POR QUE A CIDADE

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Luis Antonio Baptista ESCRITOS SOBRE EXPERIÊNCIA URBANA E SUBJETIVIDADE Luis Antonio Baptista Marcelo Santana Ferreira (organizadores)

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O fazedor de mantos, a escola hindu, o navegador temeroso de ir ao encontro do desconhecido, são imagens presentes nas entrelinhas deste livro.

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Esta obra escrita por pes-quisadores do Programa de Pós-Graduação em Psicolo-gia da UFF, e por pesquisa-dores convidados de outros programas, versa sobre as interpelações da vida social das cidades às categorias das ciências humanas, as-sim como sobre as implica-ções dos pro�ssionais psi frente às urgentes questões suscitadas pelas metrópo-les contemporâneas. São ensaios destinados não só aos estudiosos da subjetivi-dade, mas aos pesquisado-res e leitores interessados na re�exão sobre a cultura brasileira, na violência ur-bana, nas intervenções ar-tísticas nas ruas, nas políti-cas da saúde mental, na li-teratura e imagens urbanas da atualidade.

A cidade neste livro afasta--se da função de um mero cenário, ou um espaço exte-rior, onde a subjetividade circularia impune em sua universalidade; nos ensaios aqui presentes ela interfe-re, interroga de modo cor-tante categorias psi desa-tentas às interpelações po-líticas do contemporâneo. O livro é expressão de preo-cupações dos pesquisado-res envolvidos com algu-mas das interpelações da cidade, que contribuem de-cisivamente para uma ou-tra imagem da produção do conhecimento e da própria subjetividade, encharcada de tempo e de história.

ESCRITOS SOBRE EXPERIÊNCIA URBANA E SUBJETIVIDADE

Esta obra escrita por pesquisadores do Programa de Pós--Graduação em Psicologia da UFF, e por pesquisadores convidados de outros programas, versa sobre as interpelações da vida social das cida-des às categorias das ciências humanas, assim como sobre as implica-ções dos profissionais psi frente às urgentes questões suscitadas pelas metrópoles contemporâneas. São ensaios destinados não só aos estu-diosos da subjetividade, mas aos pesquisadores e leitores interessados na reflexão sobre a cultura brasileira, na violência urbana, nas inter-venções artísticas nas ruas, nas políticas da saúde mental, na literatura e imagens urbanas da atualidade.

A cidade neste livro afasta-se da função de um mero cenário, ou um espaço exterior, onde a subjetividade circularia impune em sua univer-salidade; nos ensaios aqui presentes ela interfere, interroga de modo cortante categorias psi desatentas às políticas do contemporâneo. O livro é fruto de preocupações dos pesquisadores envolvidos com algu-mas das temáticas da cidade, que contribuem decisivamente para uma outra imagem da produção do conhecimento e da própria subjetivida-de, encharcada de tempo e de história.

Luis Antonio BaptistaMarcelo Santana Ferreira

(organizadores)

9 788522 807291

ISBN 852280729-1

Universidade Federal Fluminense

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Luis Antonio Baptista Marcelo Santana Ferreira

(organizadores)

POR QUE A CIDADE?ESCRITOS SOBRE EXPERIÊNCIA E SUBJETIVIDADE.

Niterói, 2012

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© 2012 by Luis Antonio Baptista e Marcelo Santana Ferreira (organizadores)

Direitos desta edição reservados à EdUFF - Editora da Universidade Federal Fluminense Rua Miguel de Frias, 9 - anexo - sobreloja - Icaraí - CEP 24220-900 - RJ - Brasil Tel.: (21) 2629-5287 - Fax: (21) 2629- 5288 - www.editora.uff.br E-mail: [email protected]

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Editora.

Revisão: Adriana da Silva NunesCapa e editoração eletrônica: Fabrício Trindade Ferreira ME

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação - CIP

B222 Baptista, Luis Antonio. Ferreira, Marcelo Santana. POR QUE A CIDADE?: escritos sobre experiência e subjetividade./ Luis Antonio Baptista, Marcelo Santana Ferreira (org.). - Niterói: Editora da UFF, 2012. 224 p. ; 21 cm. Inclui Bibliografia. ISBN 978-85-228-0729-1 1. Filosofia e Psicologia. I. Ferreira, Marcelo Santana. II. Título.III. Série

CDD 100

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Reitor: Roberto de Souza SallesVice-Reitor: Sidney Luiz de Matos Mello

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Luiz Sérgio de OliveiraMarco Antonio Sloboda Cortez

Maria Lais Pereira da SilvaRenato de Souza Bravo

Rita Leal PaixãoSimoni Lahud GuedesTania de Vasconcellos

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SUMÁRIOApresentação 7Luis Antonio Baptista

Prefácio 9Marcia Moraes

O que são essas luzes? 15Rodrigo Lages e Silva

Corpo e experiência na cidade dos poetas piratas 31Diego Flores

Equivocidades 53Danichi Hausen Mizoguchi

Para ficar atento ao que ficou inacabado: das desutilidades dos restos das cidades 65Ana Cabral Rodrigues

Andanças: artes de habitar uma cidade 83Analice de Lima Palombini / Rafael Wolski de Oliveira

Ode à cidade ou a violência da Literatura na desinstitucionalização da Saúde Mental 105Luis Antonio Baptista / Beatriz Adura Martins

Por entre literaturas e cidades: 115Poliana dos Santos Cordeiro

Tramas insones da cidade 129Tiago Régis de Lima

Walter Benjamin e a cidade 153Marcelo Santana Ferreira

Troca de Segredos:1 um dispositivo que contagia experiências. 169Cristiane Knijnik / Iazana Guizzo

Na tocaia de instantes na cidade 185Geraldo Artte

Cidades feita de gestos 199Sonia Aparecida Moreira França

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APRESENTAÇÃOO fazedor de mantos, a escola hindu, o navegador temeroso de ir ao

encontro do desconhecido, são imagens presentes nas entrelinhas des-te livro. Escapam da função da metáfora, não serão citadas em nenhum texto, mas atuam como fragmentos de histórias invisíveis que provoca-ram esta obra. Imagens como método que irradia desvios, cortes, inter-rupções ao ensejo de uma conclusão definitiva. A tessitura da escrita, o porquê da cidade, a experiência urbana são apresentadas ao leitor seja através do sergipano criador de mantos chamado Bispo do Rosário; se-ja por meio da escola hindu onde serpentes espreitam o espaço ao lado dos monges copistas; seja pelo tormento do jovem persa que preferiu a tortura para escapar de uma estranha viagem. Estas imagens são aconte-cimentos de tempos e espaços diversos que incitaram este livro a existir. São resquícios de um passado ainda vivo que apelam para o prossegui-mento de suas tramas em outros dizeres; um outro dizer que transtorna uma origem que se pretenderia imaculada. A narração, nesta obra, expe-rimenta usar o sentido transgressor da imagem.

O fazedor de mantos, morador por muitos anos do hospício Juliano Moreira, conduz este livro para o ato da escrita. Bispo desfiava o unifor-me do manicômio para realizar suas obras. A arte deste homem era fei-ta da destruição do pano encardido que o vestia. Desfiava o disponível. O uniforme que o encarcerava no destino do desatino virava um informe inesgotável. Desfiar, destruir o possível acolhia os apelos da intensidade do que escapava aos limites de qualquer objeto, território ou corpo. Bis-po tecia suas obras com linhas das roupas que antes de serem dissipa-das, sentenciavam quem ele era e o que não poderia ser. Seus mantos fo-ram feitos por um desfazer. O uniforme afirmava a clareza definitiva de uma forma; sua arte fazia-se deixando entrar o que ainda não conseguia dizer o seu nome. A escrita como um desfazer, um desfiar sem piedade para que algo aconteça, afirma-se insuportável para as verdades que se impõem absolutas a qualquer autor. A experimentação contida neste ar-tesanato está presente nos ensaios desta obra. Todos os autores são psi-cólogos. Nos seus textos, o uniforme encardido do saber psi é posto à prova no atravessamento com outros saberes.

A escola hindu inspira o livro como experiência; nesta escola, monges copiavam livros sagrados no isolamento da cela, espreitados por uma perigosa serpente. A atenção concentrada na tarefa de copiar

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os textos sagrados poderia ser interrompida a qualquer momento. Al-go por acontecer poderia ser fatal. O ataque do réptil destruiria o saber que almejavam eternizar. A solidão monástica dos sacerdotes seria per-turbada a qualquer momento. Na escola hindu, aprendiam o significado da experiência como consternação. Uma promissora fatalidade poderia acontecer. Após a mordida, o passado, o presente e o corpo do copista não seriam mais os mesmos. A fidelidade ao que deveria ser preservado nas cópias corria o risco de se ver interrompida pelo inesperado. Aten-tos e vulneráveis viviam na carne o transtorno da experiência. A vulne-rabilidade desses monges para suportar a ação letal do acaso a transfi-gurar o presente inspirou os textos desta obra. Os ensaios aqui reunidos estão atentos à interpelação cortante da atualidade.

O navegador persa chamado Sataspe inspirou esta obra para pro-por a indagação “por que a cidade?”. Segundo Heródoto, Sataspe, acu-sado de ter violado uma jovem, foi condenado pelo rei Xerxes à tortura da empalação. A mãe do acusado, irmã do rei, propôs um outro suplício: teria que viajar à Líbia, como Heródoto e os Antigos chamavam a Áfri-ca, e, no regresso, fazer um relatório. Para o jovem navegador, nomear o desconhecido pareceu suplício maior. Preferiu ser empalado. Suportar o incômodo do que ainda não tem nome, recusando-se à sua descrição, acolher o desconforto provocado pelo estranho, são legados das nave-gações do velho mar, nos quais este livro aposta como proposta ética. A cidade aqui presente diverge do assentamento do qual, confortavel-mente instalado, o pesquisador fará o seu relatório: ela desfia como o ar-tista sergipano, espreita como a serpente da escola hindu, e provoca co-mo o velho mar, um libertário desconforto às verdades do humano que se arvoram a eternidade.

Luis Antonio Baptista

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PREFÁCIO

Sensações como métodoTens outros instrumentos – as tuas sensações. E delas sai tudo. Elas são o teu mapa. No entanto, há infinitas possibilidades de escalas; e confirma antes de correres se o mapa é mesmo do local onde te encontras perdido.

Gonçalo Tavares, 2010.

Tenho especial apreço pelos livros, como textos e como objetos. Gosto de folheá-los, de cheirá-los, de passar os dedos sobre as páginas para sentir a textura do papel e da capa, aprecio as cores, avalio o tama-nho, ouço o barulho das páginas quando rapidamente folheadas. Apre-cio sopesá-los e imaginá-los entre os meus outros livros. Foi este fascí-nio pelos livros que me levou ao trabalho do artista carioca Waltercio Caldas . No ano de 1999, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro ex-pôs vinte livros feitos pelo artista na série chamada “Livros”. Os livros de Waltercio Caldas (1999) eram poemas visuais que exploravam formas, texturas, ideias, chistes...

Percorrer aquela exposição exigia dois modos de presença: de um lado, uma atenção ao aqui e agora de cada obra exposta. Uma atenção dedicada a cada livro exposto, aos textos que sempre acom-panham as exposições, aos comentários feitos por quem me acompa-nhava. De outro lado, um desassossego provocado por aqueles es-tranhos livros. Estranhos e belos livros. Estes dois modos de presença eram-me bastante intensos e paradoxais. Atenta ao aqui e agora, o que se fazia presente de forma aguda e insidiosa era a estranheza, a in-suficiência de qualquer tentativa de explicar, entender ou interpretar aqueles objetos. Eram livros. Não eram livros. Eram e não eram livros. Permaneci bastante tempo na sala de exposição. Ia e vinha por entre os livros-objetos de Waltercio.

Das páginas daqueles livros podiam sair finos objetos que ocu-pavam o espaço de modo singular. Em outros, as páginas estavam em branco e os papéis tinham textura rugosa. Outros, apresentavam repe-tidamente a mesma palavra impressa. Livros que estavam ali não para serem lidos ou apenas vistos, mas que curiosamente pareciam também nos ver de volta e nos interrogar. Foi preciso deixar-me tomar pela es-

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tranheza, suspender por um tempo a figura do livro que me era familiar, para seguir com o artista na multiplicidade das formas livros, com suas cores, texturas e heterogeneidades.

A forma-livro do artista era superfície que problematizava o es-paço empírico e ordinário, provocando um complexo feixe de relações sensoriais, espaciais, temporais. Para desfrutá-los era preciso acionar to-dos os sentidos: visão, tato, olfato, paladar, audição... Era preciso mais: a atenção devia flutuar, focar e desfocar. Enquanto escrevo este prefácio interrogo-me se o leitor que começa a folhear esta publicação é destes que apreciam intensamente os livros que lhes chegam às mãos. Oxalá que sim! Pois na leitura dos trabalhos que se reúnem nesta coletânea, sob o título Por que Cidades?, é justamente algo dessa fruição encarnada e sensorial que se coloca em cena.

Desde já há que se dizer que as cidades que comparecem nes-tes textos não são aquelas dos cartões postais, das visões panorâmicas, tal como são oferecidas pelos grandes monumentos turísticos que nos abrem uma grande visão da cidade: de longe e do alto. Não é disso que se trata neste livro. As cidades são tomadas “ao rés do chão”. São cida-des percorridas por andarilhos errantes que colhem fragmentos do co-tidiano, restos, resíduos que jamais aparecem nas cidades quando vistas de longe. Na experiência de caminhar, proposta por estes autores como método, há um processo contínuo de colheita, a partir do qual os textos vão sendo tecidos, os argumentos construídos, as ideias expostas. Fa-zer do caminhar um método não é coisa trivial. Importante lembrar que os autores deste livro são todos psicólogos e pesquisadores. Tal ressal-va não é anódina, já que um dos fios que articulam os textos aqui reuni-dos é precisamente o modo como é praticada a pesquisa em psicologia ou, com outras palavras, os modos como estes autores conjugam o ver-bo conhecer no campo da psicologia.

Trata-se de conjugar o verbo conhecer através de inusitadas conexões: conhecer-caminhar; conhecer-afetar; conhecer-intervir--narrar; conhecer-deambular; conhecer-errar; conhecer-narrar-te-cer-tramar; conhecer-fazer-desfazer; conhecer-experimentar; conhe-cer-tatear; conhecer-ouvir; conhecer-sentir-ver; conhecer-encarnar; conhecer-situar. Estas são apenas algumas das conjugações do verbo conhecer que estão presentes neste livro. São, sem dúvida, as conju-gações que pincei quando meus olhos percorreram as linhas que se-guem este prefácio. Por certo os leitores pinçarão outras conjugações

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do verbo conhecer e para isso, eu mesma os convoco. Mas, o que im-porta em tais conjugações do conhecer é que através delas um mundo se descortina. Um mundo para a pesquisa em psicologia, um mundo no qual os autores nos convidam a viver e a habitar. Por isso, per-gunto: que efeitos tais conexões produzem? Que mundo elas descorti-nam? O hífen que liga os verbos acima listados não é apenas um traço. Ele é antes um elo performativo: visa fazer existir algo, visa interferir nas cidades, nas narrativas que delas são feitas, na pesquisa em psico-logia, no mundo em que vivemos.

Pois o tal hífen, que com a nova gramática da nossa língua materna perdeu alguns lugares, conquista neste livro uma função insubstituível e imprescindível: o primeiro efeito que ele produz é justamente o de des-locar o verbo conhecer da sua tradicional conexão ao ver. Ver e conhecer são, em muitas práticas de pesquisa, duas faces da mesma moeda. Nestas últimas, pode-se afirmar que conhecer é ver. Não um ver qualquer, mas um certo modo de ver, construído cuidadosamente por diversos protoco-los de pesquisa através de estratégias de purificação que separam o ver das contaminações com o sentir, com as paixões oriundas do corpo, com as contingências do lugar de onde se observa algo. Como Donna Hara-way (1995) salienta, é um ver desencarnado, ver de lugar nenhum um ob-jeto qualquer. Eis o máximo da objetividade almejada por tais tradições de fazer pesquisa. A este respeito, litros de tinta e toneladas de papel fo-ram gastos a fim de instruir os pesquisadores acerca de como desengajar o ver para “ver melhor”, ver de longe e poder finalmente apreender o ob-jeto, o verdadeiro objeto que está no mundo lá fora.

Neste livro não se trata simplesmente de desconsiderar a articu-lação entre ver e conhecer. Mas, antes, de torná-la outra. O ver é, pa-ra estes autores, situado, localizado, encarnado, atrelado aos demais sentidos, mediado, fiado cuidadosamente com os mais heterogêneos elementos que perpassam as cidades: carrancas, loucura e sanidade, chuvas de verão, devastadoras chuvas, vidas infames, vida de gado, se-gredos que se trocam, gestos, luzes, sombras, cacos, fragmentos. Do leitor não se ocultam tais engajamentos da visão. Ver a cidade a partir de algum lugar, ver a partir do caminhar que exige esforço, exige posi-cionar-se no mundo com todos os sentidos de que se dispõe. Para isso é preciso tônus muscular, percepção aguda do próprio corpo, sensibi-lidade atenta ao que está muito perto e que, vez ou outra, pode flutu-ar em função do mais longínquo.

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O segundo efeito que o hífen acima mencionado produz é justa-mente o de performar um estilo de praticar a pesquisa em psicologia. Afirma-se um pesquisar que não busca o invariável, mas o singular e muitas vezes, o irrepetível. O relato de pesquisa é construído por um narrar cuja lógica é a do patchwork: os fragmentos colhidos, marcados por sua heterogeneidade, são tecidos com fios, eles também heterogê-neos. A referência à literatura não é casual, nem tampouco um meio de exemplificar o raciocínio. Mas um modo de pensar, rigoroso e exigente. São relatos de pesquisa intensos, nos quais os pesquisadores desassos-segam os leitores, como Waltercio, com os livros. Que não se espere en-contrar nesta publicação uma definição última e cabal acerca das cida-des. O plural que marca este substantivo jamais é reduzido à unidade. Cidades. É disso que se trata neste livro.

Sem dúvida, o desassossego provocado pela leitura deste volume força o pensar, marca a cidade que nos é familiar com inusitados odo-res, cores, imagens, sabores, sons, gestos, luzes e sombras. Lê-lo é como estar naquela exposição do artista carioca na qual o familiar se tornava estranho e por isso mesmo, fascinante. O leitor que se aventurar por es-te livro, dele não sairá o mesmo. Porque, como dito, é um mundo que se descortina. Que mundo? Um mundo rico de sensações, povoado por cenas que se apagam nos automatismos do nosso frenético cotidiano, nas cidades de passagem, onde o que importa é o ponto de chegada. Para estes autores, importa o processo, o percurso, o que se passa en-tre a partida e a chegada. Daí a importância de caminhar, mas caminhar com o rigor que esta ação exige. Caminhar atento ao instante, ao local, ao acidental. Por tudo isso, pergunto cá aos meus botões se este livro não é o vigésimo primeiro da exposição do Waltercio... Chegou mais tar-de que os outros, mas é um deles, não?

Por fim, última consideração se faz mister e ela aponta para o ter-ceiro sentido do hífen de conjugação do conhecer. O método de pesqui-sa proposto por estes psicólogos deve ser tomado em dois sentidos, tanto como uma questão de epistemologia quanto de política. De epistemolo-gia porque o que está em causa é o conhecer no campo da psicologia. E de política porque o método de pesquisa é uma convocação a que habi-temos um certo mundo cuja textura é muito mais heterogênea do que aquela afirmada pelos tradicionais modos de conhecer, nos quais a pala-vra de ordem é purificar. Nesse sentido, o método não é um modo de li-dar com o mundo dado lá fora. Mas antes, uma prática de performá-lo, de

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fazê-lo existir. É nisso aí que está a sua dimensão política, precisamente neste ponto: o método performa um mundo. Os pesquisadores reunidos neste livro não desconhecem o fato de que a Psicologia é um ator impor-tante: age e produz efeitos. Entre os experimentos de Milgram (1) sobre a obediência e o que se expõe neste livro não há denominador comum. Outra Psicologia, outro mundo. “Mas insistir. Qual a relação entre felicida-de e metologia científica? Existirão metodologias felizes? Existirão meto-dologias científicas tristes? Arrisco pensar que sim” (Tavares, 2010, p.49). E você, leitor, arrisca?

NOTA1. Na segunda metade do século XX, o psicólogo americano Stanley Milgram reali-

zou pesquisas experimentais para testar a obediência dos sujeitos à autoridade. O trabalho teve ampla repercussão na Psicologia, tendo sido premiado pela Ameri-can Association for the Advancement of Science por revelar a natureza das relações das pessoas com a autoridade. O design experimental seguia à risca o “controle de variáveis estranhas” a fim de alcançar a objetividade no conhecimento da ação de obedecer. Os resultados deste estudo estão publicados em: Milgram, S. Behavioral study of obedience. Journal of abnormal and social psychology. V. 67, 1963, pp. 371-378. Na atualidade, a psicóloga belga Vinciane Despret tem realizado interes-santes análises críticas acerca deste estudo e de outros de caráter experimental. Para conhecer tais análises, recomendo a leitura do Dossiê Despret, publicado no periódico Fractal: Revista de Psicologia, v. 23, n. 1, 2011. O periódico está disponível on line em www. scielo.br

REFERÊNCIASCALDAS, W. Livros. RJ: MAM, 1999.

HARAWAY, D. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu (5), 1995: pp. 07-41.

TAVARES, G. T. Breves notas sobre ciência. Florianópolis: Ed. da UFSC e Ed. da Casa, 2010.

Rio de Janeiro, Região dos Lagos, Verão de 2011/2012. Marcia Moraes

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15Por Que a Cidade?

O QUE SÃO ESSAS LUZES?

Rodrigo Lages e Silva

São tantas as investigações que tomam a cidade como tema, e de tão variadas formas, que a pergunta “Por que a cidade?” Nem é de resposta óbvia o suficiente para delinear uma zona de conforto con-sensual e nem é exatamente o tipo de interrogação exótica e surpre-endente que pelo simples fato de ser formulada já produz um plano de inteligibilidade imediato, no qual a resposta jaz estabelecida, mal se teve tempo de completar o ponto de interrogação.

Com efeito, responder ao porquê de se considerar a cidade um de-safiador tema de pesquisa é algo que demanda desnaturalizarmos as imagens que fazemos da cidade e analisarmos o papel que tais imagens desempenham na forma como nos posicionamos politicamente frente aos desafios do nosso tempo.

Para fazê-lo, entretanto, não se precisa necessariamente restrin-gir a uma revisão autocêntrica das motivações pessoais ou ideológicas, das inclinações epistemológicas, referenciais ou históricas envolvidas. Assim como o caminhar pela cidade pode ser interessante em sua er-rância (JACQUES, 2006), no “perder-se com instrução” (BENJAMIN, 1987, p.73), a pergunta “Por que a cidade?” pode ser feliz nos seus efeitos para além da resposta precisa, medida, reveladora. A proposta para esse arti-go é tergiversar sobre o assunto. Apostar nas reticências. E isso não sig-nifica calar, ou evitar a questão, mas percorrer as linhas de pensamento vicinais, o logos acidentado, as variantes.

Por isso, proponho-me a apresentar três episódios pessoais que, à sua maneira, projetam luzes para formar uma imagem conceitual da cidade e, a partir dessas narrativas, problematizar a experiência urbana contempo-rânea. Não se trata, pois, de formar uma imagem completa da cidade, mas de buscar aproximações parciais sobre o porquê de tomá-la como objeto de estudo. Sem esperanças, portanto, de encontrar uma clareza para essa resposta, pretendo respondê-la com a atenta dispersão de quem à noite vê melhor do que em pleno dia.

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16 Luis Antonio Baptista Marcelo Santana Ferreira

Primeira iluminação

Por muitos finais de semana, durante a minha infância, percorri, na companhia de meus pais, a estrada que liga Porto Alegre à Santa Cruz do Sul, onde moravam meus avós e mais aproximadamente 150 mil ha-bitantes à época. Quase sempre cumpríamos as duas horas de viagem de retorno ao entardecer, e, conforme a viagem aproximava-se do fim, a noite completava-se. No céu espalhavam-se miríades de estrelas, as quais se fazem ver com muito mais brilho fora das grandes cidades. En-tretanto, o que seduzia a minha curiosidade infantil estava no horizon-te. Impaciente, como soem as crianças em viagem, ansiava por avistar as primeiras luzes de Porto Alegre e saber que logo a monotonia da estra-da chegaria ao fim. Tão logo despontassem as primeiras luzes e a cidade fosse pontilhando a noite por trás da última coxilha que separa o pam-pa da planície do Rio Guaíba sobre a qual se espalha a capital, eu não deixaria nem por um segundo de contemplar a Porto Alegre noturna e posso dizer que essa foi a minha primeira noção do que é uma cidade.

Lembro que ao passar os olhos por entre o amarelo dos pontos de luz mais fortes das luzes de mercúrio que iluminam as avenidas e o brilho mais branco das lâmpadas menores das casas, lâmpadas de tun-gstênio ou fosforescentes, o que me surpreendia era a quantidade ini-maginável de vidas que ali se encontravam. Não a vida demográfica, estatística, mas o tipo de vida que eu reconhecia como a minha, isto é, de tamanho incalculável, intensamente povoada por pensamentos e ideias, eivada de acontecimentos por vir. Era como se cada lâmpada fos-se uma infinidade, com sua própria história, mas também com possibili-dades imprevisíveis pela frente. A visão de Porto Alegre à noite foi a mi-nha primeira impressão de uma desmedida, de algo que não se pode totalizar, mas, sim, tomar parte. Uma imensidão experienciável. Ao con-trário do céu em sua infinitude distante, a cidade era uma grandeza con-vidativa.

Eu era uma criança e a cidade aos meus olhos era tão jovem quan-to eu. Não possuía ainda a ambição estudantil do conhecimento inte-gral e nem a lógica platônica para a qual a impossibilidade de conhecer “o todo” surge como uma falta. Ao contrário do platonismo, eu não ti-nha uma cidade incompleta para contrapor-lhe. Eu não tinha uma visão diurna da cidade. É certo que eu tenho memórias infantis diurnas da mi-

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17Por Que a Cidade?

nha rua. Lembro-me de passear pelo bairro, de ir à praça, e como todas as crianças por volta dos 5 a 7 anos, com certeza sabia que tudo aquilo fazia parte da cidade de Porto Alegre. Porém, a percepção global da ci-dade, a imagem unificada daquele espaço, era apenas a noturna, aquela que eu via no retorno das longas viagens dos finais de semana.

Havia, contudo, sim, outra imagem com a qual contrapor aquela da cidade luminosa e infinita, e não era a cidade diurna ou uma cidade me-nor, como Santa Cruz, por exemplo, mais cabível na minha precária cal-culatória de proporções e quantidades. O que me intrigava era a visão daqueles pequenos pontos de luz, espalhados aqui e ali ao longo da ro-dovia, completamente isolados. O que me espantava era a vida “solitária” daquelas pessoas. Como era possível viver assim, entregue ao desolado da vida sem cidade? Como era possível viver uma vida que cabia num tí-bio ponto de luz, em meio ao negrume da noite? Eu sentia uma angús-tia profunda por aquelas pessoas, ao imaginar um cotidiano com nenhu-ma ou pouquíssimas casas ao redor, uma vida vivida às margens de uma estrada. Essa noite amedrontava-me, ao contrário da noite iluminada de Porto Alegre que me fascinava.

Segunda iluminação

O sol se punha em Santa Cruz do Sul. Eu caminhava por uma rua ampla e reta, como, aliás, é a maioria das ruas construídas pelos coloni-zadores alemães, na companhia de um primo da minha idade. Naque-la época era corriqueiro que duas crianças de 7 ou 8 anos caminhassem pelas ruas da cidade do interior sem a atenção dos pais. Não havia mui-tos carros capazes de passar dos 40 km/h sem alertarem a vizinhança com o ruído dos motores, nem havia toda a precaução com segurança de que hoje não prescindimos. Enfim, nada com que se preocupar por duas crianças estarem sozinhas na rua antes de o sol se pôr. A noite che-garia com suas fantasias de perigo e desgraça e, então, as famílias fecha-riam as portas para o conforto e proteção do interior das suas casas. O crepúsculo anunciava docemente a transição. Era a hora de voltar para a casa e estávamos precisamente fazendo isso quando calhou de que eu olhasse para trás e visse uma onda descendo o extenso e sutil declive da rua. Uma onda luminosa. Sucessivamente as luzes espocavam no alto dos postes num intervalo breve e constante, avançando pela rua e ultra-

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passando-nos por sobre as nossas cabeças para seguir adiante seu tra-jeto sem obstáculos. A iluminação pública tinha sido acionada e as lâm-padas fosforescentes acendiam na cidade inteira. Foi naquele dia que eu entendi o que era uma cidade inteira. Uma cidade em que alguém aper-ta um botão e naquele exato momento deixa de ser conveniente que duas crianças estejam na rua.

Terceira iluminação

A carioca de meia-idade está impaciente na fila do banco, na agên-cia da Praça XV. A reestruturação produtiva no setor bancário produziu caixas vazias, máquinas registradoras abandonadas, funcionários solitá-rios, sobreatarefados, e clientes impacientes. O refinamento do sistema de classes produziu também a elite dentro da classe média: há os médios que devem ficar na fila esperando, e os que não deixando de serem mé-dios, recebem o benefício de serem tratados como clientes premium, pri-vés, ou especiais; são atendidos em mesas por funcionários menos estres-sados e mais atenciosos. Toda uma estratégia dedicada a mimá-los como se médios não fossem. A carioca de meia-idade reclama contra essa po-lítica do banco. Ela também é uma boa cliente, afirma. Demanda cumpli-cidade ao casal de gaúchos que espera atrás dela, na fila. Eles, contudo, não são clientes do banco, recém chegaram à cidade. Estão morando há pouco tempo no Rio. Não se importam. A agência da Praça XV é pareci-da, mas diferente daquela da Rua da Praia, em Porto Alegre. A forma pela qual uma cliente fica impaciente com a demora é parecida, mas diferen-te. Tem outro sotaque, outra espontaneidade. O casal está mais atento aos detalhes. O tempo não é tão penoso quando há singularidades po-voando-o. “Gaúchos!” – ela exclama. “Adoro a terra de vocês”. A carioca de meia-idade desfia suas glórias de turista. Conhece Porto Alegre, adorou Gramado. “Tão europeia!”. As viagens turísticas também são uma forma de ser especial. Está curiosa da opinião dos recém-chegados sobre a ci-dade. Morar no Rio é um luxo, ninguém discorda. Ela pergunta se o casal conhece a Barra da Tijuca? Indica ao casal que conheça. Um excelente lu-gar para se morar. “Não tem favela.” O problema é a distância, o trânsito, diz ela. Ter de ir ao banco no centro, então… um transtorno. Favelas, aliás, é um assunto que lhe preocupa. A moradora da Barra da Tijuca recomen-da aos gaúchos que tenham cuidado. O Rio mudou muito nos últimos anos. Mas continua sendo uma cidade maravilhosa, ninguém discorda.

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Há belezas por toda parte. Até onde não se espera, encontra-se beleza. A carioca de meia-idade, moradora da Barra da Tijuca, faz, então, uma con-fissão: “Sabem, até mesmo a Rocinha, por exemplo, que é a maior favela do mundo, quando eu vou de carro para a Zona Sul à noite, eu passo por ali e vejo aquelas luzes todas acesas. É lindo: uma beleza feérica!”

Luzes que encantam

O princípio utópico não chegou a se manifestar nem no mundo arcaico-mítico, apesar do êxodo para fora dele, nem no mundo urbano-racionalista, apesar da dialética explosiva. A razão disso será sempre que tanto a mentalidade arcaico-mítica quanto a urbano-racionalista são idealistas em sua apreciação, pressupondo consequentemente um mundo feito, acabado, apreciado apenas de modo passivo, incluindo o supramundo projetado para além, no qual se reflete o que já veio a ser (BLOCH, 2005, p.19).

Em O princípio esperança, Ernst Bloch (2005) situa sua obra no pathos inaugurado por Marx: não se contentar com explicar ou contemplar o mun-do, mas ansiar por transformá-lo.

A essa não conformidade, a essa inquietude, a essa não rendição ao dado, Bloch vai chamar de função utópica. Ao que se instala na relação sujeito-espaço e que impulsiona a função utópica: princípio esperança.

Deve-se, contudo, ter cautela quanto à inflexão que Bloch impri-me ao conceito de utopia. Diferentemente das iniciativas estruturalistas, de caráter sistematizador, ansiosas por ordenar o futuro sob a égide de um “saber contemplativo”, Bloch (2005, p. 22) propõe uma equivocação das tendências fantasiosas e abstracionistas tradicionalmente ligadas ao conceito de utopia, para outro sentido inteiramente “voltado para o mundo: o sentido de ultrapassar o curso natural dos acontecimentos”.

Para pensar junto com Bloch uma u-topologia da cidade, portan-to, deve-se recusar a problematização da metrópole contemporânea co-mo efeito natural do aumento demográfico, do armazenamento, circula-ção e troca de mercadorias, ou da concentração dos meios de produção. O que significa recusar, igualmente, a posição da sociologia ecológica de Wirth (1997, p. 52),1 por exemplo, que vê no aumento demográfico a origem de uma degradação dos “laços de solidariedade urbanos”, bem

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como o socialismo ecológico de Mike Davis (2007),2 cuja crítica ao capi-talismo faz uma elegia para a cidade moribunda, claudicante em seus excessos, porque avilta o meio ambiente relicário. De diferentes pontos de partida - o primeiro engaja-se na luta contra a pobreza e a degrada-ção do espaço urbano em prejuízo da sociabilidade burguesa, enquanto o segundo vela por um “natural” avesso ao modo de produção capitalis-ta - ambas as perspectivas apelam para uma imagem idealizada de cida-de. Uma imagem pela qual a esperança de uma cidade melhor opõe-se ao medo de uma urbanidade por vir.

Em contraposição a esses posicionamentos que ilustram as duas grandes tendências de produção da cidade como objeto de preocupa-ção hodierna, é que nos remetemos a u-topologia imanente de Bloch (embora ele não use essa palavra). Já que, para o autor, não se deve pen-sar a esperança por oposição ao “medo” e, sim, em oposição à “lembran-ça”, o que equivale a dizer que o pensamento utópico e o afeto espe-rança que lhe correspondem devem ser tomados como atos “de direção cognitiva” (BLOCH, 2005, p. 22), isto é, como conhecimento inventivo, que não se remete a eventos anteriores (re-conhecimento), mas inves-te-se em direção a um futuro aberto, ainda não extinto.

Esperar, ter esperança, antecipar o futuro, sonhar acordado com o que está por vir, deve ser para Bloch uma atitude de inconformidade com o que já se conhece, de não contentamento, de inquietude. Essa es-perança é muito diferente do ato de temer pelo futuro e crer tolamente que algo possa vir a resolver tudo como um passe de mágica, que pos-sa recolocar tudo no lugar “correto”.

A esperança como princípio utópico de uma crítica imanente tem a urgência de uma criança que, em viagem, anseia pela cidade noturna e suas miríades de luzes. Ninguém sabe tão bem como ela que a cidade à noite não é apenas o que a luz do dia ofusca, mas um desvio para a in-suportável retidão da estrada.

Luzes que ardem

Herman Melville trabalhou durante três anos na atividade de ca-ça a baleias, antes de tornar-se escritor e dar luz a Moby Dick. De 1780 a 1860, aproximadamente, o “espermacete”, substância extraída da cabe-ça das baleias cachalotes capaz de render muitos litros de óleo de boa

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qualidade, era produto de altíssimo valor comercial pelo seu uso tanto na lubrificação das prodigiosas máquinas que a Revolução Industrial co-meçava a inventar, quanto por servir de combustível para os lampiões que se prestavam a iluminar as noites das principais cidades do mundo.

Enquanto os cidadãos de Londres, Paris e de todas as grandes ci-dades que estiveram na vanguarda das transformações impostas pela in-dustrialização conheciam uma nova experiência urbana, muito diferen-te daquela da cidade medieval e suas feiras ao ar livre, sua dependência orgânica em relação ao campo; outros homens reinventavam as grandes navegações, perseguindo baleias cachalotes pelo oceano pacífico em ar-riscadas expedições que chegavam a percorrer mais de cinco mil milhas náuticas e consumir anos de viagem.

Os caçadores de baleia do início do século XIX não eram apenas caçadores do mar e operários da indústria, mas também exploradores, que avançavam cada vez mais longe numa região inóspita e mal provida de mapas, mais extensa do que todas as áreas de terra do mundo somadas (PHILBRICK, 2000, p. 12).

Eis o que Melville (1957[1851]) soube traduzir como ninguém: que o homem exposto a uma infinidade de perigos ordinários (intempéries, naufrágio, deriva) é o mais apto a transferir os seus temores para um único e privilegiado objeto: Moby Dick, a baleia gigante. Não nos de-vemos enganar, a coragem e obstinação de Ahab apenas sustentam-se por contraste em relação a um exagerado e opressivo medo. Qual outra maneira de se lançar em viagens tão perigosas?

Mas, se o enfrentamento da imensidão do mar arregimentava for-ças justamente no obscurecimento dos perigos reais que lhe correspon-diam, a nova experiência urbana que lhe era contemporânea lançava mão de estratégias diferentes. Um novo regime de visibilidade emergia junto com o crescimento e a modernização das cidades. Ao contrário da cidade medieval que recebia complacentemente a escuridão da noi-te em sua arbitrariedade natural, a cidade moderna multiplicou os lam-piões a óleo pelo traçado urbano, trazendo segurança para a noite, ao mesmo tempo em que lhe inventava uma periculosidade.

Não deixa de ser curioso que o óleo de baleia, porque capaz de manter uma chama ardendo durante um longo período, foi o elo entre dois mundos. O mundo da baleação, de precárias vitórias sobre a natu-

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reza, sempre à mercê dos perigos do clima e da geografia; e o mundo das indústrias e seu êxito sobre as limitações do esforço humano, da so-lidez do lucro gerado pelas máquinas em relação às imprevisíveis res-postas da natureza sobre as demandas da lavoura.

O que apenas mais tarde viemos a descobrir, é que com aquele mundo antigo ficava também para trás o privilégio de se temer o des-conhecido, o fantasioso, o desmedido. A modernização não modificou apenas a densidade, dimensão e aparência das cidades, a iluminação pública, os meios e os modos de circulação urbanos, inventou também uma nova forma de temer. O perigoso não seria mais o fantasioso, mas o virtual. Não mais temer que o improvável aconteça, mas precaver-se contra a realização do provável.3

Nasce o que chamarei de medo urbano, medo da cidade, angústia da cidade que vai se caracterizar por vários elementos: medo das oficinas e fábricas que estão se construindo, do amontoamento da população, das casas altas demais, da população numerosa demais; medo, também, das epidemias urbanas, dos cemitérios que se tornam cada vez mais numerosos e invadem pouco a pouco a cidade; medo dos esgotos, das caves sobre as quais são construídas as casas que estão sempre correndo o perigo de desmoronar (FOUCAULT, 1982, p. 87, grifo do autor).

Assim, por um lado, o crescimento urbano do século XIX fez emergir um medo disperso, não associado a nenhum objeto específico, um medo potencial, por outro, induziu também novos modos de relação e de socia-bilidade. A noite da cidade iluminada pelos lampiões a óleo é menos dócil aos ciclos da lua, produz suas próprias sombras, seu bruxulear, é mais sofis-ticada, produz temores e seduções diferentes da cidade medieval4 que lhe antecedeu. Mas foi com a lâmpada a gás que a iluminação pública ganhou uma impessoalidade mais condizente com a nova forma através da qual a vida urbana se relacionava com as instâncias de poder. Diferentemente da iluminação a óleo ou por vela, cuja instalação, manutenção e acendimen-to ficavam diretamente a cargo da autoridade local, ou então dos próprios moradores, a iluminação a gás no mais das vezes era exercida sob regime de concessão pública através de um ente privado que cobrava seus servi-ços por meio de impostos ou taxações. Há o advento de uma nova artificia-lidade na forma de se relacionar e de experienciar a cidade.

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A iluminação a gás, muito mais eficaz do que a iluminação a óleo, e a dizimação das baleias cachalotes, que quase desapareceram dos oceanos, fizeram com que o comércio de “espermacete” acabasse e, junto com ele, as grandes e perigosas práticas de navegação baleei-ras. Em compensação, uma nova prática de habitar a cidade e, sem tar-dar, uma nova cidade inteiramente redesenhada pela haussmanniza-ção5 surgiram. A própria iluminação a gás não chegou ao século XX - superada pela invenção de Edison em 1870: a lâmpada elétrica - e o fogo foi substituído pelos cabos de energia que, suspensos pelos pos-tes de iluminação, passaram a reforçar a malha reticular da cidade se-guindo o modelo de Haussmann. Esse mundo aceleradamente mutan-te, arredio a qualquer constrangimento natural, inaugurava também um transeunte urbano habitado por um regime de sensibilidades iné-dito. A antiga oposição entre a vida protegida, ordinária, limitada pelas rotinas do campo ou contida pelos muros da cidade, e a vida perigosa do aventureiro ao mar, do explorador, já não fazia mais sentido. A pró-pria cidade, enquanto novidade luminosa seria a sede das aventuras e dos perigos que passaram a atormentar o homem da metade do século XIX em diante. “O desenrolar dos dias ou das estações adquire um ou-tro sentido, o mesmo para a alternância entre vida social e vida priva-da” (RONCAYOLO, 1981a, p. 97).

Pensar a cidade desde então passou a ser, de certa forma, pen-sá-la por oposição aos clarões descontínuos das chamas ardentes dos lampiões. Na cidade organismo, integrada, sistêmica, a noite não res-ponde ao inexorável revezamento circular dos astros e nem ao incons-tante teatro de luz e sombras projetado pelos lampiões, mas à irradia-ção concêntrica das linhas de poder.

Luzes que orientam

Assim como as cidades, as galáxias. Múltiplas, semoventes em su-as atrações e repulsões, luminosas. Assim como as cidades, as galáxias. Confusas, explosivas em seus impactos e colisões, nebulosas. A cidade--ilha, de fronteiras exatas, oásis urbano para o deserto rural, foi subs-tituída pela cidade-galáxia, de infinitas conurbações, policêntrica. Sua arquitetura não se reconhece mais pela circularidade das muralhas de proteção, mas pela tramada rizomática das autopistas, das perimetrais,

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dos anéis viários. Que o paralelismo das rodovias apenas multiplica as-sombrosamente a circularidade das muralhas, esse é o seu segredo.

Assim como as autopistas, a eletricidade percorre os circuitos ur-banos. Nos trens, metrôs, sob o solo ou acima dos postes de luz. Ali-menta os tubos de raio catódico, os cristais líquidos ou as gigantes de plasma que emulam a vida boa, novelística. Seguindo o modelo dos elétrons, os dados percorrem os cabos coaxiais, as fibras óticas ultra-marinas, conectam o mundo pela inter-rede. Os fluxos são vertigino-sos, mas não nos desorientam. A eletricidade ilumina sem nada quei-mar, arde sem destruir. A cidade elétrica, como os planetas, conjuga a aventura cósmica com a monotonia orbital, ganha no movimento uma estabilidade sem precedentes.

Planetário significa, com certeza, o que abarca o planeta terra, o globo terrestre e suas relações com os outros planetas. É o global. No entanto, essa concepção do planetário permanece excessiva em extensão… Planetário quer dizer aquilo que é itinerante e errante, aquilo que descreve um curso errante em uma trajetória no espaço-tempo, aquilo que cumpre um movimento rotativo. Planetário indica a era da planificação, em que sujeitos e objetos da planificação global, da vontade de organização e da previsão, são apanhados pela fixação e de acordo com um itinerário que ultrapassa ao mesmo tempo sujeito e objetos. Planetário denomina o reino da platitude que se expande para tudo banalizar, também ela mais errante de acordo com os dicionários, uma espécie de mecanismo técnico, uma engrenagem. O jogo do pensamento e da era planetária é então global, errante, itinerante, organizador, planificador e banalizante, preso na engrenagem. (AXELOS, 1964 apud DELEUZE, 2008, p. 203, grifo do autor).

A sagacidade de Axelos, segundo Deleuze, foi perceber que a era planetária, essa consciência de que a Terra é minúscula diante do cos-mos, não nos insta necessariamente a uma abertura de horizonte para o pensamento, mas, mais provavelmente, arregimenta a previsibilidade dos movimentos planetários para produção de um pensamento repeti-tivo, satisfeito com uma deambulatória indiferença. A cidade galáctica nunca está no horizonte, porque nunca se entra ou sai dela, sua artima-nha é substituir as entradas e saídas pela circulação. Dela, não se po-de ter uma paisagem distante, utopicamente encantadora, como a da criança que chega de viagem. A estrada já está dentro dela.

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Isolando-nos “dentro do movimento” (RONCAYOLO, 1981b), a ci-dade planetária inaugura o reino da platitude, no qual o pensamento instrumentaliza-se a favor das trajetórias, em detrimento da usinagem cósmica, explosiva, que faz nascerem estrelas no seio das galáxias, ou seja, a cidade é, mais do que galáctica, planetária, fechada em sua pró-pria rotatória. O paradoxo da cidade contemporânea é dissociar o mo-vimento errante - entendido como experiência diferencial do lugar - da noção de espaço aberto. A cidade contemporânea, portanto, ao mesmo tempo em que nos incita à errância, desqualifica o espaço.6

As luzes da cidade noturna são como um céu de estrelas, mas não espelham a indefinição das nebulosas, apenas ao brilho esférico das es-trelas e dos planetas. Essa noite produz uma beleza que não nos deso-rienta. Uma beleza que faz apelo à sensibilidade como valor de classe. Não apenas o turismo, mas a sensibilidade para o belo também pode ser um valor burguês capaz de tornar-nos especiais.

O néon das lojas populares e sofisticadas dos shoppings tem o mesmo brilho [da sensibilidade artística burguesa]. Durante o dia, percebemos as diferenças. As sensibilidades psi são noturnas e brilham, mas a noite nem sempre é eterna. O sol, como a razão bélica, denuncia as diferenças e possui um brilho muito mais promissor (BAPTISTA, 1999, p. 23, grifo do autor).

Se, é verdade que, como dissemos, a nossa estratégia desviante afirma que é possível ver melhor à noite, não é menos verdade que a luz do dia dissolve a beleza entorpecente com que a diferença traves-te-se de espetáculo meramente visual. Baptista (1999) toma o néon co-mo metáfora para referir-se à “sensibilidade” como patrimônio individu-al. Nesse jogo de aterradoras diferenças, ser sensível ao outro é também um modo de fazê-lo brilhar uma beleza “feérica”, que nos encanta, mas não nos tira do lugar, não nos faz errar, não altera a nossa órbita.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O morador da cidade grande convive no presente com o paradoxo de experimentar uma hiperexposição às informações, uma aceleração da comunicação, um imperativo de deslocar-se, de manter-se em movi-

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mento, ao mesmo tempo em que, contraditoriamente, as relações tor-nam-se cada vez mais superficiais, os caminhos mais interditos e as in-formações menos transformadoras.

Pode-se dizer que a metrópole não é apenas um lugar, mas um agenciamento existencial que nos apresenta imperativos contraditórios: “circule e tema” (MIZOGUCHI, 2009, p. 61). Pode-se dizer, ainda, que não é preciso morar no Rio de Janeiro ou em Nova Iorque para sentir a ame-aça da violência urbana, bem como as correspondentes sensações de alívio e correição que as políticas de “Choque de Ordem” e “Tolerância Zero”, respectivamente, produzem com artifício e sem ingenuidade. A metrópole é o que toda cidade, mesmo as pequenas cidades, estão em vias de se tornar ou o motivo pelo qual qualquer pequena cidade já não é mais uma pequena cidade qualquer, como antigamente,7 mas uma jo-vem donzela púbere a alimentar sua paixão noturna de metrópole.

Vivemos um momento de desconfiança em relação ao urbano. De um lado, os que consideram a metrópole como o ícone da insustentabi-lidade ambiental por suas inclinações hiperbólicas, insuportáveis a uma natureza vista como frágil demais, como tesouro profanado pelo artifi-cialismo pós-industrial; de outro, os que veem no urbano uma sociabili-dade perigosa para a qual se deve dirigir um gerenciamento dos riscos, uma ênfase na segurança pública à qual corresponde a criminalização da pobreza, a glamorização do conforto da casa e a demonização das ruas. No fundo, tais perspectivas não divergem no principal: primeiro elegem o medo como afeto primordial, depois apostam no consumo recatado, na conservação e na manutenção da ordem como tranquil-izadores. À sua maneira, cada uma dessas abordagens do urbano aju-da a compreender de que forma a cidade como grandeza infinitesimal, que nos tira o fôlego, foi-se transformando numa cidade apertada, as-fixiante.

Se, contudo, a cidade continua-nos interessando, não é porque ela nos informa sobre o futuro, seja ele apocalíptico ou alvissareiro, e, sim, porque lança luzes sobre o modo como vivemos o presente, instando-nos a realizar aquilo que Foucault (2002, p. 345), no texto cujo título o presente escrito parodia, chamou de ética: a “crítica permanente de nos-so ser histórico”.

A crítica nesta perspectiva foucaultiana deve ser compreendida como “atitude de modernidade”, porquanto tal ethos – Foucault busca

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em Baudelaire a inspiração para defini-lo – consiste em respeitar o real e violá-lo ao mesmo tempo (FOUCAULT, 2002, p. 344), ou seja, aceitar o presente como a expressão de uma série de acontecimentos conti-genciais, casuais, históricos, em vez de interpretá-lo ao sabor de ide-alismos, mas engajar-se na transformação desse presente, não se con-tentar com o dado.

Neste texto, ao demorar o olhar em diferentes brilhos, fulgores he-terogêneos que, à sua maneira, revelaram diferentes aspectos da cida-de, compreendi que não é mais preciso viver no isolamento de um pá-lido ponto de luz à beira da estrada para sentir a desolação dos que “vivem sem cidade”. É nos ascéticos cruzamentos das grandes metró-poles que esse isolamento vai-se instalar. A essa realidade, respeitosa-mente, chamarei doravante de “confinamento do presente”. Não sem acrescentar, contudo, que é na própria cidade que se encontram as con-dições e os meios para contradizê-la.

NOTAS1. “Desde a política de Aristóteles que se sabe que acima de determinado limite o

aumento do número de habitantes de uma comunidade afeta as relações entre si e a própria natureza da cidade.” (WIRTH, 1997, p. 52)

2. Mais sobre a crítica de Mike Davis em relação à cidade contemporânea em Silva, R. L. (2010).

3. A esse respeito, recomenda-se a leitura de Silva, R. L. & Silva, R. N. (2008).

4. Não nos devemos esquecer que a Idade Média é chamada por muitos historiado-res como a “grande noite” ou a era das “mil noites”.

5. Por haussmannização entende-se a grande reforma de Paris realizada pelo Barão Haussmann a mando de Napoleão III entre 1853 e 1870 e que serviu de modelo para os grandes projetos urbanísticos dos séculos XIX e XX.

6. Beatriz Sarlo (1997) utiliza o modelo do shopping center para referir-se à experi-ência da cidade como um espaço sem qualidades. A errância que se produz num espaço como esse em nada se assemelha àquela proposta por Jacques (2006).

7. Aliás, não tem expressão que melhor se refira às pequenas cidades do que: “antigamente”.

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MELVILLE, H. Moby Dick (1851). Tradução de Berenice Xavier. São Paulo: Clube do Livro, 1957. Clássicos Abril Coleções, v. 2.

MIZOGUCHI, D. H. Segmentaricidades: passagens do leme ao pontal. São Paulo: Plêiade, 2009.

JACQUES, P. B. Elogio aos errantes: a arte de se perder na cidade. In.: JEUDY, P.; JACQUES, B. P. (Org.). Corpos e cenários urbanos: territórios urbanos e políticas culturais. Salvador: EDUFBA, 2006. p. 117-139.

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Título conferido pela OSCIP PRIMA (www.prima.org.br) após a implementação de um Programa So-cioambiental com vistas à ecoeficiência e ao plan-tio de árvores referentes à neutralização das emis-

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Este livro foi composto na fonte Myriad Pro, corpo 12. Impresso na Global Print Editora e Gráfica Ltda., em papel cartão supremo 250g. (capa) e polen soft 80g.

(miolo)produzido em harmonia com o meio ambiente. Esta edição foi impressa em julho 2012.

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Esta obra escrita por pes-quisadores do Programa de Pós-Graduação em Psicolo-gia da UFF, e por pesquisa-dores convidados de outros programas, versa sobre as interpelações da vida social das cidades às categorias das ciências humanas, as-sim como sobre as implica-ções dos pro�ssionais psi frente às urgentes questões suscitadas pelas metrópo-les contemporâneas. São ensaios destinados não só aos estudiosos da subjetivi-dade, mas aos pesquisado-res e leitores interessados na re�exão sobre a cultura brasileira, na violência ur-bana, nas intervenções ar-tísticas nas ruas, nas políti-cas da saúde mental, na li-teratura e imagens urbanas da atualidade.

A cidade neste livro afasta--se da função de um mero cenário, ou um espaço exte-rior, onde a subjetividade circularia impune em sua universalidade; nos ensaios aqui presentes ela interfe-re, interroga de modo cor-tante categorias psi desa-tentas às interpelações po-líticas do contemporâneo. O livro é expressão de preo-cupações dos pesquisado-res envolvidos com algu-mas das interpelações da cidade, que contribuem de-cisivamente para uma ou-tra imagem da produção do conhecimento e da própria subjetividade, encharcada de tempo e de história.

ESCRITOS SOBRE EXPERIÊNCIA URBANA E SUBJETIVIDADE

Esta obra escrita por pesquisadores do Programa de Pós--Graduação em Psicologia da UFF, e por pesquisadores convidados de outros programas, versa sobre as interpelações da vida social das cida-des às categorias das ciências humanas, assim como sobre as implica-ções dos profissionais psi frente às urgentes questões suscitadas pelas metrópoles contemporâneas. São ensaios destinados não só aos estu-diosos da subjetividade, mas aos pesquisadores e leitores interessados na reflexão sobre a cultura brasileira, na violência urbana, nas inter-venções artísticas nas ruas, nas políticas da saúde mental, na literatura e imagens urbanas da atualidade.

A cidade neste livro afasta-se da função de um mero cenário, ou um espaço exterior, onde a subjetividade circularia impune em sua univer-salidade; nos ensaios aqui presentes ela interfere, interroga de modo cortante categorias psi desatentas às políticas do contemporâneo. O livro é fruto de preocupações dos pesquisadores envolvidos com algu-mas das temáticas da cidade, que contribuem decisivamente para uma outra imagem da produção do conhecimento e da própria subjetivida-de, encharcada de tempo e de história.

Luis Antonio BaptistaMarcelo Santana Ferreira

(organizadores)

9 788522 807291

ISBN 852280729-1

Universidade Federal Fluminense

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