 escudos para uma associação de 

solidariedade, o que demonstra que a Associação Cais não detinha qualquer 

proveito da venda das revistas. 

Existem assim regras específicas para os vendedores, como por exemplo, a fim 

de o incentivar a procurar outro emprego, só são distribuídas 300 revistas 

mensais a cada vendedor. 

Contudo este projecto visa somente ajudar cada sem‐abrigo a entrar no mundo 

do trabalho e a ganhar gosto por ele, não sendo definitivo este posto de 

vendedor, tentando assim fazer com que estes procurem novas ocupações.  

De esperar era que alguns vendedores tivessem comportamentos diferentes 

dos requeridos, dando espaço a situações como a venda das revistas por um 

preço superior ao estipulado, etc. 

Neste projecto trabalham‐se essencialmente com dois tipos de indivíduos: 

aqueles que nunca se esforçaram para sair da miséria em que se encontram e 

aqueles que se viram nesta situação de marginalidade pelos dissabores que a 

vida lhe ofereceu. E claro que é mais fácil ajudar uns que outros e assim, mesmo 

com a curta existência deste projecto já se assistiram a casos de alguns sem‐

abrigo que voaram mais alto e conseguiram empregos como taxistas, 

seguranças, etc. 

A CAIS orgulha‐se por nunca ter fechado as portas a qualquer caso, mesmo ao 

de toxicodependentes e assim tem trabalhado com as zonas mais problemáticas 

do país.  

18 

Marques Reis critica a sociedade, pelo seu comodismo face a este enorme 

problema que é a exclusão social e afirma que a comunicação social não 

colabora no sentido de alertar as pessoas para este facto que está tão presente 

hoje em dia, educando os jovens com violência e não com o espírito de 

entreajuda e solidariedade.  

Finalizando é importante perceber que a palavra CAIS funciona de varias 

maneiras: como ponto de chegada a um destino desejado, ponto de partida 

rumo a um porto feliz e também como um lugar de reencontro. 

 

 

Estrutura 

Este capítulo está integrado na obra “A habitação e a reinserção social em 

Portugal” e vem na sequência do conceito de exclusão social e reinserção dos 

sem‐abrigo. 

Inicialmente o autor dá a conhecer a Associação de Solidariedade Social CAIS e a 

origem da revista CAIS. Fala sobre as pessoas sem‐abrigo, caracterizando‐as 

psicologicamente. 

Num segundo momento explica qual o objectivo do projecto que originou a 

revista CAIS: a criação de postos de trabalho para indivíduos sem‐abrigo. Faz 

compreender como é feita a gestão de vendas e refere que a associação não 

detém qualquer lucro da venda das revistas. 

Num terceiro momento, Marques Reis define quais as regras estabelecidas aos 

vendedores da revista CAIS. Esclarece também que não é o objectivo deste 

projecto que as pessoas dependam definitivamente das vendas, mas sim que 

lhes seja incutido o espírito de quererem fazer mais. Refere também quais as 

zonas onde as vendas são executadas, Almada, Lisboa, Porto e Viana do Castelo. 

 

 

19 

Em seguida refere‐se aos resultados que este projecto teve e também ao facto 

de não terem fechado a portas do mesmo às pessoas suspeitas de 

toxicodependência.  

Num quinto momento Marques Reis, atribui culpas á sociedade pela escassa 

reinserção dos sem‐abrigo numa vida digna e também à comunicação social por 

esta não educar as pessoas no sentido de querem ajudar e fazer mais pelos 

outros. 

Finalmente termina este capítulo com a definição da palavra “cais”, que reverte 

para a ideia da partida para uma vida melhor. 

 

 

 

 

http://www.vulgata.com/livros/sociais/habitacao_reintegracao.htm 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

20 

7.Conclusão 

 

A realização deste trabalho abriu‐me os olhos para um problema do qual não 

me tinha dado conta. Problema esse cada vez maior e mais dramático: a 

pobreza! Na minha cidade de origem ainda não é bem visível a pobreza extrema 

que se denota em certas zonas do país, como Lisboa e Porto, onde as pessoas 

chegam mesmo a viver nas ruas e a fazerem das sobras que encontram nos 

caixotes do lixo as suas refeições, pois o dinheiro já não existe nem para se 

alimentarem. 

De lamentar é o facto de a sociedade que as envolve passar indiferente ao que 

estas pessoas vivem. A forma como as pessoas viram a cara ao passar nas ruas, 

sem pensar que um sorriso, uma mão amiga ou mesmo uma esmola faria 

diferença. Realmente não é uma esmola agora que vai assegurar o futuro de um 

sem‐abrigo, mas talvez uma palavra pudesse fazer diferença e incentivar essas 

pessoas a lutarem pela vida digna que merecem.  

Admito que este trabalho me sensibilizou e criou em mim uma enorme vontade 

de ajudar, com ele deparei‐me com a faceta do meu país da qual não quero 

fazer parte, não quero contribuir para uma maior exclusão social, mas sim para 

uma inclusão daqueles que necessitam da nossa ajuda. 

 

 

 

 

 

 

21 

8.Referências bibliográficas  

 

1‐ LIVROS: 

 

Baptista, Isabel Carvalho (1999), “As cidades e os rostos da 

hospitalidade”. As cidades e os rostos de exclusão. Porto: Universidade 

Portucalense Infante D. Henrique, 81‐83. 

 

Carvalho, Adalberto Dias (1999), “As cidades e as encruzilhadas da 

exclusão”. As cidades e os rostos de exclusão. Porto: Universidade 

Portucalense Infante D. Henrique, 14‐20. 

 

Gaspar, Paulo Alexandre Brito Pais (1999), “Os homens‐ilha”. As cidades e 

os rostos de exclusão. Porto: Universidade Portucalense Infante D. 

Henrique, 189‐190. 

 

Giddens, Anthony (2004), Sociologia. Lisboa: Fundação Calouste 

Gulbenkian. 

 

Lopes, Maria Antónia (2000), “A esmola na economia da salvação ou o 

interesse próprio”. Pobreza, Assistência e Controlo Social em Coimbra. 

Viseu: Palimage Editores, 78‐ 84. 

 

Loureiro, Olímpia (1999), “Da exclusão social: uma perspectiva histórica”. 

As cidades e os rostos de exclusão. Porto: Universidade Portucalense 

Infante D. Henrique, 169‐176. 

22 

Martins, Margarida (1997), “AMI‐ o projecto Porta Amiga”. A habitação e 

a reintegração social em Portugal. Lisboa: Vulgata, 139‐143. 

 

Oliveira, José António (1999), “A dimensão sócio‐antropológica da 

exclusão”. As cidades e os rostos de exclusão. Porto: Universidade 

Portucalense Infante D. Henrique, 135‐139. 

 

Reis, Luís Pedro (1997), “O Exército da Salvação”. A habitação e a 

reintegração social em Portugal. Lisboa: Vulgata, 145‐167. 

 

Reis, Marques (1997), “CAIS: um projecto de integração para os sem‐

abrigo”. A habitação e a reintegração social em Portugal. Lisboa: Vulgata, 

133‐137. 

 

 

2‐ INTERNET: 

 

Costa, Alfredo Bruto et al. (1999) “POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL EM 

PORTUGAL”. Pagina consultada em 21 de Dezembro de 2008. Disponível 

em http://www.dpp.pt/pages/files/pobreza_lvt.pdf . 

 

Diário de Notícias (2005), “30% dos sem‐abrigo têm entre 25 e 34 anos”, 

4 de Dezembro. Página consultada em 21 de Dezembro de 2008. 

Disponível em 

http://dn.sapo.pt/2005/12/04/sociedade/30_semabrigo_entre_e_anos.h

tml . 

 

23 

Dias, Sofia Lobato (2007), “Há dois milhões de pobres em Portugal”, 16 

de Outubro. Diário Económico. Página consultada em 21 de Dezembro de 

2008. Disponível em 

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/edicion_impre

sa/economia/pt/desarrollo/1046490.html . 

 

Farrell, Gilda (2000), “Lutar contra a exclusão social no meio rural”. 

Observatório Europeu LEADER. Página consultada em 20 de Dezembro de 

2008. Disponível em 

http://www.fao.org/sard/static/leader/pt/biblio/exclusion.pdf . 

 

Lucci, Elian Alabi (2003), “Verdadeiro Sentido da Pobreza”. Página 

consultada em 21 de Dezembro de 2008. Disponível em 

www.hottopos.com/rih6/elian.htm.  

 

OIKOS‐ Página consultada em 20 de Dezembro de 2008. Disponível em  

www.oikos.pt.  

 

Pobreza Zero‐ página consultada em 20 de Dezembro de 2008. Disponível 

em www.pobrezazero.org.  

 

Ribeiro, Maria Eduarda (2007), “Caracterização e evolução da pobreza 

em Portugal”. Pagina consultada a 21 de Dezembro de 2008. Disponível 

em 

http://www.agencia.ecclesia.pt/instituicao/ktml2/files/61/Caracterizacao

_e_evolucao_da_pobreza_em_Portugal.pdf . 

 

24 

 

Wikipédia‐ página consultada em 20 de Dezembro de 2008. Disponível 

em http://pt.wikipedia.org/wiki/Exclus%C3%A3o_social .  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

25 

Anexos 

 

A‐ Página da Internet avaliada 

 

 

 

 

 

 

 

B‐ Texto de suporte à ficha de leitura  

 

CAIS: 

Um Projecto de Integração para os Sem‐Abrigo 

Reis Marques (Revista Cais) 

Resumo:  Neste  artigo  apresenta‐se  o  projecto  da  revista  "Cais",  revista  por‐tuguesa de apoio à reinserção social dos sem‐abrigo, caracterizando‐se o projecto, a sua recente experiência e os seus objectivos. 

Palavras chave: "Cais", jornal do sem‐abrigo. 

         

A  associação  de  Solidariedade  Social  CAIS  nasce  a  20  de Maio  de  1994, inspirada  num modelo  inglês  "THE  BIG  ISSUE",  que  edita  unia  revista  com  este mesmo nome. Foi a  revista  "FÓRUM ESTUDANTE" que então pegou no modelo inglês e o concretizou aqui em Portugal, destinada a  indivíduos "SEM ABRIGO E MARGINAIS". 

Conhecendo a psicologia dos destinatários do nosso projecto, pessoas sem auto  estima,  e,  portanto,  sem  possibilidades  psíquicas  de  enfrentarem  os problemas da vida, é objectivo desta iniciativa levar estas pessoas a encontrarem‐‐se consigo próprias, a ganharem confiança nas suas possibilidades, e assim fazerem a sua integração social. 

Todo este "PROJECTO" consta de duas vertentes: a integração dos indivíduos no campo do trabalho e o acompanhamento por técnicos especializados a fim de ajudarem as pessoas a saírem do seu estado de marginalidade. 

Para darmos resposta a este objectivo, passámos a editar a revista CAIS, à base de  fotojornalismo, que  , nos primeiros  sete números,  tratou dos principais acontecimentos ocorridos no mês, passando a ser uma revista temática a partir do número oito, com a periodicidade mensal desde Dezembro de 1994. 

Estava  criado  um  campo  de  trabalho  digno,  onde  estas  pessoas  podiam começar a sua  inserção na vida profissional, criando hábitos de  trabalho, que os levaria a ambicionarem outros modelos de vida. 

Reconhecendo o esforço das organizações não governamentais já existentes no  terreno,  e,  não  querendo  duplicar  acções,  optámos  por  um  espírito  de cooperação  com  essas  organizações,  apresentando‐lhes  um meio  de  poderem oferecer  aos  seus  protegidos  a  possibilidade  de  ganharem  as  suas  vidas  digna‐mente. Assim, a CAIS  faz a gestão de vendas da  sua  revista através dessas  insti‐tuições  de  solidariedade  social  que  aderiram  ao  PROJECTO,  ao  preço  de  esc. 250$00  (duzentos e  cinquenta escudos),  sendo esc. 200$00  (duzentos escudos) para o vendedor e esc. 50$00  (cinquenta escudos) para a respectiva associação a que o vendedor pertence, a fim de fazer face a possíveis encargos. 

De referir, que a Associação Cais, enquanto associação sem  fins  lucrativos não tem qualquer proveito na sua actividade, vivendo apenas de quotas dos seus associados e de subsídios de entidades oficiais e de privados. A maior compensação que desejamos ter, é contribuirmos, ainda que minimamente, para a recuperação de populações excluídas. 

Naturalmente  toda  a  gestão  do  PROJECTO  obedece  a  regras  que  estão previamente  estabelecidas,  quer no  relacionamento  da Associação  CAIS  com  as diversas  Instituições de Solidadiedade, quer entre estas e os seus vendedores, e estes também têm as suas regras de conduta. 

Dando alguns exemplos: 

‐ A cada vendedor é distribuído, no máximo, trezentas revistas por mês, para que adquirindo hábitos de trabalho, o indivíduo possa procurar outras actividades profissionais 

Há excepções para casos especiais: 

‐ Cada vendedor tem de estar devidamente identificado e não pode exercer outra actividade com a identificação da Cais. 

‐ Há zonas de venda específicas para cada vendedor, para evitar conflitos. 

- Sendo a primeira remessa de revistas entregues ao vendedor gratuita mente, a segunda remessa só pode ser entregue contra o pagamento dos esc. 50$00 (cinquenta escudos) por cada revista da entrega anterior, a fim de os responsabilizar. 

- As revistas são‐lhes entregues em doses diárias, para que ele aprenda a gerir as suas finanças. 

Toda esta actuação tem um objectivo pedagógico que é acompanhado por técnicos  das  diversas  associações,  como  atrás  já  dissemos.  Não  é,  no  entanto, objectivo  do  Projecto  que  estas  pessoas  fiquem  definitivamente  a  vender  a revista, mas  sim,  contribuir para a  sua plena  integração  social,  levando‐as a  cri‐arem gosto pela vida, a encontrarem a sua auto‐estima e dar‐lhes um pouco de ambição e oportunidade para "voos mais altos" que os leve depois a encontrarem outros modos de vida. 

Dado  que  este  Projecto  é  único  no  país,  não  havendo  portanto  qualquer experiência nesta área,  tivemos de usar algumas cautelas,  limitando‐nos a áreas geográficas restritas, onde os problemas de exclusão social são maiores, e vamos alargando  conforme  julgamos  conveniente.  Temos  funcionado  em  Almada, Lisboa, Porto e Viana do Castelo, num  total de  treze associações e cerca de cem vendedores, estando para breve o alargamento a Coimbra, Setúbal e Faro, sendo nosso desejo atingirmos todo o País. 

O Projecto Cais tem sido muito bem aceite pelo público em geral e até com rasgados  elogios  e muitas  expressões de  carinho,  como poderei  ler  algumas.  Se alguns problemas tem havido, deve‐se ao comportamento de alguns vendedores que vendem a revista mais cara que o preço da capa, que vendem revistas antigas sem avisarem o cliente e até aceitando assinaturas, quando não temos qualquer espécie  de  assinantes.  Embora  estas  atitudes  nos  entristeçam,  e  sejam motivo disciplinar, não nos surpreendem e não desmotivam, antes pelo contrário, mais nos obrigam a esforçarmo‐nos para os ajudar a alterarem o seu comportamento. 

Estão V Exas., neste momento a perguntar "e quais os resultados práticos do Projecto?" 

Reconhecemos  que  há  dois  tipos  de  indivíduos  nesta  circunstâncias:  os excluídos de longa data e que nunca fizeram nada para saírem desta situação, e os que  foram  cair  na  marginalidade  da  vida,  pelas  mais  diversas  circunstância  e razões.  Os  primeiros,  com  mais  dificuldade  de  ultrapassarem  a  situação,  os segundos, com mais possibilidades de recuperação. 

Sabemos,  também,  que  os  problemas  humanos  não  se  resolvem  dum momento para o outro: É necessária uma caminhada, por vezes  longa, e o nosso 

Projecto  é muito  jovem,  tem praticamente dois  anos  e meio. Mas, no  entanto, podemos testemunhar que já alguns sem‐abrigo, vendedores de revistas deixaram de a vender e arranjaram trabalho noutras áreas como seguranças, taxistas, ser‐ventes de refeitório, etc. 

Outra problemática foi‐nos posta em relação à admissão dos vendedores: Os indivíduos suspeitos de toxicodependência podiam ser vendedores? Seria que o proveito das vendas serviria para a compra de droga? Após aturada reflexão e discussão, decidimos que a Cais não deveria fechar as portas a ninguém, desde que  devidamente  integrado  nas  regras  do  Projecto.  A  história  veio  a  dar‐nos razão. 

Sendo muito modesto o  contributo do PROJECTO CAIS para  a  resolução deste grande problema da reinserção Social de tantos SEM ABRIGO no nosso país, julgamos  ser de algum modo uma maneira de alertar a nossa  sociedade para uma situação complicada e crescente, sem vislumbrarmos qualquer solução para o problema. A marginalidade é uma  chaga da  sociedade, que  esta  teima apor de lado,  ignorando  o  assunto.  Como  atrás  já  referi,  havendo  duas  causas  de marginalidade, a que resulta da própria psicologia do  indivíduo e a que é gerada pela  sociedade,  esta  tem  sempre  responsabilidade  na  situação,  não  podendo acomodar‐se  sem nada  fazer, e  criando  situações novas  sem nada  fazer para as evitar, remetendo as culpas para o Estado. 

É necessário para as entidades públicas e privadas façam uma convergência de  esforços,  saindo  do  seu  comodismo,  para  que  lancemos mãos  deste  terrível problema. 

Também  da  comunicação  social  é  esperada  maior  colaboração  com  as actividades de solidariedade social, a fim de que a sociedade tome conhecimento de  todo este movimento e entusiasme pessoas de boa vontade para  trabalharem neste  campo,  principalmente  os  nossos  jovens  que  tanto  necessitam  que  lhes sejam apontados os grandes valores da vida. 

Constatamos  que  grande  parte  da  comunicação  social  é  veículo  e  ampli‐ficador da violência e do sensacionalismo. 

Os grandes valores da  solidariedade, e as  iniciativas de promoção desses mesmos valores, não têm o lugar que deviam ter nos meios da comunicação social. 

Perante  tal  situação,  como  dar  a  conhecer  tantas  iniciativas  boas  que  a nossa sociedade ainda  tem, e que seriam opções para quem deseja participar na construção de uma sociedade mais fraterna? 

O PROJECTO CAIS é uma iniciativa que pretende ser útil à sociedade mas que precisa da sociedade. 

CAIS  ‐ Ponto de chegada e ponto de partida,  lugar seguro para os barcos que querem fugir ao temporal, e que querem abastecer‐se de mantimentos para a viagem. 

CAIS  ‐  E  também  lugar  de  encontro  com  alguém  que  nos  pode  dar  uma palavra  de  carinho  e  amizade,  o  aperto  de  mão,  o  abraço  amigo,  o  abraço 

inesquecível para aqueles que nunca sentiram o calor da família, o conselho do pai ou da mãe e caindo na marginalidade da vida, a sociedade os esqueceu. 

CAIS no início da viagem desejada, rumo a um porto feliz.