Poemas Insones - rl.art.br · a expressão pura do viver, ou até mesmo na angústia. Prefaciar...

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Jonas da Cruz Amaral Poemas Insones Editar 2017

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Jonas da Cruz Amaral

Poemas Insones

Editar2017

Copyright by Jonas da Cruz Amaral2017

Capa Neohub

Revisão Rogéria Carvalho/A.L.Gama

Projeto gráfico, Editoração e impressão Editar Editora Associada (32) 3213-2529 / 3241-2670 Juiz de Fora – MG www.editar.com.br

Todos os direitos reservados ao autor

Dados internacionais de catalogação na publicação

A479p Amaral, Jonas da Cruz

Poemas Insones / Jonas da Cruz Amaral, Juiz de Fora: Editar Editora Associada Ltda, 2017.

ISBN: 978-85-7851-???-?

Literatura, Brasil

CDD B869 CDU 82-1

PrefácioJoão José da Silva

Filósofo

“Um poeta não escreve... Esboça sentimentos!” Poemas insones despertou-me a nostalgia... Enquanto absorvido pelas palavras na leitura, imaginei o velho poeta... Aquele poeta que com seu velho tinteiro descrevia sentimentos, e em uma folha de papel ou até mesmo um guardanapo, transferia a pura emoção esboçada em palavras tocando o coração e a alma dos amantes, dos apaixonados, das donzelas, das senhoras, das mocinhas, e dos jovens senhorzinhos de calças curtas... Velhos tempos, hoje os tinteiros e até mesmo as máquinas datilográficas são peças de museu... A poesia sobreviveu... E sobreviverá, nos velhos, e nem tão velhos computadores, e que já viraram notebooks, que daqui a algum tempo se tornarão obsoletos e também peças de museu, mas a poesia... Ah! Esta não... Sobreviverá, e que venham as tecnologias, e que venham novas formas de comunicação, a poesia é imortal, sobrevive em cada poeta, em cada coração apaixonado, em cada alma vivente que tem no amor a expressão pura do viver, ou até mesmo na angústia. Prefaciar este livro para o nobre amigo Jonas fez-me refletir sobre a amizade, o quanto ela é importante e nos faz mais fortes a cada dia... Existem amigos que são verdadeiros irmãos, pessoas de quem vale a pena estarmos próximos, mesmo que distantes, o respeito e a admiração nos aproximam;

nossa amizade, dos tempos de graduação em um passado próximo nos ligou em debates acalorados de extrema abstração filosófica... Jonas, é para além do filósofo, é um poeta e como tal em palavras, esboça sentimentos e até mesmo a racionalidade do filósofo, a ele nossa admiração e respeito. Voltando à nostalgia e aos velhos poetas, Castro Alves, Gonçalves Dias, Bilac, Drummond, e tantos outros que consumiram tinteiros, papeis e teclados mecanográficos, a estes grandes e geniais, também se achega Jonas e o que o difere daqueles, é somente a ferramenta física de trabalho, tinteiros e máquinas datilográficas que não existem mais, a informática os destituiu de suas funções; porém, a ferramenta intelectual tal qual aqueles, Jonas utiliza de forma genial, e em um futuro talvez não muito próximo, quem sabe?... Nosso nobre amigo será lembrando entre os grandes. Fecho este prefácio falando sobre a obra tal qual Simplesmente Palavras – outra obra de Jonas –, vale a pena ler e degustar a viagem a que o poeta nos propõe, a da imaginação, do devaneio, do pensar, e do sentir... E por alguns instantes prazerosos de leitura, sonhar e nunca deixar de sonhar... Encerrando, cito nosso autor: “um homem precisa acreditar em seus sonhos”.1

1 AMARAL, Jonas da Cruz; Poemas Insones, 2017, Poema 12.

Poemas Insones

Para minha mãe

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1ficou calado para

não se comprometer melhor que enlouquecer roubaram suas palavras

decidiu esquecerele (no auge de sua timidez)

preferiu escreverseu poema ficou mudo

mesmo assim destruiu tudo

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al 2na casa fazia frio o homem se afogava no rio dos seus pensamentos ele criava monumentos para não morrer para não se perder e delirava,o vento devoravaos prédios desabavam e todos que ali estavam se enterravam

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3um barco navegando

em olhos oceânicos um olhar azul como

o mare tudo se afogava

o destino se reinventava e todo mundo morria

ele sorriapara não chorar

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al 4uma folha em branco sobre a mesa a menina Teresa sua poesia escrevianas paredes do quarto – no ar cheiro de mato –e quase tudo se perdia a menina seus remédios para depressão engolia

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uma mente doenteem um corpo perfeito

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6tua beleza é infinitaum barco navegandoem alto mar

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7ele volta

anda pelo recinto se revolta

contra os revoltados contra os calados

contra os fardados ele volta

fecha a porta gesticula enquanto fala

quer saber qual é a finalidade quer conceber a imaginação

sai do recinto abandona a aula

abandona giz e quadro pede dois minutos

ele se perde em minutos em assuntos triviais

sua imaginação ficou presa do lado de dentro

do lado de dentro lado de dentro

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al 8ele acha que não vai morrer – a morte é para os fracos – ele não dá o braço a torcer não está acostumado a perderum trago no cigarro... ele já aprendeu a esquecer aprendeu a envelhecerele é nuvem, sol, poeira, chuva, silêncio, escuridão para ele a morte não existe ela é um delírio, uma ilusão

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9um silêncio se repartiu

no meio do nada todo mundo ouviu

sua voz de desespero cremaram o seu corpo

não teve enterrouma mulher silenciosa

dançou com a chuva no ritmo da chuva

pegou com as mãos os cacos do silêncio

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10no quarto gelado ouço Bob Dylan cantando: eu me sinto triste

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11ela disse que era para eu me calar

dou uma de surdo e continuo a falar

nesse instante ela volta os olhos para o livro que está lendo

e se esquece nas páginassentada no sofá

não me ouve chamar nem me sente sonhar

fico ali na sala olhando para ela enquanto ela lê seu livro

eu leio a face dela seus óculos de aro preto

sua blusa amarelavocê pode me mandar parar de falar mas não pode me impedir de pensar

penso em como se distanciou de mimsemana passada lia Paulo Coelho

hoje lê Francisco Alvimem pensamento eu digo coisas

que você não vai gostar de escutar eu não vou embrulhar

nossa vida em um papel de presente vagabundo

apago suas vírgulas destruo seus parágrafos

te dou um novo tom

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12[...] e vi que nem tudo está perdido nem todas as pessoas estão perdidas um homem precisa acreditar em seus sonhos

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13era tarde

bem tarde quando o mago

deixou sua cidadenão havia luz na rua

só a luz do seu coraçãoo mago escreveu

a sua contradiçãotambém leu

a sua extradiçãosozinho ele viajou

para as montanhas e nunca mais voltou

sozinho o mago ficoudizem que ele morreu

contava cento e cinco anos

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14no amanhecer você vai me ver vai se envolver vai me sentir vai me consumir no amanhecer vamos vencerno amanhecerseus pesadelos vão escurecer e você irá entenderos mistérios que cercam a existência os segredos que abraçam a Ausência irá dar as suas respostas abrirá as portas, as notas

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15a noite vai acabar

em um abismo (sem fim) ela vai mergulhar

um novo dia vai chegar outras lutas irei lutar

outros leões irei matar um novo ser

vai nascermorremos inúmeras vezes

em uma única existência não temos tempo a perder

um novo ser vai nascer

vai nascer e vai morrer vai perder e vai vencer

tudo passa a vida acaba

viramos poeira nada vai permanecer

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16você precisa do tempo escorrendo pelas janelas do seu corpo misturando-se com a poça d’água no chão você precisa dos segundos chovendo molhando as janelas da sua alma você precisa rabiscar as paredes do seu espírito deixar o seu coração livre para o amor você precisa ter calma fazer da paciência um vício

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17fantasmas rondam pelo apartamento vazio

em uma noite apagada buscam seus corpos

ninguém ouve ninguém vê

fantasmas rabiscam as paredes do quarto mancham de vermelho (será sangue?)

os rios da solidãomatam as vozes da ilusão

e atiram seus vícios no precipício

do suicídiono final entram todos no mesmo barco

e partem, vão embora para o mesmo lugar

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al 18era uma tarde chuvosa e escura uma tarde tomada por relâmpagos quando a menina entrou na casa da Morte que a recebeu com um chá era sombria, mas acolhedora a menina estava pálida e trazia um sorriso sereno segurava nas mãozinhas a sua boneca a única que tinha

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19chegou a noite estrelas no céu

o poeta morreu seu corpo foi cremado

os poemas afogados não resistiram

estão presos no fundo do seu oceano

o poeta ressurgiu das cinzas ultrapassou a escuridão

ele se transformou virou espelho

refletiu a sua face os seus cabelos negros

a noite - que se fez eternapara espanto do poeta

a noite chegou mais uma vez e mais uma vez...

era um ciclo sem fim tudo se repetia

em pedaços de eternidade a morte se engolia

ela se resolvia sozinha

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al 20quando o sono veio ele se deitou imediatamente esqueceu dos seus pensamentos afogou todos os seus tormentos e viajou para uma terra desconhecida lá ele encontrou um navio fantasmaao entrar no navio o homem foi engolido pelas sombras e nunca mais acordouo homem abriu os olhos levantou-se da cama e viveu o resto da sua vida como um espectro

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21o anjo ficou preso na multidão

não conseguiu voltar para a escuridão aproveitou e roubou sorrisos

lavou a alma dos indecisosdepois foi se aventurar

na solidão do deserto uma tempestade

arruinou seu passeio apagou o seu luar

e acalmou o seu mar

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al 22pedaços do céu caem, eles dormem: eles sonham no asfalto molhado no coração calado o céu é você (minha amada) seu corpo sua almanavego no rio da solidão navego sem nada nas mãos deixo você livre para partir deixo você livre para voltar porque amar é não possuir amar é deixar o outro voar

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23três e trinta e sete da manhã

e eu não consigo dormir eu não consigo morrer

nem por um segundo já andei – como um zumbi –

pela casae o sono não encontrei só encontrei o silêncio

noturno da insôniatropecei em alguns fantasmas

eles também estavam acordadosdeitado na cama não consigo

fechar os olhos eu não consigo evitar

só consigo pensar que preciso deixar

de pensar

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al 24olho pela janela e vejo as luzes os prédios

vejo uma única estrela no céuela está distante...um dia (assim como eu)ela morrerá

ouço o barulho dos carros passando na rua

sinto a minha colunasinto você aqui comigoa sua presença me edificaa sua presença - mesmo queseja apenas em minha imaginação -é tudo que trago em meu coração

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25Camila rabiscou um conjunto

de letras na parede do seu quarto desenhou um céu estrelado com o nome do seu amado

ao fundo o barulho da chuva no telhado

os pingos da chuva misturavam-se

com as suas lágrimas

com o seu coração machucado

ela está apaixonada sofrendo caladapor um homem

que nunca a amou

por um homem que com os seus

sentimentos

o tempo todo brincou

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al 26ande em seus trilhosseja um de seus filhosouça o que o silêncio tem a dizersinta o que ele traz para você (suas nuances, sua lucidez)e escreva as suas palavras nas paredes do seu coração

escreva suas palavras na areia o mar vai apagare o silêncio ao silêncio irá retornar e o poema ao poema voltará

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27antes do fim

antes das estrelasse apagarem

antes da mortecruzar com a sorte

antes do magovoltar a sua terra natal

haverá um novo começo uma nova luz irá brilhar outra melodia irá tocar

outro poeta vai balbuciar suas palavras ao vento

antes do fimantes das sombras

se ludibriarem antes do livro fechar

do avião decolarhaverá um outro céu

outra estrela vai nasceroutro fantasma irá vencer

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al 28eu preciso estar só olhar para a noitever as luzes nos prédios tomar os meus remédios libertar-me do tédio

eu preciso estar só combater a minha escuridão eu preciso ter os pés no chão ter o cálice nas mãos ter sonhos no coração

eu preciso estar só sentir o gosto da solidão o sabor suave da solidão beber do vinho da imaginação

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29um filósofo dorme

intragável em seus argumentosno navio (fantasma) da sua razãopara este filósofo Deus não existe

(o Deus criado pelos homens, o Deus das religiões)

um poeta dormeintragável em seus poemas

na embarcação da sua emoçãopara este poeta a Gramática é uma invenção

acordam os demôniosacordam os fantasmas

tudo está escurode repente, a luz

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30eu não tenho nadasó tenho nuvense alguns poemassó tenho soluçõespara os meus problemaseu não tenho nadasó tenho trilhaseu sou uma trilha

(eu me perco nesses caminhos)eu só tenho o meu silêncioe o meu destinosó a minha sanidadee o meu delírio

minhas noites são sempre caladaso meu céu não tem a sua Estrelaminhas noites são sempre iguais

eu só tenho nuvens

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31quando eu acordo

eu me vejo em silêncioa noite cospe as suas palavras

como chuva

elas inundam a minha alma

apago suas palavras com lágrimascom lágrimas de tempestadetento entender, não consigo...

já é tardeeu desisto

não abro a porta, não insisto

tomo meu calmantee volto a dormir

e a noite cospe o seu silêncioem minhas palavras

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32fugir daquidesse quartodessas gradesdessa mente

(minha alma já nãoaguenta mais sofrer, eu quero morrer)

cansei...

quero fugir de mim

o homem é livreele só não é livrepara fugir de si mesmo

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Poemas Insones

33quando acabou

eu ainda estava vivorespirava

havia sangue nos livrosa Filosofia agonizava

ter a razão já não importava

morreram todos!apenas eu sobrevivi!

corromperam pensamentossomente eu venci

(apenas eu venci, por enquanto)

de repente, um tiroeu morri

meus pensamentos se calaram minhas almas inflamaram

o meu Castelo procurava

quando encontreijamais entrei

não deixaramnão deixaram eu entrar

em meu próprio Castelo

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34tarde da noitequando eu estava tristevocê apareceu em meu quarto(como um poema, uma luz)abraçou a minha tristezacom o sorriso da sua beleza

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Poemas Insones

35preciso navegar em outros mares

fugir das dores que atormentamo meu corpo e a minha alma

aqui eu sei que vou naufragarvou morrer solitário em

minha ilha

preciso – urgentemente – mudaro rumo da minha embarcação

navegar em direçãoa outros mares

que eu possa voltar a sorrirque eu, outra vez, possa ver

uma luz no fim do túnel

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al 36vi a morte alheia

a minha morte eu nunca vimas sei que ela ronda por aqui

sinto a sua presençaantes mesmo de me consumir– da minha consciência deixar de existir –em seu sonífero beijo

a minha morte está aquiela lê o que eu escrevo

e passeia pelo quarto escuro

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Jonas da Cruz Amaral

Poemas Insones

37meu tempo é pouco

em relação ao tempo

da Natureza

logo eu morro e ela fica

nascem meus filhosnascem meus netos

morrem filhos e netose ela fica

o meu tempo não se acumulaele é vivido

e logo é esquecido

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al 38a casa era feita de madeirana casa moravam pessoas de madeiraa casa era feita de madeiranela moravam pessoas de madeiracom sentimentos de madeira

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... quando a gente amatudo se torna belo...

até mesmo a finitude

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40a morte é um ponto de exclamaçãomorremos num susto!...

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os pingos da chuva são as lágrimas de Deus

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al 42pisa sobre asfaltos anda pelas calçadas

tem horaque até flutuaesses pés

e é nessas horasque surge um poeminhaem inglês

(meu péssimo inglês):

a love of honeya kiss of soapto wash the soul...

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43eu vou subir a montanha

eu vou subir a montanha sem pressasem pressa: porque ela está lá parada

[se eu estiver parado a montanha jamais

virá ao meu encontro]

inércia...

um dia irei morrer um monte de pó eu serei

e a montanha vai estar lá paradavai estar lá calada

vencerei os estorvoseu sou um vencedor

ao menos em potencialeu sou um vencedor

[um vencedor, mesmo que eu nãome mova um centímetro em direção a

montanha]

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44houve um casamentona selvatodos aplaudiramquando a noivasubiu no tapetevermelhoe a marchanupcial tocou

um evento inusitado para os tempos modernos

o Elefante casou-secom a Elefantaeles se casaramcom separação totalde bens

foram passar a lua de mel em um hotel

passaram-se dois anoscomo a Elefanta era estérilo casal resolveu adotarum bebezinho

era uma tarde de domingoquando a Elefantae o Elefante foramao orfanato

preencheram a papeladae pouco tempo depoisjá estavam com seu filhinhoum leão filhote

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Poemas Insones

45abre os olhos.o quarto onde

dormiu estápovoado por

fantasmas

(se sonhou nanoite anterior

não se lembra)

levanta da cama(suas rimas estão

guardadas no armário)vai ao banheiro

olha sua carano espelho

está em ruínas.não se sente bem

sente-se um miserávelum pobre diabo

nem tudo está perdido

ainda existe umaesperança

mesmo que nãoacredite na esperança

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46uma dupla de anõespela floresta andava...e cantava

os pequeninos trabalhavamcom os seus machadoscom as suas picaretas

e comocomo trabalhavam...

eram fortes e robustosnão se cansavam fácil

perto dali moravaum giganteque não saia de suacabana

só comiadormiae comia...

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Poemas Insones

47uma dupla de anões

pela floresta andava...e cantava

como faziatodas as manhãs

os pequeninosjá estavam com raiva

do giganteque nada fazia além de comer

e de dormir

como os anõezinhostrabalhavam

carregando lenhadaqui para lá...

numa manhãantes do galo cantar

a dupla de anõesfoi até a cabana

do giganteque como sempreestava dormindo

eles deram ao giganteum remédio para

espalhar o sono

com muita fúriao gigante acordou

e engoliu os anõezinhos enxeridos

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al 48(..............................)

se isso não é poemaentão, o homem não é poema

mas, sabemos, o homem é um poemaé imprevisível como um poemavazio como um poema que não encontrou seu leitor(ou seu autor)

isso – (..............................) – é o homemo mundo é quem o preenche

nada é inato

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Poemas Insones

49eu olhei para o céu

para o céu que não parava de chorar.desse céu caíram lágrimas

que se misturaram ao teu mar

nessas suas lágrimas caladasminha embarcação percorre

feito bicho preguiça, lentamente –sem pressa em desvendar-te

teu canto é o cantodo momento:

é a melodia do ventoa me inundar

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50do alto da montanha só se via Deus:um espírito desabedoria

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um caminho tem vários caminhos(a path has multiple paths)

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al 52(vagabundo)aquele homem deitado na porta de um baraquele mendigo que só bebe e não trabalhaaquele filósofo lendo um livro, deitado na rede(vagabundo)aquele poeta modernista que usa pronomes átonos no início de um período

– me dá o seu amorme dá o seu poema –

busco pela minha sanidade de pronome a pronomee só encontro: -------------------------------

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53para sempre eu vou te amar

até depois do fim eu vou te levar

serei a sua embarcaçãoserei o seu mar

minha noivaminha sereia

minha perfeitasó a você vou me entregar

só a sua boca vou beijar

você é o poema mais beloque o Poeta escreveu

seu corpo em meu corpo é como o marafogando o bote que naufragou

você me leva para as suas profundezase eu sou engolido pela sua correnteza

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al 54olhou as folhas no chão viu nelas a sua morteo chão de terra um diaenterrará seus sonhos

mas também enterrará seus medos

um cemitério flutua pelorecinto de sua menteem desespero

olhou mais uma vezas folhas no chão viu nelas a sua mortea sua ressurreição

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55nada é mais belo do que o silêncio

toda poesia é conduzida por eletoda filosofia é traduzida por ele

nada é mais belo do que o silêncio sem ele todas as coisas perecem

nada é mais claro do que o silêncio nada grita mais do que o silêncio

seu olhar é uma embarcação atravessando o oceano

ele liberta o homem de seus enganos

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al 56alguns risos impediramo homem de prosseguir ele tinha tantos lugares para irtinha tantas mulheres para amartantos jogos para jogar

alguns risos impediram o homem de sorriré triste vê-lo se consumirele tinha tanta coisa para falar

de suas falas ficaram apenas gotas

de suas falas ficaram apenas restos

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57a garota olhou para o céu

e viu o véu da Morte

escondeu-se, teve medo

viu as nuvens cinzasmarcando a tela escura

a garotinha olhou para os lados e se deparou com a construção inacabada

fantasmas andavam na casa mal assombrada

a garota – atônita – foi se esconderno véu que cobria o rosto da Morte

e nele ela se perdeu, enlouqueceu

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58quando deitou ao meu ladocom um sorriso quentecom um olhar quentete abracei forte envolvi seu corpo delicado em meus braços te envolvi como envolvemos quem não queremos perder

esqueci de tudo naquele instante seu corpo quente seu silêncio falavam como um poema

quando adormeceu seu corpo seu silêncio quente ainda falavam como um poema

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Jonas da Cruz Amaral

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59pingos de chuva caem no telhado...e o poema que pensei em começar

ainda não atingiu a maturidade...para por si próprio falar o poema

que pensei não pode ser transferidopara o papel. esse poemaque pensei faz do mundo

um gigantesco castelo... e de mimum rei...

impossível começar tal poemagrafado em meu coração

sem dialogar com a contradição

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não havia luz na luzapenas escuridãotiros de solidãoe confusão

a noite se afundava e a mulher de preto pintava

seus vícios

nos muros do hospício

não havia luz na luzapenas escuridão apenas loucura

a mulher se atirou no marao bater seu corpo nas águas recuperou a sanidade

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61ontem comprei um livro

em um sebo. era um dessesimpressos antigos e raros

logo que tomei a edição nas mãossenti o cheiro de suas páginas

amareladas pelo tempo

me levando para outra época

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62o barco niilista naufragou foi engolido pela garganta da tempestade

eis o que disse o demônio:“que o barco niilista ressurja do fundo dos mares”e assim foi feito

todos os niilistas foram vomitadospela tempestade que assoloua modernidade

todo valor absoluto é objeto de descrençaé o caminho que vaido nada ao nada

para eles Deus havia morrido – a Ciência, tomado do seu próprio veneno –embora seus desígnios estivessem vivos no coraçãoe na razão dos insensatos

“onde está o insensato?” perguntaramdois ateus ao vento. “será que continuano hospício em que nós o internamos?”perguntaram um padre e um cientista“terá ele fugido? se refugiado em uma masmorra?”...todos gritavam enquanto o demônio escarnecia

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63nessa noite o poeta escreveu uma poesiae a rasgou – com raiva – segundos depois

de escrevê-laapagou o que dela tinha no computadornessa noite ele foi vencido pela inépcia...

... o poeta virou homem comume andou pelas esquinas do quarto fechado

uma morta imagem languescida

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al 64morri - era inevitável -mas eu venci a minha guerra

não sei se existe vida depois dessa vida: se a minha alma é imortalou se vou ter que não ser por toda a eternidade isso realmente já não importa

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Poemas Insones

65quando as tintas se espalham

colorindo a telaé a alma do artista

atravessando o corpo

renascendo em uma casaem um vaso de flor

em um cavaleiro matando um dragãoem um emaranhado de tintas cuspidas

quando as tintas se espalhamnasce uma nova existência

toda obra de arte possui uma almauma alma que se forma

no momento em que as tintas se espalham

na face daquele que pinta

um barco pintadoatravessa um oceano pintado

e, ao chegar à realidade,naufraga diante das sombras

do irreal

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66estou cansado daquicansado desse lugarquero ir emboraquero sair lá forasair de mimsair dessa sala

sair dessa voz chata que entra em meus ouvidose penetra o meu cérebro trazendo assuntosque não me interessam nem um pouco

– mais uma vez essa nevralgia do trigêmeo me atormenta –

– mais uma vez eu escrevo para não enlouquecer –

estou cansado de tudocansado dessa baboseiraquero sair lá foraquero ir embora

– mais uma vez ouço Mozart para não enlouquecer –

estou cansado dessa dorcansado de teoriasquero sair da minha ilhaquero ir para outra ilha

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Jonas da Cruz Amaral

Poemas Insones

67rebelde

uma garrafa de vodka, uma foice,uma cara mascarada

só depois me lembro que eu não bebonão pego em foices não tampo meu rosto

sou um rebelde literário, não saio por aí quebrando as coisas, não saio por aí

achando que vou mudar o mundo (o Brasil)desaprendi a viver de ilusões

ninguém vai mudar nadaeu não estou nem aí para

as manifestações não vai dar em nada

o Sistema é maior

um rebelde literáriose destruo alguma coisa se queimo alguma coisaessa coisa é a Gramática

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Poem

as In

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nas d

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mar

al

68não, qual o problema em dizer não para a Arte?que vá para o inferno a cultura. qual o problema em dizer não para o cinema (Woody Allen) para a literatura (William Shakespeare) para a música (Richard Wagner)

para o teatro.

não, eu não estou ficando louco. nenhum demônio se apossou da minha razão os artistas fedem: o cheiro deles embrulha o estômago

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Jonas da Cruz Amaral

Poemas Insones

Informações GráficasFormato: 14 x 21cmMancha: 9,5 x 17cmTipologia: Cambria

Papel: Pólen 80 g/m² (miolo) - Triplex 250 g/m² (capa)Tiragem: 300 exemplares

Projeto editorial, impressão e acabamento: Editar Editora Associada - Juiz de Fora/MG

Tel.: (32) 3213-2529 - (32) 3241-2670 - www.editar.com.br - [email protected]

Impresso em dezembro de 2017.