PORT.COM - Edição nº 16 - Março de 2016

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100 anos da entrada de Portugal Sapatos portugueses percorrem o mundo Nem o plágio lhe perturba o bom humor GRANDE GUERRA QUIM BARREIROS CALÇADO 2016 . Nº 16 . MARÇO . REVISTA MENSAL . PREÇO: 3,50€ Visite o site www.revistaport.com e fique mais perto de Portugal + www.revistaport.com PÁSCOA TRADIÇÕES MUITO PORTUGUESAS

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100 anos da entrada de Portugal

Sapatos portugueses percorrem o mundo

Nem o plágio lhe perturba o bom humor

GRANDE GUERRA QUIM BARREIROSCALÇADO

2016 . Nº 16 . MARÇO . REVISTA MENSAL . PREÇO: 3,50€

Vis i te o s i te www. rev i s tapor t .com e f ique ma i s pe r to de Por tuga l+

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PÁSCOATRADIÇÕES

MUITO PORTUGUESAS

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APOIE OS BOMBEIROS DE PORTUGALPORQUE PROTEGEM OS SEUS BENS EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL

Entre o próximo mês de abril e até 10 de setembro, a Revista PORT.COM, com a colaboração da Liga dos Bombeiros Portugueses, vai promover em todas as comunidades portuguesas uma campanha internacional para a angariação de fundos destinados à compra de materiais e equipamentos, para oferecer às Corporações de Bombeiros mais carenciadas, que exercem, voluntaria e diariamente, uma ação humanitária na defesa e salvaguarda dos bens e vidas de todos no território nacional.

Os equipamentos e materiais obtidos com os fundos desta angariação internacional serão entregues aos Bombeiros num evento a ter lugar em Lisboa no mês de outubro.

UMA INICIATIVA COM O APOIO

Saiba mais em www.revistaport.com

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SUMÁRIO

Centenário I Grande Guerra

Entrevista a Quim Barreiros

16

38

Sugestão de passeio: Freixo de Espada à Cinta

Semana Santa

4 EDITORIAL

COMUNIDADES6. Entrevista a José Luís Carneiro, Secretário de Estado

das Comunidades Portuguesas14. A Sardinha que se lê em Português e Esloveno

HISTÓRIA16. A tarde em que Portugal entrou na Grande Guerra

18. A importância de recordar a participação portuguesa na Grande Guerra

20. A vida do Padre Américo merecia um Óscar

22 NEGÓCIOSExportações de calçado aumentaram

mais de 600 milhões em seis anos

DESTAQUEPÁSCOA

26. As tradições da Páscoa em Portugal29. A manhã em que Jesus bate à porta dos portugueses

30. Páscoa, a festa à volta da mesa32. Sugestões de “Folares” de Páscoa

TURISMO33. Visitar Freixo de Espada à Cinta pela Páscoa

CULTURA38. “Foi entre a emigração portuguesa

que nasceu o Quim Barreiros”42. Seis anos de recortes resultam em retrato

de Cristiano Ronaldo

DESPORTO44. Selecionador em dose dupla no Bahrein

49. Portugueses pelo mundo querem Sporting campeão

50 DISCURSO DIRETOCinco motivos para viver na Holanda

P33

DESTAQUE

Calçado português

22

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Chegou o mês de uma das épocas do ano que motivam mais portugueses pelo mun-do a regressar ao país para um período de férias, seja apenas um fim de semana ou durante mais dias. A Páscoa

em 2016 surge apontada no calendário no dia 27 de março, o que faz com que a equipa da Revista PORT.COM lhe dedique várias páginas e tema de capa.

As tradições típicas da época pascal portuguesa, como o compasso, as procissões, o benzer do ramo e a oferenda do folar, surgem explica-das nas páginas desta revista, para que os portugueses em 108 países as possam recordar e, nalguns casos, até recriar.

A Páscoa convida à confeção de diversas iguarias caraterísticas das diferentes regiões portuguesas, algumas das quais são identificadas nas próximas páginas. Para nos deixar a salivar com o borrego, o pão-de-ló ou os bolinhos de amêndoa, publicamos um artigo exclusivo de Isabel Zibaia Rafael, que através da RTP Internacional está habituada a partilhar receitas com todo o mundo onde haja portugueses.

Sugerimos ainda uma viagem dentro do território português duran-te esta época, concretamente a Freixo de Espada à Cinta, onde os Sete Passos já têm atormentado as noites de sexta-feira, antes da realização de procissões menos sinistras.

Contar a história do nosso apreciado país também continua a ser um objetivo da Revista PORT.COM. Recordamos a entrada de Portugal na I.ª Grande Guerra Mundial, efeméride que este mês assinala o seu primeiro centenário. Este ano marca ainda os 60 anos da morte do Padre Américo, icónico benfeitor português também recordado nesta edição.

Quando virar a próxima página vai encontrar a nossa primeira entrevis-ta ao novo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, ao qual desejamos sucesso na missão de ser o principal interlo-cutor entre o governo e os portugueses espalhados pelo mundo.

Termino a desejar a todos os nossos compatriotas, em nome da equipa da revista PORT.COM, uma santa e feliz Páscoa.

EDITORIAL

LUÍS CARLOS SOARESCoordenador Editorial

A AJBB Network não é responsável pelo conteúdo dos anúncios nem pela exatidão

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FICHA TÉCNICA

REVISTA DE PORTUGAL E DAS COMUNIDADES

Edição Mensal - Março 2016www.revistaport.com

Nº de registo na ERC: 126526

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Tel: (+351) 239 820 688

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EDITOR E PROPRIETÁRIO

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DIREÇÃO Abílio Bebiano

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REDAÇÃO Luís Carlos Soares, Márcia de Oliveira,

Filipa Marques Colaboradores: Ricardo Valadas

PLATAFORMA ONLINE Márcia de Oliveira - Edição de conteúdos

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EDIÇÃO PAPEL: Março 2016

Tiragem: 30.000 Exemplares Impressão: Studioprint

Depósito Legal: 376930/14Distrib. nacional e internacional: CTT

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A AJBB Network, empresa portu-guesa que detém a Revista PORT.COM, estabeleceu um protocolo com o Diário do Povo, o

órgão de comunicação social chinês que detém o jornal com maior tiragem diária em todo o mundo (superior a 2,5 milhões de exemplares). O principal resultado desta parceria estabelece uma troca de conteúdos entre ambos os organismos, que teve início no dia 1 de fevereiro.

Desde 2014 que a Revista PORT.COM publica “a informação que interessa a todos os portugueses que vivem e traba-lham no estrangeiro”, através de um site de atualização diária – www.revista-port.com – e de uma revista que através das suas versões impressa e digital é lida em mais de 108 países.

Desde o início de 2015 que o site do Diário do Povo conta com uma versão em português – www.portuguese.people.com.cn -, para aproximar esta publicação dos mais de 200 milhões de cidadãos lusófonos. O site do histórico jornal ligado ao Partido Comunista Chinês soma 300 milhões de visualiza-ções diárias, distribuídas pelas versões

em dez idiomas: mandarim, português, inglês, russo, espanhol, francês, japonês, árabe, alemão e coreano.

Com esta parceria, a Revista PORT.COM passou a reproduzir artigos do Diário do Povo que interessem aos portugueses a residir nas comunidades, assim como o Diário do Povo tem reproduzido artigos da Revista PORT.COM para os seus leitores lusófonos.

A parceria estende-se ainda à disponibili-zação de um banner no Diário do Povo que encaminha os leitores para o site da Revista PORT.COM, com o site www.revistaport.com a partilhar também uma ligação para a versão lusófona do portal chinês.

Está assim criado mais um elo de ligação entre Portugal, China, os países lusófonos e todos os locais do mundo onde vivem e trabalham portugueses.

REVISTA PORT.COM EM PARCERIA COM O JORNAL

MAIS LIDO DO MUNDO

OMUNIDADESC

Edifício do Diário do Povo, em Pequim

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COMUNIDADES

No final de novembro chegou ao Largo do Rilvas, em Lisboa, um governante que durante mais de uma década se habituou a deslocar-se diaria-

mente para a Praça Heróis do Ultra-mar, em Baião. Quer isto dizer que o novo detentor de uma das pastas do Ministério dos Negócios Estrangei-ros foi presidente do município no distrito do Porto. A experiência no cargo é um dos motivos que justifi-cam a escolha para o cargo. Mas há outros, que contou à Revista PORT.COM, poucos dias após ter regressa-do da primeira visita oficial às comu-nidades portugueses pelo mundo.

Quais foram as competências ou caraterísticas que lhe valeram o con-vite de António Costa para secretário de Estado das Comunidades?

Diria que há três dimensões que contribuíram para o convite que me foi formulado. Primeiro tem a ver com a minha área académica originária. Eu estudei Relações Internacionais, fiz mestrado em Estudos Africanos. Ou seja, toda a minha formação académica me vocaciona para funções ligadas à vida internacional. A segunda terá sido o desempenho do papel de autarca, que permite uma relação de proximidade e afeto com as comunidades territo-riais locais espalhadas pelo mundo. Ser autarca também me possibilitou

integrar durante uma década o Comité de Regiões [assembleia consultiva dos representantes locais e regionais da União Europeia], dentro do qual presidi à Comissão de Recursos Naturais.

Quais são os primeiros objetivos que se propõe a alcançar neste novo cargo?

A primeira grande preocupação da Secretaria de Estado das Comunidades é cuidar da salvaguarda dos portugueses espalhados pelo mundo, em diálogo e em trabalho institucional com os serviços consulares por todo o mundo. A segunda preocupação tem a ver com o bem-estar social e económico destes cidadãos. É neste âmbito que queremos

ENTREVISTA: LUÍS CARLOS SOARES

ENTREVISTA A JOSÉ LUÍS CARNEIRO – SECRETÁRIO DE ESTADO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS

“TEMOS QUE REPOR OS NÍVEIS DE ATENDIMENTO

NA REDE CONSULAR QUE FOMOS PERDENDO AO LONGO DOS ANOS”

Aumentar a presença da língua portuguesa no ensino no estrangeiro, dinamizar os diferentes gabinetes de apoio, potenciar a participação nos atos eleitorais portugueses e dos países de

acolhimento, criar sinergias com autoridades estrangeiras, capacitar os postos consulares de mais recursos. O novo secretário de Estado das Comunidades explica, em entrevista, alguns dos

objetivos a cumprir nos próximos quatro anos.

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dinamizar em Portugal os gabinetes de apoio ao emigrante. Há ainda a dimen-são da promoção do bem-estar e da qualidade de vida, na qual pretendemos a redinamização dos dois instrumentos de apoio às famílias emigrantes caren-ciadas economicamente e que vivem fo-ra do espaço da União Europeia. Falo do ASIC [Apoio Social a Idosos Carencia-dos das Comunidades Portuguesas], um instrumento de apoio a cidadãos com mais de 65 anos de idade e comprovada

carência económica, e do ASEC [Apoio Social a Emigrantes Carenciados das Comunidades Portuguesas], que presta apoio económico temporário para famí-lias que estão privadas de condições de vida minimamente dignas.

No que assenta essa dinamização dos gabinetes de apoio ao emigrante?

Queremos que sejam tantos quanto o número de municípios portugueses,

sendo que atualmente são 101. Também queremos valorizá-los em termos de conteúdo, com novas responsabilidades no âmbito da economia e das empresas. Desta forma, procuraremos integrar no âmbito de atuação dos gabinetes de apoio ao emigrante o Gabinete de Apoio ao Investidor da Diáspora (GAID), tendo em vista determinar em cada território local as micro e pequenas empresas de emigrantes que estejam estabelecidas no exterior de Portugal e que possam fazer investimentos no nosso país, assim como as empresas que estejam em território nacional e queiram fazer in-vestimentos no estrangeiro. Queremos ainda atribuir aos gabinetes de apoio ao emigrante um âmbito relacionado com o Turismo de Portugal, para que possam proporcionar programas de oferta turís-tica capazes de mostrar aos emigrantes o Portugal contemporâneo, tornando-os autênticos embaixadores deste novo país, deste país de futuro.

Rescaldo da primeira visita à diáspora

Regressou recentemente da pri-meira viagem às comunidades. O que é que os portugueses em França mais lhe perguntaram e mais lhe pediram?

Devo dizer que me senti acolhido de braços abertos pela nossa comunidade em França. Apenas pude visitar três consulados, Paris, Lyon e Bordéus, ainda não tive oportunidade de visitar Marselha e Estrasburgo. Quero fazê-lo o mais rapidamente possível. Tive so-bretudo duas preocupações nesta visita: sensibilizar as autoridades governativas francesas para a importância da língua portuguesa enquanto ativo estratégi-co de nível global, ou seja, não apenas para Portugal, mas também para os

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COMUNIDADES

interesses da França. A segunda grande preocupação desta visita teve a ver com a vontade expressa às autoridades locais, regionais e nacionais, para a possibi-lidade de também abrirmos nessas autarquias, e nesses poderes locais e regionais, serviços de proximidade que proporcionem aos cidadãos portugue-ses outras condições de acesso aos bens e serviços públicos da administração portuguesa, salvaguardando aquilo que são atribuições, competências e responsabilidades dos nossos serviços consulares.

O que pode ser feito para essa valorização da língua portuguesa enquanto “ativo estratégico de nível global”?

Na viagem procurei sensibilizar as autoridades políticas para a importância de a Língua Portuguesa ser cada vez mais integrada na estrutura curricular do sis-tema de ensino francês. Mas para que isso aconteça também é necessário que o Es-tado francês faça um esforço de contra-tação de novos professores de Português, uma vez que apenas 25% dos alunos que

passam do 1.º ciclo para o 2.º ciclo, para o 3.º ciclo e secundário, têm condições de desenvolver a aprendizagem da língua portuguesa. Pretendemos assim trans-formar a língua portuguesa numa língua aberta não apenas aos portugueses, mas a todos que tenham vontade de a aprender, seja qual for a sua origem.

Existe alguma prioridade na pre-tensão de abertura de serviços públi-cos da administração portuguesa em instalações de entidades francesas?

Existe sim. Trata-se da possibilidade de contarmos com a administração local e regional francesa no esforço de recenseamento dos portugueses e no esforço de mobilização para os atos eleitorais. Porque nós temos portugue-ses que muitas vezes estão a centenas de quilómetros de distância das mesas de voto. Há portugueses que fazem 500

ou 600 km para poderem exercer um direito fundamental, que é o direito de voto. Este é um esforço que procura-remos desenvolver em diálogo com as autoridades francesas, como foi expres-so na vontade de todos que se reuniram connosco.

Vai tentar replicar esses esforços noutros países europeus que venha a visitar, por exemplo na Alemanha, Suíça ou Luxemburgo?

Sim. Vou procurar encontrar-me com as autoridades locais, regionais e nacionais, de forma a solicitar-lhes es-se apoio às comunidades portuguesas. Até porque as comunidades portu-guesas nesses países tratam de muitos assuntos nas respetivas autarquias e nos poderes regionais. Portanto, um dos grandes esforços que temos de desenvolver, em articulação com as

“PRETENDEMOS TRANSFORMAR A LÍNGUA PORTUGUESA NUMA LÍNGUA ABERTA NÃO APENAS AOS PORTUGUESES, MAS A TODOS QUE TENHAM VONTADE DE A APRENDER, SEJA QUAL FOR A SUA ORIGEM”

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autoridades de acolhimento, é o de que essas autoridades se disponibilizem para que os nossos cidadãos possam tratar aí de assuntos que tenham a ver com acesso à informação e ao acompa-nhamento de muitas das suas questões de vida quotidiana. Eu julgo que isso é possível com o empenho de todas as partes, e da nossa parte há total empe-nho para que isso possa ser possível.

Referiu os portugueses no estran-geiro que têm de fazer centenas de quilómetros para poderem votar nas eleições portuguesas. Raramen-te há consenso de opiniões sobre a melhoria ou não de condições para a participação eleitoral desses cidadãos…

Por força dos cortes que foram desenvolvidos nos últimos anos na rede consular, se as condições já eram difíceis até há quatro anos, tornaram-se muito mais ainda. Houve o encerra-mento de serviços consulares em mui-tas regiões, inclusivamente nalgumas das que visitei agora em França. Por exemplo, a comunidade de Clermont-Ferrand, que está a mais de 200 km de Lyon, ficou afastada dos seus servi-ços consulares em muitas das suas dimensões. E nós temos que encontrar formas inovadoras de garantir esse serviço aos nossos emigrantes.

Que formas são essas?

Há duas experiências que estão de-vidamente testadas e funcionam bem, que são as permanências consulares e as antenas consulares. Ambas são experiências que se devem consolidar e aperfeiçoar, com esta abertura das autoridades locais e regionais dos países de acolhimento.

As eleições que registam maiores níveis abstencionistas são as que elegem os representantes para o Conselho das Comunidades, que muitos emigrantes nem sabem que existe ou para o que serve…

Em abril vai haver uma reunião ple-nária do Conselho das Comunidades, cá em Portugal. Iremos reunir todos os conselheiros eleitos na diáspora portuguesa, porque são vozes que interpretam os sentimentos, as ex-petativas e as inquietudes dos nossos emigrantes pelo mundo.

Contrariar abstenção alta e baixo recenseamento

Para potenciar a participação eleitoral por parte dos portugueses no estrangeiro já demonstrou ser defen-sor do voto eletrónico…

Sim. Aliás, é do domínio público que o voto eletrónico constitui um dos compro-missos do programa do governo. Apenas poderá avançar onde houver condições de segurança e de fiabilidade da infraes-trutura tecnológica, todavia esse é um objetivo de legislatura.

Quais são as caraterísticas gerais desse voto eletrónico? A implementa-ção de máquinas nos postos consula-res ou de forma a que o voto possa ser feito nos computadores portáteis ou até smartphones de cada cidadão?

Como digo, é um trabalho que tem que ser desenvolvido no quadro desta legislatura, mas há essas duas experiências a níveis internacionais: a participação com voto eletrónico que ocorre em mesas de voto tal e qual acontece nos outros atos eleito-rais, e o voto a partir de casa de cada cidadão, a partir de um terminal no seu computador. Isso são questões de natureza técnica, que terão que se colocar quando a discussão decorrer de uma forma integrada entre os mi-nistérios que têm responsabilidades neste âmbito. Aquilo que efetivamen-te podemos dizer nesta altura é que trabalhamos para a facilitação quer do recenseamento, quer do ato eleito-ral, o que constitui uma prioridade da minha ação política, uma prioridade do ministro dos Negócios Estrangei-ros e uma prioridade do Primeiro-ministro de Portugal.

“POR FORÇA DOS CORTES QUE FORAM DESENVOLVIDOS NOS ÚLTIMOS ANOS NA REDE CONSULAR, SE AS CONDIÇÕES [DE ACESSO AO VOTO NO ESTRANGEIRO] JÁ ERAM DIFÍCEIS ATÉ HÁ QUATRO ANOS, TORNARAM-SE MUITO MAIS AINDA”

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COMUNIDADES

O voto eletrónico não resolve o elevado número de portugueses no estrangeiro que estão por recensear. Por exemplo, o Reino Unido tem sido o principal destino de emigração de portugueses nos últimos anos, mas só há 2 800 recenseados nos consulados de Londres e Manchester…

Há sempre uma responsabilidade cívica que é de cada cidadão. Muitos dos nossos emigrantes têm que ter uma noção muito clara de que quando saem do país devem inscrever-se nos seus consulados, coisa que muitos não fazem. Devem ter ainda o cuida-do de se recensearem quando vão aos postos consulares, apesar de o recenseamento da nossa emigração não ser obrigatório. Os nossos serviços consulares têm feito um es-forço de sensibilização dos nossos emigran-tes, mas muitas das vezes isso não acontece.

O que o governo português pode fazer para aumentar o número de emigrantes recenseados no estrangeiro?

Há um conjunto de pequenos obstáculos que se podem remover. Alguns com a alte-ração da lei eleitoral, outros com pequenas alterações. Tenho essa vontade, o governo tem essa vontade. E queremos que todos os partidos com assento no parlamento tenham a mesma vontade. Também há fatores de bloqueio que dependem da ad-ministração e é sobre esses que nós temos que trabalhar. Por exemplo, as alterações de morada. Um cidadão que emigre e que até se registe no seu posto consular, quando altera a sua morada deixa de ter as mesmas condições para a participação eleitoral. É um dos obstáculos que se resolvem com uma pequena alteração da legislação eleito-ral, sendo que para isso é preciso que todos os partidos políticos estejam investidos da mesma vontade, algo que eu estou conven-cido que estão.

Mais força para cidadãos e postos consulares

Para além dos atos eleitorais por-tugueses, também há a questão da participação nas eleições dos países de acolhimento…

Exatamente. Esse foi mais um aspeto importante no qual trabalhei na minha deslocação a França, alertando as auto-ridades francesas para a importância de eles também olharem para os portugueses como cidadãos eleitores dos seus países. Isso vai proporcionar aos nossos cidadãos ganharem uma força política e democrática que os tornará verdadeiramente importan-tes no processo de tomada de decisão e das opções políticas desses mesmos países.

Há cada vez mais notícias que dão conta de portugueses ou lusodescen-dentes eleitos para cargos políticos de relevo no estrangeiro…

Sim, nós temos luso-eleitos desde os poderes locais até às mais altas funções de

Estado um pouco por todo o mundo. Está a ser desenvolvido a nível consular um trabalho de identificação e de trabalho em rede com os mesmos. Esse trabalho abran-ge tudo aquilo que são as dimensões de segurança e bem-estar, e ao mesmo tempo de dinamização de Portugal no mundo.

Fazer uma comunicação mais continuada para com os emigrantes portugueses, de forma a incentivá-los a terem uma participação mais ativa nas decisões políticas, também é um objetivo?

Efetivamente não tem havido uma campanha de informação e de comunica-ção continuada para aquilo que são direi-tos sociais, direitos económicos e direitos políticos fundamentais. Este trabalho que vocês da Revista PORT.COM fazem de divulgação e sensibilização é um trabalho que também se inscreve no quadro das preocupações da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas. A própria RTP Internacional está agora num pro-cesso de transformação, modernização e

“O Consulado-Geral em Paris

faz uma média de 500 a 600 atendi-mentos por dia. O cônsul-honorário

em Clermont-Ferrand tem uma relação detalhada

das chamadas telefónicas que

uma única funcio-nária do Estado

português recebe diariamente e

às quais muitas vezes não pode dar resposta por falta de recursos

humanos”

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Como sempre afirmei na minha campa-nha para a eleição de conselheiro do Conselho das Comu-nidades Portuguesas (CCP), durante a qual

não prometi basicamente nada, eu tive sempre a impressão que o CCP, órgão de consulta do Governo de Portugal para as problemáticas da diáspora Portuguesa, mais parecia ser um órgão sindical do “bota-abai-xo”, como se costuma dizer.

Neste contexto, no papel de conse-lheiro defenderei sempre, e no-meadamente na próxima reunião plenária, que o CCP passe a ser um elemento-chave de consulta cons-trutiva no diálogo, e consensual nas decisões que eventualmente venham a ser apresentadas a respeito dos problemas dos emigrantes Portugue-ses espalhados pelo mundo. Este é um dos objetivos principais dos con-selheiros eleitos pelo Luxemburgo.

Na primeira reunião plenária procu-rarei ainda sugerir ao Sr. Secretário de Estado das Comunidades que possa continuar com as políticas do seu antecessor em certas áreas.

Refiro alguns exemplos, consideran-do que estas matérias são de uma grande importância para as comuni-dades Portuguesas espalhadas pelo mundo:

- Continuar com as permanências consulares; - Colocar funcionários não em quan-tidade, mas sim em qualidade; - Olhar para a diáspora como uma potencialidade económica para Por-tugal e não como simples cidadãos que saíram do país na procura de uma vida mais digna; - Continuar a preocupar-se com o ensino de língua e cultura Portugue-sa, porque apesar de uma melhoria significativa, ainda existem algumas lacunas; - Rever o que se poderá fazer para que os portugueses espalhados pelo mundo tenham a possibilidade de se inscreverem nos cadernos eleitorais; - Continuar a apoiar a comunicação social da diáspora; - Apoiar o movimento associativo;- Continuar a informar os portugue-ses que pretendem emigrar, que são livres de o fazer, mas com cautela, pois como todos nós sabemos a cri-se é mundial e que ontem era, hoje já não é...

POR UM CCP CONSTRUTIVO E CONSENSUALRogério de Oliveira Conselheiro eleito pelo Luxemburgo para Conselho das Comunidades Portuguesas

O P I N I ÃO

adaptação às novas exigências, para por um lado fazermos face às exigências dos fluxos migratórios do passado, aos filhos e netos dessas gerações, mas também a uma nova vaga migratória que se iniciou há quatro anos com a crise económica e financeira por que passou o país. Nós temos que ser capazes de dialogar com essa multiplicidade de entendimentos, de sentimentos, de afetos e ao mesmo tempo de interesses. É preciso desenvolvermos um trabalho sistemático de comunicação e informação, em articulação com os nossos serviços consulares, que têm feito um trabalho imenso.

Noto que faz questão de vincar os elogios aos serviços consulares…

Os últimos quatro anos não só foram muito significativos nos cortes na ad-ministração de bens e serviços públicos essenciais em Portugal, como também foram também muito significativos no impacto que tiveram na nossa rede con-sular e na nossa rede diplomática. Mesmo assim, um esforço extraordinário dos nossos funcionários consulares e dos nos-sos diplomatas permitiu ultrapassar essa exiguidade crescente de recursos da nos-sa administração. Para se ter uma ideia, o nosso Consulado-Geral em Paris faz uma média de 500 a 600 atendimentos por dia. Em Lyon e Bordéus vi o mesmo esforço. O cônsul-honorário em Clermont-Ferrand tem uma relação detalhada das chamadas telefónicas que uma única funcionária do Estado português recebe diariamente e às quais muitas vezes não pode dar resposta por falta de recursos humanos e de meios logísticos. Por isso, gradualmente temos que repor os níveis de atendimento na rede consular que fomos perdendo ao longo dos anos, o que tem efeitos muito negativos na sensibilização e informação aos nossos emigrantes.

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COMUNIDADES

Ylidio Abreu

Motoristas portugueses de pesados reúnem-se em Londres

Macau quer médicos portugueses na futura Academia de Medicina

O grupo português “Motoristas do Asfalto” organiza pela primeira vez um encontro no estrangeiro. Londres é a localidade escolhida para receber camionistas portugueses provenien-tes de diversos pontos da Europa, no dia 12 deste mês. Na capital britânica vivem cerca de meia centena dos mais de 40 000 membros deste grupo, que tem como alguns dos objetivos a partilha de conhecimentos e o apoio perante alguma eventualidade que aconteça na estrada.

O governo macaense pretende contratar “médicos portugueses e chineses com grande experiência clíni-ca para a orientação dos formandos” da futura Academia de Medicina de Macau, a julgar por palavras proferi-das por Alexis Tam, secretário local para os Assuntos Sociais e Cultura, na respetiva assembleia legislativa. O fim da construção da Academia de Medicina de Macau está previsto para este ano. A média salarial dos médi-cos neste território de administração chinesa é de 43 000 patacas, cerca de 4 900 euros.

Ylidio Abreu, o madeirense da oposição a Maduro

O bairro do Ironbound, na cidade nos arredores de Nova Iorque onde reside uma populosa comunidade por-tuguesa, vai ter um monumento em homenagem aos milhares de emigran-tes que, a partir da década de 30 do sé-culo passado, contribuíram para a sua

construção. A obra será inaugurada em setembro deste ano e representará um barco com emigrantes, de acordo com o esboço desenhado por Augusto Amador, um português natural de Murtosa que é vereador na autarquia de Newark.

Desde o início deste ano, quando toma-ram posse os representantes escolhidos nas eleições de dezembro de 2015, que o parlamento venezuelano conta com um deputado originário da vila madeirense da Ribeira Brava. Ylidio Abreu ocupa um lugar de destaque na assembleia nacional da Venezuela, para a qual foi eleito como o número um da lista do partido Mesa de la Unidad Democrática (MUD) no estado de Carabobo, o 3.º mais populoso do país. O

MUD é o mais representativo dos partidos da oposição ao governo de Nicolás Ma-duro. A principal ação política que Abreu tem reivindica-do passa pela melhoria do fornecimento de água pública em vários esta-dos do país.

Newark prepara monumento de homenagem aos emigrantes

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Marcelo Rebelo de Sousa substitui Aníbal Cavaco Silva como Presidente da República a 9 de março. O antigo líder do PSD e comentador

televisivo da TVI venceu as eleições presidenciais à primeira volta, logo a 24 de janeiro, mas apenas 12 dias depois, a 5 de fevereiro, foram confirmados os resultados definitivos no estrangeiro, onde também foi o mais votado dos candidatos a Belém.

Os eleitores que votaram nos 73 consulados até atribuíram a Marcelo uma percentagem de votos superior à registada no território nacional: 57,3% contra 51,99%. Mas os votos somados no estrangeiro (7 993) são em número bem mais reduzido do que os contabilizados em Portugal (2 403 932).

Tal como no território nacional, Sam-paio de Nóvoa e Marisa Matias foram os 2.º e 3.º candidatos mais votados, respetivamente.

A Revista PORT.COM reuniu um conjunto de curiosidades sobre os re-sultados no estrangeiro das eleições presidências portuguesas.

• África do Sul é o país onde o domínio de Marcelo foi mais esmagador, com uma percentagem de 93,6% no somatório dos consulados de Cidade do Cabo, Pretória e Joanesburgo

• A Finlândia é o país onde Marcelo ficou mais abaixo na tabela classificativa, sendo apenas o 3.º candidato mais votado, depois de Sampaio da Nóvoa e Marisa Matias

• Na Guiné-Bissau e na Suécia, Sampaio da Nóvoa superou Marcelo por apenas um voto

• Nos consulados de Manchester (Reino Unido) e São Francisco (Estados Unidos) houve um empate entre Marcelo e Sampaio da Nóvoa, com exatamente o mesmo número de votos para cada candidato

• Apenas Marcelo e Sampaio da Nóvoa receberam votos no Zimbabwe e na cidade brasileira do Recife

• Paris e São Paulo são as duas únicas cidades onde foi registado mais de um milhar de votos. Marcelo ficou em 1.º em ambas

• A Índia é o país em que se registou maior abstenção, com uma percentagem de 99,09%. Votaram apenas 15 dos 1 649 cidadãos recenseados

Marcelo toma posse a 9 de março Cavaco Silva abandona o Palácio de Belém ao fim de uma década. A percentagem de votos alcançada por Marcelo nas comunidades foi ainda superior à que lhe deu maioria em território nacional.

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COMUNIDADES

PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES14

Lisboa e Ljubljana estão separadas por mais de 2 500 quilómetros, mas na internet há uma página que coloca Portugal e a Eslovénia lado a

lado. Trata-se da Sardinha (disponível em www.sardinha.org), uma página online que disponibiliza uma revista em formato digital, na qual todos os artigos são escritos em português e esloveno.

Criado em 2013 pelo português João Costa e pela eslovena Dijana Cerovski, o objetivo estipulado na altura pelo casal passava por “trazer aos leitores uma sensação de comunidade que tinha sido afastada com o encerra-mento das embaixadas da Eslovénia em Lisboa e de Portugal em Ljubljana”, explica Dijana.

Desde então o público-alvo já foi alar-gado. Para além dos “portugueses na Eslovénia, dos eslovenos em Portugal, dos eslovenos na Eslovénia interessa-dos na língua e cultura portuguesa, e de outros cidadãos pelo mundo fora que viveram num dos dois países e falam assim pelo menos um dos idiomas”, os autores do portal têm-se esforçado por “atrair também os leitores brasileiros e lusófonos no geral”.

Os artigos desenvolvidos são sobre-tudo de cariz cultural, tendo já entre-vistado alguns músicos portugueses de nomeada, como Carlos Bica e Gisela João. “Queremos ser uma boa revista com temas interessantes e entrevistas com pessoas inspiradoras. Há muitos fãs da cultura e da língua portuguesa por cá, e os pontos comuns entre eslo -

Em Ljubljana não há Embaixada de Portugal, mas há quem desenvolva uma revista digital focada na redação de artigos sobre o nosso país. A atividade cultural portuguesa é a temática mais retratada em www.sardinha.org.

A Sardinha que se lê em Português e Esloveno

Exemplos de páginas da revista digital escrita em português e esloveno

Dijana Cerovski e João Costa, os fundadores da Sardinha

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Pela primeira vez o Português vai in-tegrar o programa do ensino público no Luxemburgo. O feito inédito vai ter lugar na Escola Internacional de Differdange, que vai abrir em setem-bro na 3.ª maior cidade luxembur-guesa, com alunos do ensino básico ao secundário. Desde o primeiro ano de escolaridade que os alunos da nova escola aprenderão o Luxem-burguês como língua obrigatória, podendo escolher como segunda opção entre o Francês, o Alemão, o Inglês e o Português.

Uma escola primária de Brockton, no estado norte-americano do Mas-sachusetts, será a primeira a experi-mentar um programa de imersão em Português, com disciplinas leciona-das tanto em Inglês como na “língua de Camões”. Depois de um sorteio a realizar em maio, 50 crianças com família de países de expressão por-tuguesa, e cujos pais tenham con-cordado com a sua inclusão, serão divididas em duas turmas e vão fazer parte do projeto até ao quinto ano. O programa segue o exemplo do que já acontece com o Espanhol numa outra escola primária de Brockton, onde existe neste momento uma lista de espera com 100 alunos.

Língua portuguesa vai ser ensinada em nova escola pública no Luxemburgo

Escola no Massachusetts lança programa inédito de imersão no Português

venos e por t ug ueses são su r preen-dentemente va r iados e isso é mu ito interessa nte”, justif ica Dija na , a pa r tir de Ljublja na.

A tít u lo de exemplo, indica que “a Eslovénia sendo u m pa ís de pequenas dimensões ta mbém dá u ma g ra nde impor tâ ncia à identi-dade naciona l pela líng ua mater na e ta mbém tem o seu Ca mões, de nome Fra nce Prešeren, poeta com direito a estát ua na praça centra l da capita l. Pa ra a lém disso há interseções duradou ras na á rea do cinema de a nimação, da música ja zz contemporâ nea , entre outros, como a recente colaboração na música entre a por t ug uesa Susa-na Sa ntos Silva e a eslovena Kaja Dra ksler ”.

O desejo de entrevistar Joana Vasconcelos ou Mariza

A ativ idade da Sa rdin ha fa z com que Dija na e João ten ha m u ma “ long a lista” de persona lidades por t ug uesas que gosta r ia m de entrev ista r. Na impossibilidade de poderem questiona r José Sa ra mago e Eusébio, coloca m Joa na Vascon-celos e Ma r iza no topo das prefe-rências: “ Vimos o seu cacilheiro na biena l de Veneza e foi mu ito im-pressiona nte”, referem em a lusão à a r tista plástica.

A fadista at ua a 19 de abr il na imponente sa la Ca n ka r jev Dom, em Ljublja na , pelo que o objetivo de a entrev ista r pode ser cu mpr ido em breve. Ma is dif ícil será “ perg u nta r ao Sr. Presidente da República se sabe onde é a Eslovénia”, por resi-

direm na capita l eslovena e terem poucos colaboradores em Por t ug a l.

A Revista PORT.COM é uma das pu-blicações portuguesas que Dijana e João consultam assiduamente para ficarem mais perto do país, por considerarem que “sabem bem o que o leitor que mora fora de Portugal gosta de ler que não encontra nas revistas e jornais usuais”.

Do lado de cá, retribui-se o elogio à Sardinha, pela sua originalidade e pertinência, que tornam 2 500 quiló-metros num obstáculo ultrapassável em poucos cliques.

Joana Vasconcelos, uma das entrevistadas que o Sardinha gostava de “pescar”

Estátua de France Prešeren,

o “Camões esloveno”

Cankarjev Dom, a sala que vai receber o fado de Mariza

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES16

NO DIA SEGUINTE À DECLARAÇÃO DE GUERRA, O EDITORIAL DE UM JORNAL ALEMÃO DESCREVE PORTUGAL COMO “O 11.º INIMIGO”

A Primeira Guerra Mun-dial eclodiu em 1914, mas é este mês que se assinala um século desde que Portugal entrou oficialmente na hecatombe inter-

nacional, que teve vários significados para o país, uns louváveis e outros bas-tante lamentáveis. Entre a data em que a Alemanha declarou guerra a Portugal e o fim da Grande Guerra, em 1918, ano da infame Batalha de La Lys, as tropas portuguesas viveram mais de 700 dias no inferno das trincheiras.

A declaração de guerra “deu entrada” ao final da tarde chuvosa de 9 de março de 1916, quando o alemão Friedrich Rosen, que liderava a diplomacia alemã em Lisboa, entregou uma comunicação urgente do seu imperador ao ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Soares.

Os jornalistas que aguardavam por-menores do encontro, que tinha lugar no Terreiro do Paço, não tiveram dificul-dade em antecipar ao que Rosen ia. Nas

redações dos jornais lisboetas circulava a informação de que o diplomata passara parte do dia a queimar papelada na dele-gação germânica, instalada num palácio da Rua do Século.

A isso juntava-se um historial de quase dois anos de atritos entre Lisboa e Berlim, como a 25 de agosto de 1914,

A TARDE EM QUE PORTUGAL ENTROU NA GRANDE GUERRA

Quando a 9 de março de 1916 um diplomata alemão em Lisboa entregou uma comunicação urgente ao governo português, confirmou-se o que já se adivinhava desde 1914.

Acontecimentos em África levaram milhares a partirem para as trincheiras europeias.

ISTÓRIAH

TEXTO: LUÍS CARLOS SOARES

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quando forças alemãs saídas da colónia do Tanganica (atual Tanzânia) ataca-ram o posto português em Maziua, no norte de Moçambique.

No dia 12 de dezembro do mesmo ano, forças alemãs da colónia do Sudoeste Africano, localizadas na atual Namíbia, invadiram o sul de Angola, o que levou a que, seis dias depois, os portugueses fossem obrigados a retirar da cidade angolana de Naulila, lamentando 70 mortos entre oficiais e praças.

No início de 1915, a 27 de janeiro, a Alemanha pediu argumentos junto do governo português pela expulsão do seu cônsul em Luanda. O primeiro de vários protestos germânicos desse ano, como o que reclamava por Portugal ter auto-rizado a passagem de forças britânicas através de Moçambique, nos primeiros dias de maio.

Esta cronologia justifica que a de-claração de guerra entregue por Rosen alegasse “procedimentos reveladores de que o governo português se considera um vassalo da Inglaterra e que subordi-na todas as considerações e desejos da Inglaterra”. No dia seguinte, o editorial do jornal alemão Frankfurter Zeitung descreve Portugal como “o 11.º primeiro inimigo”.

No final da Grande Guerra, as coló-nias portuguesas foram mantidas, a imagem internacional da ainda jovem República foi consolidada e o equilíbrio com o “velho aliado” inglês foi reposto. Mas à custa de mais de oito mil mortos, maioritariamente camponeses analfa-betos que desconheciam a razão pela qual lutavam. Agravava-se ainda uma crise económico-financeira que abriria as portas à ditadura.

Sabia que os soldados do Corpo Expedicionário Português (CEP) foram os primeiros a chamar “bifes” aos ingleses? Conheça algumas expressões desenvolvidas entre 1916 e 1918 que ainda hoje fazem parte do quotidiano dos portugueses.

Balázio – Bala de espingarda ou metralhadoraBife – Alcunha dos ingleses aos olhos dos portugueses. Proveniente de BEF (British Expedicionary Force) Camone – Outra alcunha dos ingleses, por utilizarem a expressão “come on” para chamar os portuguesesCavar – Foi nas trincheiras, quando os soldados se encontravam sob bombardeamento incontrolável, que o verbo utilizado em referência a “romper a terra” passou também a significar “afastar-se” Gosma – Simular doença ou outra qualquer vigarice com o objetivo de evitar uma tarefaIr aos arames – Missão ingrata e perigosa de ir cortar o arame farpado em terreno de guerraLãzudo – Camponeses transformados em soldados sem saberem porquê Luísa – Metralhadora LewisSola – Carne dura “como a sola do sapato”Toupeiras – Soldados das primeiras linhas, por viverem em abrigos subterrâneos

Friedrich Rosen, o alemão que

“declarou” guerra a Portugal

Prisioneiros portugueses num

campo alemão, após a derrota de La Lys

Tropas portuguesas treinam com máscaras de gás, já na Frente Ocidental

Fotografia icónica que regista o momento da despedida de um combatente português, num cais de Lisboa

O “Português” nascido nas trincheiras

Tradução da declaração de guerra, na íntegra, em www.revistaport.com

Saiba mais

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HISTÓRIA

Talvez só agora, passados 100 anos sobre a tragé-dia mundial que foi a Grande Guerra, tenham existido, em Portugal, as condições necessá-rias para uma discussão

histórica, com rigor científico, livre e isenta, sobre a participação de Portu-gal naquele conf lito.

Até então tivemos relatos pesso-ais que nos dão conta das terríveis condições que os Soldados tiveram de suportar, e relatos oficiais de natureza descritiva, mas todos, quase sempre, alheios a todo um contexto politico e social, que é de facto impor-tante recordar e considerar para que os portugueses de hoje conheçam as razões das decisões tomadas e para que assumam como sua, também, uma memória coletiva que, para que seja saudável como se quer, tem de ser esclarecida e descomplexada.

Esta Comissão assumiu como tarefa inerente à sua missão incentivar a investigação e a produção de conhe-cimento, que vai disponibilizando através do seu sítio www.portugalgran-deguerra.defesa.pt e, principalmente, evocar o sacrifício dos cerca de 105 000 mobilizados para combater em África, no Mar e na Europa.

Esse sacrifício, que tem a sua expres-são mais cruel nos 7 760 mortos e nos 8 935 incapazes, foi também exigido a toda uma população que não ultra-passava, na altura, os seis milhões de portugueses, confundidos com o que se passava no mundo e em particular em Portugal, com a mudança de um regime monárquico multisecular para um republicano, revolução essa que foi violenta, ao ponto de muitos dos atuais historiadores a considerarem “guerra civil intermitente”.

Julgo ser importante recordar que:

- O Governo Republicano tinha difi-culdade em ser reconhecido pelos seus pares europeus, todos eles monárqui-cos ou imperiais, à exceção da França, da Suíça e do nosso próprio país;

- Portugal, sendo uma pequena po-tência europeia, era um grande império ultramarino, e que as suas colónias, em particular Angola e Moçambique, eram cobiçadas quer pela Alemanha quer pela velha aliada, a Inglaterra, tendo havido acordo entre eles para a sua parcial partilha;

- A desordem social em Portugal continental, de cariz ideológica, era tida em Espanha, o nosso único vizi-nho, como preocupante por poder ter repercussões naquele país, o que por outro lado dava espaço de manobra para uma intervenção que, com o pre-texto de restabelecer a ordem, permitia alcançar o velho desígnio de hegemonia na Península Ibérica, que contava com

A IMPORTÂNCIA DE RECORDAR A PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA

NA GRANDE GUERRAO assinalar dos 100 anos de um dos momentos mais marcantes da história

do século XX originou a criação da Comissão Coordenadora das Evocações do Centenário da I Guerra Mundial. Um dos eventos que organiza é o Congresso Internacional Portugal na Grande

Guerra*. O presidente da comissão, Tenente General Mário de Oliveira Cardoso, retrata a origem da participação portuguesa no conflito.

TEXTO: TENENTE GENERAL MÁRIO DE OLIVEIRA CARDOSO PRESIDENTE DA COMISSÃO COORDENADORA DAS EVOCAÇÕES DO CENTENÁRIO DA I GUERRA MUNDIAL

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a tolerância, mesmo que não explicita, tanto da Inglaterra como da Alemanha, embora por interesses diferentes;

- Portugal via na assunção plena das suas responsabilidades, no cumpri-mento do Tratado da Aliança Luso-Britânica, a forma de comprometer a Inglaterra na defesa da sua soberania e no reconhecimento do regime.

Se a guerra em África não mere-cia contestação interna, mau grado a deficiente preparação sanitária e logística dos contingentes, começou logo em 1914 e determinou o envio de sucessivas expedições para aqueles Teatros de Operações mesmo sem de-claração formal de guerra, já a decisão de participar no Teatro de Operações Europeu, com o Corpo Expedicionário Português (CEP), dividiu quase todos os partidos políticos existentes, dando origem à designação de “guerristas” e “não guerristas”, inclusive dentro da estrutura militar.

Para uns a manutenção da soberania de Portugal, quer na Europa quer em África, passava por uma intervenção direta no conflito europeu; para outros tal não era necessário.

O resultado é conhecido. Se as forças expedicionárias para África foram deficientemente preparadas, pior foi ainda com o CEP, que teve de enfrentar a desconhecida “guerra das

trincheiras” e que se foi vendo isolado, sem apoio da retaguarda, sujeito às contraditórias decisões dos sucessivos governos (47 entre 1910 e 1926), fatal para o sentimento de abandono a que se viram votados os Soldados de Portu-gal enviados para zonas de combate e praticamente abandonados à sua sorte pelo próprio País.

À questão que me foi colocada pela Direção da Revista PORT.COM sobre a importância de recordar a partici-pação de Portugal na GG, a melhor resposta que posso dar é transcrever esta frase de um poeta e filósofo espa-nhol, George Santayana – “Quem não se lembra do passado está condenado a repeti-lo”.

Mas eu permitir-me-ia acrescentar que, quando o que está em causa é a segurança e a soberania de Portugal, e se torna necessário a participação de Forças Militares fora das nossas fron-teiras, então não pode haver divergên-cias no essencial, da parte de todos e em particular dos governantes.

Portugal, quando o Armistício foi assinado em 11 de novembro de 1918, fê-lo e justamente como vencedor, tendo visto a Bandeira Nacional passar sob o Arco do Triunfo. Mas no nosso íntimo parece que nos sentimos como derrotados!

Para que assim não seja é que esta Comissão procura colaborar, através da homenagem aos que tudo deram em nome de Portugal e promovendo o co-nhecimento da nossa história, para que a memória seja coletiva e saudável.

“NO NOSSO ÍNTIMO PARECE QUE NOS SENTIMOS COMO DERROTADOS! PARA QUE ASSIM NÃO SEJA É QUE ESTA COMISSÃO PROCURA COLABORAR, ATRAVÉS DA HOMENAGEM AOS QUE TUDO DERAM EM NOME DE PORTUGAL E PROMOVENDO O CONHECIMENTO DA NOSSA HISTÓRIA, PARA QUE A MEMÓRIA SEJA COLETIVA E SAUDÁVEL”

Tenente General Mário de Oliveira Cardoso

*O congresso está marcado para os dias 8, 9 e 10 deste mês, em Coimbra, no auditório do Quartel General da Brigada de Intervenção. Resulta de uma organização conjunta entre a Comissão Coordenadora da Evocação do Centenário da I Guerra Mundial e do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra (CEIS20)

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES20

HISTÓRIA

A vida do Padre Amé-rico dava um filme, daqueles que todos os anos concorrem aos prémios mais desejados do mun-do do cinema, os

Óscares. O legado que deixou garante o cenário, com destaque para as Ca-sas do Gaiato, as casas que acolhem rapazes indefesos com o objetivo de formar homens preparados para resistir e vencer perante os desafios da vida. Os próprios responsáveis de algumas destas casas parecem acreditar que o percurso de dedicação à melhoria das condições de vida dos mais desfavorecidos propicia um bom guião cinematográfico.

No ano em que se assinalam os 60 anos da morte do notável filantropo, somam-se ruas, escolas e até um hospital com o nome do Padre Américo. Do legado subsistem quatro Casas do Gaiato em Portugal - Paço de Sousa, Beire (Paredes), Miranda do Corvo e Setúbal -, duas em Angola – Malanje e Benguela – e outra em Moçam-bique, na capital Maputo. Prevalece ainda o Calvário, em Beire, espaço que acolhe doentes pobres e incuráveis.

Tudo isto obra de quem um dia escreveu, num dos vários livros por si publicados, que “a vida que vale a pena é viver totalmente para o nosso semelhante, a chorar e a rir as suas tristezas e alegrias”. Esta e outras fra-ses inspiradoras continuam a ser partilha-das ao mundo n’O Gaiato, o jornal fundado

por Padre Américo. Apesar da distribui-ção gratuita, ainda hoje ajuda a recolher fundos para as casas, que não beneficiam de quaisquer subsídios estatais.

Um filme desaparecidoe dois documentários

Defender que a obra social do Padre Américo dava um filme não é uma ideia pioneira. O realizador espanhol Eduardo Garcia Maroto lançou, a 22 de dezembro de 1948, um filme sobre a vida e obra do benemérito, chamado “Não Há Rapazes Maus”, que rodaria em salas de Lisboa e do Porto. Do elenco faziam parte atores que, na altura, integravam a primeira linha do cinema português, como Raul de Carvalho, Maria Lalande, Maria Matos e até Vasco Santana. Mas, entretanto, o filme perdeu-se para sempre.

A VIDA DO PADRE AMÉRICO

MERECIA UM ÓSCAR

O legado do benfeitor, pela melhoria das condições de vida de rapazes desfavorecidos,

continua bem presente em três países, particularmente em Portugal. Por mais

do que uma vez, a obra social já valeu enredos cinematográficos premiados

internacionalmente.

TEXTO: LUÍS CARLOS SOARES

Cartaz do filme de 1948, entretanto

desaparecido

Em 2016 assinalam-se os 60 anos da morte do distinto filantropo

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Nem mesmo a Cinemateca Portu-guesa guarda uma cópia desse trabalho, mas segundo o Padre Manuel Mendes, responsável pela Casa do Gaiato de Miranda do Corvo, “preserva um [outro] documentário que foi feito em 1987, ano em que se assinalava o centenário do nas-cimento de Padre Américo”. O benfeitor veio ao mundo a 23 de outubro de 1887 em Galegos, uma freguesia de Penafiel.

Mais recentemente, em 2012, a Casa do Gaiato de Setúbal foi palco das gravações de um documentário sobre a mesma. O produto final são 51 minutos sobre os princípios que a estruturam, “muito mais do que um espaço onde vi-vem rapazes, uma casa de família com as suas rotinas, repleta de verdadeiras histórias de vida”, como se lê na descri-ção do mesmo.

Durante este documentário, chamado “Casa do Gaiato”, as imagens transpare-cem diversos processos que permitem “fazer de cada rapaz um homem”, como defendia o Padre Américo. Assiste-se as-sim a momentos em que os rapazes vão à escola, aprendem ofícios como carpinta-ria e tipografia, cultivam e colhem alguns dos alimentos utilizados nas refeições, vão à missa, aprendem a tocar instru-mentos musicais, ensaiam coreografias de dança, jogam futebol, entre outros momentos de estímulo de capacidades intelectuais, morais e sensitivas.

Contactado pela Revista PORT.COM, o responsável pela Casa do Gaiato de Se-túbal, Padre Acílio, acredita que este tra-balho “pode ser inspirador de um outro mais alargado, sobre o Padre Américo”.

Filmes premiadossobre obra social

Tanto o Padre Manuel Mendes como o Padre Acílio acreditam que a vida do Pa-dre Américo oferece matéria-prima para um guião de um filme capaz de cativar as mais diferentes audiências. A obra social praticada na Casa do Gaiato em nada fica a dever à relatada no filme norte-americano

“The Cider House Rules”, cuja versão por-tuguesa tem o título “Regras da Casa”, que no ano 2000 ganhou dois Óscares.

Uma das estatuetas ganhas foi a de Melhor Argumento Adaptado. O filme é baseado num livro de 1985, do romancista norte-americano John Irving, que retrata um orfanato no estado do Maine, dirigido pelo generoso Dr. Wilbur Larch, que trata todos os órfãos como se fossem seus filhos biológicos. Este papel valeu ao filme o outro Óscar, o de Melhor Ator Secundário, para o reputado ator Michael Caine.

Existem alguns ilustres portugueses cuja vida transposta em filme provavel-mente resultaria na conquista de prémios cinematográficos. Na Segunda Guerra Mundial, Aristides de Sousa Mendes teve um papel de solidariedade social seme-lhante ao de Oskar Schindler, mas só a história do alemão deu origem a um filme que ganhou um número impressionante de sete Óscares, também entre os quais o de Melhor Argumento Adaptado.

Quem está minimamente familiariza-do com a vida e obra do fundador da Casa do Gaiato, sem dúvida um dos mais dedi-cados filantropos da História de Portugal e cujo processo de beatificação está em curso na Congregação para a Causa dos Santos, não terá dúvidas em concordar que o enredo da vida do Padre Américo merecia um Óscar.

O documentário “Casa do Gaiato” foi gentilmente enviado à Revista PORT.COM pelo Sr. Padre Acílio, da Casa do Gaiato de Setúbal

Por todo o país há várias estátuas do

Padre Américo, como na cidade do Porto, na

Praça da República

Interpretar o papel do Dr. Wilbur Larch valeu um Óscar ao ator Michael Caine

Capa do documentário de 2012 gravado na Casa do Gaiato de Setúbal

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES22

EGÓCIOSN

O calçado português terminou mais um ano em alta. Há seis anos que bate o tacão nas exportações, que aumentaram mais de 50% desde 2009.

No ano passado, Portugal exportou 79 milhões de pares de calçado no valor de 1 865 milhões de euros, mais 1% relativa-mente ao ano anterior.

“Fruto de uma aposta sem preceden-tes nos mercados internacionais, Portugal passou a exportar anual-mente mais 600 milhões de euros do que há seis anos, alargando ainda a geografia das exportações a mais de 20 novos destinos”, indicou a associação dos industriais do setor (APICCAPS), num comunicado prévio à participação na MICAM, a mais importante feira do calçado à escala mundial, que se realizou em Milão entre 14 e 17 de fevereiro.

O calçado português é atualmente comercializado em 152 países, nos cinco continentes. “O ano que terminou foi particularmente exigente para as empresas de calçado, com o registo de perdas importantes, mas esperadas face à conjuntura atual”, em países como Angola (queda de 15% para 24 milhões

de euros) e Rússia (menos 52% para 21 milhões de euros).

Acresce que o mercado francês, o mais importante para as empresas portugue-sas, “viveu uma situação conjuntural profundamente adversa, com as impor-tações de calçado em geral a recuarem

O ano 2015 significou um novo máximo histórico nas exportações portuguesas de calçado. Para as empresas nacionais deste setor,

França é o mercado mais importante, Alemanha um dos que mais cresceram e Canadá um dos que bateram recordes.

EXPORTAÇÕES DE CALÇADO AUMENTARAM

MAIS DE 600 MILHÕES EM SEIS ANOS

A MICAM, a

mais importante feira do calçado à

escala mundial, que se realiza em Milão

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2,7%”. Nos primeiros dez meses de 2015, França comprou ao exterior menos 11 milhões de pares de calçado face ao ano anterior para um total de 433 milhões de pares.

Nesse cenário, as vendas de calçado português para o mercado francês também recuaram para um total de 16 milhões de pares, no valor de 411 mi-lhões de euros (menos 3,6%).

Destaques positivos em 2015 foram os crescimentos relevantes registados em vários mercados europeus, como na Alemanha, Dinamarca, Espanha e Ho-landa, assim como recordes das vendas na Austrália, Canadá, China e Emirados Árabes Unidos.

De realçar o desempenho do calçado português nos Estados Unidos, onde as vendas aumentaram 48% para 67 milhões de euros.

As vendas de calçado para fora da União Europeia representam 14% do total exportado. A APICCAPS quer que este valor chegue aos 20% nos próximos cinco anos.

As exportações da fileira do calçado como um todo (artigos de pele, com-ponentes e calçado) ultrapassaram os dois mil milhões de euros (2,057 mil milhões) em 2015, mais 1,2% do que no ano anterior.

OS NÚMEROS QUE MAIS ORGULHAM O SETOR

Milhões de pares de sapatos exportados, milhares de trabalhadores empregues e centenas de novas marcas. O calçado está cheio de números

que potenciam a economia portuguesa.

1 865 000 000Valor das exportações de calçado português em 2015

79 000 000Pares de sapatos exportados por Portugal no ano passado

16 000 000Pares de sapatos exportados para França

37 700Trabalhadores empregues pelo setor do calçado em Portugal

1 430Empresas portuguesas, a maior parte das quais no norte do país

300Novas marcas de calçado criadas em Portugal nos últimos seis anos

152Países que recebem e comercializam calçado fabricado em Portugal

95Empresas portuguesas presentes na maior feira de calçado, a MICAM, em Milão

15Sessões fotográficas sobre calçado português na Vogue Itália

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NEGÓCIOS

Breves

Frankfurt recebeu 12 empresas nacionais de artigos para papelaria…

Delta Cafés reforça presença na Suíça

Worten celebra 20 anos com nova identidade

A Loja dos Pastéis de Chaves chega

a Paris

A Paperworld, maior feira internacional de artigos para papelaria, escritório e material escolar, decorreu em Frankfurt entre 30 de janeiro e 2 de fevereiro, com a presença de 12 empresas portuguesas: Altoinfor, Ambar Passion, Ancor, Bi – Sil-que, Cartonex, Clipouro, DKT Represen-tações, Firmo, Make Notes, Moinho de Chuva, Olmar e Portucel Soporcel. Estas empresas aproveitaram a ocasião para o lançamento de novas coleções e a troca de contactos com clientes provenientes de todo o mundo.

Quatro empresas portuguesas esti-veram presentes na Ethical Fashion Show, a única feira europeia exclusi-vamente dedicada à moda ecológica e sustentável, que decorreu no final de janeiro no salão Postbahnof, em Berlim. A Elizab’Hats apresentou cha-péus, a Vintage for a Cause roupas e acessórios, a Ultrashoes e a NAE – Vegan Shoes sapatos. Tudo peças amigas do ambiente.

Para assinalar o 20.º aniversário, a Worten apresentou um novo logótipo e um novo ícone, identidade que está a ser introduzida em todas as lojas e em todas as campanhas publicitárias. Para além da presença por todo o ter-ritório português, atualmente a marca de produtos eletrónicos conta com cerca de 50 lojas em Espanha.

…Berlim quatromarcas de moda amiga do ambiente

A empresa de torrefação e comercia-lização de café adquiriu a carteira de clientes do seu antigo distribuidor e parceiro na Suíça, com o objetivo de reforçar a presença no país helvético. Com esta aquisição foi criada a empre-sa Novadelta Suisse, que passa a contar com uma carteira de 350 clientes, na sua maioria restaurantes, cafés e similares. A Delta Cafés reforça assim a presença internacional na Europa Ocidental, onde também conta com operações diretas em Espanha, França e no Luxemburgo.Duas lojas no Porto, duas em

Gaia, uma em Braga, outra em Guimarães e agora a primeira no estrangeiro. A Loja dos Pastéis de Chaves prepara a instalação de uma loja em Paris , cidade de onde até agora chegava a maioria das encomendas inter-nacionais de, claro está, pastéis de Chaves. Curiosamente, na cidade flaviense esta empresa conta apenas com a unidade de produção.

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DDESTAQUE

Fazer jejum de carne nas sextas-feiras da Quaresma, benzer o ramo do domingo de ramos,

acompanhar as procissões da Semana Santa, entregar o folar. Numa das épocas em que mais portugueses a residir no estran-

geiro optam por voltar ao país, são várias as tradições seguidas reli-

giosamente um pouco por todo o território nacional.

AS TRADIÇÕES DA

PÁSCOAEM PORTUGAL

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DESTAQUE

A Páscoa é uma das épocas preferidas pelos portugueses a residir no estrangeiro para voltarem ao país de origem. Muitas são as famílias, sejam ou não

católicas, que a veem como um símbolo de união. Mais do que qualquer outra celebração adotada pela generalidade dos portugueses, a Páscoa apresenta uma ampla variedade de tradições. Umas são comuns a todo o país, outras apenas a algumas regiões.

Quase todos os portugueses estão fa-miliarizados com o conceito da Quares-ma, sobretudo no que toca ao “sacrifício” de não se comer carne nas sextas-feiras que abrangem este período. Bem menos são os que alguma vez testemunharam a cerimónia de “queimar o Judas”, dado que é um hábito praticado em apenas alguns dos concelhos do país.

De resto, pode-se generalizar que é nas aldeias que os costumes relacionados com a Páscoa são praticados e acompa-nhados com mais interesse e devoção. Não faltam procissões de Trás-os-Mon-tes ao Algarve, na Madeira e nos Açores, assim como crianças que se deslocam às paróquias locais para benzer os ramos a entregar à madrinha e/ou ao padrinho.

Nas cidades, principalmente nas áreas urbanas de Lisboa e do Porto, são muitos os que passam ao lado de qualquer celebração pascal, preferin-do dedicar este período a umas férias fora de casa. Mas também são muitos os que partem para os tais meios mais pequenos para passarem a Páscoa com os seus familiares, inseridos num ambiente repleto de tradições pascais à boa maneira portuguesa.

Semana Santa

A semana que antecede a Páscoa é o apogeu anual das manifestações de religiosidade para algumas localidades portuguesas, com Braga à cabeça. Por estes dias, os inúmeros santuários e igrejas da “Cidade dos Arcebispos” são engalanados a preceito, para receberem as várias manifestações de fé. Os momen-tos que costumam gerar mais expetativa junto dos visitantes são as procissões, que têm início no Domingo de Ramos, com a Procissão dos Ramos, e se sucedem até à Sexta-Feira Santa, data em que acontecem três, com destaque para a do “Enterro do Senhor”. Óbidos é outro exemplo de localidade em que a Semana Santa é vivida com grande intensidade.

Procissões

Não é só em Br a g a , ou na s loca l idades com at iv idades que a ssi na la m todos os d ia s da Sema-na Sa nta , que a Pá scoa é tempo de procissões. B em pelo cont r á r io. De nor te a su l, sobret udo na s v i la s e a ldeia s, a ssi na la-se o ca m i n ho que Cr isto fez com a cr u z até ao ca lv á r io, a cha mada v ia sacr a , na qua l são percor r ida s 1 4 estações que a ssi na la m os 1 4 momentos deste perc u rso desde a condena-ção até à cr uci f icação. A P rocissão da s Tocha s Flor ida s, em São Br á s de A lpor tel, que no dom i n go de Pá scoa a ssi na la a ressu r reição, é u ma da s ma is concor r ida s.

Óbidos é uma das localidades portuguesas que mais devoção colocam nas celebraçães da Semana Santa

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Peregrinação

Percorrer o Caminho Português de Santiago durante Semana Santa está a tornar-se cada vez mais um hábito entre os portugueses. Todos os anos, por esta altura, a associação Espaço Jacobeus tem distribuído centenas de credenciais para peregrinos portugueses caminharem até ao sepulcro do Santo Apóstolo Tiago, na cidade galega de Santiago de Compostela.

Queimar o Judas

O apóstolo que entregou Jesus às tropas de Pôncio Pilatos é “condenado” um pouco por todo o território continen-tal português na tradição de Queimar o Judas. Na noite antes da Páscoa ou na

manhã de domingo, o traidor é recriado através de um boneco feito de trapos e palha, que surge enforcado numa corda, ao qual a população pega fogo ou até faz explodir com dinamite. O ato é praticado em localidades como Viana do Castelo, Montalegre, Freixo de Espada à Cinta, Vi-la do Conde, Santa Maria da Feira, Santa Comba Dão, Tondela, Palmela, Castelo de Vide e Serpa. Nalguns pontos do Brasil também se queima o Judas, tradição leva-da pelos colonizadores portugueses.

Quaresma

O período entre o Carnaval e a Páscoa em que os católicos costumam privar-se de algumas coisas materiais e fazer sacrifícios é conhecido como a

QUASE TODOS OS POR-TUGUESES ESTÃO FA-MILIARIZADOS COM O CONCEITO DA QUARES-MA, SOBRETUDO NO QUE TOCA AO “SACRIFÍ-CIO” DE NÃO SE COMER CARNE NAS SEXTAS-FEIRAS

Procissão do Enterro do Senhor, na Semana Santa de Braga

Peregrino vislumbra a Catedral de Santiago de Compostela

Procissão das Pinhas na Barroca, aldeia do concelho do Fundão

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DESTAQUE

Quaresma. O “sacrifício” mais recor-rente dita que se deve evitar comer carne às sextas-feiras, por respeito à crucificação de Jesus Cristo, que também aconteceu neste dia da se-mana. Esta tradição teve início numa época em que a carne era um alimen-to apenas acessível aos mais ricos.

Outras privações

As privações da Quaresma são conhecidas e praticadas na maior parte dos países católicos, mas há outras que são exclusivas a determi-nadas regiões portuguesas. Durante o domingo de Ramos (domingo antes da Páscoa), os habitantes de muitas aldeias do distrito da Guarda têm como tradição não comer verduras nem irem às hortas.

Benzer o ramo

No domingo de Ramos, os afilha-dos devem levar um ramo à igreja para ser benzido pelo pároco local com água benta. No mesmo dia, este ramo é oferecido à madrinha e/ou ao padrinho. O tipo de ramo varia em várias localidades portuguesas, sen-do que um dos mais comuns é o ramo de oliveira.

Oferecer o folar

O padrinho e a madrinha de batismo, que no domingo de ramos receberam o ramo, têm o dever especial de no próprio dia de Páscoa entregarem ao afilhado o folar de Páscoa. Este “folar” tanto pode ser a iguaria gastronómica com o mesmo nome (ex: folar de Chaves ou folar de Olhão), como uma prenda ou mesmo dinheiro.

Desfazer o folar

Convívio das famílias na segunda-feira a seguir à Páscoa, no qual a co-mida que restou das celebrações do dia anterior é levada para uma zona ao ar livre (num parque de merendas ou junto a um rio), e é feito um pique-nique. Esta tradição é praticada em concelhos em que este dia é feriado municipal, como Freixo de Espada à Cinta e Penamacor.

A PÁSCOA É UMA DAS ÉPOCAS PREFE-RIDAS PELOS PORTU-GUESES A RESIDIR NO ESTRANGEIRO PARA VOLTAREM AO PAÍS DE ORIGEM

Folar de Chaves, exemplo de folar oferecido aos afilhados

Folar de Páscoa, zona de Lamego

Bolo dormido

Pão de ló

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A MANHÃ EM QUE JESUS BATE À PORTA DOS PORTUGUESES

VISITA PASCAL

Compasso ou visita pascal. Dois nomes para a mesma prática, provavelmente a mais original entre as que ocorrem em Portugal durante a Páscoa. Em

centenas de localidades por todo o país, com principal incidência em aldeias nortenhas, Jesus Cristo bate à porta dos portugueses na manhã em que se assinala a ressurreição do redentor.

O som de uma sineta, normalmente tocada por um jovem, anuncia a che-gada do pároco local, acompanhado por um conjunto de acólitos, um dos quais com um crucifixo. O itinerário a seguir por esta comitiva é ditado pelas inscrições para receber a visita.

Nalguns pontos do mapa o número das inscrições comprova a desertifica-ção da povoação, o que é mais comum nas aldeias do interior. Noutros, as inscrições são tantas, que outros cató-licos são chamados a replicar a tarefa do padre. Outra alternativa passa por alargar a prática do compasso à segunda-feira ou ao domingo seguin-te, também conhecido como Pascoela.

As provas do valor que alguns católi-cos dão “à visita do Senhor” exprimem--se de diferentes formas. Há quem escolha esta época do ano para pintar

o exterior da casa, como há quem encha de pétalas o chão do percurso desde o portão do jardim até à porta de casa. Algumas famílias enchem as mesas de comida e bebida, e convidam os visitantes a entrar e conviver.

O padre ou um dos acólitos encarrega-se de benzer a casa e todos os membros da família. “Casa benzida é casa abençoa-da”, diz a sabedoria popular. Para alguns católicos este ritual anuncia uma etapa da sua vida, libertando-os assim de todas as angústias e preocupações anteriores.

Ter m i nada a bênção, os residen-tes beija m o cr uci f i xo, a começa r pelo chefe de fa m í l ia , como prov a da ador ação a Cr isto. No f i na l dão o seu cont r ibuto pa r a ajuda da Ig reja , o cha mado fola r, que pode ser em d i n hei ro ou em géneros.

Estes são os pr i ncipa is pa ssos que ret r ata m o compa sso, a ma n hã em que Jesus bate à por ta dos por t u g ueses. “A pa z esteja nesta ca sa . Cr isto Ressuscitou, a lelu ia , a lelu ia”.

Crianças participam na visita pascal em Pico do Tanoeiro, aldeia madeirense no concelho de Santana

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES30

DESTAQUE

Isabel Zibaia Rafael, que assina o blogue www.cincoquartosdelaranja.com e os livros Cozinha para Dias Felizes e Delicioso Piquenique, partilha com

a diáspora as práticas gastronómicas que marcam a Páscoa em diversas regiões portuguesas. A autora ensina a fazer as suas receitas no programa televisivo A Praça, transmitido

para todo o mundo pela RTP Internacional.

Páscoa, A FESTA À VOLTA DA MESA

As tradições religio-sas influenciam os desejos e as vontades à volta da mesa e mesmo os que não são pra-ticantes, seguem os hábitos e os costumes

das festas. A seguir ao Carnaval entra-se no período de Quaresma, com um adeus ao consumo de carne. Mas a Páscoa quebra o jejum e a abstinência nos repas-tos. A chegada da primavera inspira a uma mesa farta nesta altura do ano. E a Páscoa, que representa a ressurreição de Cristo, é sinónimo de festa em família, é tempo de pôr fim à penitência da mesa e celebrar a vida.

De norte a sul do país encontramos tradições gastronómicas associadas a esta época festiva em que se destacam ingredientes como as amêndoas, o bor-rego, o cabrito, o galo, o leitão e um dos grandes símbolos desta quadra, o ovo, sem esquecer o pão e o bom vinho que por cá se produz. Em algumas localida-des do centro e norte do país há até um enterro simulado do bacalhau, realizado sempre na Sexta-feira Santa, feito com muita animação.

Ovo, um dos símbolos da Páscoa

O ovo é um dos símbolos da Páscoa. De há uns anos para cá, são muito comuns os ovos de chocolate, alguns recheados com pequenas surpresas que fazem as alegrias das crianças, assim como os coelhos, figura associada também a esta quadra. Diz a lenda que uma mulher pobre coloriu alguns ovos para oferecer aos filhos e os

escondeu. Quando as crianças os desco-briram, apareceu um coelho a correr de-senfreado. E foi assim que nasceu a ideia de que o coelho tinha trazido os ovos.

O ovo simboliza a fertilidade, con-tém em si o germe de uma nova vida, associa-se ao nascimento e à renovação. São muitas as receitas pascais em que o ovo aparece, tanto na preparação como enquanto elemento decorativo.

Folar de rosas com doce de gila e amêndoa

Pão-de-Ló de Alfeizerão

Bolinhos de amêndoa

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Ingredientes para 6 pessoas

• 1 perna de borrego (1,5 kg)• 4 dentes de alho• 2 hastes de alecrim• 500 g de batatas• 450 g de tomate• 100 ml de azeite• 100 ml de vinho branco• 1 pitada de piripiri moído• Sal e pimenta-preta q.b.

Ingredientes

• 6 ovos• o mesmo peso dos ovos de açúcar• metade do peso dos ovos de farinha

Preparação: 1. Cortar os dentes de alho em quatro.2. Fazer pequenos cortes na perna de borrego e colocar o alho.3. Retirar os pequenos raminhos das hastes de alecrim. Fazer pequenos cortes na carne e colocar o alecrim.4. Temperar a carne com sal, pimenta e um pouco de piripiri.5. Descascar e cortar as batatas ao meio.

Colocá-las num tabuleiro de forno. Por cima, dispor a perna de borrego.6. Regar com o vinho branco e de seguida com o azeite.7. Levar ao forno pré-aquecido a 200ºC durante 1h45 minutos. 30 minutos antes, colocar o tomate cortado em gomos no tabuleiro.8. Retirar do forno. Deixar descansar cerca de 10 minutos e servir.

Preparação: 1. Bater os ovos muito bem.

2. Adicionar o açúcar e bater novamente muito bem.

3. Envolver a farinha cuidadosamente.

4. Untar uma forma de buraco com manteiga e levar durante 40 minutos ao forno pré-aquecido a 190ºC.8. Retirar do forno. Deixar descansar cerca de 10 minutos e servir.

Perna de borrego assada no forno com alecrim

Pão-de-ló

Encontramos uma variedade de folares doces e de folares de carnes feitos para partilhar à mesa nesta época do ano. Dos folares doces gosto particularmente deste folar de rosas com doce de gila e amên-doa. E com ovos faz-se também o bolo ninho, com cobertura de doce de ovos ou chocolate e no meio um ninho recheado com fios de ovos e amêndoas.

Tradicional é também o Pão-de-ló. Encontramos entre outros, os muito apreciados, Pão-de-ló de Alfeizerão e o Pão-de-ló de Margaride. Dependendo da zona marcam presença habitual na mesa portuguesa nesta altura do ano.

Amêndoa, parte da tradição

Um dos ingredientes mais utilizados na Páscoa é a amêndoa. Faz parte da tradição dar e receber amêndoas à família e aos amigos, num gesto de partilha e amizade. A oferta no mercado é variada, encontra-mos cobertas com açúcar, lisas e coloridas, com chocolate, com canela. De grande re-nome são as amêndoas cobertas de Torre de Moncorvo, de fabrico artesanal, e as de Portalegre feitas com amêndoa da região. Este fruto seco no cristianismo simboliza Jesus Cristo, a natureza humana oculta a sua natureza divina, assim como a casca dura esconde o fruto doce e suculento. Por isso, a amêndoa entra na confeção de mui-tos doces de Páscoa como estes bolinhos de amêndoa.

A Páscoa é tempo de juntar a família à mesa!

Na versão digital da revista, clique em cima das palavras sublinhadas para aceder às respetivas receitas no blogue www.cincoquartosdelaranja.com

Saiba mais

www.cincoquartosdelaranja.com/2011/03/desafio-conte-me-sua-receita.html

www.cincoquartosdelaranja.com/2015/07/perna-de-borrego-assada-no-forno-com-alecrim.html

Isabel Zibaia Rafael

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES32

DESTAQUE

Sugestões

Para o afilhado mais novo

Para a afilhada apaixonada pela natureza

Para o afilhado saudável

Nesta Páscoa celebre

PortugalPortugal é um país cheio de

tradições. A celebração da Páscoa é uma delas. Se é padrinho ou

madrinha deve preparar-se para esta época festiva, cuja tradição

diz que deve oferecer algo aos seus afilhados no Domingo de Páscoa.

A Revista PORT.COM ajuda-o nesta (difícil) escolha.

Bonecos em chocolateEsqueça as tradicionais amêndoas ou o ovo de chocolate de sempre e opte por este delicioso sortido de bonecos de chocolate de leite, da Arcádia, para

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Para a afilhada na moda

Para o afilhado desportista

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www.revistaport.com 33

URISMOT

Na pequena vila do distrito de Bragança pratica-se um ritual pascal que lhe é exclusivo. Os Sete Passos fazem descer até à terra de Guerra Junqueiro um ambiente sinistro e até

arrepiante. O Rebentar do Judas, os bolos dormidos e o dia da desfeita do folar são outros elementos distintivos durante a época.

VISITAR FREIXO DE ESPADA À CINTA

PELA PÁSCOA

TEXTO: LUÍS CARLOS SOARES

TIA

GO

RE

NT

ES

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES34

Freixo de Espada à Cinta é uma das localidades portu-guesas que preservam um vasto conjunto de tradições pascais que a distinguem da generalidade do país. Não se trata apenas do compas-

so, que é praticado pelo pároco local, ou de um folar característico. Existem tradições que lhe são exclusivas, como é o caso da confeção de bolos dormidos e sobretudo da realização dos Sete Passos.

Desenganem-se aqueles que pensem que a procissão Ecce Homo, na Semana Santa de Braga, é a mais sombria e até arrepiante das tradições pascais portu-guesas. Os Sete Passos de Freixo de Es-pada à Cinta criam um ambiente ainda mais sinistro, tanto através da imagem como pelos sons transmitidos.

Nas sete sextas-feiras da Quaresma, ou seja, entre o Carnaval e a Páscoa, a partir da meia noite são apagadas todas as luzes da vila. Ao contrário do que acontece em Braga, aqui os cidadãos não estão autorizados a circular pelas ruas. O acesso a estas torna-se limitado, com protagonismo para um conjunto de homens locais tornados irreconhecíveis por estarem encapuchados de negro.

Dois destes homens arrastam pelo chão de granito, a um compasso certo de sete vezes, diversos ferros unidos por uma corrente, que causam um som estri-dente, para alguns até medonho.

Segue-se um outro elemento também irreconhecível pelas vestes pretas, que caminha muito lentamente vergado sobre si mesmo, com uma lamparina acesa numa mão e noutra uma vara na qual se apoia. Chama-se a “Velhinha”. Ao pescoço transporta uma bota (reci-

piente) de vinho para dar de beber aos populares que se ajoelhem e solicitem respeitosamente o sangue de Cristo.

Atrás da “Velhinha” segue um grupo de cantadores que entoa cânticos em Latim e Português alusivos à morte de Cristo. Este ambiente de mistura entre o religioso e o pagão torna-se ainda mais fúnebre devido à passagem obrigatória por todos os cruzeiros da vila.

As procissões e o “traidor” a explodir

A Procissão dos Passos, realizada na sexta-feira santa, é bem mais concorrida do que os Sete Passos, porque assim é permitido. Os locais reúnem-se num curto trajeto inferior a 100 metros, entre a Igreja da Misericórdia e a Igreja

Matriz, que ainda assim demora cerca de duas horas a ser percorrido.

No domingo de Páscoa há uma outra procissão, que a meio do percurso se cruza com mais um momento caracte-rístico da época em Freixo de Espada à Cinta, o Rebentar do Judas. Um boneco de palha do tamanho de um homem é

TURISMO

Igreja Matriz, ponto de partida e de chegada da procissão do domingo de Páscoa. À esquerda pode ver-se a Torre do Galo e o freixo que dá nome à vila

Bolos dormidos a cozer em forno de lenha

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pendurado a uma árvore, com explosi-vos no seu interior. Quando a procissão passa por este local, o rastilho é acesso e o boneco explode, com a população a aplaudir por ver vingada a morte de Cristo.

Terminada esta procissão matinal, os conterrâneos de Guerra Junqueiro re-colhem a casa para o almoço de Páscoa. Depois do cordeiro, o prato mais comido na região durante este dia, chegam à me-sa os bolos dormidos, que simbolizam o folar em Freixo.

Levar os dormidos e as empadas à Congida

Os dormidos, que são bolos doces co-zidos em forno de lenha, devem o nome ao processo de confeção praticado nos tempos idos, quando eram amassados à mão pelas mulheres da região e que com a ajuda de fermentos caseiros levavam horas a levedar, ou seja, “demoravam a acordar”. Para além destes, da gastrono-

mia local típica da época fazem parte as empadas de carne.

As freixenistas que confecionam os dormidos e as empadas, fazem-no já a contar com o piquenique da segunda-feira a seguir à Páscoa, que é feriado municipal. As famílias levam comida e bebida para o campo, preferencialmente para a praia fluvial da Congida, que é banhada pelo Douro, ou também para o Penedo Durão, um miradouro impres-sionante sobre o mesmo rio. A este hábito chama-se a desfeita do folar.

Quem não tiver casa própria ou família em Freixo de Espada à Cinta, e queira passar a Páscoa à freixenista, pode ficar alojado também na Congida, concretamente nas moradias do Douro Internacional, pequenas casas com vista para o rio que mais território percorre em Portugal e para a margem da vizinha Espanha, a apenas três quilómetros do centro da vila.

No regresso a casa, a paisagem encarre-ga-se de fazer o convite para um regresso, por exemplo em época de amendoeiras em flor. Convém guardar espaço na mala do carro para transportar as laranjas, o vinho e o azeite da região.

A “Velhinha” dos Sete Passos

Rebentar do Judas

SAR

A A

LVES

Congida, a praia fluvial no Douro onde os freixenistas desfazem o folar

Empada freixenista pronta a ser levada para a desfeita do

folar

TIA

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES36

TURISMO

Breves

Funchal no 10.º lugar da reputação hoteleira a nível mundial

Passadiços do Paiva voltam a receber turistas

Britânicos e franceses são os que mais visitam os parques de Sintra

Companhia brasileira Azul prepara ligação a Lisboa

Dois hotéis madeirenses entre os 20 melhores da Europa

No ranking do motor de busca Trivago das 100 cidades com melhor reputa-ção hoteleira do mundo, pela primeira vez uma cidade portuguesa ficou entre os dez primeiros. O Funchal ficou pre-cisamente no 10.º lugar. Porto e Lisboa são as outras cidades portuguesas na lista, nos 48.º e 52.º lugares, respe-tivamente. O ranking é liderado por Göreme, na Turquia. Destinos como Paris, Londres e Barcelona ficaram fora dos 100 primeiros.

O passadiço sobre as escarpas do rio Paiva, em Arouca, reabriu ao público em fevereiro, com a afluência limitada a 3 500 visitantes diários, o que passou a obrigar ao controlo das entradas, que agora custam um euro. A estrutura de 8 km inaugurada em junho rapidamen-te se tornou uma atração turística da região, pela sua paisagem natural ao longo das margens do rio e através de áreas até então intocadas, mas cerca de 600 metros desse percurso foram destruídos em setembro num incêndio.

Os nove parques e monumentos sob gestão da Parques de Sintra, localiza-dos no município sintrense, receberam 87,35% estrangeiros entre os mais de dois milhões de visitas (2 233 594) em 2015. Os países com maior expressão foram o Reino Unido (19,25%), França (13,24%), Portugal (12,65%) e Espanha (11,43%). O Palácio Nacional da Pena (na foto) é o polo que recebe o maior número de entradas, sendo que no ano passado ultrapassou pela primeira vez um milhão de visitas – 1 082 736.

A 3.ª maior companhia aérea do Brasil anunciou recentemente a sua primeira ligação para a Europa, entre Campinas, em São Paulo, e Lisboa. O início está marcado para 4 de maio, com uma rota de três voos por semana. A operação será realizada com aviões Airbus A330.

O portal TripAdvisor não tem qualquer ligação empresarial ao Trivago, mas os utilizadores de ambos parecem concordar na qualidade da oferta hoteleira madeirense. Na edição de 2016 dos prémios Traveller’s Choice, atribuídos de acordo com as classi-ficações atribuídas no TripAdvisor, o Hotel Albergaria Dias, no Funchal, ficou no 12.º lugar dos melhores hotéis da Europa, poucos lugares à frente de outro hotel da capital madeirense, a Quinta Jardins do Lago.

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OS NOVOS VOOS QUE CHEGAM E PARTEM DO PORTOCom mais TAP ou menos TAP, o Aeroporto Francisco Sá Carneiro conta com novas rotas, e o reforço de outras já existentes, promovidas por companhias aéreas internacio-nais. Madrid, Valencia, Lyon, Dublin, Londres, Liverpool e Varsóvia são os destinos para e desde os quais aumenta a oferta.

Ryanair reforça para oito cidades

Aigle Azur cria rota para Lyon

Wizz Air chega desde Varsóvia

British Airways multiplica ligação a Londres

A companhia aérea de baixo custo vai reforçar a sua operação no Porto, estratégia na qual inclui três rotas sus-pensas pela TAP: Bruxelas, Milão e Bar-celona. Passará a voar para a cidade espanhola duas vezes por dia, e para cidade italiana 11 vezes por semana. Na capital da Bélgica haverá reforços em dois aeroportos, que somarão 15 voos semanais. Madrid, Valencia, Dublin, Liverpool e Varsóvia são as outras ci-dades para as quais as rotas da Ryanair serão reforçadas.

A companhia aérea privada francesa vai reforçar a sua oferta para o Porto com o lançamento de uma nova rota de e para Lyon. A nova ligação, que se estreia dia 27 deste mês, vai contar com três voos por semana, às quin-tas, sextas e domingos. Portugal é o segundo destino mais importante para a Aigle Azur a seguir à Argélia.

A companhia aérea polaca de baixo custo vai passar a ligar Varsóvia ao Porto, depois de já ter começado a voar de e para Lisboa. A ligação tem início a 15 de maio, com dois voos se-manais, às quartas e domingos.

A British Airways tinha saído do Porto há 15 anos, regressou em 2014 com dois voos semanais para Heathrow, mas a partir de dia 26 deste mês passa a ter voos diários entre o Aeroporto Sá Carneiro e Londres/Gatwick. A compa-nhia aérea tem publicitado na impren-sa britânica os seus voos de Londres para o Porto, prova da aposta que está a fazer na cidade Invicta.

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Já atuou em quase todos os países onde existem as maiores comunidades por-tuguesas, desde a Austrália à África do Sul, Venezuela ou Angola. Diz mesmo que nos EUA e no Canadá, onde

Joaquim de Magalhães Fernandes Bar-reiros viu nascer o Quim Barreiros, se sente como se estivesse em casa. O autor de êxitos como “A cabritinha”, “Chupa Teresa”, “Quero cheirar teu bacalhau” e “A garagem da vizinha” sentou-se à me-sa do restaurante Oxalá, em Ovar, para conversar com a Revista PORT.COM.

Este ano comemora 45 anos de car-reira. Quando é que começou a atuar nas comunidades portuguesas?

Comecei a receber convites quando tocava nas casas de fado em Lisboa, tinha 22 anos. Em 1971 recebi o convite, por parte do empresário Francisco Pe-nha, para acompanhar o fadista António Mourão aos EUA e ao Canadá, na altura em que ele tinha um grande sucesso em Portugal com uma música chamada “Ó tempo volta para trás”. Foi a minha pri-meira saída para a emigração. E a partir daí nunca mais parei.

Na sua opinião, existem particu-laridades que distingam enquanto público de um concerto os portugue-ses no estrangeiro dos portugueses que continuam em Portugal?

Não acho que existam. Há só aquela

parte mais emotiva, mais sentimental, o estarem longe da terra. Mas também já me apercebi de uma coisa importante: via mais apego há anos atrás, mais senti-mento de saudade, porque antigamente não havia nada e hoje as televisões entram na casa deles todos os dias, o que os mantém mais informados, mais junto de nós. A Internet também veio ajudar, eles agora falam com a família pelo WhatsApp e pelo Skype quase todos os dias. Portanto a saudade diminuiu um bocadinho, embora, ainda hoje corra to-das as comunidades nas grandes festas portuguesas, seja nos Estados Unidos, Canadá, Venezuela, Brasil, Austrália, África do Sul, Angola e toda a Europa.

ULTURAC

“FOI ENTRE A EMIGRAÇÃO

PORTUGUESA QUE NASCEU O QUIM

BARREIROS”No ano em que comemora 45 anos de carreira, Quim Barreiros

prepara um disco novo (mantendo a tradição de lançar um por ano) e tem concertos por todo o mundo onde há

compatriotas. Nem o recente caso de plágio por parte de um músico holandês lhe perturba o típico bom humor.

ENTREVISTA: MÁRCIA DE OLIVEIRA

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Sempre com muita música e alegria. E a minha música serve realmente para uma grande festa da emigração.

Fora do país não são só as comuni-dades portuguesas que apreciam a sua música. Também há, por exem-plo, muitos galegos que são seus seguidores. Considera-se um embai-xador da proximidade entre a língua portuguesa e a galega?

Há muitos galegos que gostam do meu trabalho e da nossa música portuguesa, porque normalmente os galegos estão as-sociados a nós e estão presentes onde há emigração nossa. Basta olhar para o Ca-

nadá, para a Venezuela ou para o Brasil. Onde há um bom restaurante português, também há um galego ao lado, onde há uma padaria portuguesa, ao lado há um supermercado onde o sócio é galego. É um povo irmão, por isso damo-nos muito bem com eles. Não me considero um em-baixador, embora na Galiza me estejam sempre a convidar para ir aos programas de televisão, até porque tenho um grande sucesso lá que é a “Cabritinha”, mas não tenho muita vida para isso.

Quais são os concertos que deu no estrangeiro que se tornaram inesque-cíveis? Porquê?

Ando há mais de quatro décadas a fazer concertos em tudo o que é sítio, já percorri as comunidades portuguesas em todo o mundo de forma destemida. E, normalmente, sou bem-recebido em todo o lado. Por isso todos os concertos são inesquecíveis para mim. O facto de ver a alegria na cara dos portugueses que estão emigrados quando me ouvem a cantar, e de considerarem que levo um pouco de Portugal aos seus países de acolhimento, para mim já é um bom motivo para tornar os concertos ines-quecíveis. Mas talvez sejam os concertos da América do Norte que me deixam mais marcas, porque é como se estives-se em casa. Afinal foi no Canadá e nos EUA, entre a emigração portuguesa, que nasceu o cantor Quim Barreiros, depois de, como já disse no início, ter sido con-vidado pelo Francisco Penha, que estava em New Bedford, para ir fazer os meus primeiros concertos fora de Portugal.

Considera que a indústria da músi-ca portuguesa seria a mesma se não existissem os emigrantes?

Todos os portugueses são impor-tantes para divulgar a música por-tuguesa, estejam em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo. Os emigrantes são os portugueses que levam a música nacional mais longe, porque é sobretudo por causa deles, para estarmos mais perto deles, que levamos as nossas músicas a todos os países onde existem comunidades portuguesas.

Ensinar o Português… e a malandrice

Haver muita emigração de portugueses é um ponto a favor ou contra o país?

“O FACTO DE VER A ALEGRIA NA CARA DOS PORTUGUESES QUE ESTÃO EMIGRADOS QUANDO ME OUVEM A CANTAR, E DE CONSIDERAREM QUE LEVO UM POUCO DE PORTUGAL AOS SEUS PAÍSES DE ACOLHIMENTO, PARA MIM JÁ É UM BOM MOTIVO PARA TORNAR OS CONCERTOS INESQUECÍVEIS”

Fotografia com portugueses no Centro Cultural Português de Danbury, no Canadá

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CULTURA

A emigração faz parte do povo portu-guês. No século XV começámos a nave-gar e a descobrir o mundo e nunca mais parámos. Por vezes há partidos que se servem da emigração para desculparem o facto de as pessoas terem de ir para fora de Portugal. Eu acho que até é bom que emigrem e digo isso mesmo ao meu filho: “Vai-te embora daqui para fora, vai à América, vai ao Canadá, vai ali, vai acolá”, porque é muito bom para esta gente nova abrir os olhos para o mundo que está lá fora. Assim eles podem aprender uma língua diferente como o Inglês, que hoje é fundamental, ganham dinheiro e conhecem novos amigos. Isto é muito importante para a malta nova, como era importante o serviço militar, que acabou e eu sou contra isso. Toda a gente devia cumprir um ano de serviço militar para tirar o pessoal das aldeias, para os juntar, para formarem amizades e abrirem os olhos. Se não fosse a tropa, eu não era o Quim Barreiros.

O Minho, de onde é natural e onde reside, é uma região onde muitos emigrantes voltam no verão. O que lhe dizem quando se cruzam consigo na rua?

Não dizem nada, querem é tirar foto-grafias, tirar as selfies, pedem autógra-fos, admiram-me, gostam de mim. Se me admiram lá, nas comunidades, também me admiram aqui, não é? [risos]

Pela sua experiência, nota diferen-ças no discurso e na forma de vida dos emigrantes ao longo dos tempos? Acha que agora vivem melhor do que antigamente, que a integração é mais fácil ou que a saudade não é tanta?

Não acho que o discurso seja dife-rente, porque existe sempre a chamada

“saudade” tão característica dos por-tugueses. No entanto, esta emigra-ção mais recente já tem mais cultura. Hoje a malta mais nova vai, emigra e vive a vida, não é como antigamente quando iam para trabalhar e poupar para voltar para Portugal. Agora aqueles que querem comprar uma casa já compram lá, não voltam para cá, porque a ideia deles já passa por se integrarem nesses países.

Considera que a música é um ele-mento importante para a preserva-ção da língua portuguesa entre os lusodescendentes? De que forma?

Claro que é. Eu vendo muitos discos aos lusodescendentes, que ao cantarem as minhas músicas apren-dem o Português e também a malan-drice [risos]. A língua é um veículo de união e a música é um elo muito importante.

A ajuda do povo para escrever canções

Onde é que se baseia para escrever letras de um humor tão genuíno e particular como as suas?

Isto é uma característica que já é nossa, eu não inventei nada. Quem estudou Português sabe que na nossa literatura antiga estão as cantigas de amigos, as cantigas de maldizer, o duplo sentido… Está lá tudo. Eu só pego nisso, que não havia nas músicas, e dou-lhe outra roupagem. No panorama musical de Por-tugal, faltava alguém que seguisse esse caminho, e eu “agarrei” nele. Além disso, o próprio povo também me ajuda, porque me vão dando ideias quando passo pelas diversas terras onde atuo. Uma dessas ideias veio do reitor da Universidade de Vila Real, o Mascarenhas. Ele deu-me a ideia do “depois do 31 de julho entra (a)gosto” para a música “O melhor dia para

Quim Barreiros junto do seu amigo Fernando Tavares Pereira, com parte da equipa do restaurante onde foi entrevistado pela Revista PORT.COM

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casar”. E daí surgiu a canção que ainda hoje é um sucesso. E há muitos noivos neste país, que procuram essa data para casar, exatamente devido à cantiga.

Alguma vez se inspirou nos portu-gueses que estão lá fora para fazer uma canção?

Na emigração? Não, por acaso acho que não, mas é uma boa ideia para uma das próximas canções.

Onde tem espetáculos previstos para março e abril?

Em março vou visitar as comunida-des portuguesas no Brasil e no dia 2 de abril vou estar no sudeste de Paris, em Brie-Comte-Robert, para um grande espetáculo. Em novembro vou ainda fazer uma digressão pelas comunidades portuguesas nos EUA, que vai passar por Newark e outras cidades dos estados do Connecticut, Massachusetts, Virgi-nia e Pensilvânia.

O Quim Barreiros tão depressa atua numa num arraial numa cidade, numa festa de aldeia, numa semana académica ou no estrangeiro para as comunidades. A sua música passa em novelas e até filmes. Considera-se o músico português capaz de chegar a mais diversos tipos de públicos?

Considero, porque é como acabaste de dizer, tanto toco numa queima das fitas, como toco na aldeia mais remota de Portugal em cima de um trator. Por isso, não tenho qualquer tipo de pro-blema em afirmar que chego a diversos públicos.

Quem foram os seus mentores?

Eu tive a felicidade de, na minha vida, ter encontrado grandes músicos portugueses que, quando eu errava, chamavam-me à atenção. Eu gostei de trabalhar com o Fernando Ribeiro, campeão do mundo do acordeão, que me ensinou muito, Francisco José, o Tony de Matos, o guitarrista Jorge Fontes… Homens que me ensinaram a ser homem.

Recentemente utilizou a sua página no Facebook para mostrar uma música holandesa cujo ritmo é tal e qual “Gara-gem da Vizinha”. Como é que encarou esta situação de plágio?

Não fui eu que mostrei, até foi o meu filho que colocou lá isso, porque eu ainda sou um homem à antiga, não utilizo muito essas modernices do Facebook. Eu até acho que é uma situação bonita, e não de plágio. Fiquei muito contente por uma das músicas que lancei em Portugal ter sido tocada na Holanda, e Deus permita que seja tocada por todo o mundo. Isso é bom para mim.

Disco novo nas próximas semanas

Em média costuma lançar um disco por ano. O de 2016 já está pronto? Quan-do será lançado?

Não, ainda não está pronto. Só será lan-çado entre abril e maio deste ano. Ainda não quero falar sobre isso, porque estou num país onde, se eu abrir a boca antes que “a festa saia”, já vem outro fazer uma cantiga parecida.

Quais são os músicos portugueses que mais aprecia?

Gosto muito dos autores portugueses como o Rui Veloso, o Abrunhosa, o Jorge Palma, o Paulo Gonzo, também gosto de algumas músicas do Tony Carreira, fados do Carlos do Carmo, da Ana Moura… Gosto daquilo que é bom, do que entra cá dentro.

Fora da música, tem alguns projetos para o futuro ?

Projetos futuros é ter saúde e umas férias ao sol [risos]. E isso é que é o meu gozo, depois o resto vem por acréscimo.

“FIQUEI MUITO CONTENTE POR UMA DAS MÚSICAS QUE LANCEI EM PORTUGAL TER SIDO TOCADA NA HOLANDA, E DEUS PERMITA QUE SEJA TOCADA POR TODO O MUNDO. ISSO É BOM PARA MIM”

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Em Coimbra existem dois quadros de tamanho generoso que retratam Cristiano Ronaldo, sob o nome “CR7 Imprensa” e “CR7 – O horizonte é o limite”. O primeiro dos

dois, ambos da autoria do conimbri-cense Victor Costa, foi feito com base em seis anos de recortes de imprensa alusivos ao capitão da seleção portugue-sa de futebol.

“Recortei e guardei tudo o que via na imprensa sobre Cristiano Ronaldo. A ideia era reconstruir a imagem dele através do que a imprensa nos relata”, recorda o artista, que tem trabalhos em exposição numa galeria no piso térreo da Torre do Arnado, na cidade dos estudantes.

Feita a recolha de imprensa, foi “só” selecionar as fotografias de acordo com as tonalidades, para delinear o rosto, colar e, com recurso à técnica das agua-relas, terminar o trabalho de mestre.

O segundo quadro, “CR7 – O horizon-te é o limite”, foca o olhar o futebolista madeirense. Na opinião do pintor, a am-

bição e a perseverança de CR7 são “pro-vavelmente aquilo que mais o identifica com a comunidade portuguesa, essa força de vencer quando nos atiramos ao trabalho com objetivos, com foco, de darmos o possível e o impossível para termos sucesso”.

Os quadros já justificaram a troca de contactos com elementos da Gestifute

(a empresa de Jorge Mendes, o princi-pal agente de CR7) e ligados ao museu itinerante sobre o futebolista.

Victor Costa sabe que Cristiano Ronaldo já viu fotografias dos quadros e aguarda por uma oportunidade para lhe oferecer um. Quem sabe se não poderá fazê-lo como agradecimento à conquis-ta do próximo Europeu de futebol.

SEIS ANOS DE RECORTES RESULTAM EM RETRATO DE CRISTIANO RONALDO

Victor Costa guardou, durante seis anos, todos os artigos da imprensa que encontrou sobre CR7, matéria-prima que deu origem a uma das obras do seu

reportório. O pintor conimbricense deseja oferecer um quadro ao futebolista.

CULTURA

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Breves

Lisboa capital Ibero-americana da Cultura em 2017

Cristina Branco leva fado a festival literário em Macau

Inscrições para concurso de novos escritores lusófonos disponíveis até ao final do mês

Documentário sobre portugueses

no Luxemburgo chega aos cinemas

A maior cidade portuguesa vai ser a Capital Ibero-americana da Cultura em 2017, na sequência de uma candidatura apresentada na qualidade de membro da União das Cidades Capitais Ibero-Americanas (UCCI). Este acontecimento proporcionará a realização de vários eventos que associem as culturas dos pa-íses ibéricos, da América Central e do Sul.

O Santuário de Fátima convida todos os fotógrafos, nacionais e estrangeiros, amadores e profissionais, a participar no prémio de fotografia que integra o programa de celebrações do Centenário das Aparições. O concurso inclui quatro categorias (“Retrato Humano”, “Pai-sagem”, “Espiritualidade e Mensagem: práticas e ritualidade” e “Fotonarrati-va”), todas premiadas monetariamen-te. O melhor trabalho no conjunto das categorias também será premiado. Os autores podem concorrer com um máximo de dois trabalhos fotográficos por categoria, até 13 de outubro deste ano. O regulamento completo pode ser consultado em www.fotografia.fatima.pt.

As candidaturas para o Prémio Lite-rário UCCLA - Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa estão disponíveis até 31 de março. Esta inicia-tiva da pretende estimular a produção de obras literárias em língua portugue-sa por novos escritores. O autor ven-cedor será convidado a participar no Encontro de Escritores de Língua Por-tuguesa, promovido anualmente pela UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa). O regulamento do concurso está disponível em www.uccla.pt/premio-literario-uccla

Prémio de fotografia sobre Santuário de Fátima

A fadista atua a 12 de março no Centro Cultural de Macau, a convite do Festi-val Literário Rota das Letras, que leva ainda até à cidade chinesa uma inter-pretação de “Os Lusíadas”, por parte do ator António Fonseca. O poeta por-tuguês Camilo Pessanha, que faleceu há 90 anos, será homenageado nesta quinta edição do festival organizado pelo jornal Ponto Final, que decorre entre os dias 5 e 19 deste mês.

“Eldorado”, o primeiro filme so-bre a imigração portuguesa no Luxemburgo, chega aos cinemas luxemburgueses a partir de 16 de março. Durante três anos, os rea-lizadores Thierry Besseling, Loïc Tanson e Rui Abreu (este último português) acompanharam a his-tória de quatro imigrantes lusófo-nos (três portugueses e um cabo-verdiano) à procura do “Eldorado” luxemburguês. Depois da antes-treia no Festival de Cinema do Lu-xemburgo, em fevereiro, este mês vai ter várias sessões de exibição nos cinemas Utopolis na cidade do Luxemburgo e em Belval.

Jonathan, um adolescente

com dificuldades de integração na escola

luxemburguesa, é um dos portugueses retratados

no documentário

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES44

ESPORTOD

Ricardinho é o melhor do mundo com uma bola nos pés dentro do pavilhão, mas na areia dificilmente conseguirá igualar as performan-ces de Madjer. O pri-

meiro é treinado na seleção portuguesa por Jorge Braz e o segundo por Mário Narciso. Apesar das diferenças assina-láveis entre futsal e futebol de praia, um mesmo português é o selecionador nacional do Bahrein nas duas modali-dades.

Desde meados de 2014 que João Almeida acumula os dois cargos num país onde o conjunto nacional de futebol de praia já conta com algum currículo (tendo participado em três campeonatos do mundo e sido número um a nível asiático entre 2005 e 2009), mas o de futsal dá apenas os primeiros passos. Foi nesta segunda modalidade

SELECIONADOR EM DOSE DUPLA

NO BAHREINJoão Almeida é o treinador principal das seleções de futsal e futebol de praia de um país onde não

há Ricardinhos nem Madjers, mas todos conhecem Cristiano Ronaldo e Mourinho. No pavilhão ou no areal, são vários os desafios que compõem a carreira deste conimbricense de apenas 29 anos.

TEXTO: LUÍS CARLOS SOARES

O preparador-físico brasileiro José Carlos Ferreira e o treinador português João Almeida com os símbolos da federação do Bahrein

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www.revistaport.com 45

que o conimbricense de apenas 29 anos começou o seu percurso como treina-dor, já há 12 anos.

Da sua evolução profissional até ao primeiro projeto fora do país fizeram parte momentos como a temporada em que conduziu uma equipa composta por jogadores de bairros problemáticos de Coimbra até ao vice-campeonato nacional de juvenis: “Foi um feito gigante com todos aqueles miúdos, hoje grandes amigos, que chegavam a passar dias comigo a limpar o pavilhão, a lavar os equipamentos ou simplesmente a ver futsal”, recorda o treinador.

Na altura acumulava várias funções dentro de uma só equipa, o Sport Conimbricense, o clube mais antigo de Coimbra. Agora, num país onde o luxo é um modo de vida, já não tem que fazer de roupeiro, massagista ou motorista. Mas também são muitos os desafios no papel de selecionador em dose dupla.

Diferentes modalidades, diferentes objetivos

Quando chegou ao Bahrein nunca havia treinado uma equipa de futebol de praia. No entanto, descreve como “bastante simples” a adaptação à modalidade: “São completamente dis-tintas, mas penso que o futebol de praia tem muito a ganhar com a introdução de algumas noções do futsal e é isso que tenho feito”, conta João Almeida.

A comunicação com os atletas não é um constrangimento incontornável. Em árabe consegue “apenas pronunciar pa-lavras específicas, ainda sem conseguir construir uma frase”, mas tem um tra-dutor e também transmite as suas ideias em inglês. O desafio mais moroso é o de “criar uma mentalidade competitiva nos atletas, em ambas as modalidades, o que aqui é um problema”.

Mesmo assim, em pouco mais de um ano e meio, a renovação que tem imposto na equipa de futebol de praia, na qual já estreou seis jogadores, con-

tribuiu para uma subida de 19 lugares, do 69.º para o 52.º, no ranking FIFA da modalidade, que é liderado por Por-tugal. A médio prazo deseja fazer com que a equipa volte a pisar o areal de um campeonato do mundo.

No futsal, “que ainda é uma moda-lidade nova no país”, estão a ser dados passos no sentido de “a introduzir junto dos jovens através das escolas pú-blicas, angariar mais atletas, dar-lhes mais experiência e iniciar os trabalhos da seleção sub-20”, para que se possa “profissionalizar a modalidade no espaço máximo de cinco anos”.

Nomes do desporto que substituem Portugal

Fora dos palcos desportivos, João Almeida também não teve dificulda-des de adaptação ao Bahrein, onde “a qualidade de vida é naturalmente melhor, o tempo é sempre quente e há muita oferta em diversas atividades sociais, desde a programação cultural à animação noturna”.

Seleção de futebol de praia antes de uma goleada contra o Qatar, por 6-1Selfie com a seleção de futsal num estágio na Malásia

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DESPORTO

Neste arquipélago do Golfo Pérsico vivem cerca de 100 portugueses, “muitos com cargos de relevância incrível e pro-fissões que devem orgulhar o nosso país”, sendo que aos fins de semana o número aumenta, “pois vêm vários da Arábia Saudi-ta”. Esta comunidade portuguesa organiza esporadicamente jantares de convívio, so-bretudo no dia de Portugal e no Natal. Todo um ambiente que já proporcionou que João Almeida e a esposa, também portuguesa, já tenham feito “amigos que levaremos para sempre connosco”.

Dos habitantes locais, o conimbricense diz que “são pessoas bastante acessí-veis, simpáticas e disponíveis”, que de Portugal conhecem sobretudo Cristiano Ronaldo e Mourinho, “nomes que por vezes substituem o do país”. No dia-a-dia do futebol de praia e do futsal, Madjer e Ricardinho são figuras “inevitáveis”.

Também há os que ligam o nome do país aos Descobrimentos, até porque há um for te por tug uês no Bahrein, “uma obra fantástica e um dos principais pontos turísti-cos”. Os habitantes locais também costumam mostrar “um ar surpreso por Por tugal ter sido tão grandioso no passado e hoje ser um país tão pequeno”.

Regressar às origens é um plano a médio ou longo prazo para João A lmeida. A ntes disso há muitos objetivos a concretizar, em muitas praias e pav ilhões. Tal como José Mourinho, Fernando Santos, Jorge Braz, Mário Narciso, entre tantos outros, é mais um treinador que le-va o nome de Por tugal às geograf ias mais distantes. A principal diferen-ça é que o faz a dobrar.

No futebol costuma apontar-se a barreira dos 30 anos como o início do declínio da generalidade dos jogadores. No futsal e no futebol de praia o “prazo de validade” dos pra-ticantes costuma ser um pouco mais longo. Exemplo disso, o português Madjer celebrou o 39.º aniversário no final de janeiro. O atual deten-tor do troféu de melhor jogador de futebol de praia do mundo tem assim mais dez anos do que João Monteiro.

Nos areais do Bahrein, o seleciona-dor também treina jogadores que nasceram com uma década de an-tecedência. No entanto, isso nunca lhe pôs em causa a autoridade: “A mentalidade com que se aborda o trabalho e o relacionamento com os atletas, de proximidade e amizade com as devidas distâncias e regras de trabalho, permite que não exis-tam problemas”.

Porém, “uma situação engraçada” já derivou da juventude do treinador: “Uma altura desfiz a barba, ficando completamente sem ela, e no fim do treino um responsável federativo [Aref Almannai - na foto] pediu-me, de maneira bastante cómica, para a deixar sempre, de forma a não ter a aparência de uma criança”.

Manter a barba para “não parecer uma criança”

Forte português Qal'at al-Bahrain, em Manama. “É um orgulho ver algo tão nosso tão longe”, considera o conimbricense

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www.revistaport.com 47

A seleção nacional de futsal do cle-ro sagrou-se campeã europeia pelo segundo ano consecutivo. Nenhuma das 12 equipas que se apresentaram na Clericus Cup, este ano disputada na Eslováquia, foi superior à portu-guesa, o que permitiu a revalidação do troféu conquistado em 2015, na Áustria. Os padres lusitanos der-rotaram os provenientes da Itália (2-0), Ucrânia (2-0), Bielorrússia (5-0, nos “quartos”), Bósnia (2-0, nas “meias”) e Polónia (2-1, na final). Os campeões são provenientes das dio-ceses de Vila Real, Viana do Castelo, Braga, Porto e Lamego.

O campeão nacional de futsal venceu a primeira edição do Troféu Padre Fontes, competição “amigá-vel” que homenageia o pároco que se tornou célebre pela divulgação da medicina tradicional e da cultura transmontana, particularmente do Barroso. O jogo ganho pelo Benfica foi precisamente na capital desta sub-região, Montalegre, perante uma equipa do concelho, o Vilar de Perdizes. O resultado foi desnive-lado, ao jeito de um famoso sketch dos Gato Fedorento: “quinze a zero”.

O treinador da equipa de futsal do Sporting estendeu o vínculo con-tratual que o liga ao clube por mais três épocas. Desde que chegou a Alvalade em 2012, proveniente do CSKA Moscovo, o técnico já con-quistou dois campeonatos, uma Taça de Portugal, duas supertaças, e a primeira edição da Taça da Liga, já este ano, tornando-se o primeiro treinador português a vencer todas as competições nacionais.

Obras de arte de Ricardinho não passaram dos “quartos”

Padres portugueses sagram-se bicampeões europeus

Benfica conquista Troféu Padre FontesNuno Dias renova

com o Sporting

Breves FUTSAL

Ricardinho deixou o mundo boquia-berto dois dos seis golos que marcou no EURO 2016 de futsal. Essas duas “obras de arte” foram alcançadas em jogos que a seleção portuguesa acabaria por perder. A equipa treinada por Jorge Braz não passou dos quartos de final, depois de ser goleada pela equipa que se tornaria campeã da Europa, a Espanha, por 2-6.

Na fase de grupos, Portugal conse-guiu uma vitória e uma derrota: goleou a Eslovénia, também por 6-2, e perdeu com a anfitriã Sérvia, por 3-1. O registo foi suficiente para garantir a passagem aos “quartos”.

Foi no jogo contra a Sérvia que Ricar-dinho marcou um golo cujas imagens correram o mundo. O melhor jogador do mundo fez um drible inimaginável

para a maioria dos humanos, com o qual passou a bola sobre um oponente sérvio, dominou com peito e terminou a jogada com um remate indefensável.

No tal jogo com a Espanha voltou a fazer um golo apenas ao alcance dos predestinados, com uma “lambreta” sobre um jogador espanhol, seguido de um remate que saiu da biqueira do pé esquerdo e entrou na baliza ângulo su-perior direito. Os adeptos nas bancadas, de várias nacionalidades, com natural predominância de sérvios, renderam-lhe uma ovação estrondosa.

Como os resultados dos jogos de fut-sal não são ditados pela “nota artística”, mas sim pelo maior número de golos, Portugal não evitou voltar para casa a dois jogos da tão desejada final.

A prestação da

seleção portuguesa de futsal no campeonato europeu da modalidade ficou recordada por dois

golos magníficos do melhor jogador do

mundo

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES48

DESPORTO

O Sport Lisboa e Benfica assinou, em Shangai, uma parceria com o grupo económico chinês Fosun, com o objetivo de expandir o número de academias de formação de jovens futebolistas por todo o território do país mais populoso do mundo. A Gestifute, empresa de agenciamento de futebolistas liderada por Jorge Mendes, também participa no acordo.

Atualmente o clube lisboeta já conta com uma escola em Hangzhou, cidade com mais de seis milhões de habitantes. Nessa academia cerca de 300 jovens praticantes de futebol, entre os oito e os 16 anos, evoluem sob o olhar atento de sete treinadores portugueses conhecedores dos pro-cessos de formação de futebolistas utilizados no Caixa Futebol Campus, no Seixal.

Recorde-se que pelos escalões jovens do Benfica já passaram jovens chi-neses que se tornariam futebolistas profissionais, como os avançados Yu Dabao e Wang Gang.

Benfica quer abrir mais escolas de futebol na China

Jovens atletas Dragon Force Toronto visitam Porto

A primeira escola de futebol do FC Porto no Canadá ainda não conta um ano de existência, mas

já está organizada a primeira viagem a Portugal. Uma equipa da Dragon Force Toronto - Bradford vai passar dez dias na cidade do Porto, entre 10 e 22 de março, período no qual os jovens alunos, nos quais se incluem alguns lusodescen-dentes, terão oportunidade de realizar um conjunto de atividades desportivas e turísticas.

Os aprendizes de futebolistas terão oportunidade de treinar em instalações portuguesas do FC Porto e realizar jogos “amigáveis” contra outras equipas Dragon Force. Quando não estiverem dentro das quatro linhas, terão oportu-nidade de conhecer o Estádio Dragão e o museu do clube, assistir a um jogo da equipa principal (FC Porto – União

da Madeira) e a outros da equipa B e de escalões de formação.

Na componente turística estão previstas atividades como passeios pela cidade do Porto e refeições com comida tipicamente portuguesa.

International Camp em Montreal

Num mês particularmente ativo para a Dragon Force Toronto - Bradford, a escola também organiza uma atividade em solo canadiano que não faz parte do plano habitual de treinos. Trata-se de um International Camp na cidade de Montreal, durante as férias escolares, iniciativa que consiste numa semana de treinos intensivos (de manhã e à tarde), para crianças entre os seis e os 14 anos, distribuídas por escalões etários.

Assistir ao vivo a um

jogo do FC Porto e passear pela cidade Invicta fazem parte do

programa. Para além da viagem a Portugal, a escola

organiza atividades extra em solo

canadiano.

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St. Barth, Antilhas Francesas Diu, Índia

Paris, França

Moscovo, Rússia

Sydey, Austrália

Acra, Gana

Astana, Cazaquistão

Benguela, Angola

Maputo, Moçambique

São Paulo,Brasil

Dubai

Miami, EUA

Começou por ser um movimento a ní-

vel nacional, que depressa passou a

internacional. Adeptos do Sporting nos

quatro cantos do planeta aderiram à

vaga de criação de faixas que mani-

festam o desejo de ver o clube lisboeta

campeão português de futebol. A Tor-

re Eiffel, o Kremlin, a Torre Bayterek, o

Arco da Independência do Gana, a Es-

tátua de Samora Machel, o hotel Burj Al

Arab e a Ópera de Sydney são alguns

dos locais emblemáticos pelo mundo

que já assistiram a demonstrações de

fé leonina.

Portugueses pelo

mundo querem

o Sporting campeão

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES50

São cada vez mais os que saem de Portugal à pro-cura de uma vida melhor, por obrigação ou valori-zação pessoal/profissio-nal. Na hora de escolher em que aeroporto aterrar,

começam a surgir “motivos” para esco-lher determinado país ou outro. Neste contexto apresento cinco motivos pelos quais é bom viver na Holanda.

1 – EmpregoComparando com outros países

europeus, a Holanda tem uma taxa de desemprego muito baixa. O salário mínimo tem números bastante diferen-tes aos de Portugal, ronda os 1 501,82€/mês. De uma forma geral existe uma grande oferta de emprego em todas as áreas, mas aquela que mais posso falar é IT [tecnologias da informação], pois é onde estou. Amesterdão é um dos prin-cipais pólos de startups tecnológicas da Europa e há um mar de oportunidades gigante.

2 – Custo de vidaO custo de vida na Holanda é elevado,

é verdade, mas considerando o salário médio, pode compensar muito viver aqui. Amesterdão é a cidade mais cara da Holanda. Um quarto pode ficar entre os

400 e os 700€ por mês, um apartamento entre os 800 e os 1200€ por mês. A boa notícia é que, muitas vezes, estas contas já incluem despesas.

Num restaurante normal as refeições podem ficar entre 30/40€ por pessoa. Porém, sei de bons restaurantes entre os 5/15€ por pessoa. Ir às compras para casa fica praticamente ao mesmo preço que em Portugal.

3 – A tal “Organização Nórdica”A “organização nórdica” foi do que

mais me chamou para cá. Toda a cultura do país, incluindo os próprios holan-deses, é rodeada por um forte sentido organizacional. É por isso que as coisas aqui acontecem, não tenho qualquer dúvida. Não é tanto uma questão de

organização, mas sim de personali-dade: para um holandês dizer “sim” significa “sim”, dizer “não” significa “não”. Ser direto e dizer o que se está a pensar é normal.

4 – A LínguaA língua holandesa é difícil de

aprender a curto prazo. No entanto cerca de 93% da população fala inglês fluentemente. Em caso de longa estadia na Holanda, é boa ideia aprender a falar holandês. Aqui dão muito valor a quem se esforça por falar a língua oficial.

5 – As BicicletasQuando se fala na Holanda, um dos

primeiros pensamentos é: bicicletas. Mas esta não é apenas uma “montra” pa-ra turista ver (na verdade essas montras são outras). É normal ver crianças, adul-tos, idosos, mães a levarem os filhos à escola de bicicleta. Faz parte da cultura, faça chuva ou faça neve, é sempre o meio de transporte mais utilizado.Eu moro a cerca de 6km do meu es-critório e levo 15 minutos a chegar. Os benefícios são óbvios: cerca de 12km de exercício físico diários e 0€ que “gasto” em transportes. Em que capital europeia podia fazer o mesmo?

Nascido e criado entre o Algarve e o Alentejo, Ricardo Valadas mudou-se para a Holanda em finais de 2014, num “período trial”

de três meses. Gostou e decidiu “comprar a licença”. Vive em Amesterdão, onde é Software Developer.

CINCO MOTIVOS PARA VIVER NA HOLANDA

“TODA A CULTURA DO PAÍS, INCLUINDO OS PRÓPRIOS HOLANDESES, É RODEADA POR UM FORTE SENTIDO ORGANIZACIONAL. É POR ISSO QUE AS COISAS AQUI ACONTECEM, NÃO TENHO QUALQUER DÚVIDA”

ISCURSO DIRETOD