Poemas Insones - rl.art.br · a expressão pura do viver, ou até mesmo na angústia. Prefaciar...
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Copyright by Jonas da Cruz Amaral2017
Capa Neohub
Revisão Rogéria Carvalho/A.L.Gama
Projeto gráfico, Editoração e impressão Editar Editora Associada (32) 3213-2529 / 3241-2670 Juiz de Fora – MG www.editar.com.br
Todos os direitos reservados ao autor
Dados internacionais de catalogação na publicação
A479p Amaral, Jonas da Cruz
Poemas Insones / Jonas da Cruz Amaral, Juiz de Fora: Editar Editora Associada Ltda, 2017.
ISBN: 978-85-7851-???-?
Literatura, Brasil
CDD B869 CDU 82-1
PrefácioJoão José da Silva
Filósofo
“Um poeta não escreve... Esboça sentimentos!” Poemas insones despertou-me a nostalgia... Enquanto absorvido pelas palavras na leitura, imaginei o velho poeta... Aquele poeta que com seu velho tinteiro descrevia sentimentos, e em uma folha de papel ou até mesmo um guardanapo, transferia a pura emoção esboçada em palavras tocando o coração e a alma dos amantes, dos apaixonados, das donzelas, das senhoras, das mocinhas, e dos jovens senhorzinhos de calças curtas... Velhos tempos, hoje os tinteiros e até mesmo as máquinas datilográficas são peças de museu... A poesia sobreviveu... E sobreviverá, nos velhos, e nem tão velhos computadores, e que já viraram notebooks, que daqui a algum tempo se tornarão obsoletos e também peças de museu, mas a poesia... Ah! Esta não... Sobreviverá, e que venham as tecnologias, e que venham novas formas de comunicação, a poesia é imortal, sobrevive em cada poeta, em cada coração apaixonado, em cada alma vivente que tem no amor a expressão pura do viver, ou até mesmo na angústia. Prefaciar este livro para o nobre amigo Jonas fez-me refletir sobre a amizade, o quanto ela é importante e nos faz mais fortes a cada dia... Existem amigos que são verdadeiros irmãos, pessoas de quem vale a pena estarmos próximos, mesmo que distantes, o respeito e a admiração nos aproximam;
nossa amizade, dos tempos de graduação em um passado próximo nos ligou em debates acalorados de extrema abstração filosófica... Jonas, é para além do filósofo, é um poeta e como tal em palavras, esboça sentimentos e até mesmo a racionalidade do filósofo, a ele nossa admiração e respeito. Voltando à nostalgia e aos velhos poetas, Castro Alves, Gonçalves Dias, Bilac, Drummond, e tantos outros que consumiram tinteiros, papeis e teclados mecanográficos, a estes grandes e geniais, também se achega Jonas e o que o difere daqueles, é somente a ferramenta física de trabalho, tinteiros e máquinas datilográficas que não existem mais, a informática os destituiu de suas funções; porém, a ferramenta intelectual tal qual aqueles, Jonas utiliza de forma genial, e em um futuro talvez não muito próximo, quem sabe?... Nosso nobre amigo será lembrando entre os grandes. Fecho este prefácio falando sobre a obra tal qual Simplesmente Palavras – outra obra de Jonas –, vale a pena ler e degustar a viagem a que o poeta nos propõe, a da imaginação, do devaneio, do pensar, e do sentir... E por alguns instantes prazerosos de leitura, sonhar e nunca deixar de sonhar... Encerrando, cito nosso autor: “um homem precisa acreditar em seus sonhos”.1
1 AMARAL, Jonas da Cruz; Poemas Insones, 2017, Poema 12.
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1ficou calado para
não se comprometer melhor que enlouquecer roubaram suas palavras
decidiu esquecerele (no auge de sua timidez)
preferiu escreverseu poema ficou mudo
mesmo assim destruiu tudo
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al 2na casa fazia frio o homem se afogava no rio dos seus pensamentos ele criava monumentos para não morrer para não se perder e delirava,o vento devoravaos prédios desabavam e todos que ali estavam se enterravam
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3um barco navegando
em olhos oceânicos um olhar azul como
o mare tudo se afogava
o destino se reinventava e todo mundo morria
ele sorriapara não chorar
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al 4uma folha em branco sobre a mesa a menina Teresa sua poesia escrevianas paredes do quarto – no ar cheiro de mato –e quase tudo se perdia a menina seus remédios para depressão engolia
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7ele volta
anda pelo recinto se revolta
contra os revoltados contra os calados
contra os fardados ele volta
fecha a porta gesticula enquanto fala
quer saber qual é a finalidade quer conceber a imaginação
sai do recinto abandona a aula
abandona giz e quadro pede dois minutos
ele se perde em minutos em assuntos triviais
sua imaginação ficou presa do lado de dentro
do lado de dentro lado de dentro
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al 8ele acha que não vai morrer – a morte é para os fracos – ele não dá o braço a torcer não está acostumado a perderum trago no cigarro... ele já aprendeu a esquecer aprendeu a envelhecerele é nuvem, sol, poeira, chuva, silêncio, escuridão para ele a morte não existe ela é um delírio, uma ilusão
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9um silêncio se repartiu
no meio do nada todo mundo ouviu
sua voz de desespero cremaram o seu corpo
não teve enterrouma mulher silenciosa
dançou com a chuva no ritmo da chuva
pegou com as mãos os cacos do silêncio
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10no quarto gelado ouço Bob Dylan cantando: eu me sinto triste
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11ela disse que era para eu me calar
dou uma de surdo e continuo a falar
nesse instante ela volta os olhos para o livro que está lendo
e se esquece nas páginassentada no sofá
não me ouve chamar nem me sente sonhar
fico ali na sala olhando para ela enquanto ela lê seu livro
eu leio a face dela seus óculos de aro preto
sua blusa amarelavocê pode me mandar parar de falar mas não pode me impedir de pensar
penso em como se distanciou de mimsemana passada lia Paulo Coelho
hoje lê Francisco Alvimem pensamento eu digo coisas
que você não vai gostar de escutar eu não vou embrulhar
nossa vida em um papel de presente vagabundo
apago suas vírgulas destruo seus parágrafos
te dou um novo tom
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12[...] e vi que nem tudo está perdido nem todas as pessoas estão perdidas um homem precisa acreditar em seus sonhos
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13era tarde
bem tarde quando o mago
deixou sua cidadenão havia luz na rua
só a luz do seu coraçãoo mago escreveu
a sua contradiçãotambém leu
a sua extradiçãosozinho ele viajou
para as montanhas e nunca mais voltou
sozinho o mago ficoudizem que ele morreu
contava cento e cinco anos
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14no amanhecer você vai me ver vai se envolver vai me sentir vai me consumir no amanhecer vamos vencerno amanhecerseus pesadelos vão escurecer e você irá entenderos mistérios que cercam a existência os segredos que abraçam a Ausência irá dar as suas respostas abrirá as portas, as notas
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15a noite vai acabar
em um abismo (sem fim) ela vai mergulhar
um novo dia vai chegar outras lutas irei lutar
outros leões irei matar um novo ser
vai nascermorremos inúmeras vezes
em uma única existência não temos tempo a perder
um novo ser vai nascer
vai nascer e vai morrer vai perder e vai vencer
tudo passa a vida acaba
viramos poeira nada vai permanecer
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16você precisa do tempo escorrendo pelas janelas do seu corpo misturando-se com a poça d’água no chão você precisa dos segundos chovendo molhando as janelas da sua alma você precisa rabiscar as paredes do seu espírito deixar o seu coração livre para o amor você precisa ter calma fazer da paciência um vício
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17fantasmas rondam pelo apartamento vazio
em uma noite apagada buscam seus corpos
ninguém ouve ninguém vê
fantasmas rabiscam as paredes do quarto mancham de vermelho (será sangue?)
os rios da solidãomatam as vozes da ilusão
e atiram seus vícios no precipício
do suicídiono final entram todos no mesmo barco
e partem, vão embora para o mesmo lugar
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al 18era uma tarde chuvosa e escura uma tarde tomada por relâmpagos quando a menina entrou na casa da Morte que a recebeu com um chá era sombria, mas acolhedora a menina estava pálida e trazia um sorriso sereno segurava nas mãozinhas a sua boneca a única que tinha
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19chegou a noite estrelas no céu
o poeta morreu seu corpo foi cremado
os poemas afogados não resistiram
estão presos no fundo do seu oceano
o poeta ressurgiu das cinzas ultrapassou a escuridão
ele se transformou virou espelho
refletiu a sua face os seus cabelos negros
a noite - que se fez eternapara espanto do poeta
a noite chegou mais uma vez e mais uma vez...
era um ciclo sem fim tudo se repetia
em pedaços de eternidade a morte se engolia
ela se resolvia sozinha
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al 20quando o sono veio ele se deitou imediatamente esqueceu dos seus pensamentos afogou todos os seus tormentos e viajou para uma terra desconhecida lá ele encontrou um navio fantasmaao entrar no navio o homem foi engolido pelas sombras e nunca mais acordouo homem abriu os olhos levantou-se da cama e viveu o resto da sua vida como um espectro
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Jonas da Cruz Amaral
Poemas Insones
21o anjo ficou preso na multidão
não conseguiu voltar para a escuridão aproveitou e roubou sorrisos
lavou a alma dos indecisosdepois foi se aventurar
na solidão do deserto uma tempestade
arruinou seu passeio apagou o seu luar
e acalmou o seu mar
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al 22pedaços do céu caem, eles dormem: eles sonham no asfalto molhado no coração calado o céu é você (minha amada) seu corpo sua almanavego no rio da solidão navego sem nada nas mãos deixo você livre para partir deixo você livre para voltar porque amar é não possuir amar é deixar o outro voar
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Jonas da Cruz Amaral
Poemas Insones
23três e trinta e sete da manhã
e eu não consigo dormir eu não consigo morrer
nem por um segundo já andei – como um zumbi –
pela casae o sono não encontrei só encontrei o silêncio
noturno da insôniatropecei em alguns fantasmas
eles também estavam acordadosdeitado na cama não consigo
fechar os olhos eu não consigo evitar
só consigo pensar que preciso deixar
de pensar
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al 24olho pela janela e vejo as luzes os prédios
vejo uma única estrela no céuela está distante...um dia (assim como eu)ela morrerá
ouço o barulho dos carros passando na rua
sinto a minha colunasinto você aqui comigoa sua presença me edificaa sua presença - mesmo queseja apenas em minha imaginação -é tudo que trago em meu coração
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Poemas Insones
25Camila rabiscou um conjunto
de letras na parede do seu quarto desenhou um céu estrelado com o nome do seu amado
ao fundo o barulho da chuva no telhado
os pingos da chuva misturavam-se
com as suas lágrimas
com o seu coração machucado
ela está apaixonada sofrendo caladapor um homem
que nunca a amou
por um homem que com os seus
sentimentos
o tempo todo brincou
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al 26ande em seus trilhosseja um de seus filhosouça o que o silêncio tem a dizersinta o que ele traz para você (suas nuances, sua lucidez)e escreva as suas palavras nas paredes do seu coração
escreva suas palavras na areia o mar vai apagare o silêncio ao silêncio irá retornar e o poema ao poema voltará
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Jonas da Cruz Amaral
Poemas Insones
27antes do fim
antes das estrelasse apagarem
antes da mortecruzar com a sorte
antes do magovoltar a sua terra natal
haverá um novo começo uma nova luz irá brilhar outra melodia irá tocar
outro poeta vai balbuciar suas palavras ao vento
antes do fimantes das sombras
se ludibriarem antes do livro fechar
do avião decolarhaverá um outro céu
outra estrela vai nasceroutro fantasma irá vencer
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al 28eu preciso estar só olhar para a noitever as luzes nos prédios tomar os meus remédios libertar-me do tédio
eu preciso estar só combater a minha escuridão eu preciso ter os pés no chão ter o cálice nas mãos ter sonhos no coração
eu preciso estar só sentir o gosto da solidão o sabor suave da solidão beber do vinho da imaginação
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Jonas da Cruz Amaral
Poemas Insones
29um filósofo dorme
intragável em seus argumentosno navio (fantasma) da sua razãopara este filósofo Deus não existe
(o Deus criado pelos homens, o Deus das religiões)
um poeta dormeintragável em seus poemas
na embarcação da sua emoçãopara este poeta a Gramática é uma invenção
acordam os demôniosacordam os fantasmas
tudo está escurode repente, a luz
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30eu não tenho nadasó tenho nuvense alguns poemassó tenho soluçõespara os meus problemaseu não tenho nadasó tenho trilhaseu sou uma trilha
(eu me perco nesses caminhos)eu só tenho o meu silêncioe o meu destinosó a minha sanidadee o meu delírio
minhas noites são sempre caladaso meu céu não tem a sua Estrelaminhas noites são sempre iguais
eu só tenho nuvens
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Jonas da Cruz Amaral
Poemas Insones
31quando eu acordo
eu me vejo em silêncioa noite cospe as suas palavras
como chuva
elas inundam a minha alma
apago suas palavras com lágrimascom lágrimas de tempestadetento entender, não consigo...
já é tardeeu desisto
não abro a porta, não insisto
tomo meu calmantee volto a dormir
e a noite cospe o seu silêncioem minhas palavras
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32fugir daquidesse quartodessas gradesdessa mente
(minha alma já nãoaguenta mais sofrer, eu quero morrer)
cansei...
quero fugir de mim
o homem é livreele só não é livrepara fugir de si mesmo
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Jonas da Cruz Amaral
Poemas Insones
33quando acabou
eu ainda estava vivorespirava
havia sangue nos livrosa Filosofia agonizava
ter a razão já não importava
morreram todos!apenas eu sobrevivi!
corromperam pensamentossomente eu venci
(apenas eu venci, por enquanto)
de repente, um tiroeu morri
meus pensamentos se calaram minhas almas inflamaram
o meu Castelo procurava
quando encontreijamais entrei
não deixaramnão deixaram eu entrar
em meu próprio Castelo
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34tarde da noitequando eu estava tristevocê apareceu em meu quarto(como um poema, uma luz)abraçou a minha tristezacom o sorriso da sua beleza
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35preciso navegar em outros mares
fugir das dores que atormentamo meu corpo e a minha alma
aqui eu sei que vou naufragarvou morrer solitário em
minha ilha
preciso – urgentemente – mudaro rumo da minha embarcação
navegar em direçãoa outros mares
que eu possa voltar a sorrirque eu, outra vez, possa ver
uma luz no fim do túnel
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al 36vi a morte alheia
a minha morte eu nunca vimas sei que ela ronda por aqui
sinto a sua presençaantes mesmo de me consumir– da minha consciência deixar de existir –em seu sonífero beijo
a minha morte está aquiela lê o que eu escrevo
e passeia pelo quarto escuro
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Jonas da Cruz Amaral
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37meu tempo é pouco
em relação ao tempo
da Natureza
logo eu morro e ela fica
nascem meus filhosnascem meus netos
morrem filhos e netose ela fica
o meu tempo não se acumulaele é vivido
e logo é esquecido
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al 38a casa era feita de madeirana casa moravam pessoas de madeiraa casa era feita de madeiranela moravam pessoas de madeiracom sentimentos de madeira
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... quando a gente amatudo se torna belo...
até mesmo a finitude
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40a morte é um ponto de exclamaçãomorremos num susto!...
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al 42pisa sobre asfaltos anda pelas calçadas
tem horaque até flutuaesses pés
e é nessas horasque surge um poeminhaem inglês
(meu péssimo inglês):
a love of honeya kiss of soapto wash the soul...
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43eu vou subir a montanha
eu vou subir a montanha sem pressasem pressa: porque ela está lá parada
[se eu estiver parado a montanha jamais
virá ao meu encontro]
inércia...
um dia irei morrer um monte de pó eu serei
e a montanha vai estar lá paradavai estar lá calada
vencerei os estorvoseu sou um vencedor
ao menos em potencialeu sou um vencedor
[um vencedor, mesmo que eu nãome mova um centímetro em direção a
montanha]
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44houve um casamentona selvatodos aplaudiramquando a noivasubiu no tapetevermelhoe a marchanupcial tocou
um evento inusitado para os tempos modernos
o Elefante casou-secom a Elefantaeles se casaramcom separação totalde bens
foram passar a lua de mel em um hotel
passaram-se dois anoscomo a Elefanta era estérilo casal resolveu adotarum bebezinho
era uma tarde de domingoquando a Elefantae o Elefante foramao orfanato
preencheram a papeladae pouco tempo depoisjá estavam com seu filhinhoum leão filhote
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Poemas Insones
45abre os olhos.o quarto onde
dormiu estápovoado por
fantasmas
(se sonhou nanoite anterior
não se lembra)
levanta da cama(suas rimas estão
guardadas no armário)vai ao banheiro
olha sua carano espelho
está em ruínas.não se sente bem
sente-se um miserávelum pobre diabo
nem tudo está perdido
ainda existe umaesperança
mesmo que nãoacredite na esperança
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46uma dupla de anõespela floresta andava...e cantava
os pequeninos trabalhavamcom os seus machadoscom as suas picaretas
e comocomo trabalhavam...
eram fortes e robustosnão se cansavam fácil
perto dali moravaum giganteque não saia de suacabana
só comiadormiae comia...
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47uma dupla de anões
pela floresta andava...e cantava
como faziatodas as manhãs
os pequeninosjá estavam com raiva
do giganteque nada fazia além de comer
e de dormir
como os anõezinhostrabalhavam
carregando lenhadaqui para lá...
numa manhãantes do galo cantar
a dupla de anõesfoi até a cabana
do giganteque como sempreestava dormindo
eles deram ao giganteum remédio para
espalhar o sono
com muita fúriao gigante acordou
e engoliu os anõezinhos enxeridos
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al 48(..............................)
se isso não é poemaentão, o homem não é poema
mas, sabemos, o homem é um poemaé imprevisível como um poemavazio como um poema que não encontrou seu leitor(ou seu autor)
isso – (..............................) – é o homemo mundo é quem o preenche
nada é inato
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Poemas Insones
49eu olhei para o céu
para o céu que não parava de chorar.desse céu caíram lágrimas
que se misturaram ao teu mar
nessas suas lágrimas caladasminha embarcação percorre
feito bicho preguiça, lentamente –sem pressa em desvendar-te
teu canto é o cantodo momento:
é a melodia do ventoa me inundar
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50do alto da montanha só se via Deus:um espírito desabedoria
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al 52(vagabundo)aquele homem deitado na porta de um baraquele mendigo que só bebe e não trabalhaaquele filósofo lendo um livro, deitado na rede(vagabundo)aquele poeta modernista que usa pronomes átonos no início de um período
– me dá o seu amorme dá o seu poema –
busco pela minha sanidade de pronome a pronomee só encontro: -------------------------------
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Poemas Insones
53para sempre eu vou te amar
até depois do fim eu vou te levar
serei a sua embarcaçãoserei o seu mar
minha noivaminha sereia
minha perfeitasó a você vou me entregar
só a sua boca vou beijar
você é o poema mais beloque o Poeta escreveu
seu corpo em meu corpo é como o marafogando o bote que naufragou
você me leva para as suas profundezase eu sou engolido pela sua correnteza
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al 54olhou as folhas no chão viu nelas a sua morteo chão de terra um diaenterrará seus sonhos
mas também enterrará seus medos
um cemitério flutua pelorecinto de sua menteem desespero
olhou mais uma vezas folhas no chão viu nelas a sua mortea sua ressurreição
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Jonas da Cruz Amaral
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55nada é mais belo do que o silêncio
toda poesia é conduzida por eletoda filosofia é traduzida por ele
nada é mais belo do que o silêncio sem ele todas as coisas perecem
nada é mais claro do que o silêncio nada grita mais do que o silêncio
seu olhar é uma embarcação atravessando o oceano
ele liberta o homem de seus enganos
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al 56alguns risos impediramo homem de prosseguir ele tinha tantos lugares para irtinha tantas mulheres para amartantos jogos para jogar
alguns risos impediram o homem de sorriré triste vê-lo se consumirele tinha tanta coisa para falar
de suas falas ficaram apenas gotas
de suas falas ficaram apenas restos
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Jonas da Cruz Amaral
Poemas Insones
57a garota olhou para o céu
e viu o véu da Morte
escondeu-se, teve medo
viu as nuvens cinzasmarcando a tela escura
a garotinha olhou para os lados e se deparou com a construção inacabada
fantasmas andavam na casa mal assombrada
a garota – atônita – foi se esconderno véu que cobria o rosto da Morte
e nele ela se perdeu, enlouqueceu
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58quando deitou ao meu ladocom um sorriso quentecom um olhar quentete abracei forte envolvi seu corpo delicado em meus braços te envolvi como envolvemos quem não queremos perder
esqueci de tudo naquele instante seu corpo quente seu silêncio falavam como um poema
quando adormeceu seu corpo seu silêncio quente ainda falavam como um poema
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Jonas da Cruz Amaral
Poemas Insones
59pingos de chuva caem no telhado...e o poema que pensei em começar
ainda não atingiu a maturidade...para por si próprio falar o poema
que pensei não pode ser transferidopara o papel. esse poemaque pensei faz do mundo
um gigantesco castelo... e de mimum rei...
impossível começar tal poemagrafado em meu coração
sem dialogar com a contradição
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não havia luz na luzapenas escuridãotiros de solidãoe confusão
a noite se afundava e a mulher de preto pintava
seus vícios
nos muros do hospício
não havia luz na luzapenas escuridão apenas loucura
a mulher se atirou no marao bater seu corpo nas águas recuperou a sanidade
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Jonas da Cruz Amaral
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61ontem comprei um livro
em um sebo. era um dessesimpressos antigos e raros
logo que tomei a edição nas mãossenti o cheiro de suas páginas
amareladas pelo tempo
me levando para outra época
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62o barco niilista naufragou foi engolido pela garganta da tempestade
eis o que disse o demônio:“que o barco niilista ressurja do fundo dos mares”e assim foi feito
todos os niilistas foram vomitadospela tempestade que assoloua modernidade
todo valor absoluto é objeto de descrençaé o caminho que vaido nada ao nada
para eles Deus havia morrido – a Ciência, tomado do seu próprio veneno –embora seus desígnios estivessem vivos no coraçãoe na razão dos insensatos
“onde está o insensato?” perguntaramdois ateus ao vento. “será que continuano hospício em que nós o internamos?”perguntaram um padre e um cientista“terá ele fugido? se refugiado em uma masmorra?”...todos gritavam enquanto o demônio escarnecia
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Jonas da Cruz Amaral
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63nessa noite o poeta escreveu uma poesiae a rasgou – com raiva – segundos depois
de escrevê-laapagou o que dela tinha no computadornessa noite ele foi vencido pela inépcia...
... o poeta virou homem comume andou pelas esquinas do quarto fechado
uma morta imagem languescida
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al 64morri - era inevitável -mas eu venci a minha guerra
não sei se existe vida depois dessa vida: se a minha alma é imortalou se vou ter que não ser por toda a eternidade isso realmente já não importa
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Poemas Insones
65quando as tintas se espalham
colorindo a telaé a alma do artista
atravessando o corpo
renascendo em uma casaem um vaso de flor
em um cavaleiro matando um dragãoem um emaranhado de tintas cuspidas
quando as tintas se espalhamnasce uma nova existência
toda obra de arte possui uma almauma alma que se forma
no momento em que as tintas se espalham
na face daquele que pinta
um barco pintadoatravessa um oceano pintado
e, ao chegar à realidade,naufraga diante das sombras
do irreal
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66estou cansado daquicansado desse lugarquero ir emboraquero sair lá forasair de mimsair dessa sala
sair dessa voz chata que entra em meus ouvidose penetra o meu cérebro trazendo assuntosque não me interessam nem um pouco
– mais uma vez essa nevralgia do trigêmeo me atormenta –
– mais uma vez eu escrevo para não enlouquecer –
estou cansado de tudocansado dessa baboseiraquero sair lá foraquero ir embora
– mais uma vez ouço Mozart para não enlouquecer –
estou cansado dessa dorcansado de teoriasquero sair da minha ilhaquero ir para outra ilha
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Jonas da Cruz Amaral
Poemas Insones
67rebelde
uma garrafa de vodka, uma foice,uma cara mascarada
só depois me lembro que eu não bebonão pego em foices não tampo meu rosto
sou um rebelde literário, não saio por aí quebrando as coisas, não saio por aí
achando que vou mudar o mundo (o Brasil)desaprendi a viver de ilusões
ninguém vai mudar nadaeu não estou nem aí para
as manifestações não vai dar em nada
o Sistema é maior
um rebelde literáriose destruo alguma coisa se queimo alguma coisaessa coisa é a Gramática
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68não, qual o problema em dizer não para a Arte?que vá para o inferno a cultura. qual o problema em dizer não para o cinema (Woody Allen) para a literatura (William Shakespeare) para a música (Richard Wagner)
para o teatro.
não, eu não estou ficando louco. nenhum demônio se apossou da minha razão os artistas fedem: o cheiro deles embrulha o estômago
Informações GráficasFormato: 14 x 21cmMancha: 9,5 x 17cmTipologia: Cambria
Papel: Pólen 80 g/m² (miolo) - Triplex 250 g/m² (capa)Tiragem: 300 exemplares
Projeto editorial, impressão e acabamento: Editar Editora Associada - Juiz de Fora/MG
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Impresso em dezembro de 2017.