Política como moralidade: A banalização da ética Franklin Leopoldo e Silva.

25
Política como Política como moralidade: moralidade: A banalização da ética A banalização da ética Franklin Leopoldo e Silva Franklin Leopoldo e Silva

Transcript of Política como moralidade: A banalização da ética Franklin Leopoldo e Silva.

Política como Política como moralidade:moralidade:

A banalização da éticaA banalização da éticaFranklin Leopoldo e SilvaFranklin Leopoldo e Silva

• IntroduçãoIntrodução • Hannah Arendt mostra que Eichmann, Hannah Arendt mostra que Eichmann,

nazista encarregado de organizar o nazista encarregado de organizar o transporte de judeus para os campos de transporte de judeus para os campos de concentração:concentração:

- não era um homem tomado pelo ódio, uma - não era um homem tomado pelo ódio, uma assassino frio. assassino frio.

- Era apenas um funcionário do sistema que - Era apenas um funcionário do sistema que cumpria com eficiência as ordens, dando o cumpria com eficiência as ordens, dando o melhor de si para que as coisas melhor de si para que as coisas funcionassem da melhor forma possível na funcionassem da melhor forma possível na esfera de sua administração. esfera de sua administração.

- Tinha plena consciência de suas - Tinha plena consciência de suas responsabilidades e desejava ascender na responsabilidades e desejava ascender na carreira e contribuir para o bem do Estado e carreira e contribuir para o bem do Estado e da sociedadeda sociedade

• Defesa: nada do que fez era Defesa: nada do que fez era contrário às leis então vigentes no contrário às leis então vigentes no Estado alemão.Estado alemão.

• Era apenas um elo na imensa cadeia Era apenas um elo na imensa cadeia burocrática e militar dotada de burocrática e militar dotada de complexa funcionalidade.complexa funcionalidade.

• A consciência está de algum modo presente A consciência está de algum modo presente em todos os atos, atuando operacional e em todos os atos, atuando operacional e reflexivamente.reflexivamente.

- A consciência do ato: o sujeito pensar no - A consciência do ato: o sujeito pensar no fazfaz e e ser capaz de ser capaz de julgarjulgar os próprios atos. os próprios atos.

• Esse tipo de juízo fazia Eichmann dos atos que Esse tipo de juízo fazia Eichmann dos atos que praticava e das responsabilidades que praticava e das responsabilidades que assumia?assumia?

- Julgava seus atos de modo determinado: - Julgava seus atos de modo determinado: condições de possibilidades, combinados com condições de possibilidades, combinados com dados empíricos, para a produção de dados empíricos, para a produção de resultados objetivos = eficácia técnica.resultados objetivos = eficácia técnica.

• Dentro dessa lógica, é possível Dentro dessa lógica, é possível produzirproduzir, de forma ordenada e , de forma ordenada e estável, soluções para vários estável, soluções para vários problemas de diversas ordens, problemas de diversas ordens, inclusive a solução final.inclusive a solução final.

• Nesse sentido, o mal pode ser uma Nesse sentido, o mal pode ser uma realização técnico-científica que ocorre realização técnico-científica que ocorre a partir dos critérios de evidência na a partir dos critérios de evidência na sua adequação e eficiência na sua sua adequação e eficiência na sua aplicaçãoaplicação

• Aplicação de regras produzidas pela Aplicação de regras produzidas pela racionalidade técnica:racionalidade técnica:

- Haveria apenas uma diferença de grau entre Haveria apenas uma diferença de grau entre administrar uma repartição burocrática e administrar uma repartição burocrática e organizar a morte de milhões de seres organizar a morte de milhões de seres humanoshumanos

- Racionalidade técnica: Racionalidade técnica: - juízo técnico determinante = conjunto de juízo técnico determinante = conjunto de

ações determinadas pelas condições de uma ações determinadas pelas condições de uma eficácia planejada e previstaeficácia planejada e prevista

- Não há necessidade da reflexão para Não há necessidade da reflexão para discernir o valor das ações e julgar o que discernir o valor das ações e julgar o que seria seria melhormelhor a partir de critérios objetivos e a partir de critérios objetivos e subjetivos.subjetivos.

• Juízo reflexionante:Juízo reflexionante:- Princípio é a - Princípio é a liberdadeliberdade de produzir a de produzir a

norma que se considera aplicável à norma que se considera aplicável à realidade.realidade.

- O ato de julgar exclui a determinação - O ato de julgar exclui a determinação estritamente mecânica ou funcional. estritamente mecânica ou funcional.

- Capacidade humana: a liberdade de - Capacidade humana: a liberdade de escolher, buscar e discernir critérios escolher, buscar e discernir critérios de valorde valor

- Instância subjetiva com alcance - Instância subjetiva com alcance coletivo, comunitário.coletivo, comunitário.

• A capacidade de julgar a partir de si A capacidade de julgar a partir de si mesmo, no interior de uma interação mesmo, no interior de uma interação humana em que subjetividade e humana em que subjetividade e alteridade se constituem em regime alteridade se constituem em regime de reciprocidade que se manifesta na de reciprocidade que se manifesta na comunidade humana.comunidade humana.

• A incapacidade de julgar não foi regra A incapacidade de julgar não foi regra geral durante o período nazista, mas geral durante o período nazista, mas vem sendo algo como um modo de vem sendo algo como um modo de vida desde há muito tempo.vida desde há muito tempo.

• O Ocidente estaria marcado por esta O Ocidente estaria marcado por esta característica: característica:

- renúncia ao julgamento ao pensar - renúncia ao julgamento ao pensar comunitariamentecomunitariamente

- renúncia à dimensão pública do - renúncia à dimensão pública do sujeito moral e político – o cidadão, na sujeito moral e político – o cidadão, na sua efetividade.sua efetividade.

A política:A política:• Requisito: A disposição para o Requisito: A disposição para o

confronto das opiniões subjetivas, confronto das opiniões subjetivas, num procedimento que visa ao num procedimento que visa ao interesse da polis.interesse da polis.

• O sujeito político é aquele cuja O sujeito político é aquele cuja opinião subjetiva não está vinculada opinião subjetiva não está vinculada à defesa do interesse particular.à defesa do interesse particular.

• A dimensão pública é desde o início o A dimensão pública é desde o início o critério orientador.critério orientador.

• Exigência do Exigência do deslocamentodeslocamento: a consideração da : a consideração da opinião do outro em igualdade de condições opinião do outro em igualdade de condições com a sua própria opinião. Para compreendê-com a sua própria opinião. Para compreendê-la. la.

• Requisito fundamental da democracia: Vínculo Requisito fundamental da democracia: Vínculo interno entre universalidade e singularidadeinterno entre universalidade e singularidade

- Condição da experiência política: relação entre - Condição da experiência política: relação entre subjetividade e alteridade. Intersubjetividade.subjetividade e alteridade. Intersubjetividade.

- Cada um pode reconhecer-se no geral a partir - Cada um pode reconhecer-se no geral a partir de sua singularidadede sua singularidade

- A individualidade se define pelo vínculo - A individualidade se define pelo vínculo comunitário e pela isonomia (Igualdade comunitário e pela isonomia (Igualdade perante a lei) da palavra compartilhada.perante a lei) da palavra compartilhada.

- Interligação entre autonomia e isonomia- Interligação entre autonomia e isonomia

A universalidade do juízo político A universalidade do juízo político - ocorre a partir da relação dialógica - ocorre a partir da relação dialógica

entre os juízos singulares.entre os juízos singulares.- Universalidade de consenso- Universalidade de consenso• Política ocorre entre os indivíduos, no Política ocorre entre os indivíduos, no

espaço comum da vida pública.espaço comum da vida pública.

Vida política: individualismo moderno e Vida política: individualismo moderno e Estado como configuração de poder.Estado como configuração de poder.

• Impossibilidade:Impossibilidade:- O indivíduo é um ser abstrato: sem raiz na - O indivíduo é um ser abstrato: sem raiz na

vida comunitária autênticavida comunitária autêntica- Comunidade: agregado de elementos - Comunidade: agregado de elementos

extrinsecamente relacionados por uma extrinsecamente relacionados por uma instância a quem o poder foi delegado ou instância a quem o poder foi delegado ou transferido.transferido.

- Situação de submissão:- Situação de submissão:- A cidadania como ethos do mundo político se - A cidadania como ethos do mundo político se

perdeu.perdeu.

A política e a éticaA política e a ética• Ponto de vista ético: modernidade: a Ponto de vista ético: modernidade: a

predominância dos interesses predominância dos interesses - O ser humano centro de gravidade moral no - O ser humano centro de gravidade moral no

interesse (regulado pela razão ou acirrado). interesse (regulado pela razão ou acirrado). - Passagem da subjetividade à - Passagem da subjetividade à

individualidade empreendedora. individualidade empreendedora. - Hegemonia da vida privada regida pelos - Hegemonia da vida privada regida pelos

padrões do individualismo possessivo. (a padrões do individualismo possessivo. (a moral do interesse)moral do interesse)

• A transição da autenticidade para a A transição da autenticidade para a inautenticidade na políticainautenticidade na política

• A defesa do interesse significa o A defesa do interesse significa o desaparecimento da política.desaparecimento da política.

• Locke: a dimensão pública se Locke: a dimensão pública se identifica com a regulação e a identifica com a regulação e a articulação de interesses individuais articulação de interesses individuais (interesse individual anterior a (interesse individual anterior a sociedade). sociedade).

• Vida em comum pensado como Vida em comum pensado como subsidio para a manutenção e o subsidio para a manutenção e o fortalecimento da vida individualfortalecimento da vida individual

• Legitimação do interesse privadoLegitimação do interesse privado

Banalização da ética e o Banalização da ética e o desaparecimento da políticadesaparecimento da política

• O enaltecimento do interesse individual O enaltecimento do interesse individual privado tem como conseqüência privado tem como conseqüência colocar em plano secundário o colocar em plano secundário o significado do interesse público.significado do interesse público.

• A impossibilidade da universalização A impossibilidade da universalização concreta dos “direitos do Homem” esta concreta dos “direitos do Homem” esta ligado ao vetor individualista da ligado ao vetor individualista da experiência histórica moderna.experiência histórica moderna.

Manipulação ideológica e Manipulação ideológica e massificaçãomassificação

• O coletivo não pode ser identificado O coletivo não pode ser identificado como comunidade política, mas como comunidade política, mas como identificação maciça com como identificação maciça com projetos de poder totalitário.projetos de poder totalitário.

A rejeição ética da políticaA rejeição ética da política• Configura a contradição em que vivemosConfigura a contradição em que vivemos• O indivíduo como ser social, como O indivíduo como ser social, como

condição histórica efetiva.condição histórica efetiva.• A ruptura entre ética e política: A ruptura entre ética e política: - ruptura entre indivíduo e sociedade e ruptura entre indivíduo e sociedade e

ruptura do indivíduo com ele mesmo.ruptura do indivíduo com ele mesmo.Dificuldade de o indivíduo reconhecer-se Dificuldade de o indivíduo reconhecer-se

na sua identidade social e poder atuar na sua identidade social e poder atuar como sujeito políticocomo sujeito político

• O grande triunfo da democracia O grande triunfo da democracia formal e a condição de formal e a condição de preservação do sistema preservação do sistema consistem em induzir os consistem em induzir os indivíduos a praticarem a indivíduos a praticarem a indiferença política como indiferença política como realização da liberdade realização da liberdade individualindividual

• O recolhimento do indivíduo à sua O recolhimento do indivíduo à sua individualidade coincide com a individualidade coincide com a preservação do interesse privado e a preservação do interesse privado e a manutenção das suas garantiasmanutenção das suas garantias

• A moralidade privada aparece como A moralidade privada aparece como único critério de julgamento de único critério de julgamento de qualquer conduta (inclusive as qualquer conduta (inclusive as públicas)públicas)

• CírculoCírculo- Nas suas ações os indivíduos não - Nas suas ações os indivíduos não

distinguem o interesse privado do distinguem o interesse privado do interesse públicointeresse público

- No julgamento dessas ações não se - No julgamento dessas ações não se separa a esfera pública da vida separa a esfera pública da vida privadaprivada

- Conseqüência: não se tem conduta - Conseqüência: não se tem conduta política nem se faz qualquer juízo política nem se faz qualquer juízo político sobre as condutaspolítico sobre as condutas

• Quando a vida política é autêntica, sua Quando a vida política é autêntica, sua moralização é desnecessária porque o moralização é desnecessária porque o verdadeiro sentido da vida pública esta na verdadeiro sentido da vida pública esta na reciprocidade entre ética e políticareciprocidade entre ética e política

• Quando a vida política é inautêntica, sua Quando a vida política é inautêntica, sua moralização é inútil porque a quebra de moralização é inútil porque a quebra de reciprocidade compromete o sentido dos reciprocidade compromete o sentido dos dois elementos e de sua vinculação dois elementos e de sua vinculação intrínseca intrínseca