Por Que Sou Espiritualista

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17/01/2015 POR QUE SOU ESPIRITUALISTA http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/espiritualista.html 1/20 POR QUE SOU ESPIRITUALISTA Valdemar W. Setzer www.ime.usp.br/~vwsetzer Original de 12/3/07 – versão 3.0 de 6/3/11; see also the English version Indice 1. Introdução 2. Materialismo vs. espiritualismo 3. A ciência materialista 4. Evidências universais 4.1 Origem e limites do universo 4.2 Outras características do universo 4.3 Formas dos seres vivos 5. Evidências pessoais 5.1 Pensamento 5.2 Sentimentos 5.3 Vontade 5.4 Memória 6. Como algo não físico pode atuar sobre algo físico? 7. Um novo paradigma científico 8. A hipótese existencial fundamental 9. Consequências das visões materialista e espiritualista 10. Existe uma cosmovisão espiritualista satisfatória? 11. Resumo das hipóteses de trabalho e conclusões 12. Referências 1. Introdução Quando escrevi um artigo sobre a pena de morte , motivado pela discussão aberta com a tragédia ocorrida no Rio de Janeiro com o menino João Hélio, abordei um aspecto que não é encontrado nas discussões sobre o assunto. Em geral, pensase exclusivamente na proteção da sociedade e, eventualmente, diminuir seus gastos com o confinamento de assassinos. O aspecto mais importante que se considera do ponto de vista do indivíduo que cometeu o crime é que ele deve pagar pelo que fez. Naquele artigo, abordei um outro aspecto individual. Considerando cada ser humano como um ser que possui uma essência não física, e que sua vida tem como finalidade o aperfeiçoamento dessa essência, argumentei que não tínhamos o direito de matar ninguém, e portanto impedir seu desenvolvimento; talvez, para seu desenvolvimento, ele precise passar pela experiência de conviver com a lembrança de seus atos e sentir a consequência dos mesmos. Além disso, não se pode prever se um criminoso não vai se regenerar e produzir algo positivo e essencial para a humanidade. Infelizmente, às vezes é necessário confinar uma pessoa perigosa para a sociedade, mas isso não significa executála. Esse argumento só faz sentido quando se supõe, como hipótese de trabalho, a existência daquela essência não física no ser humano. Quando escrevi aquele artigo, pusme a justificar por que adotava essa hipótese. Percebi, então, que me alongava demais; assim, resolvi escrever o presente artigo, para poder referenciálo no anterior e entrar aqui em muito mais detalhes sobre o tema do presente título. Como o assunto é delicado, pois vai contra a mentalidade materialista imperante hoje no mundo (como veremos, inclusive em muitos meios que se dizem religiosos), foi necessário estenderme bastante. Como se verá, as ideias aqui expostas não são as comuns que se encontram em escritos que abordam o espírito e o espiritualismo. Para evitar de pronto malentendidos, devo deixar claro que não sou espírita, pois não considero o mediunismo um caminho de conhecimento adequado para o ser humano moderno. Devo também dizer que sou um espiritualista que procura preservar o que há de mais importante na contribuição científica moderna: a clareza de pensamento, a observação sem preconceitos, a descrição de fenômenos e a formulação de ideias por meio de conceitos e não de sentimentos. Meu enfoque científico é um superconjunto próprio do enfoque científico materialista corrente, isto é, como veremos no item 3, admito todos os fatos científicos, e vários julgamentos científicos, mas também admito outros que escapam à ciência materialista atual. No item 2 caracterizo o que entendo por materialismo e espiritualismo, traçando brevemente a evolução da história do

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    PORQUESOUESPIRITUALISTA

    ValdemarW.Setzerwww.ime.usp.br/~vwsetzer

    Originalde12/3/07verso3.0de6/3/11seealsotheEnglishversion

    Indice

    1.Introduo2.Materialismovs.espiritualismo3.Acinciamaterialista4.Evidnciasuniversais4.1Origemelimitesdouniverso4.2Outrascaractersticasdouniverso4.3Formasdosseresvivos5.Evidnciaspessoais5.1Pensamento5.2Sentimentos5.3Vontade5.4Memria6.Comoalgonofsicopodeatuarsobrealgofsico?7.Umnovoparadigmacientfico8.Ahipteseexistencialfundamental9.Consequnciasdasvisesmaterialistaeespiritualista10.Existeumacosmovisoespiritualistasatisfatria?11.Resumodashiptesesdetrabalhoeconcluses12.Referncias

    1.Introduo

    Quandoescreviumartigo sobre a pena demorte,motivado pela discusso aberta com a tragdia ocorrida noRio deJaneirocomomeninoJooHlio,abordeiumaspectoquenoencontradonasdiscussessobreoassunto.Emgeral,pensase exclusivamente na proteo da sociedade e, eventualmente, diminuir seus gastos com o confinamento deassassinos.Oaspectomaisimportantequeseconsideradopontodevistadoindivduoquecometeuocrimequeeledevepagarpeloquefez.Naqueleartigo,abordeiumoutroaspectoindividual.Considerandocadaserhumanocomoumserquepossuiumaessncianofsica,equesuavidatemcomofinalidadeoaperfeioamentodessaessncia,argumenteique no tnhamos o direito de matar ningum, e portanto impedir seu desenvolvimento talvez, para seudesenvolvimento,eleprecisepassarpelaexperinciadeconvivercomalembranadeseusatosesentiraconsequnciadosmesmos.Almdisso,nosepodepreverseumcriminosonovaiseregenerareproduziralgopositivoeessencialpara a humanidade. Infelizmente, s vezes necessrio confinar uma pessoa perigosa para a sociedade,mas isso nosignificaexecutla.

    Esseargumentosfazsentidoquandosesupe,comohiptesedetrabalho,aexistnciadaquelaessncianofsicanoser humano.Quando escrevi aquele artigo, pusme a justificar por que adotava essa hiptese. Percebi, ento, que mealongavademaisassim,resolviescreveropresenteartigo,parapoderreferencilonoanterioreentraraquiemmuitomaisdetalhes sobreo temadopresente ttulo.Comooassuntodelicado,poisvai contra amentalidadematerialistaimperantehojenomundo(comoveremos,inclusiveemmuitosmeiosquesedizemreligiosos),foinecessrioestendermebastante.

    Como se ver, as ideias aqui expostas no so as comuns que se encontram em escritos que abordam o esprito e oespiritualismo. Para evitar de pronto malentendidos, devo deixar claro que no sou esprita, pois no considero omediunismo um caminho de conhecimento adequado para o ser humanomoderno. Devo tambm dizer que sou umespiritualista que procura preservar o que h de mais importante na contribuio cientfica moderna: a clareza depensamento,aobservaosempreconceitos,adescriodefenmenoseaformulaodeideiaspormeiodeconceitosenodesentimentos.Meuenfoquecientficoumsuperconjuntoprpriodoenfoquecientficomaterialistacorrente,isto,comoveremosnoitem3,admitotodososfatoscientficos,evriosjulgamentoscientficos,mastambmadmitooutrosqueescapamcinciamaterialistaatual.

    Noitem2caracterizooqueentendopormaterialismoeespiritualismo,traandobrevementeaevoluodahistriado

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    pensamentosobesseprisma.Noitem3argumentoqueacinciaatualmaterialista,enos4e5apresentoevidnciasquecorroboram a hiptese espiritualista, tanto do ponto de vista do universo como pessoal de cada ser humano, isto ,observvelporqualquerpessoaemsimesmo.Noitem6exponhominhateoriaparaumaquestomilenar:comosepodecompreenderquealgonofsicopodeatuarsobrealgofsico?Noitem7,mostrocomosepoderiaexpandiroparadigmacientficodehojeparainvestigaromundonofsico.Noitem8,discorrosobreofatodequecadapessoadeveescolherahiptesematerialista ou a espiritualista e orientar sua vida segundo amesma, e no 9 abordo as consequncias de seescolherumaououtra,fazendoumaincursonopensamentoreligiosotradicional.Noitem10,mostroqueexisteumacosmovisoespiritualistaqueconsiderosatisfatria,edousuascaractersticasgerais,eno11faoumresumodeminhashiptesesdetrabalhoetirobrevesconcluses.Noitem12doualgumaspoucasrefernciasbibliogrficasadicionaisscitaes,feitasnotexto,dealgunsdemeusartigosqueestoemmeusite.

    Este um assunto delicado como abordo enfoques no tradicionais, convido os leitores a enviarem suas reaes,comentriosesugestes(vermeuendereodeemailnotopodeminhahomepage).

    Depois de escrito este artigo, escrevi o "Cincia, religio e espiritualidade", que complementa o presente em vriosaspectos.Porexemplo,neleeucaracterizooquechameide"espiritualismocientfico",queoaminhaconcepodemundo.

    2.Materialismovs.espiritualismo

    Abordo aqui duas vises de mundo mutuamente exclusivas sobre o ser humano e o universo: a materialista e aespiritualista.Caracterizoavisodemundomaterialistacomosendoaqueconsideraquetudonouniverso,emparticularoserhumano,umsistemapuramentefsico,sujeitoexclusivamenteaocomportamentofsicodamatriaoudaenergia.

    Acosmovisoespiritualistaaquiadotadacomohiptesedetrabalhoenocomocrenaoufconsideraque,nosseresvivos,emparticularnoserhumano,bemcomonouniverso,existemprocessos,quenosoredutveisaprocessosfsicoseaosquaismereferireigenericamentecomo"nofsicos".Adotoessanomenclaturaparaevitarconfusesarespeitodaexpresso "processos espirituais".Mostrarei nos captulos 4 e 5 que no difcil admitir a hiptese da existncia deprocessos no fsicos, expondo para isso evidncias que consideromuito fortes, que qualquer um pode encontrar nouniverso,nosseresvivosedentrodesiprprio.Essasevidnciasdoconfianaparaseadmitirahipteseespiritualista.Comoveremos,consideroqueosfenmenosnofsicospodememcertoscasosinfluenciarosfenmenosfsicosveremostambmcomoentenderqueessainflunciapossaexistir.

    bvioquenouniversoenosseresvivosexistemamatriaeaenergia fsicas. Jos fenmenosno fsicos no soaparentes,poisnossossentidosfsicosetodososinstrumentosfabricadosdetectamexclusivamentefenmenosfsicos.

    Sehojenotemosmaisapercepodomundonofsico,issoclaramentenoocorrianaantiguidade.Porexemplo,navelhandiadavasemaisimportnciaaomundonofsico,associandoseaelemaisrealidadedoqueaomundofsico,que era consideradoMaia, uma iluso. Podese admitir que a percepo dos fenmenos suprasensoriais que havianaquela poca era mais clara do que a dos fenmenos fsicos, pois os rgos dos sentidos no haviam ainda sedesenvolvidocomofoiocorrendoaospoucosatatingiremaclarezaqueexistedesdepelomenososculoXV.Almdisso,opensarnotinhasedesenvolvidocomoocorreumaistardeassim,oqueerapercebidocomofenmenonofsiconoeratransmitidoconceitualmente,massimpormeiodeimagensescritasouparbolas.Umatradiodequeexistiaummundonofsicopordetrsdofsicoperduroupormilnios.Todososmitoseescritosantigos,desdeomaisantigoquerestouescrito,alendadeGulgamesh,passandopelaBaghavadGuita,vrioslivrosdosmortoseaBblia,tratamomundonofsicocomoumarealidade.Mas,aospoucos,oserhumanofoi"caindo"cadavezmaisnamatria,eoqueeraantesconsiderado como realidade perceptvel a rgos no fsicos no ser humano foi, com a decadncia desses rgos,permanecendoapenascomointuiovagaoutradio.Apartirdosc.XVoserhumanodirigiudecisivamentecadavezmaisparasuas impressessensoriais,ecomissovoltousepreponderantementeparaouniverso fsico,chegandoat anegarcompletamenteaexistnciadeummundonofsico.AprimeiramanifestaoescritadissopareceseradeJ.O.delaMtrie,queem1748publicouseulivroLHommeMachine,umademonstraodequenaquelapocajsecomeavaaduvidar que o ser humano pudesse ser algo mais do que um sistema puramente fsico. Esse desenvolvimento foiacompanhadodeumaclarezaconceitualcadavezmaior,iniciadacomosantigosfilsofosgregos.

    Notese que errado considerar o ser humano como sendo umamquina, pois todas asmquinas foram projetadas econstrudasporsereshumanos(eventualmente,comajudadeoutrasmquinas),enenhumserhumanofoiprojetadoouconstrudo (alguns podem at ter sido bem planejados pelos pais, mas certamente no foram projetados e nemconstrudos...).Porissouseiaexpressodequeoserhumanoseria,naconcepomaterialista,um"sistemafsico"enouma"mquina",comosecostumadizermodernamente.Ultimamente,tenhoadotadoumaposiobastanteradical:nosseresvivos,nohabsolutamentenadadepuramentemecnico.Tomese, por exemplo, ummovimentodeumbrao.Poderseiadizer,numaprimeiraaproximao,queelecomportasecomoumaalavanca,algunsmsculossecontraindoe

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    outrosseexpandindo.Masnenhumaalavancatemacomplexidadedosmsculosdenossosbraosedoseumovimentocorrespondente.Defato,consideresequeosmsculossoformadospormiradesdefibras,queporsuavezsoformadasporclulas.Asfibrasinteragementresi,bemcomoasclulas.Assim,omovimentofinaloresultadodeumsistemadeuma complexidade enorme. Nenhuma alavanca jamais foi projetada e construda com essa complexidade, e podeseduvidarqueserpossvelprojetareconstruirumsistemamecnico funcionandoprecisamentecomonossosmsculos.Alm disso, por que as fibras dos msculos contraram ou expandiram? Suponha que alguns impulsos eltricosproduziramessasaes.timo,masqualfoiaorigemdessesimpulsos?Suponhaqueelesforamgeradospelamedulaoupelocrebro.Muitobem,masoque fez essesltimosgeraremesses impulsos?Se a sequncia de causas e efeitos dequalquerprocessoemumservivofoiseguidadessamaneira,sempresechegaaumpontoemquenecessriodizer"nosabemos".Masemqualquermquinasabemosprecisamenteporquealgummovimentououaotomada,eafunodecadaparte.Almdisso,possvelsubstituirqualquerpartedeumamquinaporumaoutrasimilar.Emseresvivos,essenoocaso.Porexemplo,seumaclulaextradadeumcorpovivo,elanomaisaclulaoriginalelanofuncionaexatamentecomoelafuncionavanolocaloriginal,porquedependedeseuambienteedetodooorganismo.Seumapartede um organismo vivo substituda, vai levar algum tempo at que ela seja adaptada quele organismo, e seufuncionamentonuncaserexatamenteomesmoqueaparteoriginal.Defato,cadaservivouma totalidade,eestainfluenciadaporcadaumadesuaspartes,ecadaparteinfluenciaotodo.

    Obviamente,ummaterialistadiscordardaexpressoqueuseiacima,deque"claramente"naantiguidadehaviaalgumapercepodefenmenosnofsicos,jqueparaeleessesfenmenosnoexistem.Noitem9mostrareia consequnciadessadiscordncia.

    3.Acinciamaterialista

    Avisomaterialistademundoavisodominantenacinciamoderna.Oargumentotpico"Todososfenmenossopuramentefsicos,enohoutrapossibilidade."Esseumpreconceitoquesimplesmente limitaapesquisacientfica.Pelofatodeque,paraquasetodososcientistas,essaposionoestarsujeitaadiscusso,denominoade"DogmaCentraldaCinciaContempornea"(DCCC).Porexemplo,usandooDCCCosneurlogosecientistasdacogniopartemdoprincpiodequeopensamentogeradopelocrebrofsico.Elesexpandiriamenormementesuapesquisasefizessemahiptesedequeasatividadesmentaisnosofsicas,ealgunsfenmenosqueencontramosnocrebroenosneurniossoconsequnciadessasatividades,enosuaorigem.Voltareiquestodasatividadesmentaisnoitem5.

    UmoutroexemplodoDCCCateoriadaevoluoneodarwinista.Elatentamostrarqueaevoluodosseresvivosdevida exclusivamente a causas fsicas: as mutaes genticas e a seleo natural. No entanto, a sabedoria que encontradanosseresvivossugerealgumplanejamentoealgumobjetivo,que talvez influenciaramaevoluo.Nodifcil expandir a evoluo darwinista para englobar planejamentos e objetivos no fsicos, isto , um "projetointeligente"(intelligentdesignvejaseumacartaqueescreviaoeditordarevistaScientificAmericanaesserespeito):bastasuporquenemtodasasmutaesenemtodasasseleesnaturaisforamcasuais.Notesequeo"projetointeligente"noprecisaserfeitodeumasvezporumaentidadeabstrataquemuitoschamamdeDeus,comoemgeralqueremoscriacionistasreligiosos,maspoderiasercomandadaporelementosnofsicospresentesemcadaservivoou ligadosacadaespciedeservivoeseguirtentativasaolongodotempo,aperfeioandoomodelosdasvriasespcieseainteraoentre elas.Notesequeno estoudizendoquenohouve evoluo o que estoupropondo que a evoluo no foitotalmentealeatria.No item11exporeiumpossvelobjetivoparaaevoluo.Observeseque fuicautelosoeuseiaexpresso"nofoitotalmentealeatria",abrindoespaoparasecontinuarcomavisoneodarwinistaemalgunscasos.

    Em particular, uma evoluo puramente casual, baseada exclusivamente em foras fsicas, retira totalmente qualquersentidoexistnciadosseresvivos,doserhumanoedouniverso.Sealgumgostariadeadmitirahiptesedequehumsentido para a vida, no pode adotar a evoluo neodarwinista como hiptese,muitomenos como verdade, como comumenteensinada(erradamente)nonvelcolegialepropaladaemdivulgaescientficaspopulares.Alis,valeapenalembrarqueAlfredRusselWallace,ofamosobilogoneozelands,quedescobriuateoriadaseleonaturalemparaleloeindependentementedeDarwin,diziaque leisaplicadasaanimaisnodeviamsersimplesmente transpostasaossereshumanos.Issofoidevidoaofatodeeleterconcepesespiritualistas,naverdade,espritas,contrariamenteaDarwin,queeramaterialista. Isso fica claronamaneira comoWallace termina seu livro sobre darwinismo: "Portanto vemos que odarwinismo,mesmoselevadossuasltimasconsequncias,nocontradizacrenaemumladoespiritualdanaturezadoser humano, porm de fato oferece a ela um apoio decisivo. O Darwinismo nos mostra como o corpo humanodesenvolveuse de formas inferiores de acordo com a lei da seleo natural. Mas ele tambm nos ensina que nspossumoscapacidadesintelectuaisemorais,quenopuderamtersidodesenvolvidasdessamaneira,masdevemteroutraorigem.Paraessaorigemspodemosencontrarumacausanomundoespiritualinvisvel."[HEM,p.102.]Defato,pareceme que Wallace geralmente ignorado, principalmente na biologia do ensino mdio, por causa do preconceitogeneralizado em relao a uma viso espiritualista do mundo (quantas pessoas no mundo que sabem que DarwindescobriuateoriadaseleonaturaltambmsabemqueWallaceigualmenteadescobriu?).

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    AsdvidasdeWallacequantoexplicaodaevoluodecapacidadesinterioresdoserhumanoparteda teoriadaevoluocorrente.Porexemplo,oantroplogoIanTattersalexpressaessefatodaseguintemaneira:"[...]nopodemosatribuir advento das capacidades cognitivas modernas simplesmente como a culminao de uma tendncia dedesenvolvimentodocrebroaolongodotempo.Algumacoisaocorreualmdeumpolimento[buffingup]domecanismocognitivo."[TAT,p.44.]Emparticular,oaparecimentodalinguagemumgrandemistriodaevoluo:"[...]temosqueconcluirqueoaparecimentodalinguagemeosseuscorrelatosanatmicosnofoiimpulsionadoporseleonatural,pormaisqueessasinovaesbenficaspossamparecersignificantesaposteriori[inhidsight]."[p.49.]

    Muitoscientistasdizemserem"cticos"."Ctico",segundoodicionrioeletrnicoAurlioSc.XXI,"umapessoaqueduvidadetudo,umdescrente."Curiosadefinio:serqueumtalcticoduvidadaprpriaexistncia?Umatalpessoadeveriapelomenosseresquizide...Dequalquermodo,umapessoacticanodeveriaterpreconceitos.Noentanto,nooqueseobserva:emgeral,osquesedenominam"cticos"duvidamdequalquercoisaquetenhaavercomreligio,eacreditampiamenteemqualquercoisaquetenhaumcartercientfico.bvioquenosedeveduvidardequalquerfatoverdadeiramentecientficomasoutracoisaacreditarnosjulgamentoscientficos,isto,julgamentosbaseadosemfatose teorias cientficas.Por exemplo,asmedidasdedecaimento radioativoso fatoscientficos.Uslas para dizer que aTerratem6bilhesdeanosumjulgamentocientfico.Defato,essaidadedaTerraobtidasupondoqueodecaimentosemprefoiomesmoefazendoumaextrapolaoextremamentegrosseira(seseconsiderarem60anosdemedidasmuitoprecisas de decaimento radioativo, teramos uma extrapolao de 1:108). O correto, nesse caso, seria dizer que "aextrapolaodasmedidasdedecaimentoradioativodoumresultadode6bilhesdeanos",enochamarissode"idadedaTerra".

    Almdesetercrenasemjulgamentoscientficos,umaoutraatitudetpicadosquesedizemcticosterempreconceitose recusaremse a estudar e investigar qualquer coisa que tenha a ver com processos no fsicos. Assim, "cticos", naverdade,sosimplesmentematerialistaspreconceituosos.UmexemplotpicoodeMichaelShermer,quemantmumacolunanarevistaScientificAmericanequesedenominadectico(verwww.skeptic.com).Eleclaramenteumcrentenacinciaepreconceituosoemrelaoaqualquerideiasobrealgonofsicoque,emgeral,ridiculariza.

    Eumeconsideroumctico,nosentidodenoterpreconceitos.Masnoduvidodetudo:obviamente,noduvidonemdeminhaexistncia,nemdeminhashiptesesdetrabalho,enquantonovejoevidnciasdeelasestaremerradaseestousempredispostoarevislas,isto,notenhocrenasoudogmas.Nessesentido,compreendoperfeitamenteaatitudedoscientistasqueconhecemapenasoaparenteespiritualismodemuitasreligiesecrenas(compareseanooespiritualistadelascomaminhadadanoitem2).Porexemplo,bvioqueaGnesedaBbliaumaimagem,enoumadescriodarealidade.Assim,tomaraquelasimagensaopdaletra,comoporexemploqueos"dias"daCriaosodiasde24horas,oudizerqueaidadedaTerradeaproximadamente6.000anos(oassimchamado"CriacionismodaTerraJovem"YoungEarthCriationism),spodeprovocaroposiodoscientistas.Asreligiestradicionaisemgeralapelamparaaf,enopara a compreenso, que permanentemente buscada, com razo, pelos cientistas. Por outro lado, simplesmente ficarfalandodeDeusatodahora,independentedaconcepooufaltadestaquesetemdele/a,nofazumapessoaserumespiritualistanacaracterizaoquedeiaessaviso.Voltareiaessaquestonoitem9.

    4.Evidnciasuniversais

    4.1Origemelimitesdouniverso

    Aevidnciaexteriorparaaexistnciadeprocessosnofsicosqueconsideromaiscontundenteaorigemdamatriaedaenergianouniverso.Claramenteessaorigemnofazsentidofsico.Oqueseconsideracientificamentequeessaorigemseriadevidaauma"descontinuidadenoespaotempo".Squeasetratadeumraciocniopuramentematemtico,semconsistnciafsica.Umoutroenfoquetemsidosuporsequeouniversocontraiseeexpandesecontinuamentemas,deumpondodevistafsico,comoesseprocessocomeou?Algunscosmlogosdizemqueessasquestesnofazemsentido,demodoqueelassosimplesmenteignoradas.

    Oargumentodaorigemdamatriaedaenergiatopoderoso,quemuitoscientistasfalamclaramenteem"momentodacriao".Noentanto,praticamentetodoseles,apesardeadmitiremainflunciadealgonofsicono"incio"douniverso,afimdepermaneceremdentrodomaterialismoedoDCCCdizemque,depoisda"criao",anaturezafsicafoideixadaaatuarporsiprpria,cessandotodaequalquerinflunciadealgonofsico.Curiosamente,soespiritualistasnacriaodamatriaeenergia,esomaterialistasdaparafrente...

    Igualmente, as fronteiras do universo no fazem sentido fsico. No adianta dizerse que o nosso universo como asuperfcie de uma bolha, que no tem limites nas dimenses daquela superfcie a qual, no caso do universo, seriatridimensional.Todabolhatemumespaoforaedentrodamesma.Oqueestarianessesespaosemrelaoaouniversofsico?Mesmoseesses "fora" e "dentro" tivessemquatrodimenses (para que a superfcie dabolha tivesse trs), esseespao de quatro dimenses deveria ter projees fsicas em trs dimenses. Estou ciente da teoria dos universos

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    mltiplos, baseada numa especulao de que haveria infinitos universos. No entanto, essa uma fantasmagoriamatemticaquenocreiovalerapenaadmitircomotendorealidadefsicadequalquermodo,completamentenoverificvelnaprtica.

    Jquefaleideespaodequatrodimenses,talvezseriainteressantecolocaraquiumaobservaodeRudolfSteiner:sesedesejaimaginaromundonofsico,nosedevepensaremquatrooumaisdimensesespaciais,massimemduas.Defato,emumespaodeduasdimensesnoexistematriafsica,pois,digamos,suaespessuraserianula.

    4.2Outrascaractersticasdouniverso

    Para exprimir resultados demedidas de experincias no nvel atmico e astronmico, a Fsicamoderna necessita deelementosemsuasfrmulasmatemticasquesoabsolutamenteincompreensveisdopontodevistadoconhecimentobaseadoemnossaexperinciasensorial.Esseocaso,porexemplo,darelatividadedoespaotempoecertosfenmenosqunticos,oquepodeindicarquenomicrocosmoatmicoounomacrocsmicoastronmicoamatrianosecomportadeumpontodevista"material"comopodemosentenderapartirdenossaexperinciasensorial.Issoocorre,porexemplo,comanolocalidadequnticaemque,independentementedadistncia,umapartculatransmiteemtempoinstantneoseuestadoparaumaoutrapartculaaela"atrelada"(entangled).Aosedetectaroseuestado,asegundaassumeomesmoestadodaprimeira(ver,porexemplo,[GRE,cap.4]).Umoutroexemploospindaspartculas,quenouma rotaocomoonomediz,poistemcaractersticasquenopodemserassociadasaumarotao(comoexistiremtornodetodososeixospossveis,enoemumscomotodarotaoquesepreze).Defato,ospindaMecnicaQunticanotemlimiteclssico,isto,nopodeserassociadocomumaenergiaconhecidaesercompreendidocombaseemnossaexperinciasensorial.

    Outrosexemplossoa"energiaescura",queproduziriaarepulsoqueresultanaexpansodouniverso,formandodocontedodomesmo[CON,p.25](masnoafeta"pequenas"distnciascomoasdenossagalxia)a"matriaescura",queconsistiriaem85%detodaamatrianouniverso[p.27]eotempo,quenostoperceptvel,principalmenteo"agora",quenoocorrenaFsicacomoseriadeesperar,poisemseusmodelosmatemticoselesemprereversvel[GRE,p.131].

    Nonveldaspartculasatmicas,adualidadepartculaondatambmparecemeumaindicaodequenoseestmaisnonvelpuramentefsico.Noteseque"onda"umconceitomecnicoquefoitransportado(indevidamente?)paraumnvelquetalveznosejamecnico.Issosedeu,porexemplo,naconclusodequealuzondulatria,apartirdaexperinciade interferncia:umfeixede luzpassandoporduas fendas finaseprximas,dirigidoaumanteparoatrsdas fendas,provoca a alternncia de zonas claras e escuras com certas propriedadesmatemticas simples que so usadas para secalcularocomprimentoda"onda".Omximoquesedeveriaafirmarnessaexperinciaquealuz,depoisdeinteragircomasfendas,produzatrsdelas,noanteparo,umfenmenoaoqualsepodeassociarumcomportamentoondulatriono sedeveria afirmar algo sobre a natureza da luzantes de interagir com as fendas e antes de provocar o efeito noanteparo! Dizer algo sobre a natureza da luz antes da interao com as fendas e antes de atingir o anteparo umaespeculao. Curiosamente, foi precisamente a Mecnica Quntica que introduziu a ideia de que as experinciasinfluenciavam o comportamento das partculas, por exemplo o Princpio de Incerteza de Heisenberg. Deverseiaobviamenteconsiderarapossibilidadedequeasfendaseoanteparoalteramanaturezadaluz.

    Aondadamecnicaqunticaumaondadeprobabilidades.Masesseumconceitopuramentematemticocomo possvelqueconceitospuramentematemticosgeremfenmenosfsicos?Seriaomesmoquesimularosefeitosdeumincndio no papel ou em um computador e sair correndo de medo de se queimar... Alm disso, essa onda deprobabilidades transcende nossa capacidade de imaginar e compreender a realidade que ela deseja expressar. Porexemplo,comoqueumaondadeprobabilidadesepropaga?Issotambmparecemeindicarqueestamoslidandocomalgoquetranscendeonvelfsicodenossossentidos,abasedetodoomaterialismo.Masamaisforteindicaodessefatononvelatmicoo fatodenosepoderentenderoqueumapartculaatmica.Contrariamente crena popular,induzidapeladivulgaocientficaepeloensinoerradodacincia,oeltronnoumabolinhadiminutaenoorbitaemtornodoncleo(omodelode1910deRutherford).Seassimofosse,eleiriairradiarenergiaeletromagntica,poisparamudar de direo deve sofrer acelerao, e qualquer corpo com carga eltrica que acelerado irradia energiaeletromagntica,princpiodetodasasantenasirradiantes.Comoisso,oeltroniriadescreverumaespiralecairnoncleo(vejase,porexemplo,http://library.thinkquest.org/19662/low/eng/exprutherford.html).

    Tudoissoparecemeumaindicaodequeamatriamicrocsmicaatmicaouamacrocsmicaastronmicatranscendemoplano fsico.Talveznessesnveisamatriadeixede terconsistnciapuramente fsicada terqueser descrita pormodelosmatemticoscomplexos,incompreensves.OcorremeaquitambmocasodaTeoriadasCordas,paramodelarocomportamentodepartculastratasedeummodelocom11dimenses,isto, totalmente incompreensvel.Talvezamatria seja simplesmente uma "condensao" de algo no fsico. Poderseia supor que fenmenos no fsicos, danaturezadenossopensamento,seriamaorigemdetudo.Issolevaaummonismodopensamento,emlugardomonismodamatriacomoestabelecidopelomaterialismo.RudolfSteinerfoiumprecursordessaideia[STE].

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    4.3Formasdosseresvivos

    Parainciodeconversa,a"vida"umgrandemistrioparaacinciacorrente.Masmesmofatosmaissimplesnopodemserexplicadosemtermoscientficosatuais.Porexemplo,aextraordinriasimetriaexistenteemalgumasespcies,desdeplantasassereshumanos,umagrandequestoemaberto.Algumasespciesdeborboletastmfantsticosdesenhosemsuas asas.Comoa simetriadessas lindas figuraspode ser explicada?Umaexplicao popular que a forma est nosgenes.Masocrescimentonosseresvivosnoprecisoaparentemente,semprehalgumavariaoaleatria,demodoquesepoderiaesperarqueasimetrianofossetoprecisa.impossvelimaginarumapequenapartedeumaasadeumaborboletacomunicandopartecorrespondentenaoutraasa,dealgumamaneirafsica,oquantoaprimeiracresceuouquecoratingiu,demodoqueasegundasigaaprimeira,mantendoasimetriaacioneaquiparaabrirumanovajanelaemseunavegador,comfotosdeborboletasmostrandoessasimetria.Omesmoacontececomnossasorelhas,quenoparamdecrescerdurantetodaavidamasnormalmentepreservamumaboadosedesimetria.Seorelhasdeduaspessoasdiferentessocomparadas,suadiferenantidamasnormalmenteasdiferenasentreasorelhasdeumapessoasogeralmentemuito pequenas. H plantas em que a ponta dos galhos ou das folhas formam uma curva tpica para a espcie, quepodemosreconhecercomnossopensamento.AcioneaquiparaabrirumanovajanelacomumafotodeumafolhadeumaCosteladeAdo(Monsteradeliciosa),mostrandobemnitidamenteatpicacurvaformadapelasbordasdecadapartedecada folha acione aqui para abrir uma nova janela com uma foto de uma palmeiramostrando claramente as curvasseguidaspelaspontasdas folhasdedois ramosgrandes.Umoutro exemplo a forma cnica de algumas espcies depinheiros.Algumasespciesdepalmeirasparecemformaresferascomaspontasepartesfinaisdosgalhos,inclusivecomcurvasdasltimas.Noteseasnossassamambaias:emmuitasespcies,aspontasdosraminhosquesaemderamoscentraisformamcurvastpicasparecendoflechasalongadas.

    Emtodososexemplosdeplantascitadosacima,comoqueumramo,ouapontadeumafolha,ouumapartedeumafolha,contamaosoutrosramos,pontasoupartescorrespondentesquantoelescresceram,paraqueosltimoscresamnamesma proporo, demodo que a forma global seja produzida e preservada durante o crescimento e a regenerao?Aparentemente,asformasdosseresvivosparecemseguirummodelomentaleporissoqueasreconhecemoscomonossopensamento.Masmodelosmentaisnosofsicos,sopurospensamentos.Explicoasformasdeseresvivoscomoseguinteraciocnio:ummodeloarquetpiconofsico,damesmanaturezaquenossopensamento(porissoconseguimoscaptarmentalmente essemodelo), controla o crescimento e a regenerao de tecidos e rgos. Cada ser vivo e cadaespcie temtaismodelosassociadosaeles.Essesmodelosnodevemserconfundidoscomdesenhosde projetos, porexemplonasengenhariascivil,mecnicaeeltrica/eletrnica.Estesltimossomodelosestticos.necessrioimaginaromodeloqueregulaocrescimentoearegeneraodeumservivocomosendoummodelodinmico.Porexemplo,tomeseanossapopularmimosadejardim,Acaciapodalyriifolia,queproduzmaravilhososcachosdefloresamarelascomosuaveperfumecaracterstico.Asprimeirasfolhasquecrescememumanovamimosatmaformadasfolhasdeumaaccia(e,curiosamente,encolhemsenoite...),enoa formadechamadevelaeaespessuradasfolhasfelpudas tpicasdasmimosasjumpoucocrescidasougrandes.Interessantemente,anossamimosaselvagem,quedmenos flores, tmasfolhasnaformadasaccias.(Convidoosleitoresaplantaremumassementesdemimosaemumvasoparaseguiremessesinteressantes passos.) Temos aqui um caso de modelos que controlam o crescimento das primeiras folhas, e outrosmodelosparaasfolhasmaistardias.Seseconsideramosvriosestgiosdecrescimentodequalquerpartedeumservivo,aparentementehumainfinidadedediferentesmodelosquesoseguidosemsequnciasbemdeterminadas.Nuncasedeve extrapolar nossas experincias sensoriais para o mundo no fsico. Para captar e compreender a essncia desteltimo,necessriodesenvolverumnovotipodepensamentodinmico,vivo.ObservandoafotodasCostelasdeAdo,cujo vnculo est no pargrafo anterior, podese notar como as folhas seguem modelos especficos coordenando ocrescimento das bordas das suas partes. Com nosso pensamento, ns imediatamente reconhecemos a forma tpicaresultantedefato,comelenscompletamosacurvainterrompidaformadapelasterminaesdaspartesdasfolhasessacurvafazpartedaessnciadosmodelesseguidospelaplanta.

    Obviamente,omodelonofsicointeragecomaestruturafsicadeumservivo,porexemplocomseuDNA.Mudandoesteltimo,podeaparecerumamudananaformadeumaplanta.Omeioambientetambminfluenciaocrescimentoeregeneraodostecidos.Noitem6exponhominhateoriadecomoummodeloarquetpico,nofsico,poderegularessesprocessos.

    5.Evidnciaspessoais

    interessante notar que o pensar, o sentir (tanto ter sensaes quanto ter sentimentos) e o querer (por exemplo, terimpulsosdevontade)sofenmenosinteriores individuais"ocultos"soutraspessoasouaaparelhos.Porexemplo,impossvelprovaraoutremqueseest tendoalgumadessasatividades interioresespecfica (porexemplo,queseestpensandoousentindoalgo).Emparticular,asensaoeosentimentosopuramentesubjetivoscadaumtemqueteroseu,comoveremosnoitem5.2.Noentanto,aquelasatividadesinterioressototalmente"reais"paraqualquerpessoaningumtemdvida,porexemplo,dequeestpensandoemumacertacoisaousentindoalegria,quandoissoocorre.Issomostraqueumoutroparadigmacientficodeveriaseradotado,casocontrriojamaissecompreenderoserhumanocomo

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    umtodo.Oatualparadigmabaseiaseemreprodutibilidade(queoserhumanonotemoleitornoserexatamenteomesmodepoisdeleresteartigo!),emexperinciasquedevemserfeitaspublicamente(oquecolocanossasexperinciasmentais fora do mbito da cincia, quanto ao significado delas para ns prprios), fora o lamentvel reducionismobaconiano que, por sinal, responsvel em grande parte pela destruio atual da natureza.Alm disso, os conceitosdevem ser expressosmatematicamente, para que a conceituao seja amais objetiva possvel (qualquer pessoa podeseguir o raciocniomatemtico) e se possa prever numericamente o resultado das experincias, mtodo que vem deGalileu, Newton e Descartes. Lord Kelvin (o da escala de temperaturas) escreveu que o que no pode ser expressomatematicamenteno cincia.Com isso, eliminamse totalmenteos aspectosqualitativos, que fazemparte de nossaexperinciacomum.

    5.1Pensamento

    Paraexaminarumacaractersticafundamentaldopensamento,voudaraquiaoleitordoisexercciosmentaisquepodemserexecutadosporqualquerpessoa.

    Tomedoisobjetosaparentemente iguais,comoduas lmpadasdemesmamarca emodelo.Coloqueas simetricamente(porexemplo,comossoquetesvoltadosumparaooutro)sobreumasuperfciehomognea(porexemplo,umafolhadepapel branco), preferivelmente sem causarem sombras, demodo que fiquem emuma posio horizontal em relao mirada(isto,comoseixosdaslmpadasformandoumalinhamaisoumenosparalelacomalinhaqueligaosolhos)tomeocuidadoparaqueessasimetriasejaperfeitaporexemplo,sehouveralgumainscrionaslmpadas,escondaadeseucampodeviso(poisemcasocontrriotalvezosdizeresdeumaseroimediatamentelegveis,eosdaoutraestaroinvertidos). Observeas atentamente. A seguir, feche os olhos, e escolha uma delas para lembrar, concentrando seupensamentopelomenosporalgunsinstantesnessarepresentaomentaldalmpadaescolhidaemsuaposioparticular,sempensaremqualqueroutraimagemoupensamento.Observebemesseprocessodedecisodequallmpadalembrar.Sesentirquehumatendnciaa lembrara imagemdeumadelas (porexemplo,por tervistorecentementeumalmpadanessa posio), note que possvel direcionar o pensamento para lembrar a outra.Em lugar de lmpadas, podem serusadasduascanetasiguais,ouquaisqueroutrosparesdeobjetosaparentementeidnticos.

    Nosegundoexerccio,assumaumaposiosentadaconfortvel,emumlocalcompoucorudo.Fecheosolhos.Produzaumacalma interior, isto, afasteospensamentose sentimentosque eventualmenteoperseguem, comopreocupaes,ansiedade etc. Esse estado de calma interior uma sensaomuito particular, facilmente reconhecvel. Em seguida,imagineummostrador,dessescomnmerodesenhaparafilasdeguichs,porexemploondeosnmerosaparecememvermelho brilhante. Imagine que o nmero 100 est representado nesse mostrador, e "fale" interiormente "cem". Emseguida,imagineonmero99lmostrado,efaleinteriormente"noventaenove",eassimsucessivamenteparanmerosdecrescentes.Observeseupensamento,evejaatquenmeroconseguechegarsemqueapareaoutraimagemou"som"interioremsuamente.Noteque,nomeiodacontagemregressiva,seupensamentoprovavelmenteserdesviadoporcausadeumapreocupaooudeumaassociaomental involuntria.Por exemplochegandoaonmerode sua residncia,talvezserimaginadaaplacadesuacasacomonmeronelagravado,bemcomoafrentedacasa,outalvezalgodeseuapartamentoseeletemaquelenmero,outalvezonmerorecordeaidadedeumparenteidosoedatalvezsejalembradoorostodomesmoetc.Masoimportanteobservarquepossvelexecutaroexerccioparaalgunsnmeros,semqueopensamentosejadesviadodacontagem.Apropsito,esseexerccio servede teste para a capacidadede concentraomental.Comtreino,isto,repetindoseoexerccio,essaconcentraonormalmenteaumenta,econsegueseatingircadaveznmerosmenores,semperderaconcentrao.Arazodeusarumasequnciadecrescentedeveseaofatodequeumacrescentemaisfamiliar,tendendoaserimaginadainteriormentedemaneiramaisautomtica,dificultandooexerccio.

    Poisbem,qualquerpessoaquefaaumouambososexerccios,poderobservarquenada,absolutamentenadaaimpeleaescolherumadeterminadalmpadaouparar(pelomenosinicialmente)deimaginaromostradorcomseusnmeros.Comisso,apessoaterfeitoaobservaodequeseupensamentolivre, tantoparaescolherumadas lmpadascomoparacontinuaraimaginarapenasomostrador,pelomenosporalgunsinstantes.

    Poderseiapensaressaumasensaodeliberdadenopensamento.Masnosetratadeumasensaosubjetiva,esimdeumaobservaoobjetivadoprpriopensamentonotesequefizquestodeempregarvriasvezesapalavra"observar"quando descrevi os exerccios. fundamental que se reconhea que existe uma objetividade no pensamento. Porexemplo,umapessoamentalmentesadia temabsolutacertezadeestarpensando.Alis,denossasatividades interioressomente o pensamento pode ter absoluta clareza e certeza segundoRudolf Steiner (ver o seu livroAFilosofia daLiberdade[STE]),issodevidoaofatodeque,parapensar,nonecessrianenhumaoutraatividadealmdopensar[p.37].Almdisso,opensaranicaatividadeemqueoobjetoconfundesecomaao[p.39].Defato,podesepensarsobreopensarporexemplo,quandoseobservanosdoisexercciosoquesepassacomopensamento.Comtodasasoutrasatividadeshumanas,issonoocorre.Porexemplo,digerimosoalimentoingerido,enoadigestoandamoscomaspernas,enocomoandarsentimosumador,oualegria,devidoaalgumacausa,enoaosentirtemosasensaodoazedodolimo,enoasensaodetersensao.

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    A independncia do pensamento em relao a outras atividades, tornandoo um ponto de apoio, um fulcro para aexistncia,nodependendodemaisnada,foioque,segundoSteiner,levouDescartesaformularoseuCogito,ergosum[STE,p.37].Almdisso,pensamentoaatividadeinteriormaiscontrolvel(veroitem5.2).

    Aobjetividadedopensamentomuitoclaranaatividadematemtica.Porexemplo,oconceitocorretodecircunfernciaomesmopara todasaspessoasqueodetm.Masela tambmexistenosprocessoscognitivosemgeral.Porexemplo,convidooleitoraresponderagoraaoseguinte:qualoobjetoquepercebidovisualmentenaentradadasalaemqueest?Deixareialgumaslinhasembrancoparaquesuarespostanosejainfluenciadapeloquesegue.

    Fazendo essa pergunta em inmeras palestras, a resposta foi, invariavelmente, "uma porta". Perguntando a todos ospresentessealgumduvidavadeestarpercebendovisualmenteumaporta,ningumsemanifestava.Ora,issomostraumaobjetividadetotalnessaexperincia.Porqueocorreessaobjetividade,secadaumtemumapercepovisual diferente,com cores umpouco diferentes, com ngulo de viso diferente? Isso ocorre pois em verdade no houve apenas umapercepovisual.Apercepovisual de impulsos luminosos, apenas isso!A resposta estava errada.No se percebevisualmenteuma"porta",simplesmenteporque"porta"umconceito,econceitosnosoobjetosfsicos,perceptveisvisualmentecomnossosolhos.Oquehouveque,apartirdapercepovisualdosimpulsosluminosos,apareceuumarepresentaomentaldoobjetovisto,eaopensamentofezumapontedessarepresentaomentalparaoconceito"porta"[STE,p.71].Notecomoformuleiapergunta:escolhicuidadosamenteaexpresso"percebervisualmente"eno"ver".Tivequefazlopois,inconscientemente,aspessoasconsideram"ver"comoenvolvendooconceito,eeuqueriaisolarclaramente a percepodo conceito captado (ou "observado"!) pelo nosso pensar.De fato, se no possvel associarpercepesvisuaisaconceitos,novemosnada!RecomendofortementeoestudodoextraordinriolivrosobreahistriaeanaturezadaluzpelofsicoqunticoArthurZajonc,ondeelemostraemdetalheesseextraordinrioaspectodenossosprocessosvisuaisque,emgeral,passadesapercebido[ZAJ,pp.5,183].

    Comonocasodosconceitosmatemticos,vouadmitirahiptesedequeoconceito"porta",etodososoutrosconceitos,soentidadesnofsicas"gravadas"nomundoplatnicodas ideias.Algunscientistasadmitemaexistnciadeum talmundo,comoporexemploofamosofsicomatemticoRogerPenrose[PEN,pp.97,428]seupontodepartidasoosentesmatemticos.

    Nossopensamentocapazdeatingiressemundoplatnicopoisdamesmanaturezaqueele,tendoacapacidadedeobservlo.Oscientistaspadresdacogniodiroqueissobobagem,poisoconceito"porta"estgravadoemnossocrebro.Squeelesnosocapazesdetornaressaespeculaoumfatocientficonoconseguemnemmostrarondeecomogravamosarepresentaodonmero2!Imagineseentoonumeralpara2,aquiloquehdecomumentretodasasrepresentaessimblicasdessenmero,equeumpuroconceito,semrepresentao.Comoqueumtalconceitopodeestar gravado, seja l onde for? Obviamente, eles usaro um argumento muito empregado pelos cientistas quandoenfrentam algo desconhecido: diro que no conhecemos esses processos no crebro hoje, mas amanh eles seroconhecidos...Dequalquermodo,tenhoplenodireitodeformularumahiptesedessas,poisnocontradiznenhumfatocientficoconhecidohoje.Contradiz,issosim,osjulgamentosdosseguidoresdoDCCC(veroitem3acima),isto,dequasetodososcientistas.

    fundamental colocaremse em seu devido lugar as experincias atuais com o crebro: o que se conhece hoje deprocessosmentais(certospensamentos,lembranas,sentimentos,percepesetc.)que,dependendodotipodeprocesso,certasreasdocrebrosomaisativadasqueoutras,oquedetectadopormeiodeimagensproduzidasporressonnciamagntica,PET scanning etc.Mas a partir disso, omximo que se deveria afirmar que essas reasparticipam dosprocessosmentaisjamaissedeveriaafirmar,anosercomoespeculao,queessesprocessossooriginadosnessasreas.Umexemplotpicodeafirmaoindevidanessalinhaaespeculaoquesefazsobreaorigemdeprocessosmentaisquedesaparecemoumudamquandoexistemlesesnocrebro.EsseocasodeAntnioDamsio,cujolivroDescartesError[DAM]partedofamosocasodorapazPhineasGage,quefoiatingidonacabeaduranteaconstruodeumaferrovianosEUAem1848,tevepartedocrebroarrancadoecomissomudoudecomportamentosocial.Damsiologoconcluiqueessecomportamentoerageradopelapartelesionada,edaconstritodasuateoriatpicaparaomaterialismodehojeem

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    dia,dequeamenteocrebrofsico(edasuaafirmaodequeDescartesestavaerrado,poisesteconsideravamenteecrebro como entidades separadas), em lugar de dizer o correto, isto , que a parte lesionada estava envolvida nocomportamentosocialequeocrebroestdealgumamaneira simplesmenteparticipandodomesmo.Seumareadocrebrolesada,perdemsecertascapacidadesmentais.Podesesuporque,naverdade,oqueseperdeaconscinciadosprocessoscorrespondentes,eelesnopodemmaissercontrolados.Issonoslevaaoseguinte.

    Comosepodeentenderqueocrebrosejanecessrio,seumprocessomentalfororiginalmentenofsico?Steinerdumaresposta interessante: o crebro fsico, ou o sistema neurolgico, so necessrios pois funcionam como espelhos,refletindoosprocessosmentaisparaaconscincia.Seumapessoaolhaseemumespelho,elatornaseconscientedeseurostocomoestnaqueleinstante,eimpossvelelateressaconscinciasemalgoqueespelheseurosto.Porexemplo,olhandonoespelho,elapodefazerumacaretaeacompanharecontrolaresseprocesso.Quebrandoseoespelho,elanotemmaisconscinciainstantneadeseurostoenotemideiaseestrealmentefazendoacaretacomoefeitodesejadomasnodeixadeterrosto!Isto,perdeuaconscinciadaformadeseurostonaquele instante.Hoje,emlugardeumespelho ela poderia filmar seu rosto comumaweb cam e projetar sua imagem em seu computador,mas a o sistemacomportarseiacomoumespelhoseosistemaparardefuncionar,aconteceromesmoquenocasodoespelhoquebrado.Assim,quando pensamos, o crebro permite que tenhamos conscincia do que estamos pensando com isso podemoscontrolarnossopensamento.Noteseque,devidoaumconhecimentointuitivoantiqussimodesseprocesso,empregaseapalavra"refletir"comosinnimode"pensar"!Issopodemostrarquehaviaumanoodoqueopensamentocomo foiindicadoaqui.

    Assim,onossocorpofsicoessencialnosprocessosmentaisusuais,enodevedemodoalgumserdesprezado.

    Restaoproblemadecomoumprocessonofsicopodeinfluenciarumprocessofsico.Tratareidessaquestonoitem6.

    Voltemosquestodaobservaointeriordapossibilidadedesedeterminarlivrementeoprximopensamentoisto,semserforadoporimpulsosexteriores,porsentimentosetc.Essaconstataomostraquehprocessosinterioresquenopodem ser explicadosmaterialmente. As caractersticas fsicas impem certo comportamento para a matria e para aenergia:destasnopodeadvir liberdade, isto,autodeterminaoconsciente.Defato,umvelhoraciocnioa respeitodissooseguinte:umtomonopodeser livreportanto,umgrupodetomos formandoumamolcula tambmnopode ser livre um grupo demolculas, formando uma clula, idem um rgo, que um grupo de clulas, ibidemportanto um corpo, que um conjunto de rgos, tambm no pode ser livre. Ento, de onde surge a liberdade?(Obviamente,dirijomeaosqueconseguemadmitila,eventualmentebaseadosnosexercciosdadosnoinciodesteitem.)Notese que total liberdade s podemos ter em nosso pensamento: no temos liberdade de mover nossos braos dequalquer maneira, em todas as direes, mas temos liberdade para pensar no que decidamos pensar. Nossos braosdependemdenossaconstituiofsica,nossospensamentos,no(somenteaconscinciadoquepensamos,eportantoocontroledospensamentosdependemdenossocrebro fsico, comoexpostoacima).Tambmno temos liberdade emnossaspercepes,que so determinadas pelo objeto sendo percebido e pelos nossos rgos sensoriais. Tambmnotemos liberdadede ter algumsentimento.Por exemplo, ou gostamos ou no gostamos de algo no podemos decidircomear a gostar de algoquenogostamos (como tempo, esse sentimento podemudar,mas isso no pode ser feitoimediatamente).Nossavontadetambmnolivre:porexemplo,seestamoscomfome,sentimosoimpulsodecomerpodemosrefrearnosenocomernada,masoimpulsocontinuaraexistirsimplesmentenoconseguimos eliminlo(podemoseventualmenteesqueclo,setemporariamentenosdistrarmoscomalgodiferentedecomida).

    Aliberdadedopensamentomostraquehalgonofsicoligadoaelenessesentido,Descartesestava,decertamaneira,errado.Ocorretoseriaeleterformuladocogito,ergononsum,isto,justamenteporeupoderpensar,possoconcluirquealgodenofsico,noexistentefisicamente,passasedentrodemim(esse"dentro",tomadoemumsentidoamplo,nosfsicodocorpo).

    No segundoexerccio,mencionei a criaode uma calma interior.Apossibilidadede se conseguir isso tambmumaindicao de que existem processos no fsicos no ser humano. Se dependssemos totalmente de nossa matria, aspreocupaeseansiedades,tocomunseintensashojeemdia,nela"gravadas",nopermitiriamquepudssemoscriarumestadodecalmainterior.

    5.2Sentimentos

    Tanto animais como seres humanos tm sensaes e sentimentos. Infelizmente, usase em portugus omesmo verbo,sentir,paraamboseminglshtosenseetofeelemalemoadistinoaindamaisclara,empfindenefhlen.Vamosdeixarclaraadiferenacomexemplos:chupandoseumlimotemseassensaesdeacidezedosabordolimo.Apsterseessassensaes,experimentamosumsentimentodeprazeroudedesprazer(hpessoasqueadoramchuparlimo!).Prazeredesprazersodevidosasentimentosaindamaisbsicos:atraoourepulsa.

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    Examinando esses dois processos, podese observar que sensaes e sentimentos so absolutamente individuais esubjetivos.Asensaoqueeusintoaochuparumcertolimoseupossosentir.Domesmomodo,oprazeroudesprazerqueeusintochupandoumlimoseupossosentir.Possodescreverminhassensaesousentimentosparaoutrapessoaeat demonstrlas por gestos e expresses faciais, mas essa ltima no sentir minhas sensaes e sentimentos. Porexemplo,possodescreverque,emcertasituao,estoualegre,eaoutrapessoapode,porempatia,alegrarsecomigo.Noentanto,aalegriaquesintonica,poisaalegriaqueaoutrapessoasentiraovermealegresuaprpriaalegria,noaminha.

    Contrapondoaopensamento,quejexaminamos,podeseverquehumadistinofundamentalentreesteeassensaesesentimentos,almdacapacidadedecontrolaroprimeiro(cf.item5.1):opensamentopodeseruniversal,quandoseofoca em um conceito universal, como por exemplo um conceitomatemtico como eu j disse no item anterior, oconceito correto de circunferncia o mesmo para todas as pessoas. Assim, o pensamento pode ter um carter deobjetividade.Poroutrolado,sensaesesentimentossoabsolutamentesubjetivoseindividuais.Comopensamento,eumeligoaouniverso,passoapertenceraeleaosentir,tenhoumaexperinciademinhaprpriaindividualidade.devidossensaeseaossentimentosqueomundononosindiferenteelenosseriaindiferentesefssemosserespuramentecognitivos,comonotouSteiner[STE,p.80].

    Aquivemumpontofundamental:nohindividualidadenamatriaounaenergia,nosentidodeelasteremsentimentos. preciso que o ser vivo tenha um sistema nervoso para poder sentir. Mas o sistema nervoso matria. seufuncionamentoparticularemminhahiptesede trabalho,comoconsequnciadeumaaono fsica espelhandosensaesesentimentosparaaconscincia,domesmomodoquedescreviparaopensamento,quenosfazterconscinciadonossosentir.

    Oargumentodanoindividualidadedamatriapodetornarsemaisclaroquandoseconsideramasmquinas.Elassouniversais, e nunca individuais, pois mquinas de mesma marca e modelo tm exatamente o mesmo projeto, eeventualmente foram construdas precisamente damesmamaneira. (Recordemos que os seres humanos, e tambm osanimaiseasplantas,noforamprojetadoseconstrudos.)Duasgeladeirasdamesmamarca,modeloecor,comosseustermostatos colocados na mesma posio, digamos, 2, atingem depois de algum tempo temperaturas estveis compequena diferena.Mas isso no suficiente para associar individualidade a elas. Emmeu artigo sobre IntelignciaArtificial[SET]useiesseargumentoparamostrarquemquinasjamaisterosentimentos(lembresedoqueescreviacima:sentimentoshumanosso individuaise subjetivos).Emparticular,qualquermquinadigital, comoum computador, uma mquina universal pois, dada suficiente capacidade de armazenamento de dados e tempo, qualquer uma podesimularoutra,comoAlanTuringdemonstrouem1935,aodefinirjustamenteoqueuma"mquinauniversal"(ver,porexemplo,http://en.wikipedia.org/wiki/Turing_machine).

    Seseguirmosoprocessodeseterumasensao,podeseteroutrovislumbredecomohalgonofsicoenvolvido nosentir.Tomemosumprocessovisual,comoverumasuperfcievermelha.Osimpulsosluminososatingemnossasretinas,porumprocessorelativamentemecnico.Aretinatransformaosimpulsosluminososemimpulsoseltricos,quepassampelonervoptico.Ateno:nosepensequepelosnervospticospassa,sobformadeimpulsoseltricos,umadiminutaimagem(invertida...)doobjetovisto:verificousequeoquepassaumsinalsemelhanteaorudo.Almdisso,osfeixesdenervosquesaemdasmetadesmediais(isto,maisprximasdalinhamedianadorosto)decadaolhocruzamsepara,juntocomosfeixesdasmetadeslateraisdecadaolho,constituremotratopticodecadalado.Assim,otratopticodoladodireitoconstitudoporfibraslateraisprovenientesdoolhodireitoefibrasmediaisprovenientesdoolhoesquerdo.Ossinaisvindosporessesfeixesvopara5diferentesreasdocrtexcerebral,dedicadasprimordialmentepercepovisual,movimentos no espao visual, ememria ptica que ativamdiferentes reas no hemisfrio direito, bem comopercepodeformaedecornohemisfrioesquerdo[ROH,p.17].Atemosmaisumproblema:comoqueessas5reasdiferentesprovocamuma representaomental nicadoobjetopercebidovisualmente?Comoeondeprecisamente formadaessarepresentao,comoelaviradadecabeaparacima?Nosesabe.Almdisso,comojvimosnoitem5.1,umfatoque,semquesepossaassociaralgovistocomumconceitoconhecido,nosevessealgo.Seosconceitosnosofsicos,halgumprocessonofsicoenvolvidomesmonumaperceposensorial!Mascontinuemoscomoprocessode ver uma superfcie vermelha. Fazemos uma representaomental dessa superfcie, e em seguida temos a sensaointerior do vermelho. Como produzida essa sensao? Um grande mistrio da cincia cognitiva! Penseseprofundamente sobre essa simples sensao: como qualquer processo material no crebro ou seja onde for, podetransformarseemumareaointeriorcorrespondentesensao?Noitem6doartigocitadosobreIntelignciaArtificial[SET]coloqueioseguintetrechodeumlivrodocientistaJ.Haugeland(vercpiadooriginalnomeuartigo):

    "surpreendentementedifcilencaixaressasquestes[osvriostiposdesentimentos]naIntelignciaArtificial.Mesmaasensao,quedeveriaserdealgumamaneiraocasomaissimples,profundamentesurpreendente.Nohdvidadequemquinas podem "perceber" [sense] o seu ambiente, se isso significa descriminao dar respostas simblicas emcircunstnciasdiferentes.Olhoseltricos,termmetrosdigitais,sensoresdetoqueetc.sotodoscomumenteusadoscomorgosdeentradaemtudo,desdebrinquedoseletrnicosarobsindustriais.Masdifcilimaginarqueessessistemasde

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    fatosentemalgumacoisaquandoelesreagemaestmulosexteriores.Apesardeoproblemasergeral,aintuioamaisclaranocasodedor:muitossistemascomplexospodemdetectardefeitosinternosoumalfuncionamentoeatmesmotomarmedidascorretivasmasserqueaelesdi?Pareceincrvelnoentanto,oqueexatamenteestfaltando?Quantomaiseupensonessaquesto,menoseuficoconvencidodequeeuchegoasaberoqueissosignifica(oquenoquerdizerqueeupensoquenotenhasignificado)."[HAU,p.235.]

    claroqueHaugelandmostraumaprofundaperplexidadequandotentacompreenderoquesignificatersensaes.Defato,comoeudisseanteriormente,semprequeseprocuraseguirumacadeiadecausaseefeitosnosseresvivos,atasltimasconsequncias,sempresechegaemalgodesconhecidoparticularmenteemsereshumanos,eespecialmentenassensaesenossentimentos.

    Essaindividualidadedosentir,especialmentenossereshumanos,eofatodeamatrianoterindividualidade,maisumaindicaodequehalgomaisdoquematrianoserhumano.

    O sentimento que se poderia denominar de "mais elevado" no ser humano o amor altrusta, isto , um sentimentoconscientedeamorporalgooualgumsemnenhumaspectoegosta,isto,semqualquervantagempessoaloumesmoumprazerenvolvidonorelacionamentoenosatosdaresultantes.Elespodeserdevidoaumatoconsciente,executadoemliberdadesetiverqualquerimposiosentimentaldeprazer,ouaaoforinstintiva,umatodeamornorealmentealtrusta. Um contraexemplo o amor paternal, que est ligado com a hereditariedade e o sentimento devido convivncia. Darwin j especulou que o amor altrusta apareceu na humanidade por razes evolutivas: as pessoasaltrustaserammaisbemaceitaspelascomunidadeseportantotinhammaischancedesobreviver.RichardDawkins,emseulivroOGeneEgosta[DAW]vaimaislonge:dizqueosgenessoegostas,fazendotudoparaseperpetuarem.Pasmese:emambososcasos,oaltrusmodevidoaumegosmo.Quenosevenhacomoargumentodequeoamoraltrustadevido a um instinto, como j citei eventualmente desenvolvido durante a evoluo. Em primeiro lugar, precisomostrarcomouminstintoest"gravado"emnossamatriaecomoeleatuanoorganismo.Emsegundolugarjvimos,segundominhacaracterizaodeamoraltrusta,queseeledevidoauminstinto,entonoaltrusta.Animaisnopodemexerceraltrusmo,poisfaltalhesopensar,aautoconscinciaealiberdade.

    Jvimosqueopensamentopodeserlivre,isto,noserdevidoanenhumaimposiointernaouexterna,comoseriaocasodasinflunciasgenticas,instintosousentimentos.Apartirdopensamento,podeselivrementeimaginarumaaoaltrustaeexecutla.Portanto,paramimoamoraltrustamaisumaevidnciadaexistnciadealgonofsicono serhumano.Reconheoqueestousupondoaexistnciadeamoraltrusta.Ummaterialistacoerentenopodeadmitir suaexistncia.Damatrianopodeadviraltrusmo.

    5.3Vontade

    A questo da volio aindamais complexa que a do sentir. Por exemplo, estou vendo um livro emminha frente.Resolvo, por um impulso de vontade, peglo. Para isso,movominhamo.Mas o que fezmeu brao eminhamoexecutaremomovimentoquefizeram?Algunsmsculosforamcontrados,outrosexpandidosourelaxados.Masoquefez esses msculos mudarem de estado? Quem sabe foram alguns impulsos eltricos que os atingiram, mas, comomencioneinoitem2,sesesegueparatrsumacadeiadecausaseefeitosemumservivo,sempresechegaaumpontoondenopossvelcontinuar.

    RudolfSteinerdeuumainteressanteimagemassociandoestadosdeconscinciaaopensar,aosentireaoquerer.Eledizqueopensarcorrespondeaonossoestadodeviglia,ossentimentoscorrespondemaumestadodesonho,eavontadeaumestadodesonoprofundo.Defato,nopensarpodemosterclarezaetotalconscincia,comoquandoestamosacordados,epodemosterabsolutocontrolesobreele(pelomenosporalgunsinstantesequandoperdemosessecontrolepodemostornarnosconscientesdofato)jossentimentosnosoclaros,pelocontrrio,someionebulososindicamnosalgomasnopodemosconfiarmuitoneles.Porexemplo,podemosdetestaralgumalimentoporm,reconhecendoquemuitaspessoasgostamdele,conclumosquenossaopiniodequeeledesagradvelpornaturezaounosaudveldeveestarerrada.Assim,ossentimentostpicosdesimpatiaeantipatianodeveriamserumabaseparanossacognio,poisdizemmuitomais algo sobre nsmesmos a individualidade ligada aos sentimentos do que sobre o objeto ou pessoaobservados. Isso significa que, no caso de antipatizarmos com algum, no deveramos concluir algo sobre suapersonalidade, pois tratase de um sentimento que pode mudar radicalmente com um conhecimento mais profundodaquela pessoa. J a vontade vem do profundo de nosso inconsciente, como apontei no pargrafo anterior no sonoprofundo,estamos totalmente inconscientes.Podese suporque algoquenos torna conscientes "desligase"de nossosprocessosvitaisduranteosonoprofundo.

    interessantenotarquetemosumacertapercepodequepensamos"comacabea".Jaregiodossentimentosdifusasvezespercebemosqueelestmalgoavercomnossocorao,porexemploemumafrustraomuitogrande,comoasamorosas,ou,comosediz,algonos"deuumnnagarganta".Masnotemosnenhumaconscinciadasedede nossa

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    vontade(asensaodefomenoamesmaqueoimpulsoparacomeralgo).

    5.4Memria

    Amemrianopareceser fsica,apesardese falar tantoqueelao,baseadonametforadocomputadordigital. Emprimeiro lugar, aparentemente a memria parece ser infinita: todas nossas vivncias ficam gravadas, sendo a quasetotalidade no inconsciente ou no subconsciente. Aquilo que esquecido em geral pode ser lembrado em situaesespeciais, como por exemplo em estados hipnticos, isto , aparentemente "guardamos" de algumamaneira todas asnossasvivncias,exterioreseinteriores.EssefatofoiusadopelofamosomatemticoVonNeumannparacalcularnossa"capacidadedearmazenamento",multiplicandoaaparentecapacidadedecada"receptorpadro"(standardreceptoreleestimouem14impressesdebitsporsegundo),pelonmeroestimadodeclulasnervosasnocorpohumano(1010), eumavidade60(!)anos(2x109segundos),dandoumtotalde2.8x1020bits[NEU].Masnotemosavivnciadequenossamemrialimitada,emuitomenosdeserdiscreta,comoveremosnoprximopargrafo.

    Emsegundolugar,seamemriafossefsica,eladeveriaserperfeita.Ora,qualquerpessoapodeconstatar,olhandoalgumobjetoedepoistentandolembrardesuaimagemfechandoosolhos,queapercepovisualmuitssimomaisdetalhadadoquea lembrana. interessante notar que, se o objeto for geomtrico, relativamente simples (comoum cubo, porexemplo) e homogneo em sua cor, ser possvel lembrarse dele com toda nitidez, pois na verdade o que se far recomplo mentalmente: ser na verdade uma construo mental geomtrica. Se nossa memria fosse um sistemapuramente fsico, a lembranadenossasvivnciasvisuais deveria ser to clara como a visodireta dasmesmas.Paraexplicarporquedeveriaserassim,vouusarumraciocniotipicamenteevolucionista:senossamemriafosseumsistemapuramentefsico,aevoluoteriadadocertamenteprefernciaspessoasqueteriamavantagemdelembrarcommaisprecisoaquiloqueviam,atque,comodecorrerdasgeraes,amemriadaspercepessensoriaissetornasseexatacomo nos computadores! Assim, o fato de a memria no ser perfeita uma indicao de que ou o pensamentoevolucionistafalho,ouhmaisdoqueprocessospuramentefsicosnelaenvolvidos.Omesmoraciocniopoderiaserusadoparaaduraodamemria:nodeviahaverrazesparaseesquecer.Masaquipoderseiacolocarumaobjeo:seamemriaforfsica,deveserfinita,enoseriapossvel"armazenar"cadavivnciaquese tem,demodoquealgumaslembranasdevemser"esquecidas".Masnotemosaexperinciadequenossamemriafinita,eaquiloqueesquecidopodeserlembradoemsituaesespeciais,comojvimos.

    Emterceirolugar,notemosapercepodequenossosprocessosinterioressodiscretos,oudigitais,comosepassacomtodos os computadores. Se estes no fossem sistemas discretos, no poderia haver o determinismo que lhes d tantapotncia imagineseodesastrequeseriaseumcomputador,estandonomesmoestadodamquina,paraosmesmosdadosdeentradaeummesmoprograma,produzisseresultadosdiferentesparadiferentesprocessamentos!Poroutrolado,seagravaofosseanalgica,comonasfitasdevideocassettecomuns,ametforacomputacionalnopoderiaserusada.No teramos acesso praticamente instantneo (para a nossa percepo de tempo) a qualquer lembrana. Sem umaestrutura discreta de armazenamento, uma busca linear por algo "armazenado" teria que ser executada, pelo menosparcialmente,comoporexemploaosesaberatrilhadeumdiscomastendoquevarrlosequencialmenteparaacharoqueprocurado,oquelevariabastantetempofaceenormequantidadededadosqueestariamguardados.

    Finalmente,emquartolugar,ofatodeamemriatervriascamadas,comoasdecurta,mdiaelongadurao,bemcomoofatodeseesqueceralgo,mostraquenoseestemumsistemafsicoconhecido.Porexemplo,umcomputadorno"esquece".Oualgoestgravado,ounoestgravado.Oacessoaodadogravadopodeserbloqueado,masessebloqueiopodesermudadoexecutandoseumprogramaapropriado.Quandoesquecemosdealgo,noh regrapara lembrarmosdele:muitasvezespodemosfazerumesforoenorme,enoconseguimos recordaroqueprecisamos.De repente, semquerer,alembrananosvemconscincia.Umaoutracaractersticaadepessoasdemuitaidadelembraremnitidamentede fatos da infncia, dos quais no se recordavam antes, mas serem muitas vezes incapazes de lembrar de fatoscorriqueirosacontecidoshpouco.

    Todasessascaractersticasparecemmeevidnciasdequeamemrianofsica.Novamente, issonocontradizfatoscientficosconhecidoscomojfoidito,acinciasimplesmentenemsabecomoeondeestaria"gravado"algotosimplescomoonmero2.Amanifestaodamemriaobviamentedependedocrebrofsico,demodoqueseelenomaissadio,amemriapodesofrer.Masdessadependnciassedeveriaconcluircientificamentequeocrebrotomapartedoprocessoderecordar,isto,detornarconscienteoqueestava"guardado",enoqueelesejaasedefsicaondedealgumamaneira as lembranas esto gravadas. Lembremos do que eu disse a respeito de ter conscincia de pensamentos esentimentos:analogamente,ocrebrofsicopodesernecessriopararefletirnossaslembranasparaaconscincia.

    6.Comoalgonofsicopodeatuarsobrealgofsico?

    Essaumaquestomilenar.Parecebvioquesomenteuma fora fsicapodeprovocarumaalterao fsica.Aqui vai

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    expostaaminhateoriaqueresolveessaquesto.Para isso,vouusar trsraciocniosaplicados,um,anossosprocessosnervosos,eosoutrosdoissformasdosseresvivos.Ambosbaseiamsenanoodetransionodeterminstica,inspiradaemautmatosformais,comoaMquinadeTuring.

    Tomemosocasodeumneurnio.Peloconhecimentoatual,sabeseque,sedeterminadosimpulsoseltricoschegaremaelepormeio das suas sinapses de entrada (isto , conectores ligados a outros neurnios), esse neurnio pode ou nodisparar,isto,emitirumsinaleltricoaoutrosneurniospormeiodesuassinapsesdesada.Aparentemente,odisparocasualparaosmesmosimpulsosdeentrada.Vamosassociardoisestadosdiferentesaesseneurnio:um,A,emqueeleestantesdereceberosimpulsosdeentrada,eoutrodiferente,B,logodepoisdereceblosedisparar,emitindoumsinalparaosneurniosaosquaisestoligadassuassinapsesdesada.Seesseneurnionodispararcomumacerta entrada,entoelepermaneceemAdepoisdereceberosimpulsosdeentrada.Seeledisparar,entomudaparaoestadoB.Temos,ento,duastransiesdistintascomosmesmosimpulsosdeentrada,deAparaA(quandonohouvedisparo)oudeAparaB(quandohouvedisparo).Essasduastransiesso,portanto,aparentementenodeterministasnohnadaquedetermina que deve ser tomada uma ou outra. Quem sabe, na deciso de qual transio tomar de um conjunto detransiesnodeterministasoelementono fsicopodeatuarsobreo fsico,poisessadecisono requer energia.Astransiesemsipodemrequererenergia,masnoaescolhadequaldevesertomada.

    Osegundoexemploreferesesclulasdosseresvivos.DadaumaclulaemumcertoestadoA,trstransiespodemocorrernosprximosinstantes:1)Elapermanecenomesmoestadodeantes,isto,houveumatransiodeAparaA.2)Ela comea a subdividirse em duas clulas (meiose ou mitose), indo portanto para um estado de subdiviso quedenominareideB.3)Elacomeaamorrer(apoptose),passandoparaumestadoquedenominareideC.Peloconhecimentoatual,dadaumaclulanosepodepreverseatransioserdeAparaA,paraBouparaC.Novamente,podemossuporqueaquihumnodeterminismo.E,novamente,aescolhadequaltransiodeveserfeitanorequerenergia.

    UmterceiroexemplorefereseaoDNA.Apartirdeumgene,vriosaminocidosdiferentespodemserformados.Apartirdecadaaminocido,apenasumaprotenaformada.Talvezhajaumnodeterminismofsiconoprocessodeformaodos possveis aminocidos a partir de um certo gene.Nesse caso, omodelo no fsico do ser vivo pode ento atuarescolhendoqualaminocidoformadoemcadasituao.

    Como nos trs exemplos nenhuma energia requerida para a deciso de qual transio deve ser tomada, a que aentidadenofsicaouomodeloligadoaoservivopodeinterferireinfluenciaratransmissofsicadossinaisdocrebroouodesenvolvimentosdostecidosondeasclulasestoinseridas.

    Noitem4.3descreviasaparnciasdealgunsseresvivos,tratandodeformasedesimetrias.Umapossvelexplicaoparaelas que os genes regulam o crescimento, isto , que a taxa de crescimento controlada pelos genes.No caso dassimetrias,essataxaseriaaproximadamenteamesmaparaaspartescorrespondentes.Masnosseresvivosnoexistemasforasfsicasisoladasqueatuam,porexemplo,noscristais,regulandoaformageomtricadecrescimentoapropsito,oscristaiscrescempordeposiosalina,isto,umprocessoexterior,eosseresvivosporumprocessointerior.Omximoque o DNA poderia fazer provocar um crescimento independente de cada parte do ser vivo. No entanto, sem umpermanentecontroledaformatotal,a(aparente)aleatoriedadeinerenteaosseresvivos,etambmasdiferentesinflunciasdomeioambiente(porexemplo,nocasodeplantas,diferenasdeiluminao,direodosventos,umidade,apresenadeoutrasplantas,influnciadeanimaiscomoinsetosetc.),nopermitiriamamanutenotoprecisadaformaoudograudesimetriaquepodemserobservadosnanatureza.

    Noitem4.3mencioneitambmaformasimtricadasorelhasdecadaindivduo.MasoDNAnaorelhaomesmoqueododedo,noentantoumdorelhaeoutroddedo.Umbilogodiriaqueissodependedoambientedaorelhaedodedo,maselenocapazdeexplicaroprocessoemtodoseudetalhe.Almdisso,noembriohumano,atasegundasemanano h diferenciao alguma e o ambiente o mesmo para todas as clulas. Como principia e controlada adiferenciao?Apropsito,odesenvolvimentodoembriohumanoumamaravilhadetalgrauquepareceummilagreenodeixadeser,dopontodevistafsico!Examinese,porexemplo,comoseformaocoraoemseusvriosestgios,comincrveistores,dobramentosedesdobramentos,parasetenderaacreditaremmilagres...[ROH,p.186.]Esseumgrandemistrio cientfico, que pode nos levar hiptese de que existe um modelo no fsico regulando todo esseprocessode crescimento.Porm, ateno, como j eudisse no item4.3, no se deve transpor para o planono fsicomodelosbaseadosemnossasexperinciassensoriais.Porexemplo,emespciesdiferentesdeplantasosbrotosdeflorestmaproximadamenteamesmaforma,adquirindoasformasdistintasnodesenvolvimentosubsequente.Almdisso,numaplantamuitasvezesasfolhascomeamcomformasarredondadasesomentedepoisassumemasformascaractersticasdesuaespcie,combordasserrilhadas,formasredondasoualongadasetc.Embriesdevriasespciesdeanimaisparecemtodosiguais, emseus estgios iniciais e semelhantes ao embriohumano (o que poderia levar hiptese de que omodelohumanono fsico opontodepartidapara as formasdos animais).Contase uma histria de que o famosoHaeckel esqueceu de rotular recipientes contendo pequenos embries de diferentes animais e depois no conseguiaespecificaraqualespciecadaumpertencia.

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    VoltandoaoDNA, interessantenotarqueummesmogenenoDNApodedarorigemadiversasprotenasdiferentes.Talvez a haja tambm um no determinismo, onde o modelo no fsico pode influenciar o desenvolvimento e aregeneraodoorganismoafinalsoasprotenasqueconstituemosblocosbsicosdeconstruodosorganismosvivos,enooDNA.Almdisso,associaseesteltimoaumprograma.Mastodooprogramadeveserinterpretadoarigor,umprogramadecomputador,nocdigointernomaisbsico,denominadode"linguagemdemquina",noexecutadopelamquina,comosecostumadizer,esiminterpretadopeloscircuitoslgicos.OndeestointerpretadordeDNAs?Aesserespeito,vejasemeuartigoemmeusite"DesmistificaodaondadoDNA".

    Umadashiptesesfundamentaisdoespiritualismodeveriaseradequeexisteumaessncianofsicaindividualemcadaser humano, da mesma natureza que as essncias de outros seres humanos, mas distinta delas. ela que d aindividualidade que denomino de "superior", e que transcende individualidade resultante da hereditariedade e dainfluncia do meio ambiente a cincia materialista pra por a. Essa essncia pode ser a maior responsvel pelaimprevisibilidadedecadaserhumano.

    Outras teorias tm sido formuladas para explicar as formas e o comportamento de seres vivos. Por exemplo, RupertSheldrakeintroduziuseu"campomorfolgico",quesupostamentepermeiatodamatrianouniverso[SHE].Porm,paraeletratasedeumcampofsico.OfsicoAmitGoswamiconsideraqueanolocalidadequntica,apropriedadedeumapartculainfluenciarinstantaneamenteumaoutra,"acoplada"(entangled)primeira,independentementedadistnciaqueassepara(veroitem4.2acima),podeexplicarmuitascaractersticasdeseresvivos[GOS].Masesseumfenmenoqueocorreempartculassujeitasacondiesespeciais,comonocasodeduaspartculasacopladasqueforamgeradasapartirdeumanica(talcomoumftondivididoemdoisporumespelhoparcialmente refletor),oquenoocorrenos seresvivos.Detodamaneira,ofenmenopuramentefsico.UmavezassistiumapalestradoastronautaEdgardMitchell,ondeele tentou explicar certos fenmenos que ocorrem nos seres vivos usando hologramas qunticos. Novamente, umaexplicaofsica.Todasessasexplicaessodefatomaterialistas:elasnoreconhecemaexistnciadealgorealmentenofsico,comoeuofao.

    7.Umnovoparadigmacientfico

    Suponhamos que, por um verdadeiro milagre, muitos cientistas decidissem abandonar o DCCC e deixassem de serpreconceituososemrelaoexistnciadefenmenosnofsicosnosseresvivosenouniverso.Comisso,oparadigmacientficoatualdeveriamudar,pormeiodeumaexpansodoatual.Insistoemquenosetratademudaracincia,massim expandila. fundamental que os cientistas percebam que, com isso, no precisariam abdicar dos princpiosfundamentaisdaatividadecientfica,taiscomoobservaoobjetivaetransmissodeideiaseresultadosexclusivamentepormeiodeconceitosclaros.

    claroqueomtodocientficoatualfoiacausadodesenvolvimentodafantsticatecnologiaquetemoshojeemdia.Noentanto,estmaisdoquenahoradesequestionarseseusmalesnoultrapassamosseusbensvejamseasquestesbematuais do aquecimento global, da poluio generalizada, armamentos, uso indevido ou exagerado da Internet etc.Experinciasparticulareslevamaumavisoparticulardosefeitosdasmquinas,edoscompostosqumicosinventadoseemuso.Parecemequefoiadotadoumprincpiofundamental:anaturezanosuficientementeboaedevesermelhorada.Umexemplo amodificaogentica de plantas e animais. Tenho a impresso de que isso devido a uma falta derespeitoparacomanaturezaumaconsequnciatpicadoDCCC.Almdisso,umfatoatecnologia(nosentidousadoem ingls) estar hoje em dia totalmente voltada para a satisfao de ambies e egosmos, que so antissociais pornatureza.

    Voucolocarbrevementealgumassugestes,somenteparailustraroquepoderiaserfeitoparaestenderacinciacorrente.Infelizmentenopossomealongarpoisessaquestoporsisdariaumartigobemgrande.

    Umdosprimeirospassosnamudanadoparadigmacientficoseriapassarausarummtododedutivo,dogeralparaoparticular,enoindutivo,reducionista,baconiano,doparticularparaogeral.

    UmexemploclssicodomtodoreducionistaateoriadascoresdeNewton.Eleprprioconfessaque,paraconcluirquealuzbrancacompostadetodasascores,partiudeumaexperinciaextremamenteparticular.Eleusouumfeixedeluzdedeterminadaespessura,emsuasprpriaspalavras"...ataroundhole,aboutonethirdPartofanInchbroadmadeintheShutof aWindow. (sic)" [NEW,p.26 (Prop. II,Theor. II,Exper. 3)].Portanto,noeraum foramen exiguum, um furodiminuto,comofoidepoiserroneamentedenominadoe,mesmoseofosse,continuariasendoumcasoparticular.Goethe,emsuateoriadascores(Farbenlehremelhortraduzidaassimcomoofiz,eno"doutrinadascores",pois"doutrina"tema conotao de "pregao"), aponta para esse defeito metodolgico partindo, em suas prprias e rigorosssimasexperincias, do caso geral de feixes de qualquer tamanho, mostrando como os fenmenos causado por feixes dedimetrosparticularespodemserexplicadosemtermosdasituaogeral[GOE,Vol.3,p.48:DerNewtonscheOptikErstesBuch,ErsterTeil(ApticadeNewtonvol.1,parte1),Props.8693].AndrBjerkemostraumageneralizaoda

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    pticadeNewton,demonstrandoquecadaumdesuasproposieseexperimentospodemtambmserfeitoscom"feixesde escuro", obtendose as cores complementares no sentido de Goethe [BJE]. A propsito, a teoria das corescomplementaresdeGoetheusadanosoftwarebsicodoscomputadores:porexemplo,emumeditordetexto,separtedeumtextotemletrasdeumacertacor,selecionandoessapartecomocursordomousefazcomqueasletrassejamexibidastelanacorcomplementar.Almdisso,ascoresbsicasrgb(vermelho,verdeeazulescuro)empregadasnastelasdevdeosocomplementaresscorescmy(ciano,magentaeamarelo)usadasnasimpressorascoloridas(poistemsenoprimeirocasoumfeixeclarocomfundoescuroenosegundoocomplementardeumfeixedeescurosobrepapelclaro).

    Omtodoreducionistanoleva,emgeral,aconhecimentosglobais.bvioqueumaclularetiradadeumorganismono mais aquela: s no organismo ela tem todas suas funes e mostra todos seus comportamentos. Goethe jconsideravaoorganismodeumservivocomomanifestaodeumtodo.Issosignificaquejamaissesaberoqueumorganismovivosesecontinuarpartindo,porexemplo,desuasclulasoudeseusgenes.Aesserespeito,vejase,emmeusite,meuartigo"DesmistificaodaondadoDNA",jcitado.

    Uma segunda mudana seria a da volta cincia qualitativa. Um exemplo dessa cincia era a antiga Sistemtica(identificao e classificao) das plantas, com seus magnficos desenhos. preciso reconhecer que a modelagemmatemtica quantitativa leva a um domnio sobre a natureza,mas jamais um conhecimento profundo sobre ela. Umexemplo trivial a frmula da atrao gravitacional de Newton: ela no explica absolutamente nada sobre o que gravitao (ainda uma grande questo nos dias de hoje). As frmulasmatemticas da Fsica exprimem os resultadosmensurveisdasexperincias,enoarealidadeemsi.

    Umaterceiraseriareconhecerque,naprocuradecausaseefeitos,algumascausaspodemsernofsicas.Porexemplo,apesquisa corrente em cognio tenta explicar nossos pensar, sentir e querer, bem como nossas percepes, comooriginandose em neurnios. Se ela fizesse a hiptese de que a atividade neuronal pode ser a consequncia deles,expandiriamuitoseucampodepesquisa.

    Umaquartaseriaadepesquisarasmanifestaesdoselementosnofsicos,especialmentenosseresvivos.Conjeturoque,comoparadigmaatual,jamaisseconseguirexplicardesdeaformadasplantasatosonoeosonhonoserhumano.Noitem3mencioneibrevementecomoestenderaevoluodarwinista:assumindosequenemtodasmutaesenemtodasselees naturais foram aleatrias. Isso poderia estender a pesquisa feita nesse campo.Um interessantssimo exemplodessa pesquisa o artigo de Craig Holdredge, mostrando que a velha e popular ideia darwinista de que as girafasdesenvolveramseupescoocompridoparaatingirfolhasmaisaltasnasrvoresnosustentvel(porexemplo,girafasfmeassomenoresdoqueasmachos,girafastmgrandedificuldadeparabeberetc.)[HOL].

    No se deve ignorar a importncia da evoluo darwinista para o desenvolvimento da humanidade: ela contribuiudecisivamenteparaeliminaropoderdaf,quevaicontraatendnciadoserhumanomodernodebuscarcompreenso.Noentanto, uma das suas consequncias fundamentais foi espalhar o DCCC. Mas j mais do que tempo de tornlaindependente do DCCC, de maneira a ampliar nossa compreenso do mundo. Por exemplo, claro que a evoluodarwinistanoconsegueexplicarcertosaspectosdaevoluo,porexemploasdiferenasqueossereshumanostmemrelaoaosanimais,comoofatodenossacolunavertebralterumduploS,ofatodenotermospelooupenasetc.(vertambmosoutrosaspectoscitadosnoitem3acima).

    8.Ahipteseexistencialfundamental

    Pensoquecadaindivduodeveriafazerumaescolhaconscienteentreduashiptesesdetrabalhomutuamenteexclusivas:sermaterialistaouserespiritualista,conformeascaracterizaesdadasnoitem2.Essaescolhaessencialpoisapartirdessasvisesdemundoumavidacoerentedeveriaserabsolutamentediferente,edoistiposabsolutamentediferentesdeaesdeveriamserseguidos.Porexemplo,seoserhumanoumsistemapuramentefsico,vamosusarmquinas paraensinlo vrias coisas, isto , passemos a usar largamente computadores na educao. No entanto, se a viso espiritualista,necessrioconcluirqueoaprendizadoalgomuitocomplexo,envolvendoodesenvolvimentodaparteno fsica da criana e do adolescente.Quem sabe asmquinas prejudicam esse desenvolvimento afinal, nenhumamquinaneutra,todastmalgumainfluenciasobreoserhumano.Experimentesepegarummartelonamo.Oquevemmente?Batlocomfora,comviolncia,numasuperfcie,numpregoetc.Pegueseagoraumtravesseiro.Comelesepensaemtranquilidade,emrepouso.Ningumpegaummarteloepensaemtranquilidadeerepousoningumpegaumtravesseiroepensaemusloemumaaoviolenta(amenosdainfnciaquedelciafazerumaguerradetravesseiros...).Atelevisoinduzumestadodesonolncianotelespectador,prestandoseassimaocondicionamento,enoinformaoeeducao.Umoutroexemplotpicodehojeemdiaocomputador:comoeleumamquinamatemtica,seuusofora o emprego de um raciocnio lgicomatemtico, apesar de isso no transparecer a menos do caso dosprogramadores,ondeaimposiodessetipoderaciocniototal(vermeusartigosOsmeioseletrnicoseaeducao:televiso,jogoeletrnicoecomputador,Computadoresnaeducao:porqu,quandoecomo,eConsideraessobreoprojeto'umlaptopporcriana').

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    Encaroaescolhadeumadaquelasduashiptesescomosendoaadoodahipteseexistencialmaisfundamentalquecadaumdevefazer.interessantenotarqueessaadoopodeserfeitaemliberdade:nopossvelprovarfisicamentequeexistemfenmenosnofsicos,enopossvelprovarqueelesnoexistem.Querodeixarclaroquenoachocorretoalgumescolherahipteseespiritualistaporqualquersatisfaopessoalou tradio.Nessescasos, a escolhano serfeitaemliberdade.Nesteartigo,procureiapontarparavriasevidnciasquepodemservirparaseconsiderarahipteseespiritualistacomorazovelpossvelelaobviamente.

    9.Consequnciasdasvisesmaterialistaeespiritualista

    Aadoodahiptesematerialistadeveriaterconsequnciasprofundasnapessoaqueaadota.Infelizmente,muitos, senoamaioria,ouquasetodososmaterialistasnosocoerentes.Porexemplo,muitosdelesadmitemaliberdadenoserhumano.Comoesperoterdeixadoclaronoitem5.1,issonofazsentidodopontodevistamaterial:amatriaeaenergiadevemseguirinexoravelmenteascondiese"leis"fsicas.

    Umaoutraincoernciademuitosmaterialistasofatodeadmitiremaresponsabilidadedoserhumano.Einstein,durantemuitotempo,foiummaterialistacoerente.Elediziacompreenderperfeitamentequeumapessoapudessefazermsaes,poiselaeradeterminadapeloseuorganismo(bemnalinhadeterministadeSpinoza,queadmirava),notendoportantoresponsabilidade. S que a vieram os nazistas e, quando ele ficou sabendo dos campos de extermnio, colocou aresponsabilidadeporelesnosnosnazistas,masemtodoopovoalemo[JAM,p.71]!Semliberdade,nopodehaverresponsabilidade.

    NofoisessaaincoernciaqueencontroemEinstein.Elefoiumprofundohumanista,demonstrandoumgrandeamorpelahumanidade (vejase,porexemplo, seu livroComoVejooMundo).Ora, comovimos em5.2, esse amor altrustatambmnofazsentidodopontodevistamaterialista.

    Semliberdade,tambmnopodehavertambmdignidadehumana.Seoserhumanodeterminadoporsuamatria,suasatitudessotodasautomticas.Comisso,nopodehaversentidoparaavida.

    Umproblemainteressante,queabordareimuitorapidamente,oseguinte:podeseser livreaoseguir leissociais?Umexemploodeseestarguiandoesechegaraumsemforovermelho.Podesepararnelepormedodetomarumamulta,oupormedodeserabalroadoporumveculovindonaoutradireo.Ora,quandoseagepormedo,portantoporcausadeumsentimento, no se age em liberdade.Uma outra possibilidade pensarse que a lei que obriga a parar em um farolvermelhotemsentido,poisprotegeoscidadosdeacidentes,organizaotrfegoetc.Seapessoareconheceravalidadedeumalei,eseguilaconscientemente,estarfazendooemliberdade.Apropsito,admiromuitoofatodeobrasileirosercrtico comas leis, por exemplo ao diminuir amarcha do carro e cruzar um farol vermelhodemadrugada, se no htrnsito.Nombitohumanoenosocialnodeveriamexistirregrasabsolutamentergidasporissoemmuitoscasosasleisnosoaplicadasautomaticamente,cabendodefesa,recursoetc.

    Umadasconsequnciasinfelizesdavisomaterialistadequeahistriadeixadefazersentido.Marxtentouintroduzirummaterialismohistrico,masoqueelefezfoitornarahistriaacoisamaismontonapossvel:tudolutadeclasses,sejacomoserhumanodascavernas,naantiguidade,ounapocaatual.Obviamente,elenopdeconsiderarqueoserhumanomudouduranteahistriadopontodevistamaterialista,anicamudanaqueseadmiteacultural.Dopontodevistaespiritualista,ahistriapodeserconsideradaumreflexodasmudanasdaconstituionofsicadoserhumano.Com isso, ela comea a fazer sentido. Por exemplo, o materialismo pode na melhor das hipteses considerar asmanifestaesreligiosasdaantiguidadecomosuperstieseinvencionices.Dopontodevistaespiritualista,elaspodemserconsideradas,inicialmente,comofrutodaexistnciadergosdeperceposuprasensorialque,comoexpusnoitem2, foramdecaindo como decorrer da histria. Em compensao, o ser humano foi desenvolvendo sua capacidade deobservarcomclarezaanatureza,depensarclaraeabstratamente,edeexpressarsuasideiasemconceitos.Claramente,essaltima capacidade no existia na antiguidade remota, comomostrammuito bem todos os escritos religiosos daquelapoca,ondeaexpressoerafeitapormeiodeimagens.ExisteumapassagemnoNovoTestamentoqueilustramuitobemesse fato. Tratase da Parbola do Semeador [p. ex. emMat 13:38] depois de o Cristo Jesus contla ao povo, osdiscpulosperguntamlhe"Porquelhesfalasporparbolas?"[13:10],eaelediz"avsdadoconhecer"[13:11](isto,eletinhafeitoumdesenvolvimentonosdiscpulosatalpontoqueelespodiamcompreenderconceitos),epassaaexplicarconceitualmenteosignificadodasimagens(13:1923).

    Talvez fosse interessante contar aqui uma experincia pessoal. Fui uma vez a um congresso de Criacionismo. Lpergunteiaospresentesseachavamqueosdiasdacriaoeramde24horas,earespostafoi"sim".AliaParboladoSemeador(eutinhaidoarmadocomumaBblia),eperguntei:"SeoCristo,emquemvocsacreditam,dizquefalaporimagens,equeexistemconceitospordetrsdelas,porquevocsnoconsideramorelatodacriaodomundonaGnesecomosendoconstitudoporimagens?"Umdospresentesrapidamenterevidouemaltosbrados:"Osenhornoestsendonemcriacionista,nemevolucionista,estsendoconfusionista!"

  • 17/01/2015 PORQUESOUESPIRITUALISTA

    http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/espiritualista.html 17/20

    J que falei naBblia, vou aproveitar para comentar sobre algo que est profundamente ligado amuitas religies: omonotesmo. Lendo cuidadosamente a Bblia, pareciame que no seu incio no havia um monotesmo. De fato,examinemos,porexemplo,aquiloquesetornoutalvezaprincipalinvocaoreligiosadosjudeus,oShmIsrael..., naminhatraduoliteral,apartirdohebraicovocalizado(isto,comvogais),"OuaIsrael,Jeov[]nossosElohim,Jeov[]um"[Deut6:4]emhebraiconohopresentedoverboser.Nessaorao,eutinhaaimpressodequearefernciaeraparaofatodehaverumanicadivindade(Jeov,pertencentecategoriadosElohim)associadaaopovojudeu,masnoquenoexistiamoutras.Alis,deveriamhaveroutrosElohim.EmEx18:11a refernciaa issoabsolutamenteclara:"AgoraseiquegrandeJeovdentretodososElohim...",elogodepois,noinciodos10mandamentos,emEx20:3,ouemDeut5:6,"NoexistirparatioutrosElohimdiantedemim"(minhastradues),eemmuitasoutraspassagenseuliarefernciasavriosdeuses(porexemplo,outrosElohim).Poisqualnofoimeuespantoao ler,nomagnfico livrodohistoriadoringlsPaulJohnsonHistriadosJudeusqueele(umnojudeu)tinhaopiniosemelhante,indoobviamentemaislonge:eledizqueanoomonotestauniversalapareceapenascomIsaas [JOH,p.86].Comisso,queroapenasapontarparaofatodequedevehaverumestudosobreareligiosidadenaantiguidade,edevemosnoslivrardeideiasprconcebidasquesofrutodetradies.Obviamente,impossvelfazeresseestudodopontodevistamaterialista.Dessepontodevista, necessrio afirmar, comoeu jmencionei, queosnossos antepassados eram todos supersticiosos oufantasiavambobagens.Osmitospassamasernoimagensdeumarealidadenofsica,maspuras invencionices.Comisso, criase um fosso intransponvel entre o ser humano moderno e o da antiguidade. J o espiritualismo permitecompreenderemseosmitoseoquehpordetrsdasmagnficas imagensdos antigos relatos religiosos, criando umaponteentrensenossosremotosantepassados.

    Por outro lado, a viso de um nmero muito grande de pessoas que se dizem religiosas , no fundo, puramentematerialista,poislimitamseafalardeumentedivino(portanto,nofsico)abstrato, incompreensvel,quechamamdeDeus.Comovimos,oquesechamahojedeDeusocorrenaBbliacomdoisnomesdiferentes,inicialmenteosElohim,quecriamomundo,eapenasemGen3:1apareceJeovsozinhoeleaparecevriasvezesjuntocomosprimeirosapartirdeGen2:4.Emalgumastradues,comoadoPadreJooF.D'Almeida,osprimeirossotraduzidosporDeuseosegundoporSenhor,umreconhecimentodequehaviaumaclaradistinonooriginal.Osentidoprofundodessadistinoperdeuse,chamandosetudodeDeus.Jhvriossculosessaentidadedeixoudeterqualquersentidoparaoserhumano:virouumapuraabstrao.No toaque,para esseDeusdas religies,Nietzsche spodiadar a classificaode "morto".Compareseessanoodeum"nico"serdivinonofsicocomoqueandeiexpressandonesteartigo:aexistnciadealgonofsicoemcadaservivo,atuandoessencialmenteneleequeexplicariavriosprocessosobservveis.Tratasedealgomuitomaisprximodenossacompreenso,poispodemosversuamanifestao,porexemploemnossaformaeemnossopensar,sentirequerer,bemcomonomundoexterior.

    Muitosdosreligiososnoreconhecemaexistnciadeprocessosnofsicosnosseresvivosamenosdeumaobscura"alma"noserhumano.Comisso,noadmitemumainvestigaodessesprocessos.Issoprovocaumaseparaototalentresuamentalidadeeacientfica,apontode,tantocientistasquantoreligiosos,dizeremqueareligioeacinciatratamdedois campos distintos e no compatveis. Um famoso geneticista brasileiro, em um debate pblico comigo naUniversidadedeSoPaulo,afirmou:"Duranteasemanaponhooaventalevouparaolaboratrio,nodomingoponhooternoevouparaaigrejaquemalhnisso?"Paramim,essadicotomiaumatragdia.Cadaserhumanosadioumsindivduo,comumaspersonalidade.umatristezaverqueasnoesdecinciaedereligioproduziramumacisocompletaentreelascomisso,cientistasqueseachamreligiosostmnaverdadeduaspersonalidades,comduasvisesdemundototalmenteincompatveis.Umespiritualismocomoestoumostrandoaquipodeuniracinciaeareligio.

    Apropsito,algumasreligiesnegamaliberdadesendo,portanto,nofundo,materialistas.Cercearaliberdadehumanaemesmodestruiravidahumanapormotivosreligiososparecemmetambmumaindicaodomaterialismodemuitosquesedizemreligiosos.Alis,comomostreiemmeuartigocontraapenademorte,umacosmovisorealmenteespiritualistadeveria ser contra matar qualquer pessoa e portanto contra a pena de morte: isso interrompe um processo dedesenvolvimento individual que no se tem o direito de fazer. Isso no significa, no entanto, que no se proteja asociedade, confinando uma pessoa assassina at que elamostre termudado e se tornado imune a essemaior aspectoantissocialquepodehaver.

    A falta total de noo compreensvel da divindade emanuteno de tradies oriundas de tempos em que o pensarconceitualaindanoeraclaro,fazcomquequasetodososintelectuaisecientistas,comcertarazo,abominemtudo oquediz respeitoaalgono fsico.Querocom issodizerqueas religiespraticadashoje emdia so responsveis, emgrandeparte,pelomaterialismocrescentequegrassanahumanidade.

    Aadoodahipteseespiritualistatemconsequnciasdrsticasparaoindivduoqueaadota.Porexemplo,apartirdessahiptesepodeseadmitirquecadaserhumanopodeserlivre,queodesenvolvimentodaliberdadefoiamaiorconquistadahumanidade,equeodesenvolvimentodoamoraltrustaamissosupremadecadaserhumano.(Comoeudisseem5.2,oamorspodeseraltrustaseprovirdetotalliberdade.)Issolevaaatitudesmoraisbaseadasemcompreenso,enoemmoralismosousentimentalismos.Porexemplo,cercearaliberdadedealgumquenoperigososeriaimoral.

  • 17/01/2015 PORQUESOUESPIRITUALISTA

    http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/espiritualista.html 18/20

    Essahiptesepodelevaraumaconcepodevriosfenmenoscompletamentediferentedausual.Porexemplo,tomemosavisoquesetemdedoenashojeemdia.Elassoconsideradaspelamedicinaclssicamaterialista,sintomtica,comoalgo desculpem o paradoxo diablico, cujos sintomas devem ser eliminados a qualquer custo. J uma visoespiritualistapoderiaafirmaroseguinte.Anaturezaaparentasertosbiaeharmnica,comoiriaintroduzirdoenas,seestassoumaestupidez?Quemsabeasdoenassonecessidadesdoserhumano,paraquepossadesenvolverse.Notoaquesediz"pegueiumagripe",eno"agripepegoume".Asabedoriadaslnguasmostraquepodehaveralgopordetrsdasdoenas,quenoseriamfrutodemeroacaso.Nessesentido,opapeldamedicinadeveriaserodepossibilitarque o paciente supere a doena aproveitando ao mximo o que esta tem a lhe dar um verdadeiro processo deaprendizadoededesenvolvimentopessoal.bvioquenopodemosarriscaravidadeumpaciente,devendosefazeropossvel para salvla se estiver em perigo, com quaisquer meios (ateno, isso significa prolongar a vida, mas noprolongaramortedeumapessoadesenganadaouemestadovegetativo!).Masissonosignificafazeroexageroquesefazhojeemdia.Porexemplo,eu,oleitoretodososoutrosbrasileirossomosmedicadosforadamente.Tratasedaadiode iodono sal e,mais recentemente,de ferro e cido flico na farinha refinada.Mas isso vai absolutamente contra aliberdadepessoal!Eutenhoumaalimentaoequilibrada,noprecisodoiododosalparanoterbcio!(Jhindicaesdequeesseiodoestprovocandohipertiroidismo.)Euqueropoderdecidirsetomoounoummedicamento!

    Vourelatarcertosaspectosdamedicinadeexperinciaprpria.Comeceiatercatarata.Oquefezamedicina?Esperou"amadurecer" e tirou o cristalino fora, substituindoo por uma lente de plstico (com resultado maravilhoso). Tivehiperplasiadaprstata.Oquefezamedicina?Esperouparaver,quandonodavamaisparaesperar,cortouumaboapartedelafora(comresultadomaravilhoso).Masissonomedicina,umaoficinamecnica!Emlugardecurar,substituiapartedefeituosaoucortafora.

    10.Existeumacosmovisoespiritualistasatisfatria?

    Noadiantasersimplesmenteumespiritualista,naconcepoapresentadanoitem2.precisoencontraroudesenvolverumaconcepoespiritualistaque,paraser"satisfatria",precisa,emminhaopinio,terasseguintescaractersticas:

    Serexpressaconceitualmente,voltadaparaacompreensoenoparaosentimento.Consideroumacosmovisoespiritualista voltada para os sentimentos como misticismo, no adequado para a atual constituio do serhumano.Noserdogmticaenoexigirposiesdecrenaouf.Teraplicaesprticasnasvriasreasdaatuaohumana,inclusiveavidaindividualdiria,enriquecendoasemrelaoaumaconcepopuramentematerialista.Apresentarumedifcioconceitualcoerente,abrangendoemprofundidadeomundono fsicoemostrando seurelacionamento comomundo fsico, ampliando a compreenso deste ltimo em relao cinciamaterialistacorrente.Noapresentarnenhumaincoernciaafatoshistricosecientficos.Apresentarexplicaesparaaevoluohistrica,demodoasecompreenderasimagensdosescritosreligiososantigosedosmitos.Apresentarumcaminhoparaumdesenvolvimentointerior,demodoapossibilitarquequalquerpessoatrilheoefaa,porcontaprpria,observaessuprasensoriais.Preservaraliberdade,aindividualidadeeaautoconscinciaemtodososmomentosdeobservaosensorial ousuprasensorial.Noconternadasecreto,isto,reservadoacrculosrestritos.

    Conheoumanicacosmovisoquepreencheesses requisitos: aAntroposofia, introduzida porRudolf Steiner sealgumconheceroutra,grite,porfavor!Aexistnciadeumtaledifciodeideiasedeprticas,comoporexemploumapedagogiaprpria(aPedagogiaWaldorf),umamedicinaprpria(aMedicinaAntroposfica),umaagriculturaprpria(aAgricultura Biodinmica), artes prprias (Euritmia e Arte da Fala), organizao social prpria (a Trimembrao doOrganismoSocial)etc.(veressaseoutrasaplicaesemwww.sab.org.br)d,almdasevidnciasquecitei,uma grandeconfianadequeoespiritualismonoumafantasmagoria.FoinaAntroposofiaqueme inspireiparaescreverestaseoutraslinhas.

    11.Resumodashiptesesdetrabalhoeconcluses

    Nesteitemvousimplesmenteresumirashiptesesdetrabalhodescritasacima,eadicionarmaisoutrasessenciais.

    Existemprocessosnofsicosnosseresvivosenouniverso.Pensar,sentirequerersoprocessosnofsicoscomreflexosemprocessosfsicosinteriores.

  • 17/01/2015 PORQUESOUESPIRITUALISTA

    http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/espiritualista.html 19/20

    Asubstnciafsica(matriaeenergia)uma"condensao"donofsico.Onofsicodaessnciadospensamentos.Pormeiodopensamento,chegaseessncianofsicadascoisas.Nodecorrerdahistria,oserhumanofoimudandosuacomposioecaractersticasnofsicas,ecomissohouvetodaaevoluocultural.Asplantastmumelementonofsicoresponsvelporsuasmanifestaesvitais,dasuasdistinesemrelaoaosminerais.Animaistmumelementonofsicoadicionalquenoocorrenasplantas,dasuasdistinesemrelaoaelas.Oserhumanotemumelementonofsicoadicionalquenoocorrenosanimais,dasuasdistinesemrelaoaeles.Esseelementoadicionalquedaoserhumanosuaindividualidadesuperior,isto,aquetranscendeseucorpofsico,suacultura,suanacionalidade,seusexoesuahereditariedadeseuaperfeioamentoosentidodavida.Issodependedomundofsico,ondeerrospodemsercometidos(casocontrrionopoderamosser livres).Portanto,omundofsicoeaevoluoexistemparapermitiroprogressodessemembrodaconstituiohumana. possvel desenvolver rgos de percepo do mundo no fsico. O pensamento comum mostra que isso possvel, por exemplo ao se pensar em entesmatemticos como uma circunferncia perfeita,mas tambm emconceitoscomo"rosa","porta"etc.Almdisso,oqueusualmentechamadode"intuio",isto,novasideiasqueaparentementevmdelugarnenhum,soumaindicaodequenossopensamentoatingeomundoplatnicodasideias.

    Esperotermostradoquesepodeserespiritualistasemabdicardaliberdade,daindividualidade,deumpensamentoclaroedaautoconscincia,semserlevadopelossentimentosesemcontradizerosfatoscientficosehistricosconhecidos.Notese como aminha argumentao foi puramente racional e "observacional", e no baseada em puras abstraes semcorrespondnciaouatuaoobservveisnomundomaterial,ouemsentimentosoufantasmagorias,comosepassacompraticamentetodasasreligies.

    Umpontoessencialdesteartigoqueumaexperinciapessoaldeseterliberdadenopensamentoumaindicaomuitofortedequealgonofsicodeveestarativodentrodecadapessoapois,comoexpus,d