POLÍTICAS DE TURISMO NO BRASIL¡bia... · Aos Professores do Curso de Doutoramento em Turismo, ......

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Fábia Trentin POLÍTICAS DE TURISMO NO BRASIL Tomada de Decisão e a Análise das Estruturas de Governança nos Destinos Turísticos de Armação dos Búzios e de Paraty, Estado do Rio de Janeiro, Brasil Tese de Doutoramento em Turismo, Lazer e Cultura, no ramo de Turismo e Desenvolvimento, orientada pela Doutora Fernanda Delgado Cravidão e coorientada pela Doutora María Velasco González, apresentada ao Departamento de Geografia, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Julho de 2014

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  • Fbia Trentin

    POLTICAS DE TURISMO NO BRASIL Tomada de Deciso e a Anlise das Estruturas de Governana nos Destinos Tursticos

    de Armao dos Bzios e de Paraty, Estado do Rio de Janeiro, Brasil

    Tese de Doutoramento em Turismo, Lazer e Cultura, no ramo de Turismo e Desenvolvimento, orientada

    pela Doutora Fernanda Delgado Cravido e coorientada pela Doutora Mara Velasco Gonzlez,

    apresentada ao Departamento de Geografia, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

    Julho de 2014

  • Faculdade de Letras

    POLTICAS DE TURISMO NO BRASIL

    Tomada de Deciso e a Anlise das Estruturas de Governana

    nos Destinos Indutores de Armao dos Bzios e de Paraty,

    Estado do Rio de Janeiro, Brasil.

    Fbia Trentin

    Ficha Tcnica:

    Tipo de trabalho Tese de Doutoramento

    Ttulo POLTICAS DE TURISMO NO BRASIL Tomada de

    Deciso e a Anlise das Estruturas de Governana nos

    Destinos Indutores de Armao dos Bzios e de Paraty,

    Estado do Rio de Janeiro, Brasil

    Autor Fbia Trentin

    Orientador Professora Doutora Fernanda Delgado Cravido

    Coorientador Professora Doutora Maria Velasco Gonzlez

    Identificao do Curso Doutoramento em Turismo, Lazer e Cultura

    rea cientfica Turismo e Lazer

    Ramo Turismo e Desenvolvimento

    Data 2014

  • ii

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    Por meio destes agradecimentos registro publicamente o reconhecimento a cada uma das

    pessoas importantes durante a caminhada que culminou na elaborao deste documento final.

    Embora o trabalho intelectual seja solitrio e muito pessoal, sem o apoio acadmico,

    cientfico, institucional e pessoal ele teria se tornado muito mais difcil, seno impossvel.

    Professora Doutora Fernanda Delgado Cravido, minha orientadora, pela maneira gentil e

    competente com que conduziu o processo de orientao.

    Professora Doutora Mara Velasco Gonzlez, minha co-orientadora, pelo incentivo e

    encorajamento nas diversas fases deste trabalho.

    Ao Professor Doutor Davis Gruber Sansolo, meu tutor acadmico, por todo apoio e

    colaborao.

    Universidade de Coimbra pela oportunidade de um perodo de intercmbio na Universidade

    Complutende de Madri, a qual sou grata pelo acolhimento.

    Aos Professores do Curso de Doutoramento em Turismo, Lazer e Cultura da Universidade de

    Coimbra, pela possibilidade do conhecimento construdo durante o ciclo doutoral.

    Ao Magnfico Reitor da Universidade Federal Fluminense, Professor Doutor Roberto de

    Souza Salles, por todo o apoio institucional recebido durante os anos de doutoramento.

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior - CAPES pela concesso

    da Bolsa de Doutorado Pleno no Exterior.

    Ao Diretor da Faculdade de Turismo e Hotelaria, ao Chefe e Sub Chefe do Departamento de

    Turismo da Universidade Federal Fluminense, bem como a todos os professores e

    funcionrios.

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    Professora Doutora Rita de Cssia Ariza da Cruz e ao Professor Doutor Noslin de Paula

    Almeida Torraca, pela confiana.

    Aos professores coordenadores e alunos do Observatrio do Turismo da UFF, pelo apoio

    durante a realizao da pesquisa de campo.

    Ao Professor Doutor Moiss Lima de Menezes, pelo apoio estatstico.

    Ao professor doutor Aguinaldo Cesar Fratucci pelas observaes pertinentes em relao

    temtica deste trabalho.

    A todas as pessoas que dispuseram de um tempo precioso de suas vidas para estarem comigo

    e me concederem as entrevistas, contribuindo no apenas para o cumprimento dos objetivos

    da investigao, mas para o conhecimento no campo da poltica e da governana turstica.

    Agradecimento especial ao Deputado Federal Gasto Vieira - ex Ministro de Estado de

    Turismo -, a talo Mendes - Assessor Especial do Ministro -, a Marcos Pereira - Chefe do

    Gabinete do Secretrio de Turismo do Estado do Rio de Janeiro -, a Valeria Lima Diretora

    de Planejamento e Projetos -, ao professor Mario Beni Conselheiro Nacional de Turismo

    e aos Secretrios Municipais de Turismo de Armao dos Bzios, Jos Marcio dos Santos e

    de Paraty, Wladimir Santander.

    Aos meus amigos do Curso de Doutoramento, lvaro do Esprito Santo, Lus Silveira, Miguel

    Silveira Odete Paiva e Vtor Ferreiras, pela simpatia, acolhimento e convivncia. A vossa

    companhia minimizou o sentimento de solido por ter deixado familiares e amigos do outro

    lado do Atlntico.

    professora e amiga Erly Maria de Carvalho e Silva por toda ateno, carinho e dedicao

    para comigo, especialmente durante o doutoramento.

    s amigas Ericka Amorim e Uiara Martins e a todos os amigos e amigas, queles de sempre e

    aos que se tornaram durante esta caminhada por me fazerem acreditar no valor da amizade.

    Aos alunos e ex-aluno do curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense pela maneira

    responsvel e dedicada com que assumiram a tarefa de coletar os dados da pesquisa

  • v

    quantitativa da presente investigao. Sem o auxlio de vocs no teria sido possvel cumprir

    as metas estabelecidas.

    minha famlia pelo apoio ao meu sonho de cursar o doutoramento em outro pas, relevando

    as saudades em favor de minha conquista.

  • vi

  • vii

    RESUMO

    A globalizao juntamente com a crise financeira e a ineficincia do Estado que se tornou

    demasiado grande, passaram a questionar o papel estatal, impondo-lhe o desafio de se tornar

    mais forte e mais eficiente, como forma de restaurar a capacidade diretiva e a

    governabilidade. Constituindo-se assim fator determinante para a implementao da reforma

    denominada de Nova Gesto Pblica, impondo reduo capacidade diretiva do Estado em

    favor das transformaes econmicas, produtivas e comerciais. Na Amrica Latina e no

    Brasil, alm da Nova Gesto Pblica, foi necessria a reforma de segunda gerao que incidiu

    sobre a melhoria da governabilidade e sobre o fortalecimento institucional por meio da

    reforma do servio pblico. As reformas de ordem estrutural influenciaram o modo como a

    sociedade passou a se relacionar com o governo, de forma que o modo tradicional de

    conduo social e seus instrumentos se tornaram ineficientes e obsoletos. Como

    consequncia, as pessoas e organizaes se tornaram independentes, suscitando o

    ressurgimento da sociedade civil e a formao do terceiro setor com redes sociais de

    cooperao. A mudana no papel do Estado e a relao com a sociedade no turismo

    influenciaram a poltica turstica brasileira que direcionou a organizao social por meio de

    conselhos municipais e instncias de governana regional, demandando a participao da

    sociedade civil organizada em redes de atores. Esse contexto motivou a presente investigao

    cujo objetivo central conhecer at que ponto as instituies de governana turstica esto

    representando uma nova forma de tomar decises coletivas para melhoria dos destinos

    tursticos no Brasil, bem como identificar se a denominao de estruturas de governana

    so apenas uma formula atrativa sem contedo. A metodologia utilizada pautou-se pelos

    instrumentos da pesquisa quantitativa e qualitativa. A quantitativa gerou um banco de dados

    referente ao perfil dos visitantes e residentes, possibilitando melhor compreenso do territrio

    e das percepes a partir do olhar de quem vive e de quem o visita. Na pesquisa qualitativa

    utilizamos a anlise de contedo que permitiu encontrar as categorias de anlise que

    compuseram o quadro emprico relativo governana nos destinos estudados. Os resultados

    das anlises territoriais e quantitativa do turismo revelaram que os destinos tm apresentado

    uma evoluo positiva no que diz respeito infraestrutura e organizao da oferta turstica.

    Embora os visitantes percebam certas deficincias, os destinos lhes agradaram e

    proporcionaram uma experincia de viagem muito satisfatria. Os residentes apresentaram

    percepes mais positivas que negativas, sendo a mais positiva relacionada gerao de

    emprego e renda. A pesquisa qualitativa revelou que nos destinos estudados o

    desenvolvimento turstico se encontra em estgios de desenvolvimento turstico distintos.

    Armao dos Bzios tem a atividade turstica mais consolidada, a sociedade civil organizada

    e atuante, enquanto em Paraty, o turismo se acha em desenvolvimento, a sociedade civil est

    se organizando e a atuao tem sinalizado para um fortalecimento gradativo entre os atores

    sociais, o que nos permite inferir que h uma tendncia de mudana da governana

    hierrquica para a governana em rede.

    Palavras-chave: Brasil, Destinos Indutores, Governana, Poltica Turstica, Rede de Atores.

  • viii

  • ix

    ABSTRACT

    Globalization along with the financial crisis and the inefficiency of the state, which has

    become overwhelming, beginning to question the states role, and at the same time imposing a

    challenge of becoming stronger and more efficient, therefore, restoring its political

    capabilities. Thus it has constituted a critical factor to the implementation of the New Public

    Management, imposing the reduction capacity of the state policy in favor of economic,

    productive and commercial transformations. In Latin America and Brazil, besides

    implementing the New Public Management, it was also necessary to have a second stage on

    the reform. The second stage was focused on improving governance and the institutional

    strengthening, through a reform on public service. The changes on the governments

    structure influenced the relationship between society and government in such way that the

    traditional practices of social conduct, and their instruments, became ineffective and obsolete.

    As a result, people and organizations have become independent, arousing the rebirth of civil

    society and the creation of a third sector with social cooperation networks. The change in the

    role of the state, and its relationship with society in tourism, have influenced the Brazilian

    tourism policy, which has directed social organization through municipal councils and

    regional governance bodies, requiring the participation of civil society, organized as networks

    of individuals. This scene motivated the present research whose main objective is to know the

    extent to which the institutions of touristic governance represent a new way of making

    collective decisions intended to improve tourist destinations in Brazil, as well as identifying if

    the denomination "governance structures" is just an attractive formula without content. The

    adopted methodology was directed by the instruments of quantitative and qualitative analysis

    research. The quantitative analysis generated a database with regards to the profile of visitors

    and residents, enabling a better understanding of the territory and perceptions through the

    thoughts and views of visitors and visited. In the qualitative analysis research, was used

    content analysis which allowed us to find categories of analysis that formed the empirical

    framework for governance in the analyzed targets. The results of territorial and quantitative

    analyses revealed that tourist destinations have shown a progress with regards to

    infrastructure and organization of tourism. Although visitors noticed certain deficiencies,

    destinations where able to please the visitors and provided a very satisfying experience.

    Residents had more positive perceptions than negative, the most positive being related to the

    generation/creation of jobs and income. The qualitative analysis research revealed that the

    different tourist destinations where also in different stages of tourism development. Armao

    dos Buzios can be considered as having the tourism related activities more developed and

    consolidated, where the community is involved in the process. Meanwhile, Paraty has its

    activities in the development phase; the community/population is still organizing itself and

    showing signs of fortification as a unit/group. That allows us to infer that there is a tendency

    for a shift from hierarchical governance to network governance, where the local residents will

    have a roll to play.

    Keywords: Brazil, Inductors Destinations, Governance, Tourism Policy, Actors Network

  • x

  • xi

    NDICE GERAL

    AGRADECIMENTOS ... i

    RESUMO ... vii

    ABSTRACT ... ix

    NDICE DE FIGURAS .. xv

    NDICE DE GRFICOS ... xxii

    NDICE DE MAPAS .... xxi

    NDICE DE QUADROS xxiii

    NDICE DE TABELAS . xxv

    NDICE DE SIGLAS . xxvii

    INTRODUO 1

    PARTE I MARCO METODOLGICO E TERICO . 7

    1. MARCO METODOLGICO ............ 9

    1.1. Justificao da Escolha do Tema e dos Casos de Estudo ... 9

    1.2. Problema e Hipteses ................ 11

    1.3. Objetivos . 14

    1.4. A Pesquisa Quantitativa e Qualitativa em Turismo ............ 16

    1.5. A Recolha dos Dados e Informaes .. 21

    1.5.1. O Percurso Terico e Desenho da Investigao 21

    1.5.2. O inqurito por questionrio e a recolha dos dados empricos junto aos

    residentes .... 25

    1.5.3. O Inqurito por Questionrio e a Recolha dos Dados Empricos Relativos aos

    Visitantes ...... 30

    1.5.4. O inqurio por Entrevista e a Recolha dos Dados empricos Relativos aos

    Atores Sociais . 33

    2. MARCO TERICO .... 39

    2.1. Contextualizando a Governana no Cenrio Social, Poltico e Econmico: Notas

    Introdutrias sobre a Atuao do Estado Tradicional e as Novas Formas de

    Governar ..............

    39

    2.1.1. Mudanas no Papel do Estado e dos Governos nos Pases Ocidentais .. 39

    2.1.2. Mudanas no Papel do Estado e dos Governos na Amrica Latina e no Brasil . 46

    2.1.3. Governana: abordagem conceitual ............... 52

  • xii

    2.1.4. A Poltica de Turismo: conceitos, instrumentos e o papel do Estado 59

    2.1.4.1. Governana no turismo: um percurso a ser melhor compreendido 66

    2.1.4.2. Governana multinvel .......... 73

    2.1.4.3. Cooperao, coordenao e colaborao ....... 76

    2.1.4.4. Governana em rede ...... 82

    PARTE II ANLISE DA POLTICA TURSTICA ...... 90

    3. ATUAO EM MATERIA DE POLTICA DE TURISMO NA ESFERA DO

    GOVERNO FEDRAL . 93

    3.1. Breves Notas Introdutrias Acerca do Turismo e da Poltica Nacional de

    Turismo (1930 2010) 93

    3.2. A Poltica Turstica o Brasil (1930 1989): da Centralizao Autoritria a

    Transio para a Democracia ...................................................... 104

    3.2.1. Atuao em matria de turismo .... 104

    3.2.2. Os Instrumentos Organizativos Federais (1930 - 1989) ............. 112

    3.2.3. Instrumentos Normativos Federais (1930 - 1989) .......... 116

    3.2.4. Instrumentos Programticos Federais (1930 - 1989) .......... 116

    3.2.5. Instrumentos Federais de Fomento (1930 - 1989) .............. 119

    3.2.6. As Aes Federais de Comunicao e Promoo (1930 - 1989) ... 122

    3.2.7. As Aes de Formao e Investigao (1930 - 1989) 124

    3.3. A Poltica de Turismo na Redemocratizao Brasileira (1990 2010):

    Descentralizao, Participao e Inovao ..... 125

    3.3.1. Atuao em Matria de Turismo (1990 - 2010) ..... 125

    3.3.2. Os Instrumentos Organizativos Federais (1990 - 2010) . 135

    3.3.3. Os Instrumentos Normativos Federais (1990 - 2010) .... 139

    3.3.4. Os Instrumentos Programticos Federais (1990 - 2010) .... 140

    3.3.5. Os Instrumentos Federais de Fomento (1990 - 2010) 150

    3.3.6. As Aes Federais de Comunicao e Promoo (1990 - 2010) ... 155

    3.3.7. As Aes de Formao e Investigao (1990 - 2010) 157

    4. A POLTICA DE TURISMO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (1986 -

    2010) . 163

    4.1. Os Instrumentos Organizativos escala estadual (1986 - 2010) .. 164

    4.2. Os Instrumentos Normativos escala estadual (1986 - 2010) 167

    4.3. Os Instrumentos Programticos escala estadual (1985/2010) .. 167

  • xiii

    4.3.1. O Programa Nacional de Municipalizao do Turismo e o Programa de

    Regionalizao do Turismo no Estado do Rio de Janeiro .. 176

    4.4. Os Instrumentos de Fomento escala estadual (1985/2010) .. 179

    4.5. As Aes de Comunicao e Promoo escala estadual (1985/2010) ... 180

    4.6. As Aes de Formao e Investigao escala estadual (1985/2010) ... 181

    5. A POLTICA MUNICIPAL DE TURISMO EM ARMAO DOS BZIOS

    E PARATY ...................................................................................... 183

    5.1. Os Instrumentos Organizativos escala municipal (1986 - 2010) .. 183

    5.2. Os Instrumentos Normativos escala municipal (1986 - 2010) . 186

    5.3. Os Instrumentos Programticos escala municipal (1986 - 2010) ......... 187

    5.3.1. O Programa Nacional de Municipalizao do Turismo nos territrios de

    Armao dos Bzios e de Paraty .......................... 187

    5.3.2. Programa de Regionalizao do Turismo em Armao dos Bzios e em Paraty . 191

    5.3.Os Instrumentos de Fomento escala municipal (1986 - 2010) .............. 196

    5.4.As Aes de Comunicao e Promoo escala municipal (1986 - 2010) . 200

    5.5.As Aes de Formao e Investigao escala municipal (1986 - 2010) ... 202

    PARTE III INVESTIGAO EMPRICA: A GOVERNANA EM DOIS

    DESTINOS TURSTICOS BRASILEIROS ARMAO DOS BZIOS E

    PARATY ..................................

    207

    6. OS CASOS DE ESTUDO .. 209

    6.1.Os Territrio de Armao dos Bzios e de Paraty: o quadro scio geogrfico ... 209

    6.2.Da Colonizao ao Sculo XX: breves notas sobre a ocupao do territrio e sua

    economia .. 215

    6.3.Sculo XX: o turismo se aproxima ...... 221

    6.4.O Turismo em Armao dos Bzios e Paraty ............................. 223

    6.4.1. As Atraes Tursticas nos Destinos Estudados ... 223

    6.4.2. As Facilidades, os Servios Tursticos e Outras Infraestruturas ... 241

    6.4.3. Caracterizao dos Residentes e Visitantes 252

    6.4.3.1.Percepo dos Residentes em Relao ao Turismo em Armao dos Bzios e

    em Paraty 252

    6.4.3.2.Perfil dos Visitantes e Avaliao dos Destinos Tursticos de Armao dos

    Bzios e de Paraty .. 275

    PARTE IV. DISCUSSO E CONCLUSES 299

  • xiv

    7. PRINCIPAIS RESULTADOS DA INVESTIGAO: ENTRE A

    HIERARQUIA E A GOVERNANA .....

    301

    7.1. Os problema do destino percebidos pelos atores . 302

    7.2. O papel dos Diferentes Atores ..... 320

    7.2.1. O que Fazem os Atores? ..... 320

    7.2.2. O que os Atores Deveriam Fazer? .. 323

    7.2.3. Confiana e Legitimidade .. 328

    7.3. Rede de Aatores, Cooperao e Governana ...... 331

    7.3.1. Rede de Atores ... 331

    7.3.2. Estrutura de Governana .... 341

    7.3.3. Aes de Cooperao ..... 348

    7.3.4. Da Hierarquia Governana em Rede .. 352

    8. CONCLUSES .......................... 358

    REFERNCIAS ... 375

    ANEXOS ... 413

  • xv

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 1 Desenho da investigao ... 10

    Figura 2 - Conceitos relacionados governana..... 22

    Figura 3 - reas temticas da reviso da literatura .... 22

    Figura 4 - Rua das Pedras ... 32

    Figura 5 - Avenida. Jos Bento Ribeiro Dantas (Orla) .. 32

    Figura 6 - Os elementos do processo de concepo da poltica de turismo ... 62

    Figura 7 - Significados reconhecidos da governana . 68

    Figura 8 - Governana multinvel no turismo ... 75

    Figura 9 - Governana em rede em destinos tursticos . 88

    Figura 10 - Hotel Copacabana Palace no Rio de Janeiro ... 94

    Figura 11 - rgos Adminsitrativos aos quais as atividades tursticas teve alguma

    vinculao no mbito da Administrao Pblica Federal 1923 a 1967 .. 115

    Figura 12 - Sistema Nacional de Turismo referente a ltima dcada do sculo e a

    primeira dcada do sculo XXI .. 138

    Figura 13 - Estrutura do PNMT 144

    Figura 14 Estrutura de coordenao do Programa de Regionalizao do Turismo 149

    Figura 15 - O sistema turstico do Estado do Rio de Janeiro atual 166

    Figura 16 - Organograma da Secretaria de Turismo de Paraty . 184

    Figura 17 - Estrutura da Secretaria Municipal de Turismo de Armao dos Bzios . 185

    Figura 18 - Marco indicando o traado do Caminho do Ouro antigo e o novo . 217

    Figura 19 - Villa de Paraty em ilustrao feita por J.B. Debret em 1827 .. 220

    Figura 20 - Traado de Paraty em 1863 . 220

    Figura 21 - Vegetao no entorno da Praia Brava . 226

    Figura 22 - Vegetao no saco da Praia do Forno .. 226

    Figura 23 - Mangue de Pedra . 227

    Figura 24 - Saco do Mamangu em Paraty 229

    Figura 25 - Vista panormica da Baa de Paraty 230

    Figura 26 - Prtica de stand up paddle 231

    Figura 27 - Passeio de Escuna 232

    Figura 28 - Praia da Ferradura 232

    Figura 29 - Vista da Praia do Meio Vila da Trindade, Paraty . 233

  • xvi

    Figura 30 - Paisagem - Paraty ... 233

    Figura 31 - Cachoeira da Penha . 234

    Figura 32 - Igreja de SantAna .. 236

    Figura 33 - Arquitetura tpica de Armao dos Bzios .. 236

    Figura 34 - Esttua dos tres pescadores, paraia da Armao . 237

    Figura 35 - Caminho do Ouro 239

    Figura 36 - Casario no centro Histrico e Igreja de Nossa Senhora do Rosrio de So

    Benedito ao fundo .. 239

    Figura 37 - Paisagem integrando a Baa de Paraty, a cidade e a Mata Atlntica 240

    Figura 38 - Centro de Atendimento ao Turista na entrada da cidade de Armao dos

    Bzios . 247

    Figura 39 Totem com o aplicativo Tour Brasil 360 ... 248

    Figura 40 - Imagem do projeto do Centro de Informaes Tursticas Praa do

    Chafariz .. 249

    Figura 41 - Armao dos Bzios e Paraty em relao ao PNMT e PRT ... 302

    Figura 42 - Instituies que dialogam sobre o turismo em Armao dos Bzios .. 343

    Figura 43 - Instituies que dialogam sobre o turismo em Paraty . 343

    Figura 44 - Caractersticas da governana atual em Armao dos Bzios . 352

    Figura 45 - Tendncia da evoluo da governana em Armao dos Bzios 353

    Figura 46 - Caracterstica da governana atual em Paraty . 354

    Figura 47 - Tendncia do comportamento da governana em Armao dos Bzios . 354

    Figura 48 - Proposta para a organizao da governana multinvel em Paraty . 355

  • xvii

    NDICE DE GRFICOS

    Grfico 1 - Receitas de viagens internacionais .. 97

    Grfico 2 - Receita cambial turstica e nmero de turistas estrangeiros ........... 98

    Grfico 3 - ndices de competitividade dos destinos Brasil, no capitais, Armao dos

    Bzios e Paraty em 2008 ... 193

    Grfico 4 - Evoluo da populao dos municpios Armao dos Bzios e de Paraty . 211

    Grfico 5 Aumento populacional de Armao dos Bzio e de Paraty por dcada . 212

    Grfico 6 - Atividades econmicas que compem o PIB municipal de Armao dos

    Bzios e de Paraty 214

    Grfico 7 - Oferta de meios de hospedagem em Armao dos Bzios e Paraty .. 243

    Grfico 8 - Outros meios de hospedagem em Paraty . 244

    Grfico 9 - Domiclios de uso particular em Armao dos Bzios e Paraty .. 245

    Grfico 10 - Idade dos inquiridos ... 254

    Grfico 11 - Escolaridade dos inquiridos ... 255

    Grfico 12 - Situao profissional dos inquiridos ...... 256

    Grfico 13 - Renda familiar dos inquiridos ocupados nas atividades caractersticas do

    turismo .... 257

    Grfico 14 - Renda individual dos inquiridos ocupados nas atividades caractersticas

    do turismo ... 258

    Grfico 15 - Percepo relacionada importncia do turismo ...... 258

    Grfico 16 - Ocupao no turismo em Armao dos Bzios e Paraty ... 260

    Grfico 17 - Ocupaes nas atividades caractersticas do turismo por gnero em

    Armao dos Bzios ... 261

    Grfico 18 - Ocupaes nas atividades caractersticas do turismo por gnero em

    Paraty .. 262

    Grfico 19 - Percepo dos residentes acerca dos efeitos positivos do turismo em

    Armao dos Bzios ... 263

    Grfico 20 - Efeitos positivos do turismo percebidos pelos residentes de Armao dos

    Bzios . 264

    Grfico 21 - Efeitos positivos do turismo percebidos pelos residentes de Paraty .. 266

    Grfico 22 - Percepo dos residentes acerca dos efeitos negativos do turismo em 267

  • xviii

    Armao dos Bzios e Paraty .

    Grfico 23 - Efeitos negativos do turismo percebidos pelos residentes de Armao

    dos Bzios .. 268

    Grfico 24 - Efeitos negativos do turismo percebidos pelos residentes de Paraty . 270

    Grfico 25 - Responsabilidade do poder pblico em relao aos efeitos do turismo 271

    Grfico 26 - Participao dos residentes em entidades civis em Armao dos Bzios e

    Paraty .. 272

    Grfico 27 - Reconhece a existncia das entidades civis de Armao dos Bzios 273

    Grfico 28 - Reconhece a existncia das entidades civis de Paraty ... 274

    Grfico 29 Visitantes de Armao dos Bzios e de Paraty de acordo com o gnero . 276

    Grfico 30 Faixa etria dos visitantes de Armao dos Bzios e de Paraty ... 276

    Grfico 31 - Escolaridade dos visitantes de Armao dos Bzios e de Paraty .. 277

    Grfico 32 - Origem dos visitantes em Armao dos Bzios e de Paraty .. 278

    Grfico 33 - Motivos da viagem - Armao dos Bzios .... 279

    Grfico 34 - Motivos da viagem Paraty .. 279

    Grfico 35 - Meios de hospedagem utilizados pelos visitantes de Armao dos

    Bzios e Paraty .. 280

    Grfico 36 - Tempo de permanncia nos destinos . 280

    Grfico 37 - Renda individual dos visitantes de Armao dos Bzios e de Paraty ... 281

    Grfico 38 - Total de visitantes que atriburam valores igual ou superior 8,0 para a

    experincia da viagem 282

    Grfico 39 - Avaliao dos destinos de Armao dos Bzios e de Paraty . 282

    Grfico 40 - Avaliao do destino de acordo com os motivos de lazer . 283

    Grfico 41 - Avaliao de acordo com os motivos da viagem ... 284

    Grfico 42 - Avaliao da infraestrutura e dos servios tursticos em Armao dos

    Bzios . 285

    Grfico 43 - Avaliao da infraestrutura e dos servios tursticos em Paraty 287

    Grfico 44 Avaliao da experincia da viagem . 290

    Grfico 45 - Percepo acerca da ao do poder pblico nos stios visitados ... 291

    Grfico 46 - Percepo acerca da ao pblica em Armao dos Bzios .. 292

    Grfico 47 - Percepo acerca da ao pblica em Paraty ..... 293

    Grfico 48 - O que mais agradou os visitantes em Armao dos Bzios ...... 294

    Grfico 49 - O que mais agradou os visitantes em Paraty .. 295

  • xix

    Grfico 50 - O que menos agradou o visitante em Armao dos Bzios ... 296

    Grfico 51 - O que menos agradou o visitante em Paraty .. 297

  • xx

  • xxi

    NDICE DE MAPAS

    Mapa 1 - Estado do Rio de Janeiro, Armao dos Bzios e Paraty em relao ao

    Brasil ...................................................................... 11

    Mapa 2 - Territrio de Paraty com destaque para a rea urbana de Paraty .... 26

    Mapa 3 - Distribuio dos ncleos urbanos isolados e aglomerados rurais em Paraty .. 27

    Mapa 4 - Territrio de Armao dos Bzios e a localizao dos bairros e reas de

    interesse .. 29

    Mapa 5 - Polos de Turismo Prodetur NE II 152

    Mapa 6 - Regionalizao turstica do Estado do Rio de Janeiro no Plano de

    Desenvolvimento Econmico e Social (1980 1983) ... 169

    Mapa 7 - reas de desenvolvimento estratgicos do Rio de Janeiro, 2001 ... 172

    Mapa 8 - Regies tursticas inseridas no Polo Litoral e Polo Serra, 2010 . 174

    Mapa 9 - Regionalizao turstica do Estado do Rio de Janeiro 178

    Mapa 10 - Localizao no Estado do Rio de Janeiro dos municpios de Armao dos

    Bzios e de Paraty .. 210

  • xxii

  • xxiii

    NDICE DE QUADROS

    Quadro 1 Estrutura da tese .. 3

    Quadro 2 Critrios para escolha do territrio de estudo .. 10

    Quadro 3 - Diferenas entre o uso da pesquisa quantitativa e qualitativa . 18

    Quadro 4 - Modelos de Estado e Administrao Pblica nos Pases Ocidentais e

    Brasil .. 50

    Quadro 5 - Caractersticas da governana .. 55

    Quadro 6 - Modos de governana ideal .. 56

    Quadro 7 Instrumentos organizativos da poltica turstica .. 64

    Quadro 8 - Evoluo das funes do governo no turismo . 65

    Quadro 9 - Conceitos de governana utilizados em estudos do turismo 71

    Quadro 10 - Ideias chaves da governana turstica 72

    Quadro 11 Significado da cooperao, coordenao e colaborao ... 78

    Quadro 12 - Instrumentos da poltica turstica brasileira ... 103

    Quadro 13 - Avaliao das aes do PNT 2003 2007 . 134

    Quadro 14 - Temas regulamentados pelos instrumentos legais . 139

    Quadro 15 - Poltica Nacional de Turismo (1996 - 1999) . 141

    Quadro 16 Atuao do Estado brasileiro em matria de turismo 160

    Quadro 17 - Competncias do Conselho Municipal de Turismo em Armao dos

    Bzios e de Paraty 188

    Quadro 18 - Avaliao de Armao dos Bzios e Paraty no estudo de

    competitividade . 194

    Quadro 19 - Prioridades das dimenses e variveis para o destino Paraty ... 195

    Quadro 20 Papel do governo local em matria de turismo . 204

    Quadro 21 Caractersticas das redes de atores .... 341

    Quadro 22 - Caractersticas das estruturas de governana .

    348

  • xxiv

  • xxv

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 1- Quantitativo dos inquritos administrados . 33

    Tabela 2 - Migrao para os municpios de Armao dos Bzios e de Paraty .. 213

    Tabela 3 - Avaliao do destino tursticos de Armao dos Bzios .. 286

    Tabela 4 - Avaliao do destino turstico de Paraty ... 288

    Tabela 5 - Correlao entre a avaliao de infraestruturas e servios e a satisfao

    com os destinos .. 289

    Tabela 6 - Atuao do governo local na percepo dos atores sociais entrevistados ... 321

  • xxvi

  • xxvii

    NDICE DE SIGLAS

    ABAV Associao Brasileira de Agncia de Viagens

    ABIH Associao Brasileira da Indstria de Hotis

    ACIE Associao dos Correspondentes da Imprensa Estrangeira

    AGE Auditoria Geral do Estado

    Arpa Associao de Artesos de Paraty

    BASA Banco da Amaznia S.A.

    BB Banco do Brasil

    BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

    BNB Banco do Nordeste Brasileiro

    BRAZTOA Associao Brasileira de Operadoras de Turismo

    BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

    CEF Caixa Econmica Federal

    CET Conselho Estadual de Turismo

    CLAD Centro Latino Americano de Administrao para o Desenvolvimento

    CNC Confederao Nacional do Comrcio

    CNN Cable News Network

    CNT Conselho Nacional de Turismo

    CNTUR Conselho Nacional do Turismo

    COGETURA Comit Gestor Estadual de Turismo Rural e Agroturismo

    COMBRATUR Comisso Brasileira de Turismo

    COMTUR Conselho da Cidade e Conselho do Turismo

    CONEMA Conselho Estadual de Meio Ambiente

    CONETUR Comisso Nacional de Entidades de Turismo

    CONRETUR Conselho de Turismo da Regio das Agulhas Negras

    DENATRAN Departamento Nacional de Trnsito

    DER-RJ Departamento de Estradas de Rodagem do Rio de Janeiro

    DNC Departamento Nacional do Comrcio

    DNER Departamento Nacional de Estradas de Rodagem

    DNI Departamento Nacional de Informao

    DT Diviso de Turismo

  • xxviii

    DTC Diviso de Turismo e Certames

    EBAPE/FGV Escola Brasileira de Administrao Pblica e Empresas

    EBTS Escritrios Brasileiros de Turismo

    EMBRATUR Empresa Brasileira de Turismo

    EMOP Empresa de Obras Pblicas

    FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador

    FCO Fundo Constitucional de Financiamento do Centro Oeste

    FECAB Frum das Entidades Civis de Armao dos Bzios

    FECAM Fundo Estadual de Conservao Ambiental e Desenvolvimento Urbano

    FEST/RJ Frum Estadual de Secretrios e Dirigentes Municipais de Turismo

    FGV/RJ Observatrio da Inovao do Turismo da Fundao Getlio Vargas

    FINAM Fundo de Investimentos da Amaznia

    FINOR Fundo de Investimentos do Nordeste

    FISET Fundo de Investimentos Setoriais

    FLIP Festa Literria Internacional de Paraty

    FMI Fundo Monetrio Internacional

    FORMATUR Formao de Recursos Humanos para Turismo

    FUNDTURISMO Fundo Municipal de Turismo

    FUNGETUR Fundo Geral para o Turismo

    FUNTUR Fundao Nacional do Turismo

    GDATUR Gratificao de Desempenho de Atividade da Embratur

    IBDF Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IBRATEC Instituto Brasileiro de Turismo, Exposies e Certames

    ICBC Instituto Casa Brasil de Cultural

    ICMBio Instituto Chico Mendes de Biodiversidade

    INEA Instituto Estadual do Ambiente

    IPHAN Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional

    IVT Instituto Virtual de Turismo

    MET Ministrio do Esporte e do Turismo

    MIC Ministrio da Indstria e do Comrcio

    MICT Ministrio da Indstria, do Comrcio e do Turismo

    MRE Ministrio Das Relaes Exteriores

  • xxix

    MTUR Ministrio do Turismo

    NGP Nova Gesto Pblica

    ONG Organizao (ES) No Governamental (IS)

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PAEG Plano de Ao Econmica do Governo

    PDITS Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentvel

    PED Programa Estratgico de Desenvolvimento

    PGE Procuradoria Geral do Estado

    PLANTUR Plano Nacional do Turismo

    PNMT Programa Nacional de Municipalizao do Turismo

    PNT Poltica Nacional de Turismo

    PNT Plano Nacional de Turismo

    PROATUR Programa de Apoio ao Turismo Regional

    PRODETUR Programa para o Desenvolvimento do Turismo

    PROECOTUR Programa para o Desenvolvimento do Ecoturismo na Amaznia Legal

    PRONATEC Programa Nacional de Acesso ao Ensino Tcnico e Emprego

    PRT Programa nacional de Regionalizao do Turismo

    SEA Secretaria de Estado do Ambiente

    SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

    SEC Secretaria de Estado de Cultura

    SECPLAN Secretaria de Estado de Planejamento e Controle

    SEFAZ Secretaria de Estado de Fazenda

    SENAC Servio Nacional de Aprendizagem Comercial

    SEOBRA Secretaria de Estado de Obras

    SESC Servio Social do Comrcio

    SETUR Secretaria de Estado do Turismo

    SISTUR Sistema Nacional de Turismo

    SPSS Statistical Package for Social Scienes

    SUDAM Superintendncia do Desenvolvimento da Amaznia

    SUDENE Superviso da Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste

    SUDEPE Superintendncia do Desenvolvimento da Pesca

    TIC Tecnologias de Informao e Comunicao

    UCE Unidade de Coordenao Estadual

  • xxx

    UEE Unidade Executora Estadual

    UFF Universidade Federal Fluminense

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

    UNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura

    UNICEF Fundo das Naes Unidas para Infncia

    USP

    Universidade de So Paul

  • 1

    INTRODUO

    As dcadas de 1980 e 1990 foram marcadas pela necessidade de proceder reforma do

    Estado como forma de superar a ineficincia na prestao dos servios sociedade em funo

    da incompatibilidade do aparato administrativo e a uma nova da sociedade (Bresser Pereira,

    1998).

    A globalizao juntamente com a crise financeira e a ineficincia do Estado que se

    tornou demasiado grande, passaram a questionar o papel estatal, devido a insatisfao com os

    governos que aumentou em funo de questes econmicas, sociais e polticas uma vez que o

    Estado no respondia as demandas da sociedade (Valls, 2000).

    A resposta dada encontrou suporte nas propostas neoliberais, em que os princpios do

    mercado se tornaram a linha condutora do neoliberalismo (Mayntz, 2001). Entretanto o

    Estado continuava com as crise relativa a sua capacidade diretiva, o que motivou a adoo da

    Nova Gesto Pblica (NGP) envolvendo a restruturao da administrao pblica com o

    intuito de reposicionar o papel do Estado a partir do iderio neoliberal.

    A nova gesto pblica gerou entre suas consequncias sociais o ressurgimento da

    sociedade civil e a formao do terceiro setor com redes de cooperao social e a reduo da

    capacidade diretiva do Estado que mudou a forma de governar.

    A governana como um novo estilo de governo, distinto do modelo de controle

    hierrquico e caracterizado por um modo mais cooperativo (Mayntz, 1998) passa a ser

    entendida como novos padres que emergem das atividades relativas ao processo de governo

    e tambm, empreendidas pelos atores sociais polticos e administrativos (Kooiman, 1993).

    No turismo, a participao dos atores sociais locais nos processos de planejamento e

    gesto ganhou eco nos estudos acadmicos, sobretudo a partir de 1985, com a obra de

    referncia Tourism: A Community Approach (Murphy, 2013) e com Inskeep (1991). De modo

    que a governana como uma nova forma de governar por meio de novos padres que

    envolvem a relao Estado-sociedade se fortalecem a partir de projetos que no apenas

    contemplam a participao social no turismo, mas a legitimam ao inclui-la nos processos

    decisrios.

    No Brasil, o termo governana bem como rede de atores, foi introduzido no Brasil por

    meio do Plano Nacional do Turismo (2003 2004) atravs do Programa de Regionalizao do

  • 2

    Turismo, que dentre suas etapas de implementao previa a instituio de uma instncia de

    governana regional com vista a organizar o turismo pelo recorte territorial da regio com a

    atuao dos atores regionais.

    Sendo, portanto, esse o contexto que disseminou o termo bem como seu uso no

    turismo no Brasil suscitando a necessidade de estudo que contribuam para a melhor

    compreenso conceitual do termo. Pois, Gurran et al (2007), Hall (2006), Nordin e Svensson

    (2007), Ness e Haugland (2005), e Gu e Wong (2008) citados por Ruhanen Scott, Rtichie e

    Tkaczynski (2010) identificaram que apesar dos estudos que encontraram em suas

    investigaes sobre governana em turismo, h uma tendncia em se limitarem a relatar os

    resultados de estudos de caso com aplicaes e configuraes especficas.

    Pelo que estabelecemos como objetivo central desta investigao conhecer at que

    ponto as instituies de governana turstica esto representando uma nova forma de tomar

    decises coletivas que melhore os destinos tursticos do Brasil ou se a denominao de

    estruturas de governana so apenas uma formula atrativa sem contedo.

    Pautamo-nos em documentos oficiais que incidiram sobre determinados territrios

    tursticos para eleger os estudos. Selecionamos armao dos Bzios e Paraty, dois destino

    indutores do turismo localizados no Estado do Rio de Janeiro, pois alm de atender ao

    critrios de escolha estabelecidos, como referido na metodologia, entendemos que por serem

    alvo da poltica nacional de turismo apresentariam, condies propcias para a realizao

    deste estudo.

    Ressaltamos que h vrias abordagens sobre a governana, entretanto a opo feita

    para esta investigao relaciona-se a cincia poltica, por ser a rea que mais se aproximou e

    aportou estudos tericos no sentido de pautar as anlises entre o papel do estado no turismo e

    a relao com o atores sociais que constitui principal objetivo desta investigao.

    Assim sendo, estruturamos esta tese buscando conferir coerncia apresentao do

    contedo acadmico-cientfico e emprico visando facilitar a compreenso e tambm ressaltar

    os pontos essenciais da tese. Pelo que a estruturamos em quatro partes que compreende oito

    captulos (Quadro 1) alm da introduo.

  • 3

    Partes Captulos

    MARCO METODOLGICO E

    TERICO

    Marco Metodolgico

    Marco Terico e Anlise Da Poltica Turstica

    ANLISE DA POLTICA TURSTICA

    Atuao em Matria de Poltica de Turismo na

    Esfera do Governo Federal

    A Poltica de Turismo no Estado do Rio de

    Janeiro

    A Poltica Municipal de Turismo em Armao

    dos Bzios E Paraty

    INVESTIGAO EMPRICA

    Os Casos de Estudo: anlise dos destinos, dos

    residentes e visitantes

    DISCUSSO E CONCLUSES

    Principais Resultados da Investigao: Entre a

    Hierarquia e a Governana

    Concluses

    Quadro 1 - Estrutura da tese.

    Fonte: Elaborao prpria, 2014.

    Na introduo apresentamos uma contextualizao do tema em estudo bem como a

    organizao estrutural do conhecimento terico e emprico. A Parte I Marco Metodolgico

    e Terico compem-se de dois captulos. No primeiro, apresentamos a justificativa da

    escolha do tema e dos casos de estudo, o problema, hiptese e objetivos evoluindo para a

    discusso terica acerca da pesquisa quantitativa e qualitativa uma vez que foram utilizadas

    para a recolha dos dados. A pesquisa quantitativa deu suporte a coleta de dados por meio de

    inquritos administrados aos residentes e visitantes, enquanto a coleta de dados qualitativa

    baseada no uso de entrevista semidirigida, permitiu a recolha de dados junto aos atores sociais

    do poder pblico, iniciativa privada, organizaes no governamentais e comunidades

    tradicionais. Os dados recolhidos por meio da entrevista foram tratados a partir da anlise de

  • 4

    contedo, nos direcionando as categorias chaves para a anlise da governana turstica nos

    destinos estudados.

    O segundo captulo traz o aporte terico que permite recuperar brevemente o papel do

    Estado e dos governos nos Pases Ocidentais e na Amrica Latina consistindo em percurso

    necessrio para os entendimentos iniciais que possibilitou chegar a abordagem conceitual da

    governana desde a relao Estado-sociedade. Ainda neste captulo, conceituamos a poltica

    turstica, apresentamos os seus instrumentos e a tendncia de evoluo do papel do Estado no

    turismo tendo em conta o contexto da sociedade contempornea e a importncia da

    coordenao governamental junto aos atores sociais para o xito da poltica turstica. No

    contexto da sociedade contempornea, os atores sociais ganham protagonismo em relao s

    decises das polticas pblicas e novas formas de governar so estabelecidas por meio da

    governana turstica multinvel e em rede desde que haja coordenao, cooperao e

    colaborao, conceitos tambm apresentados no captulo.

    A Parte II - Anlise da Poltica Turstica composta por trs captulos que

    apresentamos por meio de uma reconstruo histrica relativamente a atuao em matria de

    turismo nas esferas federal, estadual e municipal. Ressaltamos que adotamos o percurso de

    anlise da poltica turstica a partir dos instrumentos organizativos, normativos,

    programticos, de fomento bem como as aes de comunicao e promoo, alm da

    formao e investigao, para os trs nveis governamentais, pelo que se constituiu uma

    abordagem terico-metodolgica de anlise a partir do segundo captulo da tese.

    Neste sentido, iniciamos o terceiro captulo com breves notas introdutrias sobre o

    turismo e a poltica turstica no Brasil de 1930 a 2010 em que apresentamos um quadro

    resumo com os instrumentos da poltica a escala nacional. O referido perodo foi

    desmembrado em dois, como forma de diferenciar os regimes polticos instalados no pas. De

    1930 a 1989, denominamos - da centralizao autoritria a transio para a democracia - e de

    1990 a 2010, o Brasil passou a adotar uma forma de governar mais descentralizada e

    participativa, em que tem lugar a governana. Dentre os instrumentos programticos

    destacamos o Programa Nacional de Municipalizao do Turismo (1995 2002) e o

    Programa de Regionalizao do Turismo (2003 2010), por terem sido os programas

    estruturantes da poltica e por marcarem a abordagem territorial do turismo em detrimento da

    abordagem setorial que predominou durante, praticamente, todo o sculo XX.

    O quarto e o quinto captulo, seguem o percurso terico-metodolgico utilizado para

    analisar a poltica federal. Entretanto, o quarto est voltado para o Estado do Rio de Janeiro e

    o quinto para os municpios que integram os casos de estudo. De maneira que, os

  • 5

    instrumentos organizativos, normativos, programticos e de fomento como as aes de

    comunicao e promoo e de formao e investigao, so analisadas de acordo com o

    material disponvel em cada uma das escalas territoriais em causa, o estado e o municpio.

    Focamos o recorte temporal empregado para o estado e municpios na transio para a

    democracia, isto , a partir de 1986, inclusive, pois, anteriormente, com a centralizao

    autoritria e os municpios tinham pouca autonomia poltica e econmica, pelo que no havia

    muitas aes municipais para o desenvolvimento turstico.

    Nos dois captulos Enfatizamos o programa nacional de municipalizao e o programa

    de regionalizao do turismo devido a importncia que tiveram no contexto da poltica

    nacional de turismo tendo em vista analisar a implementao destes programas nos territrios

    estudados.

    A Parte III Investigao Emprica composta pelo sexto captulo e caracteriza

    territrios que compreendem os casos de estudo. Utilizamo-nos dos conhecimentos da

    geografia para proceder caracterizao scio geogrfica e tambm apresentar breve notas

    sobre a ocupao do territrio desde o descobrimento do Brasil at o sculo XXI, dada a

    importncia histrica e econmica bem como pela necessidade de recuperar os primrdios do

    turismo buscando subsdios para suportar as anlise relativamente a incidncia das polticas

    nacionais nos territrios municipais estudados. Do incio at a primeira metade do sculo XX,

    a falta de infraestrutura de acesso foi preponderante manter isolamento durante dcadas. A

    situao se reverteu nos anos 1970, influenciado pelo projeto de integrao nacional, que

    motivou dentre outros projetos, a construo da BR 101 ligando o Rio de Janeiro a Santos

    pelo litoral, passando por Paraty, bem como a construo da Ponte Costa e Silva Ponte Rio-

    Niteri superando a barreira natural imposta pela Baa da Guanabara conectando a Regio

    dos Lagos a capital.

    A segunda metade do sculo XX um perodo de apropriao em que se tem incio o

    processo de produo e consumo bem como de turistificao dos territrios estudados, em

    uma tendncia de consolidao, sobretudo a partir dos anos 1990 e da primeira dcada do

    sculo XXI. Para complementar a caracterizao dos territrios, procedemos a pesquisa com

    os residentes e visitantes com o intuito de apreender as percepes relativamente ao turismo.

    Por fim, a Parte IV Discusso e Concluses, apresenta no stimo captulo os

    principais resultados da investigao. Os resultados revelaram a atuao do poder pblico e

    como se organizam os atores polticos e sociais em matria de turismo nos destinos estudados

    assim como problemas e desafios a serem superados. O oitavo captulo, alm de apresentar as

  • 6

    concluses a partir do problema, hiptese e objetivos indica eventuais caminhos a serem

    seguidos em investigaes tenham como esta temtica como ideia central

  • 7

    PARTE I MARCO METODOLGICO E TERICO

  • 8

  • 9

    1. MARCO METODOLGICO

    1.1. Justificao da Escolha do Tema e dos Casos de Estudo

    A escolha do tema tem relao com vrios fatores. Identificamos na literatura

    internacional relacionada a turismo e governana algumas lacunas que deveriam ser

    preenchidas com estudos de validade cientfica no sentido de melhor compreender e a relao

    Estado-sociedade bem como as novas formas de governo que envolve a participao dos

    atores organizados em redes, cuja atuao resulta de processo de cooperao e, sobretudo, de

    colaborao. Pelo lado do Estado a mudana na forma de atuar, em que tem lugar

    coordenao vertical e horizontal.

    No Brasil, o termo governana comeou a ser utilizado no turismo a partir de 2003,

    com o programa de regionalizao do turismo, em que um de seus mdulos operacionais

    previa a instituio de uma instncia de governana regional disseminando o uso do termo.

    Nessas instncias os atores sociais atuariam por meio de redes. Entretanto, nos documentos

    oficiais observamos um enfoque do uso rede mais como um instrumento de comunicao, do

    que uma forma de colaborao conjunta em favor e um interesse coletivo relativo ao

    desenvolvimento de destinos tursticos.

    O uso do termo governana passou a ser figura nos trabalhos cientficos relacionado

    direta ou subliminarmente a participao e tambm, em alguns estudos aplicados a conselhos

    de turismo. Identificamos a partir do uso a necessidade de um respaldo terico pelo que nos

    suscitou o interesse acerca do termo e da abrangncia do tema.

    Uma vez escolhido um tema cuja pertinncia justificava uma investigao doutoral,

    partimos para o processo de tomada de deciso acerca de um territrio que pudesse ser o

    objeto da pesquisa. De partida tnhamos o territrio estadual do Rio de Janeiro, tendo em vista

    que desde 2006 a trajetria acadmica da investigadora est vinculada a uma instituio

    pblica de ensino superior ensino nesse estado.

    nesse estado, Rio de Janeiro, que se localiza o principal destino de lazer do pas com

    30% da demanda turstica internacional (Brasil, 2009). Entretanto, a expressividade das

    produes acadmicas de mestrado e doutorado sobre o turismo inversamente proporcional

    sua importncia turstica, como pode ser comprovado nas estatsticas relativas ao turismo

  • 10

    receptivo internacional (MTur, 2013b) em que 29,6% do turistas estrangeiros visitam o

    destino por lazer. Motivo que reforou o interesse pelo tema nesse territrio.

    Para delimitar o territrio com mais acuidade voltamos o olhar para os destinos

    tursticos do Estado do Rio de Janeiro e com o apoio de documentos oficiais nacionais como o

    Estudo de Competitividade de Destinos Tursticos e o Estudo da Demanda Turstica

    Internacional, e estadual como o Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo

    Sustentvel (PDITS), documento de referncia do Prodetur/RJ, e municipal como os

    instrumentos legais que instituram os conselhos municipais, pelo que estabelecemos alguns

    critrios: ser territrio alvo da ao da poltica nacional e estadual de turismo, ter relevncia

    em relao visitao internacional, figurar entre os destinos indutores de turismo e ter o

    turismo como principal dinmica econmica. Os critrios adotados nos revelaram dois

    territrios de estudo, a saber: Armao dos Bzios e Paraty (Quadro 2).

    Critrios Armao dos Bzios Paraty

    Estudo de Competitividade x x

    Destinos mais visitados pela

    demanda turstica interacional x x

    Prodetur/RJ x x

    Dinmica econmica x x

    Ter estruturas de Governana x x

    Quadro 2 - Critrios para escolha do territrio de estudo.

    Fonte: Elaborao prpria, 2014.

    Angra dos Reis, tambm atendeu aos critrios, entretanto, apresentou populao

    superior a 100 mil habitantes, economia pautada nos servios e na indstria, e o territrio

    turstico dividido em parte continental e insular. Pelo que optamos por Armao dos Bzios e

    Paraty, por apresentarem caractersticas populacionais, 27.560 e 37.533 habitantes,

    respectivamente, e econmicas semelhantes com PIB oriundo da indstria1 e servios - e

    estarem em estgios de desenvolvimento turstico diferentes enriquecendo o estudo.

    Os critrios foram associados possibilidade de que tais territrios, alvo da poltica

    nacional e estadual, pudessem estar mais bem organizados pelo lado institucional bem como

    1 O PIB Industrial oriundo da indstria de construo civil e de royalties do petrleo.

  • 11

    dos atores sociais locais. Alm dos critrios supracitados, Paraty integra o Programa

    Destinos Referncia em turismo cultural.

    Identificamos a seguir a localizao do Estado do Rio de Janeiro e os territrios de

    estudo (Mapa 1).

    Mapa 1 - Estado do Rio de Janeiro, Armao dos Bzios e Paraty em relao ao Brasil.

    Fonte: Elaborado a partir do CEPERJ, 2014.

    A partir da escolha do tema e da delimitao do territrio, procedemos a delimitao

    do problema, as hipteses e os objetivos.

    1.2. Problema e Hipteses

    O turismo um fenmeno relativamente novo que tem como mbito bsico de

    desenvolvimento um espao territorial concreto que denominamos destino. Nos ltimos anos,

    em consonncia com a prpria evoluo do fenmeno, o conhecimento sobre a prpria forma

  • 12

    de evoluo de gerir os destinos tambm avanou no sentido de melhor responder a este

    desafio.

    Sabemos que os destinos so espaos territoriais que geralmente, no correspondem s

    demarcaes polticos-administrativas. Sabemos que o papel dos atores pblicos

    fundamental para o desenvolvimento adequado dos destinos tursticos, ainda que sejam os

    atores os atores privados os que dominam a iniciativa econmica e social. Tambm sabemos

    que a forma de tomar decises coletivas esta experimentando um processo de mudana

    prprio.

    Esta a ideia de partida da presente investigao. uma investigao que se apropria

    da poltica turstica com a pretenso de observar como esto funcionando as estruturas de

    governana fomentadas por alguns destinos tursticos brasileiros. Por conseguinte, o contexto

    terico bsico da poltica turstica e da governana turstica, com especial enfoque para a rede

    de atores.

    Depois de longo perodo de ditadura, Brasil, se apoiando na Constituio de 1988,

    inicia uma mudana nas estruturas encarregadas de tomar as decises coletivas. Por um lado

    trata de aproximar as decises ao territrio, atravs de um processo de descentralizao

    administrativa, e por outro trata de abrir as estruturas de decises a atores da sociedade civil,

    atravs de mecanismos de participao.

    Este caminho se v determinado pelo prprio conceito ideolgico que marca qual o

    papel que deve assumir o Estado. Na dcada de 1990 as polticas neoliberais impostas pelo

    consenso de Washington prope um Estado mnimo, centrado na melhoria do mercado. No

    sculo XXI em modelos mais prximos a ideia do novo desenvolvimentismo, na que o Estado

    e mercado so fortes y se complementam.

    Tanto os anos da dcada de 1990, como nos anos da dcada de 2000 o Estado

    estabelece uma nova dinmica de relaes com a sociedade e implementa mecanismos que

    permitem uma maior participao da sociedade civil e das comunidades nas decises e

    formulao de polticas pblicas.

    Estas questes influenciaram diretamente no desenvolvimento e gesto do turismo nos

    destinos brasileiros, posto que o turismo objeto de interveno pblica, atravs de polticas e

    programas especficos, durante todo o perodo.

    De uma maneira muito breve indicamos como, de maneira sucessiva, a interveno em

    matria de turismo tem passado por vrias fases. Inicialmente a poltica turstica foi liderada

    pelo governo federal; aproximou-se e a nvel municipal por meio dos mecanismos de

    descentralizao e fortalecimento dos governos locais. Em um momento posterior, se

  • 13

    potencializou o nvel regional por meio do programa de programa de regionalizao e,

    finalmente, se imps uma estratgia de trabalhar desde uma perspectiva de governo multinvel

    e incorporando a distintos atores atravs das instituies de governana.

    O objetivo das instituies de governana, em coerncia com seu prprio nome,

    deveria ser aumentar a governana turstica no espao territorial onde estes instituies tm

    capacidade de interveno legtima.

    A ideia de governana implica uma mudana nas estruturas de tomada de decises

    coletivas que, supe, principalmente, a abertura do processo a mais atores sociais. Isto implica

    no apenas uma maior participao, seno uma maior diferenciao dos agentes interessados

    que se apresentam para os processos de elaborao e gesto das aes pblicas.

    De que modo as aes relativas poltica turstica tem impulsionado a governana nos

    destinos de Armao dos Bzios e Paraty?

    Para responder ao problema trabalhamos com duas hipteses:

    A poltica turstica nacional tem sido suficiente para impulsionar a criao de

    estruturas de governana estveis, nas quais participam diferentes atores interessados e

    em se trabalhar sobre os distintos temas ou dimenses que implicam o fenmeno do

    turismo.

    A poltica turstica nacional no tem sido suficiente para impulsionar a criao de

    estruturas de governana estveis, nas quais participam diferentes atores interessados e

    em se trabalhar sobre os distintos temas ou dimenses que implicam o fenmeno do

    turismo.

    O desenho da investigao estabelece relao entre uma varivel dependente, que seria

    o processo de governana em si mesmo, com trs variveis independentes. A primeira

  • 14

    varivel independente faz referncia existncia e qualidade do funcionamento de instituies

    que permitem que se desenvolvam novos espaos de tomada de decises coletivas. A segunda

    varivel independente o nmero e a variedade de atores que esto de fato participando nos

    processos de deciso coletiva sobre turismo nos destinos. A terceira varivel independente o

    mbito dos temas sobre os que se tomam decises coletivas, relacionado com o conjunto de

    temas e dimenses que constituem o fenmeno do turismo.

    1.3. Objetivos

    Considerando os argumentos relativamente a necessidade de estudos relacionados ao

    tema da governana, a poltica turstica que pretende estimular a gesto dos destinos por meio

    das instancias de governana e das redes de atores bem como a importncia turstica do

    Estado do Rio de Janeiro e dos destinos escolhidos, o objetivo geral desta tese :

    VD.

    PROCESSOS

    DE

    GOVERNANA

    Vi

    1

    . Existncia e qualidade do

    funcionamento das instituies de

    Governana Turstica

    Vi2

    . Nmero e a variedade de atores que

    participam

    Vi

    3

    . mbito dos temas sobre os que se

    tomam decises coletivas

  • 15

    Analisar se as instituies de governana impulsionadas pela poltica turstica esto

    representando uma nova forma de tomar decises coletivas com vistas a melhorar a

    gesto dos destinos tursticos de Armao dos Bzios e de Paraty.

    Para alcanar o objetivo geral elegemos os seguintes objetivos especficos:

    1. Compreender as mudanas no papel do Estado a respeito do turismo, passando de uma

    funo meramente de ordenao a uma funo de coordenao;

    2. Conhecer a evoluo da poltica de turismo nos trs nveis de competncia: nacional,

    estadual e municipal;

    3. Analisar os principais instrumentos da poltica turstica, para ser capaz de entender

    como tem sido a adaptao da poltica sobre novas demandas de participao e

    governana;

    4. Refletir sobre o termo da governana turstica, suas implicaes e usos a partir da

    perspectiva do governo;

    5. Compreender se as polticas de turismo influenciam ou no na organizao de

    instituies e na participao de distintos atores, no desenho e implementao de

    planos e programas concretos;

    6. Selecionar dois destinos tursticos que compartilham algumas caractersticas que

    permita comprovar e se diferenciam em outras para enriquecer a anlise; e

    7. Caracterizar o territrio dos municpios estudados para entender a relao do turismo

    com a sociedade local, sua importncia relativa e seu peso nas decises dos

    municpios.

  • 16

    Para responder a questo de partida e atingir os objetivos definidos, nos apoiamos em

    maro terico conceitual da cincia poltica, geografia, turismo e estudos multidisciplinares

    que nos oriento tambm, na concepo metodolgica da investigao.

    1.4. A Pesquisa Quantitativa e Qualitativa em Turismo

    corrente nas Cincias Sociais e Humanas a discusso acerca do tipo de pesquisa a

    ser utilizado em determinado estudo: pesquisa qualitativa ou quantitativa. No turismo,

    tambmes h vrios trabalhos que discutem a pesquisa qualitativa versus quantitativa ou

    mesmo o uso de ambas como Xin, Tribe & Chambers (2013), Riley & Love (2000) e Walle

    (1997).

    O turismo no Brasil sob o ponto de vista de estudo cientfico um fato recente, por

    isso, a discusso a respeito de abordagens metodolgicas somente agora comea a se

    consolidar no meio acadmico (Panosso Netto, 2005). Exatamente por seu carter de

    novidade, os estudos so maioritariamente exploratrios seguidos pelos estudos descritivos

    (Rejowski, 1997), como identificado por Cooper (2003).

    Ainda no Brasil, autores como Santos & Rejowski (2013), Rejowski, (2010, 1997, 1993),

    Oliveira & Rejowski (2008), Biz et al. (2008), Spolon e Motoda (2008), Bastos (2008, 2005) Bastos

    & Fedrizzi (2007, 2006), Fedrizzi (2008), Figueiredo, Bacon e Rejowski (2007), Panosso

    Netto (2007), Hocayen-da-Silva & Gndara (2007), Galvo Filho & Huertas Calvente (2006),

    Leal (2006), Eidt (2004) e Sakata (2002) analisaram as publicaes oriundas de revistas

    cientficas, dissertaes e teses de programas stricto sensu e base de dados, com intuito de

    mapear os temas mais estudados, palavras-chave mais utilizadas, reas em que os trabalhos

    so produzidos, peridicos, nmero de publicaes especializadas, revistas cientficas e

    eventos mais citados.

    Os resultados dessas investigaes revelaram que as pesquisas quantitativas so

    realizadas mais nas universidades pblicas (Rejowiski, 1997), enquanto um nmero

    significativo de artigos relata pesquisas que fazem uso do mtodo qualitativo, com

    predominncia do estudo de caso (Sakata, 2002; Eidt, 2004; Hocayen-da-Silva & Gndara,

    2007).

    Para a Organizao Mundial do Turismo (OMT, 2001), o processo de investigao

    em turismo se configura por meio do conjunto de mtodos emprico-experimentais,

    procedimentos, tcnicas e estratgias para obter um conhecimento cientfico, tcnico e prtico

  • 17

    dos factos e realidades tursticas (p. 5), portanto, contempla os mtodos qualitativos e

    quantitativos.

    Conceitualmente, a pesquisa [qualitativa] centra-se na anlise de factos fenmenos

    observveis e na medio/avaliao de variveis comportamentais e/ou scio afetivas

    passiveis de serem medidas, comparadas e/ou relacionadas no decurso do processo da

    investigao emprica (Coutinho, 2011, p.24).

    No entendimento de Fortin (2009), a partir da livre traduo de Dezin e Lincoln

    (1994), o mtodo qualitativo estuda e interpreta fenmenos baseando-se nos significados que

    os participantes do a estes mesmo fenmenos (p. 29), sendo de fundamental importncia

    para o estudo das relaes sociais, dada a pluralidade dos universos de vida (Flick, 2013, p.

    2).

    Nesse sentido e com em base em Minayo e Sanches (1993) podemos afirmar que o

    material primordial da investigao qualitativa a palavra que expressa a fala cotidiana, seja

    nas relaes afetivas e tcnicas, seja nos discursos intelectuais, burocrticos e polticos (p.

    245), revelando condies estruturais, de sistemas de valores, normas e smbolos

    transmitindo as representaes de grupos determinados em condies histricas,

    socioeconmicas e culturais especificas (p, 245)

    Na investigao qualitativa a amostragem no prioriza a representatividade

    estatstica, mas contempla pessoas que vivenciaram o fenmeno estudado e toda a informao

    pertinente recolhida junto aos participantes por meio de entrevistas e/ou observaes

    participantes, podendo o resultado final gerar novas teorias (Coutinho 2011).

    Na investigao quantitativa, por seu turno, o pesquisador escolhe uma amostra

    representativa da populao e determina seu tamanho, previamente, para proceder coleta de

    dados. Os instrumentos, geralmente questionrios e/ou formulrios, so definidos e aplicados

    aos participantes e os ajustes, quando necessrios, so anteriores a sua aplicao. O resultado

    final expresso em valores numricos que permitem ao investigador confirmar ou no a

    hiptese do estudo e generalizar os dados para outras populaes e contextos (Coutinho,

    2011; Fortin, 2009). As principais diferenas entre a pesquisa quantitativa e qualitativa so

    elencadas na Quadro 3.

  • 18

    Pesquisa Quantitativa Pesquisa Qualitativa

    Utiliza-se do campo de prticas com a finalidade de

    trazer luz dados, indicadores e tendncias

    observveis.

    Deve ser utilizada para abarcar, do ponto de vista

    social, grandes aglomerados de dados, de conjuntos

    demogrficos, por exemplo, classificando-os e

    tornando os inteligveis atravs de variveis.

    Procura-se aprofundar a complexidade de

    fenmenos, fatos e processos particulares e

    especficos de grupos mais ou menos

    delimitados em extenso e capazes de serem

    abrangidos intensamente..

    Trabalha-se com uma amostra representativa da

    populao e determina o tamanho da amostra antes

    da coleta de dados

    Trabalha-se com pessoas que viveram o

    fenmeno, que objeto do estudo.

    Os instrumentos de coleta de dados so definidos e

    aplicados aos participantes

    Toda informao pertinente recolhida junto

    aos participantes at a saturao dos dados. A

    coleta feita por meio de entrevistas e

    observao participante.

    O tratamento dos dados fornece valores numricos,

    que permitem ao investigador confirmar ou no a

    hiptese.

    O tratamento dos dados fornece dados

    qualitativos que permitem resumir, sob forma

    narrativa, a informao colhida junto aos

    participantes.

    O desenho da pesquisa estruturado, sistemtico e

    replicvel

    Desenho da pesquisa no estruturado

    Foca-se em variveis Foca-se em temas

    Anlise estatstica Anlise baseada em temas e motivos

    Quadro 3 - Diferenas entre o uso da pesquisa quantitativa e qualitativa.

    Fonte: Jennings, 2011, p. 130; Fortin, 2009, p. 28; Minayo & Sanches, 1993, p. 247.

    Na definio metodolgica de um trabalho de investigao devemos levar em conta o

    problema da pesquisa (Coutinho, 2011; Strauss & Corbin, 1998) e a afinidade do

    investigador.

    A pesquisa qualitativa em turismo considerada pela Organizao Mundial de

    Turismo (OMT) (2001) como uma forma sistemtica passvel de interpretar a realidade e

    compreender o fenmeno turstico, alm de ser uma estratgia usada para responder a

    questes sobre os grupos, comunidades e interaes humanas, e tem uma finalidade descritiva

    dos fenmenos de interesse ou previso dos fenmenos tursticos, ou dos comportamentos

    humanos e a sua relao com o turismo (OMT, 2001, p. 12).

    Porm, suas orientaes concentram-se, sobremaneira, na pesquisa quantitativa por

    ser esta capaz de aferir e comprovar a importncia do turismo como atividade econmica,

    bem como medir os comportamentos da demanda e do mercado turstico.

    Nesse sentido, h uma interao positiva entre o uso do mtodo quantitativo e

    qualitativo, no sentido de complementar e conjugar os resultados da investigao proposta,

    pois do ponto de vistas metodolgico, no h contradio, assim como no h continuidade,

  • 19

    entre investigao quantitativa e qualitativa. Ambas so de natureza diferente (Minayo &

    Sanches, 1993, p. 247).

    Os dados qualitativos podem ser considerados para moldar a entidade a ser estudada,

    uma vez que reconhece o instrumento humano como formador de um contexto de mltiplas

    realidades no qual o fenmeno se insere. Assim, o mundo real visto com detentor de vrias

    realidades, e no uma verdade absoluta e nica. (Davies, 2003).

    Dessa forma, articular os resultados qualitativos e quantitativos proporciona a

    obteno de um conhecimento mais alargado sobre o assunto em estudo quando comparado a

    uma nica abordagem (Flick, 2005). Partindo do princpio que a investigao qualitativa e

    quantitativa no so opostos inconciliveis, cuja combinao tenha que se evitar (Flick,

    2005, p. 41).

    Sendo assim, a articulao de ambos a opo metodolgica que melhor se adequa

    aos objetivos propostos, permitindo ao investigador acercar-se do seguinte desenho de

    investigao (Figura 1).

    Considerando a abordagem acerca do uso da pesquisa qualitativa e quantitativa na

    pesquisa em turismo e em concordncia com os objetivos deste estudo foi definida a opo

    metodolgica que elegeu o uso de inquritos por questionrio de administrao indireta e por

    entrevista semidirigida, com a finalidade de gerar base de dados quantitativos e qualitativos

    que se complementem, proporcionando uma anlise mais completa acerca da governana e da

    participao dos atores sociais nas decises relativas poltica de turismo na escala local.

    Assim, optamos pela pesquisa com desenho exploratrio-descritivo.

  • 20

    Teoria

    Definio de

    objetivos

    Induo

    Reviso das pesquisas anteriores e busca bibliogrfica

    Deduo

    Definio: Do tema, do territrio, de

    conceitos, variveis e hipteses

    Formao de

    conceitos

    Seleo do processo de

    investigao

    Examinar recursos

    materiais, humanos e

    financeiros.

    Reviso das informaes necessrias

    Necessidade de realizao de pesquisa

    Pesquisa Qualitativa

    Entrevista

    Pesquisa Quantitativa

    Inqurito por questionrio

    Desenho dos

    instrumentos de coleta

    de dados

    Entrevista semidirigida

    Desenho dos

    instrumentos de coleta de

    dados

    Questionrio para

    residentes e visitantes

    Amostragem

    No probabilstica

    Escolha racional ou Bola

    de Neve

    Amostragem

    Probabilstica

    Aleatria

    Pr-teste

    Ajuste no instrumento de coleta de dados

    Pesquisa

    Aplicao dos instrumentos de coleta de dados

    Transcrio Medio e

    tabulao

    Generalizao

    emprica

    Anlise

    Qualitativa Anlise de Contedo

    Quantitativa - Descritiva

    Concluses

    Ao

    Figura 1 - Desenho da investigao .

    Fonte: adaptado de Sancho et al. (1998) citado por OMT (2001).

  • 21

    1.5. A Recolha dos Dados e Informaes

    1.5.1. O Percurso Terico e Desenho da Investigao

    A reviso da literatura consiste na realizao de um levantamento exaustivo que resulta na

    sntese da produo do conhecimento cientifico na rea de estudo. A reviso de literatura no

    estanque e pode ser feita durante todo o processo de investigao at a elaborao do documento final,

    ocupando-se de diferentes objetivos, de acordo com a fase da investigao em que se encontra.

    Inicialmente, a reviso da literatura tem como finalidade aportar conhecimentos relativamente

    rea temtica, bem como preencher as lacunas que necessitam ser superadas para melhor

    compreenso do assunto. Com o processo de investigao em curso, a revista da literatura

    pode contribuir para repensar o posicionamento terico ou mesmo a incorporao de novos

    estudos que tenham impacto na investigao em causa. Na elaborao do documento final, a

    reviso da literatura contribui para a introduo e contextualizao do tema e da investigao,

    fornecendo suporte terico e metodolgico para se proceder anlise dos resultados.

    por meio da reviso de literatura que se identificam os conceitos, os incorpora e os

    relaciona ao contexto da investigao. medida que a investigao evolui sob o ponto

    terico, os componentes do mapa conceitual sistematizado so reorganizados e

    reinterpretados, culminando com uma reflexo contributiva para o estado da arte sobre o

    assunto em questo. Concomitantemente, contribui para o delineamento emprico

    relativamente s questes, mtodos e tcnicas a serem utilizados.

    No presente estudo, ao abordar o tema da governana pelo vis da relao Estado-

    sociedade e as estruturas participativas de governana buscamos respaldo terico, sobretudo,

    na cincia poltica, na rea do turismo e nos estudos organizacionais. Esse procedimento

    permitiu proceder ao recorte terico dos constructos correlacionados ao conceito de

    governana, incluindo: papel do Estado em elao ao turismo, poltica turstica,

    governana turstica, governana multinvel, coordenao, cooperao e colaborao, alm

    da governana em redes (Figura 2).

  • 22

    Figura 2 - Conceitos relacionados governana.

    Fonte: Elaborao prpria, 2014.

    Uma vez que os conceitos tericos relativos governana no se mostraram

    suficientes para compreender a dinmica turstica dos territrios estudados, procedemos

    reviso da literatura, no sentido de caracterizar o territrio a partir dos atrativos, infraestrutura

    , residentes e visitantes. Devemos registrar que a literatura oriunda da geografia foi a que mais

    contribuio aportou para essa parte do estudo, considerando-se ainda que as reas da cincia

    poltica, estudos organizacionais e turismo tambm se mostraram relevantes (Figura 3).

    Figura 3 - reas temticas da reviso da literatura.

    Fonte: Elaborao prpria, 2014.

    Geografia

    Atrativo turstico

    Cartografia

    Destino

    Infraestrutura

    Territrio

    Ordenamento

    Cincia Poltica

    Papel do Estado

    Governana

    Governana

    Multinvel

    Rede de atores

    Turismo

    Poltica Turstica

    Turismo

    Visitante

    Turista

    Estudos aplicados

    sobre governana

    Conceitos multidisciplinares

    Coordenao, Cooperaao e Colaborao

  • 23

    No estudo pormenorizado realizado na reviso de literatura, constitumos o quadro

    terico que permitiu mapear alguns percursos para a conduo da investigao, bem como

    para delinear as perguntas a serem feitas s pessoas que seriam entrevistadas. Consideramos

    os autores que estudam a governana, como tambm a aplicao desse conceito nos estudos

    do turismo, alm da poltica pblica de turismo no Brasil. Esse esforo de investigao

    resultou na elaborao dos captulos tericos sobre o estado da arte na governana do turismo

    e na descrio e anlise da poltica pblica no Brasil. Ressaltamos que as perguntas que

    integram a entrevista semidirigida foram elaboradas levando-se em conta os pressupostos

    tericos estudados.

    1.5.2. O Inqurito por Questionrios e a Recolha dos Dados Empricos Junto aos

    Residentes

    O questionrio um instrumento de colheita de dados que exige do participante

    respostas escritas a um conjunto de questes (Fortin, 2009, p. 380) cujo objetivo recolher

    informao factual sobre acontecimentos ou situaes conhecidas, sobre atitudes, crenas,

    conhecimentos, sentimentos e opinies (p. 380).

    A opo pelo uso do questionrio se deu pelo fato de ser este apropriado para recolher

    informaes a respeito de atitudes opinies e comportamentos, alm de apresentar

    flexibilidade no que diz respeito a sua estrutura e tambm a sua aplicao (Fortin, 2009),

    justificando-se, pois, seu emprego na recolha dos dados referentes aos residentes dos destinos

    estudados. Com a aplicao dos questionrios intentamos:

    1. Caracterizar o perfil demogrfico e socioeconmico dos residentes;

    2. Analisar o envolvimento/dependncia em relao ao turismo, seja pela atividade

    profissional, remunerao e/ou pessoas da famlia empregadas em atividades

    caratersticas do turismo;

    3. Avaliar a percepo dos residentes sobre os efeitos positivos e negativos do

    turismo, bem como sua atribuio ou no responsabilidade do poder pblico

    local;

    4. Verificar a participao da comunidade nas entidades relacionadas ao turismo; e

  • 24

    5. Identificar o conhecimento das pessoas em relao s entidades que representam o

    turismo localmente.

    Considerando os objetivos relativos pesquisa realizada com os residentes,

    construmos o inqurito (Anexo I), organizando-o em trs etapas de maneira a contemplar: o

    perfil do inquirido a partir da idade, gnero, estado civil e escolaridade2; o perfil profissional,

    considerando a situao profissional, ocupao profissional ligada ao turismo, a existncia de

    mais pessoa na famlia empregada em atividades caracterstica do turismo, a renda mdia

    mensal familiar e individual; e questes sobre a poltica de turismo e a responsabilidade do

    poder pblico na atribuio de efeitos positivos e negativos do turismo.

    No que se refere forma, as perguntas formuladas so do tipo fechadas e abertas, com

    respostas dicotmicas, de mltipla escolha e escalar, enquanto as respostas abertas, previam a

    coleta de informaes relacionadas percepo individual do inquirido a ser expressa por sua

    livre iniciativa, ou seja, sem nenhum direcionamento na resposta.

    Os dados dos inquritos constituram uma base de dados que permitiu analisar o perfil

    socioeconmico, bem como a relao com o turismo, seja por meio do trabalho exercido por

    si ou por algum da famlia em atividades caractersticas do turismo3, seja pela percepo que

    depreendem sobre os efeitos positivos e negativos do turismo, assim como a participao e o

    conhecimento das instituies e organismos que dialogam sobre o turismo. A anlise desses

    dados possibilitou estabelecer conexes entre as variveis no sentido de melhor compreender

    a relao dos residentes com o turismo.

    A informao gerada por meio da aplicao do questionrio foi transferida para o

    Statistical Package for Social Scienes (SPSS), possibilitando o tratamento estatstico das

    variveis, tendo em vista os objetivos elaborados para o estudo no mbito da pesquisa com os

    residentes.

    Destacamos que foi utilizado o conceito de morador4 considerado pelo Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) no censo demogrfico 2010. No que se refere ao

    conceito de residente, ressaltamos que foi solicitado ao inquirido que considerasse em suas

    respostas o conceito de turismo adotado como orientao para a pesquisa. Assim, foi

    apresentado o conceito em que turismo pode ser entendido como o conjunto dos fenmenos

    2 Refere-se aos anos de estudo.

    3 Ver trabalho do IPEA (2012) sobre ocupao no turismo em que define as atividades caractersticas do turismo

    (Alojamento, Alimentao, Agncias de Viagem, Transporte Areo, Transporte Terrestre, Transporte

    Aquavirio, Aluguel de Transporte e Cultura e Lazer). 4 Morador no mbito desta investigao a pessoa que tem o domiclio como local habitual de residncia,

    inclusive migrantes que acabaram por fixar residncia nos limites territoriais do muncipio.

  • 25

    e as relaes que tm lugar devido interao dos turistas, empresas, governos e comunidades

    anfitris no processo de atrao e hospedagem destes turistas e de outros visitantes

    (Goeldner, Brent& McIntosh, 2002, p. 30).

    O espectro da administrao do inqurito aos moradores contemplou pessoas a partir

    dos 18 anos, considerando a possibilidade de estarem no mercado de trabalho e com uma

    percepo, mesmo que mnima, sobre o turismo. Essa opo tambm foi baseada no pr-teste

    do instrumento de coleta de dados, que ao abordar pessoas na faixa etria dos 15 anos no

    obteve respostas s perguntas relativas renda mdia familiar, efeitos positivos e negativos do

    turismo e sobre as instituies e organizaes existentes na cidade que esto relacionadas ao

    turismo.

    A pesquisa foi realizada nas cidades litorneas de Paraty e em Armao dos Bzios,

    ambas localizadas no Estado do Rio de Janeiro. A administrao do inqurito foi feita por

    pesquisadores5 devidamente treinados e ocorreu em locais fixos ou em deslocamento

    conforme o horrio, o fluxo e o bairro.

    Na rea urbana e Paraty (Mapa 2), a pesquisa foi administrada nos seguintes bairros:

    Centro Histrico, Cabor, Chcara, Jabaquara, Patitiba, Pontal, Porto de Ferro I e II, Ilha das

    Cobras e Recanto da Mangueira. Sendo que a escolha da estao rodoviria intermunicipal

    como um dos locais de abordagem e aplicao do inqurito, foi realizada por ser um local de

    partida e de chegada dos meios de transportes que atendem aos ncleos urbanos isolados.

    Como h ncleos urbanos isolados e aglomerados rurais (Mapa 3), nos quais o nico

    meio de acesso por via martima, os pesquisadores se localizaram estrategicamente

    prximos ao cais turstico com a finalidade de abordarem moradores que se deslocaram para a

    sede do muncipio, nos dias de realizao da pesquisa. Essa estratgia foi adotada com a

    finalidade de minimizar as limitaes da pesquisa frente dinmica de localizao dos

    domiclios onde se encontram parte dos residentes de Paraty.

    5 Trabalharam como pesquisadores na pesquisa com os residentes em Armao dos Bzios e Paraty quatro

    alunos do curso de turismo da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense, fluentes

    em ingls e espanhol. Tambm receberam quatro horas de treinamento, enfocando, sobretudo, a pesquisa com a

    comunidade.

  • 26

    Mapa 2 - Territrio de Paraty com destaque para a rea urbana de Paraty

    Fonte: Prefeitura, 2010a.

    Angra

    dos Reis

    Ubatuba/SP

    Ocenao

    Atlntico

  • 27

    Mapa 3 Distribuio dos ncleos urbanos isolados e aglomerados rurais em Paraty

    Fonte: Prefeitura, 2010a.

    Ocenao

    Atlntico

    Angra

    dos Reis

    Ubatuba/SP

  • 28

    Em Armao dos Bzios, os pesquisadores abordaram aleatoriamente os

    transeuntes nos locais de maior fluxo de pessoas, nos bairros mais populosos, como

    Rasa e Cem Braas, incluindo os bairros localizados em suas imediaes como Jos

    Gonalves e Tucuns, que contemplando a regio continental de Armao dos Bzios.

    Na pennsula (Mapa 4), a investigao foi realizada ao longo da Avenida Bento

    Ribeiro Dantas, linha divisria, entre os bairros de Manguinhos e Gerib. Enquanto na

    regio central, foram includos a Armao, Canto, Centro, Humait e Ossos,

    compreendendo as reas destacadas nas cores rosa, azul e verde no mapa 4.

    Em Armao dos Bzios h muitos residentes que trabalham na cidade vizinha

    de Cabo Frio. Como a pesquisa priorizou o fato de se residir no municpio selecionado

    para o estudo, esse dado no foi considerado fator de excluso da pesquisa realizada.

    Dado que a rea territorial de Armao dos Bzios significativamente menor

    que a rea territorial de Paraty, e que a populao encontra-se mais concentrada em

    determinadas pores do territrio, deve-se destacar que a disperso da populao pelo

    territrio municipal de Paraty dificultou a realizao da pesquisa.

    As perguntas foram bem aceitas e propuseram uma reflexo, ao menos

    momentnea, por parte dos moradores, sobre os efeitos do turismo no territrio

    estudado. Entretanto, em Paraty, os inquiridos aparentaram mais dificuldade para

    expressar suas percepes acerca do dos efeitos negativos do turismo. Em Armao dos

    Bzios, no entanto, as pessoas reagiam mais rapidamente, e respondiam com

    aparentemente mais convico sobre tais efeitos.

  • 29

    Mapa 4 - Territrio de Armao dos Bzios e a localizao dos bairros e reas de interesse.

    Fonte: Prefeitura, 2004.

  • 30

    1.5.3. O Inqurito por Questionrio e a Recolha dos Dados Empricos Relativos aos

    Visitantes

    Considerando que o turista uma das trs fontes de turistificao dos lugares e dos

    espaos (Knafou, 1996) e que sem turistas no h prticas tursticas, no existe lugar

    turstico (Marujo e Cravido, 2012, p. 283) procedemos pesquisa com os visitantes o que

    possibilitou no apenas conhecer o perfil dos que visitam Armao dos Bzios e Paraty, mas

    tambm, obter uma avaliao do resultado da ao pblica no que se refere infraestrutura do

    destino e sua observao pelo visitante. A pesquisa foi aplicada com os seguintes objetivos:

    1. Caracterizar o perfil dos visitantes;

    2. Conhecer a origem e as motivaes das viagens;

    3. Avaliar a infraestrutura turstica dos destinos por meio dos seus visitantes; e

    4. Analisar a avaliao do destino e da viagem por meio dos visitantes nos destinos

    estudados.

    Para delimitar o universo amostral da pesquisa realizada com os visitantes em

    Armao dos Bzios e Paraty, consideramos que: o visitante turista a pessoa que se desloca

    para fora de seu local de residncia permanente, por mais de 24 horas, realizando pernoite, e

    menos de 12 meses, desde que o motivo no esteja relacionado a fixar residncia tampouco

    auferir renda de atividades remuneradas no local de visitado; o visitante excursionista toda

    pessoa que se desloca individualmente ou em grupo, para local diferente de sua residncia

    habitual, por perodo inferior a 24 horas, ou seja, sem pernoite no local visitado (Goeldner,

    Brent & Mcinstosh, 2002; OMT, 2001).

    O inqurito por questionrio6 (Anexo II) foi estruturado, considerando: o perfil

    demogrfico e socioeconmico do inquirido; os motivos da viagem7 e a composio do

    grupo; o tipo de alojamento e a permanncia mdia, alm da avaliao do destino e da

    viagem.

    6 O questionrio um instrumento de colheita de dados que exige do participante respostas escritas a um

    conjunto de questes (Fortin, 2009, p. 380) cujo objetivo recolher informao factual sobre acontecimentos

    ou situaes conhecidas, sobre atitudes, crenas, conhecimentos, sentimentos e opinies (idem).

    7 O motivo da viagem bem como outras variveis, foram consideradas, neste inqurito, tendo como referncia a

    Pesquisa de Demanda do Turismo Receptivo Internacional 2006 2012, com a finalidade de estabelecer uma

    correlao que permita anlises comparativas. Os motivos de viagens Negcios, Eventos e Convenes, lazer e

    outros motivos. Sendo os motivos de lazer sol e praia, natureza, ecoturismo ou aventura, cultura, esporte,

    diverso noturna, viagens de incentivo.

  • 31

    As questes foram elaboradas tendo-se em vista a extenso do instrumento de

    maneira a torn-lo fludo e o mais gil possvel, sem prejudicar a relevncia dos dados.

    Assim, optamos por questes fechadas e abertas. As questes fechadas expressam um carter

    mais objetivo com respostas dicotmicas ou de mltipla escolha.

    Nas questes fechadas de mltipla escolha foi inserida a opo outro, possibilitando ao

    inquirido acrescentar a opo que melhor satisfazia sua resposta. As questes abertas tiveram

    como finalidade apreender as informaes de cada visitante s