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SumárioEditorialArte sem fronteiras

CartasCorrespondências de leitores da revista, com sugestões, elogios ou críticas

Mapeamento CulturalCidades beneficiadas pela cultura da revista Porta-Luvas

DançaDiversidade e felicidade de mãos dadas

InclusãoA arte ao alcance de todos

Entrevista“Não somos tábua rasa”

Patrimônio CulturalCavalgada resgata cultura do interior

PatrocinadorPesquisa revela desconhecimento sobre a concessão de rodovias

ContoMania de grandeza

Espaço para produtores culturaisApóie a cultura patrocinando o projeto

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ExpedienteDistribuição gratuita - Tiragem: 180.000 exemplaresProibida a reprodução total ou parcial de textos,fotografias e ilustrações sem autorização da EmanaImagem & Cultura Ltda - www.emana.art.brorkut: Revista Porta-Luvas • twitter: @portaluvas •facebook: Editorial Portaluvas

Editora/Administrativo e Financeiro: Emana Imagem & Cultura Ltda.Editor/Redação: Fernando Bueno - Milagre do Verbo Editora Ltda ME.Fotos: Emana Imagem - Katia Fanticelli e João VallerioColaboradores: Claudio Carvalho, Marcos Garcia e Tatiane M. BarretoEditoração: Emana Futura / Gilmar Elidio de Jesus

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Mais uma edição da Revista Porta-Luvas está pronta echega às suas mãos, trazendo muita informação ecultura. Uma preocupação constante da revista ésempre trazer novidades, sejam elas na parte gráfica eprincipalmente no que diz respeito à responsabilidadesocioambiental e inclusão cultural. E com satisfaçãoestamos conseguindo implementar avanços como aleitura para deficientes visuais entre outros. Esta ediçãoconta com uma importante contribuição para o meioambiente, é o selo da FSC (Conselho Brasileiro deManejo Florestal), que garante a origem dasmadeireiras (papel) ambientalmente corretas.

Na capa desta edição encontramos uma grata surpresana cidade de Conchal, o Grupo de Dança Rodapés. Pormeio da inclusão, pessoas com deficiência e outrassem, fazem da música a matéria-prima para viverambem e felizes, difundindo a arte por todo o país.Imperdível!

Outro assunto tema desta edição são as OficinasCulturais existentes no Estado de São Paulo. Ao todosão 22 que existem com o propósito de contribuir paraa formação de artistas e cidadãos. Leia a matéria e vejaqual você pode encontrar aí perto da sua casa.Fascinante também é a entrevista feita com ToninhoMacedo. Um carioca 100% paulista e que tem na arteseu maior objetivo de vida. Criador do Revelando SãoPaulo, maior evento cultural do estado, ele bateu umpapo delicioso com nossa reportagem. Veja na página 18.

As cavalgadas pelo interior de São Paulo também sãofoco de uma matéria desta edição. Um roteirorecheado de belas paisagens, muita cultura e paz.Basta ler para ficar com vontade de fazer o passeio. Epara finalizar, uma matéria sobre um importante setordo país, o de Concessão de Rodovias, um dos grandesresponsáveis pelo crescimento e desenvolvimento dopaís nos últimos anos.

Arte sem fronteirasArte sem fronteirasArte sem fronteirasArte sem fronteirasArte sem fronteiras

editorial

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>> cartas

>> Fale conosco - Envie as cartas ou e-mails ([email protected]) para estaseção com nome, RG, endereço e telefone. A revista Porta-Luvas se reserva o direito de, semalterar o conteúdo, resumir e adaptar os textos publicados.

Parabéns pela excelente revista,comecei a ver na edição 7mas já me apaixonei pelas matérias super interessantes.Continuem assim com esse excelente trabalho, só na minhafamília vocês já ganharam uns nove leitores assíduos. Muitobom mesmo. Agora estou ansioso para receber minhasrevistas em casa...abraço

Resposta: William, é uma satisfação enorme saber que um exemplar darevista está sendo “disputado” por nove pessoas. São histórias como essaque nos dão ânimo para continuar produzindo a Revista Porta-Luvas.

William RichardLimeira – SP

Resposta: A satisfação é nossa em receber a suacarta e saber que estamos levando conhecimentopara você e sua família. Quanto à assinatura, a suajá está garantida, receberá toda edição na sua casaem primeiríssima mão.

Oi, tudo bem?Meu nome é Jonivaldo. Tenho 29 anos, sou trabalhador rural, trabalho cortandocana. Um dia estava vindo do trabalho e o ônibus parou para pagar o pedágio ea moça entregou para a turma a revista Porta-Luvas. E eu comecei a ler a revista egostei muito, e minhas filhas também gostaram. Por isso, se for possível gostariade receber a revista por que é muito interessante ficar sabendo de coisas quevocê não conhece. Principalmente que eu não sou daqui, sou de Maceió e moroaqui há dois anos. Muito obrigado, que deus te Abençoe.

Jonivaldo José da SilvaPorto Ferreira – SP

Primeiramente agradeço a atenção amim dispensada, enviando-me arevista deste projeto. Esteinformativo é de muita importância,pois além de informar as boas coisasque temos no Brasil, ajuda oBrasileiro a ter memória, o que amaioria carece desta qualidade. Seibem que um povo sem memória éum povo pobre. O assunto principalé informá-los da mudança do meuendereço. Por favor, anotem maisuma vez agradeço e peço a Deus queos mantém nesta linha.

Resposta: Lélio, obrigado por seucontato, já alteramos o seu endereço eesta edição já foi entregue no novo local.Ficamos felizes em saber que gosta eacompanha a revista, afinal nossotrabalho é justamente o que vocêcolocou na sua carta, mostrar o que oBrasil tem de bom na área da cultura edeixar isso registrado. Um forte abraço.

Lélio Paulo Brigagão do CoutoFranca – SP

•A edição n. 10 da revista Porta-Luvas corresponde aos meses de julho/agosto/setembro e nãosetembro/outubro/novembro como informado.•Diferente do que foi publicado na edição 10, na página 9, o museu tem 3 mil metros quadrados deárea coberta. Não existe medição da área externa.E

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>> dança

Diversidade e felicidadede mãos dadas

Fabiana Schoqui

Alegria. Esta é a palavra que define asapresentações do Grupo de DançaRodapés, de Conchal, interior de SãoPaulo. Composto por 20 artistas - setepessoas com deficiência e 13 semdeficiência – o grupo se caracteriza pelorespeito à diversidade, em todos ossentidos, e propõe um novo olhar sobrea dança.

Idealizado pela professora de Educação Física Kelly Siqueira, especialista emdança e consciência corporal, o Grupo Rodapés foi oficializado em 2004, massua história começou alguns anos antes. Em 2002, Kelly cursava a faculdade

“a dança é possívelpara qualquer pessoa

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e estagiava naAssociação de Pais eAmigos dos Excepcionais(APAE) de Conchalquando conheceu omenino Natanael deAndrade, na época com17 anos. “Ele era tímidoe não participava dasatividades como osdemais alunos. Ficavaapenas cantandoenquanto os outros sedivertiam”, relembraKelly.

Com um jeito muitopróprio de encantar aspessoas, Kelly passou aoferecer a ele umtrabalho artístico eterapêutico a fim dedesenvolver osmovimentos e ointeresse pela dança.“Pensei: a dança épossível para qualquer

pessoa”. Foi a partir daí que ela percebeu uma identificação do meninocom a arte e, depois de alguns treinos, deu início à dupla de dançarinos –ela com os pés e ele com a cadeira de rodas. Na época, os dois seapresentaram em diversos locais e foram aplaudidos tanto pela novidadequanto pela beleza e coragem do trabalho.

Desse sonho inicial surgiram outras ideias e novas possibilidades. Kellyconheceu o fisioterapeuta Alexandre Félix e com ele começou um trabalhode busca por novos artistas para somarem ao que vinha desenvolvendocom Natanael. Como a cidade é pequena (22 mil habitantes), eles jáconheciam a maioria dos cadeirantes e, com uma lista em mãos, passarama bater de porta em porta convidando-os a fazer parte da companhia dedança que estava acabando de se formar.

A princípio, alguns deles resistiram à ideia por medo de arriscar algo novo,mas a partir do momento que o grupo foi tomando corpo, os que aindaresistiam mostraram interesse e aí se formou o Grupo Rodapés, um trabalhovoluntário e digno de aplausos por onde passa.

Seus ensaios acontecem aos domingos, num espaço cedido pela Prefeiturade Conchal, que também dá apoio na aquisição dos uniformes, cenários,viagens e outras necessidades.

Kelly e Natanael

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Muito além da dançaO Rodapés é conhecido e apreciado não apenas por quem assiste suasapresentações, mas também por alunos de escolas e universidades quebuscam no diferencial do grupo o tema para seus trabalhos curriculares.Já são três pesquisas científicas concluídas na área de Educação Física.

Um dos alunos que lá esteve desenvolvendo um trabalho para a faculdadefoi Mike Fabrício Braga. Entrou e nunca mais saiu. “Ele se encantou tantoque acabou se envolvendo com a história do Rodapés e hoje estamos àfrente do trabalho do grupo”, enfatiza Kelly.

A maneira de levar cultura às pessoas é tão especial que o Rodapés já fezmais de 250 apresentações em cinco anos, com três espetáculos própriosde dança, teatro e música. Já passou por diversas cidades da região deConchal, interior do estado e também capital. E vem expandindo oshorizontes a cada dia.

O projeto Rodapezinho deve ser concretizado no ano que vem e visa inserircrianças de cinco a oito anos no desenvolvimento dos movimentos. Estainiciativa se deve à grande procura de pais que se interessaram em colocarseus filhos.

A companhia também tem uma turma de 15 alunos que ensaiam às sextas-feiras. “São pessoas que querem fazer parte do grupo, mas infelizmentenão temos espaço para ensaiar todo mundo”, explica Kelly. A intenção étornar o Rodapés uma associação para que possa crescer, mas para issosão necessários investimento e apoio.

A cultura movendo famílias

Os casais de irmãos Clara e Ricardo; e Thiago e Luana

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Com o convite da professora, dois casais de irmãos hoje completam oquadro de artistas do grupo. Thiago Aparecido da Silva (20 anos) e LuanaBeatriz da Silva (16 anos) não possuem deficiência física, mas encontraramna força de vontade dos colegas cadeirantes exemplos para toda a vida.

Antes de entrar para o grupo, Thiago achava que dançar era ‘coisa demulher’. Após quatro anos e mais maduro, se anima ao falar dasexperiências e dá risada quando os amigos fazem brincadeiras sobre a dança.“Hoje sei que ela faz bem para todos. A história de vida dos amigos do grupoé uma experiência muito positiva, aprendi a ter mais respeito pelas pessoas emais vontade de viver”, diz.

Encantada com as apresentações do irmão, Luana já fazia aulas de dançacom Kelly no Centro Comunitário da cidade e gostava das expressõescorporais. Há dois anos no Rodapés, a adolescente não só realizou seusonho como hoje desfruta dele fazendo bonito nos palcos.

Ricardo Giovani de Assis (17 anos) e Clara Maria de Assis (14 anos) formamoutro casal de irmãos que se dedica de corpo e alma à dança no Rodapés.Para avaliar se iria gostar da atividade, Ricardo foi a alguns ensaios antesde se decidir, mas já está se apresentando há um ano e meio. Ambosgostam de estar entre os amigos na arte inclusiva e se sentemorgulhosos pela oportunidade. “Eu sempre gostei de dançare depois do Rodapés fiquei com mais vontade ainda de meaprimorar”, conta Clara.

Os irmãos mais o amigo Pedro W. Patrocínio Neves (17 anos)dizem em coro: “Somos uma família”. Pedro é mais umintegrante que hoje conta com o apoio do pai e doirmão para seguir adiante com o sonho. “Eu e meuirmão fomos encaminhados para um abrigo epermanecemos por quatro anos. Hoje moramos commeu pai e tive a oportunidade de entrar para oRodapés”, comemora Pedro.

Inicialmente, ele tinha preconceito com homensque dançavam, mas incentivado por Ricardo, eleaceitou o desafio. Antevendo a veia artística dorapaz, Kelly o convidou para ajudar em umespetáculo em 2008, quando Pedro se apaixonoupelo trabalho e quis continuar como integrante.Hoje, sonha em ser professor de educação física.

A superação pela arteA jovem Eliane Otoni de Azevedo, de 22 anos, é um exemplo de superaçãoconquistada com a ajuda da dança. Sua rotina de trabalho numsupermercado foi interrompida por um coágulo no cérebro que a deixou

A história de vida de Pedro semistura ao Rodapés

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sem condições de semovimentar e secomunicar. Após cincocirurgias e três anos nacama, ela foi convidadapara entrar no Rodapés ehoje se expressa por meioda dança com a cadeira derodas e até voltou a falar.“Eles levantaram minhafilha”, emociona-se a mãeEdméa, seu anjo da guardaque sempre acompanha ogrupo nas apresentações.

Outro anjo da guarda deEliane é a amiga CarlaAugusta V. Bordin, quetambém é cadeirante e estáno grupo desde o início. Elaauxilia nos movimentos,corrige a postura de Elianee a ajuda com ocomputador. “A Eliane émuito especial, e oRodapés é a minha vida”,simplifica.

Já a pequena LetíciaBronze de Abreu, de 5anos, é a integrante maisnovinha da companhia ehá um ano e meio encantao público durante asapresentações com suacadeira de rodas. “Desde oprimeiro dia ela já seenturmou com todomundo”, relembra a mãe‘coruja’ Regina JorgeBronze de Abreu, que estásempre por pertoincentivando a participaçãoda filha. “Hoje minha filhaé mais independente. Elacresceu com a arte dadança, e eu crescitambém”, finaliza.

A amiga Carla e a mãe Edméa são os anjos da guarda deEliane (à direita)

Letícia encanta com charme e atitude

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Serviço:

Grupo Rodapés: Rua Eleotério Lozano, 311 - Jardim Santo Antônio - Conchal(19) 3866.5035 / 9667.2462 - [email protected] / [email protected]

Grupo Todo Movimento: Espaço Corporal - Terapia Arte EducaçãoRua Major José Inácio, 2711 - Centro - São Carlos(16) 3376.1668 / 8151.0391 - [email protected]

Grupo TGrupo TGrupo TGrupo TGrupo Todo Movimentoodo Movimentoodo Movimentoodo Movimentoodo Movimento

A cultura também levou impulso devida para os participantes do grupoTodo Movimento, de São Carlos,desde 2003. Com 10 integrantesadultos, metade possui algum tipo dedeficiência como: física, mental leveou auditiva. “O grupo vem atraindopessoas que não possuem deficiência,mas que, de alguma forma, não sesentiam bem-vindos ao universo dadança, como os obesos, porexemplo”, comenta Melina Sanchez,fundadora e coreógrafa do grupo.

Ela iniciou os estudos de dançainclusiva no Roda Viva Cia de Dança,de Natal (RN). De lá pra cá, o sonhode criar a própria companhia setornou realidade. Com seiscoreografias e ensaios uma vez porsemana no Espaço Corporal – Terapia

Arte Educação, o Todo Movimento faz, no mínimo, três apresentaçõespor ano. E a opção é pela Dança Contemporânea, abordagem onde ointérprete é o criador.

Como desafios nessa empreitada, Melina elenca alguns: “integrar adiversidade, obter motivação do grupo dentro desta diversidade, encontrarestratégias para conseguir o desejado e sempre ter que pensar em umcorpo que não é o meu e que não funciona como o meu”, declara.

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>> inclusão

Proporcionar novos conhecimentos eexperiências nas mais diversas formasde expressão em cultura, contribuirpara a formação artística e possibilitara inclusão social são alguns dosmuitos papéis desempenhados pelasoficinas culturais, espaços queoferecem à sociedade atividadesgratuitas de formação e difusãocultural. São crianças, jovens, adultose idosos que diariamente encontramnesses espaços a oportunidade dedesenvolver seus talentos e mantercontato com as mais variadasmanifestações culturais. Criadas em1986, as oficinas podem ser deteatro, dança, música, foto, moda,artes plásticas e até mesmo de rádio,o tipo de arte não é o maisimportante, e sim a paixão quedesperta em cada indivíduo,contribuindo para a formação deartistas e cidadãos.

O Estado de São Paulo conta com 22oficinas culturais, sete delas na capitale 15 no interior. Desde abril de 2005,a Associação Amigos das OficinasCulturais do Estado de São Paulo(Assaoc – www.assaoc.org.br) é aorganização social de culturaresponsável pela gestão dessasoficinas e de programas associados,projetos desenvolvidos em pólos

A arte ao alcance de todos

Maria Cristina Marmilli

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irradiadores e pelas entidades parceiras da Secretaria de Estado daCultura. A entidade foi criada em julho de 1998, com a reunião depessoas atuantes no cenário cultural paulista para fundar umaassociação de amigos com o objetivo de estimular as atividades daOficina Cultural Oswald de Andrade, primeira unidade das OficinasCulturais implantada pelo Governo do Estado. Sete anos após, a Assaocfirmou o atual contrato com a Secretaria de Estado da Cultura, dandoinício a um novo modelo de gestão de Políticas Públicas.

Muitas vezes instaladas em prédios históricos, com uma arquitetura ricae que possuem grande relevância para a trajetória de desenvolvimentodos municípios nos quais estão localizadas, as Oficinas Culturaisesbanjam charme e cada vez mais assumem o papel de protagonistas nocenário sociocultural de suas regiões. Grandes poetas, pintores, artistasplásticos, músicos e dramaturgos emprestam seus nomes a essesespaços, criando um universo mágico ao qual todos têm acesso, semdistinção de idade, sexo, raça, credo ou classe social.

Oficina Cultural Oswald de AndradeFoi criada em 1986 com o nome de Oficinas Culturais Três Rios, em umedifício histórico de 1905 no bairro do Bom Retiro, em São Paulo (SP).Em 1990, ano em que Oswald de Andrade completaria cem anos devida, a oficina foi rebatizada com o nome deste que foi o mais polêmicoescritor do modernismo. Foi a pioneira na implantação de uma novametodologia de formação cultural, colocando em prática programaçõesque envolveram milhares de artistas, técnicos e pesquisadores comocoordenadores de cursos, oficinas, workshops, seminários e núcleos deprodução. Entre as atividades que desenvolve, principalmente parajovens profissionais e novos artistas, estão artes plásticas, ação eadministração cultural, cinema, dança, design, fotografia, história emquadrinhos, literatura, música, rádio, teatro e vídeo.

Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo em 11 de janeiro de1890 e tornou-se um dos mais importantes representantes de literaturabrasileira como romancista, poeta, dramaturgo, ensaísta e jornalista.

Serviço: Oficina Cultural Oswald de AndradeRua Três Rios, 363, Bom Retiro, São Paulo / SPFone: (11) 3221-5558 – 3222-2668 - [email protected]

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Oficina Cultural Regional Carlos GomesInaugurada em agosto de 1997, em Limeira(SP), a Oficina Cultural Regional Carlos Gomesatende uma região com mais de um milhão equinhentos mil habitantes divididos em 32municípios. O Palacete Levy, construído no final doséculo 19, sedia a Oficina que oferece atividadesgratuitas nas áreas de artes visuais, fotografia,teatro, dança, música, literatura, cinema deanimação, entre outras. As atividades acontecemna sede da Oficina e também em parceria comentidades, grupos e associações da região.

O nome da Oficina é uma homenagem aogrande operista brasileiro Carlos Gomes, queconstruiu uma carreira de destaque principalmente na Europa. Nascidoem Campinas em 11 de julho de 1836, Carlos Gomes iniciou os estudosmusicais aos dez anos, com o acompanhamento de seu pai. Entre suasgrandes obras, vale destacar O Guarani, baseada no romance de José deAlencar, e o Hino do Centenário de Camões.

Oficina Cultural Regional Hilda HilstA Oficina Cultural Regional Hilda Hilst nasceu em 2005 para levaratividades de formação cultural às regiões Metropolitana de Campinas,Bragantina e Circuito das Águas. Além da programação realizada emsua sede, que envolve artes cênicas, cinema, fotografia, literatura emúsica, firma parcerias com as Secretarias e Departamentos de Culturadas cidades, enviando atividades culturais para Organizações nãoGovernamentais (ONGs) e entidades assistenciais.

O nome da Oficina mantém viva a admiração pela grande poeta,dramaturga e ficcionista Hilda Hilst. Natural de Jaú, a artista viveu emCampinas de 1996 a 2004, ano em que morreu aos 73 anos de idade.Entre os prêmios que recebeu durante sua consagrada carreira, estão ode Melhor Livro do Ano, com a obra “Ficções”, e o Grande Prêmio daCrítica, com a reedição de suas “Obras Completas”, ambos concedidospela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

Serviço: Oficina Cultural Carlos GomesLargo da Boa Morte, 11, Centro, Limeira / SPFone: (19) 3442-9857 / 3495-1082 - [email protected]

Serviço: Oficina Cultural Regional Hilda HilstRua Ferreira Penteado, 1203, Cambuí, Campinas / SPFone: (19) 3294-2212 - 3236-0046 - [email protected]

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Oficina Cultural Regional Cândido PortinariCriada em agosto de 1990 emRibeirão Preto (SP), esta Oficina temcomo patrono um dos principaispintores modernos do Brasil:Candido Torquato Portinari. Emjulho de 1995 a Oficina foitransferida para o prédio da Casa deCultura da cidade, iniciando umaparceria com a Prefeitura Municipal,oferecendo projetos voltados àliteratura, teatro, artes plásticas,dança, música e fotografia.

Nascido em Brodowski, numafazenda de café, Portinari possui

quase cinco mil obras. É o artista brasileiro que alcançou maior projeçãointernacional e representou, também, um importante pólo de captaçãoe irradiação das principais preocupações estéticas, artísticas, culturais,sociais e políticas de sua geração.

Oficina Cultural Regional Glauco Pinto deMoraesPrimeira Oficina do Interior do Estado de São Paulo com caráterregional, a Oficina Cultural Glauco Pinto de Moraes foi fundada emBauru (SP), em julho de 1990. O prédio onde está instalada,pertencente ao Governo do Estado, conta com dez salas de aula,laboratório de fotografia, laboratório de serigrafia, auditório compiano, teatro-galpão para 250 pessoas e espaço para exposições.

O nome da Oficina é uma referência ao artista plástico Glauco Pinto deMoraes, que conquistou grande expressão, participando de importantesexposições no Brasil e no exterior. Natural de Passo Fundo (RS), o artistaplástico sempre foi bem recebido pela crítica e seu trabalho maisconhecido foi a série “Locomotivas”.

Serviço: Oficina Cultural Regional Cândido PortinariPraça Alto do São Bento, S/Nº, Jardim Mosteiro, Ribeirão Preto / SPFone: (16) 3625-6970 –3625-6161 - [email protected]

Serviço: Oficina Cultural Regional Glauco Pinto de MoraesRua Amazonas, 1-41, Vila Coralina, Bauru / SPFone: (14) 3231-1100 – 3281-3074 - [email protected]

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>> entrevista

“Não somos umatábua rasa”

Milena Arthur

Por uma dessas coincidências ouironias da vida, uma significativaparcela da perpetuação dacultura tradicional paulistarepousa hoje sobre os ombros deum carioca. Antonio Teixeira deMacedo Neto, ou Toninho comoé mais conhecido, é umtrabalhador incansável na buscapelo resgate e divulgação deantigos costumes paulistas como:Folia de Reis, Festa de Cosme eDamião, encontros de violeiros esanfoneiros, Catira, noites de SãoJoão e o Congado.

Formado em Letras, doutor emCiências da Comunicação pelaECA-USP, ele é apaixonado peloassunto desde criança. Fez disso a

Toninho Macedo, criadordo Revelando São Paulo -Festival de Cultura PaulistaTradicional, maior eventocultural do estado, falasobre os desafios demanter a tradição e ofolclore vivos na sociedademoderna.

sua vida ao criar na década de 70a Abaçaí Cultura e Arte, hoje umaorganização social ligada aoGoverno do Estado de São Paulo,responsável há 13 anos pelarealização do mais importanteevento da cultura tradicionalpaulista: o Revelando São Paulo.

Toda essa produção é realizadade um pequeno escritório nocentro da capital paulista.Chama-se escritório apenas porser um local de trabalho, já quedesde a entrada a sensação quese tem é a de entrar na casa deum parente que mora no interior.O aroma do café, o sorriso norosto de cada pessoa que passadando bom dia. A sala de

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Toninho é decorada comprateleiras repletas de livros,adornadas por centenas debibelôs folclóricos de todos ostamanhos e cores, além de umagrande quantidade de plantas emvasos. Em um canto, bemreservado, fica um espaço demeditação com um pequenoaltar onde santos católicos,imagens budistas e do candombléconvivem juntas, lado a lado, edenunciam a personalidadeeclética e conciliadora deToninho.

Nascido em Três Rios (RJ),Toninho Macedo foi criado emuma família que mantinha atradição da Folia de Reis, dasbrincadeiras de terreiro, quecultivava a vida em comunidade.Na década de 60, ainda criança,mudou-se para São Paulo paraestudar e trouxe com ele anecessidade de cultivar raízes.Essa história mudou os rumos davida de Toninho e do própriopovo paulista que hoje tem aoportunidade de vivenciar seuscostumes mais antigos.

Porta-Luvas - Porta-Luvas - Porta-Luvas - Porta-Luvas - Porta-Luvas - Que importânciateve na sua trajetória de vida suavinda para São Paulo?

Antonio TAntonio TAntonio TAntonio TAntonio Teixeira de Macedoeixeira de Macedoeixeira de Macedoeixeira de Macedoeixeira de MacedoNeto -Neto -Neto -Neto -Neto - Eu estudava em umcolégio religioso e durante algunsmeses eu fui o centro dasbrincadeiras de todos,debochando do meu jeito defalar. Aí o que eu fiz? Tratei deaproximar o meu jeito de falar dojeito deles, o que é péssimo. Hojeo que valorizo é isso, asdiferenças. Mas eu reconheçoque foi muito bom porquecomecei a perceber asdiversidades. Ainda que pese SãoPaulo ser o Estado maiscosmopolita, mais globalizado,mais antenado da nação, nósainda vemos como São Paulomantém suas diferenças. Eu achoque foi só por conta do meuolhar “estrangeiro” é que eupude perceber as diferenças. Sóque ao contrário de abominá-laseu aprendi a valorizá-las. Foiassim que eu construí toda umatrajetória em São Paulo,descobrindo as diferenças.

PL - PL - PL - PL - PL - Os artistas que seapresentam no palco doRevelando São Paulo trazemalguma inovação à culturatradicional?

TTTTToninho -oninho -oninho -oninho -oninho - Não, na verdade elesperpetuam essa cultura. Mas

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hoje há uma nova forma de ver atradição. As pessoas acham quetradição é uma coisa do passado,mofada. Mas a tradição serenova. No mundo midiático, damoda, os ciclos são anuais, até opróximo carnaval. Esse ciclo émuito rápido. Já o ciclo dacultura tradicional ele é maisdelongado. Ele vai assimilando evai se transformando comtranquilidade.

PL - PL - PL - PL - PL - Então a tradição é mutável?

TTTTToninho -oninho -oninho -oninho -oninho - Sim, ela é mutáveltambém, dá novas respostas.Antigamente os foliões andavamdescalços, as roupas eram dechita, de algodão. Hoje você vaiver tecidos nobres, como aqui emSão Paulo onde o pessoal vai na25 de Março e compra camisa deseda. Alguém vai dizer: “nãopode, tem que por camisa dechita”. Claro que pode, por quenão? Porque o importante é quevocê olhe e reconheça que aquiloé Folia de Reis: pela armação dasvozes, pelo que eles cantam, peladevoção. As festas populares dãorespostas de acordo com suaidentidade, mas sem perder suascaracterísticas.

PL - PL - PL - PL - PL - A que você credita esseinteresse natural das pessoas pela vidano interior e pela cultura tradicional?

TTTTToninho -oninho -oninho -oninho -oninho - De algum jeito, issoestá marcado no nosso DNA.Você pode chamar isso deinconsciente coletivo, do que for.Está lá: basta que algo toque eisso aflora.

PL – PL – PL – PL – PL – Você acredita que quanto maisacesso o ser humano tem ao mundo,maior é a necessidade de buscaraquilo que está em volta dele?

TTTTToninho –oninho –oninho –oninho –oninho – Sim, com certeza. Háuns anos eu escrevi um textoonde eu falava do “regional nonacional e o universal no seuquintal”. São poucas as pessoasque eu conheço que não sãoterritoriais. Por exemplo, euconheço muitos que almoçamfora por falta de tempo, mas quetêm um dia que vão comer“aquela” macarronada da tia. Nofundo, macarronada é tudoigual, mas cada prato tem aquiloque a pessoa coloca, aquilo queele reconhece e que apela parasua memória que não se apaga.Não conheço pessoas que nãosintam vontade de ter ummomento de contato com o queé seu.

PL - PL - PL - PL - PL - E você acha que essesentimento é responsável pelosucesso de um evento como oRevelando?

TTTTToninoninoninoninoninho ho ho ho ho ----- Sem dúvida. Porquenós reconhecemos o ser humano.Nós não somos uma tábua rasa.Por mais que a gente acesse outrasmemórias, outros códigos, os nossoscódigos pessoais estão impressos demaneira indelével e nós temos anecessidade de voltar a eles.

PL - PL - PL - PL - PL - Qual o maior desafio quevocê tem enfrentado paramanter esse interesse das pessoase dar continuidade ao projetoRevelando?

TTTTToninho -oninho -oninho -oninho -oninho - Os desafios sãograndes. E chega uma hora quevocê tira o foco deles porquesenão você não anda. Algumaspessoas dizem que o evento égrande demais para o parque.Bem, o dia que isso for verdadenós mesmos vamos dizer e

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mudar de lugar. Então o maiordesafio de todos mesmo é adisputa. As pessoas nãoconseguem perceber que se temalgo muito importanteacontecendo e que é bom paratodos, que elas poderiam seassociar a isso e fazer esse eventocrescer. O que nos dá mais dor éperceber que a gente ainda temque trabalhar muito por essacultura de paz, uma cultura quetem o poder de unir as pessoas.

PL - PL - PL - PL - PL - Será que esse novo grau deconectividade que estamosatingindo – com o sucesso doTwitter e blogs, por exemplo -pode ser usado a favor dadivulgação da cultura tradicional?

TTTTToninho -oninho -oninho -oninho -oninho - Tudo vai depender decomo vamos usar essasferramentas. Quando sedescobriu a energia atômica,pensava-se em utilizá-la para umfim e ela foi usada para outro. Eutive um professor que dizia: não éa tecnologia, é o que você faz

com ela. Quanto mais eu puderutilizar esses recursos paramelhorar o mundo, quemaravilha! Eu tanto posso utilizaressa tecnologia para divulgar acultura da violência, como estáocorrendo, quanto também paramostrar a cultura folclórica. Anossa opção é essa.

PL - PL - PL - PL - PL - Existe um conflito entre anecessidade de divulgação dacultura tradicional e amassificação da mídia?

TTTTToninho -oninho -oninho -oninho -oninho - Em princípio nãodeveria haver, mas a cabeça daspessoas está condicionada aescolher entre uma coisa ououtra. Se eu estou ligado àcultura popular eu não possovivenciar o erudito. Quando naverdade uma não exclui a outra.Eu acho que nós precisamospensar na circularidade e nãoexcludência. Eu penso assim ebusco agir assim. E é esse omundo que eu quero construire que estou construindo.

Serviço: Abaçaí Cultura e ArteFone: (11) 3312 2900 - [email protected] São Paulo: www.abacai.org.br/revelando.php

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Cavalgada resgata culturado interior

>> patrimônio cultural

Maria Cristina Marmilli

Belas paisagens naturais, aromas inconfundíveis, cultura regional,gastronomia e história são algumas das atrações reunidas na rota dasFazendas Históricas, um passeio que valoriza a cultura do interiorpaulista e, ao mesmo tempo, resgata uma atividade milenar: acavalgada. Todo o percurso, que dura em média cinco dias, é feito acavalo, possibilitando aos viajantes uma viagem de volta às origens e oprazer de estar bem próximo à natureza. Paulo Junqueira Arantes,fundador do Cavalgadas Brasil, agência especializada em viagens acavalo no Brasil e no exterior que realiza a rota das Fazendas Históricas,

Rota revela o charme e atradição das fazendashistóricas do interior paulista

Leonor Rosseti (à frente) - proprietária da Fazenda Nova, seguida por Candida Bastos e aneta Luiza

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destaca a riqueza cultural encontrada por todo o trajeto. “É umaexperiência única que oferece conhecimento histórico, gastronômico,cultural e permite total interação com a natureza. Os viajantes ficamhospedados nas próprias fazendas e cada uma delas tem característicasmuito particulares”, explica.

A recepção dos cavaleiros acontece na sede da Fazenda Nova, emMococa (SP), uma das mais antigas da região, construída em 1830. Opasseio pelas trilhas da fazenda revela trechos de Mata Atlântica e todasua imponência, riachos, açudes e centenários jequitibás. Construídapara a criação de gado de corte, porcos e mulas para abastecer asminas, a Fazenda Nova permanece nas mãos da mesma família, hoje nasétima geração. As instalações são simples, mas ostentam um charmerepleto de nostalgia. Feita de pau-a-pique no estilo mineiro, a sedeganhou uma aconchegante varanda após a imigração italiana. Ao longodos anos, várias reformas foram realizadas, sempre com o cuidado demanter vivas as doces lembranças do passado. Banheiros foramacrescentados, a senzala foi dividida e deu origem a confortáveisapartamentos para hóspedes, e o quarto onde era armazenado o sal,produto muito caro na época, foi transformado em biblioteca. Acozinha externa, onde eram preparados os doces de tacho, deu lugar auma sala de refeições com fornalha, forno de pão, fogão de lenha elareira. Um cenário perfeito para ouvir os curiosos “causos” do interior.

Completando a paisagem bucólica, a culinária influenciada pelos hábitosdas cidades do Sul de Minas Gerais conquista os mais exigentespaladares, com alimentos típicos como o queijo minas, goiabada,compotas, geléias, bolos, biscoitos e mel. Esta simplicidade repleta debom gosto atrai cada vez mais gente de diferentes partes do Brasil,principalmente dos grandes centos urbanos, em busca de tranquilidadee vivência cultural. A engenheira civil Cibele Andrade Alves, que moraem São Paulo, fez a rota com o filho de 13 anos e ressalta a importância

Sede da Fazenda Nova em Mococa, SP

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desse tipo de turismo. “A arquitetura das fazendas é muito interessante.Por ter formação em engenharia, gosto muito de observar asedificações e imaginar como era viver naqueles lugares. Acho queconhecer o passado nos dá referência. Apesar de ser paulistana,valorizo muito a simplicidade e hospitalidade do interior”.

A viagem continua com destino ao estado de Minas Gerais e a próximaparada é a Fazenda Serra, do final do século XIX. É hora de conhecer osfamosos “causos” contados pelo proprietário, antes de saborear umtípico jantar da roça, cuidadosamente preparado no grande fogão àlenha, que aquece também a água dos chuveiros. O pomar comdezenas de espécies frutíferas centenárias cortado por um riacho deáguas cristalinas é uma atração à parte e encanta os visitantes. Asimplicidade também é uma das principais características desta fazenda,que faz questão de preservar a história e a tradição da região. Entre osobjetos do acervo dos proprietários, vale destacar um altar com imagensantigas e os arreamentos utilizados pela comitiva de tropeiros, mantidocom todo cuidado para relembrar um modo de vida que hoje não existemais. E foi justamente para resgatar as origens que a paulistana CândidaBastos fez, pela segunda vez, a rota das Fazendas Históricas, desta vezna companhia da neta de oito anos, que herdou da avó a paixão pelos

Celas utilizadas nos passeios

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Porta-Luvas 25Ononono

Serviço: Cavalgadas BrasilFone: (11) 7562 8884 – www.cavalgadasbrasil.com.br

cavalos. “Precisamos conhecer nossas raízes e o interior de nosso estadotem lugares muito interessantes para se visitar. Para mim, foi um reviverde experiências passadas, pois minha família sempre teve fazenda. Comcerteza pretendo voltar e recomendo para quem quiser fazer algodiferente e muito agradável”, fala.

Na rota do caféOs grandes barões do café que foram, até quase a metade do séculoXX, o centro da elite do Império e da República ficaram no passado ederam lugar aos empresários que produzem café de forma inovadora esustentável, levando seu produto para as melhores cafeterias do mundo.Cavalgar pelas lavouras, entender o ciclo de produção, o trabalho nocampo, conhecer as técnicas de plantio, beneficiamento e colheita sãoas principais atividades desta etapa da viagem, que segue por um trajetocom aroma irresistível pelas fazendas Santo Antonio e Fortaleza.Administradas pelos descendentes dos fundadores, são fazendas doséculo XIX localizadas na divisa do Estado de São Paulo com o Estado deMinas Gerais, em uma região com altitudes que variam entre 800 e1.100 metros, considerada uma das melhores do mundo para o cultivodo café do tipo Arábica.

Percorrendo um cenário encantador no lombo do cavalo, os visitantestêm a oportunidade de conhecer o café natural, uma variação do café

orgânico, cultivado seguindo osprincípios da sustentabilidadeecológica, social e econômica.Esta é uma planta que sofre amínima interferência da mão dohomem. É o café natural dafloresta, cujo cultivo dispensaqualquer tipo de composto oupoda dos galhos.

O resultado é uma bebidanatural e saborosa que pode serapreciada em umaaconchegante varanda num fimde tarde, trazendo de volta,mesmo que por algunsinstantes, um estilo de vida quejamais será esquecido pelosamantes das grandes tradiçõesdo interior.Balança para pesar as sacas de café

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>> patrocinador

Pesquisa reveladesconhecimento sobre aconcessão de rodovias

Eduardo Fernandes Begnami

Uma pesquisa qualitativa realizada pela ABCR – Associação Brasileira dasConcessionárias de Rodovias aponta que muitos aspectos da concessãode rodovias ainda são desconhecidos dos usuários, apesar de osprogramas já contarem com 13 anos de existência no Brasil.

O desconhecimento é grande sobre o que é concessão e o que éprivatização, mas os usuários ainda não percebem o volume de serviços

SP 147 - Rodovia Engenheiro João Tosello - Mogi Mirim - SP

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e benefícios que são custeados pela tarifa de pedágio.

Os programas de concessão de rodovias surgiram no início dos anos 90,quando os governos (Federal e estaduais) constataram a situação dasestradas brasileiras e a falta de recursos públicos para recuperação,manutenção e ampliação dos sistemas rodoviários (necessária em facedo crescimento econômico do país), já que as rodovias se caracterizampelo mais importante meio de transporte de bens e de prestação deserviços no Brasil.

Nesses 13 anos, as estradas administradas pela iniciativa privada noregime de concessão, permitiram investimentos essenciais para amelhoria da qualidade e modernização das rodovias, para a ampliaçãoda malha viária, para a geração de milhares de empregos e reduçãosignificativa do número de mortes nas estradas. Além disso, dispositivosde alta tecnologia foram instalados, permitindo que as administradorasmonitorem o tráfego de veículos, o que conduz a atendimentos maisrápidos, sempre em benefício da segurança e conforto dos usuários.

Com rodovias melhores, reduz-se o custo do transporte. A manutençãode veículos e pneus fica mais barata. Pelo lado do governo, o PoderConcedente da concessão, os programas geram receitas pelorecolhimento de mais impostos e pelo pagamento da outorga para queo governo invista na manutenção de rodovias não concedidas (Estadode São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, por exemplo) e comrecolhimento do ISSQN (Imposto Sobre Produtos de QualquerNatureza) para os municípios.

Por meio das agências reguladoras, o Poder Concedente regula,normatiza e fiscaliza o trabalho das concessionárias. A primeira questão,

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que não está clara para os usuários pode ser esclarecida da seguinteforma: em ambos os casos o governo transfere para a iniciativa privadaa administração do patrimônio ou serviço público, com base em leiscriadas para normatizar essa transferência.

No caso da concessão, o governo estabelece um prazo para término docontrato e define a forma em que a iniciativa privada deve trabalhar:serviços, responsabilidades, condições, cronograma de realização,normas e regulamentos que devem ser obedecidas, preços, formas decobrança, etc. O governo continua com autoridade sobre oempreendimento e o serviço e fiscaliza o trabalho das concessionárias.Ao final do prazo, a empresa devolve o patrimônio para o governo comtodas as melhorias realizadas.

No caso da privatização (no Brasil não há estradas privatizadas) ogoverno vende um patrimônio estatal e só interfere na regulação pormeio de leis, deixando de ter controle sobre o negócio ouempreendimento.

A vantagem da concessão é que o governo acompanha o cumprimentodo contrato, especialmente em relação à prestação de serviços para osusuários, como socorro mecânico, guinchamento, atendimento pré-hospitalar, sempre tendo o foco de segurança e conforto do usuário.

Todas as concessões de rodovias passaram por processos transparentes delicitação pública, precedidas de audiências públicas para ouvir a população,editais avaliados pelo Ministério Público e pelos tribunais de contas.

Na execução do contrato, as concessionáriaspautam suas ações no cumprimento das

exigências legais, com destaque para as

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que regulam os impactos no meio ambiente e a concessão de licençasambientais. As concessionárias publicam balanços anuais auditados,seguindo criterioso cronograma de investimentos estabelecido pelo PoderConcedente. Esse cronograma contempla as obras a serem executadas, osequipamentos necessários para modernizar as rodovias, os veículos deoperação e para atendimento aos usuários.

Todas as responsabilidades assumidas pelas concessionárias estãoprevistas no programa, desde o edital de licitação até o contrato deconcessão: serviços a serem prestados, tipo de serviços, localização equantidade de praças de pedágio, base tarifária, etc. Além de tudo isso,as empresas investem um valor significativo das suas receitas em projetossocioambientais e culturais para as comunidades das regiões ondeatuam. No site www.ohlbrasil.com.br você pode ver os detalhes detodos os projetos e a preocupação da empresa com a sustentabilidade ecom o lado social do nosso país.

A OHL Brasil S.A. é a maior companhia do setor de concessões derodovias no Brasil em quilômetros administrados, com 3.226 Km emoperação. Por meio de suas nove concessionárias, opera rodovias querepresentavam até março de 2009 aproximadamente 22% do total dequilômetros das rodovias atualmente sob concessão no Brasil.

A OHL Brasil administra rodovias que estão localizadas nos principaiseixos econômicos do país, nos estados de São Paulo, Santa Catarina,Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os quais representamaproximadamente 50% da população brasileira e onde trafegam maisde dois terços (2/3) da frota de veículos brasileira, segundo a Anfavea.

Mais detalhes em www.ohlbrasil.com.br.

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>> c

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A paciente repetiu o mesmo ritual de toda semana. Entrou de cabeça baixa no consultóriopara ouvir o médico perguntar se havia algum problema. Aí desfiava um rosário de queixumes:que a vida era uma droga, que era um calvário a vida de uma dona de casa, sempre dedicadaaos filhos e ao marido. Bela porcaria, pensava o doutor Afrânio, psiquiatra de fama e refama,que por infelicidade do destino acabou em uma cidade estranha como Santana da Vargem eagora vivia de atender uns casos de rejeição, alguns complexos de Édipo e milhares deneuróticos.Graças a Deus a mulher iria embora no final do expediente e este logo chegaria. Contudo,assim que a paciente – a 19ª do dia – atravessou a porta o médico tentou alcançar ointerfone para desmarcar qualquer outro doente. Em vão. Dona Jurema tinha sido maisrápida e já anunciava o senhor Teodoro:_ Doutor Afrânio, está aqui o senhor Teodoro da Cruz pedindo que o veja._ Continua vendo a Margareth Tatcher nua no banheiro do apartamento?_ Pior. Agora é o Gorbatchev de meia fina cantando “Menino da Porteira” dentro do armário.Certamente esta seria uma noite longa. O senhor Teodoro ficou bem umas duas horas e meiaapós o encerramento normal do expediente. Safado, pediu até o teco do pão com mortadela– o único sanduíche disponível no boteco mais próximo – que era o jantar do pobre doutorAfrânio. Mas qual não foi a surpresa do psiquiatra ao encontrar, na sala de espera, um outrosujeito. Pensou ser um ladrão – àquela hora seria bem melhor que outro paciente impacienteque acha que psiquiatra é Papai Noel, que tem o saco grande. Não era. Quase chorou, masacabou recolhendo o homem ao consultório. Não sem antes uma ressalva: nada de tecos._ Doutor, não sei o que faço com os bilhões que tenho.Bilhões, pensou o confuso Afrânio. Mas o homem estava pra lá de amarrotado e, pelocheiro, há uns dois dias sem banho._ Sinceramente, meus contatos na Bolsa de Nova Iorque andam dizendo que as coisas nãovão nada bem e isto tem me preocupado...Bem, pensou o médico, deve ser mais um recalcado empresário com essas frescuras deriquinho. Dispensou o homem, pensando em descansar. Mas o sujeito voltou e desta vezcom uma cara zangada de dar medo._ E tem mais doutor: meus quadros foram mais valorizados que os de Portinari, minha casatem 1.400 quartos...Pronto, um megalomaníaco, um desses caras com mania de grandeza, que acham que têmos tubos de dinheiro, que são os melhores e os mais gostosos e coisa e tal. Já não tinha maisânimo para discutir e sabia que seus rogos para que deixasse para amanhã de nada valeriam.Ouviu o sujeito por mais uma hora. Por fim, o esquisito maníaco fechou a boca e anunciouque iria embora. Na sala de espera mais um._ Não, gritou desesperado o psiquiatra. Por hoje chega. Não atendo mais ninguém._ Como não? Vai, sim, vai mesmo. Onde já se viu desprezar e uma pessoa tão importantecomo eu, que já falou inclusive com o próprio Deus!!!!_ Mentira, gritou possesso o outro paciente que deixava a sala de exames. Nunca nos vimosantes!!!

Essa seria mesmo uma noite bem longa.

Fernando Bueno

Mania de grandezaMania de grandezaMania de grandezaMania de grandezaMania de grandeza

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