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POEMAS
Com patas de fogoum cavalo rasga o vento:pousa em meus sonhos.
Arabescos no Vento, ed. Prumo, ilustrações de Elvira Vigna
Amor é o cais,um veleiro se aproxima,as águas ssussurram
Arabescos no Vento, ed. Prumo, ilustrações de Elvira Vigna
Um beijo douradovarre o corpo com luz,ilumina o céu.
Arabescos no Vento, ed. Prumo, ilustrações de Elvira Vigna
NEBULOSAS
Tem pessoas que amamosde amor tão intensoque com seus gestos-palavrasvão fabricando nebulosasdentro do corpo da gente
Poemas de Céu, ed. Paulinas, ilustrações de mari Ines Piekas
ESTRELA CADENTE
Quando eu estivercom o olhar distante,maninha,com um jeito esquisitode quem não está presente,não se assuste,ó maninha,fui logo ali,no quintal do céu,colher uma estrela cadente.
Poemas de Céu, ed. paulinas, ilustrações de Mari Ines Piekas
TRAPEZISTA
A trapezista brinca no balançotoda vestida de brancoe braceletes no braço.
Não tem medo a trapezista
salta, gira e desafia,seu corpo miúdo pareceum simples traço no espaço.
Fardo de carinho, ed. Lê, il. Elvira Vigna
AMIGO
No rumo certo do vento,amigo é nau de se chegarem lugar azul.Amigo é esquinaonde o tempo parae a Terra não gira,antes paira,em doçura contínua.Oceano tramando sal,mel inventando fruta,amigo é estrela sempreno rumo certo do vento,com todas as metáforas,luzes, imagensque sua condição de estrela contém.
Poemas de Céu, ed. Paulinas, ilustrações de mari Ines Piekas
RIACHINHO
As águas clarasme contam segredosde sol, de céu, de are cantam acalantosde ninarenquanto correm ligeirasda montanha para o mar.
Fardo de carinho, ed. Lê, ilustrações de Elvira Vigna
HORIZONTE
Se eu apagasse a fina linhado horizonteserá que o céu cairiano mar?E as estrelas e a luacomeçariam a navegar?
Ou será que o mar virariacéue os peixes aprenderiama voar?
Fardo de carinho, ed. Lê, il.Elvira Vigna
CAIXINHA MÁGICA
Fabrico uma caixa mágicapara guardar o que não cabeem nenhum lugar:a minha sombraem dias de muito sol,o amarelo que sobrado girassol,um suspiro de beija-flor,invisíveis lágrimas de amor.
Fabrico a caixa com vento,palavras e desequilíbrio,e para fechá-lacom tudo o que leva dentro,basta uma gota de tempo.
O que é que você queresconder na minha caixa?
TRANSFORMAÇÃO
Fabrico uma árvorecom uma simples semente,terra escura e quieta,umas gotas de água.
Pouco a pouco,de lua em lua,de folha em folha,enquanto o tempodesenha arabescosem meu rosto,minha árvore se transformaem poema vivo,suas letras são flores,são frutos, são música
Fábrica de poesia, Ed. Scipione, 2008
MEL
Na curva da primavera,no alto da montanha,abelhas fabricam mel.zumbem, dançam, rodopiam,cantam para as floreso azul do dia.
COMIDA DE SEREIA
O que será que a sereia comeem seu castelo de areia?Enquanto penteia os cabelosa panela esquenta na cozinha:será que a sereia come anêmonas,ostras, cavalos-marinhos?Ou delicados peixinhos de olhosdourados?Algas marinhas, lulas, sardinhas?Polvos, mariscos, enguias,ou será que a sereia come poesia?
ELFOS
Elfos comem o perfumedas flores trazido pelovento,comem os mais belospensamentos,e as cores do diaque o galo faz.Comem o canto do galo,as melodias dos pássarosazuis,comem a luz que cintilana folha cheia de orvalho.Elfos comem a sombra da lua,o brilho da estrelaque já não existe mais.
Poemas e Comidinhas, Ed. Paulus, 2008
JOGO DA VERDADEA verdade é um labirinto.
Se digo a verdade inteira,se digo tudo o que penso,se digo com todas as letras,com todos os pingos nos is,seria um deus-nos-acuda,entraria um sudoestepela janela da sala.Então eu digo a verdade possível,e o resto guardoa sete chavesno meu cofre de silêncios.
PIÃO
Um pião se equilibrana palma da mão,no chão, na calçada,
e alado vai rodandopor cima dos telhados,gira entre as nuvens,cada vez mais alto,até que num saltoalcança a luae rolaaté o seu lado oculto.Faz a curva o piãoe ruma para Saturno,tropeça nos anéis,dá três cambalhotas,se penduranuma estrela cadentee, sem graça,volta para a palma da mão.
FADAS E BRUXAS
Metade de mim é fada,a outra metade é bruxa.Uma escreve com sol,a outra escreve com a lua.Uma anda pelas ruascantarolando baixinho,a outra caminha de noitedando de comer à sua sombra.Uma é séria, a outra sorrí;uma voa, a outra é pesada.Uma sonha dormindo, a outra sonha acordada.
in Pêra, Uva ou Maçã, ed. Scipione, 2005
QUINZE
Ecoa nos ares o minarete,e dele escapaum grito pungente,feito pássaro que houvessefugidode uma gaiola dourada.É a hora sagrada:todo homem tem um encontro marcado com Deuse mistura as orações com saliva,como a mãe que ofereceao filhopedaços da sua própria comida.
CINCO
Percorrer o silêncio do deserto,
sua espinha dorsalfeita de murmúrios, vertigens,caravanas, o ruminar dos camelos.
Numa noite escurauma fonte escondidafabrica sonhos e água.
VINTE E DOIS
Rente ao muroo homem caminha.Seu corpo encharcadode oraçõescarrega um bastão sagrado.Com seus passos costurao oriente ao ocidente.
in Desertos, ed. Objetiva, 2006
ATLÂNDIDA
O caminho para a Atlântidaé de terra ou de luar?é de linho, lã ou ventoo chão que devo pisar?
Parto agora para a Atlântida,por estradas que invento,passo perto de Pasárgada,cruzo fronteiras no céue descubro que a Atlântidafica na esquina de mim.
JANELAS
Em todas as janelas me debruço,em todos os abismosestendo uma cordae caminho sobre o nada.Também ando sobre as águas,subo em nuvens,galgo intermináveis escadas.Abro todas as portas e cavernas com um soproou três palavras mágicas.Mergulho em torvelinhos,danço no meio do vento,pulo dentro da tempestade.Em cada encruzilhada me sentoe tento arrumar o destino,estranho castelo de areia.
AVESSO
Atravessaria um rio grossono meio da noitepara decifrar tuas pegadas,o rastro luminoso dos teus olhos.
Atravessaria a superfície silenciosa dos espelhospara ver o teu avesso.
Caminharia sobre águae fogopara soletrar teu corpo.
in Recados do Corpo e da Alma, ed. FTD, 2003
MULHERES ACROBATAS
Onde se esconde a nascentedos sonhos?Em que alta montanhaou profundeza de abismo?Em que curva de rioou espuma de onda?Em que gaze esgarçadaou doçura de vento?
Nas estradas batidaspor unicórnios e silênciosos saltimbancos vão passandorumo ao coração de cada umcom seus trapézios e luze mulheres acrobatas.
NOVELO
Com fina linha prateadao sonhador borda a sua vida:na fronteira entre o dia e a noite,entre uma estrela e outra,uma palavra e sua sombra,ergue um castelo de vento,desfralda as bandeiras da paz.
PAUL KLEE
Os olhos como barcos,entro escondidanum quadro do Klee.O céu é a rua,e o equilibrista,quase sem respirar,me ensina os segredos da vida.Sobretudo, ele me diz,
é preciso saber conservaras pernas no are manter o olhar perdido;Carregar pedaços de luano pensamento e sonhar.
A vida é pura navegaçãoe saio do quadrocomo um pássaro invisível.
in Residência no Ar, ed. Paulus, 2007
VENTO
assim me chama o ventome despenteia os cabelosnas teias do precipícioa vida começa hojecomeça sempredesde o nada até a medulatodos os diascolar os ossose ouvir o ruídosubterrâneo de um rioa vida começa hojesempre por um fioa alma é um pênduloleva as horas de encontroàs pedras.
PARTIDA
Hoje arrumo as floresem cima da mesaas frutas na memóriaquero um dia bem simplesalguma luz pousadana superfície da água
hoje chamo para mimamorosas palavrasque vivam um diaperto do meu coraçãoque corram pela casacom sua mistura de mel e espanto
alguém parte com um ruído secoalguém sempre está partindo
SINOS
quando estava sónos meus vastos camposde machucadas orquídeas
e silêncioe à noite bebia em taças opacasestrelas líquidas e passadoe o vento do desertome alcançava trazendoo rumor dos mortosvocê chegoucom vassoura de luzvarreu a casa e limpou os sinos
in Poesia Essencial, ed. Manati, 2002
Com patas de fogoum cavalo rasga o vento:pousa em meus sonhos.
Arabescos no Vento, ed. Prumo, ilustrações de Elvira Vigna
Amor é o cais,um veleiro se aproxima,as águas ssussurram
Arabescos no Vento, ed. Prumo, ilustrações de Elvira Vigna
Um beijo douradovarre o corpo com luz,ilumina o céu.
Arabescos no Vento, ed. Prumo, ilustrações de Elvira Vigna
NEBULOSAS
Tem pessoas que amamosde amor tão intensoque com seus gestos-palavrasvão fabricando nebulosasdentro do corpo da gente
Poemas de Céu, ed. Paulinas, ilustrações de mari Ines Piekas
ESTRELA CADENTE
Quando eu estivercom o olhar distante,maninha,com um jeito esquisitode quem não está presente,não se assuste,ó maninha,fui logo ali,no quintal do céu,colher uma estrela cadente.
Poemas de Céu, ed. paulinas, ilustrações de Mari Ines Piekas
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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AMIGO
No rumo certo do vento,amigo é nau de se chegarem lugar azul.Amigo é esquinaonde o tempo parae a Terra não gira,antes paira,em doçura contínua.Oceano tramando sal,mel inventando fruta,amigo é estrela sempreno rumo certo do vento,
RIACHINHO
As águas clarasme contam segredosde sol, de céu, de are cantam acalantosde ninarenquanto correm ligeirasda montanha para o mar.
Fardo de carinho, ed. Lê, ilustrações de Elvira Vigna
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com todas as metáforas,luzes, imagensque sua condição de estrela contém.
Poemas de Céu, ed. Paulinas, ilustrações de mari Ines Piekas
HORIZONTE
Se eu apagasse a fina linhado horizonteserá que o céu cairiano mar?E as estrelas e a luacomeçariam a navegar?
Ou será que o mar virariacéue os peixes aprenderiama voar?
Fardo de carinho, ed. Lê, il.Elvira Vigna
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
TRAPEZISTA
A trapezista brinca no balançotoda vestida de brancoe braceletes no braço.
Não tem medo a trapezistasalta, gira e desafia,seu corpo miúdo pareceum simples traço no espaço.
Fardo de carinho, ed. Lê, il. Elvira Vigna
CAIXINHA MÁGICA
Fabrico uma caixa mágicapara guardar o que não cabeem nenhum lugar:a minha sombraem dias de muito sol,o amarelo que sobrado girassol,um suspiro de beija-flor,invisíveis lágrimas de amor.
Fabrico a caixa com vento,palavras e desequilíbrio,e para fechá-lacom tudo o que leva dentro,basta uma gota de tempo.
O que é que você queresconder na minha caixa?
TRANSFORMAÇÃO
Fabrico uma árvorecom uma simples semente,terra escura e quieta,umas gotas de água.
Pouco a pouco,de lua em lua,de folha em folha,enquanto o tempodesenha arabescosem meu rosto,minha árvore se transformaem poema vivo,suas letras são flores,são frutos, são música
Fábrica de poesia, Ed. Scipione, 2008
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
MEL
Na curva da primavera,no alto da montanha,abelhas fabricam mel.zumbem, dançam, rodopiam,cantam para as flores
COMIDA DE SEREIA
O que será que a sereia comeem seu castelo de areia?Enquanto penteia os cabelosa panela esquenta na cozinha:será que a sereia come anêmonas,
o azul do dia. ostras, cavalos-marinhos?Ou delicados peixinhos de olhosdourados?Algas marinhas, lulas, sardinhas?Polvos, mariscos, enguias,ou será que a sereia come poesia?
ELFOS
Elfos comem o perfumedas flores trazido pelovento,comem os mais belospensamentos,e as cores do diaque o galo faz.Comem o canto do galo,as melodias dos pássarosazuis,comem a luz que cintilana folha cheia de orvalho.Elfos comem a sombra da lua,o brilho da estrelaque já não existe mais.
Poemas e Comidinhas, Ed. Paulus, 2008
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
JOGO DA VERDADEA verdade é um labirinto.
Se digo a verdade inteira,se digo tudo o que penso,se digo com todas as letras,com todos os pingos nos is,seria um deus-nos-acuda,entraria um sudoestepela janela da sala.Então eu digo a verdade possível,e o resto guardoa sete chavesno meu cofre de silêncios.
PIÃO
Um pião se equilibrana palma da mão,no chão, na calçada,e alado vai rodandopor cima dos telhados,gira entre as nuvens,cada vez mais alto,até que num saltoalcança a luae rolaaté o seu lado oculto.Faz a curva o piãoe ruma para Saturno,tropeça nos anéis,dá três cambalhotas,se penduranuma estrela cadentee, sem graça,volta para a palma da mão.
FADAS E BRUXAS
Metade de mim é fada,a outra metade é bruxa.Uma escreve com sol,a outra escreve com a lua.Uma anda pelas ruascantarolando baixinho,a outra caminha de noitedando de comer à sua sombra.Uma é séria, a outra sorrí;uma voa, a outra é pesada.Uma sonha dormindo, a outra sonha acordada.
in Pêra, Uva ou Maçã, ed. Scipione, 2005
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
QUINZE
Ecoa nos ares o minarete,e dele escapaum grito pungente,
CINCO
Percorrer o silêncio do deserto,sua espinha dorsalfeita de murmúrios, vertigens,
feito pássaro que houvessefugidode uma gaiola dourada.É a hora sagrada:todo homem tem um encontro marcado com Deuse mistura as orações com saliva,como a mãe que ofereceao filhopedaços da sua própria comida.
caravanas, o ruminar dos camelos.
Numa noite escurauma fonte escondidafabrica sonhos e água.
VINTE E DOIS
Rente ao muroo homem caminha.Seu corpo encharcadode oraçõescarrega um bastão sagrado.Com seus passos costurao oriente ao ocidente.
in Desertos, ed. Objetiva, 2006
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
ATLÂNDIDA
O caminho para a Atlântidaé de terra ou de luar?é de linho, lã ou ventoo chão que devo pisar?
Parto agora para a Atlântida,por estradas que invento,passo perto de Pasárgada,cruzo fronteiras no céue descubro que a Atlântidafica na esquina de mim.
JANELAS
Em todas as janelas me debruço,em todos os abismosestendo uma cordae caminho sobre o nada.Também ando sobre as águas,subo em nuvens,galgo intermináveis escadas.Abro todas as portas e cavernas com um soproou três palavras mágicas.Mergulho em torvelinhos,danço no meio do vento,pulo dentro da tempestade.Em cada encruzilhada me sentoe tento arrumar o destino,estranho castelo de areia.
AVESSO
Atravessaria um rio grossono meio da noitepara decifrar tuas pegadas,o rastro luminoso dos teus olhos.
Atravessaria a superfície silenciosa dos espelhospara ver o teu avesso.
Caminharia sobre águae fogopara soletrar teu corpo.
in Recados do Corpo e da Alma, ed. FTD, 2003
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
MULHERES ACROBATAS
Onde se esconde a nascentedos sonhos?Em que alta montanhaou profundeza de abismo?Em que curva de rioou espuma de onda?Em que gaze esgarçadaou doçura de vento?
Nas estradas batidaspor unicórnios e silênciosos saltimbancos vão passandorumo ao coração de cada umcom seus trapézios e luze mulheres acrobatas.
NOVELO
Com fina linha prateadao sonhador borda a sua vida:na fronteira entre o dia e a noite,entre uma estrela e outra,uma palavra e sua sombra,ergue um castelo de vento,desfralda as bandeiras da paz.
PAUL KLEE
Os olhos como barcos,entro escondidanum quadro do Klee.O céu é a rua,e o equilibrista,quase sem respirar,me ensina os segredos da vida.Sobretudo, ele me diz,é preciso saber conservaras pernas no are manter o olhar perdido;Carregar pedaços de luano pensamento e sonhar.
A vida é pura navegaçãoe saio do quadrocomo um pássaro invisível.
in Residência no Ar, ed. Paulus, 2007
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
VENTO
assim me chama o ventome despenteia os cabelosnas teias do precipício
PARTIDA
Hoje arrumo as floresem cima da mesaas frutas na memória
a vida começa hojecomeça sempredesde o nada até a medulatodos os diascolar os ossose ouvir o ruídosubterrâneo de um rioa vida começa hojesempre por um fioa alma é um pênduloleva as horas de encontroàs pedras.
quero um dia bem simplesalguma luz pousadana superfície da água
hoje chamo para mimamorosas palavrasque vivam um diaperto do meu coraçãoque corram pela casacom sua mistura de mel e espanto
alguém parte com um ruído secoalguém sempre está partindo
SINOS
quando estava sónos meus vastos camposde machucadas orquídease silêncioe à noite bebia em taças opacasestrelas líquidas e passadoe o vento do desertome alcançava trazendoo rumor dos mortosvocê chegoucom vassoura de luzvarreu a casa e limpou os sinos
in Poesia Essencial, ed. Manati, 2002
Vinhetas: Roger Mello, Jardins, Ed. MANATI artwebrio -
Há mais ou menos sete anos, num dos meus primeiros contatos “adultos” com a literatura infantil, li “Receita de arrumar gaveta” de Roseana Murray:
separe coisa por coisa:de um lado o pólen do passadoas raízes do que foi importanteos retratos os bilhetesos horários de chegadade todos os navios-piratasos sinos que anunciamque há um amigo na estrada
do outro lado um espaço vaziopara o que vai aconteceras surpresas do destinoos desatinos do acaso
– Receitas de olhar, FTD.
http://www.roseanamurray.com/ebook/
http://www.jornalpoiesis.com/mambo/index.php?option=com_content&task=category§ionid=1&id=79&Itemid=69&limit=10&limitstart=10
http://adao.blog.uol.com.br/
:: Todos > Resenhas > Livros
Texto
ROSEANA MURRAY e suas receitas-poemas
Há certa semelhança nos formatos de uma receita e de um poema e nos dois casos as informações são precisas, diretas, sintetizadas... e contém ingredientes diversos que combinados resultam em algo de bom sabor, que
deleita e sacia as vontades. Roseana Muray explora essas coincidências na série de poemas Receitas de Olhar – na realidade um livro voltado para o público juvenil, mas que atinge a todos.
a chave é pequenade ouro e coragem
o coração é labirinto viagemmuralha abismo trapézioporta aberta para o outrogaveta aberta para a vida
(Receita de abrir o coração)
...As suas poesias-receitas não enfatizam as medidas da receita mas o modo de fazer. Ensinam a tocar o outro,
abrir o coração e desamarrar os nós nas relações.
desamarre os nós do sapatodepois desamarre os pés
desamarre os laços inúteisos nós do que não serve mais
desamarre o barco do caisos nós das janelas
e então deixo o vento....
(Receita de desamarrar nós)
...As poesias-receitas de Roseana Muray valorizam o tempero, o detalhe, a simplicidade e prevêm o improviso:
faça um caretae mande a tristeza
pra longe pro outro ladodo mar ou da lua
vá para o meio da ruae plante bananeira
faça alguma besteira
depois estique os braçosapanhe a primeira estrelae procure o melhor amigo
para um longo e apertado abraço
(Receita de espantar a tristeza)
...Segundo a ilustradora Elvira Vigna, as “receitas” de Roseana Murray deixam espaço para que o leitor
igualmente possa colocar ou descobrir coisas dentro delas.
nas primeiras horas da manhãdesamarre o olhar
deixe que se derramesobre todas as coisas belaso mundo é sempre novoe a terra dança e acorda
em acordes de sol
faça do seu olhar imensa caravela
(Receita de olhar)
...Roseana Murray nasceu no Rio de Janeiro, onde vive até hoje. É casada, tem dois filhos e mais de quarenta
livros publicados. Roseana gosta de animais e de viajar pelo mundo, olhando as coisas e as pessoas. Além de escrever poemas para gente de todas as idades, ela visita feiras de livros e escolas, onde trabalha junto com
professores e alunos. Suas poesias falam de coisas simples como amor, peixes e flores*.
Se pudéssemos plantar palavras,como se planta uma árvore,
tantos frutos invisíveiscontido sem seu silêncio,tanta sombra ao meio-dia
em seu futuro,palavras simples e quentes,amor, pão, mel, encontro,as sementes seriam aladas,e o vento varreria o jardim,
então, pouco a pouco,atravessando montanhas,
mares, cidades,a paz cobriria o mundo
(Árvores in Rios da alegria)
...Segundo Annete Baldi, Roseana Murray não enfatiza a sonoridade, pois observa-se que muitos de seus poemas
têm versos livres e há despreocupação com a rima. A ênfase da sua carpintaria poética está no significado: encontra-se nas comparações e nas oposições de sentidos que usa em abundância. E o resultado é a mobilização
do leitor, da sua sensibilidade, pela força das imagens sensoriais que surgem através da leitura.Leia mais sobre Roseana Muray: http://www.docedeletra.com.br
*Outra referência deste texto: http://www.edukbr.com.br/leituraeescrita/setembro02/iautores.asp
Raul Los DiasPublicado no Recanto das Letras em 26/02/2007
Código do texto: T393809