Por Uma Filosofia Da Tecnologia No Ensino de Engenharia

download Por Uma Filosofia Da Tecnologia No Ensino de Engenharia

of 12

description

.

Transcript of Por Uma Filosofia Da Tecnologia No Ensino de Engenharia

  • POR UMA FILOSOFIA DA TECNOLOGIA NO ENSINO DEENGENHARIA

    Flvio Macedo Cunha [email protected] Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais, Depto de Engenharia EltricaAv. Amazonas, 7675, CEP 30 600 000 Belo Horizonte - MG

    Resumo: Este trabalho apresenta uma proposta de insero do estudo de Filosofia daTecnologia nos cursos de engenharia. Esta proposta fundamenta-se na anlise crtica dopapel e da importncia da tecnologia objeto de trabalho do engenheiro no mundo atual.Considera-se que o engenheiro, alm de dominar o conhecimento tcnico e cientfico em suarea de atuao, deve ter tambm competncia para compreender e interpretar o significadoe a influncia de suas decises e aes em relao tecnologia. Diante da complexidade dasociedade contempornea, o campo emergente da Filosofia da Tecnologia contribui parapromover a formao de um profissional que possa compreender este aspecto e colocar emquesto a lgica na qual a tcnica apresenta um valor em si mesma e, neste sentido, buscaralternativas que respondam s demandas emergentes do mundo atual, principalmente comrelao sua rea de atuao profissional. Esta proposta responde ainda s exignciascolocadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino de Engenharia no sentidode fornecer fundamentos conceituais relacionados aos contedos de formao bsica doengenheiro, especialmente no tocante s humanidades e cidadania. O presente trabalho, sema pretenso de fornecer uma receita pronta para esta rea de formao, sugere objetos deestudo e formas de implementao desta temtica no ensino de engenharia.

    Palavras-chave: Filosofia da tecnologia, Ensino de engenharia.

    1. INTRODUO A revista Galileu da Editora Globo, em seu nmero 135, no ms de outubro de 2002,apresenta uma breve reportagem anunciada com a frase de Galileu Galilei, Eppur si muove,onde relata a visita de uma comitiva de pesquisadores alemes ao Brasil, promovida peloDeutscher Akademischer Austach Dienst - em portugus, Servio Alemo de IntercmbioAcadmico, por ocasio da comemorao dos 30 anos do programa de cooperao tcnicaentre Brasil e Alemanha. O fato que chamou a ateno nesta visita, destacado pelareportagem, foi a especialidade de um dos membros presentes na comitiva, um filsofo,diretor do Departamento de Filosofia da Universidade Kaiseslautern, especializado emfilosofia da cincia. Talvez este fato no seria de se estranhar, se a histria da formao domundo contemporneo tivesse tomado outros rumos no tocante ao processo do surgimento dacincia moderna. Um dos aspectos que marcou este surgimento, tendo Galileu como um dosprecursores, foi a gradual e complicada separao entre duas grandes reas do conhecimento,as cincias exatas e as humanidades. Este percurso histrico da construo da cincia e datecnologia levou-nos a considerar difcil e incomum o dilogo entre esta rea e ashumanidades, reforando o preconceito por parte de cientistas e tcnicos em relao ao papelda filosofia, considerada por aqueles como destitudas de significado e portadora de ideiassem interesse prtico.

  • Historicamente a separao entre cincias exatas e as humanidades foi reforada ao longodo sculo XIX, marcada pela crena no progresso e na melhoria da condio humana,preconizada pela cincia e pelas inovaes tcnicas. No entanto, a sombria histria do sculoXX, colocou em dvida esta crena, no no progresso, mas no automatismo do progresso.Desta forma, as pessoas envolvidas com o mundo cientfico, com o fazer tcnico e com astomadas de decises comearam a constatar a falncia desta viso essencialmente positivista,necessitando recorrer a uma anlise mais aprofundada dos elementos relacionados sua reade atuao, o que implica retornar ao terreno prprio da filosofia. Neste particular emerge,hoje, nos ciclos de debates sobre os problemas da contemporaneidade, a filosofia datecnologia, uma disciplina com o olhar voltado para aquela que uma das maiores foraspresentes nas decises sobre o destino de nosso planeta. Certamente que, um dos sujeitos quese inscreve na base deste conhecimento o engenheiro, que atua diretamente com oinstrumento tecnolgico, tanto na sua concepo quanto no seu manuseio e aplicao. No hmais lugar para uma posio ingnua em relao ao significado e ao poder da tecnologia nomundo de hoje. A viso de que a tcnica teria por si mesma a capacidade de garantir oprogresso da humanidade tem sido, cada vez mais, combatida. Desta forma, a atividadecientfica e tecnolgica, que so inseparveis, apesar de possurem enfoques especficos,precisa ser continuamente avaliada, tendo em vista a dinmica e a forma como esta estrutura edefine nossas vidas. inegvel a presena da tecnologia em todos os aspectos do mundo contemporneo comuma intensidade tal que dela fazemos nosso modo de ser. Engajados, como j nosencontramos, no processo de tecnificao, afirma MORAIS (1988, p.99), nada maisaconselhvel do que procurarmos conhecer as verdadeiras faces da tecnologia.Consideremos, ento, o quo fundamental este entendimento para aqueles que sopreparados para manipular e criar tecnologias, neste particular, o estudante de engenharia.Trata-se, neste caso, de uma escolha. J que contribumos na produo dos artefatos quecompem nosso universo atual e futuro, podemos optar: ou nos damos ao trabalho de avaliarnossas aes, ou deixamos que outros decidam por ns. Fato que o bumerangue datecnologia retornar sobre ns mesmos, com todos os seus efeitos positivos e negativos.Portanto, fundamental desenvolver um estudo que envolva a avaliao e a crtica em relao tecnologia, principalmente nos espaos onde esta gerada e manipulada. Neste sentido, apresentamos uma sugesto de insero desta temtica a filosofia datecnologia no processo de formao do engenheiro. com o objetivo de trazer elementosque apresentem uma anlise crtica em relao tecnologia, em particular quanto ao enfoquedesta no ensino de engenharia, que este artigo se faz presente. Conforme avalia Saviani, citadopor PILETTI (1991), a filosofia pode abordar qualquer objeto, desde que este possa serproblematizvel. A proposta em questo ao considerar o objeto da tecnologia, tem comoreferncia sua complexidade e abrangncia na vida das pessoas e no cenrio do mundo atual.O fazer tecnolgico e, especialmente, a formao das pessoas para este fazer, pode ser objetode reflexo e crtica, o que implica conhecer os fundamentos a respeito daquilo queproduzimos. Assim sendo, ao propormos esta temtica no ensino de engenharia, sugerimosalguns pontos a serem abordados bem como formas que possam viabilizar a insero destaprtica nos j comprimidos espaos existentes dentro dos currculos de engenharia.

    2. ENFOQUES DA FILOSOFIA DA TECNOLOGIA

    Nas ltimas dcadas tem sido configurada uma filosofia da tecnologia comoespecialidade de conhecimento, dado a irrefutvel presena da tecnologia em todos osaspectos da vida humana. QUINTANILLA (1991) destaca este fato, mostrando que atecnologia, partindo da revoluo industrial, invadiu todos os espaos nos quais o ser humanoest presente, com repercusses sobre a estrutura social, e especialmente sobre a estruturacultural de uma sociedade. Ao tratar das tarefas da filosofia da tcnica, o autor destaca trs

  • campos de problematizao da tcnica, a saber: ontolgicos, epistemolgicos e valorativos.No primeiro campo colocado em anlise a causalidade instrumental e a entidade dosartefatos. No segundo campo o foco volta-se para a estrutura do conhecimento operacional,para a natureza de uma inveno, para a relao entre conhecimento cientfico e tecnolgico.O campo valorativo envolve critrios de avaliao de tecnologias, os objetivos da tecnologia,as implicaes morais, polticas, econmicas e culturais do desenvolvimento tecnolgico. Nesta mesma direo, prpria da abordagem filosfica, MIRANDA (2002) trata a questoda tecnologia considerando as dimenses ontolgica, epistemolgica e axiolgica. Nadimenso ontolgia, o foco volta-se para a essncia da natureza da tecnologia moderna,condicionada a fatores histricos e circunstanciais a qual est inserida (p. 144). colocadaem questo a identidade da tecnologia buscando as bases que fornecem os fundamentos para oentendimento desta numa perspectiva conjuntural. A dimenso epistemolgica volta-se para ao entendimento do modelo de conhecimento que se encontra na base da tecnologia moderna,envolvendo aspectos histricos da construo deste modelo e associando-se a esse a recentecrise do paradigma cientfico. Quanto dimenso axiolgica, a questo dos valores associados tecnologia moderna colocada em discusso, destacando-se o utilitarismo tico que,segundo a autora, lhe conferiu legitimidade moral. Historicamente, o termo filosofia da tcnica foi utilizado pela primeira vez pelo filsofoe engenheiro alemo, Ernst Kapp no sculo XIX (RODRIGUES, 1999), analisando a relaoentre nosso organismo e a tecnologia. Paulatinamente, a avaliao do impacto da tecnologiaem nossas vidas foi ampliando-se e abordando diversos aspectos dessa relao. Esses aspectospassam por pontos tais como o estudo da tecnologia moderna como produto da cinciaemergente a partir do sculo XVI, a anlise da tecnologia como uma nova etapa evolutiva doser humano, a imperiosa necessidade do homem de construir a si mesmo tendo na tcnica aconcretizao deste anseio. Outras vertentes desta anlise consideram a tecnologia comoresultado da tendncia ocidental de explorar e dominar a natureza, a perda da autenticidade eda interioridade humana com a presena da tecnologia cada vez mais incisiva nas diversasfaces da vida, a avaliao da tecnologia como meio versus um fim para o ser humano, aideologia do sistema de produo e de lucro tendo a tecnologia como seu instrumento deefetivao, a necessidade de estabelecer um controle social da tecnologia, a tentativa deelaborao de uma tica diante das questes tecnolgicas, dentre outros temas. Em seu livro Meditao da Tcnica, ORTEGA y GASSET (1963), cuja primeirapublicao em espanhol, data de 1935, discute questes tais como a evoluo histrica datcnica, a possibilidade da satisfao das necessidades humanas pela tcnica, a reforma danatureza atravs dos atos tcnicos especficos do ser humano , a conceituao de tcnica eseu surgimento misturado com a prpria histria do homem. Em suas meditaes Ortega yGasset aborda ainda a relao entre tcnica, sociedade, economia e natureza. H, nestetrabalho, uma brilhante anlise sobre o conflito do ser humano diante da necessidade defabricar sua existncia, destacando a presena da tcnica na existncia humana, lembrando-sede que a vida algo que no nos dado pronto, mas alguma coisa que preciso fazer. VARGAS (1994), formado em engenharia pela Escola Politcnica da Universidade deSo Paulo, tratou desta temtica inter-relacionando cincia com tecnologia e realidade. Oautor busca demarcar os espaos da filosofia e da cincia e trata, com um olhar filosfico, aquesto da tecnologia e da pesquisa tecnolgica defendendo a tese de que a tecnologia seaprende com a prtica da pesquisa. RODRIGUES (1999), citando Jacques Ellul, chama a ateno para o fato de que o mundoatual insere-se em um contexto tecnolgico, e destaca: A tecnologia o pano de fundo, oprprio quadro referencial no qual todos os outros fenmenos sociais ocorrem. Ela moldanossa mentalidade, nossa linguagem, nossa maneira de estruturar o pensamento, inclusive anossa maneira de valorar.(p. 76). Portanto, a tecnologia representa o modus vivendi da sociedade atual. (MIRANDA,2002, p.11). A proposta de uma filosofia da tecnologia consiste em voltar o olhar para a

  • prpria condio humana no mundo de hoje. Neste sentido, significa compreender atecnologia como uma construo do ser humano, uma presena que parte da prpriapaisagem cultural de uma sociedade, um fenmeno que interfere no nosso ambiente e naforma como se estabelecem as relaes humanas. A tecnologia modela a vida e constitui oprprio cenrio do mundo em que vivemos, algo no neutro, implica produo de valores ejogo de poder. Carl Mitcham, citado por RODRIGUES (1999), afirma a necessidade de engenheiros efilsofos denominados de humanistas por Mitcham ampliarem o dilogo entre si, aotratarem da problemtica filosfica implcita na tecnologia, uma vez que a abordagem e ointeresse pelas questes no coincidem. Isto porque, os engenheiros voltam-se para o processodo conhecimento cientfico e do fazer tecnolgico, no conseguindo obter uma visosuficientemente ampla dos problemas tecnolgicos, enquanto que os humanistas, por sua vez,so considerados superficiais ao tratar dos conhecimentos tecnolgicos. A temtica , portanto, ampla sendo tratada por diversos autores sob diferentes enfoques.Alguns pontos, no entanto, sobressaem tais como: a produo e transformao da realidade nomundo atual, os significados das coisas e do mundo produzidos a partir da tecnologia, ainfluncia da tecnologia inserida numa cultura globalizante, o problema do conhecimentorelacionado tecnologia e sua construo histrica, o poder e domnio da tecnologia nasociedade e nos diversos aspectos da vida humana, as questes relacionadas aos valores e tica. Assim sendo, avaliar a tecnologia ou, mais especificamente, uma determinadatecnologia, passa pelo entendimento da realidade, dos significados, da relao global, dapoltica e da tica que esta tecnologia faz emergir.

    3. UMA FILOSOFIA DA TECNOLOGIA NO ENSINO DE ENGENHARIA Neste item so destacados alguns tpicos da filosofia da tecnologia que consideramoscentrais para uma abordagem no ensino de engenharia e que podem, tambm, constituir temaspara debate entre professores da rea tecnolgica, de modo possibilitar-lhes a aplicao destaanlise em sua rea especfica. Neste trabalho, estes tpicos sero abordados de forma sucinta,destacando-se: 1 os conceitos relacionados tcnica, tecnologia e cincia bem como asquestes de avaliao dessas dimenses do saber e do fazer humano; 2 a viso datecnologia, sugerida por Heidegger, como o resultado de um longo processo de desvelamentodo ser tendo como resultado o controle dos entes do mundo; 3 o modelo de conhecimentoconstitudo a partir do advento da cincia moderna e da tecnologia, com foco na forma como aracionalidade instrumental ganhou espao no mundo moderno; 4 o advento de um novoparadigma para a cincia e a tecnologia com propostas alternativas para o mundocontemporneo; 5 as questes de ordem tica evidenciados pela necessidade de seestabelecer cdigos de moral para a atividade tecnolgica.

    3.1 Cincia, tcnica e tecnologia: definies e avaliao

    No faltam definies para cincia e tecnologia, em dicionrios ou em textos que versamsobre este tema. Assim, as definies podem ser colocadas de formas diversas. Para efeitodeste estudo, consideramos que a cincia, como produto do trabalho humano, consiste de umconjunto de conhecimentos organizados em princpios e leis, resultado da tentativa deencontrar padres de repetio na natureza. A cincia relaciona-se a um saber terico, pensamento organizado sobre o mundo envolvendo uma explicao sobre a realidade. Umolhar sobre a filosofia da cincia denota, atravs de amplo material produzido porepistemlogos, a complexidade que envolve o entendimento e a prtica deste fenmeno. Umabreve incurso pela filosofia da cincia, colocando em discusso os fundamentos econcepes com relao cincia, como sugere CHALMERS (2000), requer um estudodetalhado desta temtica. Porm, aqui limitaremos a constatar a intricada relao existente

  • entre cincia e tecnologia no mundo contemporneo, buscando colocar o foco nas discussesrelacionadas aos termos tcnica e tecnologia. RODRIGUES (1999) cita alguns autores queno especificam uma diferena entre esses dois termos, dentre eles Jaques Ellul e Hidegger.Para outros autores os termos apresentam distines. MIRANDA (2002) destaca uma citaoonde o termo tcnica considerado como sendo o conjunto de regras prticas para fazerdeterminadas coisas, incluindo o conjunto de processos de uma cincia, arte ou ofcio visandoa obteno de um resultado determinado, enquanto que o termo tecnologia envolve o estudoou conhecimento cientfico da tcnica, implicando na aplicao de mtodos das cinciasfsicas e naturais. Se na primeira est implcita a ideia de fazer, na segunda est colocada umafundamentao cientfica para sua efetivao. Obviamente que este artigo tem por objetivoapenas colocar a questo relacionada a estes conceitos, sem a pretenso de esgotar asdiscusses e os posicionamentos em torno dos mesmos. Fica, portanto destacado que ademarcao conceitual ampla e depende de pontos de vistas de diferentes autores. Mais fundamental que focalizar os conceitos voltar-se para a avaliao da tecnologia.MORAIS (1988) coloca esta discusso fazendo a pergunta: O mais alto valor o progressotecnolgico? Ou no ser mais certo que o mais elevado valor seja o homem? (p.112). Oautor cita alguns estudiosos em relao a esta questo, tais como Mark Twain, Jacques Ellul,Erick Fromm e Philip Rieff. Twain fazendo citaes empolgadas a respeito do fenmenoimplantado pela tcnica destaca as maravilhas cientficas de seu tempo. Isto, porm, ocorreuantes das duas Grandes Guerras que marcaram o sculo XX, o que provocou uma crise emrelao s posies dogmticas e otimistas para com o progresso da cincia e da tecnologia.Ellul criticou essa aceitao passiva dos dogmatismos resultantes da tcnica que destituiu oser humano do poder de conduo de sua prpria histria e colocou a tecnologia como ummeio e no como um fim de afirmao do humano. Fromm considera que o crescimento datcnica no ambiente humano se d em virtude da profunda atrao emocional pelo mecnico,em contraposio ao interesse pelo que vivo, o que refora uma indiferena pela vida. Rieffpercebeu a tendncia ao empobrecimento da vida interior promovida pela presena massanteda tcnica em nosso mundo. Este relata o fascinante poder da sociedade tecnologizada emesvaziar o ser humano do contato com seu interior, produzindo um ser vazio e superficial.Trata-se de um modo de proceder que impede a contemplao, uma vez que tudo passa a serexteriorizado e trivializado, acabando por deixar que o sistema dominante organize asociedade segundo seus padres e interesses. O debate a respeito dos conceitos e dos aspectos positivos e negativos da tcnica pode sercolocado em pauta como etapa de um processo reflexivo visando o desenvolvimento dapostura crtica no estudante. No h que ser necessariamente conclusivo de modo a sugeriruma tendncia para este ou aquele enfoque, ou seja, no deve ser dogmatizante, mas importante que seja devidamente fundamentado em conceitos e que possibilite odesenvolvimento da capacidade criativa e reflexiva do grupo. O importante colocar o temaem debate, refletir sobre os significados, dialogar com as diferentes posies e desenvolverum modo de olhar que possibilite uma postura aberta e dinmica com relao a esta realidade. fundamental que estudantes e professores compreendam que, enquanto agentes inseridos nosistema de produo, produzimos e somos produto deste mundo cambiante da tecnologia.

    3.2 Sobre a essncia da tecnologia

    Perguntar pela essncia da tecnologia implica tratar a questo ontolgica desta, ou seja,buscar sua identidade, seu ser, sua natureza. Este constitui um passo fundamental para acompreenso das questes acerca do conhecimento tecnolgico e das questes ticassuscitadas pela tecnologia. A presena da tecnologia no mundo atual requer um olhar atentouma vez que ela mesma constitui o referencial e o quadro no qual este olhar repousa. Uma dasmais significantes contribuies nesta rea atribuda a Heidegger que, ao perguntar pela

  • essncia da tecnologia, considera ser esta uma forma de desvelamento do Ser. Estainterpretao de Heidegger tem sua fundamentao na constatao do filsofo em relao origem do pensamento ocidental, quando ento os filsofos gregos, ao buscarem oconhecimento do Ser, ou seja, ao perguntarem pelo princpio que fundamenta a existncia dascoisas, acabaram voltando-se para as prprias coisas, os entes. Neste sentido, o projeto deconhecimento ocidental a partir do mundo grego na verdade, um projeto metafsico consistiu numa gradual penetrao na natureza das coisas, retirando dela algo que estavaencoberto e obrigando-as a se revelar. Nesta tentativa de interveno na natureza tcnica foi seafirmando como a possibilitadora desse empreendimento. Este modelo de conhecimentoconfigurou o grande projeto da cincia moderna tendo na tecnologia sua revelao mxima(SAFRANSKI, 2000, p.64), resumiu esta idia com a seguinte frase: Muitos dos sonhos dametafsica maior controle do corpo, superao do tempo e espao tornaram-se realidadestcnicas. Neste sentido, a tecnologia obriga a natureza a fazer algo a servio dos desejos humanos.Ao represarmos um rio para construo de uma central hidreltrica, alteramos sua natureza emfuno de fatores econmicos e prticos e estabelecendo uma nova lgica de relacionamentocom ele. Da mesma forma, ao acumular as aves em espaos quadriculados, devidamentecalculados para aumentar a produtividade das granjas, ao planejar a produo de grosgeneticamente selecionados e tratados com fertilizantes e agrotxicos, estamos provocando ocontrole da natureza para atender a vontade humana. Com a tecnologia no deixamos anatureza acontecer, mas ns a provocamos e a abordamos de modo a que ela se anuncie emalguma forma comprovvel por clculo, e permanea nossa disposio como um sistema deinformaes (SAFRANSKI, 2000, p. 464). Conforme destaca RODRIGUES (1999, p. 103):Tudo passa a ser visto como possvel fonte de energia e de riqueza para ser explorada eestocada. E enquanto transforma o mundo, a tecnologia impe ao homem seus prpriospadres. A tecnologia a moldura pela qual vemos e vivemos no mundo. Desta forma, mais quefornecer meios e instrumentos que o ser humano utiliza, a tecnologia penetrou no mago doser humano transformando-o internamente. Para ORTEGA y GASSET (1963) a tcnica deveatender s necessidades humanas, criando possibilidades sempre novas que no existem nanatureza do homem. Na realizao deste projeto, o ser humano vai transformando o mundo sua imagem e semelhana. Porm, a tecnologia cria novas necessidades, e esta tambmproduz o homem sua imagem e semelhana. A tecnologia torna-se o definidor do que vamosvestir, do que vamos alimentar, do que vamos fazer, portanto, atinge o nosso prprio corpo enosso ritmo biolgico. Da mesma forma que os instrumentos tecnolgicos so consideradosextenses do nosso corpo, sugerido pelo engenheiro e filsofo alemo Ernst Kapp (citado porRODRIGUES, 1999), podemos considerar que, no estgio atual nosso corpo acaba por tornar-se extenso da tcnica, na medida em que temos que nos adaptar fsica e mentalmente parautiliz-la e, portanto, para relacionarmos com o mundo da forma como ela nos impe. Uma discusso que aborde essa temtica, qual seja, o significados e as vises de mundoque a tecnologia produz hoje, poder ser incentivada entre estudantes ficando aqui mais umasugesto de tema. uma questo de compreender como a tcnica se insere na natureza, navida e nos valores, e enquanto ela vai sendo moldada, ns estamos tambm sendo moldados.Um aspecto que, para ser entendido, implica ir alm dos fatos descritos pela histria,significando, neste particular, perceber como que aquilo que fazemos e pensamos j seencontra inscrito no contexto desta histria.

    3.3 A construo histrica do modelo de conhecimento tecnolgico

    MORAIS (1988), ao focalizar este aspecto, considera duas fases da histria da tecnologiaque ele classifica como sendo a civilizao pr-tecnolgica e a civilizao tecnolgica. Naprimeira fase, que se encerraria a partir da primeira Revoluo Industrial, o ser humano se

  • formava em contato mais prximo com a natureza, fato este que repercutia na constituio deseu psiquismo, promovendo um desenvolvimento mais rtmico em virtude deste contato. Omundo tecnificado retirou do ser humano esta vivncia rtmica interferindo em sua sade, seuconvvio social, sua experincia espiritual, promovendo, desta forma, um processo deaviltamento da natureza humana. Morais cita Francis Bacon e Rousseau que alertavam para afora desumanizadora do conhecimento cientfico e tecnolgico, dado o potencial dedominao da cincia e da tecnologia em detrimento da liberdade. Para este autor, isto nosignifica defender a tese de que no perodo pr-tecnolgico as condies de vida fossemmelhores que na fase atual ou que a tecnologia venha constituir uma runa para a civilizao,mas ele pretende chamar a ateno para o fato de que a penetrao da tecnologia no mundomoderno implicou em uma mudana radical na forma como os significados e costumes emrelao vida foram transformados. A cincia moderna, que tem sua gnese por volta dos sculos XVI e XVII, estabeleceu opatamar para o surgimento da civilizao tecnolgica, cuja afirmao se deu efetivamentecom a Revoluo Industrial. Enquanto a concepo anterior considerava o universo como umorganismo vivo, a viso que surge a partir do advento da cincia moderna, influenciada pelasidias de Galileu, Newton e Descartes, trouxe uma concepo de universo mecnico emanipulvel. Esta tendncia para o controle da realidade reforou o propsito do ser humanoem buscar o conhecimento tendo em vista o domnio da natureza e a explorao de seusrecursos, colocando-a a seu servio. O mtodo cientfico tornou-se o modelo de conhecimentopredominante e hegemnico, caracterizando-se por uma cincia experimental emcontraposio a uma cincia contemplativa, com a nfase no quantitativo substituindo avalorizao do qualitativo e a instrumentalizao e a medio tornando-se formas de garantiade obteno da verdade cientfica. Com o dualismo cartesiano o mundo natural passou a serinterpretado como uma grande mquina desprovida de alma, resultando, por exemplo, nosto conhecidos problemas ecolgicos que hoje tentamos resolver. Esta viso de mundo acaboupor converter-se, no dizer de DOMINGUES (1991), na dominao do prprio homem sobre ohomem. A grande contradio resultante deste processo o fato de que a cincia e a tecnologia,que teriam em princpio a finalidade de libertar e reduzir o sofrimento do ser humano,acabaram por demonstrar a incapacidade de, em si mesmas, atingirem este projeto. Para osfilsofos da Escola de Frankfurt, o aspecto da racionalidade que passou a vigorar na sociedadeindustrial, foi a dimenso instrumental. Com o predomnio da razo instrumental, a naturezapassou a ser mera objetividade, algo manipulvel pelo homem. Essa postura constituiu oprocesso da dominao, com o conhecimento colocado a seu servio. Este cenrio revela oaspecto contraditrio do projeto cientfico e tecnolgico do mundo moderno. A filosofia datecnologia possibilita um olhar para a presena da tecnologia no mundo de hoje buscandorelacion-la com sua construo histrica, em vez de tom-la como algo que apenas se projetapara um futuro. a partir da compreenso desta histria, de seus erros e acertos, que podemosintervir na construo de uma tecnologia que possibilite melhorar a vida das pessoas e doplaneta de uma forma geral.

    3.4 Um paradigma emergente na abordagem da cincia e tecnologia

    Os fatores histricos decorrentes de uma viso de mundo amplamente apoiada nodomnio e na manipulao da natureza e das pessoas, na lgica da produo e do lucro, nacincia e tecnologia como um fim em si mesma atingiram seus efeitos contraditrios emmeados do sculo passado, denominado por diversos autores como crise do paradigmacientfico e tecnolgico do mundo moderno. Como destaca CAPRA (1982) este sistema devalores moldados nos sculos XVI e XVII e que esto na base de nossa cultura precisam sercuidadosamente reexaminados. SANTOS (2002) enftico em confirmar a profunda crise domodelo racionalista, afirmando tratar-se de uma crise no s profunda, mas irreversvel e

  • destaca a fragilidade dos pilares em que se funda o paradigma dominante. Neste caso, estacrise constatada em algumas reas por volta do final do sculo XIX e incio do sculo XX,possibilitou a abertura para novas formas de abordagem do saber. o caso do legado deEinstein com a introduo dos conceitos de relatividade e de simultaneidade deacontecimentos, revolucionando nossas concepes de espao e de tempo. Outro elementoque abalou o paradigma dominante at ento, destacado por Santos, foi o diferencial trazidopela mecnica quntica no domnio da microfsica, desabando o determinismo mecanicista eproduzindo uma mudana nos conceitos de conhecimento da realidade. Cita-se ainda oteorema da incompletude de Gdel colocando em dvida a possibilidade de garantia do rigordas leis da natureza, posto que estas se baseiam em leis matemticas que, por si mesmas,podem carecer de fundamentao consistente. H tambm uma quarta condio terica queevidencia esta crise de paradigma resultante dos conhecimentos da microfsica, da qumica eda biologia nos ltimos anos, o que levou aos estudos sobre a irreversibilidade dos sistemasabertos. Santos ressalta que estas mudanas fazem parte de um movimento que passa pelascincias da natureza atingindo inclusive as cincias sociais, promovendo profundas alteraesno modelo cientfico atual, com efeitos nos mais diversos campos da atuao humana etrazendo consigo um paradigma emergente. MIRANDA (2002) destaca cinco pontos relacionados crise do paradigma resultante dosmodelos de cincia e tecnologia que herdamos at ento. Enquanto a cincia modernareforou a compartimentalizao do saber e a especializao, no paradigma emergente busca-se considerar a realidade por meio do complexo de relaes que compe o todo (p. 88).Enquanto o modelo de conhecimento moderno enfatizou apenas o fenmeno como possvel deser conhecido, banindo o metafsico de qualquer legitimidade como saber cientfico, a novaabordagem da cincia se abre para o multidimensional, abre-se para alm do aspectoessencialmente material, emprico e quantificvel, ampliando as possibilidades deconhecimento de outras faces da realidade. Enquanto que o modelo cientfico do paradigmaanterior reforou a pretenso de legitimar o conhecimento com bases na neutralidade, nocontaminando o objeto com o sujeito cognoscente e desconhecendo sua construo histrica,o paradigma emergente, reala a influente interao entre sujeito e objeto no processo doconhecimento, retomando a impossibilidade de negar a dimenso subjetiva do conhecimento.Enquanto o conhecimento cientfico direcionou-se para a causalidade formal, buscandoresponder como as coisas funcionam, reduzindo o mundo descrio dos fatos e produzindo ageneralizao com o aniquilamento do singular, o novo modo de olhar o mundo leva em contaa intencionalidade das coisas, vai at o para qu dos eventos, considerando a complexidade,a auto-organizao, as interaes entre os fenmenos no universo. Enquanto o paradigmaexistente postula a ordem existente no universo e vai atrs desta, considerando que noencontr-la representa uma falha do mtodo adotado, no novo paradigma um novo olharexige que concebamos conjuntamente a ordem e a desordem (MORIN, 1998, p.195), umavez que ordem e desordem so complementares, revelando uma nova postura diante do real. Portanto, discutir sobre um novo paradigma na cincia e tecnologia, no se tratameramente de uma retrica, mas de uma condio de continuidade do prprio cenrio no qualestes segmentos prosseguem. Compreender estes processos implica a prpria sobrevivnciadas pessoas diante dos sistemas complexos que emergem no mundo de hoje e sua anlise einterpretao requer mudanas de postura durante o processo de sua formao comoprofissionais, aprendendo a lidar com o novo que emerge em cada momento. Um novoparadigma tambm se aplica educao, entendendo que, formar um profissional, sobretudona rea tecnolgica, no apenas dot-lo de elementos tcnicos para dominar uma realidade,mas permitir-lhe compreender o significado e as tendncias desta realidade, para sua vida epara a vida do planeta. 3.5 Questes de ordem tica relacionadas tecnologia

  • Como resultado de um processo de construo social e cultural, a tecnologia enquadra-sena problematizao da tica e da atribuio de valores. A origem e estruturao desteprocesso, no sentido moderno, baseada no princpio baconiano de saber poder, pautou-seno consrcio entre cincia e tcnica com propsito de domnio de todos os aspectos danatureza. Este propsito, reforado pelo racionalismo instrumental, transformou-se emracionalizao, no sentido de submeter o mundo, tanto no aspecto fsico, quanto humano esocial, a padres de deciso racional, penetrando todos os domnios da vida. este princpio,enunciado por HABERMANS (1975) como agir-racional-com-respeito-a-fins e ligado institucionalizao do progresso cientfico e tcnico (p. 303), que requer uma avaliao datica relacionada tecnologia moderna. Nesta linha de anlise, MIRANDA (2002), destaca o utilitarismo como o modelo detica que propicia poltica e ideologicamente a tecnologia moderna (p. 111). O utilitarismoresgata modelos anteriores de tica que se fundamentam na busca do prazer, tendo emBentham e Stuart Mill, no sculo XVIII, seus representantes. Este se baseia no princpio dautilidade e considera o bem a partir de sua finalidade e eficcia evidenciado pela experincia.O objetivo seria maximizar o prazer e minimizar a dor como um fim a ser conquistado, tendona utilidade a regra para estabelecer os valores relativos a uma ao. O projeto tico com estaabordagem, que emergiu simultaneamente com o surgimento da sociedade capitalista,enxergou na posse dos bens e na obteno das riquezas sua grande possibilidade deefetivao. Desta forma, no aspecto ideolgico e valorativo o terreno estava pronto eadequado para a implantao de um projeto que teria na tecnologia moderna sua base desustentao. A aliana entre a tecnologia e o utilitarismo tico, constata MIRANDA (2002), sesustenta na concepo de valor como aquilo que til, da o propsito de utilizar e dominar anatureza e de adotar diante do mundo uma postura pragmtica para a realizao destespropsitos. No entanto, apesar da tentativa de encontrar um espao para a realizao humanado prazer e da felicidade, dentro das circunstncias de uma poca, esta tica foi insuficienteem termos de possibilitar o acesso felicidade para o ser humano, tornando-se alvo de crticaspor diversos estudiosos do tema. No possvel nem pertinente, no caso do presente trabalho, apresentar uma discussoampla em torno da problemtica da tica e de suas vertentes na filosofia. Neste caso, em setratando de uma introduo temtica da filosofia da tecnologia, algumas vises relativas tica nesta rea merecem uma meno. Podemos citar a proposta de Habermas, com a nfasena racionalidade comunicativa em contraposio racionalidade instrumental, buscandoestabelecer um espao de discusso que possibilite ampla participao dos sujeitos envolvidosno processo de tomada de deciso visando ao consenso. Uma proposta similar encontradaem Karl Apel, citado por RODRIGUES (1999), com vistas ao estabelecimento de uma moraluniversal, que leve em conta a responsabilidades pelos efeitos perniciosos da tecnologia. HansJonas citado por RODRIGUES (1999) e MIRANDA (2000) como apresentando umaproposta tica que tem em vista os aspectos conflitivos da civilizao tecnolgica, ao focalizarsua nfase no princpio da responsabilidade para com as geraes futuras. Esta propostafundamenta-se no dever do ser humano para com o outro e para com a natureza, uma vez queo ser humano, no mundo contemporneo, dispe de uma grande variedade de recursosdisponibilizados pela tecnologia permitindo-lhe amplo poder de ao. Estas questes perpassam as mais diversas reas nas quais a tecnologia avana e produzinterferncias, uma vez que esta constitui um fenmeno social e cultural envolvendo,portanto, aspectos valorativos. Da ecologia s mutaes genticas, dos computadores aosexperimentos com animais, da produo de armas forma de atuao dos meios decomunicao, o problema tico encontra-se no foco das discusses. Com igual intensidade enuma escala de poder de difcil controle, a tecnologia encontra-se na base da globalizao daeconomia, da especulao de capitais volteis, da propaganda ideolgica entre naes e povos,da acumulao de riqueza por um grupo cada vez mais restrito de pessoas e pases, do

  • terrorismo, do trfico internacional etc, apenas para lembrar algumas, dentre tantas outrasmazelas, que implicam em problemas ticos que afetam nossas vidas no mundo atual. Para fechar esta questo, sem a pretenso em esgot-la, vale a pena citar DYSON (1998)que considera os desafios ticos de trs novas eras relacionadas tecnologia no mundo dehoje, a saber: a Era da Informao impulsionada pelos computadores, que j est presente emnosso mundo, a Era Biotecnolgica, impulsionado pela engenharia gentica, que j chegoucom fora total no incio deste milnio e a Era Neurotecnolgica, impulsionada por sensoresneurais, possibilitando a manipulao, atravs de mecanismos fsicos, da emoo e dapersonalidade humana, anunciando-se para meados do sculo XXI. Este apenas mais umexemplo que refora a complexa questo da tecnologia na vida humana. Desta forma,elementos desta natureza no podem ser colocados margem como que constituindoproblemas secundrios quando se trata de formao de pessoas que lidaro de forma incisiva econstante com estas realidades.

    4. CONSIDERAES FINAIS

    Um breve olhar por alguns currculos de graduao em engenharia no Brasil, nos permiteconstatar a presena de disciplinas voltadas para a rea das humanidades e cincias sociais oque pressupe a existncia, nesses currculos, de espaos para a reflexo e anlise crtica detemas relacionados s questes da tecnologia e da engenharia. Esta constatao refora nossatese em relao importncia da abordagem desta temtica como um dos pontosfundamentais para a formao plena do engenheiro. No caso especfico deste trabalho, o focovolta-se para a tecnologia, analisada de forma sistmica e inserida em um contexto queenvolve valores e interesses diversos. Portanto, a proposta consiste em desvendar ossignificados, influncias e consequncias da tecnologia tendo em vista sua aplicao naengenharia. No presente trabalho so destacados alguns pontos da filosofia da tecnologia comosugesto para abordagem no ensino de engenharia. O mais importante que o enfoque sejaconsiderado numa perspectiva problematizadora, com vistas ao cenrio nacional e o maisprximo possvel das questes relacionadas ao campo de atuao do engenheiro. A forma como esta temtica pode ser inserida no currculo envolve diversaspossibilidades. Por um lado, no conjunto de disciplinas que compem a rea das cinciashumanas e sociais no ensino de engenharia, a filosofia da tecnologia abrange partesignificativa desta rea. Neste caso, as disciplinas podem trabalhar com textos e discusso detemas polmicos que tenham como foco questes relacionadas tecnologia no campo daengenharia. Outra abordagem pode envolver a implementao de dinmicas e de atividadesorganizadas ao longo do curso tais como palestras, debates, vdeos e notcias veiculadas pelamdia que tenham como pano de fundo a anlise crtica de questes relacionadas tecnologia. Um ganho significativo para viabilizar a implementao desta proposta seria oenvolvimento de professores de diversas reas no ensino de engenharia em estudos eencontros que possibilitassem a uniformizao dos conceitos em relao a este tema de modoa aplica-lo em sua disciplina especfica. Esta seria uma forma de colocar em prtica aquiloque anunciado pelo paradigma emergente a efetivao de um dilogo entre os engenheirose profissionais de outras reas de conhecimento visando enfocar a tecnologia numaabordagem sistmica. Neste caso, cada professor, diante de uma situao especficarelacionada ao contedo com o qual trabalha, poderia colocar em questo pontos polmicos ediscutir projetos tendo em vista despertar o estudante para o entendimento da complexidadeque envolve a tecnologia nos tempos atuais. Fato que o desafio com relao formao do engenheiro tem sido cada vez maisiminente uma vez que esta formao envolve o preparo de um profissional apto a lidar comum aparato tecnolgico que implica uma relao com poder e transformao cultural. Oengenheiro, para enfrentar o mundo do trabalho de modo a obter xito em sua atividade

  • profissional, dever estar em condies de conduzir processos e pessoas, precisando ter umaviso ampla e fundamentada das questes bsicas que se relacionam ao seu campo detrabalho. A abordagem filosfica, com um enfoque direcionado para os aspectos aquidestacados, pode contribuir de modo significativo neste processo de formao.

    5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    CAPRA, Fritjof. O ponto de mutao. SP: Cultrix, 1982.

    CHALMERS, A F. O que cincia afinal? SP: Brasiliense, 2000.

    DOMINGUES, Ivan. O grau zero do conhecimento. So Paulo: Loyola, 1991.

    DYSON, Freeman. Mundos imaginados. So Paulo: Cia das Letras,1998.

    HABERMAS. Jrgen. Tcnica e cincia enquanto ideologia. So Paulo: Abril Cultural,1975, p. 303 334 (Col. Os Pensadores, vol. XLVIII).

    MIRANDA, Angela Luzia. Da natureza da tecnologia: uma anlise filosfica. Curitiba,2000. (Dissertao de Mestrado)

    MORAIS, Regis. Filosofia da cincia e da tecnologia. Campinas: Papirus, 1988

    MORIN, Edgar. Cincia com conscincia. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

    ORTEGA Y GASSET. Meditao da tcnica. RJ: Ibero-Americano, 1963.

    PILETTI, Claudino. Filosofia da educao. 3 Ed. So Paulo: tica, 1991.

    QUINTANILLA, Miguel A. Tecnologa: un enfoque filosfico. Buenos Aires: Eudeba,1991.

    RODRIGUES, Anna Maria Moog. Por uma filosofia da tecnologia. In: GRINSPUN, MrianP. S. Z. (Org.). Educao tecnolgica: desafios e perspectivas. So Paulo: Cortez, 1999.

    SAFRANSKI, Rudiger. Heidegger: um mestre na Alemanha entre o bem e o mal. SP:Gerao Ed., 2000.

    SANTOS, Boaventura de Souza. Um discurso sobre as cincias. Porto: Ed Afrontamento,2002.

    VARGAS, Milton. Para uma filosofia da tecnologia. So Paulo: AlfaOmega, 1994.

    TOWARDS A PHILOSOPHY OF TECHNOLOGY IN ENGINEERINGEDUCATION

    Abstract: This work proposes the introduction of Philosophy of Technology studies inEngineering education as an way of coping with the unavoidable task of helping students

  • develop an accurate critical perception of the awesome power technology holds nowadays.We consider that Engineering students must acquire not only scientific knowledge andtechnical skills, but also the ability to understand the social issues connected with his/herprofessional area and the interrelation of those with the meanings and choices associatedwith technology. We therefore advocate a contact with the field of Philosophy of Technologyas a means of helping students question the widespread idea of technology as a goal in itselfand build up conditions for a more reflective involvement with the search of solutions to theworlds technological challenges. The work thence proceeds with the suggestion of both a setof relevant humanistic and ethic themes and a methodology for implementing their study inthe engineering curriculum.

    Key-words: Philosophy of technology, Engineering education.