Poesia e Filosofia.

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7/17/2019 Poesia e Filosofia. http://slidepdf.com/reader/full/poesia-e-filosofia-568dbd80297b5 1/21  Apostilas do  Seminário de Filosofia  - 21 Poesia e filosofia  Excerto do § 1 do Prólogo da obra em preparação, O Olho do Sol: Ensaio sobre a Inteligência. Como certas discussões haidas em classe na !ltima rodada do Seminário de Filosofia mencionassem este texto, do "ual a maioria dos alunos não  possuia c#pia, decidi colocá$lo a"ui % disposição de todos os isitantes desta homepage. O Olho do Sol  & um calhamaço, a esta altura com seiscentas pá'inas e ainda bem lon'e de sua conclusão, onde re!no, ordeno e explico melhor (espero) as coisas "ue im lecionando nos !ltimos anos sobre teoria do conhecimento. $$ O. de C. abit!ado a e"por minhas id#ias oralmente$ retomando-as e redesenhando-as desde %ng!los di&ersos con'orme as e"igências dos tempos e das circ!nst%ncias$ dando-lhes assim a  &ida (!e os conceitos só ad(!irem (!ando encarnados nas 'ormas das sit!a)*es concretas$ sinto-me inibido e atemori+ado ante a perspecti&a de 'i",-las em li&ro$ onde , no podero mo&er-se e tero de estar$ imobili+adas e solenes como p,ssaros de bron+e na 'orma acidental do instante em (!e as atina$ em pleno &/o$ o disparo 'at0dico de !m ponto 'inal o e(!i&alente ortogr,'ico de !m b!raco de bala no meio da testa. Po!co plat/nico em temperamento e con&ic)*es$ compartilhei sempre da descon'ian)a do mestre ante a 'iloso'ia escrita. o (!e me creia portador de &erdades s!blimes e &ol,teis$ rebeldes Página 1 de 21 Poesia e filosofia 08/05/2015 file:///C:/Users/Fred/AppData/Local/Tep/Lo!/A"#$A%&'()t

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Texto do Prof. Olavo de Carvalho - Poesia e filosofia

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 Apostilas do Seminário de Filosofia - 21

Poesia e filosofia

 Excerto do § 1 do Prólogo da obra em preparação, O Olho do

Sol: Ensaio sobre a Inteligência. Como certas discussões

haidas em classe na !ltima rodada do Seminário de Filosofia

mencionassem este texto, do "ual a maioria dos alunos não

 possuia c#pia, decidi colocá$lo a"ui % disposição de todos os

isitantes desta homepage. O Olho do Sol & um calhamaço, a

esta altura com seiscentas pá'inas e ainda bem lon'e de sua

conclusão, onde re!no, ordeno e explico melhor (espero) ascoisas "ue im lecionando nos !ltimos anos sobre teoria do

conhecimento. $$ O. de C.

abit!ado a e"por minhas id#ias oralmente$ retomando-as e

redesenhando-as desde %ng!los di&ersos con'orme as

e"igências dos tempos e das circ!nst%ncias$ dando-lhes assim a

 &ida (!e os conceitos só ad(!irem (!ando encarnados nas'ormas das sit!a)*es concretas$ sinto-me inibido e atemori+ado

ante a perspecti&a de 'i",-las em li&ro$ onde , no podero

mo&er-se e tero de estar$ imobili+adas e solenes como p,ssaros

de bron+e na 'orma acidental do instante em (!e as atina$ em

pleno &/o$ o disparo 'at0dico de !m ponto 'inal o e(!i&alente

ortogr,'ico de !m b!raco de bala no meio da testa.

Po!co plat/nico em temperamento e con&ic)*es$ compartilhei

sempre da descon'ian)a do mestre ante a 'iloso'ia escrita. o(!e me creia portador de &erdades s!blimes e &ol,teis$ rebeldes

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3 'i"a)o$ intranspon0&eis ao papel. 4 (!e o es'or)o de transpor

ao escrito !ma int!i)o 'ilosó'ica rep*e sempre em pa!ta a

(!esto das rela)*es entre poesia e 'iloso'ia$ e esta (!esto no

# das mais c/modas.

5ma opinio corrente di+ (!e a poesia transmite as impress*esna s!a imediate+$ en(!anto a 'iloso'ia opera sobre elas !ma

re'le"o6 !ma estaria para a o!tra como o direto est, para o

indireto$ como a e"periência &i&a est, para a opinio

posteriormente elaborada$ como a imagem &ista com os olhos

est, para o re'le"o n!m espelho mental.

Isso para mim # rematada bobagem$ inconse(7ente

 &erbali+a)o de !ma impossibilidade p!ra e simples. Sem

poder !sti'icar-se$ e"plica-se$ em parte$ como mani'esta)o da

simpatia maior (!e o po&o sente pelo poeta$ companheiro (!e o

a!da a e"primir s!as impress*es n!ma ling!agem (!e$ se no

# a s!a própria$ # embele+amento dela e s!a m!sicali+a)o6 e

como e"presso da estranhe+a pop!lar ante o 'ilóso'o$ tipo

e"ótico e distante$ (!e 'ala em código$ e (!e no pode

abandonar completamente s!a criptogra'ia para tentar ser

com!nicati&o sem 'a+er-se !m po!co o! m!ito poeta$

 &oltando as costas perigosamente 3s d!ras regras da s!acon'raria$ o! ento$ mais perigosamente ainda$ sem 'a+er-se

retórico$ orador e homem pol0tico.

a &erdade$ a (!ota de ati&idade re'le"i&a (!e se re(!er no #

menor em poesia do (!e em 'iloso'ia$ pela simples ra+o de (!e

o &erso no # a e"periência$ mas a e"presso &erbal dela$

obediente$ como toda e"presso$ a !m código de con&ers*es6 e

o código no se comp*e de 'atos e dados a carne da

e"periência $ mas de rimas e m#tricas e regras de gram,tica e

estilos epocais e !sos sem%nticos consagrados e compromissos

de escola e mil e !ma o!tras e"igências (!e se arraigam na

con&en)o$ na ciência e no h,bito$ no diretamente nos 'atos.

Estas e"igências so o molde em (!e se recorta a &estimenta

(!e &ai recobrir e tornar socialmente reconhec0&el e moeda

corrente a e"periência$ intransmiss0&el na n!de+ direta da s!a

carne$ (!e # !ma e a mesma (!e a carne do corpo$ impenetr,&el

a o!tro corpo.

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8!e sem molde no h, com!nica)o$ (!e a adapta)o ao molde

# a parte racional e re'le"i&a da cria)o liter,ria$ ning!#m

d!&ida. 8!e os moldes esgotam s!a possibilidade de conter

no&as e"periências e têm de ser reno&ados de tempos em

tempos$ a história das re&ol!)*es 'ormais em literat!ra o

con'irma. 8!e$ a cada no&a re&ol!)o$ a amplia)o da 'ai"a dodi+0&el se 'a+ ao pre)o de !ma perda tempor,ria da

com!nicabilidade at# (!e o no&o molde se consagre no !so

com!m$ # coisa (!e a pr,tica demonstra. O (!e no se percebe

com ig!al 're(7ência # (!e as coisas se passam de maneira

e"atamente ig!al em 'iloso'ia$ onde as no&as int!i)*es de&em

se adaptar aos processos consagrados de 'ormali+a)o e

demonstra)o$ o! ento in&entar no&os6 (!e esta parte

raciocinante e re'le"i&a$ (!e o leigo toma como se 'osse aessência mesma da 'iloso'ia$ no # seno a s!a &estimenta

decente e o pre)o de s!a conser&a)o como ati&idade

socialmente &i,&el6 e (!e o molde da &estimenta$ e"atamente

como as con&en)*es de escola em poesia$ podem em certos

momentos oprimir e s!'ocar a int!i)o 'ilosó'ica e at# mesmo$

com a arrog%ncia do ignorante togado$ d,-la por ine"istente o!

e"tra'ilosó'ica.

O ponto de partida para a resol!)o do problema das rela)*es

entre poesia e 'iloso'ia est, na seg!inte obser&a)o$ (!e # de

senso com!m: a participa)o do po&o nas impress*es do poeta$

o! de (!al(!er o!tro artista$ no # direta e '0sica: # imaginati&a.

o nos apai"onamos por 9eatri+$ (!e n!nca &imos$ mas por

se! an,logo (!e o poeta imagino! em pala&ras6 nem

padecemos na carne os horrores da Casa dos *ortos$ mas

apenas$ na mente$ o pesadelo (!e se! relato &erbal nos s!gere6

pesadelo (!e$ como tal$ # mais toler,&el (!e (!al(!erso'rimento '0sico moti&o pelo (!al '!gimos dos horrores do

c,rcere$ mas b!scamos a leit!ra (!e os e&oca e trans'ig!ra. o

'ar0amos isto se 'ossem ambos !ma só e mesma coisa$ o! mais

o! menos a mesma coisa$ hipótese doida (!e est, impl0cita na

opinio corrente mencionada acima.

O poeta$ o (!e 'a+ # prod!+ir$ da e"periência interna o!

e"terna$ !m an,logo moldado$ com maior o! menor 'elicidade$

pelo cr!+amento de !ma d!pla e"igência: a m,"ima

com!nicabilidade no &ocab!l,rio geral$ a m,"ima 'idelidade

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o!$ o (!e d, na mesma$ in'idelidade genial e enri(!ecedora

3s con&en)*es e tradi)*es de o'0cio.

igo isso com d!as ressal&as.

Primeira. ;ocab!l,rio geral no (!er di+er$ necessariamente$ o

 &ocab!l,rio de !so corrente$ pois o poeta pode !sar termos

raros6 (!er di+er apenas !m &ocab!l,rio no especiali+ado e

no 'i"ado em acep)*es-padro6 pois descobrir no&as acep)*es

pela combina)o das pala&ras pode ser$ embora nem sempre o

sea$ !m dos re(!isitos incontorn,&eis para a com!nica)o de

certas imagina)*es.

Seg!nda. a maior parte dos casos$ e (!ando no se per&ertem

em modismos o! tradicionalismos idol,tricos$ as regras --sempre in fieri  -- da com!nidade de o'0cio &isam !stamente a

e"igir a m,"ima com!nicabilidade no !so do &ocab!l,rio geral$

mesmo er!dit0ssimo.

<eitas essas d!as ressal&as$ a com!nicabilidade m,"ima da

e"periência imaginati&a no &ocab!l,rio geral #$ a rigor$ a

de'ini)o mesma da poesia$ ao menos no (!e tem de

representati&o e re'erido 3 transmisso de !m conhecimento.

O poeta$ em s!ma$ cria$ atra&#s da 'or)a analogante das

imagens e dos s0mbolos$ !ma ,rea de e"periência imaginati&a

com!m$ onde os indi&0d!os e mesmo as #pocas podem se

encontrar$ &encendo no imagin,rio as barreiras (!e separam

'isicamente s!as respecti&as &i&ências reais. Assim 'a+endo$ ele

no apenas se com!nica$ mas intercom!nica os o!tros homens.

a0 a misso c!rati&a$ m,gica e apa+ig!adora$ (!e 'a+ da poesia

!m dos pilares em (!e se assenta a possibilidade mesma daci&ili+a)o: ela liberta os homens da noite animal$ do terror

primiti&o (!e isola e paralisa. Ela re=ne os membros da tribo

em torno do 'ogo aconchegante e os 'a+ participar de !m

!ni&erso com!m (!e transcende as barreiras dos corpos e do

tempo. Ela apa+ig!a$ reanima e torna poss0&el$ aos (!e eram

animais ass!stados$ pensar e agir.

8!e 'a+$ em contrapartida$ o 'ilóso'o> A primeira coisa (!e 'a+ #

 &oltar as costas 3 com!nidade$ para ir perg!ntar$ 3 e"periência$no o (!e ela pode di+er ao mesmo tempo a todos os homens

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re!nidos em torno da 'og!eira$ mas sim apenas a(!ilo (!e ela

de&e acabar por di+er$ se t!do der certo$ 3(!eles po!cos (!e

contin!arem a contempl,-la detidamente at# (!e ela se abra e

mostre se! conte=do intelig0&el.

Se! di,logo no # com a tribo. 4 com o ser.

Por isso mesmo$ en(!anto a istória registra desde o in0cio dos

tempos a '!n)o de alto prest0gio p=blico (!e os poetas

e"erceram como magos$ hiero'antes$ pro'etas$ sacerdotes e

g!ias de po&os$ os primeiros 'ilóso'os , s!rgiram na condi)o

de es(!isit*es mais o! menos incompreens0&eis ao &!lgo$ de

aristocratas (!e se isola&am n!ma solido altaneira$ como

er,clito$ o!$ como Sócrates$ de rebeldes (!e entra&am em

con'lito aberto com as cren)as pop!lares.

 A perg!nta 'ilosó'ica por e"celência # +uid, ?8!ê>?. 8!e # o

homem> 8!e # a morte> 8!e # o bem> 8!e # a 'elicidade> A

?re'le"o? no entra a0 em dose maior o! menor (!e na poesia$

o! melhor$ a presen)a do elemento re'le"i&o n!ma e no!tra #

ig!almente acidental e instr!mental. o h, re'le"o (!e nos

possa di+er o "ue # !ma coisa. As essências$ o! (7ididades$

re&elam-se no ato int!iti&o (!e contempla a presen)a de !mobeto$ c!o conte=do no#tico o 'ilóso'o no 'a+ seno

reprod!+ir com a m,"ima 'idelidade e e"atido poss0&eis. S!a

ati&idade #$ tanto (!anto a do poeta$ !m traslado da

e"periência$ interior o! e"terior. @odo !0+o de'initório$ (!ando

se! obeto # !m ente e no !ma simples possibilidade lógica

in&entada e 3s &e+es mesmo neste caso # sempre a p!ra

'ormali+a)o lógica de !m conte=do int!0do$ (!e a memória

'i"a e o disc!rso interior descre&e. Ea 'ormali+a)o lógica #$

como bem &i! Etienne So!ria!$ nada mais (!e estili+a)o do

disc!rso interior$ do erbum mentis$ tal como as artes do poeta

so a estili+a)o da ling!agem corrente.

4 só n!ma 'ase posterior$ (!ando se de'ronta na  polis com os

retóricos e so'istas$ portadores de !m 'also conhecimento$ (!e

a 'iloso'ia se torna dial#tica e$ por meio dela$ re'le"o e di,logo6

mas di,logo (!e &isa a resta!rar apenas$ por cima da rede das

il!s*es do disc!rso corrente$ a int!i)o primeira das essênciasa!to-e&identes. Etanto (!anto no pode re&elar essências$ a

re'le"o 1 e"ceto na acep)o de rememora)o descriti&a 1 no

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pode levar ao conhecimento dos princípios e axiomas.

 Aristóteles define a dialética precisamente como o confronto

das hipóteses contraditórias que, remontando através de

exclusões e negações, leva a uma súbita percepço intuitiva dos

princípios sub!acentes "s v#rias opiniões em disputa. A

dialética é um encaminhamento e aquecimento da intelig$nciapara o despertar da intuiço.

%m seguida, trata&se de descrever o mais precisamente possível

essa intuiço, atendendo, de um lado, " realidade dos dados e,

de outro, "s convenções de vocabul#rio e "s exig$ncias técnicas

da exposiço lógica ou dialética, consagradas pelo uso na

comunidade de ofício.

%ssa atividade é, em tudo e por tudo, similar " do poeta. 'as

ento qual a diferença(

 A diferença é que o poeta tem de transformar o intuído, o mais

imediatamente possível, em moeda corrente) tem de lançar

desde logo o conteúdo noético de uma experi$ncia que pode ser

fortemente individual, na #gua corrente do vocabul#rio comum,

para fa*er dela uma posse de todos os homens na linguagem do

seu tempo e do seu meio.

 A experi$ncia, para ele, é o momento fraco e provisório de uma

atividade cu!o momento forte e definitivo é a forma concreta da

obra pronta.

%le no pode deter&se indefinidamente na crítica e repetiço de

sua experi$ncia, para obter mais clare*a, para integr#&la mais

profundamente na estrutura do seu ser pessoal, para distingui&

la nas ad!acentes e circunvi*inhas, para fa*er dela,progressivamente, parte de experi$ncias cada ve* mais amplas,

para adquirir sobre ela a certe*a de que ela no revelou só um

aspecto passageiro e acidental mas a nature*a mesma do seu

ser + atos que so, precisamente, as ocupações precípuas do

filósofo.

ois, se ele se detiver para enriquecer a tal ponto sua

experi$ncia interior, !# no poder# mais elabor#&la no

 vocabul#rio comum para torn#&la imediatamente transmissívela todos os homens) ser# obrigado a registr#&la, se sobrar tempo,

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em abreviaturas criptogr#ficas que ou o aprisionaro na total

incomunicabilidade, ou ento tero de conformar&se aos modos

de criptografia mais ou menos padroni*ados da confraria dos

contempladores renitentes, isto é, dos filósofos) e ter# se

tornado um filósofo ele mesmo. erdendo em expressividade e

comunicabilidade, ter# ganho em rique*a interior dos registrosque porém só podero ser transmitidos a quem refaça o mesmo

itiner#rio interior que é o treinamento e faina essencial dos

filósofos, happy few por fatalidade constitutiva e no por

acidente.

or isso, di*er de uma poesia que é obra só para poetas e

técnicos em poesia é apontar um vício redibitório, uma falha

intoler#vel) !# a filosofia é, em princípio, coisa para filósofos, esó raramente para o povo inteiro + exceto quando " vocaço do

filósofo se soma a do artista, ou do pedagogo, ou do orador e

homem político, o que certamente é acidental e no exigível.

or isso é que Aristóteles, elíptico, abstruso e enigm#tico em

seu modo de expresso, continua a ser maior filósofo que o

cristalino -escartes ou o elegantíssimo ergson. A

comunicaço, a forma concreta da obra escrita, é em filosofia o

momento acidental e menor de uma atividade que consiste,

fundamentalmente, em conhecer e no em transmitir.

/endo registro e expresso de intuições profundas e valiosas,

tanto a poesia quanto a filosofia t$m algo a ver com a sabedoria.

'as vai aí a diferença freq0entemente intransponível que

medeia entre o registro exato e a comunicaço eficiente. 1

primeiro pode ser pessoal e incomunic#vel, ou comunic#vel só

a quem possua a chave dos códigos e a recordaço de similar

experi$ncia interior. 2# uma expresso que no expressa, umacomunicaço que no comunica, no é absolutamente nada.

 A diferença, aí, é de direço. 3a poesia, a sabedoria dirige&se

aos homens, di*endo&lhes o quanto é possível di*er a ouvintes

mesmo passivos, mal dispostos a um esforço pessoal e que nem

de longe pensariam em tornar&se eles mesmos poetas ou

conhecedores profundos dos mistérios do ofício. 4 sabedoria

que, corporificada em símbolos, se dirige menos " mente

corrompida dos homens, do que ao seu corpo, através da magiados sons e das formas visíveis. -aí que ela possa agir mesmo

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sobre os homens que no a compreendem bem. orque ela é

corpo e obedece ao conselho do poeta5

deixa o teu corpo entender-se com outro corpo,

 porque os corpos se entendem, mas as almas não.

 A poesia é assim a sabedoria que bate " porta dos homens, e os

obriga a assimilar até mesmo algo do que no dese!ariam

compreender, passando por cima de suas mentes indiferentes e

dialogando diretamente com o ouvido, com o olho, com os

 batimentos do coraço, com os pés que, involuntariamente,

marcam o compasso da música.

 A filosofia, em contrapartida, no busca ninguém. %la é, por

ess$ncia, a busca de uma sabedoria que se furta, que exige, eque cobra do recém&chegado um preço alto. 'as cobra&o em

troca de uma revelaço que !# no ser# mais alusiva e simbólica

como na poesia, mas literal e direta. 6o literal e direta que,

dela, o filósofo no poder# comunicar seno uma parte

pequena, e "s ve*es nada.

/e a filosofia é o amor " sabedoria, ocupaço de amantes

dispostos a pagar com a vida o preço da sua conquista, a poesia

é, em contrapartida, o amor que a sabedoria tem até mesmo

pelos homens que no a amam, e que, desatentos e dispersos,

no podem escapar de receber ao menos um pouco dela,

forçados a isto pelo corpo, que no escapa ao fascínio da

harmonia e do ritmo.

 A filosofia é a busca da sabedoria, a poesia é a sabedoria em

 busca dos homens. 7sto é tudo, e no h# mais diferença alguma.

/o como as duas colunas do templo, o 8igor e a 'isericórdia+ aquilo que a sabedoria exige, aquilo que a sabedoria concede.

or esta ra*o no podem nem se desentender de todo, nem

identificar&se por completo. 3em pode a filosofia deixar de ser

uma poesia que se recolheu ao estado de experi$ncia interior,

nem pode a poesia deixar de ser uma filosofia in nuce.

ela mesma ra*o a filosofia, ao contr#rio da poesia, no est#

nunca totalmente na obra, e sim metade no filósofo mesmo5 o

portador do saber é o homem, no o livro. 1 livro, o tratado, aaula, nunca é seno a condensaço do saber nuns quantos

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princípios gerais e sua exemplificaço numas quantas

amostras) e o saber, o verdadeiro saber, se abriga naquele

núcleo vivo de intelig$ncia que permanece no fundo da alma do

autor após encerrado o livro, e que saber# dar a esses princípios

outras e ilimitadas encarnações e aplicações diversas,

imprevisíveis, surpreendentes ou mesmo paradoxais, conformea variedade inabarc#vel das situações da exist$ncia. /ó em /to.

6om#s residiu a sabedoria de /to. 6om#s. 3ós outros no

podemos ser seno tomistas, o que é um /to. 6om#s fixado e

diminuído, compactado por desidrataço.

3o nego totalmente, no entanto, a possibilidade de colocar em

livro o essencial do que um homem sabe e v$. Apenas !ulgo que

no se pode despe!ar inteiramente o conteúdo dessa visopessoal em teses explícitas, porque as teses so apenas o

resíduo cristali*ado de uma decantaço interior que, longe de

constituir a mera preparaço para o advento das teses, constitui

antes o exercício mesmo da filosofia. 1ra, esse exercício, que se

d# no tempo e que tem por su!eito um indivíduo humano real &&

ainda que possuindo por outro lado o alcance universal de um

símbolo && , no é represent#vel seno sob forma artística. 1

filósofo, se pretende ser compreendido, deve portanto levar ao

papel no somente o conteúdo explícito das teses a que chegou,

guarnecidas ou no de demonstrações extensivas e exemplos,

mas também algo da atmosfera interior em que nasceram e se

desenvolveram) atmosfera esta que no pode se reconstituir

seno por meio da narraço, do drama e da poesia. 'as no se

trata, por outro lado, de escrever romances, dramas ou poemas

que tradu*am alegoricamente nossas idéias + pois a arte

liter#ria, por si, no pode escapar a seu compromisso com a

linguagem metafórica e declarar explicitamente as tesesfilosóficas a que adere, declaraço que tornaria um adorno

supérfluo a narrativa ou poema que a acompanha, rodeia ou

antecede. 'uito menos teria cabimento argumentar

literariamente, substituindo " força das demonstrações o

encanto das imagens, sugerindo em ve* de afirmar, sedu*indo

em ve* de provar. 1 livro filosófico, em suma, tem de possuir a

um tempo, articuladas e distintas numa límpida harmonia, a

nitide* e a demonstrabilidade da tese científica, a sugestividadeenvolvente da obra poética, sem cair nem no esquematismo

impessoal da primeira, nem na névoa plurissensa da segunda.

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%spremida entre estas exig$ncias contr#rias, a redaço de um

livro de filosofia + pelo menos a quem este!a consciente delas

+ pode apresentar dificuldades temíveis, motivo pelo qual

tenho preferido antes falar do que escrever, embora o exercício

da escrita no me se!a nem um pouco repelente. /ublinha ainda

mais esta prefer$ncia o fato de que o professor entre seusalunos tem ali a atmosfera presente e viva, sem precisar imit#&

la por artifício verbal.

4 praticamente impossível, ali#s, que a produço escrita de um

filósofo, caso dese!e atender aos requisitos do bom estilo,

acompanhe a rigor a evoluço de sua doutrina e de seu

ensinamento. Aos poetas, aos romancistas, acontece esgotarem

na obra escrita o melhor de sua inspiraço) acontece mesmoultrapassarem, no tanto que escrevem, os limites dela, e

começarem a se repetir, a patinar em falso, a rebuscar o efeito

numa 9nsia estéril e v. 1 essencial do artista vai em um ou

dois livros) o resto de sua obra escrita é desnível, é queda. 7sto é

assim porque a inspiraço poética é essencialmente a de um

acordo feli* entre a intenço pro!etada e a forma verbal

concreta) e se este acordo só se reali*a em certos momentos, o

restante da obra escrita é esboço ou coment#rio, no obra. 2# a

inspiraço filosófica é, em ess$ncia, a de uma forma eidética

no associada intrinsecamente a nenhuma expresso verbal

determinada. 7ntrinsecamente, digo eu5 acidentalmente essa

associaço pode existir, pode ocorrer que determinadas seções

de sua filosofia ocorram a um filósofo !# incorporadas numa

expresso verbal feli*, ou mesmo genial e excelsa) porém estas

no t$m de ser necessariamente as partes melhores nem as

mais importantes da sua filosofia. %m nenhum momento o

g$nio verbal de lato alcança o esplendor do  Fedro) porém,qu$ valem as concepções filosóficas do Fedro comparadas "

profundidade insond#vel, " altitude quase divina de certos

trechos das Leis ou do Timeu, no entanto dificilmente not#veis

na expresso liter#ria( % mesmo quando a forma verbal é

perfeita e encarna a idéia sem exced$&la nem deixar nada

faltando, isto no resulta necessariamente em bele*a liter#ria,

em fluide* da leitura, em clare*a pl#stica da expresso. A mais

perfeita obra&prima de an#lise filosófica dos últimos tr$sséculos é provavelmente De l’Haitude, de :élix 8avaisson5

trinta p#ginas que vo subindo da biologia " psicologia, da

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psicologia à teoria do conhecimento e à metafísica sem um

salto, sem uma falha, sem uma vacilação. No entanto, são

tantas ali as inarmonias sonoras, as frases tortuosas, que, por

critérios estritamente literários, o texto passaria por obscuro e

mal feito e sua perfeição consiste em que qualquer tentativa de

retocá!lo literariamente resultaria em confundir as conex"es deconceitos, em rebaixar o nível de abstração, em diminuir o

 valor da prova. # $nico fil%sofo, em toda a hist%ria do

pensamento, que declarou ter exaurido na obra escrita o quanto

queria di&er foi 'enri (ergson e é uma obra maravilhosamente

escrita, límpida e musical em tudo. )as é que o universo

filos%fico de (ergson é reconhecidamente pobre, unitemático *

um tema com certo n$mero de variaç"es, que o autor teve a

sabedoria de parar quando iam atingindo o ponto de saturação.+oisa semelhante diga!se de +roce. demais, a limpide&

literária, em (ergson -não em +roce, é conseguida às ve&es à

custa de uma nebulosidade conceptual, que se denuncia

quando o leitor, varando a cortina verbal, acossa o fil%sofo em

demanda de suas provas derradeiras. /eibni& é, de modo geral,

um prosador s%brio e elegante, mesmo nos rascunhos. )as a

quase universal má interpretação de suas idéias deveu!se ao

fato de que se tornaram conhecidas principalmente através desuas obras melhor escritas * a Teodicéia e os Novos Ensaios

sobre o Conhecimento *, sem exame das páginas menos

artísticas do Discurso de Metafísica, da Monadologia e dos

in$meros Opúsculos e Cartas, onde o fil%sofo, dirigindo!se a

um círculo eleito de sábios, se permitia aquela brevidade que

'orácio di&ia ser oposta à clare&a. 0uem escreve mais forte e

eloq1ente que Niet&sche2 No entanto o melhor de seus

intérpretes, 3ugen 4in5, tentando redu&ir seus textos à

expressão coerente de um sistema, encontrou neles não um,

mas cinco sistemas filos%ficos mutuamente contradit%rios. 3

quem foi mais confundido e mal interpretado que o maior

prosador espanhol desde +ervantes2 6osé #rtega 7 8asset, um

homem a quem as palavras obedeciam como recrutas ao

capitão, um artista capa& de dar às idéias mais abstratas uma

clare&a plástica que quase as fa& saltar da página para

incorporar!se em massas tridimensionais que agem e falam,

um pedagogo nato para quem la claridad es la cortesía del

 filósofo * esse é no entanto o pensador que menos encontrou

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leitores compreensivos. 9esvalavam pelo declive lustroso de

suas metáforas, queixava!se ele, e iam parar longe do seu

pensamento. 4inalmente, é preciso considerar que, dos tr:s

pais!fundadores da filosofia #cidental, ;%crates, <latão e

 rist%teles, o primeiro não escreveu nada e, quanto aos outros

dois, de um se conhecem somente os escritos literariamenteacabados, faltando as aulas e cursos e do outro s% as aulas e

cursos, sem os escritos publicados em vida do autor. 3sta dupla

e inversa lacuna tem, como a abstin:ncia autoral de ;%crates, o

 valor de um símbolo= as relaç"es entre filosofia e expressão

literária serão eternamente ambíguas >amais a clare&a da

intuição filos%fica coincidirá plena ou permanentemente com a

nitide& da sua materiali&ação verbal e s% por uma exceção

notável os melhores momentos do filósofo coincidirão emsuperposição perfeita com os melhores momentos do autor.

?aí que, na obra de um fil%sofo, dificilmente ha>a textos

menores, merecidamente ditos tais, dispensáveis no todo para

o conhecimento de sua doutrina, como na obra dos poetas, ao

contrário, há sempre dois ou tr:s cumes que brilham so&inhos

sem qualquer amparo em textos secundários, e que brilhariam

talve& mais se o restante da sua obra escrita se perdesse. <ois

algo não se perdeu de The aste !and  quando se publicaram

seus rascunhos com os trechos cortados pela mão de <ound2

0uanto mais claro e fulgurante, no con>unto, não se tornou no

entanto o pensamento de rist%teles quando se redescobriu em

@ABC sua "oética desaparecida por quase dois mil:nios2 3

quanto não se mostrou mais consistente e firme o edifício do

platonismo quando revisto à lu& da reconstituição do

ensinamento oral do mestre, empreendido mediante cote>o de

depoimentos pelo historiador 8iovanni 9eale2

  obra de um poeta são seus poemas principalmente seus

poemas melhores. obra de um fil%sofo não são seus escritos.

3les são apenas testemunho, sinal. obra está no que se chama

o filosofema, o sistema ideal de intuiç"es e pensamentos que se

oculta por trás dos textos, sistema que os textos refletem de

maneira irregular e desigual, por ve&es com partes faltantes, e

que s% pode ser contemplado por quem o reconstitua. Dma

obra poética, para ser compreendida, basta que se>a lida, bem

lida. 3la posa inteira diante do leitor, pronta para ser

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contemplada em sua forma que, se é artística, é irretocável. 6á

uma obra filos%fica tem de ser inteiramente reconstruída

executada, a bem di&er, como se executa uma composição

musical com base na partitura, pois os escritos filos%ficos não

passam disto= partituras para executantes e, ao executar, o

artista elabora, retoca, altera e reconstr%i !! s% então a obraaparece. <ara servir de base a esta reconstrução, valem tanto os

trechos que o fil%sofo tenha deixado prontos e elaborados em

seus $ltimos detalhes, quanto aqueles que tenham ficado no

esboço, no plano ou na mera manifestação de intenç"es. #

con>unto desses materiais permanecerá sempre incompleto,

sempre retocável, estará sempre aquém do filosofema, que é

interior em sua origem e interior na sua reconstituição final.

Dma das conseq1:ncias práticas disto é que no estudo dos

fil%sofos os escritos menores, cartas, rascunhos, entrevistas,

transcriç"es de aulas, mostrem um interesse que vai muito

além daquele estritamente biográfico que escritos semelhantes

t:m para o estudo dos poetas e romancistas. E que são parte

intrínseca da obra, e não, como no caso destes, apenas

preparação e ensaio da obra possível. 3m decorr:ncia, também

não é importante que o fil%sofo deixe escritas de pr%prio punho

suas idéias ou que elas venham num estilo literário pessoal e

pr%prio. ;%crates s% é conhecido pelo que seus discípulos

anotaram do que falou.  Estética e as !i#$es sobrea %istória

da &ilosofia de 'egel são quase que por inteiro anotaç"es de

alunos. 3como conheceríamos mal o pensamento de 'usserl se

não fosse por obras como E'peri(ncia e)uí*o, inteiramente

redigida por seu discípulo 4in5 em linguagem pessoal e

característicaF 0ualquer texto, escrito por quem quer que se>a,

que um fil%sofo aprove como expressão adequada de seu

pensamento * ou que, mesmo sem essa aprovação explícita,

possa ter o valor de um testemunho fidedigno * deve ser

considerado parte integrante de sua #bra, na medida em que

a>udam a perfa&er o filosofema em que ela consiste

essencialmente.

)as o filosofema, por sua ve&, não se perfa& somente num

sistema ideal de teses abstratas, e sim também nas atitudes

pessoais concretas com que o fil%sofo lhes deu interpretação

 vivente ante as situaç"es da exist:ncia= a altive& de ;%crates

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ante a morte é a exemplificação concreta da moral socrática,

que entenderíamos diversamente, de maneira mais figurada e

menos estrita, caso seu autor houvesse mostrado fraque&a ante

os carrascos. 3stamos aqui, novamente, nos antípodas da

hist%ria literária, onde os detalhes biográficos devem ser

abstraídos para dar lugar a uma interpretação direta dos textos.E que é diverso o nível de responsabilidade que o artista e o

fil%sofo - ou o místico, ou o homem de ci:ncia devem ter ante

o que escrevem. Dm poeta ou romancista, por definição, não

tem de acreditar no que escreve, exceto no instante em que

escreve. 4indo o :xtase criador, bem pode tomar tudo aquilo

por uma alucinação, um >ogo, um minuto de pra&er desligado

da corrente da vida, e ir cuidar da Gvida realG enquanto

continua recebendo os aplausos e os proventos do momentoque passou. <or isto é que damos ainda atenção à poesia de

9imbaud, mesmo sabendo que ele a renegou para tornar!se

contrabandista de armas, atividade das mais $teis e práticas no

reino deste mundo. )as o que seria do místico que, passado o

arrebatamento da visão de ?eus, negasse a sua fé, ou do

fil%sofo que, dissipado o instante da intuição da verdade, não

tratasse de lhe ser fiel em seus atos e palavras subseq1entes2

Não seriam tais atitudes imediatamente alegadas pelosadversários da sua religião ou da sua filosofia como provas

implícitas da falsidade destas2 ;eriam, no mínimo, traiç"es.

Num fil%sofo ou num místico, escandali&a!nos até mesmo um

pequeno desli&e de conduta, um ligeiro desvio em relação à sua

moral explícita, um momento de distração que o afaste da

 verdade proclamada. )ais ainda= o fato do desvio, devidamente

encaixado pelos p%steros na seq1:ncia evolutiva da biografia

interior do fil%sofo, será usado como base para reinterpretaç"es

inteiras de seu pensamento= há um 'eidegger anterior e um

posterior à revelação de seu namoro na&ista, como há um

;artre anterior e um posterior a seus vexames de maio de HC,

um /u5ács anterior e um posterior às genuflex"es ante ;talin.

Isso não quer di&er, é claro, que o fil%sofo tenha de brilhar na

perfeição de uma coer:ncia moral em bloco e sem pecado. Não.

3le pode pecar. )as não deve mentir, racionali&ando a

 posteriori  seus pecados para encaixá!los à força na coer:nciado sistema, nem entorpecer!se no abandono do seu dever de

integridade, procedendo como um poeta que pode escrever

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uma coisa num dia e no dia seguinte esquec:!la por completo

como se tivesse amanhecido outro. filosofia não é a

elaboração de uma obra, mas a criação incessante de uma

consci:ncia, que, como o pr%prio nome di& J cum K scientia J

consiste em saber que sabe, e saber que sabe que sabe, e, enfim,

carregar a sua cru&.

Lambém não quer di&er que a biografia possa ou deva ser a

chave principal que nos abra a compreensão do pensamento de

um fil%sofo. o contrário= onde quer que as liç"es orais ou

escritas que nos legou o fil%sofo não bastem para evidenciar por

si a unidade do intuito central que move o seu pensamento, é

certamente porque essa unidade não existe, porque estamos

diante dos rastros informes de um pensamento que se busca enão se encontra. 3 será vão empreendimento tentar encontrar,

na biografia, a unidade que as palavras não revelam. <orque, se

não se explicitou em palavras, o intuito não chegou a ser

pensado em palavras, mas apenas talve& confusamente

pressentido fragmentariamente em momentos esparsos, sem

tomar forma na autoconsci:ncia. 3ssa unidade que

permanecesse meramente potencial seria uma filosofia em

pot:ncia mas uma filosofia em pot:ncia não é uma filosofia,

pela simples ra&ão de que a pot:ncia, não possuindo ainda a

forma que a convertesse em ato, conservaria em si, como tudo o

que é apenas germe e promessa, a possibilidade de

desenvolver!se em direç"es m$ltiplas e contradit%rias, ou se>a,

de gerar filosofias diversas e antagMnicas. )ais ainda, a

unidade vagamente pressentida, se não pMde se manifestar na

forma do conceito, permaneceu condensada em símbolo.

)atri& de filosofias possíveis, não é filosofia nenhuma. E, no

pleno sentido da palavra, poesia. 3 a poesia, por mais que possainfluenciar e inspirar os fil%sofos, não fa& parte do pro>eto

filos%fico originário, que inclui por ess:ncia o intuito de

explicitar o símbolo e operar, entre as possíveis intelecç"es que

gere, a triagem do verdadeiro e do falso entrando portanto a

poesia na hist%ria da filosofia apenas como fator externo e

eventual matéria da obra filos%fica, matéria sem forma

filos%fica, sendo certo e verdadeiro que a ess:ncia está na forma

e que tudo !! desde a experi:ncia mística e as ci:ncias até asimples experi:ncia da vida !! pode servir de matéria à forma

que, elevando!o ao nível do conceito explicitado e

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autoconsciente, fará dele filosofia e não outra coisa. É

sumamente grave, portanto, que, não se encontrando na obra

de um Nietzsche outra unidade senão biográfica e psicológica,

se continue a tomá-lo como filósofo em vez de admitir que é

poeta e nada mais, isto é, homem que não pretende que se tome

em sentido unvoco suas palavras, pela simples razão de que elepróprio não sabe, e admite que não sabe, em qual dos m!ltiplos

sentidos unvocos possveis elas poderiam ser verdadeiras, e em

quais falsas. É verdade que o próprio Nietzsche, aqui e ali,

insiste na unidade de filosofia e biografia, mas o faz antevendo

que ele próprio não poderá ser compreendido senão pela

 biografia, o que resulta em admitir o caráter simbólico, alusivo

e plurissenso de suas próprias palavras e sua incapacidade de

e"plicitá-las para #ulgá-las filosoficamente.

Não é portanto em sentido nietzscheano que deve ser

entendido meu apelo $ unidade de filosofia e biografia% pois, no

sentido em que a entendo, a compreensão biográfica

permanece elemento au"iliar e somente isto, na medida em que

a sntese superior em que consiste a filosofia e"pressa é

elemento de biografia espiritual que não se poderia em hipótese

alguma reduzir, como o prop&e Nietzsche, $ biografia emprica

e psicológica. ' que digo é que o te"to filosófico é

necessariamente incompleto, necessitando sempre um pouco

ser complementado pelos elementos biográficos, e não que a

unidade e a chave de uma filosofia se encontrem sempre e só na

psicologia de um indivduo, o que seria mergulhar toda

compreensão filosófica num radical imanentismo psicológico,

omitindo o compromisso de universalidade que está na raiz

mesma do filosofar e escondendo embai"o do tapete o fato de

que quaisquer conceitos psicológicos, inclusive aqueles de quese serve Nietzsche, participam desse compromisso e se

comeriam a si mesmos pelo rabo, perdendo toda validade e

for(a e"plicativa, na hora em que se reduzissem a meras

e"press&es das psiques individuais que os criaram.

)uanto $ poesia, o que digo para diferenciá-la da filosofia é

que, de todas as atividades criadoras do esprito, a artstica e

literária é a que e"ige menos compromisso pessoal com o seu

conte!do* o que a arte e"ige do artista é a devo(ão $ obra, para

criá-la% não a fidelidade a ela, depois de pronta. +a que os sins

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e os nãos sucessivos numa obra poética e na vida do poeta

não a invalidem, na medida em que $s vezes podem dar até

for(a $ sugestividade e fecundidade do smbolo. )ue se diria,

em compara(ão, do cientista que, apresentada sua descoberta,

tratasse de ignorá-la e de não responder por ela na seq/ncia

de seus trabalhos0 'u do filósofo que, publicada sua teoria doconhecimento, nos desse em seguida uma metafsica

totalmente desligada dela, e esperasse com isto obter aplausos

por sua fecundidade criadora0 Não* a rela(ão do artista com a

obra pronta é de total independ/ncia% a do filósofo, do cientista,

do teólogo e do mstico, é de responsabilidade e continuidade.

' artista, ao publicar suas cria(&es, liberta-se delas. ' homem

de pensamento carrega-as como a cruz do seu destino* se#a

para defend/-las, se#a para renegá-las, terá de t/-las sempreante os olhos, para firmar no passado os atos do presente. 1

 vida infame de um poeta é resgatada por seus escritos% os atos

infames de um filósofo são a condena(ão de sua obra escrita. 2

 bem longe do meu pensamento andará o leitor que compreenda

tudo isto como um simples apelo moralstico $ coer/ncia entre

atos e obras% pois não digo que essa coer/ncia deva e"istir, mas

que ela existe necessariamente, para o bem ou para o mal, e

que por isto os atos de um filósofo devem ser incorporados $sua filosofia como interpreta(&es operantes que o pensador deu

ao seu próprio pensamento ao traduzi-los da generalidade das

idéias para a particularidade das situa(&es% que, portanto, em

filosofia os estudos biográficos não são e"ternos e

supervenientes como em literatura, mas parte integrante, ainda

que au"iliar, da compreensão do filosofema% a vida do filósofo

está para sua filosofia como a #urisprud/ncia está para os

códigos.

 1 razão profunda disso encontra-se na natureza mesma da

filosofia, que, como ensinava o insigne 3gino 4etrone,

5è una visione del mondo in termini d’intelligibilità ed è

 fondazione della possibilità dell’esperienza. È, quindi, di

sua natura, una sintesi espirituale dell’esperienza, una

ideale composizione e deduzione della medesima, una

intuizione della natura intima delle cose e delle relazioni,

ossia del loro nascimento ideale dalla virtù operosa dello

spirito, una illuminazione impressa e derivata sui

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 prodotti della consapevolezza dello spirito produttore,

un ritorno dello spirito sulla sua interiorità produttiva5.

6

7endo o locus por antonomásia do reencontro entre e"peri/ncia

e autoconsci/ncia, como poderia a filosofia e"cluir de si os atosdo filósofo, precisamente aqueles que emanam do esprito

mesmo que os #ulga filosoficamente chamando-os de volta a si0

8nifica(ão interior da e"peri/ncia, a filosofia nada e"clui% e,

não podendo dizer tudo, muito dei"a subentendido o filósofo

em suas atitudes humanas, legveis a quem as saiba ler.

4or isso é que um verdadeiro ensino da filosofia só e"iste onde

e"ista um filósofo vivo, surpreendido pelos discpulos no ato

mesmo de criar sua filosofia. ' filósofo in fieri  é o verdadeiro

portador da filosofia* os te"tos são apenas a prova de que uma

filosofia aconteceu. ' filósofo que apenas escrevesse, sem

e"ercer um magistério direto, seria um personagem misterioso,

enigmático, cu#o pensamento permaneceria para sempre

matéria de d!vida e reconstitui(ão con#etural. 9emos a certeza

de compreender 4latão em certos trechos porque sabemos

como os ouviu de viva voz um 1ristóteles, e conferimos nossa

interpreta(ão pela sua. :á num +escartes ou num ;acon, tãomais pró"imos de nós historicamente, descobrimos mil e uma

ambigidades que teriam certamente se dissipado se seus

te"tos, em vez de irem direto para o p!blico an<nimo, primeiro

fossem lidos e discutidos num crculo de discpulos% e se não

fossem as Obje!es e "espostas em que +escartes discute com

seus correspondentes -- substitutos ad #oc dos discpulos em

classe --, provavelmente pouco entenderamos do

cartesianismo.

 1inda na mesma ordem de considera(&es, digo que, se os mais

claros e menos ambguos dentre os escritos filosóficos são os

dos escolásticos, é porque são te"tos de ensino, que refletem na

sua estrutura mesma o dia-a-dia do professor em classe. =as,

no modo de refleti-lo, vão muito além das virtudes do

didatismo, da clareza e da ordena(ão lógica que esplendem $

sua superfcie. 7ão, na sua estrutura profunda > estritamente

homóloga, como bem o viu 2r?in 4anofs@A, $ das catedrais cu#aarquitetura se cifrava nos seus mesmssimos princpios

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organizadores > a imita(ão artstica de uma imago mundi , na

qual o esfor(o dialético do filósofo refletido por sua vez no

diálogo em classe reproduzia, na intimidade microcósmica da

consci/ncia humana, o processo mesmo de ramifica(ão da

natureza desde os princpios supremos e simples até a

comple"idade sinf<nica da manifesta(ão fsica na sua inteireza%imago mundi , portanto, na qual o pensar e o e"istir, o ser e o

devir, a consci/ncia e o mundo, a linguagem e a natureza, ainda

se encontravam unidos por um la(o amoroso que a

modernidade veio a romper, para lhe substituir, de um lado, o

formalismo sufocante de um raciocnio inteiramente separado

da e"peri/ncia, de outro, a imagem mortuária de uma natureza

totalmente ob#etivada, se#a como ancilla tecnologi$, se#a como

artigo de consumo para as classes médias ascendentes ávidasde signos convencionais de beleza. +a v/m, ao mesmo tempo,

a transpar/ncia que apresentam aos olhos de quem se

transporte e se identifique em esprito $ viv/ncia religiosa e

metafsica que os inspirou, e a opacidade de pedra com que

resistem ao leitor que, vindo de fora, os tente #ulgar desde logo

com olhos estranhos e imbudo de um falso sentimento de

superioridade de sua própria época em rela(ão $quela em que

foram escritos% opacidade que se adensa mais ainda $ medidaque esse leitor, avan(ando passo a passo na decifra(ão analtica

dos seus pormenores silogsticos, vai se perdendo mais e mais

na comple"idade de uma selva cu#o contorno global por fim lhe

escapa ine"oravelmente. 4rodgios de clarifica(ão, tornaram-se

um muro de opacidades% dons da gra(a iluminante, tornaram-

se maldi(ão obscurecedora. 2 quando me pergunto o porqu/ do

ódio que voltaram contra esses te"tos tantos filósofos

modernos que não os conheceram senão muito

superficialmente ou de segunda mão, não encontro outra

resposta senão o tenebroso sentimento de e"clusão eterna que a

alma obscurecida do renegado e"perimenta ante tudo o que é

do esprito e da luz.

=as, se a luz que esplende nesses te"tos é da mesma natureza

daquela que se filtra pelos vitrais das igre#as, é gra(as $ unidade

que a sntese gótico-escolástica conseguiu criar entre a

imagina(ão, o sentimento e a e clarifica(ão racional > unidadeque se fundava por sua vez na coesão do edifcio social da

2uropa medieval, ao mesmo tempo que constitua um dos

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fundamentos dele. Bada frase dos escritos escolásticos reflete

esse conte"to e apóia-se na comple"a rede de pressupostos

implcitos que ele contém, a come(ar pela fé cristã incorporada

nos costumes de uma vida social amplamente ritualizada. É isto

o que e"plica o poder da sua concisão, que para o leitor de ho#e

os torna obscuros e enigmáticos. 7imilar conte"to faltatotalmente nos dias de ho#e, quando a cultura se fragmenta a

olhos vistos e novos conte"tos imaginários e semCnticos se

formam e desfazem a cada dia, cristaliza(&es provisórias que

simulam por algum tempo uma comunidade de signos e

sentimentos numa classe social, num grupo profissional, numa

região determinada, para logo dissolver-se, como os que os

antecederam, num oceano de ruidosa incomunicabilidade. +a

a necessidade, em que se encontra o homem que pretendae"plicar-se a rigor, de refazer artificialmente o conte"to, o

ambiente humano e lingistico, como o professor de um

imaginário liceu erguido sobre areia movedi(a, o qual tivesse de

ser reconstrudo a cada novo perodo letivo. +a as longas

introdu(&es de que fa(o preceder os meus livros, introdu(&es

que, aceitando o risco calculado de parecerem cair no

confessionalismo mais direto, dão ao leitor uma idéia do

preciso ponto do desenvolvimento ou, se preferirem,retrocesso intelectual e anmico do autor em que lhe surgiram

tais ou quais perguntas, nunca como curiosidades de

acad/mico, #á que ele nem sequer faz parte desta profissão aliás

distinta e nobre, mas sim como perturbadoras d!vidas

pessoais. 7im, #amais escrevi sobre o que não me doesse, nem

sobre o que doesse somente a mim. Bom a e"ce(ão das

mensagens divinas, de que não sou portador eleito, são as dores

do mundo, na medida em que participamos delas com a

inteireza de nossa alma, que constituem a !nica matéria digna

do ofcio de escrever e falar em p!blico.

..............................................................................................

DBontinuaE

Nota

6 3gino 4etrone, %l &iritto nel 'ondo dello (pirito. (aggio

 )ilosofico, =ilano, Fibreria 2ditrice =ilanese, 6G6H, p., I* 51

filosofia é visão do mundo em termos de inteligibilidade e é

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08/05/2015file:///C:/Users/Fred/AppData/Local/e!p/Lo"/A#$%A&'()*t!

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7/17/2019 Poesia e Filosofia.

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fundação da possibilidade da experiência. É, portanto, por sua

natureza, uma síntese espiritual da experiência, uma ideal

composição e dedução da mesma, uma intuição da natureza

íntima das coisas e das relações, ou seja, do seu nascimento

ideal desde a virtude operosa do espírito, uma iluminação

impressa e derivada sobre os produtos do autoconsciência doespírito produtor, um retorno do espírito sobre a sua

interioridade produtiva."

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