Ponteado autêntico

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49 Domingo, 14 de junho de 2009 CULTURA Jornal de Brasília DISCOS MÚSICA Ponteado autêntico DIVULGAÇÃO O músico de Junqueirópolis fabrica seus próprios instrumentos Violeiro mato-grossense Índio Cachoeira faz legítima música interiorana Cristiano Bastos [email protected] S e há uma legítima música "folk" brasileira, com certeza ela não reside nas grandes me- trópoles urbanas, como dá a en- tender o modismo criado no rastro de bons artistas como os meninos do Vanguart e a sensação Malu Ma- galhães. Esses artistas, na verdade, bebem do folk britânico – que, a rigor, não tem nada a ver com a música praticada no interiorzão bra- sileiro. Violeiro Bugre, segundo álbum registrado por José Pereira de Sou- za, o Índio Cachoeira, soa como "testamento telúrico" desse violeiro, que vem de Junqueirópolis, na di- visa de São Paulo com o Mato Grosso. Nada mais folclórico e ru- ral, portanto. O que impressiona, porém, nem é isso, mas sim o vir- tuosismo aliado ao sentimento de sua viola. Cachoeira, segundo o produtor do disco, Ricardo Vignini (integrante do grupo Matuto Moderno), é um dos principais violeiros em atividade na vastidão do território nacional: "Ele gravou tanto, que nem lembra quantas gravações fez", observa Vig- nini no encarte do disco. Aos oito anos, Cachoeira travou contato com seu instrumento ou- vindo um velho violeiro da região. Sua mãe, no entanto, não gostava que ele frequentasse as rodas de viola e as festas de Folia de Reis. Mas, sempre que podia, o menino fugia de casa para ouvir de perto os ponteados. Seguindo a tradição dos velhos violeiros, Índio Cachoeira fabrica suas próprias violas, além de outros instrumentos – a exemplo daquele que batizou de "canaã", uma pe- quena viola de incríveis 15 cordas. As 15 faixas de Violeiro Bugre levam a rubrica de Cachoeira. Abrem o trabalho, Remelexo, com seus fraseados melodiosos. Outros predicados são notados em canções como a bela e lamuriosa Alvorada sertaneja, e no introspectivo solo de O Castelhano. Eis um álbum feito com a cor e o sabor do Brasil profundo. SAIBA + Também harpista, Violeiro Cachoeiro mostra desenvoltura tocando guarânias paraguaias e canções do folclore mexicano. O músico obtém seu sus- tento construindo violas, violões, cavaquinhos de oito cordas e harpas em sua oficina. "Não procuro imitar ninguém e, sim, criar meu estilo. A música que faço é rural mesmo, meio indígena. Dentro de mim está um índio. De lá de dentro eu tirei esse estilo" Mais informações: www.brasilfesteiro.com.br Violeiro Bugre - Índio Cachoeira. 15 faixas. Folguedo. Distribuição Tratore. Meu Mundo. Bruno Miguel. 13 faixas. Deckdisc. R$20. Meu Mundo é o álbum de estréia do cantor (de linhagem romântica) Bruno Miguel. A primeira faixa, Sem Querer, é uma declaração de amor "sem firulas", escreve o cantor. Seu primeiro hit, Faz Assim , tem letra adaptada de ensaio do filósofo Ovídio: "A sorte vem enquanto dormimos". Bruno Miguel, porém, transpõe o dilema filosófico para a sua praia romântica: "É exatamente quando a gente está cansado, que o coração distrai e então a sorte vem". Para machucar os corações... Ao Vivo. Garotos de Ouro. Som Livre. R$ 14. Assim como o Tchê Guri, os Garotos de Ouro representam a faceta ultra-pop da conservadora música "gaudéria", a qual traduz-se no arbitrário rótulo "tchê music". No repertório, sucessos como Vuco Vuco, Tô de Busão e Universitário Apaixonado.A gravação deste Ao Vivo, que conta com aparições de Rud & Robson e GDÓ do Forro, movimentou mais de 18 mil pessoas. Prova de que tem gente que gosta. E muito. Live at Montreaux. Albert Collins. ST2 Records. R$ 20. O falecido Albert Collins ataca ao vivo neste registro de 1992. O DVD com a íntegra do show já ciculava no mercado. Agora, a ST2 Records lança o CD homônimo, com as canções do Rei da Telecaster – referência ao modelo de guitarra adotado pelo músico ainda nos anos 50. Com estilo inconfundível, o mestre desfia blues de sua própria lavra, como Iceman , Honey Hush e Put the Shoe On The Other Foot . Verdadeira aula.

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Violeiro mato- grossense Índio Cachoeira faz legítima música interiorana. Jornal de Brasília.

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49Domingo, 14 de junho de 2009 C U LT U R AJornal de Brasília

D IS C O S

M Ú SICA

Ponteado autênticoDIVULG AÇÃO

O músico de Junqueirópolis fabrica seus próprios instrumentos

Vi o l e i rom a t o - g ro s s e n s eÍndio Cachoeirafaz legítimamúsica interiorana� Cristiano Bastoscristiano.bastos @jornaldebrasilia.com.br

S e há uma legítima música"folk" brasileira, com certezaela não reside nas grandes me-

trópoles urbanas, como dá a en-tender o modismo criado no rastrode bons artistas como os meninos doVanguart e a sensação Malu Ma-galhães. Esses artistas, na verdade,bebem do folk britânico – que, arigor, não tem nada a ver com amúsica praticada no interiorzão bra-s i l e i ro .

Violeiro Bugre, segundo álbumregistrado por José Pereira de Sou-za, o Índio Cachoeira, soa como"testamento telúrico" desse violeiro,que vem de Junqueirópolis, na di-visa de São Paulo com o MatoGrosso. Nada mais folclórico e ru-ral, portanto. O que impressiona,porém, nem é isso, mas sim o vir-

tuosismo aliado ao sentimento desua viola.

Cachoeira, segundo o produtordo disco, Ricardo Vignini (integrantedo grupo Matuto Moderno), é umdos principais violeiros em atividadena vastidão do território nacional:"Ele gravou tanto, que nem lembraquantas gravações fez", observa Vig-nini no encarte do disco.

Aos oito anos, Cachoeira travoucontato com seu instrumento ou-vindo um velho violeiro da região.Sua mãe, no entanto, não gostavaque ele frequentasse as rodas deviola e as festas de Folia de Reis.Mas, sempre que podia, o meninofugia de casa para ouvir de perto osponteados.

Seguindo a tradição dos velhosvioleiros, Índio Cachoeira fabricasuas próprias violas, além de outrosinstrumentos – a exemplo daqueleque batizou de "canaã", uma pe-quena viola de incríveis 15 cordas.

As 15 faixas de Violeiro Bugrelevam a rubrica de Cachoeira.Abrem o trabalho, Remelexo, comseus fraseados melodiosos. Outrospredicados são notados em cançõescomo a bela e lamuriosa Alvoradasertaneja, e no introspectivo solo de OCastelhano. Eis um álbum feito com acor e o sabor do Brasil profundo.

SAIBA +Também harpista,Violeiro Cachoeiromostra desenvolturatocando guarâniasparaguaias e cançõesdo folclore mexicano.

O músico obtém seu sus-tento construindo violas,violões, cavaquinhos de oitocordas e harpas em suaof i c i n a .

"Não procuro imitarninguém e, sim, criarmeu estilo. A músicaque faço é ruralmesmo, meio indígena.Dentro de mim está umíndio. De lá de dentroeu tirei esse estilo"

Mais informações:www. b ra s i l fe ste i ro . c o m . b r

Violeiro Bugre -Índio Cachoeira.15 faixas. Folguedo.Distribuição Tratore.

Meu Mundo. Bruno Miguel.13 faixas. Deckdisc. R$20.Meu Mundo é o álbum de estréiado cantor (de linhagem romântica)Bruno Miguel. A primeira faixa,Sem Querer, é uma declaração deamor "sem firulas", escreve ocantor. Seu primeiro hit, Fa zAs s i m , tem letra adaptada deensaio do filósofo Ovídio: "A sortevem enquanto dormimos". BrunoMiguel, porém, transpõe o dilemafilosófico para a sua praiaromântica: "É exatamente quandoa gente está cansado, que ocoração distrai e então a sortevem". Para machucar os corações...

Ao Vivo. Garotos de Ouro.Som Livre. R$ 14.Assim como o Tchê Guri, osGarotos de Ouro representama faceta ultra-pop daconservadora música "gaudéria",a qual traduz-se no arbitráriorótulo "tchê music". Norepertório, sucessos comoVuco Vuco, Tô de Busão eUniversitário Apaixonado. Agravação deste Ao Vivo, queconta com aparições de Rud &Robson e GDÓ do Forro,movimentou mais de 18 milpessoas. Prova de que temgente que gosta. E muito.

Live at Montreaux. AlbertCollins. ST2 Records. R$ 20.O falecido Albert Collinsataca ao vivo neste registro de1992. O DVD com a íntegra doshow já ciculava no mercado.Agora, a ST2 Records lançao CD homônimo, com ascanções do Rei da Telecaster –referência ao modelo deguitarra adotado pelo músicoainda nos anos 50. Com estiloinconfundível, o mestre desfiablues de sua própria lavra,como Ic e m a n , Honey Hush ePut the Shoe On The OtherFo ot . Verdadeira aula.