Polimento de Efluentes de UASB com filtros intermitentes de areia.

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DEPTº DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA MESTRADO PROFISSIONAL EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO SALVADOR 2006 EDUARDO HENRIQUE BORGES COHIM SILVA POLIMENTO DE EFLUENTE DE UASB COM FILTROS INTERMITENTES DE AREIA

Transcript of Polimento de Efluentes de UASB com filtros intermitentes de areia.

DEPTº DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAESCOLA POLITÉCNICA

MESTRADO PROFISSIONAL EMGERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS

AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO

SALVADOR 2006

EDUARDO HENRIQUE BORGES COHIM SILVA

POLIMENTO DE EFLUENTE DE UASB COM FILTROS INTERMITENTES DE AREIA

EDUARDO HENRIQUE BORGES COHIM SILVA

POLIMENTO DE EFLUENTE DE UASB COM FILTROS INTERMITENTES DE AREIA

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissional em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Profº. PhD. Asher Kiperstok

Salvador 2006

S5861 Cohim, Eduardo

Polimento de efluente de USAB com filtros intermitentes de areia. / Eduardo Henrique Borges Cohim Silva. --- Salvador-BA, 2006.

128p. il.

Orientador: Prof. Asher Kiperstok Dissertação (Mestrado em Gerenciamento e Tecnologias

Ambientais no Processo Produtivo) - Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, 2006.

1. Esgotos domésticos – Tratamento biológico 2. Águas residuais – Purificação – Tratamento biológico 3. Meio Ambiente. I. Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica. II. Kiperstok, Asher. III. Título.

628.354

AGRADECIMENTOS

A concretização de uma pesquisa – por mais simples que ela seja –

nunca é fruto de um trabalho individual, exclusivamente. Ao contrário, precisa

de muita e diversificada ajuda. Gostaria aqui de reconhecer e agradecer de

forma especial algumas das mais valiosas com que contei.

Em primeiro lugar, ao meu orientador, o Professor PhD. Asher

Kiperstok, pelo exemplo, imensamente admirado, de sua capacidade de pensar

sem amarras.

Ao colega graduando de Engenharia Ambiental, Alisson Meireles,

cuja ajuda na realização dos experimentos, na preparação dos relatórios e na

revisão do texto final foi fundamental para a concretização deste trabalho.

À Empresa Baiana de Águas e Saneamento, que apoiou financeira e

materialmente o trabalho, especialmente ao seu Diretor de Operações Engº.

Jessé Mota Carvalho Filho e à sua Diretora Administrativa Bel. Kátia Maria

Alves Santos.

À FINEP, que, por meio do Edital nº. 4 do PROSAB, financiou parte

dos estudos desta dissertação.

Ao Laboratório de Geotecnia Ambiental – GEOAMB, especialmente

ao seu coordenador, o Professor Dr. Sandro Machado, pela realização dos

ensaios de granulometria e curvas de retenção de umidade das areias

utilizadas.

A Sidnei Pereira Alves que, além de montar o aparato experimental,

prestou uma assistência contínua no decorrer dos trabalhos, ajudando a

solucionar os problemas surgidos.

A Bibliotecária Linda Carla Bulhosa, sempre prestimosa na busca de

itens bibliográficos dados como impossíveis de serem obtidos.

A todos, e foram muitos, que ajudaram e que deixam de ser aqui

citados para evitar o alongamento excessivo desta lista.

RESUMO

Esta dissertação propõe-se ao estudo da viabilidade do uso de filtros

intermitentes em leito de areia (FILA), uma tecnologia de tratamento do esgoto

convencional adaptável a pequenas comunidades, que possibilita o reúso

seguro da água e a preservação dos nutrientes. Essas unidades podem

produzir um efluente com DBO e SST abaixo de 10,0 mg/l, turbidez menor que

2 NTU e são ainda capazes de remover de 2 a 4 log de coliformes, sem perda

de nutrientes. Além disso, requerem uma área 5 a 10 vezes menor que lagoas

de estabilização, podendo se adequar melhor em locais com menor

disponibilidade terreno. O foco deste trabalho é a avaliação do efeito da

variação do tamanho efetivo do leito filtrante e da freqüência de aplicação na

qualidade do efluente final. Para isso, foram construídos nove filtros, com

diâmetro de 300 mm, arranjados em 3 conjuntos de três unidades, com leitos

filtrantes constituídos por areias com tamanhos efetivos de 0,5, 0,7 e 1,2 mm e

coeficientes de uniformidade menor ou igual a 2 e espessura de 60,0 cm.

Todos os filtros receberam o efluente de um UASB na mesma carga hidráulica

de 0,60 m/dia, dividida em 24, 48 e 96 doses por dia, respectivamente para

cada conjunto.Os FILAs mostraram uma elevada eficiência no tratamento,

produzindo efluentes com concentração de sólidos suspensos menor que 5,0

mg/l; DBO menor que 10,0mg/l, e uma nitrificação média de 70%. Além disso,

obtiveram-se remoções de coliformes fecais de mais de 4 unidades

logarítmicas, com efluente final com concentrações inferiores a 1000

UFC/100ml, atendendo ao padrão de irrigação irrestrita sugerido pela

Organização Mundial da Saúde.

Palavras-chave: FILA; filtro intermitente; tamanho efetivo; freqüência de aplicação; higienização de esgoto; preservação de nutrientes

ABSTRACT

This dissertation attempts to study the viability of the use of

intermittent sand filters ISF, a conventional method of sewage treatment which

can be adapted for use in small communities and which can permit the safe

reuse of water without removing nutrients. Such filters can produce an effluent

with a BOD and TSS of below 10.0mg/l, turbidity below 2 NTU and are even

able to remove 2 to 4 log of coliforms without losing any of the nutrients. They

also require an area 5 to 10 times less extensive than that of stabilization ponds

and are therefore more suited to areas where there is little land available. The

focus of this work was to evaluate the effect of the variation of the effective size

of the filter bed and the frequency of application on the quality of the final

effluent. Nine filters were constructed, each 300mm in diameter arranged in

sets of 3 with filter beds made of sands of 0.5, 0.7 and 1.2mm with uniformity

coefficients of less than or equal to 2 and a thickness of 60cm. All the filters

received effluent from an Up-Flow Anaerobic Sludge Blanket – UASB at the

same rate, 0.6m/day, divided into daily doses of 24, 28 and 96 respectively. The

filters showed high level of efficiency in treatment producing effluent with

suspended solids concentration of less than 5mg/l, BOD lower than 10mg/l and

70% average nitrification levels. Furthermore, the removal of fecal coliforms of

more than 4 log was achieved producing a final effluent with concentrations of

below 1000 CFU/100ml, satisfying the WHO recommendation for unrestricted

use in irrigation.

Keywords: ISF; intermittent sand filter; effective size; dosing frequency; wastewater hygienization; nutrients preservation

LISTA DE FIGURAS Figura 1: O modelo atual de saneamento e o ciclo dos nutrientes ..................... 17 Figura 2: O ecossaneamento e o ciclo dos nutrientes........................................... 28 Figura 3: Características das frações do esgoto doméstico................................. 30 Figura 4: Filtro Intermitente Modelo USPHS 1920 ................................................. 37 Figura 5: Mecanismo básico do transporte da água na filtração ......................... 41 Figura 6: Representação esquemática de um biofilme bacteriano. .................... 46 Figura 7: Gráfica - α em função da porosidade do meio ....................................... 52 Figura 8: Coeficiente de difusão do oxigênio no solo No eixo X é porosidade acessível, fa................................................................................................................... 53 Figura 9: Esquema da seqüência de aplicação ...................................................... 54 Figura 10: Troca gasosa convectiva durante alimentação e drenagem ............. 56 Figura 11: Variação dos estoques de água e ar..................................................... 56 Figura 12: Efeito da existência de lâmina d’água sobre a superfície do leito .... 57 Figura 13: Capacidade total de oxidação em função da carga hidráulica.......... 59 Figura 14: Efeito da carga hidráulica nos filtros...................................................... 62 Figura 15: Ilustração das quatro fases de um meio poroso não saturado colonizado ..................................................................................................................... 62 Figura 16: Papel do biofilme na condutividade hidráulica: à esquerda, meio virgem; à direita, meio colonizado............................................................................. 64 Figura 17: Fluxo de oxigênio entre o ar e o biofilme .............................................. 65 Figura 18: Biofilme em meio poroso não saturado. ............................................... 66 Figura 19: Eliminação de coliformes termotolerantes a diferentes profundidades e cargas hidráulicas..................................................................................................... 75 Figura 20: Remoção de microrganismo em função da carga hidráulica ............ 76 Figura 21: UASB .......................................................................................................... 79 Figura 22: Chegada do esgoto bruto ........................................................................ 80 Figura 23: Caixa de Divisão de Vazão - CDV ......................................................... 80 Figura 24: Alimentação dos FILAs ............................................................................ 81 Figura 25: Detalhes do FILA ...................................................................................... 82 Figura 26: Curva granulométrica das AMOSTRAS 01, 02, 03, 04 e 05 ............. 83 Figura 27: Conjunto do aparato experimental......................................................... 84 Figura 28: Hidrogramas de saída.............................................................................. 89 Figura 29: Box Plot Variação de SS com TE e F ................................................... 92 Figura 30: Variação temporal de SS......................................................................... 93 Figura 31: Relação entre volume retido por filtração e volume do leito, σ ......... 95 Figura 32: Tendência de DBO5 efluente x tempo de passagem.......................... 99 Figura 33: Box Plot Variação da DBO com TE e F .............................................. 100 Figura 34: Variação temporal da DBO ................................................................... 101 Figura 35: Oxidação da amônia .............................................................................. 102 Figura 36:Box Plot Variação da qualidade do efluente com TE e F.................. 105 Figura 37: Remoção de C.TE. versus TMP........................................................... 107 Figura 38: Perfil da Biomassa Heterotrófica após 3 dias de operação (H = 0,5 m/d; DQO afluente = 300 mg/L; N-NH4 afluente = 60 mg/L) ............................. 108 Figura 39: Evolução da colmatação filtros Conjunto 1 (F 24 d-1) ....................... 109 Figura 40: Evolução da colmatação filtros Conjunto 2 (F 48 d-1) ....................... 110 Figura 41: Evolução da colmatação filtros Conjunto 3 (F 96 d-1) ....................... 111 Figura 42: Evolução da colmatação filtros TE 0,5 (F 24 d-1, 48 d-1 e F 96 d-1)112 Figura 43: Evolução da colmatação filtros TE 0,7 (F 24 d-1, 48 d-1 e F 96 d-1)113 Figura 44: Evolução da colmatação filtros TE 1,2(F 24 d-1, 48 d-1 e F 96 d-1) 114

LISTA DE TABELAS Tabela 1 Arranjo Experimental .................................................................................. 14 Tabela 2: Composição do biofilme............................................................................ 46 Tabela 3: Tendência geral de desempenho em função dos fatores de projeto 70 Tabela 4: Resumo dos resultados dos ensaios de caracterização realizados .. 84 Tabela 5: Protocolo experimental ............................................................................. 85 Tabela 6: Tempos de aplicação ................................................................................ 85 Tabela 7: Características do efluente do UASB ..................................................... 86 Tabela 8: Parâmetros analisados ............................................................................. 87 Tabela 9: Tempo Médio de Passagem, minuto ...................................................... 90 Tabela 10: Comparação das médias de concentração de SS ............................. 91 Tabela 11: Limites de turbidez na Resolução nº. 357/2005 ................................. 94 Tabela 12: Concentrações de cátions no sistema (mg/l) ...................................... 96 Tabela 13: Estimativa de SDT em função de CE ................................................... 97 Tabela 14: Restrição de uso para água de irrigação ............................................. 97 Tabela 15: Razão de adsorção de sódio ................................................................. 97 Tabela 16: Valores de CE para algumas culturas, sem perda de produção ..... 98 Tabela 17:Resultados médios de DBO5 .................................................................. 99 Tabela 18:Resultados médios de C.TE. no efluente dos filtros ......................... 104 Tabela 19: Densidades médias de C.TE. (uLog/100ml) .................................... 104 Tabela 20:Remoção de nutrientes .......................................................................... 115

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABC Alumen, blood e clay

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

CDV Caixa Divisora de Vazão

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

DLVO Drejaguin, Landau, Verway e Overbeck

ETE Estação de Tratamento de Esgotos

FILA Filtros Intermitentes em Leito de Areia

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

GEOAMB Laboratório de Geotecnia Ambiental

ISF Intermittent Sand Filters

MSBH Massachusetts State Board pf Health

ODM Objetivos de Desenvolvimento para o Milênio

PEC Polímeros extracelulares

PROSAB Programa de Saneamento Básico

PVC Policloreto de vinila

RAS Razão de Adsorção de Sódio

RAS Razão de Adsorção de Sódio

RBC Biodisco Contator Rotatório

TMP Tempo Médio de Passagem

UASB Up-flow Anaerobic Sludge Blanket

UNEP Programa para o Meio Ambiente das Nações Unidas

UNICEF Fundo das Nações Unidas para Infância

USEPA United States Environment Protection Agency

WHO World Health Organization

WSSCC

Conselho Colaborativo para o Abastecimento de Água e

Saneamento

LISTA DE SÍMBOLOS C Concentração de oxigênio na fase gasosa C.TE Coliformes Termotolerantes CE Condutividade Elétrica Co Teor de oxigênio no ar atmosférico Co Concentração ponderada do oxigênio no ar CU Coeficiente de Uniformidade D Coeficiente de difusão no meio poroso

d10 Diâmetro efetivo, correspondente a 10% em peso total das partículas menores que ele

d50 Diâmetro correspondente a 50% em peso total das partículas menores que ele

DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio DBO5 Demanda Bioquímica de Oxigênio do 5º dia Do Coeficiente de difusão do oxigênio no ar DQO Demanda Química de Oxigênio DTO Demanda Total de Oxigênio F Freqüência de Aplicação H Altura do leito

ho Altura da lâmina de água aplicada durante uma seqüência de alimentação

J Fluxo de oxigênio por unidade de superfície L Carga hidráulica diária NH4+ Amônia Ni Concentração de amônia no afluente No Concentração de amônia no efluente NTK Nitrogênio Total de Kiron NTU Unidade de Turbidez qa Vazão aplicada qe Vazão escoada qi Vazão infiltrada s Volume total do leito filtrante As Estoque de ar em volume SDT Sólidos Dissolvidos Totais SS Sólidos Suspensos SST Sólidos Suspensos Totais Sw Estoque de água em volume T Temperatura TD Intervalo de tempo de um ciclo TE Tamanho Efetivo

tm Tempo médio de detenção hidráulica α Fator de impedância θ Umidade volumétrica do leito ρa Massa de ar a pressão considerada ρao Massa de ar a pressão atmosférica Φa Porosidade ocupada pelo ar Φa Porosidade livre ao ar Φt Porosidade total ωc Capacidade de oxidação pela via convectiva ωd Capacidade de oxidação pela via difusiva

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 12 2. JUSTIFICATIVA E CONTEXTUALIZAÇÃO 15 2.1. O MODELO CONVENCIONAL 16 2.2. PERSPECTIVA HISTÓRICA 18 2.3. A CRISE DO SANEAMENTO 24 2.4. TECNOLOGIAS LIMPAS APLICADAS AO SANEAMENTO 26 2.5. UMA FASE INTERMEDIÁRIA 31 3. OBJETIVOS 33 4. A FILTRAÇÃO INTERMITENTE EM LEITO DE AREIA 34 4.1. HISTÓRICO DA FILTRAÇÃO INTERMITENTE 35 4.2. MECANISMOS DE REMOÇÃO 38 4.2.1. Mecanismos Físicos 39 4.2.2. Processos Biológicos 43 4.2.3. O Biofilme 44 4.2.4. O Balanço de Oxigênio 50 4.2.5. Capacidade de Oxidação 58 4.2.6. Aspectos Hidráulicos 60 4.2.7. Trocas no Biofilme 64 4.2.8. Colmatação 66 4.3. REMOÇÃO DE CONTAMINANTES EM FILAs 67 4.3.1. Remoção de Sólidos Suspensos 67 4.3.3. Remoção de Nutrientes 71 4.3.4. Remoção de Microrganismos 73 5. METODOLOGIA 79 5.1. APARATO EXPERIMENTAL 79 5.2. O MEIO FILTRANTE 82 5.3. O PROTOCOLO EXPERIMENTAL 85 5.4. CARACTERÍSTICAS DO EFLUENTE APLICADO 85 5.5. OPERAÇÃO E AMOSTRAGEM DOS FILTROS 86 5.6. ASPECTOS HIDRÁULICOS 87 5.7. COLMATAÇÃO 88 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO 89 6.1. ASPECTOS HIDRÁULICOS 89 6.2. SÓLIDOS SUSPENSOS 90 6.3. CÁTIONS E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA 96 6.4. SUBSTÂNCIAS OXIDÁVEIS 98 6.5. MICRORGANISMOS 104 6.6. NUTRIENTES 115 6.7. OUTROS ASPECTOS 116 7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 117 REFERÊNCIAS 120

12

1.INTRODUÇÃO

O setor de saneamento, entendido aqui no seu sentido mais estrito

como a coleta e a disposição dos esgotos sanitários, encerra o fluxo de dois

recursos vitais: água e nutrientes.

O sistema convencional para abastecimento de água e saneamento

baseia-se num único uso da água, na coleta e no tratamento de efluentes e na

disposição final do efluente tratado e dos lodos produzidos durante o

tratamento (FANE, 2003). Embora esse sistema tenha obtido sucesso na

eliminação de epidemias de doenças de veiculação hídrica, ele adota uma

lógica de fim de tubo, que se caracteriza pelo fluxo linear dos recursos água e

nutrientes, e não tem condições de atender às demandas atuais do serviço. As

conseqüências do uso desse sistema têm sido a exaustão e poluição dos

mananciais de água e o empobrecimento dos solos.

Esse modelo de saneamento teve sua origem na metade do século

XIX, quando os sanitaristas de então, apoiados na teoria dos miasmas,

encontraram no afastamento dos esgotos a solução para as epidemias de

cólera que assolavam as grandes cidades, sob os efeitos da recente

urbanização decorrente da industrialização. O surgimento desse modelo

rompeu com o modo orgânico de relacionamento que havia entre as cidades e

os campos agrícolas e segundo o qual os produtos do metabolismo urbano

eram utilizados na produção de alimentos, num movimento cíclico que

colaborava para a manutenção da fertilidade dos solos. Essa nova forma de

lidar com as excretas intensificou-se com o crescimento econômico e a

necessidade de alimentação da população, as duas principais ameaças ao

abastecimento de água.

A escassez de água e a poluição dos recursos hídricos representam

um problema de saúde pública, limitam o desenvolvimento econômico e

agridem o meio ambiente, conseqüências mais notadas nos países em

desenvolvimento (NIEMCZYNOWICZ, 1996). Considerando essa situação, a

água usada torna-se um recurso valioso se atentarmos para o fato de que a

maioria dos usos não requer a qualidade da água potável. Uma vez usada, a

água pode ser tratada e reusada, reduzindo a pressão sobre os mananciais

13

contribuindo assim para sua preservação e para o aumento da disponibilidade

de água doce (ANDERSON e OUTROS, 2001).

Na busca da sustentabilidade para o setor, várias propostas têm sido

apresentadas a partir do início dos anos noventa. As estratégias consideradas

incluem: o uso do esgoto para agricultura local (urbana); a reciclagem dos

esgotos como fonte secundária de água; a separação das águas cinza para

tratamento e o reuso; a separação de urina e fezes para reutilização de

nutrientes.

O uso dos esgotos tratados mais próximos às fontes geradoras

constitui uma possibilidade concreta e vantajosa da reciclagem dos nutrientes

(reintroduzindo-os no ciclo natural produtivo) como sendo uma etapa

intermediária de um novo modelo tecnológico de saneamento que,

possivelmente, caminhará para a separação das diversas correntes na própria

origem, dando a cada uma o destino produtivo mais adequado. Nesse

contexto, a tecnologia de filtração intermitente em leito de areia (FILA) para o

tratamento de esgotos apresenta vantagens consideráveis. A redução da carga

orgânica, a remoção de microrganismos em mais de 99.9% e a produção de

um efluente claro com teor de sólidos suspensos inferior a 10,0 mg/l são

algumas dessas vantagens. O mais importante, porém, é que esse

desempenho pode ocorrer sem a perda dos valiosos nutrientes contidos nos

esgotos, que podem ser reintroduzidos no ciclo produtivo através da

hidroponia.

Ao longo deste trabalho é feita uma retrospectiva histórica da origem

do modelo atual de saneamento no intuito de entender as condicionantes para

o seu desenvolvimento e para a sua fixação como modelo paradigmático.

Realizou-se uma revisão bibliográfica da tecnologia em saneamento

abrangendo o seu desenvolvimento e estágio atual, bem como os principais

mecanismos envolvidos no processo de tratamento de esgotos em FILAs e o

potencial de sua eficiência no que concerne aos principais constituintes do

esgoto doméstico.

Esta dissertação buscou estudar a filtração intermitente em geral e,

particularmente, o papel do tamanho efetivo do meio filtrante e da freqüência

14

FI - 1 FI - 2 FI - 3 FI - 4 FI - 5 FI - 6 FI - 7 FI - 8 FI - 9TE 0,5 0,7 1,2 0,5 0,7 1,2 0,5 0,7 1,2

F (doses.d-1) 24 24 24 48 48 48 96 96 96

CONJUNTO 1 CONJUNTO 2 CONJUNTO 3

de aplicação, ou seja, o fracionamento da carga hidráulica diária, no

desempenho de FILAs.

Para atingir os objetivos do trabalho, adotou-se a metodologia

descrita em detalhes no capítulo 5. Basicamente, nove filtros foram carregados

intermitentemente com o efluente de um Up-flow anaerobic sludge blanket

(UASB), em escala de laboratório, que trata parte dos esgotos da Escola

Politécnica da UFBA. As características do efluente do UASB quanto a

coliformes termotolerantes, à demanda bioquímica de oxigênio (DBO), ao

nitrogênio total e aos sólidos suspensos são, respectivamente, 5,9 unid

log/100ml, 69,0 mg/l, 178,0 mg/l e 69,0 mg/l.

As unidades de filtração foram construídas usando-se tubos de PVC

com diâmetro nominal de 300 mm, área superficial de 0,071 m2 e altura total

de 1,20 m e foram instaladas em local abrigado. A camada filtrante, constituída

por areias com coeficiente de uniformidade menor que 2,0 e possuindo uma

profundidade de 60 cm, foi colocada sobre uma camada drenante com 7,5 cm

de altura. O arranjo experimental é mostrado na Tabela 1.

Tabela 1 Arranjo Experimental

O efluente final apresentou aspecto agradável com baixa cor e

turbidez, com concentrações de sólidos suspensos inferiores a 10,0 mg/l, DBO

abaixo de 15,0 mg/l e percentual médio de nitrificação em torno de 75%. Do

ponto de vista microbiológico, o efluente final apresentou concentrações de

coliformes termotolerantes de 2,6 a 5,1 unidades logarítmicas por 100ml, com

as contagens mais baixas para as areias mais finas e para as maiores

freqüências de aplicação. Os resultados indicam que a tecnologia de filtração

intermitente em leito de areia tem um bom potencial para polimento de efluente

de reatores anaeróbios, visando à sua reutilização em ambientes urbanos.

15

2.JUSTIFICATIVA E CONTEXTUALIZAÇÃO

Conforme dito anteriormente, o sistema convencional de

saneamento com sua lógica de fim de tubo, que se caracteriza pelo fluxo linear

dos recursos água e nutrientes, não tem condições de atender às demandas

atuais do serviço. As conseqüências disso têm sido, por um lado, a exaustão e

poluição dos mananciais de água e, por outro, o empobrecimento dos solos. A

origem desse modelo está na segunda metade do século XIX, quando a falta

de conhecimento levou à tomada de uma decisão equivocada que rompia com

uma lógica razoavelmente estabelecida – e que não foi revista quando novas

descobertas ocorreram. A nova maneira de tratar o problema do saneamento,

simplesmente descartando o efluente recebeu críticas de diversos pensadores

e cientistas da época, a exemplo de Victor Hugo, Pierre Leroux, Justus von

Liebig, entre outros.

Hoje, esse equívoco tem sido reconhecido por diversos organismos

internacionais como, por exemplo, o Banco Mundial, Organização Mundial da

Saúde, Programa para o Meio Ambiente das Nações Unidas - UNEP etc., os

quais apontam a necessidade do estabelecimento de um novo paradigma que

leve em conta os ciclos naturais e o uso eficiente dos recursos para fazer frente

à enorme carência de alimentos e à ausência de saneamento que existem no

mundo atual, o que pode ser constatado no quadro de miséria e doença se

observa.

Esse novo paradigma parece estar na utilização do conceito de

tecnologias limpas aplicado ao saneamento, traduzido em quatro princípios:

não utilizar mais material, energia ou outro recurso por unidade de produto do

que o absolutamente necessário; não usar material de qualidade superior ao

estritamente necessário para o processo produtivo; não misturar diferentes

correntes de resíduos; avaliar outras funções e usos econômicos de

subprodutos antes de considerar seu tratamento e sua disposição final. Esse

novo paradigma é o ecossaneamento, que adota como princípio básico o

fechamento do ciclo entre o saneamento e a agricultura; objetivando não só a

redução dos riscos à saúde relacionados ao saneamento, à água contaminada

e ao resíduo, mas também a melhoria da qualidade das águas superficiais e

16

subterrâneas e da fertilidade do solo assim como a otimização do

gerenciamento de nutrientes e de recursos hídricos.

2.1.O MODELO CONVENCIONAL Os sistemas convencionais de saneamento (coleta, transporte,

tratamento e disposição final) funcionam segundo o conceito de tecnologias fim

de tubo: procura-se resolver os problemas, em vez de evitá-los. O modelo atual

de tratamento de esgoto, baseado nessas referidas tecnologias, tem como

características o uso perdulário dos recursos água e energia. A adoção desse

modelo também vai implicar a utilização dos nutrientes segundo um fluxo linear

no qual se esgotam as reservas do solo, que têm de ser repostas através de

fertilizantes extraídos de reservas minerais limitadas ou através de compostos

de nitrogênio cuja fabricação depende de técnicas altamente intensivas em

energia. Além disso, coletam-se todos os esgotos, independentemente de sua

natureza, para transportá-los e tratá-los em unidades centralizadas. Resultam

disso subprodutos de baixa qualidade devido à contaminação com metais

pesados e compostos xenobióticos.

Alguns autores (cf. OTTERPOHL e OUTROS, 2003a (ver Figura 1) e

Werner e outros, 2003) resumem as desvantagens do sistema convencional de

saneamento, quais sejam:

• Tratamento insatisfatório ou descarga descontrolada de mais de

90% do esgoto mundial;

• Poluição de corpos de água através de matéria orgânica,

nutrientes, substâncias perigosas, patogênicos, resíduos farmacêuticos,

hormônios etc.;

• Riscos inaceitáveis para a saúde e disseminação de doença;

• Consumo de água preciosa para transporte de resíduo;

• Alto investimento e custo de energia para a operação e a

manutenção;

• Perda de valiosos nutrientes e elementos-traço contidos nas

excretas por descarte em corpos de água;

17

• Empobrecimento de terras agrícolas, com aumento da

dependência dos fertilizantes químicos;

• Predominância de sistemas centralizados, resultando em

problemas com lodo de esgoto contaminado.

Figura 1: O modelo atual de saneamento e o ciclo dos nutrientes

Fonte: OTTERPOHL, 2003a

Esse modelo de saneamento pode ser analisado também sob o

ponto de vista das tecnologias limpas, cujas intervenções têm alcançado

grande sucesso na indústria, através da aplicação combinada dos conceitos de

prevenção da poluição, reúso da água e ecologia industrial. Se aplicarmos

alguns conceitos básicos de produção limpa ao sistema convencional de

saneamento, poderemos entender a necessidade de mudanças drásticas

(GIJZEN, 1997), conforme esta simples comparação a seguir:

Princípio 1: Não utilizar mais material, energia ou outro recurso por

unidade de produto que o absolutamente necessário.

Prática atual: A depender da região, consome-se entre 100 e 350

litros per capita de água potável por dia, enquanto apenas cerca de dois litros

são utilizados realmente para beber.

Princípio 2: Não usar material de qualidade superior ao estritamente

necessário para o processo produtivo.

P > 5%N > 20%K > 90%Carbon

AcumulaçãoLodo

Aterro, lixão

Incineração

Lixo Esgoto

Consumode água

Alimentos

Fábrica de FertilizanteNitrificaçãorequerendo grande consumo de energia

Nitrogênio do ar (N )2FósforoÀs vezes, importado

18

Prática atual: Usa-se água de alta qualidade para dar descarga em

vasos sanitários, limpar o piso, lavar o carro e molhar os jardins.

Princípio 3: Não misturar diferentes correntes de resíduos.

Prática atual: Já no interior do domicílio vários fluxos são misturados.

Misturam-se urina e fezes formando as denominadas as águas negras e águas

de chuveiro, de lavatórios, de lavagem de roupas formando as denominadas

águas cinza. Sob a denominação genérica de esgotos domésticos, é lançado

na rede coletora e misturado com efluentes industriais e, freqüentemente, com

águas de chuva.

Princípio 4: Avaliar outras funções e usos econômicos de

subprodutos antes de considerar seu tratamento e disposição final.

Prática atual: o esgoto é descarregado em corpos d’água com ou

sem tratamento prévio.

Nesse contexto, vale também lembrar a reflexão feita por Feachem e

outros (1983):

Aqueles cuja atividade é selecionar e projetar sistemas apropriados para a coleta e o tratamento dos esgotos devem ter em mente que as práticas européias e norte-americanas não representam o zênite do desenvolvimento científico nem são produto de um processo lógico e racional. Ao contrário, eles são produto da história, uma história que começou na segunda metade do século XIX quando pouco se conhecia sobre a física e a química do assunto e quando, praticamente, nenhum conhecimento aplicável de microbiologia tinha sido descoberto. Essas práticas não são especialmente inteligentes, nem lógicas, nem completamente efetivas e não são necessariamente o que seria feito hoje se esses mesmos países tivessem a chance de começar de novo (FEACHEM e OUTROS,1983, p. 63).

Examinemos, então, as origens desse modelo.

2.2.PERSPECTIVA HISTÓRICA Nas sociedades primitivas, antes de se tornar civilizado, o homem, o

mais inteligente dos animais, depositava suas excretas no solo como a maioria

das espécies da Terra (ROCKEFELLER, 2001).

Encontram-se exemplos muito conhecidos de saneamento no

alvorecer da civilização, quando algumas grandes cidades da época

19

dispunham de sistema de abastecimento de água e de coleta e transporte das

excretas. Destacam-se algumas cidades do Império Mesopotâmico de 3500 a

2500 a.C. (GRAY, 1940), a cidade de Mohenjo-daro no território do atual

Paquistão entre 3000 e 2500 a.C. (WEBSTER, 1961), o Palácio de Knossos na

ilha de Creta entre 2500 e 1700 a.C. (ANGELAKIS, 2005) e os célebres

aquedutos e o não menos célebre sistema de drenagem de águas servidas de

Roma, Cloaca Máxima, de 350 a.C. a 400 d.C. (HANSEN, [200-?]).

Não se sabe o destino final dado a essas águas em algumas dessas

civilizações. Entretanto, Gray (1940) sugere que eram utilizadas em irrigação

de campos agrícolas, e Angelakis (2005) diz haver evidências de que em 1700

a.C. os esgotos eram reunidos em bacias de onde eram conduzidos, via

canais, para campos agrícolas.

O valor fertilizante das excretas humanas é reconhecido há séculos

nas sociedades orientais e em partes da Europa, onde seu uso agrícola foi

praticado até a segunda metade do século XIX. Ainda hoje esse recurso ajuda

a manter a fertilidade da terra em algumas regiões fornecendo alimento a

grandes populações (HAMLIN, 1980 e ESREY e outros, 2000).

O crescimento populacional urbano subseqüente à revolução

industrial associado ao domínio da fabricação de tubos e bombas ensejou o

desenvolvimento de sistemas públicos de distribuição de água, aumentando o

seu consumo e comprometendo a capacidade das fossas. Estas

transbordavam, gerando uma situação de grande desconforto e extremo risco

para a saúde pública, o que se concretizou através de sucessivas epidemias de

cólera que dizimaram expressivas parcelas da população (COOPER, 2001).

Por outro lado, o crescimento das cidades aumentou a oferta de biofertilizantes,

fazendo com que o preço desse produto despencasse. Os fazendeiros vizinhos

às cidades ficavam saturados do produto enquanto que os que estavam mais

distante tinham que arcar com um custo de transporte muito alto (HAMLIN,

1980).

O mercado de excretas foi definitivamente abalado com a introdução

do vaso com descarga hídrica. Inventado no final do século XVI por John

Harrington, esse utensílio foi aperfeiçoado no final do século XVII e introduzido

20

comercialmente na Inglaterra em 1810. Essa nova tecnologia teve boa

receptividade entre o público mais rico e entre os sanitaristas, para quem o

mau cheiro das fossas era a origem dos miasmas e vapores causadores das

doenças (HAMLIN, 1980). A disseminação de seu uso, todavia, não foi rápida.

Em Milão, em meados do século XIX, havia poucos sanitários com descarga

porque os agricultores se recusavam a comprar os dejetos diluídos em água.

Na Suécia, o primeiro vaso com descarga foi instalado em 1883, mas sua

introdução foi muito lenta devido à proibição contra o uso da água para fins de

descarga (CRONSTROM, 1986 apud HOGLUND, 2001). Ocorria também um

debate intenso entre autoridades e médicos que defendiam o uso do vaso com

descarga e aqueles que temiam a ocorrência de entupimentos e poluição das

águas. Como o uso de vasos iria encerrar a utilização de fezes e urina como

fertilizantes, representantes dos fazendeiros também se posicionaram contra

sua implementação (LUNDGREN, 1994 apud HOGLUND, 2001). A distribuição

para os fazendeiros do grande volume de esgoto criado pelo vaso sanitário

estava fora de questão, embora alguns sonhassem com uma grande rede de

tubos saindo das metrópoles e se distribuindo pela zona rural com cada

fazenda tendo uma ligação com um medidor para que o fazendeiro pudesse

ser cobrado pelo seu consumo (PARLIAMENTARY PAPERS, 1864 apud

HAMLIN, 1980). Quando foi finalmente aceito, o vaso com descarga passou a

ser considerado como a solução ideal (HOGLUND, 2001). Otterpohl (2003a)

cita uma pesquisa de opinião realizada no Reino Unido em 1997, na qual os

vasos sanitários com descarga foram considerados o invento mais importante

do ser humano, à frente do computador (2º lugar) e da roda (5º lugar).

Entretanto, o lançamento dos esgotos nos cursos d’água gerou

outros problemas sociais. A sua proximidade com os locais de captação para

abastecimento público fazia desses lançamentos uma ameaça à saúde pública,

concretizada em sucessivas epidemias de cólera. Houve conseqüências

também no suprimento alimentar em virtude do extermínio de peixes devido à

poluição. Os rios já não podiam ser incluídos entre as amenidades urbanas. A

navegação ficou comprometida pela formação de bancos de material

sedimentado (HAMLIN, 1980).

21

Essa situação motivou a crítica de Victor Hugo aos sistemas de

esgoto no livro Os Miseráveis (1862) em que ele analisa as conseqüências da

rede de esgoto de Paris para a quebra do ciclo natural dos nutrientes. Em um

trecho deste livro pode-se ler o seguinte:

Paris lança cinco milhões de francos por ano no mar. E isto não metaforicamente. Como, e de que modo? Dia e noite.

Com que propósito? Nenhum. Com que pensamento? Sem pensar nisto. Para o que usa? Para nada. Por meio de que órgão? Por meio de seu intestino. O que é seu intestino? Sua rede de Esgotos...

Depois de longa experimentação, a ciência sabe agora que o mais fertilizador e o mais efetivo dos adubos são aqueles do homem [...].

Empregar a cidade para enriquecer os campos seria um sucesso seguro. Se de um lado nosso ouro é adubo, de outro, nosso adubo é ouro. O que é feito com este ouro, adubo? É varrido para o abismo [...].

O sistema presente erra tentando fazer o bem. A intenção é boa, o resultado é triste. Os homens pensam que eles estão saneando a cidade; eles estão emagrecendo a população…

Uma rede de esgoto é um equívoco. (VICTOR HUGO, 1862).

Outro crítico do saneamento baseado no transporte hídrico foi Pierre

Leroux que, em 1834, no início dos investimentos na construção dos sistemas

de coleta na Europa, desenvolveu uma teoria que chamou de CIRCULUS, que

defendia o reabastecimento da terra segundo um ciclo. Ele alegava que, com o

descarte do esgoto doméstico, quebrava-se o ciclo dos nutrientes (REID, 1991

apud BERNDTSSON e HYVONEN, 2002). Nas palavras de Leroux, “O

indivíduo é tanto consumidor quanto produtor e o resíduo gerado por ele pode

ser utilizado para produzir o alimento que o mantém vivo” (LEROUX).

A maioria dessas opiniões apoiava-se nos estudos do químico

alemão, Justus Von Liebig, considerado o precursor da reciclagem de sua

época. Ele estudou os requerimentos de fertilizantes das plantas e concluiu que

o lançamento dos esgotos nos oceanos era uma perda irrecuperável de

valiosos recursos naturais. Estudando a história da agricultura no norte da

África, Liebig surpreendeu-se com o destino que teve aquela região. No

primeiro século da era Cristã, era dali que saiam dois terços dos grãos

consumidos em Roma, num fluxo linear que terminava no Mediterrâneo. Isso

22

resultou no empobrecimento dos solos locais, o que levou ao declínio

ambiental e econômico da região (GARDNER, 2001). A campanha de Liebig

anunciada em seu livro Chemistry in its Application to Agriculture and

Physiology (1840), encontrou amplo apoio de todos os lados. Os sanitaristas e

as autoridades municipais viram um meio de destinação para as crescentes

quantidades de esgoto sanitário. Os moradores das margens dos rios e os

pescadores preferiam ver os esgotos indo para a terra em vez de para os rios.

Os fazendeiros viram nisso a oportunidade de obtenção de fertilizante a baixo

custo. Os líderes nacionais, preocupados com ameaça à prosperidade e à

segurança nacional em tempo de guerra que a importação de guano (fezes de

pássaro desidratadas) da América do Sul, a um custo elevado, representava,

também apoiaram a campanha (HAMLIN, 1980).

Para os cientistas da época, havia dois caminhos para a reciclagem

dos nutrientes contidos nos esgotos. Um seria removê-los do esgoto por

precipitação química. Outro seria encaminhar os esgotos para as terras

agrícolas, usando-os para irrigação (HAMLIN, 1980). Todos que eram

favoráveis à precipitação divulgavam uma receita mágica para extrair dos

esgotos suas substâncias fertilizantes, deixando a água limpa para ser lançada

em rios e lagos. O precipitado após secagem poderia ser vendido como

fertilizante. Tão atrativa era essa visão para os empresários (produzir

fertilizante e purificar a água) que, apenas na Grã Bretanha, entre 1850 e 1890,

480 patentes foram registradas (HOSMER, 1890 apud HAMLIN, 1980). A mais

famosa e, provavelmente, a de maior sucesso foi a controvertida técnica ABC

(alumen, blood e clay), que produzia um fertilizante sob o nome comercial de

Native Guano, e utilizava alúmen, argila e sangue de vaca, sal, magnésia,

permanganato de potássio e outros constituintes. Processos desse tipo

produziam fertilizantes comercializáveis, mas não resolviam o problema da

poluição dos rios, visto que também lançavam grandes concentrações de

matéria orgânica dissolvida nos mesmos. Isso levou as municipalidades a

optarem pela outra via, a irrigação de fazendas com esgoto (HAMLIN, 1980).

Operada de forma apropriada, as fazendas cumpriam bem as tarefas

de aproveitar os fertilizantes do esgoto e remover as bactérias causadoras de

doenças, além de produzir colheitas comercializáveis. Entretanto, assim como

23

os químicos, os defensores dessa corrente não entenderam o papel dos

microrganismos na decomposição da matéria orgânica contida nos esgotos, e

as fazendas tornaram-se fontes de mau cheiro. Mesmo quando funcionava,

essa alternativa requeria grandes áreas de terra que poderiam ser mais bem

utilizadas, do ponto de vista econômico, na expansão da cidade (HAMLIN,

1980).

Durante a batalha judicial sobre a responsabilidade dos bancos de

lodo formados no rio Tâmisa, técnicos ingleses tomaram conhecimento do

trabalho científico desenvolvido por dois cientistas franceses da área

agronômica: Teophile Schloesing e Achille Muntz. Estes dois pesquisadores

ficaram maravilhados com a forma com que os solos transformam amônia em

nitrato. Eles despejavam esgoto fresco contendo amônia em uma camada de

alguns centímetros de areia. Inicialmente, os esgotos saíam sem qualquer

transformação; mas, dia a dia, enquanto eles continuavam as aplicações de

esgoto na areia, ia ficando claro que os esgotos se tornavam, aparentemente,

mais purificados, e a amônia se transformava em nitrato. Após algumas

semanas, nenhuma amônia era observada no efluente do filtro. Eles então

aplicaram clorofórmio no filtro e notaram que suas propriedades nitrificantes

cessaram e o esgoto voltou a sair sem alteração de suas características. Eles

concluíram que o poder transformador do filtro de areia era devido a alguma

coisa viva, alguma colônia de vida microscópica que morria com a aplicação de

clorofórmio (SCHLOESING e MUNTZ, 1877 apud HAMLIN, 1980). Estes

cientistas, na realidade, deram seqüência aos estudos do químico alemão

Alexander Mueller, que em 1865 demonstrou que em colunas de filtração o

esgoto poderia ser purificado por meios biológicos, processo patenteado alguns

anos mais tarde. Apesar da natureza inquestionavelmente avançada da

descoberta, nem a patente nem o conceito recebeu maior atenção (PETERS e

ALLEMAN, 1982).

Estava inaugurada a era moderna do tratamento de esgoto. Agora

os esgotos poderiam ser tratados de forma efetiva e a custo relativamente

baixo, sem a dependência de grandes áreas. Ironicamente, tão logo se

aprendeu como tratar os esgotos, se esqueceu de seu valor como fertilizante

(HAMLIN, 1980).

24

Nessa época, novas fronteiras agrícolas nas Américas e na Austrália

eram incorporadas ao mercado mundial e novos meios de transporte

asseguravam a chegada de seus produtos à Europa. Pouco depois, o processo

de produção de fertilizantes nitrogenados artificiais foi descoberto. Embora

consumindo imensas quantidades de energia, essa produção encontrava

viabilidade no baixo custo da energia elétrica. Essa conjunção de fatores na

virada do século XIX para o século XX lançava uma pá de cal nas campanhas

pela reciclagem dos esgotos (HAMLIN, 1980).

2.3.A CRISE DO SANEAMENTO

O acesso ao serviço de abastecimento de água e saneamento é

uma necessidade fundamental, sendo vital para a dignidade e a saúde

pessoais. Os benefícios, econômicos inclusive, são bem documentados. É de

fundamental importância para as camadas mais pobres a economia de tempo e

a maior conveniência e dignidade proporcionadas pelo acesso à água e ao

saneamento, que se constitui, desse modo, um fator decisivo na melhoria do

estado de saúde e na produtividade econômica, sendo, conseqüentemente um

componente essencial em qualquer esforço de redução da pobreza (WHO,

UNICEF e WSSCC, 2000).

A situação mundial do saneamento atingiu uma condição de crise,

reconhecidamente, há cerca de 20 anos, quando a Cúpula Mundial para a

Criança, em 1990, definiu como meta a universalização do serviço de

saneamento para o ano 2000. Com um esforço significativo, durante a década

de 1990, a cobertura com serviço de saneamento passou de 51 para 61%,

incluindo 1 bilhão de pessoas no atendimento com esse serviço

(ECOSANRES, 2005).

No início de 2000, portanto, havia 2,4 bilhões de pessoas sem

acesso ao serviço de saneamento – definido na metodologia adotada no

levantamento como sendo a conexão a uma rede pública de esgoto, a um

tanque séptico, a uma latrina com uso reduzido de água, a uma privada de

buraco ou a uma privada de buraco ventilada (WHO, UNICEF e WSSCC,

2000). Tecnicamente, porém, mesmo o acesso a um serviço assim definido

não resolve o problema de saneamento ambiental, porque as privadas de

25

buraco e tanques sépticos não higienizam as excretas e podem contribuir para

a poluição das águas subterrâneas. Os sistemas com transporte hídrico por

sua vez nem sempre estão ligados a estações de tratamento e estas quando

existem quase não removem os organismos patogênicos e nutrientes antes do

lançamento nos corpos d’água. Assim, muito mais de 2,4 bilhões de pessoas

precisam ter acesso a um serviço efetivo de saneamento (ECOSANRES, 2005)

Essa situação contribui para perpetuar o ciclo de doenças e agredir

os frágeis ecossistemas aquáticos pela sobrecarga de nutrientes e a

decorrente eutrofização. Como resultado, o quadro de saúde pública mundial

ostenta os números apresentados a seguir, retirados de Global Water Supply

and Sanitation Assessment – 2000 Report, que dão uma idéia da dimensão do

problema:

• Aproximadamente 4 bilhões de casos de diarréia por ano causam

2,2 milhões de morte, principalmente entre crianças abaixo de 5 anos;

• Os vermes intestinais infectam 10% da população nos países em

desenvolvimento;

• Estima-se que 6 milhões de pessoas ficaram cegas em decorrência

de tracoma, em uma população de risco de 500 milhões;

• Estima-se que 200 milhões de pessoas no mundo estão infectadas

com esquistossomose;

• Na China, Índia e Indonésia, morrem duas vezes mais pessoas de

diarréia do que de AIDS (WEHAB, 2002);

• Em qualquer momento, metade dos leitos hospitalares do mundo

está ocupada por pacientes com doenças de veiculação hídrica (WEHAB,

2002).

Para superar esses problemas, as Nações Unidas, durante a Cúpula

do Milênio em Nova Iorque, em setembro de 2000, estabeleceu uma série de 8

Objetivos de Desenvolvimento para o Milênio (ODM). Estas metas objetivam

alcançar a erradicação da pobreza e a promoção do desenvolvimento

sustentável através do rápido e crescente atendimento das necessidades

básicas como água potável, energia, cuidados médicos, segurança alimentar e

26

a proteção da biodiversidade. A Cúpula das Nações Unidas para o

Desenvolvimento Sustentável, realizada em Johannesburg, África do Sul, em

2002, voltou aos objetivos fixados pelo ODM com relação ao abastecimento de

água. Estes foram ampliados para incluir o serviço de saneamento, adotando-

se como metas aquelas indicadas pelo Water Supply and Sanitation

Collaborative Council – WSSCC (Conselho Colaborativo para o Abastecimento

de Água e Saneamento), durante o Segundo Fórum Mundial da Água em

março de 2000, e apresentadas no documento Vision 21: A shared vision for

hygiene, sanitation and water supply and a framework for action. A meta

internacional atual é:

• Reduzir à metade até 2015 o percentual de pessoas não atendidas

com serviços adequados de abastecimento de água e de saneamento;

• Atingir até 2025 a universalização do atendimento desses serviços.

Um encontro informal do Banco Mundial em Paris, em maio de 2003,

tentou avaliar os avanços conseguidos até aquela data tendo em vista alcançar

os objetivos de 2015. Esta reunião concluiu que o progresso no sentido de

alcançar o objetivo do serviço de saneamento, conforme definido em

Johannesburg, foi o mais lento de todos já obtidos, havendo um hiato enorme

entre a cobertura planejada e a realidade.

2.4.TECNOLOGIAS LIMPAS APLICADAS AO SANEAMENTO Para alcançar a sustentabilidade no campo do saneamento

ambiental e poder atingir as metas do milênio, é necessário um novo

paradigma. Segundo Esrey (2000), a resposta está em se projetar sistemas

que não gerem resíduos.

O resíduo não existe na natureza, este é um conceito que está

apenas em nossas cabeças: todo resíduo de um organismo é alimento para

outro. “Nossos sistemas devem imitar a natureza”. Foi esta a conclusão

unânime de um grupo de peritos de várias organizações internacionais

envolvidas em saneamento ambiental que se reuniu em fevereiro de 2000 em

Bellagio, Itália. O grupo declarou ser necessário uma radical revisão de

políticas convencionais e práticas de saneamento no mundo e formulou os

27

quatro Princípios de Bellagio que devem dar suporte a qualquer nova

abordagem em saneamento ambiental (EAWAG e SANDEC, 2000).

• Dignidade humana, qualidade de vida e segurança ambiental em

nível doméstico devem estar no centro da nova abordagem, que dever ser

responsável e levar em conta as necessidades e demandas no cenário local e

nacional;

• Alinhado com os princípios da boa governança, a tomada de

decisão deve envolver a participação de todos os interessados, especialmente

os consumidores e provedores de serviços;

• Resíduos devem ser considerados um recurso e o seu

gerenciamento deve ser holístico e fazer parte do gerenciamento integrado dos

recursos hídricos e fluxo de nutrientes;

• O domínio em que os problemas de saneamento ambiental são

resolvidos deve ser mantido do menor tamanho prático (casa, comunidade,

cidade, distrito, bacia hidrográfica) e os resíduos diluídos o mínimo possível;

Estes princípios também foram endossados pelos membros do

WSSCC (Conselho Colaborativo para o Abastecimento de Água e

Saneamento) durante seu Foro Global em novembro de 2000, em Foz do

Iguaçu, Brasil.

De acordo com o Princípio de Bellagio nº. 3, o novo paradigma em

saneamento ambiental deve estar baseado em abordagens de ecossistema e

no fechamento de ciclos no fluxo de materiais em lugar de tecnologias fim de

tubo lineares, de ciclo aberto, caras e intensivas em energia.

O ecossaneamento pretende atender a essa demanda. Ele se

baseia em uma visão global de fluxos de materiais como parte de um sistema

de gerenciamento de esgoto econômica e ecologicamente sustentável,

moldado às necessidades dos usuários e às respectivas condições locais.

O princípio básico do ecossaneamento é fechar o ciclo entre

saneamento e agricultura objetivando:

• Reduzir os riscos de saúde relacionados ao saneamento, à água

contaminada e ao resíduo;

28

• Melhorar a qualidade das águas superficiais e subterrâneas;

• Melhorar a fertilidade do solo;

• Otimizar o gerenciamento de nutrientes e de recursos hídricos.

Em abordagens de ecossaneamento, o princípio básico é assegurar

o fechamento do ciclo de nutrientes entre o saneamento e a agricultura,

buscando otimizar a recuperação dos nutrientes, do material orgânico e da

água que normalmente são descartados através de sistemas de esgotamento

convencionais. Isto contribui então para salvaguardar a fertilidade do solo e

melhorar a sua estrutura e capacidade de retenção de água, enquanto reduz o

consumo de recursos finitos fornecendo uma alternativa natural em relação aos

fertilizantes químicos (ver Figura 2).

Figura 2: O ecossaneamento e o ciclo dos nutrientes

Fonte: OTTERPOHL, 2003a

A gestão da demanda, em contraposição à gestão da oferta, o uso

de tecnologias que promovam a economia de água, o reúso da água cinza para

descarga de vasos sanitários ou outros usos menos nobres e o aproveitamento

da água de chuva do telhado são soluções adotadas no ecossaneamento.

A redução do consumo doméstico de água é uma maneira bastante

efetiva para a redução da captação de águas naturais, do volume de esgoto e

do porte do tratamento. Os benefícios da conservação da água incluem a

redução dos custos com o abastecimento de água e esgotamento sanitário,

P < 1%N < 1%Pouco Carbono

Água deBanho

Solo Alimentos

PotássioFósforo NitrogênioCarbono

Energia

Melhoria dacamada de humus

Reciclagem

TratamentoBiológico

Infiltração

ÁguaCinza

Água deChuva

Reduzirdemandade água

LixoOrgânico

Lixo inorgânico

Águasusadas

29

além de reduzir o impacto na bacia onde a água é captada (GIJZEN, 1997;

VAN DER VLEUTEN-BALKEMA, 2003).

O efetivo reúso dos recursos contidos nas excretas e no lixo

orgânico deve considerar também o componente da energia (GIJZEN, 1997,

VAN DER VLEUTEN-BALKEMA, 2003). Por exemplo, o tratamento dos

esgotos em reatores anaeróbios de alta taxa, além de não requerer energia

para aeração, produz mais ou menos 375 L de gás metano por kg de DBO

removida (GIJZEN, 1997). Entretanto, a geração e o aproveitamento do biogás

tornam-se menos interessantes à medida que aumenta a diluição do esgoto.

Desse modo, a mistura das excretas com a água cinza dificulta esse

aproveitamento.

Os esgotos, com o elevado conteúdo de nutrientes que possuem,

têm como destino natural a produção agrícola, fechando o ciclo dos nutrientes.

Entretanto, o alto risco decorrente da presença de organismos patogênicos

impõe a necessidade de um tratamento prévio para a higienização do recurso

antes da sua utilização. Esse tratamento pode ter como primeira etapa a

digestão anaeróbia para redução da carga orgânica e sua transformação em

energia, conforme mencionado acima, e as etapas posteriores adequadas ao

uso pretendido.

Uma estratégia freqüentemente aplicada na prática em projetos de

ecossaneamento é separar os fluxos e o tratamento de fezes, urina e água

cinza, o que minimiza o consumo da água potável necessária para dar

descarga e transportar resíduos. Isto também tem vantagens importantes tendo

em vista que as frações diferentes têm diferentes características e podem ser

tratadas de acordo com as exigências do reúso específico.

A coleta, o tratamento e o reúso, em separado, das diversas

correntes oferecem novas possibilidades para soluções mais específicas e

eficientes do ponto de vista econômico. Os fluxos de esgoto separados têm

sido caracterizados como exposto a seguir:

Água preta - uma mistura de fezes e urina com ou sem esgoto de

chuveiros, lavadoras de roupa etc.,

Água amarela - urina só ou misturada com água

30

Água marrom - água preta sem urina

Água cinza - água doméstica sem fezes e urina

A urina, ou água amarela contém a proporção mais alta de

nutrientes naturais (nitrogênio, fósforo e potássio), os quais estão diretamente

disponíveis a plantas, sendo igualmente efetivos como fertilizantes minerais. A

urina contém aproximadamente 90% do nitrogênio total, 55% do fósforo total e

uma porção significativa do potássio contido na excreta humana. Uma

separação parcial de fluxo e uso da urina é particularmente aconselhável

devido ao seu baixo volume e à alta concentração de nutrientes que contém.

Para obter a fração de água amarela, dispositivos tais como vasos separadores

de urina ou mictórios sem água podem ser usados.

A água cinza de lavagem e enxágüe de roupa, chuveiros etc.,

embora representando a fração maior do fluxo total de águas usadas, tem um

conteúdo muito baixo de nutriente. Conseqüentemente, pode ser tratada até a

obtenção de uma alta qualidade a partir do uso de técnicas simples como filtros

de pedregulho, filtros lentos, filtros intermitentes, wetlands construídos, ou

processos mais mecanizados como, por exemplo, lodo ativado. A água cinza

tratada pode ser usada em irrigação agrícola (especialmente em regiões de

águas escassas), mas também pode ser usada para descarga em vasos

sanitários, lavagem de piso e de carros ou recarga de aqüífero. A Figura 3

mostra as principais características das três frações do esgoto doméstico.

Figura 3: Características das frações do esgoto doméstico

Fonte: OTTERPOHL, 2003b

Volu

me

l/P*a

no

Cargas anuaisKg/ano

Água cinza25.000-100.000 Urina

~ 500

Fezes~ 50

(opção: adicionarao lixo orgânico)

Tratamento

reúso/ ciclo da água

Tratamento

Fertilizante

Planta de biogásCompostagem

Condicionadordo solo

N ~ 4-5 ~ 3 % ~87 % ~ 10%

P ~ 0,75 ~ 10 % ~50 % ~ 40%

K ~ 1,8 ~ 34 % ~54 % ~ 12%COD ~ 30 ~ 41 % ~12 % ~ 47%

31

As fezes humanas obtidas depois da separação apresentam

importantes qualidades para a melhoria do solo (estrutura e aumento da

capacidade de retenção de água). Elas podem ser tratadas, se necessário,

junto com a fração orgânica de resíduo sólido e de acordo com as condições

locais (clima, demanda de energia e aceitação sócio-cultural etc.) por meio dos

processos de desidratação, compostagem, estabilização ou fermentação.

Assim, a matéria orgânica e os nutrientes contidos nas fezes podem ser

usados, de forma concentrada e higienicamente segura, como um fertilizante

seco, composto ou fertilizante fluido. Dependendo do tipo de tratamento, pode-

se produzir energia na forma de biogás durante a digestão anaeróbia.

O termo "reúso agrícola" aqui utilizado refere-se a uma extensa

gama de opções de reúso produtivo, ecossistemicamente orientado. Isto inclui

reúso no que poderia ser considerada a agricultura tradicional, isto é, em

campos de cultivo onde culturas como cereais são desenvolvidas, mas também

silvicultura, aqüicultura, hidroponia, mercado de jardinagem, horticultura etc.

O ecossaneamento é, portanto, uma abordagem holística para o

gerenciamento do saneamento e do abastecimento de água e representa uma

quebra com as tecnologias de fim de tubo de baixo desempenho do passado: o

reconhecimento da excreta humana e da água doméstica usada como um

recurso que deve estar disponível para o reúso. Sendo uma alternativa

integradora, uma marca registrada do ecossaneamento é a sua abordagem

interdisciplinar, que vai além das disciplinas nos limites estreitos de

abastecimento de água doméstica e aspectos tecnológicos para focalizar

assuntos como agricultura, sociologia, higiene, saúde, urbanismo, economia e

promoção de pequena empresa etc. Essa abordagem intersetorial e

interdisciplinar busca contribuir para o gerenciamento integrado da água e

outros recursos naturais.

2.5.UMA FASE INTERMEDIÁRIA Mudanças como as que são requeridas com separação de correntes

na fonte, utilização de sanitários secos, vaso sanitário com separação de urina

e fezes etc. estão sujeitas a uma evolução que pode ser lenta, visto que

dependem de aspectos culturais. Desse modo, necessita-se de tecnologias de

tratamento do esgoto convencional adaptáveis a pequenas comunidades,

32

chegando ao nível de domicílio, que possibilitem o reúso seguro da água e dos

nutrientes.

Nesse contexto, os filtros intermitentes em leito de areia (FILA)

apresentam-se como uma opção tecnológica a ser desenvolvida na medida em

que produzem um efluente com DBO e SST (Sólidos Suspensos Totais) abaixo

de 10,0 mg/l, turbidez menor que 2 NTU e são ainda capazes de remover de 2

a 4 log de coliformes, sem perda de nutrientes por desnitrificação. Além disso,

requerem uma área de 5 a 10 vezes menor que as lagoas de estabilização,

podendo se adequar melhor em locais com menor disponibilidade de terreno.

Para uma boa operação, o FILA precisa de um pré-tratamento que

remova principalmente os sólidos maiores, o que evita encurtamento da

carreira de filtração. Desse modo, constitui-se num excelente “parceiro” num

trem de tratamento com reatores do tipo UASB, Up-Flow Anaerobic Sludge

Blanket, cuja tecnologia é amplamente conhecida, dominada e utilizada entre

nós.

A associação UASB-FILA tem grande potencial de ecoeficiência

numa perspectiva de reúso, por exemplo, com hidroponia. O UASB produziria

gás metano, a ser utilizado para geração de energia; um lodo estável, que

poderia ser utilizado como condicionador do solo, e um efluente com uma

carga orgânica e de sólidos reduzida em cerca de 80% a ser polido em um

FILA para redução da carga patogênica, oxidação do nitrogênio para uma

forma mais assimilável e para a redução de SST, turbidez e DBO. Um efluente

com essas características poderia ser utilizado num sistema de hidroponia com

recirculação, fechando assim todos os ciclos: energia, água e nutrientes.

Dentre as vantagens e os benefícios que podem advir dessa

associação, destacam-se:

1. A ocupação de uma área pequena, o que permite maior

flexibilidade na escolha de sítios para implantação de ETE’s (Estação de

Tratamento de Esgotos);

2. A adequabilidade dessa tecnologia a populações pequenas;

33

3. Efluente de bom aspecto, com baixa turbidez e baixa

concentração de sólidos suspensos, evitando-se as reações de objeção que

hoje se verificam;

4. Possibilidade de utilização para readaptação de ETE’s que

precisem atender a padrões mais exigentes;

5. Possibilidade de, através da escolha adequada de granulometria,

polir efluentes de lagoas para redução de algas/sólidos.

3.OBJETIVOS

3.1.GERAL

O objetivo geral desta pesquisa é estudar o comportamento de filtros

intermitentes com leito de areia (FILA) na remoção de organismos patogênicos

de efluentes de reatores de manta de lodo tipo UASB tratando esgotos

domésticos, visando à promoção de seu reúso. A produção de um efluente com

características bacteriológicas dentro de um padrão aceitável e com os

nutrientes preservados o tornaria próprio não só para ser reutilizado em

agricultura em geral e hidroponia em particular – possibilitando assim o

desenvolvimento de uma agricultura urbana ou periurbana –, mas também para

o reúso em outros fins urbanos tais como: descarga de vasos sanitários,

paisagismo e limpeza em geral.

3.2.ESPECÍFICOS Os objetivos específicos deste trabalho são:

• Verificar a influência da freqüência de aplicação na melhora

da qualidade bacteriológica e físico-química do efluente de filtros

intermitentes em leito de areia;

• Verificar se os tamanhos efetivos na faixa de areia média a

grossa possibilitam o grau de tratamento necessário ao reúso do

esgoto no que tange a coliformes fecais, à carga orgânica e a

sólidos suspensos;

34

• Verificar a relação entre o aumento do número de

aplicações e as granulometrias mais grosseiras (maior tamanho

efetivo) na eficiência de FILAs, o que permitiria o uso de maiores

cargas hidráulicas diárias;

• Verificar a qualidade do efluente final no que tange a

padrões estéticos (aparência e odor) que possibilitem o uso da

água tratada mais perto da fonte;

• Verificar a presença de nutrientes para uso em produção

agrícola e aqüícola;

4.A FILTRAÇÃO INTERMITENTE EM LEITO DE AREIA

Os filtros intermitentes em leito de areia – FILA são reatores

aeróbicos de leito fixo onde ocorrem processos físicos e biológicos e cujo

desenvolvimento tem uma história de mais de 100 anos (USEPA, 2000;

CRITES E TCHOBANOGLOUS, 1998). Têm sido recomendados tanto para

tratamento de esgotos domésticos, para populações desde 4.000 habitantes

(AGENCE DE L’EAU, 1993) até 10.000 habitantes (ANDERSON e OUTROS,

1985), quanto para o tratamento de efluentes de agroindústrias como

queijarias, vinícolas etc. (SCHMITT, 1989; MENORET, 2001). Essas unidades

proporcionam tratamento secundário avançado, ou terciário, para esgotos

decantados ou efluentes de tanques sépticos (ANDERSON e OUTROS, 1985;

USEPA, 2000). Os FILAs são utilizados também na remoção de sólidos

suspensos e algas em efluentes de lagoas de estabilização (HARRIS e

OUTROS, 1977; COWAN e MIDDLEBROOKS, 1980; MIDDLEBROOKS, 1983).

Em condições normais de operação, no que concerne a: carga

orgânica, sólidos suspensos, cor e organismos indicadores, os FILAs podem

produzir efluentes de alta qualidade; significativamente melhores do que os que

são obtidos com aeração prolongada e definitivamente superiores aos de

lagoas de estabilização facultativas, requerendo uma área 5 vezes menor que

essas (ANDERSON e OUTROS, 1985).

35

4.1.HISTÓRICO DA FILTRAÇÃO INTERMITENTE Apesar da antiga tradição de aplicação de esgotos e águas no solo,

os mecanismos de sua purificação não eram entendidos como processos

biológicos até o trabalho de Alexander Mueller, em 1865, que demonstrou, em

coluna de filtração, que a purificação ocorria com o concurso de organismos

vivos (PETERS e ALLEMAN, 1982). Ao estudar, a nitrificação da amônia em

colunas de areia, os pesquisadores Schloesing e Muntz confirmaram essa

descoberta em 1877 (HAMLIN, 1980). Essa falta de conhecimento das

limitações do processo levou ao colapso muitos sistemas, em decorrência de

sobrecargas hidráulicas e orgânicas (JEWELL e SEABROOK, 1979).

Outros fatores que impactaram negativamente o desenvolvimento do

tratamento por aplicação no solo foram: a importação de fertilizantes orgânicos

da América do Sul, a descoberta do processo de fabricação de superfosfato a

partir de rochas fosfáticas e a criação de animais estabulados, que recebiam

alimentos concentrados e produziam abundante quantidade de fertilizante

(JEWELL e SEABROOK, 1979).

A filtração intermitente surgiu em 1870, na Inglaterra, como a

primeira tentativa exitosa de converter o tratamento de esgoto com uso do solo

em um processo controlado. Foi desenvolvida por Sir Edward Frankland,

visando superar a dificuldade da integração, de forma permanente, entre a

necessidade de purificação dos esgotos e o seu uso agrícola. Em seu trabalho

experimental, ele usou cilindros de vidro preenchidos com materiais que

variaram da brita grossa ao solo turfoso. Frankland adotou uma freqüência de

duas aplicações diárias e manteve a operação com sucesso por mais de quatro

meses. Embora o desempenho do filtro tenha sido creditado exclusivamente a

processos físico-químicos, ficou estabelecido o conceito da filtração

intermitente, qual seja, de manter um período de descanso e aeração entre

duas aplicações de esgoto (JEWELL e SEABROOK, 1979, PETERS e

ALLEMAN, 1982).

Em 1870, a recomendação para o carregamento, com esgoto bruto,

de filtros intermitentes era de 2300 habitantes por acre (1,7m2/hab). Esse

número caiu para 1000 habitantes por acre (4,0m2/hab) em 1880. Cargas

maiores eram aceitas pelas autoridades desde que o pré-tratamento fosse

36

adequado, chegando a 4300 habitantes por acre (1,0m2/hab) (JEWELL e

SEABROOK, 1979).

Os conceitos de Frankland teriam caído no esquecimento se, no final

do século XIX, o Massachusetts State Board of Health (MSBH) não tivesse se

interessado pelo assunto. Esse interesse foi materializado na criação de uma

estação experimental, em Lawrence, cujo objetivo era realizar pesquisas sobre

o uso de areia e brita no tratamento de esgotos, segundo o conceito proposto

poucos anos antes por Frankland. Como resultado do trabalho, em 1876, foi

construído em Lenox o primeiro Filtro Intermitente de Areia para atendimento

comunitário. Entre 1891 e 1937, o MSBH monitorou o desempenho de mais de

26 sistemas de tratamento baseados em filtração em areia atendendo a

comunidades (CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998).

Esses filtros iniciaram a operação entre 1891 e 1928. Em 1903, 12

desses filtros serviam a populações de menos de 10 mil habitantes e, em 1935,

a população média servida era de 23 mil habitantes. A relação média entre a

população servida e a área de filtro era de 7,6 m2/hab (variando de 0,8 a 18

m2/hab) em 1903, caindo para 4,1 m2/hab (0,8 a 9,0 m2/hab) em 1937. O nível

de pré-tratamento variou entre esses sistemas de esgoto bruto a precipitação

química. A profundidade dos filtros utilizados variou de 0,9 a 2,4 m, com média

de 1,45 m. O tamanho efetivo das areias utilizadas variou de 0,06 a 0,34 mm e

o coeficiente de uniformidade, entre 2,9 e 14,6, sendo que apenas três

sistemas utilizavam areia com coeficiente de uniformidade menor que 4,0. A

carga hidráulica aplicada estava entre 19,6 a 113,1 l/m2 dia. A DBO5 (demanda

bioquímica de oxigênio no 5º. dia) efluente foi consistentemente abaixo de 20,0

mg/l e todos os sistemas mostraram grande aptidão para nitrificação. Durante

mais de 30 anos, os 26 sistemas funcionaram sem problemas de manutenção.

O uso limitado do filtro intermitente que hoje se observa não deve, portanto, ser

atribuído à qualidade do efluente ou à longevidade dos mesmos (MANCL e

PEEPLES, 1991).

O crescimento da população e o desenvolvimento de sistemas de

tratamento como filtro biológico e lodo ativado levou a substituição dos filtros, a

despeito de seu ótimo desempenho. Em 1920, o Public Health Servive (USA)

publicou um relatório descrevendo o tratamento de esgotos para residências e

37

pequenas comunidades, no qual o filtro intermitente de areia aparecia de forma

destacada juntamente com os dados acerca de seu desempenho (CRITES e

TCHOBANOGLOUS, 1998) (ver Figura 4).

Figura 4: Filtro Intermitente Modelo USPHS 1920

Fonte: CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998.

À medida que o filtro biológico percolador era aperfeiçoado, havia

um declínio do interesse pela filtração intermitente. Isso ocorreu até os anos

1950, quando estudos em escala piloto realizados na Universidade da Flórida

utilizaram filtros intermitentes com menor profundidade e areia com

Saída de efluente

8 ft 8 ft

10 ft10 ft 4

ParedeLeito de areiaLeito de areia

Câmara de dosagem

Entrada

a: Vista em planta

b: Seção transversal

Entrada

22 in

6 ft

25 in

38 in

35 in41 in

Saída de efluente

38

granulometria mais grossa do que a que foi usada em Massachusetts. A areia

utilizada tinha tamanho efetivo de 0,26 a 0,46 mm e profundidade de leito de 46

a 76 cm (VENHUIZEN, 2005). O interesse na retomada do desenvolvimento

desse sistema aconteceu em virtude da necessidade de instalações de baixo

custo, robustez e eficiência para tratamento dos esgotos de pequenas

comunidades (ANDERSON e OUTROS, 1985).

Na Europa, a retomada do conceito da filtração intermitente ocorreu

no início da década de 1980, com a instalação da primeira unidade de

infiltração/percolação em Port-Leucate na França em 1981. Onze anos mais

tarde, mais de sessenta unidades estavam em operação no território francês,

80% das quais tratando esgotos de comunidades de menos que 4000

habitantes. Em geral, essas unidades recebiam esgotos decantados, embora

em alguns casos recebessem efluente de lodo ativado para tratamento

terciário, neste caso serviam comunidades de até 50 mil habitantes

(BRISSAUD e LESAVRE, 1993).

4.2.MECANISMOS DE REMOÇÃO Os FILAs são reatores aeróbios de leito fixo onde ocorre um

tratamento em duas etapas. Uma etapa de retenção, envolvendo mecanismos

físicos, e uma etapa de depuração, na qual predominam mecanismos

biológicos.

Processos físicos, químicos e biológicos ocorrem simultaneamente

em um filtro, em algum grau. Filtração, sedimentação, impacto inercial,

interceptação, adesão, floculação, difusão, adsorção, absorção e atividade

biológica são mecanismos de remoção de contaminantes na filtração de

esgotos em areia. A filtração envolve a retenção mecânica. O impacto inercial,

a interceptação e a adesão ocorrem quando as partículas, ao se moverem

através do filtro, se chocam contra grãos do meio, sendo então removidas. As

partículas se movendo entre os poros também se chocam com outras

formando flocos que são posteriormente removidos por outros mecanismos. A

difusão é importante na remoção de partículas muito pequenas, como os vírus.

Ela ocorre por causa dos pequenos interstícios que existem no meio poroso e

porque o fluxo é laminar. A adsorção física dos constituintes ocorre na

superfície do meio filtrante devido a forças eletrostáticas, eletrocinéticas e de

39

Van der Waals; já a adsorção química ocorre devido à ligação e interação

química entre esses constituintes e o meio (ANDERSON e OUTROS, 1985;

CRITES e TCHOBANOGLOUS 1998; MENORET, 2001).

Embora processos físicos tenham papel importante entre os

mecanismos de remoção de um filtro, o sucesso do tratamento de esgotos por

filtração intermitente depende fundamentalmente dos processos biológicos que

ocorrem no filtro, sendo as bactérias os principais organismos atuantes, ainda

que exista uma larga faixa de níveis tróficos, que vai de bactérias a animais

multicelulares, inclusive metazoários (CALAWAY, 1957).

4.2.1.Mecanismos Físicos Os mecanismos físicos de remoção consistem na retenção por

filtração mecânica, interceptação e adsorção (ANDERSON e OUTROS, 1985;

BANCOLÉ, 2001; LEFEVRE, 1988; SCHMITT, 1989; MENORET, 2001).

Filtração

A filtração propriamente dita é um fenômeno essencialmente físico

que depende do tamanho das partículas e da granulometria do leito filtrante. A

fração das partículas retidas cresce na medida em que o tamanho dos grãos

que compõem o leito se reduz. A matéria em suspensão mais grosseira é retida

na superfície do filtro por ação meramente mecânica. As partículas menores

são retidas entre os grãos. Teoricamente, uma partícula de qualquer tamanho

pode ser retida em um meio poroso, uma vez que no contato entre os grãos o

tamanho do poro se reduz até se anular. Na prática, entretanto, esse fenômeno

só adquire importância quando o tamanho das partículas se aproxima do

tamanho médio dos poros (SCHMITT, 1989). Bower, apud Stevik e outros

(2004), relata que a filtração ocorre quando o diâmetro das partículas é maior

que 0,2xd10, ou seja, 20% do tamanho efetivo.

A partir de considerações geométricas, Herzig e outros (1970, apud

Schmitt, 1989), determinaram relação entre o volume de partículas depositadas

e o volume total do leito filtrante, s, através da equação abaixo:

( )5,022

11....1.5,0

+

−=

ggo d

dddZπφσ Equação 1

40

Onde,

∅o= porosidade total inicial

Z= numero de coordenação, indicador da interconexão dos poros

d= diâmetro médio das partículas em suspensão

dg= diâmetro médio dos grãos do meio leito filtrante

Corapcioglu e Haridas (1984) adotam para sigma o valor de 1%

como discriminante da importância da retenção por filtração. Encontrar valores

de sigma menores que 1% permitiria afirmar que esse fenômeno é desprezível.

Valores de sigma de 1% são obtidos para tamanhos de partícula de

9,0 µm para areias de 0,1 mm e de 55,0 µm para areias com diâmetros de 1,0

mm.

Interceptação

A interceptação ocorre sempre que uma partícula suspensa entra

em contato com os grãos que formam o leito filtrante. Yao (1971) distingue três

mecanismos: a interceptação propriamente dita, a sedimentação e a difusão,

conforme mostrado na Figura 5.

A interceptação propriamente dita é uma forma por meio da qual as

partículas de matéria em suspensão podem colidir com os grãos do leito

filtrante se forem conduzidas mediante uma linha de fluxo muito próxima do

grão, de modo que rocem a superfície deste. Quanto maior a partícula, mais

factível será a sua interceptação (cf. linha A da Figura 5).

Se a densidade da partícula é maior que a da água, a sedimentação

ocorre como resultado da força da gravidade atuando sobre a partícula. Essa

força (a gravidade) vai produzir a componente vertical da resultante da

velocidade de condução dessas partículas. O efeito combinado do peso das

partículas submersas e da força de arraste do fluxo pode causar a colisão das

mesmas com os grãos do leito. A influência da sedimentação é mais notável

para partículas maiores que 10 µm (cf. linha B da Figura 5).

A energia térmica dos gases e líquidos se manifesta como um

movimento desordenado de suas moléculas, sujeitando a um bombardeio

41

randômico as pequenas partículas em suspensão, o que resulta no já

conhecido movimento Browniano das partículas; o termo difusão é utilizado

para descrever este processo, representado pela letra C na Figura 5.

Figura 5: Mecanismo básico do transporte da água na filtração

Fonte: YAO, 1971

Yao e outros (1971) definem a eficácia de interceptação, η, entre

um grão do meio filtrante e as partículas em suspensão, conforme a Equação

2.

( )vdg

dd

vddTKP

e

pg

gi

ge

ked

gid

..18..

.5,1

.....9,0.04,4

2

2

3/2

µρρ

η

η

µη

ηηηη

−=

=

==

++=

Onde,

ηd= eficiência de interceptação por difusão,

ηi = eficiência de interceptação propriamente dita,

Equação 4

V0

B

A

C

A INTERCEPTAÇÃO

B SEDIMENTAÇÃO

C DIFUSÃO

COLETOR

LINHA DECORRENTE

TRAJETÓRIA DEPARTIDA

Equação 5

Equação 3

Equação 2

42

ηg = eficiência de interceptação por sedimentação,

η = eficiência de interceptação global,

Pe= número de Peclet,

K= constante de Boltzman,

Tk= temperatura, K

µe= viscosidade dinâmica da água,

ρ= massa específica da partícula,

v= velocidade de escoamento da água.

Adesão

Enquanto não se produz a aderência da partícula aos grãos do leito

filtrante, não há qualquer remoção (CÁNEPA de VARGAS, 1992). A fração de

partículas que se aderem em relação ao número de colisões é denominada

pelo coeficiente α. A aderência ocorre através do processo físico-químico de

adsorção, que compreende três mecanismos:

• As forças de atração e de Van der Waals que, segundo

Herzig (1970), apud Schmitt (1989), desempenham um papel mais importante

para as partículas de tamanho inferior a 0,1 µm;

• Adsorção eletrostática devido às cargas elétricas da

partícula e dos grãos do leito filtrante;

• Adsorção devido às interações químicas entre a partícula e

os grãos do leito filtrante.

Cánepa de Vargas (1992), em uma revisão dos mecanismos de

remoção em filtros lentos de areia, atribui um papel fundamental na aderência

das partículas ao biofilme que se forma. Na Equação 6, ela atribui a α, um valor

igual zero enquanto não se forma o biofilme. Crites e Tchobanoglous (1998)

também atribuem papel fundamental ao biofilme na remoção tanto da matéria

coloidal quanto da solúvel, além dos microrganismos. O papel do biofilme ficou

também demonstrado na remoção de vírus (EMERICK e OUTROS, 1999;

SÉLAS e OUTROS, 2002).

43

Segundo Yao e outros (1971), o desempenho de um filtro é dado

pela expressão:

HdC

C

g

o

o

...1.23ln ηαφ−

−=

Onde,

C é a concentração afluente da suspensão,

Co é a concentração efluente da suspensão,

Φo é a porosidade do leito,

H é a profundidade do leito,

α1 é o fator de eficiência de colisão ou coeficiente de aderência,

η é a eficiência do coletor e

dg é o diâmetro do grão do leito.

Não é possível, a priori, aplicar esse modelo diretamente à filtração

intermitente em virtude das condições consideradas para seu desenvolvimento:

escoamento em meio poroso saturado, regime de escoamento permanente e

elementos do meio filtrante supostos esféricos. Entretanto, este modelo pode

permitir a determinação aproximada da retenção máxima (α1=1) das partículas

em suspensão (SCHMITT, 1989).

4.2.2.Processos Biológicos Pouco tempo depois de um filtro ser posto em operação, uma fina

camada de bactéria começa a se desenvolver em torno dos grãos da parte

superior do leito. Esse biofilme é de fundamental importância na operação do

filtro porque ele retém por meio de absorção a matéria solúvel e coloidal e os

microrganismos presentes no esgoto sob tratamento. O material retido é

decomposto e oxidado durante o período de descanso entre duas aplicações

(CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998).

A depuração biológica aeróbia se divide esquematicamente em duas

fases (MENORET, 2001, BANCOLÉ, 2001, SCHMITT, 1989, LEFEVRE, 1988,

ANDERSON e OUTROS, 1985, CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998):

Equação 6

44

• Uma fase rápida de adsorção e de acumulação dos

compostos sob a forma de reserva;

• Uma fase mais lenta de mineralização e de excreção

dos compostos mineralizados. É durante esta fase que acontece a maior

parte do consumo do oxigênio.

Somam-se a essas duas fases, uma etapa preliminar de degradação

extracelular da matéria orgânica presente sob a forma de macromoléculas não

diretamente assimiláveis, graças à excreção de enzimas extracelulares. A

matéria solúvel é consumida quase instantaneamente, enquanto a matéria

coloidal é solubilizada enzimaticamente. O material solubilizado é então

transferido através da membrana celular e convertido em produtos finais. A

cada dose, algum produto final é transportado para camadas mais inferiores do

leito, sendo eventualmente removido através dos drenos. Da mesma forma que

ocorre com a matéria solúvel e coloidal, os sólidos maiores são processados

entre a aplicação das doses (CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998).

Para o correto funcionamento do FILA, é imprescindível o

atendimento de dois aspectos fundamentais:

• Hidráulico: o efluente deve penetrar no leito e ter um

tempo de contato suficientemente longo com o biofilme depurador para

garantir a degradação da contaminação orgânica;

• Aeração: o oxigênio deve penetrar no interior do leito

e atender às necessidades dos microrganismos aeróbios responsáveis

pela degradação da matéria orgânica.

4.2.3.O Biofilme O alto grau de purificação produzido nos FILAs só é compreensível

quando se considera a grande e variada biota presente e o íntimo contato entre

essa biota e o esgoto, possibilitado por este método de tratamento (CALAWAY,

1957).

A colonização de um meio suporte por uma população diversificada

de microrganismos constitui uma comunidade de indivíduos que forma uma

autêntica cadeia de solidariedade, na qual os microrganismos sintetizam e

45

excretam numerosos compostos utilizados pelas bactérias vizinhas (LEFEVRE,

1988). Esses microrganismos, como a maioria dos que vivem na terra,

aglutinam-se em biofilmes (FLEMMING e WINGENDER, 2001 e MENORET,

2001). O aglomerado de microorganismos é mantido junto por meio de

biopolímeros de origem microbiana, os polímeros extracelulares – PEC. Sob

essa designação geral, PEC, encontram-se diferentes macromoléculas tais

como polissacarídeos, proteínas, ácidos nucléicos, lipídios e outros compostos

poliméricos que ocupam o espaço intercelular do aglomerado de

microrganismos. Os PEC preenchem e formam o espaço entre as células e são

responsáveis pela arquitetura e morfologia da matriz em que as células vivem.

Por essa razão, o PEC é considerado a casa dos microrganismos (FLEMMING

e WINGENDER, 2001).

Os PEC podem representar de 50 a 90% do carbono orgânico

presente no biofilme (FLEMMING e WINGENDER, 2001 e MENORET, 2001).

O mais importante componente do PEC são os polissacarídeos, embora a

matriz seja composta, também, por outros compostos, como mostra a Tabela 2

(FLEMMING e WINGENDER, 2001).

46

Tabela 2: Composição do biofilme

Componente Teor no PEC

Polissacarídeos 40-95%

Proteína >1-60%

Ácidos nucléicos >1-10%

Lipídios >1-40%

Fonte: FLEMMING e WINGENDER, 2001 e MENORET, 2001.

O biofilme apresenta uma estrutura porosa e muito absorvente

(CHRISTENSEN e CHARAKLIS, 1990 apud MENORET, 2001). Técnicas de

análise e de observação desenvolvidas recentemente mostram que o biofilme

não é um empilhamento regular de células, mas apresentam uma grande

heterogeneidade. A Figura 6 apresenta uma idéia aproximada de um biofilme

real: um aglomerado de células interligadas por fibrilas e percorridas por uma

rede de canais (MENORET, 2001).

Figura 6: Representação esquemática de um biofilme bacteriano.

Fonte: MENORET, 2001

Essa capacidade das bactérias, de se organizarem sobre uma

superfície, lhes confere uma vantagem sobre as populações planctônicas. A

fixação garante uma posição estável em relação à proximidade de uma fonte

de alimento, uma otimização do transporte de substrato para o biofilme e dos

dejetos para o exterior (CRIDDLE, 1991 apud MENORET, 2001), o que torna

Fase móvel

Massa celular

canal

Suporte

47

as bactérias mais ativas uma vez que elas utilizam sua energia apenas para o

seu metabolismo, economizando o que seria necessário para seu

deslocamento.

O gel formado por PEC atua como um concentrador de alimentos,

prestando às bactérias um serviço de “alimento em domicílio” (LEFEVRE,

1988). A formação de um biofilme é um processo complexo que se desenrola

em várias etapas e é influenciado por fatores tanto físico-químicos como

biológicos (LEFEVRE, 1988 e MENORET, 2001). Três etapas principais podem

ser definidas:

• Transporte das células para a superfície;

• Adesão;

• Crescimento.

O transporte de células para a superfície se efetiva segundo

diversos mecanismos e suas combinações – que são principalmente as

condições hidrodinâmicas que regem esse transporte (CRAGUE, 1993 apud

MENORET, 2001). Em ambiente calmo, a gravidade e a sedimentação

desempenham o papel principal. Em condição de escoamento laminar, a

difusão molecular torna-se o fator preponderante. Os movimentos convectivos

intervêm sob condições de escoamento turbulento. A mobilidade própria tem

um papel de importância reduzida. Ela intervirá quando da proximidade da

superfície ou apenas em ambiente calmo (ANNACHHATRE e BHAMIDIMARRI,

1992 e CRIDDLE, 1991 apud MENORET, 2001). Os movimentos ativos de uma

célula são motivados por quimiotropismo positivo (aproximando-se de uma

fonte de alimento) e negativo (afastando-se de uma zona com presença de

substância tóxica) (MENORET, 2001).

Em meio líquido, a superfície dos microrganismos, da mesma forma

que a maioria dos suportes, é carregada negativamente (ANNACHHATRE e

BHAMIDIMARRI, 1992). Em uma primeira aproximação, a teoria desenvolvida

por Drejaguin, Landau, Verway e Overbeck (DLVO), que descreve as

mudanças de energia livre de interação (Gt) em função da distância que separa

dois corpos, pode ser aplicada aos microrganismos em suspensão. Essa teoria

admite que a força total de interação entre dois corpos consiste na soma de

48

dois termos: as forças de Van der Walls e as forças eletrostáticas (LEFEVRE,

1988 e MENORET, 2001).

A colonização ocorre pela reprodução dos organismos aderidos ao

leito. O biofilme se estende em microcolônias na forma de uma rede de

polímeros. As bactérias não colonizam toda a superfície disponível: enquanto

que sobre uma superfície plana a distribuição parece regular, sobre um grão a

disposição de bactérias é muito irregular, com uma densidade maior ao nível

subangular. A colonização ocorre em várias etapas, nas quais se sucedem e se

organizam diferentes grupos de microrganismos. Ela começa com uma fase de

indução mais ou menos longa que é função do número e do tamanho dos

microrganismos que se fixam inicialmente e das condições de agitação do

meio. Quanto mais turbulento o escoamento, mais prolongada será a etapa de

indução por causa dos riscos de arraste da colônia primária. Após a fase de

indução, segue-se a de acumulação, na qual a densidade do biofilme cresce

como conseqüência do equilíbrio das populações de microrganismos

(LEFEVRE, 1988). É então, possível manter um microambiente no interior

desse emaranhado de polímeros, essencialmente diferente das condições

circundantes (MENORET, 2001).

A presença de microfendas e de rugosidade favorecem a adesão

inicial, protegendo a colônia incipiente dos fenômenos de cisalhamento

hidráulico (CRAGUE, 1993; SHOW e TAY, 1999). A temperatura tem um papel

primordial no desenvolvimento do biofilme, visto que, para temperaturas

afastadas do ótimo, a velocidade de multiplicação das células é reduzida. Isso

se traduz, ao nível do leito bacteriano, pela partida mais lenta e por uma

acumulação de biossólidos em temperaturas inferiores a 5ºC. As causas são

essencialmente biológicas, ligadas à redução da atividade celular e à predação

pela macrofauna. Pode-se acrescentar ainda a influência da hidrodinâmica

devido ao transporte (MENORET, 2001).

Dinâmica populacional

Os processos com meio fixo possuem algumas vantagens em

relação aos processos que utilizam meio suspenso. O polímero que envolve os

microrganismos os protege das substâncias tóxicas. A heterogeneidade

49

estrutural do biofilme lhe confere a possibilidade de abrigar diferentes tipos de

microrganismos nos diferentes nichos ecológicos. Assim, uma grande

diversidade de organismos pode ser mantida, e as bactérias não competitivas –

mas detentoras de faculdades específicas – podem se desenvolver (BISHOP,

1997). Tem-se, por exemplo, o caso das bactérias nitrificantes, que se

desenvolvem mais nas zonas mais profundas do biofilme onde o oxigênio está

presente para a nitrificação, mas onde elas não entram em competição com as

cepas heterotróficas, de crescimento mais rápido (CALAWAY, 1957 e

MENORET, 2001).

Calaway (1957) reiterou a importância fundamental dos

microrganismos no processo de tratamento em FILAs e enumerou esses

microrganismos, organizados em bactérias, protozoários e metazoários,

definindo-lhes os respectivos papéis. As diversas populações presentes

mantêm uma interação contínua, podendo ser de ajuda mútua ou de

concorrência (competição, inibição, parasitismo ou predação) (LEFEVRE,

1988).

Bactérias

Da mesma forma que em outros processos biológicos de tratamento

de esgoto, as bactérias são o elemento básico da ecologia, por sua grande

aptidão e importância para a decomposição de carboidratos e de compostos

orgânicos nitrogenados. Embora em pequeno número, observa-se também a

presença de grupos de bactérias cujo papel é a digestão de substâncias

húmicas, as quais produzem pouca energia, mas que podem causar a

colmatação do filtro se não forem destruídas (CALAWAY, 1957).

Protozoários

Protozoários são organismos unicelulares cujo tamanho varia de 20

a 200 µm, heterótrofos, alguns se alimentam de matéria orgânica dissolvida,

por difusão e pinocitose, e outros, mais evoluídos, possuem aparelho

adaptados à captura de partículas grandes (LEFEVRE, 1988).

Os protozoários, principalmente os ciliados, são predadores de

bactérias, sendo capazes de ingerir grande quantidade de alimento, chegando

a 500 a 600 células de bactérias por hora, durante a fase de crescimento

50

(LEFEVRE, 1988). Entretanto, sua competência para atacar o biofilme e as

bactérias incorporadas a essa massa é limitada e exercem um papel pouco

importante no controle da acumulação de material orgânico nos interstícios dos

grãos (CALAWAY, 1957).

Metazoários

Ao contrário do que acontece em um filtro percolador, em filtros

intermitentes, quase todo substrato orgânico retido por filtração ou adsorção é

assimilado por oxidação. Um dos resíduos do metabolismo bacteriano é o

húmus que é consumido por um número pequeno de outras formas de

bactérias. Conforme dito anteriormente, os protozoários não são muito efetivos

no controle do biofilme. É justamente em relação à assimilação dessa massa

que o grupo de animais multicelulares, os metazoários, tem importância, pois o

acúmulo do biofilme pode causar até a colmatação dos filtros. Considerando

seu tamanho e número, os anelídeos são os organismos mais significantes

desse grupo, com um apetite insaciável por lodos e limos. Eles se alimentam

no biofilme do leito, digerindo e utilizando parte desse material, mantendo a

superfície filtrante aberta para a admissão de oxigênio (CALAWAY, 1957).

Os metazoários são indicadores de um meio rico em matéria

orgânica e são capazes de degradar os subprodutos de outros organismos

durante o processo de tratamento (LEFEVRE, 1988).

4.2.4.O Balanço de Oxigênio Três mecanismos são responsáveis pelo aporte de oxigênio ao leito

filtrante (MENORET, 2001). Este aporte pode ocorrer por:

• Diluição na água, na qual pode atingir, no limite,

cerca de 9,0 mg/l no percolado e pode ser considerado desprezível;

• Convecção, relacionada ao movimento de ar no leito,

gerado pela variação do estoque de água no leito filtrante;

• Difusão, relacionada ao gradiente de concentração

ente a atmosfera e o leito, através da superfície.

O papel relativo dos dois últimos mecanismos de troca gasosa não é

ainda objeto de consenso. Enquanto Chachuat (1998), Schwager e Boller

51

(1997), Gnagne (1996) e Guilloteau e outros (1993) destacam o mecanismo de

difusão. Lefèvre (1988) e Schmitt (1989) elegem o mecanismo de convecção

como o mais importante. Entretanto, a maioria dos autores consultados

concordaque a provisão de oxigênio deve atender à demanda total de oxigênio

– DTO. A DTO é dada (VAN BUUREN e OUTROS, 1999) pela Equação 7.

DTO=DBO5+4,5NTK

O Mecanismo de Difusão

A difusão do oxigênio no meio poroso, assim como na atmosfera, se

exprime através da lei de Fick. O coeficiente de difusão do oxigênio no ar Do é

então substituído por um coeficiente de difusão no meio poroso, D.

Onde,

J= fluxo de oxigênio por unidade de superfície, gO2/m2. dia

D= coeficiente de difusão do oxigênio no meio poroso, m2/dia

C= concentração de oxigênio na fase gasosa, g/m3

Não existe uma lei geral que permita obter o valor do coeficiente de

difusão D. Vários autores fornecem, segundo as condições experimentais,

funções empíricas que permitem estimar o coeficiente de difusão a partir das

características do meio poroso (SCHMIT, 1989; MENORET, 2001).

oa DD ..αφ=

Onde,

Φa= porosidade ocupada pelo ar,

α= fator de impedância.

Segundo Gougoussis (1978), apud Lefevre (1988), D varia num meio

poroso de 10-6 a 10-1 cm2/s, dependendo do grau de saturação do meio poroso,

zCDJ∂∂

−= Equação 8

Equação 9

Equação 7

52

o que pode ser verificado na Figura 7, que mostra a variação de α com a

porosidade acessível ao ar, para areias secas e úmidas.

Figura 7: Gráfica - α em função da porosidade do meio

Schmitt (1989) ajustou uma expressão que relaciona o coeficiente de

difusão à porosidade acessível ao ar, traduzida pela Equação 10 Figura 8. 8,1.5,1 a

oDD φ=

75,1

273.273.)(

=TDTD oo

Onde,

T= temperatura em K

O valor do coeficiente de difusão do oxigênio no ar, Do, é 2,3.10-1

cm2/s e na água, 2,6.10-5 cm2/s, dez mil vezes menor. No meio poroso, o

coeficiente de difusão é função do coeficiente em célula livre e da geometria da

porosidade ocupada pelo fluido analisado (LEFEVRE, 1988).

Equação 11

Equação 10

Areias secas

Areias úmidas

aa

53

Figura 8: Coeficiente de difusão do oxigênio no solo No eixo X e porosidade acessível, fa

Fonte: SCHMITT, 1989

O fluxo de oxigênio por unidade de superfície de um leito filtrante é,

segundo Lefevre (1988), dado pela Equação 12

tD

CJ ao .

.πφ

=

Onde,

J=fluxo de oxigênio, Kg/m2.dia

Co=concentração de oxigênio no ar, 286 g/m3

t=tempo, s

Lefevre (1988) e Schmitt (1989) sugerem que a renovação das

reservas de oxigênio por difusão molecular pode ser desprezada, como

primeira aproximação.

A Agence de l’Eau (1993) propõe a Equação 13, abaixo, para prever

a capacidade de oxidação pela via difusiva em um meio poroso.

o

Dod h

TqOC 2.=ω

Onde,

ωd=capacidade de oxidação pela via difusiva, mgO2/l,

Equação 13

Equação 12

54

Co=teor de oxigênio no ar atmosférico, mg/l,

qO2=fluxo volumétrico médio de oxigênio em um intervalo de

tempo, m3/m2.h,

TD=intervalo de tempo de um ciclo, h,

ho= altura da lâmina de água aplicada durante uma seqüência de

alimentação, m.

Convecção

A análise do aporte convectivo de oxigênio ao leito filtrante,

apresentada a seguir, está baseada principalmente em Lefevre (1988).

A renovação dos estoques de ar por convecção supõe um regime

hidráulico transitório, com alternância entre períodos de alimentação e períodos

de drenagem (Figura 9). Durante a alimentação, a porosidade livre ao ar do

leito filtrante é ocupada de forma crescente por água, expulsando o ar; e

durante a drenagem o volume de água diminui e o ar atmosférico penetra no

leito (Figura 10) (LEFEVRE, 1988). Supõe-se que o escoamento é unidirecional

vertical (SCHMITT, 1989).

Figura 9: Esquema da seqüência de aplicação

Fonte: LEFEVRE, 1988

Esse funcionamento enseja uma flutuação periódica do estoque de

água, ∆Sw (LEFEVRE, 1988). A porosidade ocupada pelo ar, Φa, é variável no

tempo e no espaço e está relacionada com a umidade do material através da

Equação 14 (SCHMITT, 1989).

a D

0 t0 T

a*

Vazã

o de

alim

enta

ção

Período

Um ciclo

Fase de alimentação Fase de Secagem

Drenagem

Tempo

aa*D

Sequência de alimentação (0,t )0Último aporteSequência de drenagem (t ,T)0

55

ta φθφ =+

O estoque de água em volume, Sw, é dado pela expressão:

∫=H

w dzS0

O estoque de ar em volume, Sa, é dado pela expressão:

( )∫ −=H

ta dzS0

.θφ

Onde,

Φt= porosidade total

Φa= porosidade livre ao ar

θ= umidade volumétrica do leito

H= altura do leito, m

Considerando-se que a porosidade do leito é ocupada por água ou

por ar, o volume de vazio pode ser igualado à soma desses dois componentes.

awt SSH +=.φ

Resulta daí

aw dSdS −=

A massa de ar por unidade de superfície contida no perfil do leito é

expressa por:

aaa SM .ρ=

Onde,

ρa= massa de ar a pressão considerada, Kg/m3.

A variação do estoque de água resulta da desigualdade entre as

vazões infiltrada, qi, e escoada, qe, na saída do filtro (ver Figura 11).

( )dtqqdS eiw .−=

Equação 20

Equação 19

Equação 18

Equação 17

Equação 16

Equação 15

Equação 14

56

Figura 10: Troca gasosa convectiva durante alimentação e drenagem

Fonte: BANCOLÉ, 2001

Figura 11: Variação dos estoques de água e ar

Fonte: LEFEVRE, 1988

Em filtros confinados, as trocas gasosas ocorrem exclusivamente

através da superfície de infiltração, podendo ocorrer dois casos. Um em que a

vazão aplicada, qa, infiltra instantaneamente, logo qi é igual a qa, e o ar circula

t3

t4

0 0,65 1

t1

t2

0 0,65 1

InfluenteExpulsão de ar

Profundidade

Franja Capilar

Biofilme

Areia

Frações volumétricas acumuladas

Biofilme

Areia

Frações volumétricas acumuladas

Profundidade

Admissão de ar

Franja Capilar

t - t0 1 t t iT T

qi

Sa

0 0

qi = qa

qe

a

Sw

Sw

t 0

qe

Vazã

o

Compressãodo ar

Liberação do ar

Períodoútil

Tempo

57

livremente entre a atmosfera e o meio poroso. A variação do conteúdo de água

é dada pela Equação 12, Figura 11a:

( )∫ ∫∫ =−=−=∆ o

o

ot T

t e

t

eoaeiw dtqdtqtqdtqqS0 0

...

A massa de oxigênio aportada por unidade de superfície é:

waooO SCM ∆=∆ ..2

ρ

Onde,

Co= concentração ponderada do oxigênio no ar

ρao= massa de ar a pressão atmosférica, Kg/m3.

O segundo caso ocorre quando, durante a fase de alimentação,

ocorre formação de uma lamina de água sobre a superfície do leito e essa

lâmina desaparece antes de uma nova aplicação. Enquanto persiste, essa

lâmina impede a entrada de ar e a vazão de infiltração, qi, é diferente da vazão

aplicada, qa (ver Figura 11b e Figura 12).

( ) ( )∫ ∫ −=−=∆t T

tieeiw dtqqdtqqS

0..

Onde t é o tempo em que qe é igual a qi.

Figura 12: Efeito da existência de lâmina d’água sobre a superfície do leito

Fonte: LEFEVRE, 1988

Equação 23

Equação 22

Equação 21

t1

t2

0 0,65 1

Profundidade

Biofilme

Areia

Frações volumétricas acumuladas

Lamina d’água

Influente

Franja Capilar

Ar preso e comprimido

58

Entre t=0 e t=t, o aumento do volume de água no leito não se traduz

em expulsão do ar que é aprisionado e comprimido, sem que haja uma

variação de massa. Entre t e t1, tempo em que a lâmina de água desaparece, o

ar comprimido perde parte de sua pressão. A partir de t1, se restabelece

completamente a interação com o ar atmosférico e a variação do volume de

água é acompanhada por uma admissão de ar. O período de t=t1 a t=T é

chamado de período útil para a renovação da fase gasosa do leito filtrante.

Nesse caso,

∫=∆=∆T

teaoaaoa dtqSM

1... ρρ

aoO MCM ∆=∆ .2

Quanto maior a permanência da lâmina de água sobre a superfície

do leito, mais reduzido é o período útil, com prejuízo para a renovação do

estoque de oxigênio no leito filtrante.

A Agence de l’Eau (1993) propõe a Equação 26, abaixo, para prever

a capacidade de oxidação pela via convectiva em um meio poroso.

( )o

woc h

SC λω

+∆=

.

Onde,

ωc=capacidade de oxidação pela via convectiva, mgO2/l,

λ=termo corretivo correspondente a contribuições secundárias.

Schmitt (1989) reconhece a dificuldade metodológica de dissociar o

aporte difusivo do aporte convectivo de oxigênio, e, consequentemente, de

atribuir maior relevância a um ou outro no processo de filtração intermitente.

4.2.5.Capacidade de Oxidação A capacidade de oxidação, ω, é o resultado da soma das

capacidades difusiva e convectiva (Equação 27).

ω = ωd +ωc

Equação 26

Equação 25

Equação 24

Equação 27

59

A teoria simplificada proposta pela Agence de l’Eau (1993) postula

que a capacidade total de oxidação deve ser maior ou igual à DTO aplicada

para assegurar um bom tratamento e a durabilidade do processo. A Figura 13

mostra a capacidade de oxidação total em função da altura da carga hidráulica

aplicada.

Figura 13: Capacidade total de oxidação em função da carga hidráulica

FONTE: AGENCE de L’EAU, 1993

Guilloteau e outros (1993) trabalharam com colunas de 30 cm de

diâmetro, com altura do leito de areia de 75 cm (d10= 0,2mm e CU=5) e com

uma taxa de aplicação hidráulica de 30 cm/dia, em três doses, durante 3 dias

seguidos por 4 dias de repouso, e constataram a importância da manutenção

da superfície desobstruída para a passagem do ar. Na situação em que houve

colmatação e a superfície do filtro permaneceu submersa, não houve a

renovação dos estoques de oxigênio entre duas aplicações seguidas (8 horas)

nem durante o período de repouso; observando-se, ainda, a formação de

metano, um indicativo de uma condição de anaerobiose. No caso em que não

houve colmatação, o consumo de oxigênio permaneceu alto; ao final do

período de aplicação, o teor de oxigênio no espaço poroso do leito era de 3% ,

e, ao final do período de repouso, atingiu 17% (a concentração de oxigênio no

ar é de 21%).

Para Schwager e Boller (1997), a renovação de oxigênio através da

difusão é mais importante do que a pela convecção. Eles mediram, nos 10 cm

Capacidade de Oxidação, (mg O2/l)

Carga Hidráulica, H (mg/j)

Capacidade de Oxidação, (mg O2/l)

Carga Hidráulica, H (mg/j)

60

superiores de uma coluna de 90 cm preenchida com areia com d50=0,85 cm e

CU=2,1, um fluxo de 30 mgO2/m2.min por difusão molecular e de 9,0 mg/l por

convecção, para uma carga aplicada de 120 l/m2.dia.

Van Buuren e outros (1999), citando Schwager e Boller, sugerem

uma carga orgânica máxima de 55,0 gDTO/m2.dia. Crites e Tchobanoglous

(1998) recomendam que a carga orgânica diária, expressa em DBO, se

mantenha na faixa de 2,5 a 10,0 g/m2.dia, com valor típico de 5,0 g/m2.dia.

Bancolé (2001) estudou a capacidade de oxidação para as situações

de carga hidráulica de 20 a 50 cm por dia, com freqüências de aplicação

(fracionamento) de 1 a 4 d-1 e para efluente com DTO de 574,0 mg/l e 378,0

mg/l e encontrou capacidades de oxidação de 110,0 g/m2.dia a 285,0 g/m2.dia.

Este pesquisador concluiu que ω não é função apenas da carga hidráulica

aplicada, mas também do fracionamento dessa carga, da espessura do leito

filtrante, da relação DQO/NTK e da temperatura.

Mottier e outros (2000), avaliando a estação de Mazagon (Espanha),

com capacidade de projeto para 1700 equivalentes populacionais, aplicou uma

carga diária de 0,25 m3/m2.dia em um leito de areia de duna com d50=0,24mm e

2,0 m de espessura; encontrou uma capacidade de oxidação total de 680,0

mg/l e atribuiu esse valor elevado às altas temperaturas do verão. Encontrou

ainda que um tempo de 15 a 30 horas, após uma aplicação, foi necessário para

restaurar o estoque de oxigênio, levando-o a atingir os valores iniciais de 13%

e 17%, respectivamente a 0,60 m e 0,30 m de profundidade. Observou-se que,

imediatamente após a aplicação do esgoto, o percentual de oxigênio cai

rapidamente atingindo cerca de 5% e 7%, respectivamente a 0,60 m e 0,30 m

de profundidade.

É importante notar que nesses experimentos, os melhores

desempenhos, no que tange à capacidade de oxidação, estão associados à

maior formação de biomassa e, conseqüentemente, a tempos mais curtos para

a colmatação da superfície filtrante.

4.2.6.Aspectos Hidráulicos Para atender principalmente à manutenção do suprimento

permanente de ar para as bactérias, os filtros intermitentes funcionam segundo

61

uma alternância entre dosagem e descanso. É durante esta última fase que o

estoque de oxigênio nos espaços vazios do leito é renovado por meio dos

mecanismos de difusão molecular.

A alternância permite ainda a gestão do crescimento biológico.

Como em qualquer processo biológico, a oxidação da matéria orgânica é

acompanhada de um desenvolvimento bacteriano que, se não for equilibrado

por processos reguladores, provoca a colmatação do filtro. É durante a fase de

repouso, quando cessa o aporte de alimento, que ocorre o processo regulador

da massa biológica através da respiração endógena. Esse controle ajuda ainda

na preservação das condições de infiltração do leito. Para isso, tem grande

importância a granulometria do meio, a carga hidráulica diária e a forma como

esta é aplicada na manutenção de um fluxo não saturado, conforme ilustrado

na Figura 14. Quando o volume de líquido aplicado é suficiente para preencher

todo o espaço vazio do meio, parte da matéria orgânica e microrganismos

passam através do filtro sem tratamento. À medida que o volume aplicado por

dose é reduzido, ocorre um fluxo parcialmente saturado. Quando o volume é

reduzido mais ainda, o fluxo torna-se não saturado e escoa em uma fina lâmina

em torno das partículas do meio. Com isso, os fenômenos físicos de remoção,

já descritos, são favorecidos e o oxigênio do ar pode acessar todo o leito

através dos espaços intersticiais. Assim, tendo em vista que o processo de

purificação ocorre em duas etapas, remoção seguida de oxidação, é imperativo

que a aplicação do líquido a ser tratado se dê em finas lâminas (CRITES e

TCHOBANOGLOUS, 1998).

O fracionamento da carga diária em várias doses favorece ainda o

aporte convectivo de ar atmosférico, rico em oxigênio (LEFEVRE, 1988;

SCHMITT, 1989).

62

Figura 14: Efeito da carga hidráulica nos filtros

Fonte: CRITES e TCHOBAOUGLOUS, 1998.

Outro aspecto relevante do fracionamento da carga hidráulica diária

é o aumento do contato do esgoto tratado com o biofilme, pois ele favorece os

mecanismos físicos de remoção e a troca de solutos entre o biofilme e o

esgoto.

Em condições não saturadas, o meio filtrante se caracteriza pela

justaposição de três fases: fase líquida, fase gasosa e fase sólida. A

colonização do leito adiciona uma quarta fase: o biofilme (ver Figura 15).

Figura 15: Ilustração das quatro fases de um meio poroso não saturado colonizado

Fonte: MENORET, 2001

FASE LÍQUIDA

FASE GASOSA

FASE SÓLIDA

BIOFILME

1 dose/dia 4 doses/dia 24 doses/dia

63

À exceção do meio filtrante inerte, o biofilme, a fase líquida e a fase

gasosa estão em interação contínua (o espaço que cada uma ocupa muda

constantemente) e a configuração de cada uma tem evolui permanentemente.

Na análise do escoamento no meio poroso distinguem-se três tipos de água:

• Água gravitacional, ou livre, que circula nos macroporos sob a

ação da gravidade. Esse escoamento pode ser lento ou rápido, a

depender do grau de umidade do leito.

• Água de retenção, aquela que resta após a drenagem da água

gravitacional.

• Água de constituição, aquela que faz parte da composição

química, não sendo nem intercambiável nem mobilizável.

O biofilme (com seu conteúdo de água) comporta-se como uma fase

líquida imóvel que se junta à água estagnada.

Em condições não saturadas, uma parte da água ocupa uma parte

dos vazios do leito, uma fração escoa enquanto outra fração se liga ao meio

filtrante por capilaridade. O deslocamento da fração livre resulta da variação de

seu potencial total H – carga hidráulica. Esse potencial compõe-se de uma

parcela de energia gravitacional, ou de posição, e de uma parcela de energia

de pressão resultante das forças de capilaridade e das forças de adsorção. A

água desloca-se dos pontos onde tem maior energia para os pontos de energia

mais baixa. A lei de Darcy relaciona o deslocamento da água ao gradiente de

carga hidráulica. A diferença fundamental com o escoamento saturado reside

no fato de que, no meio não saturado, a condutividade K depende do teor de

umidade do meio. O desenvolvimento do biofilme também modifica a

permeabilidade do meio, uma vez que atua sobre a porosidade e a umidade do

leito, conforme mostrado na Figura 16.

zH)(Kq∂∂

θ−= Equação 28

64

Figura 16: Papel do biofilme na condutividade hidráulica: à esquerda, meio virgem; à direita, meio colonizado

Fonte: MENORET, 2001.

A interação entre a carga aplicada, o fracionamento desta, o

tamanho efetivo dos grãos e a espessura do leito leva à definição do tempo

médio de passagem - TMP, conforme Schmitt (1989) e Selas (2002) que

encontraram, respectivamente, as seguintes equações para o cálculo de TMP.

TMP= 4,44.H0,89.F0,092.L-0,75

TMP=α.H.(L)-β

Onde,

H= espessura do leito, m

F= freqüência de aplicação, d-1

L= carga hidráulica diária

α e β parâmetros de ajuste, iguais a 0,3 e 0,7 respectivamente.

4.2.7.Trocas no Biofilme Antes de ser assimilado e degradado, o constituinte orgânico na

forma dissolvida deve atingir o biofilme. Para tal, tem que atravessar uma

camada limite, entre o filme de escoamento líquido e o biofilme. O biofilme

troca substrato com o escoamento principal numa velocidade que depende do

gradiente de concentração que se estabelece no seu interior (ver Figura 17).

Para a maioria dos autores, a disponibilidade de oxigênio (assim

como a de solutos) requer a travessia da fase líquida estagnada. Eckenfelder

Equação 28

Equação 29

65

(1991) decompôs a transferência de oxigênio da fase gasosa para a fase

líquida em três etapas:

• Uma etapa rápida de transferência para a superfície do

líquido;

• A travessia da interface líquido-gás. Admite-se que essa

etapa seja talvez representada pela difusão através de uma fina espessura

de líquido, da ordem de algumas moléculas de água (CHACHUAT, 1998);

• A transferência de oxigênio na massa líquida por difusão e

convecção.

A travessia da interface líquido-gás é designada como a etapa limite

do processo (ROQUES, 1979). Continuando a travessia da fase estagnada, o

oxigênio pode então penetrar no biofilme.

Figura 17: Fluxo de oxigênio entre o ar e o biofilme

Fonte: MENORET, 2001

Zhu e outros (2000) demonstraram que em caso de descontinuidade

da fase líquida estagnada, a transferência direta de oxigênio da fase gasosa

para o biofilme é possível. Desse modo, a ausência de uma fase aquosa não é

um limite para penetração do oxigênio no biofilme. Essas observações foram

obtidas a partir de um biofilme desenvolvido no seio de um leito bacteriano

utilizado para o tratamento de compostos orgânicos voláteis, ou seja, em um

meio insaturado, como é o caso em filtração intermitente.

Suporte

Biofilme +camada estagnada

Efluente livre

Atmosfera do maciço

1: Fluxo de aratmosférico

2: Fluxo detransferência atmosfera/fase líquida

3: Penetração nobiofilme

4: Consumo paraoxidação aeróbia da matéria orgânica

66

Figura 18: Biofilme em meio poroso não saturado.

Fonte: MENORET, 2001

A medida do perfil de concentração de oxigênio dissolvido no interior

do biofilme mostra, além do decrescimento rápido de sua concentração com o

aumento da profundidade, zonas profundas ricas nesse elemento, o que

sugere a passagem privilegiada desse gás através do mesmo, conforme

representado na Figura 18.

4.2.8.Colmatação Diversos autores (RICE, 1974; LEFEVRE, 1988, SCHMITT, 1989;

BANCOLÉ, 2001; MENORET, 2001) apontam que o processo de colmatação

pode ter três origens: física, química e biológica. A colmatação física é o

resultado do depósito dos sólidos suspensos que reduz a porosidade do leito

filtrante. O fenômeno é mais rápido em leitos com granulometrias mais finas, e

mais profundo nos que têm granulometrias mais grosseiras. A colmatação

química resulta da deposição de sais dissolvidos no interior dos poros por

precipitação ou pela ação defloculante do íon sódio e se caracteriza pela

cimentação dos cinco primeiros centímetros. A colmatação biológica

caracteriza-se por uma camada negra e decorre da submersão por períodos

prolongados da superfície de infiltração. Essa camada é rica em bactérias que

produzem PEC em grande quantidade. Seu papel na colmatação está mais

Fase gasosa Fase Líquida Biofilme Suporte

Poro do biofilme

Poro do suporte

Biofilme ( )não molhado

67

relacionado aos produtos de seu metabolismo que ao seu acúmulo nos

espaços intergranulares.

4.3.REMOÇÃO DE CONTAMINANTES EM FILAs

4.3.1.Remoção de Sólidos Suspensos A remoção de sólidos suspensos (SS) em FILAs é sempre muito

elevada e valores de remoção superiores a 95% não são raros (LEFEVRE,

1988; USEPA, 1999; DARBY e OUTROS, 1996; ANDERSON e OUTROS,

1985). Os mecanismos de remoção são essencialmente físicos. Conforme foi

apresentado no item 4.2, as partículas mais grosseiras são retidas na

superfície do leito e as mais finas no espaço poroso por interceptação e fixação

sobre os grãos.

Furman e outros (1955), apud Darby e outros (1996), relataram que

o desempenho dos filtros aumentou com a redução do tamanho efetivo da

areia quando o efluente era aplicado em uma ou duas doses diárias, mas que

os resultados foram similares quando a freqüência de aplicação foi de quatro

doses por dia.

Harris e outros (1977) utilizaram o FILA para polimento de efluente

de lagoas de estabilização e encontraram resultados de SS inferiores a 10,0

mg/l. Relacionaram a duração da carreira de filtração com o tamanho efetivo e

a concentração de SS no efluente aplicado sobre os filtros. Constataram

também que nas temperaturas mais altas do verão o efluente dos filtros

apresentava melhores características e recomendaram cargas hidráulicas de

0,37 a 0,56 m/dia.

Widrig e outros (1996), visando avaliar o efeito da espessura do

leito, testaram três profundidades: 0,60; 0,45 e 0,30m com areia de tamanho

efetivo, TE=0,44 mm e uma carga hidráulica de 0,236 m/dia, aplicada em dose

única (F=1 d-1), e encontraram percentuais de remoção de, respectivamente,

82, 80 e 71%.

A retenção de sólidos suspensos é a causa mais freqüentemente

apontada para a colmatação do leito, sendo a sua remoção em um tratamento

preliminar fundamental para a longevidade do processo (MENORET, 2001).

68

4.3.2.Remoção de Carga Orgânica Os FILAs são altamente efetivos na remoção da carga orgânica

medida como DBO ou DQO, sendo comuns resultados de menos de 10,0 mg/l

de DBO (CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998; LEFEVRE, 1988; ANDERSON

e outros, 1985; LEFEVRE, 1988; BANCOLÉ, 2001; DARBY e outros, 1996;

VENHUIZEN, 2005; SABBAH e outros, 2003; WIDRIG e outros, 1996; BOLLER

e outros, 1993). Crites e Tchobanoglous (1998), por exemplo, sugerem que a

remoção de carga orgânica obedece a uma cinética de 1ª ordem na forma da

Equação 30:

tko CeC .−=

Nessa equação, o tempo refere-se ao tempo de passagem do

efluente e está relacionado com a espessura do leito, o tamanho efetivo dos

grãos, a carga hidráulica diária e a freqüência de aplicação (SCHMITT, 1989;

SÉLAS e OUTROS, 2002).

Verma e Mancl (2001) utilizaram os resultados dos FILAs de

Massachusetts do período de 1893 e 1897 e dos da Flórida publicados por

Furman em 1955, num total de 143 observações, e desenvolveram a seguinte

equação empírica (R2= 0,826).

Co=-4,43+39,7.TE-4,3.H-0,15.CU+0,038.Ci-0,033.T-0,00727.L

Onde,

Co= concentração de DBO no efluente, mg/l

TE= tamanho efetivo, mm

H= profundidade do leito, m

CU= coeficiente de uniformidade

T= temperatura do ar, ºC

Ci= concentração de DBO no afluente, mg/l

L= carga hidráulica diária, l/m2.dia.

Na Equação 31, fica evidente o papel de cada variável no

desempenho dos FILAs na remoção da carga orgânica. O tamanho efetivo da

areia e a profundidade do leito parecem ser os parâmetros de maior influência

Equação 31

Equação 30

69

na remoção dessa carga orgânica. Esta é uma conclusão reportada por

diversos autores. Anderson e outros (1985), por exemplo, apresentam uma

tabela de tendências de desempenho para os diversos parâmetros de projeto,

em que incluem o parâmetro freqüência de dosagem (ver Tabela 3). Chadwick

(1937), apud Widrig e outros (1996), testou espessuras de leito de 0,31 a 1,63

m, com areias de TE=0,25mm e carga hidráulica de 0,076 m/dia de esgoto

decantado. Em sua experiência, ele obteve concentrações de DBO efluente de

11,0 mg/l para o mais raso e de 2,5 mg/l para o mais profundo, concluindo que

profundidades superiores a 0,90 m não apresentavam vantagem. O efeito do

aumento da freqüência de dosagem na melhoria do desempenho dos FILAs é

apontado também por outros autores que o comprovaram em trabalhos

experimentais em escala de campo ou em colunas de laboratório tais como:

(Crites e Tchobanoglous (1998), Lefevre (1988), Schmitt (1989), a Agence

L’Eau (1993), Darby e outros (1996), Bancolé (2001), e Venhuizen (2005).

70

Tabela 3: Tendência geral de desempenho em função dos fatores de projeto

Fonte: ANDERSON et al. 1985

Aumentando os pré-

tratamentos

Aumentando o TE da areia

Aumento da profundidade

do filtro

Aumentando a carga orgânica

aplicada

Aumentando a temperatura de

operação

Aumentando a dose/freqüência

Fatores de Projeto

Qualidade do efluente Carreira de filtração

Custo do investimento

FILA

Aumentando a carga

hidráulica aplicada

Efeito muito pequeno além de

60 a 90 cm dependendo do

tamanho da areia

Dependente da disponibilidade

local

Areia média a grossa

Efeito muito

pequeno

Areia fina à média

Efeito muito

pequeno

Areia média a grossa

Areia fina à média

Efeito muito

pequeno

Desempenho dos fatores

Efeito muito pequeno além de

60 a 90 cm dependendo do

tamanho da areia

71

4.3.3.Remoção de Nutrientes Nos esgotos domésticos, o nitrogênio é encontrado essencialmente

nas formas amoniacal e orgânica. A fração orgânica é rapidamente

amonificada (sob a forma de NH4+) e é retida por adsorção na superfície dos

grãos ou do biofilme. Esse processo ocorre mais rapidamente em temperaturas

mais altas, sendo o ponto ótimo acima de 30 ºC. Parte do nitrogênio amoniacal

pode se perder por volatilização em meios com pH alcalino, não excedendo em

10% do total (LANCE, 1972).

A nitrificação é quase total em FILAs, não sendo raros valores de

nitrogênio amoniacal inferiores a 1,0 mg/l (LANCE, 1972; ANDERSON e

OUTROS, 1985; LEFEVRE, 1988; SCHMITT, 1989; CRITES e

TCHOBANOGLOUS, 1998 e EPA, 1999).

As bactérias nitrificantes são organismos autótrofos, estritamente

aeróbios. Assim, o processo de nitrificação é estreitamente vinculado à

disponibilidade de oxigênio, compondo com a DBO a demanda total de

oxigênio (DTO). Desse modo, filtros sobrecarregados, em que a DTO aplicada

excede a capacidade de oxidação ou que estão submetidos a longos períodos

de submersão de sua superfície (o que impede a renovação dos estoques de

ar no leito), não logram a oxidação total ou mesmo parcial da amônia. A perda

de nitrogênio por desnitrificação ocorre em proporções muito pequenas, em

microsítios anóxicos, em leito filtrante intermitente (CRITES e

TCHOBANOGLOUS, 1998). O processo é limitado pela presença de oxigênio e

pela carência de carbono nas concentrações requeridas (LEFEVRE, 1988).

Verma e Mancl (2001) utilizaram os resultados dos FILAs de

Massachusetts do período de 1893 a 1897 e dos FILAs da Flórida publicados

por Furman em 1955, num total de 143 observações, e desenvolveram a

seguinte equação empírica (R2=0,908).

No=-1,78+11,0.TE-3,9.H-0,17.CU+0,054.Ni-0,024.T+0,0019,NTK-0,029.L

Onde,

No= concentração de amônia no efluente, mg/l

TE= tamanho efetivo, mm

H= profundidade do leito, m

Equação 32

72

CU= coeficiente de uniformidade

NTK= nitrogênio total de Kjeddahl afluente, mg/l

T= temperatura do ar, ºC

Ni= concentração de amônia no afluente, mg/l

L= carga hidráulica diária, l/m2.dia

Na Equação 32, fica evidente o papel de cada variável no

desempenho dos FILAs no que se refere à oxidação da amônia. O tamanho

efetivo da areia e a profundidade do leito parecem ser os parâmetros de maior

influência no processo.

Mottier e outros (2000), em um estudo em escala de campo,

encontraram um aumento da nitrificação com a profundidade do leito, até esta

atingir 98% a 2,0 m, com uma carga hidráulica de 25,0 cm/dia. Schmitt (1989)

baseado nos estudos de Mc Laren (1969), que obteve uma nitrificação total em

apenas 40 cm de profundidade, minimiza o efeito da espessura do leito.

Entretanto, o referido estudo utilizou uma carga muito baixa, de 3,85 cm/dia.

Darby e outros (1996) obtiveram resultados semelhantes aos de Mc Laren em

FILAs com espessura de 38,0 cm e cargas hidráulicas entre 4,1 e 16,3 cm/dia.

Chadwick (1937) apud Widrig e outros (1996) testou espessuras de leito de

0,31 a 1,63 m com areias de TE=0,25mm e carga hidráulica de 7,6 cm/dia de

esgoto decantado e obteve concentrações de amônia efluente de 2,12 mg/l

para o mais raso e de 0,18 mg/l para o mais profundo. Assim, concluiu que

profundidades superiores a 0,90 m não apresentavam vantagem. Widrig e

outros (1996), visando avaliar o efeito da espessura do leito, testaram três

profundidades: 0,60; 0,45 e 0,30m com areia de TE=0,44 mm e uma carga

hidráulica de 23,6 cm/dia aplicada em dose única (F=1 d-1) e encontraram

percentuais de oxidação de, respectivamente, 98, 93 e 96%. Schmitt (1989)

sugere também que a carga hidráulica diária não tem vinculação com o

desempenho de FILAs na oxidação da amônia, sendo seus efeitos imputáveis

à deficiência na renovação do oxigênio na atmosfera do leito filtrante.

Para areias mais finas e de maior coeficiente de uniformidade, Darby

e outros (1996) encontraram um pequeno aumento da oxidação da amônia

quando a freqüência de aplicação F aumentou de 4 para 12 d-1. Para o

73

aumento de F de 12 para 24 d-1, não se observou melhora significativa. Para

areia mais grossa, esses autores encontraram um aumento significativo na

medida em que F aumentou de 4 para 12 e 24 d-1. Para qualquer valor de TE, o

aumento foi maior quando F passou de 4 para 12 d-1.

Remoção de Fósforo

Os fosfatos são removidos em FILAs por meio de dois mecanismos:

a adsorção e a precipitação. A adsorção vai depender da natureza do material

do leito. Quanto maior for o teor de argila, maior será a adsorção. A

precipitação está relacionada com a presença dos cátions de Fe3+, Al3+ e Ca2+

no efluente (LEFEVRE, 1988). Prochaska e Zouboulis (2003) acrescentam a

incorporação ao biofilme como sendo mais um mecanismo de remoção de

fósforo.

A partir de experimentos de diversos autores, pode-se afirmar que a

remoção de fósforo total em FILAs é baixa. Segundo Anderson e outros (1985),

a redução de fósforo pode atingir percentuais de até 50% em filtros novos, mas

essa redução tende a cair com o amadurecimento do filtro e a queda da

capacidade de troca resultante. Nielsen e outros (1993) relataram uma faixa de

remoção de fósforo em FILAs na Dinamarca de 40 a 60%. Guilloteau e outros

(1993) encontraram 50% como remoção média em colunas de laboratório de

operação recente. Boller e outros (1993) encontraram uma eficiência de

remoção de 25% em filtros maduros em escala de campo. J. L. Van Buuren e

outros (1999) sugerem que a expectativa de remoção de fósforo em FILAs é de

cerca de 40%.

4.3.4.Remoção de Microrganismos A remoção de microrganismos em FILAs é, em geral, muito eficiente,

atingindo valores de 2 a 6 uLog (ANDERSON e OUTROS, 1985; EPA, 1999;

STEVIK, AUSLAND, 2004; LEFEVRE 1988; SCHMITT, 1989; BANCOLÉ, 2001;

SALGOT, 1996; BRISSAUD; 1999; EMERICK, 1999). Essa remoção ocorre em

duas etapas: retenção e degradação. Na primeira etapa, de retenção, estão

envolvidos os mecanismos físicos descritos no 4.2.1 filtração mecânica,

interceptação e adsorção. Na segunda etapa, de eliminação ou degradação

microbiológica, o microrganismo é exposto a um conjunto de fatores abióticos e

74

bióticos desfavoráveis. Entre os abióticos incluem-se: umidade, pH,

temperatura e teor de matéria orgânica; e entre os bióticos, a espécie de

bactéria e a presença de predadores, principalmente de protozoários (STEVIK

e OUTROS, 2004). Além da predação, outros fatores bióticos citados são: o

parasitismo, a competição nutritiva, a secreção de antibióticos e de substâncias

inibidoras (BANCOLÉ, 2001).

A eficiência global do processo de eliminação varia de acordo com o

tipo de organismo (bactéria, vírus e parasitas) e está fortemente relacionada

com o tempo de passagem da água através do filtro, a existência de caminhos

preferenciais, a eficiência de oxidação da matéria orgânica e a forma e

homogeneidade da distribuição do efluente na superfície do filtro (LEFEVRE

1988; SCHMITT, 1989; SALGOT e OUTROS, 1996; SÉLAS, 2002).

Schmitt (1989) apresentou uma equação para previsão da remoção

de coliformes em filtros.

Onde tm é o tempo médio de detenção hidráulica, L a profundidade,

θ o teor de umidade, e H a carga hidráulica. O autor informa que esses

coeficientes foram obtidos a partir do processamento estatístico de mais de 340

dados de laboratório e em escala piloto. É uma expressão aproximada para o

cálculo das potencialidades de desinfecção de sistemas de infiltração

adequadamente operados, em que a aplicação do efluente sobre a superfície

do leito é razoavelmente uniforme. Essa equação não leva em conta o efeito do

fracionamento da carga hidráulica, fato constatado por diversos autores.

Lefevre (1988) aplicou uma carga hidráulica de 0,50 m em uma única dose e

obteve na profundidade de 1,50 m uma redução de coliformes fecais de 2

uLog. A mesma carga fracionada em 12 doses diárias resultou numa redução

de 3,5 a 4 uLog. Um aspecto importante na remoção de coliformes fecais

citado pelo autor é a manutenção das condições aeróbias no leito. Ele

observou que, com a colmatação da superfície e o esgotamento do estoque de

oxigênio no leito, a qualidade bacteriológica do efluente se degrada. Num

experimento posterior em que o leito foi ventilado artificialmente, observou-se a

1,1t48,0fc m +=∆

HLtmθ

= Equação 34

Equação 33

75

redução progressiva do número de coliformes no efluente do filtro logo após o

início da operação até atingir menos de 103 CF/100ml. O fechamento do

sistema de ventilação é acompanhado de uma drástica queda na qualidade

bacteriológica do efluente. Logo após a reabertura do sistema, constata-se a

recuperação da qualidade aos níveis de 103 CF/100ml. A repetição do ciclo,

acompanhada pela medição dos níveis de oxigênio, mostrou uma clara

correlação entre a concentração de O2 e a densidade de organismos no

efluente do filtro.

Salgot e outros (1996) estudaram o desempenho de um sistema de

filtração intermitente com espessura de 1,5m e areia de duna (não há

informação sobre o tamanho efetivo) alimentado com efluente secundário

através de um pivô central com um tempo de 70 minutos para uma volta

completa (F=20 d-1). Os resultados obtidos para as diversas profundidades e

cargas variando de 0,165 a 0,33 m/dia são apresentados no gráfico da Figura

19.

Figura 19: Eliminação de coliformes termotolerantes a diferentes profundidades e cargas hidráulicas

Fonte: SALGOT et al.,1996

Emerick e outros (1997) num arranjo experimental, em que variaram

a carga hidráulica, o tamanho efetivo (TE) e o coeficiente de uniformidade

(CU), com freqüência de aplicação de 24 d-1, encontraram os resultados

mostrados na

76

Figura 20, para remoção de coliforme total e colífago, para TE= 0,65

mm e CU=3,8. Não foi observada uma diferença significativa entre CU de 5,0 e

3,8. Também não se observaram diferenças significativas entre os TE de 0,65

e 3,3 mm submetidos à carga de 0,163 m/dia.

Figura 20: Remoção de microrganismo em função da carga hidráulica

Fonte: EMERICK, 1997

J. L. van Buuren e outros (1999) afirmam que remoções maiores de

coniformes fecais são obtidas com areias com TE<0,2 mm e CU entre 1,5 e 3.

Entretanto consideram que tais características conduzem a uma oxigenação

deficiente e à colmatação e recomendam o uso de TE de 0,5 a 1,0 mm.

Informam ainda que a eliminação de coliformes aumenta sob condições

aeróbias, com o aumento da temperatura e com a redução do pH.

Na maioria dos casos relatados, o aumento da eficiência está

relacionado com o tempo de permanência do efluente no leito, com a

uniformidade da aplicação sobre o mesmo e o fracionamento da carga

hidráulica diária.

Considera-se que existem duas maneiras de se obter altos níveis de

remoção usando filtros intermitentes (SCHMITT, 1989; BRISSAUD, 1999 e

STEVIK, 1999). O primeiro deles consiste em aumentar a profundidade do leito

ou reduzir a carga hidráulica aplicada, o que é uma solução que conduz a uma

Coliforme TotalColifaços

3.5

3.0

2.5

2.0

1.5

1.0

0.5

0.00 . 0 0 0 . 0 5 0 . 1 0 0 . 1 5 0 . 2

Rem

oção

(und

log)

Taxa de aplicação hidráulica, m/d

Nota: Frequencia da dosagem 24 L/dia

77

elevação do custo de investimento do sistema. O segundo método é mais

barato e baseia-se na implementação de uma melhor distribuição do efluente

sobre a superfície do filtro (SALGOT e OUTROS, 1996). Os resultados

(apresentados na Figura 19) obtidos por Salgot e outros (1996) em um

experimento em escala real confirmam as premissas adotadas por outros

pesquisadores.

Brissaud (1999) num trabalho que incluiu experimentos em escala

de laboratório e em escala real, apresenta a equação 36 abaixo para

representar o transporte de bactérias em um meio poroso saturado, baseado

no modelo de Yao e outros (1971):

Onde, C é a concentração de bactéria, D é o coeficiente de

dispersão para bactéria, u a velocidade da água através do poro, Ka coeficiente

da taxa de adsorção e Rd a taxa de dessorção da bactéria da fase estacionária.

Considerando todas as partículas de areia do meio filtrante como um coletor,

Ka pode ser expresso conforme a equação a seguir:

Onde θ é o conteúdo de água, η a eficiência de um coletor, z a

profundidade no filtro e dp o diâmetro da partícula. A eficiência de um simples

coletor é o resultado da soma de três fatores: difusão molecular, interceptação

e forças de Van der Waals e sedimentação (YAO e OUTROS, 1971).

Pressupondo a existência de condições estacionárias, com uma

concentração de bactéria Co constante na entrada do filtro, e negligenciando-se

o efeito da dispersão, a concentração na profundidade z pode ser escrita como:

da2

2

RCKzCu

zCD

tC

+−∂∂

−∂∂

=∂∂

pa d

zu)1(5,1K ηθ−= Equação 36

Equação 35

78

Conforme a equação acima, a remoção de bactérias é proporcional

à profundidade z, o que está de acordo com outros experimentos (LANCE,

1980 apud BRISSAUD, 1999). Além disso, assumindo η proporcional a u-1, ∆fc

em um leito de areia resulta proporcional ao tempo de detenção da água no

leito, ou tempo médio de passagem.

Onde a dessorção é representada por um coeficiente de fixação α, o

qual pode ser considerado como a relação entre o número de bactérias

definitivamente fixadas à fase estacionária e o número de contatos entre as

bactérias em suspensão e a fase estacionária. Então, a remoção de bactérias,

∆fc, em condições estacionárias é dada pela equação:

Equação 38

A filtração intermitente a altas taxas não admite negligenciar o efeito

da dispersão. Assim, continuando a descrever o trabalho de Brissaud, este

autor propõe que ∆fc seja calculado a partir da distribuição do tempo de

detenção hidráulica, o que pode ser obtido por métodos numéricos ou através

de estudos com traçadores, assumindo-se uma relação linear entre a remoção

de coliformes, em unidades logarítmicas, e o tempo de detenção:

A diferença entre essa equação e a anterior é a adição da constante

b, a qual considera a retenção mecânica na superfície do leito. Ainda conforme

o autor, o cálculo do valor de ∆fc não pode ser feito de forma segura se o valor

da eficiência de fixação, α, não for constante. Aplicando-se o modelo

desenvolvido aos dados de laboratório e de campo, foram encontrados os

seguintes valores para os coeficientes:

).K(

o

aeCC α−=

batfc +=∆

Equação 40

Equação 39

Equação 37

p

o

dz)1(65,0)

CC

log(fc αηθ−==∆

0,1t2,0fc +=∆

79

5.METODOLOGIA

5.1.APARATO EXPERIMENTAL Para atender o objetivo de avaliar o desempenho do FILA tratando

efluente de um UASB (Up-flow Anaerobic Sludge Blanket), foi construída uma

unidade de tratamento de esgotos piloto em tubos de PVC para esgoto público

com diâmetro na câmara de digestão de 30 cm e de 40 cm na câmara de

sedimentação. A altura da primeira foi de 2,0 m e da segunda de 1,5 m, sendo

1,0 de altura útil, Figura 21. Visando ao acompanhamento em outras

pesquisas, foram previstos três pontos para descarga de lodo em alturas de 50,

100 e 150 cm a partir do fundo, o que possibilitaria o acompanhamento da

concentração de sólidos, assim como o teor de voláteis para tais alturas. O

volume total resultou em 267 litros.

Figura 21: UASB

Entrada do esgoto bruto

Saída do efluente

Amostradores de lodo

Separador trifásico

Entrada do esgoto bruto

Saída do efluente

Amostradores de lodo

Amostradores de lodo

Separador trifásico

80

O UASB foi alimentado com o esgoto bruto proveniente da Escola

Politécnica da UFBA, coletado junto à chegada no poço de decantação

primária que antecede a unidade de tratamento em biodiscos (ver Figura 22).

Nesse ponto, foi instalada uma bomba que fazia o recalque de uma vazão

constante para alimentar o reator UASB. Para controlar a vazão bombeada, foi

instalada uma derivação na linha de recalque que retornava parte da vazão

bombeada para o poço, com o controle efetuado através de registro.

Figura 22: Chegada do esgoto bruto

Esse arranjo não se mostrou efetivo, pois possibilitava picos de vazão que

comprometiam o funcionamento do UASB com o arraste de grandes

quantidades de sólidos, sendo então introduzida uma caixa de divisão de vazão

antes do UASB (ver Figura 23).

Figura 23: Caixa de Divisão de Vazão - CDV

Dreno

Água6

Cuba de Decantação

Rotores

16 Estação RBC Reduto

10 5 Motor

15 Extravasor

Recirculação de Lodo

Caixa de

Sedimentação

3

7

4

8

9

81

Nessa caixa, dividida em dois compartimentos, foram abertas duas soleiras

vertentes com comprimentos de 2,0 e 30,0 cm, descarregando,

respectivamente, para o UASB e para uma linha de retorno. A vazão de

alimentação foi regulada em 70 l/h. Nessas condições, o reator funcionou com

uma velocidade ascensional de cerca de 1,0 m/h. O tempo de detenção

hidráulica foi em torno de 3,8 horas.

O efluente do UASB era encaminhado para um tanque de 300 l

dotado de extravasor. De uma tubulação na parte inferior, saía a alimentação

do barrilete de 40 mm de diâmetro, a partir do qual se bombeava o esgoto para

os filtros (ver Figura 24).

Figura 24: Alimentação dos FILAs

Foram utilizadas bombas da marca Invensys BAV1 100-01U, uma

para cada filtro (ver detalhe da bomba na Figura 24). O funcionamento dessas

bombas era controlado por um programador lógico controlável - PLC,

Telemecanique SR1 A101FU, programado para atender o protocolo

experimental estabelecido.

Foram construídos nove filtros em tubos de PVC para esgoto, com

diâmetro de 300 mm. Uma camada filtrante de areia com espessura de 60,0 cm

foi colocada sobre uma camada drenante com a espessura de 15,0 cm

composta por seixos. Esta camada estava dividida em três subcamadas de 5,0

cm cujos constituintes tinham tamanhos efetivos de 1,6, 2,4 e 6,6 mm,

considerando-as do topo para a base. A aplicação da água a ser tratada na

superfície do filtro era feita através de um tubo de 25 mm e sua distribuição,

através de um recipiente de 100 mm de diâmetro dotado de 8 orifícios de 3 mm

Chegada efl. UASB Extravasor

Alimentador dos filtros

Bombas de alimentação dos FILAs

82

em linha a uma altura de 50 mm, visando-se uma melhor utilização de toda a

superfície do filtro. A descarga do efluente era feita através de tubo de 40 mm,

conforme mostra a

Figura 25.

Figura 25: Detalhes do FILA

5.2.O MEIO FILTRANTE Foram utilizadas areias de filtro de água provenientes, segundo o

fornecedor, do Rio Paraguaçu. A Figura 26 mostra as curvas granulométricas

obtidas, a partir das quais se pode constatar que as amostras possuem

granulometrias selecionadas e valores de coeficiente de uniformidade próximos

à unidade.

A Tabela 4 apresenta um resumo dos resultados obtidos dos

ensaios de granulometria, densidades máxima e mínima, peso específico das

D10=1,2mm D10=1,6mm D10=2,4mm D10=6,6mm

Legenda

Distribuição do esgoto afluente

Saída do filtrado

83

partículas sólidas e condutividade hidráulica do solo saturado. Não foi

detectada, para nenhuma das amostras, a presença de argila ou pedregulho. A

classificação textural do solo ensaiado foi obtida adotando-se a escala da

ABNT, apresentada na norma NBR 6502/95 - Rochas e solos, a qual adota as

seguintes definições: Pedregulho: diâmetro acima de 2,0 mm; Areia grossa: 2,0

- 0,60 mm; média: 0,60 - 0,20 mm; fina: 0,20 - 0,060 mm; Silte: 0,060 - 0,002

mm e argila: menor que 0,002 mm.

Conforme se pode observar, apenas a amostra 04, de granulometria

mais reduzida, apresentou uma condutividade hidráulica saturada na casa de

10-3 cm/s. Todas as outras amostras apresentaram granulometrias em torno de

3,2 x 10-2 cm/s.

Os valores de densidade média específica dos grãos do solo

variaram em torno de 2,65 g/cm3, que é o valor da densidade do quartzo,

mineral constituinte da maior parte das amostras ensaiadas. Novamente, a não

ser para o caso da amostra 4, as densidades secas, máxima e mínima obtidas

para o solo se apresentaram bastante próximas. Devido ao caráter uniforme da

curva granulométrica, o valor do índice de vazios mínimo obtido para as

amostras ficou em torno de 0,70, considerado bastante elevado. Isto se refletiu

tanto nos valores das condutividades hidráulicas saturadas quanto nas curvas

característica de sucção e de condutividade hidráulica.

Figura 26: Curva granulométrica das AMOSTRAS 01, 02, 03, 04 e 05

0,01 0,1 1 100

20

40

60

80

100

AMOSTRA 1AMOSTRA 2AMOSTRA 3AMOSTRA 4AMOSTRA 5

D iâmetro (mm)

Per

cent

agem

que

pas

sa

84

Tabela 4: Resumo dos resultados dos ensaios de caracterização realizados

Das amostras ensaiadas, foram selecionadas para utilização como

meio filtrante as de número 2, 3 e 5, com d10, respectivamente de 0,5, 0,7 e 1,2

mm. Os nove filtros foram arranjados em 3 conjuntos de três unidades, com

leitos filtrantes constituídos por areias com tamanhos efetivos de 0,5, 0,7 e 1,2

mm, coeficientes de uniformidade menor ou igual a 2 e espessura de 60,0 cm

(ver

Figura 25). O conjunto do aparato experimental pode ser visto de

forma esquemática na Figura 27.

Figura 27: Conjunto do aparato experimental

Pedregulho A.G A.M A.F Silte Argila g/cm³ Max. Min.Amostra 1 - 99 1 - - - 2,65 1,53 1,198 3,3E-02Amostra 2 - 96 4 - - - 2,66 1,531 1,24 3,0E-02Amostra 3 - 84 14 2 - - 2,65 1,51 1,259 3,2E-02Amostra 4 - - 69 25 6 - 2,66 1,681 1,314 4,6E-03Amostra 5 - 100 - - - 2,66 1,533 1,267 3,7E-02

Indent. das Amostras Ko

Ensaio de Densidades (g/cm3)

Densidade Esp., rsEnsaio de Granulometria

Bomba

CDV UASB

Filtro

Efluente UASB

Bomba

Tanque

85

5.3.O PROTOCOLO EXPERIMENTAL Os nove filtros foram agrupados em três conjuntos de três filtros. Em

um mesmo conjunto, cada filtro foi preenchido com um leito filtrante com um

tamanho efetivo: F1, 0,5 mm; F2, 0,7 mm; F3, 1,2 mm. Todos os filtros foram

carregados intermitentemente com o efluente do UASB, de maneira que todos

receberam a mesma carga de 60 cm/dia. Essa carga foi aplicada em um

número de doses que variou segundo o conjunto: Conjunto 1, 24 doses por dia;

Conjunto 2, 48 doses por dia; Conjunto 3, 96 doses por dia. Dessa forma, cada

um dos três tamanhos efetivos foi avaliado com uma freqüência de aplicação,

resultando em nove combinações. O protocolo experimental está resumido na

Tabela 5.

Tabela 5: Protocolo experimental

As bombas de alimentação dos filtros, apesar de serem do mesmo

modelo, apresentaram vazões ligeiramente diferentes, o que foi corrigido com

uma regulagem na abertura do registro de entrada em cada filtro.

Considerando a carga hidráulica aplicada, 60,0 cm/dia (=600,0 l/m2.dia), e a

área do filtro, 0,07 m2, o volume diário a ser aplicado foi de 42 l. A dose foi

controlada pela duração, resultando nos valores apresentados na Tabela 6.

Tabela 6: Tempos de aplicação

5.4.CARACTERÍSTICAS DO EFLUENTE APLICADO O efluente aplicado nos filtros foi o esgoto bruto proveniente da

Escola Politécnica da UFBA, após passar por tratamento em UASB piloto.

Conjunto 1 Conjunto 2 Conjunto 3Frequência d-1 24 48 96Tempo de aplicação 28 14 7Volume diário total 42 l 42 l 42 l

FI - 1 FI - 2 FI - 3 FI - 4 FI - 5 FI - 6 FI - 7 FI - 8 FI - 9TE 0,5 0,7 1,2 0,5 0,7 1,2 0,5 0,7 1,2

F (doses.d-1) 24 24 24 48 48 48 96 96 96

CONJUNTO 1 CONJUNTO 2 CONJUNTO 3

86

Para a realização deste trabalho experimental, as características do

esgoto bruto, assim como as do efluente do UASB, foram monitoradas. A

Tabela 7 mostra os valores encontrados.

Tabela 7: Características do efluente do UASB

5.5.OPERAÇÃO E AMOSTRAGEM DOS FILTROS Concluída a montagem dos reatores e o ajuste das vazões de

alimentação dos filtros, procedeu-se ao início da operação do UASB, adotando-

se o procedimento descrito a seguir.

O UASB foi semeado com 15 litros de lodo proveniente de um reator

maduro, com vistas à aceleração do processo. Após a semeadura, o reator

permaneceu em descanso por um período de 3 dias, a partir do qual começou

a receber esgoto bruto coletado na caixa de reunião. Após 21 dias do início da

operação do UASB, iniciou-se a partida dos filtros, que seguiu o seguinte

procedimento: o tanque de alimentação foi completamente drenado e

completado com água limpa, sendo então iniciada a alimentação com o

efluente do UASB. Esse procedimento visou à partida da operação dos filtros

com efluente diluído, favorecendo uma aclimatação gradual ao efluente. Os

filtros receberam então, cada um, 20 litros do efluente de um biodisco, com o

objetivo de prover a semente de bactérias aeróbias para o início de colonização

do meio filtrante. A alimentação foi iniciada após 24 horas.

Parâmetron Média sD n Média sD

Condutividade 4 2143,8 866,6 4 2181,8 811,3Cor 4 2612,5 3688,4 4 215,0 75,5DBO 4 214,6 293,3 4 68,8 31,8DQO 5 1027,0 878,5 5 212,4 60,1Fósforo Total 5 21,0 8,3 5 16,3 3,0Amonia 5 141,3 50,6 5 140,8 44,2Nitrato 5 3,6 3,8 5 3,2 4,2NTK 3 167,7 88,1 3 177,7 85,1K 4 50,0 18,2 4 52,5 16,3Na 4 97,5 19,4 4 100,0 17,8Sol. Susp. 4 1064,0 1086,1 4 69,3 31,6Turbidez 4 637,8 412,6 4 254,3 405,2Mg 3 15,5 2,1 3 16,8 1,2Ca 3 49,8 11,0 3 50,2 12,5Todas as unidades em mg/l, exceto Condutividade mmho/cm

Esgoto bruto Efluente do UASB

87

Os filtros foram operados de forma regular entre os dias 24/11/04 a

19/01/05. Três fases distintas ficaram caracterizadas nesse período. Na

primeira, o filtro operou de forma normal, sem colmatação, entre os dias

24/11/04 e 22/12/04, quando um acidente no funcionamento do UASB liberou

uma grande quantidade de sólidos que atingiram a superfície dos filtros. Na

segunda fase, do dia 22/12/04 ao dia 11/01/05, os filtros foram operados com a

superfície colmatada. Na terceira, foi feita uma remoção de uma camada de

cerca de 5,0 cm dos filtros, que permaneceram em operação até o dia

19/01/05. Um novo acidente com o UASB no dia 22/01/05 interrompeu o

experimento.

Foram coletadas amostras durante todas as fases do experimento,

conforme a Tabela 8. As amostras eram coletadas durante um ciclo completo,

de modo que os resultados refletem a condição média dos efluentes à saída

dos filtros. Foram analisados os seguintes parâmetros nas amostras coletadas:

Tabela 8: Parâmetros analisados

5.6.ASPECTOS HIDRÁULICOS Foi feita, antes do início da operação, a medição do hidrograma na

saída de cada filtro, de modo a possibilitar o cálculo do tempo médio de

passagem.

Parâmetro Nº de análisesAmônia 5 SMEWW 417-BCálcio 4 SMEWW 3500-Ca DCondutividade 4 SMEWW 2510-BCor 5 SMEWW 2121-BColif. Term. 9DBO 4 SMEWW 5210-BDQO 6 SMEWW 5220-BFósforo Total 5 SMEWW 4500-DMagnésio 4 SMEWW 3500-Mg EN. Nitrato 5 Kit/Hach met 8039Nitrogênio Total 3 Kit/Hach met 10072Potássio 4 SMEWW 3500-BSódio 4 SMEWW 3500-BSólidos Suspensão 6 SMEWW 2540-DTurbidez 5 SMEWW 2130-B

Método de Análise

Técnica da Memb. Filtrante

88

5.7.COLMATAÇÃO Em uma etapa posterior, com os filtros alimentados com o efluente

de um filtro anaeróbio, o efeito da colmatação foi acompanhado por meio de

fotografias da superfície dos leitos.

89

6.RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1.ASPECTOS HIDRÁULICOS Visando definir de forma aproximada os tempos de passagem, um

parâmetro importante para os mecanismos físicos e biológicos envolvidos na

eliminação da carga orgânica e de microrganismos, foi levantado o hidrograma

de saída de cada um dos filtros, cujos resultados podem ser observados no

gráfico da Figura 28.

Figura 28: Hidrogramas de saída

Hidrograma Conjunto 1

0,000

0,050

0,100

0,150

0,200

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57

Tempo (min)

Vazã

o (L

/min

)

FI-1/24

FI-2/24

FI-3/24

Hidrograma Conjunto 2

0,000

0,050

0,100

0,150

0,200

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57

Tempoo (min)

Vazã

o (L

/min

)

FI-1/48

FI-2/48

FI-3/48

Hidrograma Conjunto 3

0,000

0,050

0,100

0,150

0,200

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56

Tempo (min)

Vazã

o (L

/min

)

FI-1/96FI-2/96FI-3/96

90

O tempo médio de passagem – TMP, que corresponde ao centro de

gravidade da área sob cada curva – foi calculado para cada um dos filtros no

intervalo de uma hora, período em que a lâmina de água aplicada fica igual

para todos os filtros. Observa-se que os hidrogramas para os tamanhos

efetivos de 0,5 e 0,7 mm são sempre muito próximos, refletindo a proximidade

dos TEs. Os resultados podem ser observados na Tabela 9.

Tabela 9: Tempo Médio de Passagem, minuto

Pode-se notar que os TMP crescem com o aumento da freqüência de aplicação

(maior fracionamento da carga diária) e com a redução do TE dos grãos do

leito filtrante.

6.2.SÓLIDOS SUSPENSOS O efluente aplicado aos FILAs apresentou concentração média de

sólidos suspensos de 69,3 mgSS/l, valor típico de efluentes de UASB,

resultando em uma carga de 41,6 g/m2.dia. Essa carga pode ser considerada

elevada quando comparada à que Cowan (1980) recomenda, de 13,0 g/m2.dia.

Nessas condições, observou-se uma remoção quase total dos sólidos no

efluente de todos os filtros, com valores abaixo de 5,0 mgSS/l, exceto nos dos

filtros 2/24 e 3/24, com menor freqüência de aplicação (24 d-1) e tamanho

efetivo de 0,7 e 1,2 mm respectivamente, como mostra o gráfico da Figura 29.

A Tabela 10 mostra a comparação das médias para uma

significância de 95%. As médias seguidas, representadas com letras

minúsculas iguais nas colunas e com letras maiúsculas nas linhas, não diferem

entre si pelo teste de t a 5% de probabilidade.

0,5 0,7 1,224 23,1 23,3 14,848 32,6 32,1 27,796 30,6 30,8 30,5

TE (mm)Frequencia (d-1)

91

Tabela 10: Comparação das médias de concentração de SS

O conjunto de gráficos temporais apresentados na Figura 30, mostra

uma elevação das concentrações de SS na fase em que os filtros operaram

com uma camada de sólidos na superfície. Apesar disso, houve uma remoção

consistente de SS com todos os resultados abaixo de 20,0 mg/l, exceto em

uma amostra do FI 3/24, maior TE (1,2 mm) e menor F (24 d-1).

0,5 0,7 1,224 1,6aA 6,0abA 13,6bA

48 2,0aA 4,0aA 3,2aB96 3,8aA 4,0aA 3,2aAB

SSF (d-1) TE (mm)

92

Figura 29: Box Plot Variação de SS com TE e F

0

20

40

60

80

100

120

Efl.UASB 2/24 2/48 2/96

mgS

S/l

0

20

40

60

80

100

120

Efl.UASB 1/24 1/48 1/96

mgS

S/l

0

20

40

60

80

100

120

Efl.UASB 3/24 3/48 3/96

mgS

S/l

0

20

40

60

80

100

120

Efl.UASB 1/48 2/48 3/48

mgS

S/l

0

20

40

60

80

100

120

Efl.UASB 1/96 2/96 3/96

mgS

S/l

0

20

40

60

80

100

120

Efl.UASB 1/24 2/24 3/24

mgS

S/l

TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2

F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1

F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1

TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2

F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1 F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1

TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2 TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2

93

Figura 30: Variação temporal de SS

0

20

40

60

80

100

120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgS

S/l

Efl.UASB 1/48

0

20

40

60

80

100

120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgS

S/l

Efl.UASB 2/48

0

20

40

60

80

100

120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgS

S/l

Efl.UASB 3/48

0

20

40

60

80

100

120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgS

S/l

Efl.UASB 1/96

0

20

40

60

80

100

120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgS

S/l

Efl.UASB 2/96

0

20

40

60

80

100

120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgS

S/l

Efl.UASB 3/96

0

20

40

60

80

100

120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgS

S/l

Efl.UASB 3/24

0

20

40

60

80

100

120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgS

S/l

Efl.UASB 1/24

0

20

40

60

80

100

120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgS

S/l

Efl.UASB 2/24

F 24 d-1

F 48d-1

F 96d-1

94

A remoção quase total dos sólidos no efluente de todos os filtros

refletiu-se na baixa turbidez desses efluentes que apresentaram valores

médios abaixo de 5,0 NTU – exceto, outra vez, os dos filtros 2/24 e 3/24 (ver

Figura 29) –, conferindo-lhes um excelente aspecto para reúsos urbanos em

que aspectos estéticos são relevantes. A presença de sólidos suspensos além

de um dado limite pode provocar entupimentos nos bicos de aspersão em

projetos de reúso agrícola. A Organização Mundial da Saúde recomenda um

limite de 30,0 mg SS/l para reúso em irrigação e em recarga de aqüífero. Essa

característica é muito importante também para o uso desses efluentes em

hidroponia, em que a eliminação de sólidos é fundamental para evitar sua

retenção nas raízes e, consequentemente, sua decomposição anaeróbia, que

seria danosa ao desenvolvimento das plantas (ANDRADE NETO e OUTROS,

2005).

Embora a Resolução nº. 357/2005 do CONAMA não estabeleça

limites para concentrações de SS, o faz para turbidez, que é um parâmetro

muito associado à presença de sólidos suspensos, conforme mostrado na

Tabela 11.

Tabela 11: Limites de turbidez na Resolução nº. 357/2005

A turbidez é uma medida alternativa da qualidade de efluentes

tratados e de águas naturais, com relação à matéria coloidal e em suspensão.

Para efluentes tratados, existe uma razoável relação entre o teor de sólidos

suspensos totais, SST, e a turbidez (CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998).

TfSST .=

Onde f é um fator que varia de 2,0 a 2,7. Para os dados obtidos,

entretanto, o valor desse fator ficou em torno de 1,10 para o efluente dos filtros.

Observa-se que os efluentes de todos os filtros apresentaram valores de

turbidez inferiores a 10,0 UNT, muito aquém, portanto, do limite mais restritivo

estabelecido na legislação ambiental.

Utilizando-se a Equação 1, proposta por Herzig e outros (1970),

apud Schmitt (1989), que estabelece a relação entre o volume retido e o

Classe 1 2 3 4Turbidez (UNT) 40 100 100 na

Equação 41

95

volume total do leito, e adotando-se os valores indicados abaixo para os

principais parâmetros da equação, obtêm-se os valores de σ em função do

tamanho das partículas a serem removidas, conforme mostra o gráfico da

Figura 31.

Porosidade de 15 a 35%

Número de coordenação de 2 a 10

Diâmetro médio da areia de 0,5 a 1,2 mm

Figura 31: Relação entre volume retido por filtração e volume do leito, σ

Corapcioglu e Haridas (1984) adotam para σ o valor de 1% como

discriminante da importância da retenção por filtração. Obter valores de σ

menores que 1% permitiria afirmar que esse fenômeno é desprezível. Observa-

se na Figura 31 que o tamanho das partículas para σ maior que 1%, nas

condições experimentadas, varia de 45 a 65 µm. Considerando-se a

distribuição do tamanho de partículas em efluente de UASB conforme Alves e

outros (2003) e admitindo-se os resultados obtidos por eles como

representativos, pode-se concluir que o mecanismo de filtração tem

importância na eliminação da matéria em suspensão de efluente de UASB em

0,00%

0,00%

0,00%

0,01%

0,10%

1,00%

10,00%

100,00%

1000,00%

10000,00%

1 10 100 1000

Tamanho da partícula (mm)

s % Limite inferior

Limite superior

96

FILAs, uma vez que, segundo esses autores, 34% dos sólidos em suspensão

no efluente do UASB têm tamanho superior a 50 µm.

Entretanto, deve-se salientar que, a remoção de sólidos suspensos

em FILAs, no nível em que se observou, deve-se, também, aos mecanismos de

interceptação, sedimentação e adsorção.

6.3.CÁTIONS E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA Os metais solúveis são removidos em proporções desprezíveis nos

filtros, podendo-se afirmar até que essa remoção é nula, que ocorre, de resto,

em processos biológicos. Entretanto, realizou-se o monitoramento desses

metais devido à importância que eles têm para o reúso de água, principalmente

aquele destinado à produção agrícola. Os resultados são apresentados na

Tabela 12.

Tabela 12: Concentrações de cátions no sistema (mg/l)

O sódio tem importância na definição da qualidade da água para

irrigação, uma vez que causa um impacto negativo na permeabilidade do solo

quando a Razão de Adsorção de Sódio (RAS), expressa pela Equação 42 a

seguir, é alta:

[ ][ ] [ ]

2MgCa

NaRAS+

=

Onde,

RAS = razão de absorção de sódio

[Na] = concentração de sódio, meq/l

[Ca] = concentração de cálcio, meq/l

Equação 42

n médiadesvio padrão n média

desvio padrão n média

desvio padrão

1-Esg.Bruto 4 97,5 19,4 3 49,8 11,0 3 15,5 2,12-Efl.UASB 4 100,0 17,8 3 50,2 12,5 3 16,8 1,2

1/24 4 98,5 14,9 3 46,5 15,4 3 19,3 2,32/24 4 98,3 14,7 3 41,5 11,8 3 18,8 2,23/24 4 98,0 14,3 3 36,5 14,2 3 19,4 1,61/48 4 98,3 14,2 3 45,8 7,8 3 18,3 4,22/48 4 97,8 15,5 3 47,5 11,8 3 23,2 0,33/48 4 98,3 14,9 3 53,2 29,9 3 22,7 4,31/96 4 97,0 14,3 3 39,8 16,6 3 21,3 3,42/96 4 98,5 14,5 3 48,5 18,5 3 22,3 4,63/96 4 98,8 14,1 3 47,2 22,2 3 21,2 4,3

SÓDIO CÁLCIO MAGNÉSIO

97

[Mg] = concentração de magnésio, meq/l

Tabela 13: Estimativa de SDT em função de CE

Um valor da RAS menor ou igual a 10 é aceitável para solos com

mais de 15% de argila. Solos com teores menores de argila podem tolerar uma

RAS de até 20, particularmente se a concentração de os sólidos dissolvidos

totais SDT for maior ou igual a 800 mg/l.

A Tabela 14 mostra as diretrizes para avaliação da qualidade da

água de irrigação segundo o critério de RAS associado ao de condutividade

elétrica.

Tabela 14: Restrição de uso para água de irrigação

Fonte: MARQUES, 2003

Na Tabela 15, são apresentados os valores de RAS para os

efluentes dos FILAs. Pode-se observar que, em todos os tratamentos, os

valores se mantiveram em torno de 3,0. Tabela 15: Razão de adsorção de sódio

A condutividade elétrica da água – CE é uma medida da capacidade

da solução conduzir uma corrente elétrica. Uma vez que essa condução se dá

por meio dos íons na solução, a CE aumenta com o aumento da concentração

de íons. Com efeito, o valor da CE é usado para estimar a concentração de

sólidos dissolvidos totais (SDT). Este é um dos parâmetros mais importantes

na definição da adequabilidade da água para uso em irrigação.

Nenhuma Moderada SeveraRAS0-3 >0,7 0,7-0,2 <0,23-6 >1,2 1,2-0,3 <0,3

6-12 >1,9 1,9-0,5 <0,512-20 >2,9 2,9-1,3 <1,320-40 >5,0 5,0-2,9 <2,9

CE

1-Esg.Bruto 2-Efl.UASB 1/24 2/24 3/24 1/48 2/48 3/48 1/96 2/96 3/963,1 3,1 3,1 3,2 3,3 3,1 2,9 2,8 3,1 2,9 3,0

1-Esg. Bruto 2-Efl. UASB 1/24 2/24 3/24 1/48 2/48 3/48 1/96 2/96 3/96 CE (dS/m) 2,1 2,2 1,6 1,6 1,6 1,6 1,5 1,6 1,5 1,6 1,6SDT (mg/l), máx 1500,6 1527,2 1104,8 1125,1 1138,0 1122,6 1076,8 1154,1 1064,2 1121,1 1142,2SDT (mg/l), mín 1179,1 1200,0 868,0 884,0 894,2 882,1 846,0 906,8 836,1 880,8 897,5

98

)700550()/()/( −×= mdSCElmgSDT

A título de ilustração, apresentam-se a seguir os valores de CE para

algumas culturas, com os quais não haveria redução da produção.

Tabela 16: Valores de CE para algumas culturas, sem perda de produção

Fonte: PETTYGROVE e ASANO, 1990.

Como se pode observar na Tabela 15, a RAS nos diversos

tratamentos se manteve em torno de 3,0. Esse fator associado ao valor de 1,5

dS/m para a condutividade elétrica, conduziria a um enquadramento do

efluente dos FILAs para o uso em irrigação sem nenhuma restrição. Todavia é

preciso ressaltar que a presença de íons decorre, principalmente, da qualidade

do manancial da água utilizada e que os valores exigidos para a RAS podem

ser diferentes, mais restritivos, dependendo dessa qualidade.

6.4.SUBSTÂNCIAS OXIDÁVEIS A demanda total de oxigênio, DTO, aplicada nos FILAs, resultado da

soma das demandas carbonácea e nitrogenada (ver Equação 7), foi de 881,0

mg/l, sendo 69,0 mgO2/l relativa à carbonácea e 812,0 mgO2/l à nitrogenada.

Considerando-se a carga hidráulica aplicada, a carga superficial de DTO foi,

em média, de 528,0 g/m2.dia; muito superior à recomendada pela EPA (2000),

que é de 10 g/m².dia; por Van Buuren e outros (1999), que é de 55,0 g/m2.dia e

por Bancolé (2001), que é de 110,0 a 285,0 g/m2.dia.

Os resultados obtidos, apresentados na Tabela 17, mostram uma

remoção de DBO5 de 79% a 91%, com eficiências de remoção mais elevadas e

melhores nas freqüências de aplicação maiores. Os resultados de eficiência de

remoção de DBO, quando incluem o UASB, variam de 93% a 97 %. Os

resultados apresentados na tabela, quando seguidos por letras iguais na

Cultura CE (dS/m )Gram a Bermuda 13Cana de açúcar 10A lgodão 10Aveia 7Soja 5Milho 5

Equação 43

99

mesma linha, não tiveram diferença significativa pelo teste de Tuckey. Assim,

não se observou, nas faixas de granulometria e freqüências estudadas, efeito

desses parâmetros na remoção da carga orgânica, exceto no TE de 1,2 mm

com f=24 d-1, para o qual o valor médio encontrado difere estatisticamente

daqueles obtidos para F= 48 d-1 e F= 96 d-1. Entretanto, como pode ser

observado na Figura 32, há uma tendência de melhores remoções para

maiores tempos de passagem. Todos os resultados médios de DBO5 estiveram

abaixo de 10,0 mgO2/l, exceto os filtros 2/24 e 3/24, que tiveram médias de

13,5 e 14,5 mg/l, respectivamente; ainda assim resultados muito baixos,

conforme pode se observar no gráfico da Figura 33.

Tabela 17:Resultados médios de DBO5

Figura 32: Tendência de DBO5 efluente x tempo de passagem

y = -0,4121x + 20,572R2 = 0,7086

0,0

2,0

4,0

6,0

8,0

10,0

12,0

14,0

16,0

10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0

Tempo (min)

DBO

5 (m

g/l)

0,5 0,7 1,210,0aA 13,5aA 14,5a

8,8aA 8,8aA 7,3aA7,5aA 7,5aA 6,3aA

DBOTE (mm)

24

4896

F (d-1)

100

Figura 33: Box Plot Variação da DBO com TE e F

0

20

40

60

80

100

120

Efl.UASB 1/24 1/48 1/96

mgO

2/l

0

20

40

60

80

100

120

Efl.UASB 2/24 2/48 2/96

mgO

2 /l

0

20

40

60

80

100

120

Efl.UASB 3/24 3/48 3/96

mgO

2 /l

0

20

40

60

80

100

120

Efl.UASB 1/24 2/24 3/24

mgO

2 /l

0

20

40

60

80

100

120

Efl.UASB 1/48 2/48 3/48

mgO

2 /l

0

20

40

60

80

100

120

Efl.UASB 1/96 2/96 3/96

mgO

2 /l

TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2

F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1

F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1

TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2 TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2 TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2

F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1 F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1

101

Figura 34: Variação temporal da DBO

020406080

100120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgO

2/l

Efl.UASB 2/24

020406080

100120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgO

2/l

Efl.UASB 1/24

020406080

100120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgO

2/l

Efl.UASB 3/24

020406080

100120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgO

2/l

Efl.UASB 1/48

020406080

100120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgO

2/lEfl.UASB 2/48

020406080

100120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgO

2/l

Efl.UASB 3/48

020406080

100120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgO

2/l

Efl.UASB 1/96

020406080

100120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgO

2/l

Efl.UASB 2/96

020406080

100120

30/11/04 12/12/04 24/12/04 5/1/05 17/1/05

mgO

2/l

Efl.UASB 3/96

F 24 d-1

F 48d-1

F 96d-1

102

Tais resultados qualificam esses efluentes para o atendimento às

legislações mais restritivas do Brasil, como nos casos de São Paulo e Minas

Gerais, Estados em que o limite imposto é de 60,0 mg/l. No plano internacional,

o efluente final atende aos padrões da agência ambiental americana, EPA, e da

diretiva da Comunidade Européia, que são, respectivamente, de 30,0 e 20,0

mg/l.

No que tange à demanda nitrogenada, observa-se uma elevada

diminuição das formas reduzidas do nitrogênio e o aumento de nitrato nos

efluentes dos filtros (ver Figura 35). Enquanto que no efluente do UASB a

presença de nitrogênio nas formas reduzidas e oxidadas foi de 98 e 2%,

respectivamente, na saída dos filtros essa proporção foi de 21 a 44% para as

formas reduzidas e de 79 a 56% para as formas oxidadas; sendo que os piores

resultados foram os do filtro 1/48 (Te= 0,5mm e f=48d-1) e os mais elevados, os

provenientes do filtro 2/48 (Te= 0,7 mm e f= 48d-1). Na média geral, a

proporção foi de 35 e 65%.

Figura 35: Oxidação da amônia

Tomando-se por base esses valores, a DTO removida variou do

mínimo de 514,3 ao máximo de 703,8 mg/l para os filtros 1/48 (Te= 0,5mm e

0,0

50,0

100,0

150,0

200,0

250,0

2-Efl.UASB 1/24 2/24 3/24 1/48 2/48 3/48 1/96 2/96 3/96

AmôniaNitrato

103

f=48d-1) e 2/48 (Te= 0,7 mm e f= 48d-1), respectivamente. Deve-se ressaltar a

elevada capacidade de oxidação total dos filtros, mesmo no caso do filtro 1/48,

que teve o resultado mais baixo.

É importante salientar aqui a característica atípica do efluente

utilizado, com uma concentração de nitrogênio total de 177,7 mg/l, quando o

valor normal em esgotos domésticos situa-se na faixa de 35,0 a 70,0 mg/l

(BASTOS, 2003). Isso se deve, provavelmente, a ausência de outras correntes

– presentes no esgoto doméstico típico – como água de chuveiro e de lavagem

de roupa, que diluem o teor de nitrogênio, e também à predominância da

presença de urina em relação a fezes (DULTRA, 2005). Sabe-se que a urina

contribui com mais de 90% do nitrogênio presente no esgoto doméstico

(HENZEN, 2001).

Como referência, um esgoto doméstico típico após tratamento em

UASB teria uma DTO da ordem de 300,0 mg/l, cerca de um terço da DTO do

efluente utilizado, o que, provavelmente, possibilitaria uma nitrificação mais

completa do que se observou neste experimento.

O expressivo grau de nitrificação do efluente indica a natureza

aeróbia do processo de digestão, sendo o aporte de oxigênio da ordem de

360,0 g/m2.dia para justificar a remoção da DTO. Diversos autores sugerem

que o fracionamento da carga hidráulica diária em um número maior de doses

favorece os mecanismos de convecção para aporte de oxigênio ao meio

filtrante, tendência também observada neste experimento. Entretanto, a

ausência de medições dos teores de gases na atmosfera do leito não permite

concluir a relevância maior entre os dois mecanismos apontados como

responsáveis pelo fornecimento de oxigênio para os processos biológicos:

convecção e difusão.

O efluente final, com baixa carga orgânica, pode ser utilizado para

diversas aplicações urbanas não potáveis, podendo, inclusive, ser armazenado

por longos períodos sem que se verifique a formação de odor (COHIM e

OUTROS, 2005), característica desejável para essas aplicações.

104

6.5.MICRORGANISMOS O efluente do UASB apresentou, durante a fase experimental,

densidade média de coliformes termotolerantes (C.TE.) de 5,9 uLog/100 ml,

com máximo de 6,5 e mínimo de 4,5 uLog.

A remoção de coliformes termotolerantes mostrou-se, em geral, ser

expressiva em FILAs, conforme evidencia a Tabela 18. Essa remoção é tanto

maior quanto maior é a freqüência de aplicação. O TE mostrou-se um fator

importante quando foi utilizada a freqüência de 24d-1. Para as freqüências de

48 e 96 d-1, o TE mostrou-se pouco relevante. O fracionamento da dose revela-

se mais importante para o TE de 1,2 mm. Nos filtros 1/48, 2/48, 1/96, 2/96 e

3/96, as concentrações médias residuais de coliformes termotolerantes ficaram

abaixo de 3 uLog/100ml (ver Figura 36).

Tabela 18: Resultados médios de C.TE. no efluente dos filtros

A média geral da densidade de C.TE. na saída dos filtros para uma

dada freqüência, independentemente do TE, mostrou uma tendência de valores

menores para as freqüências maiores, enquanto que, para um mesmo TE,

independentemente da freqüência, os valores foram menores para os menores

TEs, conforme pode se observar na Tabela 19.

Tabela 19: Densidades médias de C.TE. (uLog/100ml)

0,5 0,7 1,23,7aA 3,4aA 5,1

2,7aA 2,8aA 3,6a2,8aA 2,8aA 2,6a

C.TE.TE (mm)

24

4896

F (d-1)

24 48 960,5 3,7 2,7 2,80,7 3,4 2,8 2,61,2 5,1 3,6 2,6

Frequência (d-1)TE (mm)

105

Figura 36:Box Plot Variação da qualidade do efluente com TE e F

TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2

F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

Efl.UASB 1/24 1/48 1/96

u Lo

g/10

0ml

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

Efl.UASB 2/24 2/48 2/96

u Lo

g/10

0ml

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

Efl.UASB 3/24 3/48 3/96

u Lo

g/10

0ml

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

Efl.UASB 1/24 2/24 3/24

u Lo

g/10

0ml

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

Efl.UASB 1/48 2/48 3/48

u Lo

g/10

0ml

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

Efl.UASB 1/96 2/96 3/96

u Lo

g/10

0ml

F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1 F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1 F 24d-1 F 48d-1 F 96d-1

TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2 TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2 TE 0,5 TE 0,7 TE 1,2

106

Os resultados mostram que os filtros 1/48, 2/48, 1/96, 2/96 e 3/96

apresentaram efluente final com qualidade compatível com o padrão de

irrigação irrestrita da OMS e com a classificação de muito boa para

balneabilidade. O padrão de Classe 2 de corpo receptor da Resolução nº.

357/2005 do CONAMA também pode ser atendido por esses filtros.

Embora não tenha força de lei, a norma brasileira NBR nº. 13369

sugere a adoção de um padrão de 500 UFC/100ml como seguro para uso de

efluente tratado em descarga de vasos sanitários. Esse limite, quando

confrontado com o limite de 1000 UFC/100ml para águas balneares

satisfatórias, parece extremamente restritivo considerando-se o nível de

exposição a que se submete em uma e outra situação. Entretanto, os filtros

citados também teriam capacidade de atender a esse padrão.

A eficiência de remoção de bactérias está associada aos

mecanismos de interceptação e de adesão. Esses mecanismos são

favorecidos pelo escoamento em lâminas muito finas em que os

microrganismos passam muito mais próximos dos grãos que formam o leito

filtrante, favorecendo a adesão e posterior abatimento.

Um fator que parece estar ligado ao desempenho dos filtros no que

diz respeito à remoção de microrganismos é o tempo médio de passagem

(TMP), este também relacionado com a freqüência de aplicação e com o

tamanho efetivo dos grãos. Ao plotar os resultados de remoção versus os TMP,

observa-se um elevado grau de aderência, traduzido por um coeficiente de

determinação R2= 0,89, que pode ser considerado elevado devido à natureza

do processo, conforme se observa no gráfico da Figura 37. É importante

destacar a semelhança da Equação 44 obtida neste experimento com a que

outros autores obtiveram (cf. SCHMITT, 1989; BRISSAUD 1976).

∆fc=0,1299t – 0,8616

Equação 44

107

Figura 37: Remoção de C.TE. versus TMP

Embora o efeito positivo do fracionamento maior tenha sido

observado no que tange à remoção de microrganismos, é importante registrar

que freqüências maiores reduzem a duração da carreira do filtro. Essa suspeita

surgiu durante a primeira etapa do experimento e ensejou o acompanhamento

mais atento desse aspecto durante a segunda etapa, quando a superfícies dos

leitos foi fotografada periodicamente. Uma seqüência de fotos, feitas para

comparar a evolução do processo para os tamanhos efetivos e as freqüências

utilizadas, é mostrada da Figura 39 à Figura 44.

Observa-se também que, como era de se esperar, esse processo é

mais rápido para os menores tamanhos efetivos dos grãos. Esse fato foi

também observado por Bancolé e outros (2003), quando eles utilizaram uma

carga hidráulica de 0,5 m3/m2.dia fracionada em 1, 2, 4 e 8 doses por dia.

Embora as freqüências maiores proporcionassem os melhores rendimentos em

termos de redução da carga orgânica, ensejavam um maior desenvolvimento

do biofilme, principalmente nas camadas superiores do filtro, conforme se pode

observar na Figura 38.

y = 0,1299x - 0,8616R2 = 0,894

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0

TMP (min)

uLog

rem

ovid

a

108

Figura 38: Perfil da Biomassa Heterotrófica após 3 dias de operação (H = 0,5 m/d; DQO afluente = 300 mg/L; N-NH4 afluente = 60 mg/L)

A distribuição vertical da biomassa é muito influenciada pela

velocidade de percolação, sendo esta maior para as menores freqüências de

aplicação (BANCOLÉ, 2001). Possivelmente, esse fenômeno está relacionado

ao tempo de contato da biomassa com a matéria orgânica na parte superior,

muito maior nas maiores freqüências de aplicação. Assim, os microrganismos

nessa altura do filtro recebem uma maior quantidade de alimento, o que

possibilita seu maior crescimento. O oposto, menores freqüências de aplicação,

reduz esse tempo de contato, permitindo uma maior distribuição do alimento ao

longo de toda a altura do filtro.

109

Figura 39: Evolução da colmatação filtros Conjunto 1 (F 24 d-1)

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

1/24

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

2/24

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

3/24

110

Figura 40: Evolução da colmatação filtros Conjunto 2 (F 48 d-1)

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

1/48

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

2/48

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

3/48

111

Figura 41: Evolução da colmatação filtros Conjunto 3 (F 96 d-1)

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

1/96

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

2/96

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

3/96

112

Figura 42: Evolução da colmatação filtros TE 0,5 (F 24 d-1, 48 d-1 e F 96 d-1)

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

1/96

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

1/48

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

1/24

113

Figura 43: Evolução da colmatação filtros TE 0,7 (F 24 d-1, 48 d-1 e F 96 d-1)

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

2/96

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

2/48

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

2/24

114

Figura 44: Evolução da colmatação filtros TE 1,2(F 24 d-1, 48 d-1 e F 96 d-1)

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

3/24

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

3/48

21/10 07/11 16/11 24/11 16/12

3/96

115

6.6.NUTRIENTES Neste item, avaliam-se os resultados do desempenho dos FILAs no

que concerne ao balanço de nutrientes, tendo como objetivo não a sua

eliminação para a preservação de corpos d’água receptores, mas a sua

preservação para utilização produtiva, principalmente na produção de

alimentos. Foram analisados os seguintes macronutrientes: nitrogênio, fósforo

e potássio. Em geral, conforme esperado, a remoção desses nutrientes foi

pequena, conforme mostrado na Tabela 20.

Tabela 20:Remoção de nutrientes

O fósforo foi removido, em média, em 32%, com o máximo de 41%

no filtro 2/48 e o mínimo de 27% no filtro 3/48. O principal mecanismo de

remoção de fósforo (ANDERSON e OUTROS, 1985; LEFEVRE, 1988) é a

adsorção, que tende a ser mais efetiva no início da operação quando é maior a

disponibilidade de sítios. Embora fosse de se esperar que houvesse maior

remoção nos menores tamanhos efetivos (maior superfície específica) e nas

maiores freqüências (maior probabilidade de adsorção), essa expectativa não

foi confirmada pelos resultados.

O nitrogênio total foi muito pouco removido nos filtros (na média 10%

de remoção), variando de 2 a 31%, nos filtros 3/96 e 1/24, respectivamente. O

principal mecanismo de remoção de nitrogênio em FILAs é a desnitrificação

que pode ocorrer em microsítios anóxicos, mas sempre em pequena proporção

(CRITES e TCHOBANOGLOUS, 1998). Todavia, a remoção do nitrogênio é

possível, fazendo-se a recirculação do filtrado para a entrada do esgoto bruto

(VENHUIZEN, 2005). Em filtros de passagem única (sem recirculação), a

n médiadesvio padrão n média

desvio padrão n média

desvio padrão

2-Efl.UASB 5 16,3 3,0 3 177,7 85,1 4 52,5 16,31/24 4 11,3 5,7 3 123,0 71,5 4 49,5 12,92/24 5 11,2 3,6 3 158,0 59,4 4 49,8 13,83/24 5 11,4 3,5 3 159,3 34,6 4 50,0 13,11/48 5 10,7 4,3 3 153,3 55,1 4 50,0 12,92/48 5 9,6 4,5 3 162,7 56,6 4 48,8 16,53/48 5 11,9 3,2 3 160,0 60,8 4 50,8 13,71/96 5 11,0 3,6 3 172,3 62,7 4 49,5 13,72/96 5 11,6 3,4 3 169,3 61,7 4 51,0 13,33/96 5 11,1 3,3 3 174,3 38,6 4 51,0 13,4

FÓSFORO NT POTÁSSIO

116

principal transformação que ocorre com os compostos nitrogenados é a

oxidação da amônia. Essa transformação é relevante na medida em que os

nitratos constituem-se a forma de nitrogênio preferencial da maioria das

plantas.

O potássio, como outros cátions já mencionados, tem uma retenção

quase nula nos FILAs. Essa retenção foi, em média, de 5%, variando de 3 a

7%, respectivamente nos filtros 3/96 e 2/48.

Como se pode observar, portanto, os FILAs preservam nutrientes,

transformando-os, como no caso do nitrogênio, em formas mais assimiláveis.

6.7.OUTROS ASPECTOS Alguns fatores, provavelmente, influenciaram os resultados desta

pesquisa e, por essa razão, considera-se relevante que sejam mencionados.

O sistema de distribuição utilizado mostrou ser pouco eficaz em

decorrência do uso de uma área relativamente pequena da superfície dos

filtros. Esse fator influenciou negativamente os resultados em dois aspectos. O

primeiro diz respeito ao desempenho dos filtros na sua ação depuradora, que

se mostrou reduzida devido à má distribuição do efluente sobre o leito. O

segundo aspecto – também de grande importância na operação de FILAs e, de

certa forma, conseqüência do primeiro – está ligado à colmatação do leito. A

distribuição deficiente sobrecarrega uma pequena área, que se colmata mais

rapidamente gerando um processo de colmatação progressiva que poderia,

provavelmente, ser evitado com uma distribuição mais uniforme. As fotos da

Figura 39 à Figura 44 mostram a evolução do avanço da área utilizada.

117

7.CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A análise dos resultados deste experimento levou a algumas

conclusões sobre o funcionamento dos FILAs.

A partir dos resultados obtidos, pode-se afirmar que os filtros

intermitentes em leito de areia são eficientes na remoção de matéria

particulada na forma de sólidos suspensos, na faixa de granulometria de 0,5 a

1,2 mm e nas freqüências de aplicação de 24 a 96 d-1. Nessas condições,

chega-se a concentrações consistentemente abaixo de 20,0 mg/l. o que

garante a sua qualidade para este fim.

Da mesma forma que outras formas de tratamento biológico, os

FILAs não removem cátions.

Os FILAs removem de forma consistente a matéria orgânica na

forma de DBO5. Este processo de remoção é beneficiado pelo aumento da

freqüência de aplicação, principalmente quando se utilizam tamanhos efetivos

maiores. O efeito do aumento da freqüência de aplicação é menos notável nos

tamanhos efetivos menores. Além de remover a DBO5, os FILAs promovem a

nitrificação, que neste experimento atingiu valores superiores a 50% da amônia

afluente. Esse valor é notável se for considerada a elevada carga de amônia

aplicada, três vezes maior que a de um esgoto doméstico típico.

Os FILAs também removem microrganismos, atingindo até 4 uLog

de remoção de coliformes termotolerantes nas faixas de tamanho efetivo e

freqüências de aplicação utilizadas neste estudo (TE de 0,5 a 1,2 mm e F de 24

a 96 d-1). O aumento da freqüência de aplicação melhorou de forma

significativa o desempenho dos FILAs na remoção de coliformes

termotolerantes para o maior tamanho efetivo estudado.

Além da remoção consistente de sólidos suspensos, de matéria

orgânica e de microrganismos, constatou-se que a perda de nutrientes no

processo de tratamento é mínima, restringindo-se a 32% do fósforo, 10% do

nitrogênio e 5% do potássio. Não se observou correlação entre as perdas de

nutrientes e as variações dos parâmetros estudados.

118

O aumento da freqüência de aplicação nos tamanhos efetivos

menores reduziu a carreira de filtração.

A estratégia de associar leitos de granulometria mais grosseira com

altas freqüências de aplicação parece ser promissora por permitir a utilização

de cargas hidráulicas diárias mais altas sem perda de eficiência.

As conclusões deste trabalho nos levam a afirmar que é possível

produzir água de boa qualidade para diversos usos urbanos e agrícolas com

densidades de microrganismos abaixo de 103 UFC/100 ml de coliformes

termotolerantes a partir de efluente de UASB. Dentre as aplicações que

poderiam ser feitas com o efluente de FILAs destacam-se o uso em descarga

de vasos sanitários e, principalmente, na produção de alimentos através de

hidroponia. Esta se beneficiaria da água e dos nutrientes, além da baixa

concentração de sólidos suspensos (MELO e OUTROS, 2003).

Caso se deseje efluentes de altíssima qualidade bacteriológica, o

efluente do FILA pode reduzir de forma substancial a demanda de desinfetante.

A tecnologia de filtração intermitente parece ser de grande potencial

para aplicação no Brasil, onde se beneficiaria do clima, sendo necessário o seu

aprimoramento para haver uma adaptação às nossas condições. Dentre os

aspectos mais relevantes para o desenvolvimento tecnológico do FILA,

recomendam-se:

1. A realização de um estudo das características hidrodinâmicas e

aerodinâmicas dos leitos granulares visando à definição de parâmetros para

projeto de unidades de tratamento em função do objetivo a ser atingido:

maximizar a remoção de microrganismos ou oxidação da matéria orgânica.

Esse estudo deveria propor modelos de cálculo do tempo de passagem e das

taxas de renovação dos estoques de ar no leito, inclusive com a utilização de

aeração natural induzida.

2. A investigação do uso de recheios alternativos, com maior eficiência em

termos de escoamento da água e das trocas gasosas, inclusive leitos reativos,

visando à redução da área requerida. Enchimentos com geotêxteis, com

espuma de poliuretano e argila expandida já vêm sendo estudados em outros

lugares.

119

3. A promoção de estudos para definição de estratégias de gestão da

colmatação, tendo como base o acompanhamento da biomassa nas diversas

alturas do leito durante as fases de alimentação e de repouso, bem como do

uso da recirculação do efluente tratado.

4. A realização de um estudo para a utilização do efluente em culturas

hidropônicas, inclusive alimentares.

5. A realização de um estudo para avaliação da eficiência de FILA na remoção

de algas em efluentes de lagoas de estabilização.

6. A avaliação do desempenho do filtro com a introdução de filtro anaeróbio no

pré-tratamento.

120

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UFBA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA POLITÉCNICA

DEPTº DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA

MESTRADO PROFISSIONAL EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS

AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO

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