Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, 1954

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Orlando RibeiroProfessor da Universidade de Lisboa

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  • COLECO "UNIVERSITS"

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    V> ORLANDO RIBEIRO Professor da Universidade de Lisboa

    Portugal, o Mediter-

    rneo e o Atlntico

    ESTUDO GEOGRFICO

    COIMBR EDITORA, LIMITADA

  • Portugal, o Mediterrneo e o Atlntico

  • ALGUMAS OBRAS DO AUTOR:

    A ARRBIDA. Esboo geogrfico. Lisboa, 1935. Le site et la croissance de Lisbonne (Bui. de lAssoc. de Go-

    graphes Franais, 11o 115, 1938). L'habitat rural au Portugal (CR du Congrs International de

    Gographie. Amsterdam 1938). Povoamento rural e regimes agrrios no Sueste da Beira (Rev.

    da Faculdade de Letras de Lisboa, 1939). La forniation du Portugal. Bruxelles, 1939. Villages et communauts rurales au Portugal. Coimbra, 1940. CONTRIBUIO PARA O ESTUDO DO PASTOREIO

    NA SERRA DA ESTRLA. Lisboa, 1941. A geografia e os problemas da populao em Portugal (Actas

    do I Congresso Nacional de Cincias Naturais, Lis- boa, 1941).

    O Brasil: a Terra e o Homem. Coimbra, 1942. Vida e obras de Jos Leite de Vasconcellos. Prto, 1942. A cultura do trigo no Sueste da Beira. Aspectos e problemas

    geogrficos. Lisboa, 1944. Expresso da terra portuguesa. Lisboa, 1945.

    E.M PREPARAO:

    O NOSSO CAMPO. Ensaio crca da formao da paisagem rural portuguesa.

    DESCARREGADORES DE MAR E TERRA DO PRTO DE LISBOA. Tentame de monografia de um grupo pro- fissional. (Em colaborao com o Dr. Juvenal Esteves).

  • COLECO "UNIVERSITS" Coleco de estudos lingusticos, literrios, histricos,

    geogrficos, filosficos e pedaggicos

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    ORLANDO RIBEIRO Professor da Universidade de Lisboa

    Portugal, o Mediter-

    rneo e o Atlntico

    ESTUDO GEOGRFICOS^*

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  • TODOS os exemplares so numerados E RUBRICADOS PELO AUTOR

    801

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  • MENSAGEM

    VINDE TERRA DO VINHO, DEUSES NOVOS! VINDE, PORQUE DE MOSTO O SORRISO DOS DEUSES E DOS POVOS QUANDO A VERDADE LHES DESLUMBRA O ROSTO.

    HOUVE OLIMPOS ONDE HOUVE MAR E MONTES. ONDE A FLOR DA AMARGURA DEU PERFUME. ONDE A CONCHA DA MO TIROU DAS FONTES UMA FRESCURA QUE SABIA A LUME.

    VINDE, AMADOS SENHORES DA JUVENTUDE! TENDES AQUI O LOURO DA VIRTUDE, A OLIVEIRA DA PAZ E O LRIO AGRESTE...

    E CARVALHOS, E VELHOS CASTANHEIROS, A CUJA SOMBRA UM DORMITAR CELESTE PODE FAZER OS SONHOS VERDADEIROS.

    Miguel Torga

  • PREFCIO

    O essencial dos temas versados neste livro ser- viu de assunto a algumas lies e conferncias, cujas primcias couberam ao curso de frias da Facul- dade de Letras de Coimbra, em 1941, e Misso Esttica de Frias que funcionou junto dle.

    Destinadas a um auditrio variado, ainda que atento e curioso, nelas seriam descabidos ou imperti- nentes pormenores tcnicos e explanaes eruditas. Por isso se concedeu tambm a mxima importncia aos aspectos de Geografia humana, esboando-se ape- nas as linhas gerais do quadro que h-de conter, com seus estmulos e restries, a labuta dos homens.

    Ao livro, naturalmente mais desenvolvido, con- servou-se o mesmo carcter inicial. Cuida o autor que esta maneira de conceber as influncias naturais que se entrelaam no nosso territrio pode ter alguma curiosidade e fazer realar os aspectos mais origi- ' nais e caractersticos da terra portuguesa e da sua complexa vida popular. E desejava no ter de todo faltado ao propsito de escrever umas pginas que, guardando embora o devido rigor cientfico, pudes- sem ser lidas por qualquer pessoa simplesmente curiosa destes assuntos.

  • VIII

    rncias bibliogrficas "des""" ^ 0mitirem ref- e dispensveis ao comum dos"leito rei esPeciali^ volvimentos aue a S letor c *Mtos desen- As primeiras encontraZTe Zlraballo ^ 'T' H- Lautensach. PorU,Je'T^:ab?lk0S reCentes ^ h. L^ENSA;;^~^:

    ab^hos *** * und der Literatur dnf d Glgener Reis "te AmRm GmJ0, Geografia de Portagtl'PMo

    W' do precioso reositrin /, urru^a1.^/ to, i94I; ma,iria eomf eniiZia Zh ZZZZ'* ' ia

    Em estudos anterioreThZZTLT f? aSSenta' Em estudos 'anterin i qUe assenta.

    7^z: :zz:z:zzi:zii?:;:rT

    TutZl tZZuZZZ"01^ie ~

    ^ dois auZr:^mmeSr "'ento. A dois ar,fn.,Z ~ meSmo tratamento,

    ste livro Nos L"T ge,gr deVe ainda muito Ecotmi;os T/ZZZZ:

    Estudr Hists - permitem mmpremieZZ'ZolZ"" Z"'

    Noroeste e o verme dn Z * a f l'luao rul do pai; nos trabalhos e nTZvivitl!^ r ASCONCELLOS eihrrirrh t *-EITE DE materiais constitudo *e2!vZ^T?1

  • CAPTULO 1

    O MUNDO MEDITERRNEO

    Entre a Europa recortada e a Africa macia, o Mar Mediterrneo aparece como um dos traos mais antigos e permanentes da fisionomia do Globo.

    As orlas continentais que o circundam con- tam-se entre as regies mais cedo despertas para a civilizao que, durante dezenas de sculos, gravi- tou em trno dste mar interior.

    Foi no convvio das gentes mediterrneas que a restante Europa se enriqueceu de ideias e de crenas, depois espalhadas por todo o mundo.

    Esta pequena parcela de terras e de mares, apenas crca de um centsimo da superfcie ter- restre, desempenhou portanto, na Histria do Pla- neta e na da Humanidade, papel dos mais impor- tantes.

    l A NATUREZA

    O litoral. O Mediterrneo uma fossa alon- gada no sentido Leste-Oeste entre duas massas continentais: ao Sul a Africa, com seus planaltos macios e desrticos, de contornos simples e pesa- dos; ao Norte a Europa, que projecta para o mar uma srie de pennsulas e ilhas, de desenho geral-

  • mente fino e complicado F inextricvel de fragmentos Hp "ma confusao passa da Pennsula Balcnica ^rme 1ue se

    ^ feio ainda europeia ^ " Asia Menor'

    gos, de enseada^e^ifo"^5111!5 6 arquiPla" litoral mediterrneo uma^ost Prfundos' do mente longa, cheia de recessosrecortada, extrema- ao mesmo tempo, capaz dp !f

    Pfr^os' mas, de cabotagem as balizas dos * nave&a?o o abrigo das suas enseada* T

    promontrios e homem ensaiar aqui as primeira T talhado Para o

    A causa da riqueza da linh S!" as da navegao. ras e dos mares provm da existnc''COntacto das ter-

    contBm r-r^--quais se

    s ~a~ caiem brusCamente para ,mP0nentes des-

    marmhas. A plataforma LTt profundidades

    declive suave at curva de o lnental. zona de volvida no Noroeste da Euro metros' tao desen- Uma frania estreita. As mar^n' -redUZ'Se 8qU a sentir nestas bacias que Z7

    S& n fazem

    Oceano. A orla litora narti Cmunicam com o do continente e das inflnl dS caracteres limitada nos dois elementos"0135 mar' muito

    Em compensao, a costa lon^ S6 Gm contacto.

    constitui, entre o mar larJn dentada> sinuosa,

    domnio fecundo de recp^as a^e" rcm'a' "m

  • 3

    O relvo. Nada na regio mediterrnea capaz de evocar os horizontes montonos e sem fim que se estendem desde o Norte da Frana at ao p dos Montes Urais. A montanha, quando no domina, avista-se de todos os lugares. As ter- ras baixas, plancies litorais ou bordas aluviais dos grandes rios, so, por tda a parte, limitadas, fragmentadas em compartimentos pequenos entre serras ou planaltos. Mesmo nas zonas de altitude relativamente baixa, o relvo qusi sempre variado e enrgico, as reas planas repartem-se por pequenos fundos de vale, minsculas bacias, retalhos de plancie junto de escarpas e ladeiras.

    Entre as rugas recentes, enquadradas pelas enormes plataformas africanas e os troos do mundo hercnico europeu, permaneceram tambm alguns fragmentos de macios antigos, em parte cobertos de sedimentos tercirios pouco desloca- dos. Os Rdopes, a maior poro da Crsega e a Sardenha, alguns pedaos litorais da Provena e da Catalunha, so restos de terras cristalinas, pedras velhas integradas no novo edifcio tercirio. A Me- seta Ibrica, ou Macio Hesprico, , de tdas, a mais extensa e importante.

    Fora destas zonas de rochas cristalinas e xistos primrios, o calcreo, material resistente, tem na arquitectura das montanhas papel muito impor- tante. Solo mal coberto de arbustos rasteiros, para mais roados periodicamente pelo homem ou sujeitos, desde sculos, degradao pelo dente dos gados, coberto de pedras, sem gua, sem gente,

  • 4

    sem rvores, constitui um motivo de rudeza primi- tiva e de isolamento nas paisagens, to impregna- das de obras humanas, do Mediterrneo.

    Correlativas da juventude do relvo, erupes vulcnicas e abalos ssmicos recordam os movi- mentos recentes que modelaram a regio.

    Os tremores de terra, tantas vezes catastrficos em reas extensas, os vulces de raio de aco mais limitado, so dois factores de destruio e de morte que pesam, como uma ameaa permanente, no destino de certas regies. Messina e Rgio, o Vesvio e o Etna, so nomes que logo acodem ao espirito quando se recordam estas calamidades naturais. O panorama da baa de Npoles, com o enorme pinheiro manso no primeiro plano, o casa- rio branco da cidade, entre as guas serenas e lumi- nosas e^o Vesvio coroado do seu penacho de fumo, no ser talvez a imagem mais reproduzida de toda a regio mediterrnea ?

    O clima. H um clima mediterrneo, a que se liga a ideia de temperatura mdia elevada, de vero quente e sem chuva, de inverno moderado, com um total de precipitaes atmosfricas rela- tivamente baixo. Dentro dste esquema geral situam-se, na realidade, vrios tipos climticos bem diferenciados.

    A regio fica compreendida no limite osci- lante dos alseos e dos ventos variveis, sujeita as influncias das presses altas dos Aores e da v Europa Central, dos redemoinhos alpinos e das depresses que, com maior ou menor frequncia,

  • 5

    atravessam, de Oeste para Leste, o Mar Mediter rneo.

    No vero as presses elevadas encontram-se ao Norte, nas plancies e montanhas da Europa Continental. Pelo contrrio, no deserto africano, violentamente aquecido, cavam-se depresses cuja influncia se prolonga por todo o mar interior. Sopram ento ventos do Norte, por vezes muito regulares (ventos etsios, no Mar Egeu, por exem- plo), que mantem o cu lmpido e impedem a queda de chuvas. Durante esta quadra do ano, a temperatura elevada e a secura do ar prolongam at Europa condies que evocam j os climas desrticos sub-tropicais.

    No inverno ainda o contraste de tempera- tura, mais elevada sbre as guas, e muito baixa na Europa Central, que rege os movimentos da atmosfera. Quando a diferena de presses muito grande, sopram do Norte ventos secos, frios e impetuosos. O mistral, na Provena, o hora na Dalmcia, provocam bruscas descidas de tempera- tura, sob um cu lmpido e brilhante.

    Durante todo o ano, no sentido do Oriente, um rosrio de depresses atravessa as guas aque- cidas do Mediterrneo. Elas so particularmente frequentes no inverno e nas estaes intermdias. O brdo ocidental destas depresses sempre um factor de precipitao.

    As chuvas apresentam um total anual muito varivel, embora geralmente pouco elevado (Mar- selha 548""", Argel 765, Corfu 1.314 Atenas 390); mas repartem-se de maneira muito desigual durante

  • 7rlZZ:T:SoSoZT

    caapa&mprodurir no^ m manto vegetal barran^osT10' protegido Pel certos lugres o^^^^ndos- quasi desrtica sem miJ Presentar uma secura

    T o Almria e Murcia u VIOIento- Em em mdia, uns 200 dlcLva?^6^' Cem' inteiros sem chover ' Passam-se anos regio uma tempestade toTiolentanque o?'6 3

    des, rs;rprnddeSmmhrgenS' CUltVS 6 C^a"

    destruidora hmenS e rebanhos " a sua fria

    o c,,:chuva- transparncia da atmosfera serena e 1 6

    e de mares mediterrneos. terras

    o clima6desrtico" 6 6leVada' entre

    tem ioo, Bucarest io6 & ^rPa central- Paris tem i38, Argel i85 r ' f

    2l2' Marsellla

    O invflr ' j Corfu I77) Smima i70. das de nev^e sem06' Iuminoso' com raras que- mdia do ms mais g/an n geadas' Em Njce a Corfu ZTel "o d mavera fugaz sucede o v - m rut I3- pri-

    e *co, que se prolonga

  • 7

    Nos meses de Julho ou Agosto a temperatura media sobe a 223 em Marselha, a 248 em Roma, a 273 em Atenas (Cairo 286). O outono , geralmente, mais quente e mais longo do que a primavera.

    Um vero com temperatura mdia to elevada provoca a subida da amplitude anual, ou diferena entre o ms mais frio e o ms mais quente. A influn- cia reguladora da humidade atlntica f-la diminuir para Oeste: 16o em Jerusalm, i87 em Atenas, i34 em Argel.

    Neste quadro geral, esboado a traos muito lar- gos, uma anlise mais minuciosa permitiria distin- guir algumas variedades essenciais. Para Oriente, o afastamento do mar assinala-se por invernos frios e forte amplitude anual. No Noroeste de frica, no litoral mediterrneo do Sul da Espanha, o vero ardente e a escassez de chuvas preludiam o deserto.

    Os tratados distinguem com o nome de clima portugus um tipo especial, caracterizado por inver- nos benignos, estios moderados, embora quentes e sempre secos, amplitude anual reduzida. Na reali- dade vrios climas onde, combinados em doses diver- sas ao longo da orla atlntica ibrica, os caracteres mediterrneos se vo atenuando, esbatendo-se sob a presso hmida e morna do grande spro atlntico.

    Outras influncias, mais localizadas, vem mar- car-se tambm. Chuvas de relvo nas vertentes de exposio atlntica das montanhas, secura qusi desrtica de alguns vales interiores, invernos em que os ventos do Norte fazem descer o termmetro abaixo de zero, influncias continentais nas penn-

  • 8

    sulas mais macias, Balcans p Th' sujeita a verdadeiras mones I ^ Itma

    miniatura, climas rnHf j * , ' mo uma sia em elevado, tidoTon.rih ""T"08 Sit0s a "''"de mtico o lZlZoV'mtar0 d0ml"' cli" uma extenso litoral ao lo ^ 'lf"C tem

    Ias e ilhas e . g d" cos,as' pennsu-

    la .rr;0n;Fd?r,: r ~

    a vege,afa

    tivada Z^aZcT' h' " IVera' civilizao, propagada pe^ho"0"' Pla"'a de

    Pensa o precJo^ei.e"',raduz nT' 4*-

    complexo de condirnpc r - Pa]sagem um sensvel. Portanto at C,lnjatlcas a 9ue muito at onda o homem f, h Che8a' U melhor. as condies de te chegar, chegam tambm esta r^teim

    s^rZnZ:;^r-sam* ievads- que vem engaste f"tor hnmano, na fisionomia de tds^as^ paisa" ^ mais do que em miai ' &ens> impregnadas, fie civi,2^o,

    edeqt;:S rZ\T:J g,b:

    terrupto. esforo nin-

    lonysecurfdTverTo8 6513068 menS q"entes ^

  • 9

    O frio moderado dispensa a vegetao do repouso hibernal. Onde predominarem as rvo- res de flha caduca sinal de que as condies setentrionais, atlnticas ou de altitude j se vo fazendo sentir. Pelo contrrio, o estio longo e sco uma fase de repouso vegetativo. Com as primeiras chuvas outonais a Natureza reanima-se, reverdecem as plantas entorpecidas pela estiagem, o ar enche-se de novos perfumes e um formigueiro de vidas ani- mais inferiores associa-se ao despertar da vegetao.

    o perodo de vero bem marcado que imprime vegetao herbcea o carcter estpico e explica a dominncia de rvores e arbustos de flha perene. le ainda que determina inmeras adaptaes xerofticas.

    Para evitar a evaporao, muito forte pelos grandes calores, os arbustos cobrem-se de espi- nhos, as flhas reduzem-se, tornam-se coriceas, aceradas, cobertas de verniz na pgina superior ou de plos na contrria. Outra modalidade de adap- tao secura consiste nos perfumes muito activos que exalam certas plantas, e que na primavera come- am a embalsamar a atmosfera. uma impresso inolvidvel que se experimenta, em Frana, por exemplo, depois de percorrer as plancies de cereais do Norte, as tojeiras da Bretanha ou as florestas de faias do Macio Central, quando se chega ao Languedoc e Provena. Com as primeiras ana- logias da paisagem, sente-se, nos odores familiares, a semelhana da regio com as nossas.

    As plantas carnudas, como as piteiras, figuei- ras do inferno e certos cactos, so exticas e foram

  • 10

    >"rsrrr Ahs duas pri-ir-

    campos a Xa%LZlZ^ZT doS

    til, So originrias dos ni ' va&ante e hos- donde foram trazidas talvez no^ctlo^ti

    raram-::~- climtico caracterstico^* d 6m Considerar um ndice terrneo: isto most' H S6CUra d Vero medi- ambiente lhes era favorvel. ^ ^ Pnt nV

    ^tiga e ricaQundo^no^do'1 't6mP' deu o recuo da vegetao t , Terciario, se vassouras ficou, como' uma das

    mentos discontnuos zm- eJlclUIa> em povoa- homem, ou em raro! 'J T desbastads Pelo crise climtica^ sensvel na isolados. Outra glacirio, que determirin relao fo> o perodo

    desaparecimento das eipciV reCU ^ flra 6 atravessar o fosso do Mar Medi^ l0graram

    meira das vassouras a v Medlterraneo- A pal- a murta, faziam parte d **' eiro' a %ueira,

    assim muitos arbustoTquotalr PCa' 6

    porte de rvores On^ f atingiam o naram nas montanhas elevai e^aT ^ comeou a subir a r^-~

    aas e a temperatura m importantecetrf d! "f

    te^o. constituiu penetraram, ao To ' n T" P'antas ^ Europa mdia g d0S V

  • 11

    provocou, embora exagerada talvez por alguns autores, uma ideia inseparvel do estudo da vegetao mediterrnea. s duas formas mais frequentes resultantes dessa transformao cos- tume dar os nomes franceses de qarrigue e maquis.

    A arrigue uma charneca de arbustos de pequeno porte que constituem tufos esparsos entre manchas de erva, sca durante o vero. Os seus aspectos mais vulgares encontram-se nos solos ridos e pedregosos das regies calcreas. A cul- tura, o pastoreio e os incndios, provocados ou involuntrios, destruram o bosque primitivo de azinheiras, substitudo por tufos baixos de car- rasco e por um cortejo de plantas aromticas: alfazema, cistceas, tomilhos, etc.

    O maquis uma floresta degradada, prpria de solos siliciosos, onde outrora predominavam os sobreiros. Foi o sub-bosque, que dantes medrava nas clareiras e sombra das rvores, que se desen- volveu num matagal contnuo e muitas vezes impe- netrvel, onde dominam as urzes arbreas, as cis- tceas e, em certos casos, povoamentos densssimos de medronheiros.

    Se o homem exerceu nesta vegetao uma influncia destruidora, tambm soube muitas vezes tirar partido dos recursos espontneos do solo. Os arbustos do a lenha, o carvo, as camas do gado e ajudam a preparar o estrume nos currais. As ervas servem de pasto a rebanhos de gado mido, um dos mais poderosos agentes de degra- dao dos arvoredos, pois os animais roiem os rebentos e impedem a regenerao dos bosques.

  • 12

    eD*Ugrs: SoTVoT5 conr-se -

    fibras txteis, etc. ^ perfumes> corantes,

    rentes pocas3, grandT^, Introduzir> em dife- enriqueceu a vegetao eT r ^ plantas prias, E -lo de maneTrl ?o;

    roar rmUaS Pa'S^nS- fcil separar o nnc ofunda que nem sempre a PracedaPaarescqaUp:uPar0eVr * ^ ^ ^

    ^'1'ToZm^?nimero de pia"- muito reduzido, as mais Incontesvel veira, a figueira a alh '

    mPortantes so a oli- ervilhas e favas,'o linhn^ M lentilhas> as

    beterraba, esta de data & Sementes grossas, a de pasto. d3ta recente' e a^mas ervas

    - cumit^- Sudoeste fizeram com que cedo e ? ASa de

    se adaptassem esncips n facilmente, aqui centro de difuso de cultu^al^AI^65

    por intermdio do Ee-intn h ' gumas desceram, pia, tais como uma Sr "> a* montanhas da Eti- cevada. DaTs. vi, f t de 'ri e "e trigo mole, muitos tegum V viT^"* ^ parte das rvores de fruToTuTdn^9 " * mar

    res mediterrneos: nogueira amenH 908 Pma' pereira, marmeleiro amendoeira, macieira, romanzeira, ralmente, a rea do Mediterrn paSSaram' natu" tornarem caractersticas d ^X'0 ^ **

  • 13

    Entre as espcies agrrias possvel distinguir as que so indgenas ou foram aclimatadas desde remota Antiguidade, algumas cultivadas j nos tem- pos pre-histricos, e aquelas a que possvel assi- nalar a poca de introduo.

    O trigo e a cevada, o cereal que melhor suporta a secura, contam-se entre as culturas mais antigas. As tcnicas do fabrico do vinho e do azeite, que parece deverem muito aos gregos, conheciam-se em tda a bacia do Mediterrneo antes da con- quista romana. Fazia-se uso geral do po. Por- tanto, os trs produtos que teem constitudo a base da economia rural da regio eram j de consumo corrente na Antiguidade. Do mesmo modo o figo, o feijo, a fava, o gro e, como txtil, o linho.

    Cada grande impulso de civilizao marca-se por um enriquecimento do patrimnio^ agrrio. A expanso destas plantas novas, como natural, caminhou as mais das vezes do Oriente para o Ocidente. Das conquistas de Alexandre vieram o pcego e o damasco, a cidra e o algodo. No tempo de Justiniano apareceram a amoreira e o bicho da seda, difundidos alguns sculos depois a partir ao Sul da Itlia. Os rabes trouxeram o arroz, o limoeiro, a laranja azeda, a cana do acar, que os portugueses haviam de transformar numa \asta cultura tropical. A ltima contribuio, no porm a menos importante, cabe Amrica, com o milho, verdadeira providncia que tornou possvel alimen- tar populaes que, desde o sculo xvi, se teem tornado mais densas, a batata, o tabaco, as j men- cionadas piteiras e figueiras do inferno. E ainda

  • 14

    trlZt cZT:trra7 que 05 'rt~

    P-. "Zto & ^ ~ espalha OS poetas, todos os atrar-t- u

    P povo e

    reza mediterrnea. No So d' f'" d" N onde o sol caminha todos' os^aT"T* """

    num derradeiro e persistente claro *****

    a estrutura0^9^6^^1811198 nVaS n aIterou

    muito antiga. Tem sidn' i Medlterrneo clima na poca histrica na nVC* as mudanas de

    incontestveis da civilizao ^ Certos recuos

    Porm, que sses recuos ao f prVveI > vigilncia do homem na nrl h [em afroxar a tenham reduzido a ruinas e emado j hStl

    prsperas e povoadas H' regies outrora feria do deserto. ' exemP'os disso na peri-

    sentai: ZZ^ "e m""- pre. dade e constncia de caractere! ntav

  • 15

    IIOS MODOS DE VIDA

    A variedade de solos, a riqueza da flora, o caracter intermdio do clima que permite o desen- volvimento e a mistura de plantas de vria prove- nincia, a sucessiva introduo, pelo homem, de muitas espcies agrrias, tudo favorece o modo de vida dominante nas regies mediterrneas: a agri- cultura.

    A importncia da montanha, a proximidade de cimos, que no inverno se cobrem de neve, e de plancies soalheiras na mesma poca do ano, a grande secura que, durante o vero, aflige as ter- ras baixas, s mitigada pela altitude, so condies favorveis vida pastoril, que tem a sua expresso tipicamente regional no regime de transumncia, isto , de oscilao regida pelo ritmo climtico, entre altos pastos estivais e invernada na planura ou no vale.

    Finalmente, ao longo dos recessos da estreita franja litoral, abrigam-se populaes dedicadas s fainas do mar ou da costa. Uma dessas fainas a navegao: os pontos onde se prendem e enfeixam as rotas martimas foram, desde cedo, lugares pri- vilegiados para a troca de produtos e a convivncia dos homens. O fermento da vida urbana foi, mui- tas vezes, o porto, que na cidade mediterrnea conserva uma importncia excepcional, colorindo a aglomerao do seu matiz de gente e fazendo sentir, por tda ela, o ritmo acelerado do seu tra- balho.

  • 16

    m,, t K gr,C,,''"ra-~ Par os homens do Norte que saborearam a doura dos seus invernos lumi' nosos, o Mediterrneo enfeiton-se de iodos o

    12 nLTTT- "m dIeS ' 2 olo Nao ha todavia noo mais falsa. A mon-

    ^ ?9* do -entes criaram por tda a ^

    OsV,he ?'ta 95 reaS de b0a te^a arvel, e exiirem S h CUltUra formam manchas dispersas rnhnH ^ S h0mens constantes canceiras. A der- rubada de arvores e arbustos na maior parte dos asos precedeu a sementeira: mas, com a vedeta

    terra^ue8 7^ SUprmiu> Apareceu tambm a terra que ela protegia e ajudava a reter. Neste clima

    Zas TloTd0 de/hUVflS qM >C~ radas, o solo degrada-se fcilmente e leva muito tempo a recompor-se. Solo no geral ditado

    rorva,CZ a rfa'me' dUr * hostil, onde no aro vai bater o ferro das surribas mais profundas outras vezes semeado de pedras que s o trabalho

    pleto.gUmaS g6raes consegue eliminar por com- As boas terras das plancies atingiram cdo

    alto valor cultural e fortes densidades de popula- o. . as muitas delas sofrem tambm de restri-

    tas^*^ d gU3' n raro co^- gencias salinas que necessrio lavar

    escoamnirT' 6Xigem COraPlicados ""falhos de escoamento Na agua estagnada os calores estivais geram as febres palustres, qe afugentam a pop-

  • 17

    lao para as vertentes dos montes. A, h que lutar com o pendor da encosta e o mpeto das tor- rentes e enxurradas. Numa grande obra de pacin- cia, edificam-se escadarias de murosinhos que sus- tem a terra. So os socalcos por onde se faz descer a gua de rega, de cima a baixo da encosta.

    Esta mais uma preocupao. Durante o estio sem chuvas as plantas estiolam-se de calor. E pre- ciso levar-lhes o benefcio da rega ou escolher as que melhor se ajustam ao clima. Da uma distin- o importante entre dois tipos de cultura: a de sequeiro, geralmente extensiva, com perodos de produo intercalados de pousios mais ou menos largos, enquanto a terra se refaz, e a de regadio, onde o mesmo solo produz sempre, com duas ou trs colheitas por ano, cultura intensiva, minuciosa, em que o homem anda sempre roda da planta e lhe consagra, tal como na arte da jardinagem, infinitos cuidados e canseiras. O tipo clssico desta explorao a huerta valenciana, com sua sbia distribuio de guas, multido de regos e de canais, talhes de cereais, de pomar e de legu- mes coltura promscua, diz-se na Itlia, mui- tos braos que revolvem a terra e muitas bocas que dela se alimentam. A densidade sobe acima de 700 habitantes por quilmetro quadrado. Tais regies contam-se entre as melhor cultivadas e as mais povoadas do Globo.

    Noutros lugares, so apenas manchas de solo que mosqueiam a vastido dos campos incultos: assim as olinas ou depresses fechadas do calcreo, ver- dadeiros osis agrcolas no deserto de pedras bran-

    2

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    rtPYaAl'?reSiSUr'e 3 roclla Por tda a parte e mal deixa, entre blocos enormes, uma rstea de terra logo aproveitada; quando no sobem, ao longo de barrancos entre encostas de mato, minsculas par- celas sustidas por degraus, que aproveitam as guas de inverno e a maior umidade de vero. Muitas vezes a superfcie arvel uma verdadeira creao do homem, que arranca as pedras, sustm o solo esmaga a rocha, e transporta, por subidas nvias' cestos de estrume e de terra.

    Explorao parcelada, propriedade dividida.

    vezes8? S tr^alhS de camPoneses, tantas vezes mal compensados por colheitas de baixo

    Pntr T", eSta na rePartig0 da terra e no amor entranhado que cada famlia consagra sua leira Como expresso geogrfica dste individualismo, levantam-se, na extrema das propriedades, sebes valados ou, mais geralmente, na terra qusi sempre pedregosa, muros de pouca altura, que circundam campos do mais caprichoso recorte. Nada aqui se assemelha a monotonia das enormes plancies de cereais do Norte da Frana, por exemplo u aos

    rl,aSrM d"S "l0n^ios- de Plas de uma reguiandade geomtrica, da plancie alsaciana.

    salvo na0 rta Cadastral ' no Mediterrneo, In rf f aS Planuras' um Punle cmplicads- mo de fragmentos das mais variadas utilizaes,

    rocha /trSS 1"terromPidos Por afloramentos de no m rtS mat 0U bos1ue' em solos que nao comportam a cultura regular.

    Porm, na variedade mediterrnea, h War para outros tipos de explorao: enormes proprle-

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    dades abandonadas aos rebanhos, onde, de longe em. longe, se arroteia um pedao, ou, de anos a anos, se aproveitam os produtos do arvoredo. Cul- tura atrazada, de rendimento baixssimo, vale ape- nas pela extenso: tais so os latifndios da Cam- pnia romana, das plancies insalubres, ou das terras onduladas e ridas da Aplia, da Siclia e da Andaluzia. H nestes contrastes sociais matria para largas apreenses, que desde a Antiguidade no deixaram de acudir aos espritos reflexivos.

    Aos solos de diversas naturezas, cultura sca ou regada, aos mltiplos regimes de explorao, correspondem, na paisagem cultural, as mais varia- das manchas. Mas, por sbre a diversidade e o localismo, legtimo falar de civilizao agrria, mediterrnea como de qualquer coisa de uniforme e de comum a tda a bacia do mar interior. As bases dessa unidade so, por um lado, as culturas que se difundiram de um extremo ao outro da regio: por outro, as prticas agrcolas com a sua constncia de caracteres no espao e no tempo. Os autores antigos deixaram-nos descries sufi- cientemente minuciosas de todos sses usos, ao mesmo tempo simples e engenhosos. A um pro- dutor das plancies de cereais ou das pastagens intensivas da Europa mdia, tudo isto parecer arcaico e pouco digno do desenvolvimento indus- trial dos nossos dias.

    A maquinaria agrcola s timidamente comea a penetrar na regio, sobretudo onde o regime de propriedade, mdia ou grande, permite investir na explorao capitais que o pequeno proprietrio no

  • 20

    possui. Mas o prprio parcelamento das leiras, os pendores exagerados, os campos pedregosos, res- tringem naturalmente a extenso das novas tcni- cas agrrias. Assim, persistem por tda a parte velhas usanas, e com elas certo tipo de trabalha- dor rstico marcado pela histria na sua maneira de viver e de pensar. A reflexo j foi feita por um perspicaz gegrafo mediterrneo: um alemo imagina dificilmente como viviam os germanos; um grego v todos os dias, nos campos e nos por- tos, cenas que o podem fazer julgar-se comtempo- rneo de Homero \

    O clima determinou a escolha de certas plan- tas capazes de resistir com vantagem elevada e longa seca de vero. Esto neste caso os cereais que dispensam a rega, e as rvores e arbustos que tem, na paisagem cultural do Mediterrneo, um lugar preponderante. Graas s razes profundas, capazes de penetrar at ao sub-solo onde se con- serva um resto de umidade, estas espcies medram bem em terrenos secos. Ao contrrio da Europa mdia, onde as rvores de fruto formam apenas um elemento acessrio roda dos povoados, as culturas arbustivas constituem aqui verdadeiras plantaes, de vinha, de oliveiras, amendoeiras, figueiras, laranjeiras, etc., que cobrem o solo durante largo espao.

    Assim, em relao s regies setentrionais com que confina, o Mediterrneo contrasta ao

    1 J.SioNin Gographie Universelle, dirigida por P. Vidal de La Blache e L. Gallois, tomo vn, i.a parte, pg. 53.

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    mesmo tempo pela ausncia de autnticas florestas e pela multiplicidade de rvores e arbustos. As espessas massas de arvoredo da Glia, a Hercynia Silva que separou, durante sculos, a Romnia do mundo brbaro, impressionaram pela sua densi- dade e misteriosas sombras os conquistadores medi- terrneos, vindos de uma terra onde a antiqussima ocupao do solo e a secura do clima tinham degra- dado a floresta. Constitui, para ns, novidade, o primeiro contacto com essas extensas reas cober- tas de rvores enormes, rumorejantes na sua folha- gem densa, que no inverno perdem por completo, sem deixar de estender, diante dos nossos olhos admirados, o cinzento espesso e sem fim dos tron- cos e dos ramos.

    ainda a oscilao bem marcada do clima que imprime aos trabalhos agrcolas o seu ritmo pr- prio. Com as primeiras chuvas de outono lana-se a semente terra amolecida: um pouco antes ou depois, vindima-se. A apanha da azeitona faz-se j por tempo fresco, a que se segue o inverno montono e a primavera, durante a qual as plantas germinam e crescem, estimuladas pelo calor e os aguaceiros. O como do vero, com as ceifas, debulhas e recolha de cereais, marca outra culmi- nao das fainas agrcolas, a que se segue nova acalmia.

    Os grandes animais de trabalho, usados no resto da Europa, so aqui pouco numerosos. Escas- seiam-lhes pastagens apropriadas e bom tratamento, que estas terras ingratas nem sempre oferecem aos homens. Tpico de toda a regio e o burro, pequeno

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    mas robusto, rstico e sbrio, que tanto se adaot aos caminhos pedregosos como aos mil servios a que o campons o destina. O boi parece tambm

    mediterrnea*3^0 Per' " d'fUSa da ""cultura SdavfafT, ' Cm anlm" de tiro mais qe Em tda a 1T re8:":ieS deserdadas Pola Natureza, a parte, excepto nalguns prados reeados

    sme chntrasardi8' U ^ aas e chuvosas, como na Crocia e na Eslovnia

    da^^risbstade,rab^d^~ Onde os animais escasseiam frca snnH 1^

    fZs:dhomem- e de erZam SerVam anda " mai0r importncia

    r=rdSx;:

    sentam mm,as vezes formas de ajustamento mSito

    por tda neces5ldades do ambiente. Ensaiam-se P toda a parte novos mtodos de cultura- os esultados nem sempre se eximem a uma mamem

    aplicaerTf- A f""" a^"^ica no ^o rincls Ho "" adaptaf0 muitas expe- "ZT, e,COmPrta >18> incertezas, regras e dTu os", rU'ad0S feI estd dtros solos l utros climas. Assim, e lcito pensar aue certa aras tradicionais da agricultura Lditrr

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    tenham, como alguns querem supr, to seguro e amplo remdio.

    O velho arado romano, que arranha a terra sem a revolver profundamente, ainda muito empregado. Na ceifa usam-se foices curtas e recur- vadas, manejadas por grupos de ceifeiros. A debu- lha dos cereais continua a fazer-se por processos e com instrumentos primitivos: o gro, espalhado na eira de pedra ou terra batida, pisado aos ps de animais, calcado pelos manguais ou separado da palha por meio do trilho, espcie de tren munido de puas cortantes, que se arrasta em cima das espi- gas. O lagar de azeite e o de vinho conservam a mesma simplicidade arcaica.

    A cultura de cereais , no geral, extensiva. A terra, mal adubada, rende pouco e precisa de descanar. Da a prtica da diviso dos campos em folhas ou parcelas cultivadas alternadamente. Nas plancies da Europa mdia usou-se muito o mesmo sistema, mas faziam-se entrar na rotao outras culturas; aqui a regra a alternncia da cul- tura e do pousio. De maneira que, no caso do afolhamento bienal, apenas metade da rea em explorao cultivada. Esta proporo de incultos sobe mais nos terrenos secos, pobres ou declivo- sos, de maneira que o homem consagra ao campo cuidados intensos, mas intermitentes. Durante um ano ou mais apenas se aproveitam os arvoredos, se os h, ou se metem gados a pastar nas folhas devolutas.

    Os pases mediterrneos caracterizam-se, quanto cultura do trigo, pela grande extenso

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    Sffsstffsgarfis

    ...rsrri;* *'- organizar a - ! porem' cada um procura ganizar a produo de modo que baste s

    -;^ngocirod:rfde^r-LdidGrLt

    tanhas' fllnlTt^ h,e.muito emalhado nas mon- elevadas Tort -'i alnluJes muito elevadas Todos eles s5o semeados de modo oue

    fundos a^TSido O XTuma^r alagada, limitada s planfcies visinhas da ffd

    panhr/e oeo ** 0 "-mo aoom! panna de perto a propagao dela.

    utros Produtos desempenham, na alimenta-

    va' pape. analg aos dos cereais: a batata culti vada com intensidade apenas h um on dois seu"oS

    - ST regi?S d Ma^"e, por exemplt o

    A grande originalidade da agricultura maA-

    com que ela se defenda 'LThordosenstaimigo"

  • 25

    naturais. Os maiores produtores de vinho do mundo, excepto a Frana, so os pases mediterr- neos; o lugar dle nas exportaes essencial: crca de i4/0 na Itlia, de 9/0 em Portugal, de 6,5%

    e- Espanha.

    Estes vinhos, que se conhecem por nomes eufnicos, ricos de lcool, perfumados, luminosos, fortes e contrastados como a paisagem onde se criaram, tem na grande variedade das bebidas estimulantes ou refrescantes um lugar parte, raro e nobre. O homem do povo bebe sempre, ena tda a parte, e sob todos os pretextos, os vinhos comuns. No inverno o vinho aquece e d con- frto, que tantas vezes falta nas casas; no vero refresca, ajuda a digesto, agua o apetite que decresce pelos grandes calores.

    A cultura da vinha ultrapassa hoje, e muito, os limites do mundo mediterrneo. Mas pode dizer-se que onde ela chega e o consumo do vinho ainda corrente, chega tambm alguma cousa mais que recorda o Sul. Onde se bebe cidra ou cerveja outra terra e outra gente.

    A oliveira a nica cultura de importncia mundial confinada regio mediterrnea. A rvore acomoda-se bem a todos os solos, mesmo aos mais pobres, scos e inclinados. At em campos calc- reos pedregosos ou nas fendas das rochas con- segue medrar. Ao Norte, os frios de inverno limitam a sua propagao; pelo mesmo motivo no sobe muito em altitude. Teme-se dos ventos atlnticos e dos climas muitos midos. Enquanto nova, a oliveira requere bastantes cuidados;

  • 26

    amda depois de desenvolvida, s produz muito sen o podada, lavrada e estrumada. Mas como a sua resistncia grande, em no poucos ugare cresce ao acaso, rodeada de rebentos, de tronco nodoso, contorcido, mutilado; nuns anos produz mais, noutros menos, mas sempre d ao homem

    ~:^o do que a

    c.,'4 rti- \ izitz t aze. e osclle muito d

  • 27

    cada a qusi tdas as culturas intensivas, que do assim duas ou mesmo trs colheitas por ano.

    A tcnica da irrigao no , na origem, medi- terrnea, Nasceu em terras ainda mais secas e foi propagada no Sul da Europa por um povo da orla desrtica os rabes depois de beneficiada com os aperfeioamentos que les lhe introduziram. A forma mais frequente, usada nas grandes huertas espanholas, consiste em abrir um grande canal de desvio num curso de gua caudaloso, que muitas vezes se vai procurar logo sada da montanha: dsse canal se faz derivar, atravs de rgos de dimenses cada vez menores, a gua para todos os talhes de cultura. Este processo, to simples quanto engenhoso, exige trabalho aos homens mas dispensa grandes capitais. Ao mesmo tempo implica, 110 aproveitamento das guas e na conservao dos regos, forte disciplina, respeito de direitos e cum- primento de obrigaes. O tribunal de aguas uma organizao inseparvel destas culturas de regadio.

    A par dstes processos colectivos, existem vrias formas de elevar a gua de charcos, poos e ribeiros. A cegonha ou picota, figurada j na Assria e no Egipto do Imprio Novo, manejada a brao de homem, a roda elevatria movida pela prpria corrente, a nora de tradio mourisca, so instrumentos que se prestam cultura familiar e pequena explorao.

    O domnio da rega, apesar da sua alta impor- tncia econmica, est naturalmente limitado. Com os aparelhos tradicionais a gua no pode ir longe.

  • 28

    Quanto irrigao das plancies e dos fundos alu- viais, alimentada por correntes caudalosas, evi- dente que alguns metros de elevao bastam para

    tornar impossvel. S os poderosos recursos da tcnia moderna, com a construo de grandes bar- ragens-reservatrios, podero transformar comple- tamente a fisionomia das regies ridas. E, ainda nestes casos, h que contar com as grandes dife- renas de caudal e com a evaporao muito elevada durante os meses de estiagem.

    Um trao comum maioria das culturas, sejam de sequeiro ou de regadio, a sua promiscuidade. Olivais, montados de sobro e de azinho, salpicam as searas, a vinha, plantada em renques, convive com plantas intercalares; o feijoeiro enrola-se s canas de milho, as rvores de fruto crescem na borda dos campos. A horta e o pomar beneficiam dos mesmos estrumes e da mesma gua de rega. Desta maneira se obtm a rica variedade de produtos que constitui o ideal do agricultor mediterrneo. Assim o requere a alimentao, tirada muito mais da terra do que da pesca ou do rebanho.

    As substncias de origem animal, que entram em 19,3 o/fl da energia alimentar do ingls, do apenas 3,4 /# ao italiano. O rebanho uma reserva em que se toca o menos possvel; fornece o leite e o queijo, por que para isso no se sacrificam as reses. Cabe ao azeite suprir em parte a deficincia de gorduras de origem animal. Entre os berberes a distribuio de carne reserva-se para os dias assi- nalados; o cordeiro pascal no celebra uma das datas mais solenes da religio?! O porco, com as suas gor-

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    duras, salgado e consumido parcamente pelo ano adiante; ainda assim, duas das trs religies medi- terrneas probem-no aos seus fiis. O grande recurso , portanto, constitudo pela variedade de produtos agrcolas.

    Em primeiro lugar o po, com que se acompa- nha a maior parte das refeies, as farinhas, o arroz, a batata. Depois, os legumes e frutos. Durante os calores de vero, juntam-se ao parco manjar habitual as saladas refrescantes (alfaces, agries, pepinos), os frutos ricos de gua (meles, melancias, tomates), ou os pimentos, que estimulam o apetite deprimido. Os cheiros da horta, plantas aromticas como a hortel, os tomilhos, o louro, t em o seu lugar ao lado das especiarias exticas na cosinha tradicional.

    A alimentao, simples e sbria, reflecte a pobreza da terra e a amenidade do clima, pois o homem com pouco se aquece e se contenta. Mal poderia ser doutra maneira, porque as limitaes que entravam a agricullura e a rotina no ser a menor de todas impedem de alimentar a gente que por tda a parte aumenta. A emigrao qusi sempre uma fuga misria. A rudeza no trabalho, a parcimnia na alimentao, a simplici- dade no viver, fazem com que o mediterrneo em todos os lugares se acomode, com o seu pouco, entre gente prspera e satisfeita.

    O pastoreio.Da mesma forma que o clima marca tdas as modalidades da actividade agrria, rege tambm as manifestaes e o ritmo da vida

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    pastoril. O mundo mediterrneo confina pelo Sul com a orla do deserto, onde o nomadismo, des- locao de rebanhos que arrasta consigo a das populaes que os guardam e dles vivem, o modo de existncia mais frequente. Ao Norte na Europa frtil e mida, a criao de gados um ramo da agricultura: a ela se destinam pastagens semeadas e cultivadas com todos os cuidados, que o regime de vida no estbulo, durante o tempo

    IS frio, completa, na alimentao do gado, com grandes reservas de feno colhido para sse fim Os animais criados desta maneira fornecem carne' leite e estrume: animais corpulentos, robustecidos para o trabalho (cavalos), engordado; para o tfho ( ois) preparados para a indstria de lacticnios (vacas), e tambm para ajudarem a fertilizar a terra que atinge o mximo rendimento nos pases au possuem mais elevada existncia de gado grsso.

    m relaao a estas regies, pode falar-se de pastoreio independente da agricultura na maior extenso da bacia do Mediterrneo. Os prados sao raridade, prpria de lugares irrigados ou muito chuvosos: portanto, em vez do gado grsso,"eia" n os interminveis de rezes midas. Pouco feno estabulaao rara, pouqussimo estrume, limitado

    do homT cl* d

  • 31

    Os animais de percurso formam aqui enormes rebanhos e constituem, com as suas deslocaes peridicas, a essncia da vida pastoril na regio.

    As propores entre o nmero de cabeas de bovinos e ovinos modificam-se por completo em relao aos pases situados mais ao Norte. Assim, a Alemanha possui apenas um carneiro por cada 3 bois, a Dinamarca por cada 8. Na Grcia h um boi por cada 7 carneiros. Depois da Inglaterra, a Espanha conta-se entre os grandes pases produ- tores de gado ovino da Europa, com qusi 20 milhes de reses.

    A ovelha e a cabra desempenham, na econo- mia destas terras pobres, papel da maior impor- tncia: fornecem o leite, o queijo, a carne, a pele, a l e o plo. Uma indstria caseira tpica de tda a regio a tecelagem de panos grosseiros, de mantas, tapetes e tapearias, em cujo emprgo j se quis ver uma sobrevivncia da vida nmada, debaixo de tenda.

    stes animais acomodam-se fcilmente ao solo pobre e s magras pastagens. Nas de pior quali- dade inverte-se em favor das cabras a proporo, geralmente com vantagem para as ovelhas.

    As limitaes invencveis do clima e a disposi- o do relvo criaram, dum extremo ao outro do mundo mediterrneo, a oscilao transumante. Pr- tica cujas origens se perdem na pre-histria, impres- sionara, pela sua regularidade, autores antigos, que a compararam subida e descida alternada dos pratos duma balana. Durante o vero, a erva seca nas terras baixas e h que procurar pastagens

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    frescas na montanha; 110 inverno, cobrem-se os cimos de neve e os rebanhos buscam abrigo e ali- mento nas plancies e nos vales. Estabelecem-se assim duas correntes, ou uma corrente dupla: gados da serra que descem terra ch, no inverno; gados das baixas que sobem s pastagens alpestres, durante o estio; ou ainda mistura de uns e de outros.

    Enquanto o pastoreio se confina montanha, na maior parte dos casos acima dos limites da cul- tura permanente, separa-se qusi por completo da vida agrcola ou traz-lhe, com um pouco de estrume, ainda algum benefcio. No assim nas zonas de altitude inferior onde os gados usam fazer a inver- nada. H que separar cuidadosamente pastagens e culturas: ervagens das terras em pousio e montes maninhos, so reservados ao dente voraz das rzes transumantes. Mas os conflitos surgem, inmeros e interminveis, nos caminhos pastoris que passam perto das povoaes e das culturas.

    Foi em Espanha que a oposio entre estan- tes e transumantes alcanou maior acuidade. Enquanto os privilgios da Mesta, associao de criadores de gado, respeitaram as cinco cosas vedadas searas, vinhas, hortas, prados e deve- sas, viveu-se num regime de compromisso van- tajoso para a agricultura sem ser nocivo ao pas- toreio. No sculo xvi, porm, a Cora resolve tomar debaixo da sua especial proteco os cria- dores de gado: a l passa a ser o primeiro produto de exportao; chegam a transumar qusi trs milhes e meio de ovelhas merinas; mas a agri-

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    cultura, entravada pela ameaa peridica destes exrcitos em marcha, confina-se periferia dos povoados, nem sempre isentos de lutas e destrui- es.

    Eco mais apagado de conflitos, idnticos na essncia, embora de menos aparatosas propores, possvel recolh-lo em muitos outros lugares. Tambm, por tda a parte, os gados seguem seus caminhos certos chamados, consoante os pases, canadas, canadas, drailles, etc. sempre que possvel margem das culturas e povoaes. Os agricultores associam-se como na scolca da Cr- sega para se protegerem dles. Mas a cultura dos campos ressente-se desta praga que, periodi- camente, a montanha derrama nas terras baixas. E inegvel que a transumncia favoreceu a conser- vao do latifndio e, mesmo onde j se extinguiu a lembrana dela, persiste no carcter extensivo que se mantm na criao, em larga escala, de gado medo.

    H aqui um tecido espesso de condies natu- rais e reaces humanas: a vocao pastoril a compensao do baixo rendimento das grandes exploraes; mas o pastoreio extensivo e o regime de propriedade latifundiria impedem que se cons- titua uma agricultura minuciosa, que o homem se prenda terra, pelo amor do que seu, pelo inte- rsse do lucro e pela esperana na justa recom- pensa de trabalhos e canceiras. Por outro lado, foram as prticas, tambm extensivas, da agricul- tura, que, activando a desarborizao, abriram vida dos rebanhos clareiras de pastagem.

    3

  • 34

    O pastoreio tem conhecido na sua histria altos e baixos, os primeiros correspondentes s pocas de depresso e de instabilidade social, os ltimos relacionados com o progresso geral da paz ordenada e tranquila. Modo de vida moldado com a terra, ajustado ao clima, entranhado nos hbitos e tendncias de uma parte da populao, renasce nos perodos de crise para se apagar nos de pros- peridade. Em Espanha a transumncia ressurge dos escombros da guerra civil. No Norte de frica, a decadncia do nomadismo tem acompanhado os progressos da colonizao, francesa e italiana, pelo aumento da agricultura e da criao sedentria de gados, e tambm porque nunca possvel garantir, com esta gente mvel e aventureira, a eficcia do domnio e a extino das lutas de conquista.

    A vida litoral. O recorte das costas mediter- rneas foi, sem dvida, elemento favorvel eclo- so da vida martima. Insistiu-se muito sbre o papel das enseadas, das reentrncias profundas, dos rosrios de ilhas que favoreceram os primeiros ensaios da navegao. Descreveu-se a regulari- dade dos ventos etsios ou das brisas de terra e mar. Certamente as embarcaes primitivas, movi- das a remos mesmo quando tambm armavam velas, de dimenses to exguas que a tribulao bastava para, ao cair da noite, as pr a sco, deveram muito ausncia de mars, que mantm constante o recorte da costa, multiplicidade de abrigos onde podiam acolher-se, limpidez do cu, que permitia ter sempre vista a terra por onde se guiavam os

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    navegantes. Mas, nesta Natureza aparentemente favorvel, toda a vantagem tem um reverso. Na mudana das estaes sopram ventos impetuosos e sbitos; os ciclones, que caminham sbre o mar, trazem consigo tdas as perturbaes. Nos aprtos de que o litoral to rico, estabelecem-se corren- tes e redemoinhos perigosos. Entre a Itlia e a Siclia, Cila e Carbdis, dois monstros horrendos e insaciveis, ameaavam a navegao muitos scu- los antes do Adamastor.

    De resto, h muitas costas inspitas, baixas e areentas, pantanosas e insalubres. E h povos a quem o mar nunca atraiu. A Crsega ou o Epiro, por exemplo, so montanhas de pastores e campo- neses, onde a vida litoral qusi no conta.

    O Mediterrneo , tambm, em comparao com o Atlntico, um mar pobre em peixe. Deve-se aos jejuns do cristianismo a importncia que le hoje tem na alimentao. Ainda assim, a Itlia obrigada a importar grandes quantidades de peixe do Atlntico.

    Os dois produtos principais da pesca so o atum e a sardinha que, em migraes regulares, veem do Atlntico e se dirigem para le. A estes h a juntar a variedade de peixes das lagoas lito- rais, das guas salobras dos deltas, as esponjas e os corais, tradicionalmente recolhidos do fundo do Mediterrneo, o mrice, molusco de cuja tinta se fazia a prpura. So ainda as aguas fortemente salgadas, que fornecem o sal, obtido fcil e rapi- damente durante o perodo de evaporao intensa do estio.

  • 36

    Se a importncia da vida martima muito imitada no campo da economia, o papel que lhe

    abe naS relae5 dos povos e na unidade do mundo

    mediterrneo e o mais elevado. Foi ao longo das costas sinuosas que progrediram correntes de civi- lizao e caminharam produtos. As feitorias fen- cias e as colnias gregas so como que excrecncias martimas na orla do continente: cidades abertas para o mar mas estabelecidas em stios isolveis da terra firme, promontrios escarpados, ilhus rochosos ou acrpoles inacessveis, donde se domi- nam o porto e os caminhos que l conduzem. Quando a navegao moderna dispensou as escalas inmeras e exigiu fundos amplos e seguros, muitos destes portos decaram da sua antiga funo: mas outros, apetrechados para as necessidades da vida martima dos nossos dias, continuam, no mesmo lugar, uma antiqussima tradio: Marselha e (jnova esto neste caso.

    lll- POPULAO E POVOAMENTO

    Dentro H1S "atura,s' re2resses humanas. - Dentro da elevada fixidez dos modos de vida, o editerraneo tem conhecido muitos altos e baixos

    da/113 5' na' AS randes P0cas de prosperi- dade e de irradiao sucedem perodos apagados, de estagnaao e decadncia. Na Natureza to lou- vada nem tudo favorece o homem. ste precisa

    esnpr Para Cnter 6m reSpeto Amigos que esperam, recuam, mas no desarmam.

  • 37

    Contra as erupes e os tremores de terra o homem pode muito pouco. E clssico o exemplo das aldeias estabelecidas nos flancos fertilssimos do Vesvio, que, destrudas pela erupo, renas- cem entre as escrias e cinzas frteis. O caracter intermitente e espaado destas convulses do Globo faz com que os homens, temendo-as, no evi- tem por completo as regies onde elas se mani- festam.

    A cultura das terras declivosas obriga a uma vigilncia permanente: ainda assim as torrentes podem destruir, em poucos dias, o trabalho de muitos anos. Se o campons deixa, depois de cada inverno, de consolidar os socalcos, estes desmoro- nam-se, a terra arvel e levada pelas enxurradas que em pouco tempo pem a nu a rocha dura e estril.

    Do mesmo modo a irrigao exige um traba- lho constante de limpeza e conservao das valas e canais, que aqui se entulham e ali se esboroam. A fertilidade destas regies uma frgil obra do homem e no um dom permanente da Natureza.

    O regime varivel dos cursos de gua, com cheias impetuosas e longas estiagens, faz com que les tragam, na poca das chuvas, ora o benefcio dos nateiros de lodo ora a maldio da sua fria destruidora. Outras vezes, em lugar das aluvies finas e frteis, a corrente, excessivamente forte, arrasta e deposita mantos de calhaus, de que necessrio, com trabalho e pacincia, desembaraar os campos. Tambm muitos rios chegam foz carregados de detritos, que ento sedimentam.

  • 38

    Os portos esto assim sujeitos ao perigo do ao- reamento, que para alguns a morte certa.

    O mais terrvel de todos os flagelos naturais, pelo seu grau de generalidade, todavia a malria ou sezonismo, gerada nos pntanos ou nas terras que o mar deixa empapadas de gua sem escoante, onde pululam mirades de anofeles.

    O micrbio da febre palustre, que vive no sangue humano, desenvolve-se no mosquito e adquire depois, quando inoculado no homem pela picada daquele insecto, grande virulncia. Os casos de morte por impaludismo no alcanam, na regio mediterrnea, percentagens elevadas. Mas a malria enfranquece as populaes, inferio- riza-as, diminui-lhes o rendimento econmico.

    Depois de se atriburem s recrudescncias da epidemia palustre os perodos de decadncia social que a regio tem atravessado, provou-se que, ao lado do ciclo prprio da doena, que passa por altos e baixos, os recuos da civilizao, o enfra- quecimento da agricultura, a desorganizao dos canais da rega, as populaes mal alimentadas nas pocas da crise, criam condies favorveis ao desenvolvimento do sezonismo. A Itlia combate-o hoje com vantagem: pela seca de pntanos, pela agricultura intensiva e pelo povoamento das regies de bonifica. Assim se transformaram mui- tas solides febris em reas de colonizao interna.

    hostilidade da Natureza juntam-se os confli- tos que nascem do choque de modos de vida diver- sos ou da oposio brutal das regies. A montanha no s espalha pelas baixas a praga dos rebanhos,

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    como lhes mandou muitas vezes bandidos ou con- quistadores. A agricultura ressente-se da instabi- lidade social: teve de proteger-se dos pastores transumantes, dos vidos salteadores que se aco- lhem s alturas pobres e, junto do mar, dos pira- tas, que, em vrias pocas, infestaram as costas. A instabilidade social reflete-se no povoamento, as casas aglomeram-se, apinham-se em lugares altos e fceis de defender. Nestas lutas obscuras, agora extintas para logo renascerem, estar a expli- cao de muitas regresses da histria mediter- rnea.

    A histria.Em nenhum outro espao do Globo as relaes da geografia e da histria formam, como no Mediterrneo, uma trama espessa e indissol- vel. preciso considerar a persistncia das con- dies naturais e a continuidade do esfro humano para compreender as gentes e os lugares.

    Se, por um lado, tudo aqui predestina ao loca- lismo, por outro o mar estimula a vida de relao. Montanhas que repartem as terras em vales aper- tados e bacias limitadas, enseadas abertas na arriba hostil ou separadas por areais insalubres e desertos, prestam-se formao de sociedades minsculas a que os recursos locais, poucos mas variados, do a necessria base econmica. Civilizaes dobra- das sbre si, condenadas rotina e morte pela estagnao se um fermento de vida geral no as animasse. Foi assim nas costas e ilhas do Mar Egeu, onde os povos ribeirinhos, muito antes das aventuras de Ulisses, prepararam a ecloso do

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    gnio grego. Foi assim na ltima Hespria, onde os primeiros navegadores fencios, gregos e pni- cos encontraram uma massa de povos mal distin- tos, perdidos no isolamento e na barbrie.

    Ao longo do mar caminharam ideias e produ- tos, estabeleceram-se correntes de civilizao e lugares de permuta, fundaram-se centros de dom- nio, talassocracias de vida brilhante mas fugaz. Em todo o Mediterrneo a unificao poltica repousou sempre numa forte base continental. Esparta ven- ceu Atenas: a primeira grande organizao do Oriente nasceu nos planaltos da Macednia e foi por terras interiores que alcanou a ndia. O pr- prio Imprio Romano, que realizou, pela nica vez, a unidade poltica e econmica das margens do Mediterrneo, fundou-a na organizao das suas estradas e cidades interiores. A unidade da Espa- nha, da Frana, da Itlia, da Iugo-Eslvia, fez-se custa da hegemonia das terras continentais: Cas- tela, Ilha de Frana, Piemonte, Srvia. Portugal a nica nao que foge a esta regra.

    Quando derruiu o Imprio Romano, a vida geral viu-se a cada passo entravada pelas rivali- dades locais. Os Justinianos, por uma rde de malhas largas, estenderam ainda o seu domnio ao Sul da Pennsula Ibrica. A quebra da organiza- o regular desenvolve por tda a parte a pirata- ria, a insegurana, o retraimento das populaes que abandonam ao sezonismo as plancies litorais e retomam, nas terras altas, os modos de vida pri- mitivos. A invaso muulmana veio ainda aumen- tar a instabilidade. Os esconderijos da costa do

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    Magrebe foram ninhos de piratas, que os Europeus por vrias vezes tiveram de limpar mas s muito tarde destruram por completo.

    Quando as Cruzadas reanimaram os caminhos martimos e fria do dio religioso sucedeu a convivncia econmica, o Mediterrneo conheceu outra era de prosperidade, essa porm fugaz e dis- putada. As repblicas italianas tem j uma rplica nas Hansas do Bltico e do Mar do Norte. As ter- ras banhadas por stes mares possuem solo mais rico e criaram uma indstria prspera. A vida urbana deixou de ser, como na Antiguidade, um privilgio local. As grandes rotas oceanicas, da ndia, da frica, da Amrica, que se enfeixam em Lisboa, arrunam, por sculos, estas construes frgeis. S a abertura do Canal de Suez tornara a dar aos caminhos e a alguns portos do mar inte- rior uma semelhana do esplendor antigo. Entre- tanto a talassocracia passara a outras mos: a Inglaterra ainda a primeira potncia martima do Mediterrneo.

    O fluxo e refluxo da histria do litoral no nos deve iludir. Assim como o domnio costeiro estreito e limitado, assim tambm as suas reper- cusses humanas so epidrmicas, sem atingir o mago da terra firme. As grandes invases hist- ricas, vindas do Norte, ou do Oriente, sao todas de povos terrestres, pastores, agricultores, trafican- tes do deserto, no porm marinheiros. E preci- samente o seu papel na vida de relao que nos faz exagerar a importncia das fainas martimas. Ser preciso ultrapassar as colunas de Hrcules

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    para encontrar civilizaes constitudas em trno da vida litoral. A prpria navegao em larga escala, emancipada das balizas terrestres, se deve muito experincia dos Mediterrneos, s se tor- nou possvel quando os Portugueses resolveram, de maneira segura, os problemas da posio das terras e do conhecimento das rotas.

    De resto, se o mar serviu as relaes dos vrios fragmentos mediterrneos, foi por terra que se pro- pagaram as mais remotas influncias. As monta- nhas recentes deixaram abertos alguns corredores por onde se passa para as florestas hercnicas e para as depresses que as contornam. Ao longo dessas passagens os morenos mediterrneos rece- beram, por vrias vezes, a visita dos brbaros do Norte, atrados pela doura do clima e pelo brilho da civilizao. Os vestgios que les deixaram no avultam. Ao contacto de gente superior, fundi- ram-se na massa geral sem a alterarem sensivel- mente. De todos os invasores nrdicos apenas os Celtas possuam, ao tempo, uma civilizao supe- rior, ainda assim marcada demais por um cunho local para que pudesse ser transplantada para luga- res to diversos. O papel do Mediterrneo foi, portanto, o de difusor de ideias e de tcnicas que entram hoje em to larga parte no patrimnio europeu.

    A regio deve muito mais ao Oriente, bro de antiqussimas civilizaes. O contacto, que nunca se estancou, foi em vrias pocas muito intenso. Vimos quanto a agricultura aproveitou dele. A derradeira contribuio trouxeram-na os

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    rabes, com a arte da rega, e os ltimos elos da cadeia por onde se renovou, na Europa barbara, uma dbil clarid.de de cultura. Fe tambm ao longo do Mediterrneo, subindo pelos vales qu ZL Europa mdia, que penetraram na Arte medieval influncias do Oriente remoto e nco A invaso muulmana abriu ainda outro sector do horizonte: o deserto, com o formigueiro dos osis, a mobilidade dos nmadas, as pistas de caravanas que levam frica negra. A

    O que o mundo deve ao Mediterrneo campo do esprito no para ser ^cordado aquu As lembranas de uma civilizaao feita de equili brio, de clareza e de respeito dos valore^n '. vivem e perduram por tda a parte. O Ren mento no foi mais do que o reatar duma forte tradio local, a que viria juntar-se tudo o que experincia de novas terras e novos mares ha de sugerir aos homens.

    Quando a Europa do Norte comea a tomar, nos domnios da cultura, lugar cada vezmaisamplo ainda para o Mediterrneo que se voltam os olha res e os desejos. Poetas e artistasidas terras ene- voadas e frias fizeram a romagem do Sul O Lr da Mignon, de Goethe, exprime o deslumbramento dos homens do Norte por tudo o que na nossa natureza representa um dom amavel do ceu.

    O prprio Cristianismo, a mais ecumnica da religies, conserva, nos seus smbolos e nos seus ritos, o cunho do Mediterrneo. Os Produ*s

    essenciais da cultura adquirem caracter sagra . Sempre que entre os homens se renova o mist -

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    rio da Encarnao, o corpo e o sangue de Deu,

    presentam-se sob a5 espcies do po do v,nho

    Sacramentos''^ ^ San'S ^ Se

    No n SG marCam 05 eleitos do Senhor

    LVm de Jesus' a pompa Hagos e dos seus presentes, sobrepe-se ao

    "o t PaS,reS ' d0S lai" m" A SUa vida decrre, em se movem tntmeSm ambiente Pastoril em que ovem tantas narrativas bblicas. Por isso o

    dos rebTh "'Vi"0 ^ m^6nS tirad- da vida

    rrrr-s -r pastor, que guarda o rebanho dos' flisAmiseri

    vida de todos os dias. ^ estrJnho a sua

    i9 a A pop",ao- - O substratum tnico das doou laes mediterrneas em muitas regifles anterior'

    a prpria histria. Noutras as

    j^TarjassS

    SSHSSSS pelo mesmo ambiente de cultura Tctn dos rabes e Berberes da frica do Norte a^H

    vrios " xpnmiram o sent,mento de nm patrimnio de

  • 45

    civilizao comum nos dois lados do Estreito de Gibraltar: a demonstrao nunca oi feita em bases cientficas; mas no seria ocioso procurar, sob a oposio das religies, para alm do romanismo de uns e do arabismo de outros, traos de identi- dade. Problema difcil de pr: at que ponto sses aspectos comuns so devidos mesma base tnica ou semelhana do ambiente geogrfico? A des- trina nem sempre ser fcil.

    , de resto, unidade natural, que se pode imputar a facilidade com que os Mediterrneos se deslocaram de uns lugares para os outros sem alterarem a substncia dos seus modos de existn- cia. A Magna Grcia assemelha-se Grcia cls- sica. O Espanhol em Marrocos, o Siciliano na Tunsia, encontram o mesmo ambiente familiar que os Mouros tambm no estranharam na parte da Pennsula onde por mais tempo se mantiveram. A semelhana de raa, a unidade de civilizao agr- ria, a identidade dos modos de vida, no podem ser estranhos ao convvio em lugares que a Natu- reza criou afins.

    A repartio da populao revela os mesmos contrastes j notados a propsito de outros aspec- tos da geografia do Mediterrneo. Se a Itlia, com 140 habitantes por quilmetro quadrado, se conta entre os estados de densidade muito elevada, a Espa- nha, com 49, ou a Albnia, com 40, esto abaixo da mdia europeia. Dentro de cada pais passa-se sem transio de formigueiros humanos, que lem- bram os focos de densidade do Extremo Oriente, para reas qusi desrticas. A natureza do solo,

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    as diferenas brutais de fertilidade da terra, sobre- tudo a irrigao e a longa tradio agrcola de certas regies privilegiadas, como so, na Itlia e na Espanha, os jardins regados de agrumes, expli- cam essas bruscas oposies. A histria interveio tambm. H lugares onde, atravez de tdas as vicissitudes e das diversas civilizaes e povos que a se sucederam, a densidade ascende to longe quanto a investigao possa determinar. Noutros deram-se, pelo contrrio, transformaes profun- das. O Agro romano foi uma regio povoada, como todo o Lcio. Hoje levantam-se runas pres- tigiosas em plancies ermas e febris.

    So as taras das terras baixas impaludismo, inundaes que afugentam a populao para as zonas de altitude mdia, cimos das colinas ou meia encosta dos montes. Na Maremma toscana a densi- dade aumenta at 600 metros de altitude e man- tm-se mxima at 800; s depois diminui. Todavia o limite superior do povoamento e da cultura per- manente so menos elevados do que as condies de clima fariam supor. O Mediterrneo no um montanhs. Vive sombra de relevos altos, onde a transumncia ou qualquer cultura episdica o levam cada vero formas de economia que no favorecem a fixao terra. A montanha um recurso excepcional; a base da vida agr- cola est na zona onde, junto dos cereais, medram as outras plantas sbre que repousa a explorao do solo.

    As populaes mediterrneas, sem atingirem a fecundidade prodigiosa de algumas das regies

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    equatoriais ou do Extremo-Oriente, contam-se entre as mais prolficas da Europa *.

    A 18.8 nascimentos por 1.000 habitantes na Alemanha, 15.3 na Inglaterra, 15.1 na Frana, opem os territrios do Mediterrneo nmeros muito mais elevados: 42.6 por 1.000 na Palestina, 33.6 na Ilha de Malta, 31.4 na de Chipre, 28.9 na Iugo-Eslvia, 27.5 na Grcia, 27.3 em Portugal, 23.1 na Itlia, 22.9 na Espanha. Todos stes pa- ses figuram, na Europa, cabea do rol, acompa- nhados ou excedidos apenas pela Romnia (31.0) e Bulgria (25.9).

    A mortalidade tambm importante, em conse- quncia do nvel de vida baixo, da falta de higiene, dos bitos muito frequentes na primeira infncia. A Ilha de Malta, por exemplo, o territrio euro- peu onde mais se nasce e tambm onde mais se morre (20.8 mortes por 1.000 habitantes). Todavia tal a fecundidade do ventre das mulheres , do mesmo modo, nestas regies que se encontram mais elevados excessos de nascimentos sbre as mortes: 24.6 por 1.000 habitantes na Palestina, cuja populao se mostra vigorosa e rica de possi- bilidades, 17.3 em Chipre, 15.7 na Iugo-Eslvia, 12.8 na Grcia e em Malta, 11.1 em Portugal, 9.3 na Itlia, 6.5 na Espanha, a menos fecunda das naes mediterrneas. Lembremos que os mesmos valores so, respectivamente, de 7.3 na Alemanha

    1 Todos os nmeros que se seguem so mdias de iq34- -iq38.

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    e de 3.2 na Inglaterra. Em Frana, h um excesso de 2 bitos por cada 10.000 habitantes.

    Os rpidos e elevadssimos acrscimos de popu- lao, mormente a das cidades, que na Europa mdia e na Inglaterra acompanharam o desenvolvimento da indstria moderna e criaram focos de densidade, que se contam entre os primeiros do Globo, foram aqui desconhecidos; mas nenhuma regio do Medi- terrneo apresenta indicios de estagnao demogr- fica que outros lugares j vo deixando transparecer.

    Estas multides que se renovam e no cessam de crescer pem aos governos problemas graves: a terra pobre, a gente muita. A emigrao tem sido a vlvula de segurana: hoje, com o desenvolvimento industrial, a colonizao interna em regies adrede irrigadas ou limpas de sezes, o melhoramento dos rendimentos agrcolas, a divi- so das antigas unidades de explorao agrria, cada pas procura arrumar a sua casa de modo que todos caibam nela. Todavia, pela alimentao, pelo conrto, pelo poder de compra, o homem do Medi- terrneo est muito abaixo dos das terras europeias confinantes. O que se faa para aumentar, com os recursos locais, a riqueza natural, mal compensar o acrscimo do nvel de vida destas populaes pobres e parcas. Assim, parece que s a emigra- o poder resolver o problema do superpovoa- mento, de que algures se vo sentindo indcios. Depois de ter difundido na Europa e no Mundo a sua civilizao, parece caber ainda ao Mediterrneo o papel de espalhar por terras novas a sua gente fecunda.

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    O povoamento. H um tipo de povoamento mediterrneo, como h, para a habitao e outras construes, um material de preferncia. ste a pedra, empregada desde as casas mais primitivas, construdas com blocos soltos, no aparelhados, sem argamassa e sem pintura, at aos monumen- tos mais sumptuosos. Habitaes, muros de pro- priedades, socalcos que sustem as culturas, tudo revela a mesma constante utilizao do material que por tda a parte abunda: s vezes, basta reti- rar dum campo as pedras que prejudicam o manejo dos instrumentos aratrios para com elas erguer muro ou suster a terra no declive. Ao emprgo da pedra se deve a persistncia das runas, que s lentamente se desmoronam, das estradas romanas, que at h um sculo serviram ao trnsito, das pontes tambm romanas que no poucas vias ainda atravessam. O material resistente, de que os sculos no apagam todos os vestgios, assim, nestas regies impregnadas de histria, uma recor- dao indelvel.

    A forma de povoamento mais comum no Medi- terrneo a aglomerao. A explicao clssica da concentrao das habitaes roda das raras iiascentes, se muitas vezes no vlida, sempre insuficiente. A explorao extensiva, o uso do afolhamento, no sero estranhos aglomerao. Todavia ela traduz, sobretudo, um longo passado de insegurana: a coeso das habitaes fez-se por motivos de defesa, contra os piratas do litoral, as hordas de salteadores, os pastores da montanha.

    4

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    Esta mesma razo presidiu escolha do sitio: Grande nmero de povoaes antigas ergue-se no alto de montes, em cabeos fceis de defender, donde se dominam os campos e os caminhos. A as casas apinham-se, separadas pelas ruas estreitas e ngremes, sombrias, como convm ao clima soa- lheiro, animadas pela vizinhana, fermento da vida urbana, que aqui se desenvolver primeiro do que no resto da Europa.

    A disseminao anda ligada fertilidade da terra e cultura intensiva, a uma intimidade maior da casa com o campo. Desde a Idade Mdia, mas, sobretudo, em data muito recente, a colonizao das terras ganhas para a cultura fez-se sempre por meio das habitaes dispersas, que progridem ao longo dos caminhos, animados pelo trnsito, em- quanto, no cimo dos montes, as povoaes velhas decaiem e se arrunam.

    As cidades. Nada h no Mediterrneo to tpico da ntima unio da geografia com a histria como as cidades; se s duas Roma e Barcelona ultrapassam hoje um milho de almas, elas con- tam-se entre as mais antigas, mais constantes e mais nobres que o mundo possa conhecer. Quando os povos clssicos atingiram um grau elevado de civili- zao, comearam a fundar cidades ou a dar estabi- lidade urbana s aglomeraes anteriores. A cidade resulta de um acto de vontade humana: uma aura de nobreza envolve a sua origem, ligada aos altos feitos de um heri e marcada por um especial favor dos deuses. A colonizao grega ao longo do litoral,

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    o imprio romano em tda a extenso das terras, levaram esta forma nova de povoamento restante Europa, que a desconhecia.

    A mesma preocupao de defesa que vimos actuar na concentrao do povoamento, aqui com mais forte razo, primou na escolha do stio: lugar alto, acrpole, fortaleza, corao da vida urbana, residncia dos deuses, domina os arrabaldes indus- triais, abertos ao comrcio, prximos das vias de trnsito, e avista o agro que alimenta a cidade. Lugares hoje reservados curiosidade histrica, tiveram durante sculos a sua funo coordenadora e defensiva.

    A combinao de uma baa abrigada e de uma colina fragosa caracteriza as aglomeraes litorais, que se podem contar entre as mais tpicas do Medi- terrneo, com seus portos de escala, abertos a todos os ventos do largo e a tdas as gentes que os navios transportam, cidades animadas, de bairros populo- sos onde pululam crianas, de vendedores que apre- goam e correm e gritam, de um borborinho que no cessa: ate nas horas tranquilas se ouvem, como num bzio, todos os rudos do mar!

    Ao contrrio do maior nmero das cidades da Europa Central e Setentrional, de planta regular- mente desenvolvida em terras planas, aqui so fre- quentes as ruas ngremes e tortuosas, s vezes em escadaria, como em Argel, estreitas, para aprovei- tar espao e escapar ardncia da cancula. A ame- nidade do clima convida vida na rua, onde se passeia e fala nos intervalos do trabalho. Ao longo da fieira das casas, debaixo de arcadas, de toldos,

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    de andares de ressalto, que abrigam do sol sem tira- rem a frescura da brisa litoral, abancados s mesas de refrescos, os homens conversam e ficam at tarde nas noites calmas de vero. Cria-se assim um ambiente de convvio aberto troca de idias, uma sociabilidade fcil, que temperam o arcasmo bisonho do campons e do pastor. Os cidados das democracias antigas, que passavam o dia em discusses sobre os negcios da cidade, em deba- tes pblicos, ao ar livre, escutando o orador de momento, passeando no frum, no se poderiam conceber no clima hmido e enevoado de Londres ou de Hamburgo.

    IV CONCLUSO

    A agricultura a base de tda a economia mediterrnea. So os seus produtos que ocupam os cuidados de populaes numerosas, a quem for- necem o essencial da alimentao. Nas relaes econmicas, cabe-lhes o primeiro lugardas expor- taes: vinho, azeite, frutas, legumes. excepo da cortia e dos resinosos, o papel dos produtos florestais restrito. Da mesma maneira o da cria- o de gado que, no obstante dar origem a um caracterstico e bem diferenciado modo de vida, pesa pouco no volume total das riquezas.

    A indstria penetrou tarde e a medo neste ambiente rotineiro e pobre, e nele permanece loca- lizada em meia dzia de centros (Barcelona, Mar- selha, Turim, Pireu, etc.). Um nico pas mediter-

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    rneo procura lutar contra a falta de matrias primas e de combustvel por uma industrializao que atinge at alguns aspectos da prpria agricul- tura: a Itlia. le tambm o nico que jogou o seu destino para ser contado entre as Naes gran- des e poderosas.

    Pastor transumante, navegador, o homem mediterrneo , sobretudo, um rude trabalhador da terra. Deve-se-lhe uma agricultura variada, onde o granjeio extensivo de cereais, de baixo rendimento, se ope explorao intensiva e rica das terras irrigadas.

    H nestes contrastes, que constituem a prpria essncia da regio, tdas as possibilidades de con- flitos graves. Mas h tambm, na variedade de produtos da terra, um elemento de suficincia da vida econmica, contida pela sobriedade tradicio- nal. Nenhum pas mediterrneo conhecer talvez o grande desenvolvimento industrial de alguns lugares da Europa. Tambm nenhum dles parece talhado para a supremacia poltica ou a hegemonia econmica. Todos sentem, com mais ou menos acuidade, as mesmas deficincias. Todos concor- rem aos mercados com os mesmos produtos. Mas provvel tambm que a decadncia e a misria, que acompanham as convulses da civilizao, pou- pem um pouco estas populaes rurais, habituadas a um nvel de vida baixo, e capazes de extrair do solo aquilo de que precisam para satisfazer as par- cas necessidades da vida quotidiana.

    Por outro lado, a natalidade elevada repre- senta, para a regio, uma enorme e permanente

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    reserva humana. Depois das naes ibricas, que edificaram, com o seu sangue, mais de metade da Amrica, que papel caber ainda, na reconstruo futura, a essa gente pobre, resistente e activa?

    * * *

    O Mediterrneo aparece, no mundo europeu moderno, como a regio mais rica de variedade e localismo, mas, ao mesmo tempo, como a mais originalmente unida, no clima, na natureza, nas produes, no trabalho dos homens. Para um Ingls, um Alemo, ou at um Francs do Norte, stes lugares revestem-se j de atractivos de exo- tismo que preludiam a Africa mourisca ou o Oriente. Mas os espritos reflexivos compreendem que, por debaixo do arcasmo pitoresco dos modos de exis- tncia, esto as razes da prpria civilizao, que aqui se criou banhada pelo sol quente e debaixo do cu luminoso. O cunho da histria marca-se em tdas as formas da actividade humana; mar- ca-se tambm na prpria fisionomia dos lugares, moldada pelo homem, impregnada da sua presena secular.

    Tal como o clima se transforma proporo que nos alongamos do litoral, assim o carcter das regies se vai alterando com o afastamento do Mediterrneo. Pelo Norte, pelo Sul, pelo Oriente e pelo Ocidente, outras influncias aparecem a dis- putar o predomnio dos elementos que constituem, nesta faixa atravessada entre trs partes do mundo, a sua poderosa e antiqussima originalidade.

  • 55

    O Norte de frica pertence, em parte, ao dom- nio do Sara, que se estende at s praias mediter- rneas. O prprio Magrebe, islamizado, abre-se amplamente ao contacto do deserto. O Levante, que principalmente grego, tambm turco, srio, mesclado de europeu e asitico, numa grande con- fuso de raas, de povos, de lnguas e de civiliza- es. Os Balcans vivem na rbita do mundo eslavo, e constituem, nas suas terras interiores, tal como as Castelas, um domnio continental prprio, onde as influncias do mar se degradam na imensido dos planaltos, tal como os ventos hmidos que vo descarregando as chuvas de encontro s montanhas litorais e chegam a j incapazes de vencer a ari- dez. No Sul da Frana e no Norte da Itlia, a amendoeira floresce entre cimos nevados at tarde, na primavera. Finalmente, alm do estreito de Gibraltar, ao longo da costa portuguesa que, por transies cuidadosamente graduadas, se passa da ltima terra mediterrnea o Algarve para a primeira terra atlntica o Minho: lugar banhado j numa luz que a humidade torna menos crua, bem aberto aos ventos ocenicos e exposto s suas chuvas fecundantes.

  • CAPTULO II

    PORTUGAL MEDITERRNEO

    ICONDIES GERAIS

    Trs influncias. A descrio do mundo mediterrneo, esboada no captulo anterior, ajuda a compreender alguns caracteres essenciais da nossa geografia. No clima, no revestimento vegetal, no arcasmo dos modos de vida, na economia rotineira e pobre, na populao vigorosa e na exiguidade de boas terras para acomod-la, Portugal repete aspectos prprios dos pases ribeirinhos do rnar interior, a que o ligam afinidades flagrantes e pro- fundas. Abstrair das relaes de posio, seria, porm, mutilar a complexa realidade geogrfica do nosso territrio.

    Na orla ocenica da Ibria, a terra portuguesa, banhada pelo Atlntico, sofre j o seu influxo, no clima, mais moderado e hmido, no ambiente que permite outro estilo de cobertura vegetal, nas rela- es do homem com o elemento lquido, que no so as mesmas beira de um mar interior, que se bordeja entre terras conhecidas, e de um oceano, misterioso e enorme.

  • 58

    Resumiu-se j esta dualidade da nossa geogra- fia numa frmula breve e em grande parte exacta: Portugal mediterrneo por natureza, atlntico por posio1.

    Uma rpida resenha dos seus elementos geo- grficos fundamentais mostrar-nos- como eles assentam, em geral, numa forte base mediterrnea. Os aspectos que provem da posio martima so menos fceis de definir, porque no h um domnio atlntico com a homogeneidade de caracteres que distingue o Mediterrneo: atlntico o que mais directamente depende da aco do Oceano, grande regulador do clima, atravez do qual se repercutem, at longe da costa, mltiplos sinais da sua presena prxima.

    Outra influncia vem ainda increver-se no nosso solo. Como se viu, a extenso do domnio mediterrneo puro faz-se ao longo de costas e ilhas, limitado em altitude pela montanha, de feio sem- pre mais setentrional, e, em afastamento do mar, pela continentalidade. S a Itlia peninsular, ver- tebrada pela cadeia dos Apeninos, apresenta a ste respeito uma composio equilibrada. O interior das outras pennsulas tem uma fisionomia conti- nental prpria, uma evoluo dobrada sbre si, uma originalidade capaz de colorir, atenuar, degra- dar ou eliminar por completo o elemento medi- terrneo.

    1 Pequito Rebelo, A Terra Portuguesa, Lisboa. .1929, Pg- 55*

  • 59

    Portugal no se exime, numa faixa ainda extensa do seu territrio mais sertanejo, ao tom especfico das regies do centro da Pennsula, a que, muito imprpriamente, entre ns se tem cha- mado ibrico 1. Dizendo, de maneira simples e clara, interior, quere-se significar que, nessa rea, s influncias ocenicas ou contextura mediter- rnea se junta outro elemento, prprio da posi- o, afastada do litoral ou menos sujeita, pela inter- posio de relevos importantes, dominncia atlntica.

    o doseamento destas influncias que per- mitir estabelecer as divises fundamentais da terra portuguesa. O relvo do solo, em grande parte independente de tais combinaes, no estranho, contudo, maneira como elas se apre- sentam.

    Um contraste de relvo. Ao contrrio da Espanha, regio de terras altas e de estreita orla litoral, em Portugal predominam as reas de baixa altitude: 71.4% do solo esto a menos de 400 metros, e apenas 11.6 /0 acima de 700 metros. Mas a repartio das zonas de relvo faz-se de maneira muito desigual no Norte e no Sul. Toma-se geralmente o Tejo como linha de separao. Se se considerasse, em vez do rio, o pe das serras que

    1 evidente que ibrico, em sentido lato, no pode desig- nar apenas o centro da Hispnia; em sentido restrito tambm no o designa com propriedade.

  • 60

    marginam, pelo Norte, a sua bacia, o contraste seria ainda mais violento.

    Zonas cie altitude Percentagens Norte do Tejo Sul do Tejo Portugal

    acima de 700. . . . iq.7 0.2 11.6 de 400 a 700 .... 27.2 2.8 17.0 de 200 a 400 .... 24.2 34.0 28.3 abaixo de 200 . . . 28.9 63.0 43.1

    100.0 100.0 100.0

    Assim, no conjunto, Portugal aparece separado em duas regies de relvo, no s distintas, mas de certo modo opostas. O Sul possui 61.5 /0 das terras baixas, inferiores a 200 metros; a regio das planuras e dos planaltos mdios, de extensas bacias fluviais deprimidas e terrenos molemente dobrados, com raros retalhos montanhosos e ape- nas uma serra que culmina a mais de 1.000 metros (S. Mamede: 1.025 metros). O Norte, pelo con- trrio, compreende 95.4 /0 das reas superiores a 400 metros. A terra alta est presente por tda a parte e cimos de mais de 1.000 metros levantam-se a 50 quilmetros do mar. As zonas baixas, excep- o do tringulo litoral de fraco relvo com os vrtices em Espinho, Coimbra e Cabo da Roca, ainda.assim acidentado de cabeos e de retalhos de planalto, encontram-se apenas nas margens aperta- das dos rios principais. As grandes plataformas montonas ou de suave ondulao que, primeira vista, evocam o Alentejo, esto, em Trs-os-Mon- tes e na Beira Transmontana, algumas centenas de metros acima dle.

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    O clima. Durante o vero, as condies cli- mticas do Mediterrneo reinam em tda a Penn- sula Ibrica: temperatura elevada, luminosidade forte, grande insolao, carncia de chuvas. Se a regio suporta presses altas, relativamente grande depresso saariana, os ventos descem dos planaltos interiores, como um spro ardente e doentio (soo). Se, pelo contrrio, caso mais geral os calores do centro da Pennsula cavam a uma depresso, em tda a orla ocidental sopram brisas frescas do mar, que amenizam a temperatura sem todavia originarem chuvas, porque o ponto de condensao muito elevado durante os calores estivais.

    O traado das linhas isotrmicas, reduzidas ao nvel do mar, corre ento paralelo ao litoral por- tugus, e a temperatura aumenta proporo que se caminha para a raia. A humidade relativa ele- vada junto do Oceano, a temperatura a mais moderada. Porm, em tda a extenso do territ- rio, Julho e Agosto so meses sem chuva, ou de chuviscos escassos.

    O como do outono marcado por uma srie de perturbaes, acompanhadas de trovoadas e de aguaceiros, curtos mas violentos. Nas regies montanhosas do Norte comea ento o primeiro perodo de chuvas, que pode durar algumas sema- nas. No Sul, nuvens caliginosas passam alto, sobre as planuras ainda quentes, ou dissipam-se em chu- vadas fugazes. Em todo o caso so elas que, depois do vero, regulam o incio dos trabalhos agrcolas

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    das sementeiras. Passada esta primeira perturba- o, o tempo quente e luminoso ainda s vezes se prolonga muito. As noites comeam a arrefecer, mas os dias so lmpidos e soalheiros; o ar carre- ga-se de humidade, que d luz os doces tons outonais. O vero de S. Martinho pode entrar por Novembro adiante.

    O inverno , para ns, o tempo do frio e da chuva. Duas situaes meteorolgicas opostas alter- nam na Pennsula. Pelas noutes, cada vez mais longas, a temperatura mdia diria vai diminuindo. Nos planaltos elevados das Castelas, o ar arrefecido comea a gerar um centro de presses altas, enquanto, no mar, mais tpido, se mantem reas de depresso. Os ventos divergem, frios e cortan- tes, do interior da Peninsula. Nesta poca do ano, a Pennsula ora se comporta como um continente em miniatura, regulando, com os seus prprios recursos, os movimentos da atmosfera, ora o seu centro se liga ao anticiclone dos Ares ou ao da Asia-Europa central. Temos, neste tempo, que chega a durar semanas, dias luminosos, scos, de atmosfera lmpida e temperatura elevada nos lugares abrigados. Mas, onde sopram os ventos, sente-se frio; e, durante as noites de incomparvel luar ou cu estrelado, arrefece tanto que os campos despertam debaixo de um lenol de geada.

    ste perodo, de tempo estvel, precedido e seguido de situaes naturalmente transitrias. So os rosrios de ciclones que se deslocam, nesta latitude, de Oeste para Leste, e percorrem a bacia do Mediterrneo. Aos dias frios e lmpidos, sucede

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    um aumento de temperatura, logo seguido de nuvens no Poente e das primeiras condensaes nas vertentes montanhosas. O cu cobre-se por completo; sopra do mar uma aragem hmida e morna, que se resolve em chuvas intermitentes ou prolongadas. ainda por tempo chuvoso que um arrefecimento marca o termo da passagem da rea ciclnica.

    Portugal recebe, em primeira mo, de encontro s suas montanhas do Norte, as chuvas fecundantes. Quando estas massas de ar, vindas do Atlntico carregadas de humidade, ultrapassam as montanhas, perderam por condensao boa parte do vapor de gua que transportavam. Da o contraste, muito forte, como se ver, entre a zona ocenica e" as terras interiores, transmontanas, subtradas directa influncia do mar.

    O outono, o inverno e a primavera, conhecem ste tempo perturbado, chuvoso e varivel. O ms de mais chuva geralmente Dezembro, mas em muitas estaes Maro apresenta um mximo secun- drio.

    Tais so as condies gerais que regem o clima de todo o territrio portugus. Mas, tal como para o relvo, do Norte para o Sul desenha-se a oposi- o entre uma rea hmida, chuvosa, de estiagem moderada, e outra mais sca, de chuvas escassas e de vero ardente e muito longo.

    No por acaso que aquela coincide com as terras altas do Norte e esta com as planuras meri- dionais. As chuvas, to importantes na vertente atlntica, so, em grande parte, devidas barreira

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    montanhosa e s condensaes que ela determina: chuvas de relevo, como de uso dizer-se, tan mais abundantes e prolongadas quanto mais se sobe. Mas, ste factor de contraste, nascido da altitude, no vem seno reforar as condies da prpria circulao atmosfrica. E no litoral portugus que se extremam duas regies climticas diferentes: a mediterrnea e a oceanica. A pri- meira com as afinidades tropicais do seu vero quente e sco, seus invernos doces atravessa- dos por fugazes perturbaes vindas do Ocidente. A segunda sujeita j ao influxo permanente dos ventos de Oeste, ventos hmidos do Atlntico, onde nascem os ciclones que rumam a Leste. A arapf1

    martima tempera o clima e faz descer a amplitude anual. Mas o inverno j se sente, com temperatu- ras baixas, noites frias, muitos dias consecutivos de chuva, neve nas montanhas.

    No vero, o clima mediterrneo rema por toda a parte, no litoral e no interior, na terra ch e nas serranias. Mas a durao dle menor na costa ocidental, nas serras e no Norte, maxima no Sul. O tempo trio, perturbado e chuvoso, dura consoante se manteem as influncias setentrionais. Durante o inverno, em avanadas breves, pode sentir-se ja a aco da frente polar, com massas de ar trio nue reforam as do centro da Pennsula. Mas, o elemento caracterstico do clima ocenico e da sua extrema variao a passagem de perturbaes vndas do Ocidente, e o avano de massas de ar que, ao percorrerem o oceano, se carregaram humidade. Esta influncia atlntica, trazida pelos

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    ventos dos quadrantes de Oeste, domina o clima portugus: apenas uma poca do ano a atenua -o vero e uma faixa de territrio lhe escapa o Sul. ^

    II ELEMENTOS NA TUR AIS

    Os acidentes do terreno. Crca de sete dci- mos do solo portugus pertencem ao macio antigo ibrico que forma o ncleo da arquitectura da Pennsula: a volta dle dispem-se bacias depri- midas, ou orlas de terras modernas elevadas onde o calcareo forma tractos importantes. Todo ste material participou, mais ou menos, dos movimen- tos contemporneos da gnese da cadeia alpina

    O moderno, enrug