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ROTA DE APRENDIZAGEM: “Estratégias e inovações para a inclusão da juventude rural como protagonista do desenvolvimento em seus territórios” 22 e 28 de fevereiro de 2015 El Salvador.

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ROTA DE APRENDIZAGEM: “Estratégias e inovações para a inclusão da juventude rural como protagonista do

desenvolvimento em seus terr itór ios”

22 e 28 de fevereiro de 2015El Salvador.

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Caros participantes:

Com nossas saudações a todos, damos boas-vindas para a Rota de Aprendizagem: “Estratégias e inovações para a inclusão da juventude rural como protagonista do desenvolvimento em seus territórios”, que será realizada entre os dias 22 e 28 de fevereiro de 2015, em El Salvador.

Uma Rota de Aprendizagem é um processo de aprendizagem contínuo local, que busca ampliar e diversificar o mercado de conhecimentos rurais, incluindo e valorizando as melhores experiências e conhecimentos das instituições, comunidades e famílias rurais. Cada Rota é organizada tematicamente em torno de experiências, estudos de casos e boas práticas de desenvolvimento rural e local, nas quais os participantes se tornam capacitadores. Através de workshops, entrevistas, conversas e outras atividades desenvolvidas em campo, a Rota cria um espaço para a aprendizagem individual e coletiva, tanto para os “roteiros e roteiras” como para os talentos locais (experiências anfitriãs).

Assim, a partir da constatação da relevância dos jovens rurais para a efetividade e sustentabilidade de iniciativas de desenvolvimento, foram implementadas uma série de experiências coordenadas tanto por instituições públicas como privadas, incluindo as operações da FIDA da região LAC, que têm desenvolvido novas estratégias, ferramentas e abordagens para integrar efetivamente como foco a juventude rural e os jovens como atores centrais. É importante analisar e aprender com a experiência dessas iniciativas, os seus casos de sucesso e seus obstáculos, assim como refletir sobre os desafios futuros e identificar novas soluções e estratégias potenciais para avançar ainda mais nesse processo de inclusão.

Nesse sentido, a Rota de Aprendizagem: “Estratégias e inovações para a inclusão da juventude rural como protagonista do desenvolvimento em seus territórios”, tem como objetivo geral conhecer as estratégias e inovações para a inclusão social e econômica eficaz dos jovens, analisar os seus mecanismos para o sucesso, e seus problemas e desafios, com base no diálogo com as equipes técnicas, parceiros e jovens líderes envolvidos em iniciativas importantes da América Central, e a partir

APRESENTAÇÃO DA ROTA

da retroalimentação e intercâmbio entre as equipes que atualmente estão implementando novas medidas para melhorar a integração dos jovens nos projetos.

Alguns dos temas particulares a serem analisados durante a Rota, serão:

• Marco institucional e políticas públicas para a juventude rural.

• Integração do foco na juventude rural em projetos de desenvolvimento rural.

• Espaços e estratégias de articulação de atores/setores para o apoio a juventude rural.

• Incentivos à mudança geracional em organizações rurais.

• Estratégias de apoio ao empreendedorismo juvenil e financiamento de negócios liderados por jovens.

• Serviços voltados para o acesso de ativos financeiros e de terra.

• Participação cidadã , associativismo e construção de redes de juventude rural.

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Especificamente, vamos aprender com as seguintes experiências de apoio e inclusão da juventude rural:

Nome do caso Local Eixos temáticosPrograma de incubação de empresas e de acesso à terra, NITLAPAN-UCA

Estelí, Nicaragua

Desenvolvimento de negócios, serviços financeiros e acesso à terra para a juventude rural.

Ay qué Lindo! A experiência de fazer caixas de charuto na cidade de Condega.

Condega, Nicaragua

Desenvolvimento de Negócios e acesso a fundos de investimentos

Desenvolvimento do empreendedorismo rural juvenil, a experiência da FUNDESYRAM

Região Ocidental, El Salvador

Desenvolvimento integral de negócios, formação, financiamento e participação social.

Projeto PRODEMOR Central e sua experiência de inclusão de jovens no quadro operacional

Região Central e Paracentral, El Salvador

Geração de redes, incentivos à mudança geracional e sensibilização.

Projeto PRODEMOR Central e sua experiência de inclusão de jovens no quadro operacional

Região Oriental, El Salvador

Jovens prestadores de serviços de assistência técnica/ mecanismos para facilitar o financiamento para empreendimentos juvenis não formalizados.

Desde já, lhes convidamos a participar ativamente nesta jornada de conhecimento, e a permitir que as boas ideias e inovações se expandam e se disseminem.

APRESENTAÇÃO DA ROTA

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MAPA

Acajutla

Armenia

Atiquizaya

Izalco

La Reina

La Libertad

Metapán

NuevaConcepción

NuevaOcotepeque

San JuanOpico

Ilobasco

Candelaria dela Frontera

Cojutepeque

La PalmaJutiapa

San PabloTacachico

AsunciónMita

San Luis

Dulce Nombrede María

Jucuapa

NuevaGranada

Perquín

San AlejoSan Agustín

Santa ClaraSesori

Tecoluca

Victoria

PolorósCacaopera

Carolina

Santa Ana

San Vicente

El TránsitoSan Jorge

Chirilagua

Pasaquina

La Herradura

Suchitoto

San Sebastián San Juan

Marcala

Esquipulas

Usulután

SonsonateNueva

San Salvador

LaUnión

Ahuachapán Sensuntepeque

ZacatecolucaSan Miguel

San Francisco (Gotera)

Chalatenango

SanSalvador

The boundaries and names shown and the designations used on this map do not imply official endorsement or acceptance by the United Nations.

Map No. 3903 Rev. 3 UNITED NATIONSMay 2004

Department of Peacekeeping OperationsCartographic Section

EL SALVADOR

EL SALVADOR

National capitalDepartmental capitalTown, villageMajor airportInternational boundaryDepartmental boundaryPan American HighwayMain roadRailroad

Where the names of the departments are thesame as their capitals, only the capitals arenamed.

10 20 300 40 km

20 30 mi100

LA PAZ

CABAÑAS

LA LIBERTAD

MORAZÁNCUSCATLÁN

GUATEMALA

H O N D U R A S

NICARAGUA

Golfo

de Fonseca

Bahíade

La Unión

Bahía de Jiquilisco

EmbalseCerrón Grande

L. deCoatepeque

Lempa Lempa

Torola

Lem

pa

Laguna deOlomega

Gran d e de San Miguel

L. deGüija

Sum

pu l

PA

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I C O C E A N

L. deIlopango

Paz

Goa

scor

án

PuntaRemedios

PuntaAmapala

IslaMeanguera

IslaConchagüita

Península San Juan del Gozo

Vol. deSta. Ana

Vol. deSan Salvador

Vol. deSan Miguel

Vol. deSan Vicente

Vol. deGuazapa

CuscatlánInt'l Airport

Santo Domingo de Guzmán1

San Luis La Herradura 2

San Francisco Gotera 3

1. FundesyramCantão el Carrizal, Santo Domingo de Guzmán. Sonsonate.

2. PRODEMOR CentralPraia dos Brancos, Município de San Luis La Herradura, Departamento de La Paz. Costa del Sol.

3. PRODEMOROCasarão dos López. San Francisco Gotera. Departamento de Morazán.

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PROGRAMA DA ROTA

Rota De Aprendizagem

“Estratégias e inovações para a inclusão da juventude rural como protagonista do desenvolvimento em seus territórios”

22 a 28 de fevereiro de 2015 El Salvador

Dia Horário Atividade LugarSábado, 21 de fevereiro O dia todo Recepção dos participantes no aeroporto e traslado para

Hotel em San Salvador San Salvador

Domingo, 22 de fevereiro

09.00-13.00 Workshop de Introdução à Rota de Aprendizagem

San Salvador13.00-14.00 Almoço14.00-17.00 Feira de Experiências e Oficina Plano de Inovação19.00-20.00 Janta

Segunda, 23 de fevereiro

08.00-10.30 Lançamento Rota de Aprendizagem

San Salvador

10.30-13.00 Painel de contextualização (MAG, Soc Civil – Rede de Jovens, FIDA)

13.00-14.00 Almoço

14.00-16.00Mesas de Intercâmbio de experiências (Equipes Projetos FIDA, jovens – atores aliados) Visita a Feira de jovens empreendedores

19.00-20.00 Jantar

Terça, 24 de fevereiro

08.00-16.00 Visita Caso 1: Desenvolvimento do empreendedorismo rural juvenil, a experiência da FUNDESYRAM Zona Occidental

18.00-19.00 Workshop de análise - Caso 1San Salvador

20.00-21.00 Janta

Quarta, 25 de fevereiro

08.00-16.00 Visita Caso 2: Projeto PRODEMOR Central e sua expe-riência de inclusão de jovens em seu quadro operacional

San Vicente17.00-18.30 Workshop de análise - Caso 219.00-20.00 Janta

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Dia Horário Atividade Lugar

Quinta, 26 de fevereiro

08.00-16.00 Visita Caso 3: Projeto PRODEMORO e sua experiência de inclusão de jovens em seu quadro operacional

San Miguel17.00-18.30 Workshop de análise - Caso 319.00-20.00 Janta

Sexta, 27 de fevereiro

08.00-13.00 Apresentação do Caso 4, Experiências da Nicarágua: NITLAPAN, Ai Que Lindo!

San Miguel15.00-18.00 Workshop de análise - Casos 4 e Workshop de Planos de Inovação

19.00-20.00 Janta

Sábado, 28 de fevereiro

08.00-11.00 Workshop de Encerramento: aprendizagens e desafios futuros

El Salvador14.00-16.30 Feira de Planos de Inovação e painel de retroalimentação16.30-17.30 Avaliação e Encerramento Oficial da Rota19.00-20.00 Janta

Domingo, 1° de março Todo o dia Retorno dos participantes para suas suas casas Hotel-Aeroporto

Rota De Aprendizagem

“Estratégias e inovações para a inclusão da juventude rural como protagonista do desenvolvimento em seus territórios”

22 a 28 de fevereiro de 2015 El Salvador

PROGRAMA DA ROTA

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Orientações para a inclusão da juventude rural nos projetos cofinanciados pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento

Agrícola-FIDA, na América Latina e no Caribe

DOCUMENTO TÉCNICO

1. INTRODUÇÃO: OS JOVENS, PRINCIPAL CAPITAL DAS FAMÍLIAS RURAIS Jovens do meio rural, homens e mulheres, têm saído de sua invisibilidade à medida que tem se salientado o seu papel de liderança na promoção do desenvolvimento de seus territórios. Embora tenha havido o reconhecimento das capacidades potenciais dos jovens, elas até agora têm sido implantadas apenas parcialmente, uma vez que ainda não há uma estratégia pessoal adequada nem oportunidade de se integrar a vida adulta, uma situação que permitiria sua inserção em condições sociais e econômicas mais favoráveis.

A preocupação com a juventude rural aumentou em diferentes áreas e pontos de vista porque a sua fraca integração pode ser vista como uma perda de valor econômico e social tanto pela contribuição que poderiam dar para suas famílias como para suas comunidades e territórios, uma vez que representam um dos principais ativos humanos com que contam as famílias rurais. Reconhecendo esse potencial, o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola-FIDA ressaltou a importância da juventude rural, o que tem sido evidenciado em reuniões e documentos gerais e regionais, priorizando sua inclusão na agenda do Fundo.

O Programa Regional da Juventude Rural Empreendedora da Corporação PROCASUR, apoiado pelo FIDA, vem em resposta à crescente preocupação em incluir a juventude rural nos projetos cofinanciados pelo FIDA. O objetivo do programa é melhorar o conhecimento sobre o modo de vida dos jovens, apoiando-os diretamente por meio da promoção de redes de jovens, de empreendimentos e do diálogo de políticas para reforçar a sua inclusão social e econômica.

Durante sua implementação, o Programa acumulou diversas experiências de trabalho com jovens: efetuou-se um abundante trabalho de campo com grupos e redes, organizaram-se oficinas de reflexão, cofinanciaram-se empreendimentos e sistematizaram-se diferentes iniciativas dos jovens, que trazem informações sobre suas características e estratégias de vida. Em 2013, o Programa e o FIDA executaram a Workshop Internacional: “Integração econômica e participação social da juventude rural da América Latina e do Caribe”, realizado em San Salvador, El Salvador, nos dias 17, 18 e 19 de novembro. O workshop teve como objetivo gerar um espaço de diálogo e reflexão entre os e as jovens rurais e equipes técnicas dos projetos de desenvolvimento rural, como meio de conhecer e analisar estratégias e ferramentas para conquistar uma melhor inclusão e participação nos benefícios do desenvolvimento rural.

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DOCUMENTO TÉCNICO

As palestras, aprendizados e conclusões, tanto da Oficina como das outras atividades realizadas pelo Programa, se encontram neste documento, que busca colaborar na integração apropriada dos/as jovens aos projetos de desenvolvimento cofinanciados pelo FIDA e, em geral, em distintas iniciativas de desenvolvimento rural.

2. POR QUE INVESTIR NA JUVENTUDE RURAL? A JUVENTUDE NOS PROJETOS FIDAComo foi assinalado, existem fortes razões para incorporar os jovens aos projetos FIDA ou para desenhar projetos dirigidos especificamente a este setor. Do ponto de vista geral, em primeiro lugar, deve se dizer que esta é uma linha de trabalho plenamente coerente com os objetivos do FIDA, já que contribui para eliminar ou atenuar a pobreza rural e a desenvolver os territórios rurais.

Outro elemento que sustenta a importância da integração dos jovens é que eles representam, em média, cerca de um quarto da população rural nos países da região, proporção que, em certas situações pode ser muito maior.

Um terceiro motivo é que o setor rural está perdendo seus jovens, já que a migração se apresenta como um projeto de vida atraente para os jovens saírem da pobreza e do atraso das zonas rurais, o que acarreta no envelhecimento progressivo da população que habita os territórios rurais.

A situação da juventude rural é desfavorável se comparada à da juventude urbana, mesmo àquela com baixos níveis de renda. Em regra geral, observa-se que a juventude rural tem:

• Baixos níveis de educação.

• Escasso acesso aos meios de produção.

• Inadequada capacitação de trabalho.

• Baixos níveis de integração nas atividades locais.

Dadas as limitações acima, uma boa parte dos e das jovens não estão em condições de contribuir para o alívio do problema da pobreza familiar. As análises sobre a juventude rural em diferentes países da região, realizadas pelo Programa Regional Juventude Rural Empreendedora (financiado pelo FIDA e executado pela Corporação Procasur) sobre a base de antecedentes secundários, dão conta da realidade indicada.

No caso das jovens, sobre os problemas referidos, se soma o peso dos elementos culturais que, em muitas ocasiões, as relega ao trabalho doméstico e à maternidade precoce, fatores que impedem um número significativo de realizar-se nos âmbitos educacionais ou de trabalho1.

Quadro 1: Situação atual dos/as jovens rurais da América Latina e do Caribe

1. A população rural dos países da Região está envelhecendo. As diferenças entre as zonas rurais e as áreas urbanas continuam favorecendo as cidades e tornando-as um destino de migração atraente, embora em alguns países se observem avanços em matéria de educação e trabalho para a juventude rural.

2. As jovens rurais pobres e as jovens indígenas representam a população jovem em situação de maior desvantagem do mundo rural, mas estão experimentando as maiores mudanças vinculadas ao nível educacional e ao empoderamento e abertura das novas tecnologias de comunicação e informação (TICs).

1 Série de Estudos. Juventudes rurais: tendências e realidades, Procasur, 2013

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DOCUMENTO TÉCNICO

3. Os filhos de camponeses já não serão necessariamente camponeses. As fronteiras atenuadas urbano-rurais, a perda da importância da agropecuária frente ao desenvolvimento dos setores secundários e terciários nas economias rurais, assim como a debilitamento do modo de produção doméstico, dificultam as estratégias de vida dos jovens rurais.

Fonte: Informe Workshop de San Salvador, El Salvador, Novembro, 2013.

Outro estudo realizado pelo Programa sobre a presença e caracterização dos jovens em 31 projetos cofinanciados pelo FIDA, em 15 países da região, mostra resultados que coincidem com as estatísticas anteriores e permitem configurar qual é a realidade atual da juventude, no contexto de execução dos projetos FIDA2:

• Na agricultura familiar, os/as jovens geralmente são parte da mão de obra não remunerada, o que implica que seu trabalho não corresponde às rendas justas dos que podem as possuir.

• Embora sejam maiores de idade, não têm propriedade nem controle sobre a terra e carecem de garantias para ter acesso a crédito, situação que restringe a mudança geracional.

• A agricultura camponesa expulsa seus membros jovens do emprego assalariado. As possibilidades restritas de emprego em suas localidades de origem e as baixas remunerações conspiram contra a permanência do/as jovens no campo e a migração surge como única saída da pobreza.

• Os/as jovens rurais abandonam a escola antes da juventude urbana e têm mais dificuldades que estes para continuar estudando nos níveis superiores. Sendo vítimas de uma educação

2 Inclusão de jovens em projetos FIDA da América Latina. Procasur, setembro, 2013. Estudo realizado sobre a base dos diagnósticos de 31 projetos FIDA.

descontextualizada, chegam ao mercado de trabalho com menor preparo, situação que exclui ou limita suas opções de emprego.

• Os jovens têm níveis mais elevados de desemprego e salários mais baixos do que os trabalhadores adultos. A taxa de desemprego juvenil também é mais alta que a dos adultos, mesmo quando os jovens possuem maior nível de escolaridade que seus pais, situação que também se aplica na questão de gênero.

• Em alguns países, os jovens são vítimas da violência e do narcotráfico, envolvendo-se em grupos ilegais por recrutamento forçado ou voluntário.

• A juventude tem uma fraca participação nas organizações dos adultos, estando ausentes em muitas das que são usuárias dos projetos FIDA.

• A juventude tem uma fraca ou inexistente participação e impacto em espaços políticos, assim como em instâncias de planejamento e controle social dos investimentos feitos em setores rurais.

Mesmo quando o tema da juventude é mencionado em muitos dos projetos, sua inclusão efetiva em suas concepções é limitada. Analisados os aspectos significativos da formulação e implementação dos projetos, forma-se um quadro como o abaixo:

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DOCUMENTO TÉCNICO

Variáveis de inclusão nos projetos de aspectos referentes à juventude

Inclui

Incluem-se jovens como população alvo

26%

Define-se faixa etária 39%Incluem-se jovens como população alvo no objetivo geral 29%

Incluem-se jovens como população alvo nos objetivos específicos 26%

Determinam-se metas vinculadas à juventude 58%

Fixam-se quotas mínimas de jovens incorporados 35%

Possuem uma unidade específica para a juventude 0%

Efetua-se acompanhamento e avaliação

Atividade incipiente

em projetos distintos

Efetua-se gestão de conhecimento Sí, escasa

Fonte: Inclusão de jovens em projetos FIDA na América Latina. Procasur, setembro, 2013.

Na tabela pode-se constatar uma tendência geral em relação à inclusão dos jovens nos Projetos. Em apenas 26% dos casos, os jovens são considerados grupo alvo, o que determina vários outros aspectos mencionados. Mesmo que se tenha declarado metas em 58% dos casos, não há nenhuma unidade ou equipe dentro dos projetos responsável pela implementação de medidas que favoreçam aos jovens ou que seja responsável pelo acompanhamento das ações propostas e avalie o cumprimento dessas metas.

Estes dados reafirmam a importância da integração de jovens na luta contra a pobreza nas sociedades rurais e o significado dos pareceres do FIDA para que países e governos dediquem normas que são inclusivas para os jovens. Embora se notem tentativas de intensidades variáveis para integrá-los aos projetos, essas ações devem ser incentivadas em todos os níveis, a partir de políticas do FIDA, passando pelo impacto político que se possa ter com os países, e se concretizando na

formulação e implementação de novos projetos.

Para dar esse impulso, é necessária a introdução de incentivos que estimulem a inclusão de jovens, desde a concepção até a implementação dos projetos, a nível de todos os componentes, incluindo espaços de participação dos/as jovens nas definições sobre serviços e produtos efetivamente relevantes às suas demandas.

Dependendo do estágio do projeto, é possível que não seja sempre relevante implementar unidades exclusivamente orientadas a jovens. Nesses casos, é necessário que os projetos FIDA possam atentar-se aos jovens com uma prioridade clara e adaptar os seus métodos para alcançá-los. Essa definição estratégica deve ser traduzida em ações concretas apoiadas e refletir-se em investimentos de capital e serviços, dirigidos para juventude rural.

3. ORIENTAÇÕES PARA O TRABALHO COM A JUVENTUDE RURAL:No presente documento, se abordam dois tipos de materiais que requerem orientações para o trabalho com a juventude. O primeiro corresponde aos elementos que seriam aconselháveis integrar durante o ciclo dos projetos, em seus diferentes estágios, partindo da formulação inicial, passando pelos problemas que surgem na implementação, no acompanhamento e avaliação, até finalizar na geração de conhecimento.

O segundo se refere aos diversos temas específicos que surgem durante a implementação dos mesmos, muitas vezes não abordados durante a formulação, como o acesso a recursos produtivos, o apoio às organizações, a formalização de organizações e empresas, o desenvolvimento de capacidades, entre outros.

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3.1 INCLUSÃO DA JUVENTUDE RURAL NOS DIFERENTES ESTÁGIOS DOS PROJETOS

As orientações sobre a juventude que o FIDA entregou em seus documentos, deveriam estar contempladas nos COSOP3 dos diversos países onde o Fundo opera, o que seria o primeiro passo de uma estratégia destinada à integração dos jovens, tanto por parte da estrutura do FIDA, como dos países.

O marco estratégico do FIDA 2012-2015 claramente estabelece entre suas prioridades: “fomentar as capacidades das mulheres e dos homens das zonas rurais, especialmente dos jovens”. Em outro parágrafo, indica: “A troca sustentável só é possível com a plena participação das gerações futuras. Dado que o desemprego dos jovens é um dos problemas mais urgentes que aflige todo o mundo contemporâneo, o FIDA também se concentrou com maior precisão nas necessidades das mulheres e homens jovens”4.

Ao promover uma primeira ideia de projeto de alívio à pobreza, fomento de microempresas, acesso a serviços financeiros, ou de outro enfoque sócio produtivo, a juventude deveria ser um grupo social alvo incluído desde o início. Mesmo que nessa etapa ainda não seja necessário contar com elementos precisos a respeito dessa população, é necessário ter visão de seus problemas e possíveis soluções, o que facilitará a elaboração de um primeiro esboço do trabalho sobre o que é possível fazer com a juventude local. A partir desse primeiro rascunho, a participação da juventude deve estar integrada em cada um dos componentes do projeto e, especialmente, no orçamento preliminar.

3 COSOP, Results-based Country Strategic Opportunities Program. Os COSOP marcam a estratégia do FIDA para sua atuação nos di-versos países e incorporam basicamente as políticas econômicas e sociais do país; um diagnóstico institucional e da realidade social do país; documentos oficiais do FIDA que se referem aos temas de possíveis projetos. Ver referências a documentos oficiais do FIDA citados na nota 1.4 Idem nota de rodapé Nº1.

Uma vez aceita a ideia do projeto, seria ótimo dispor de um diagnóstico geral da juventude, em relação ao território do projeto. Se este diagnóstico não existe, é possível fazê-lo com informação secundária, como Censos, pesquisas domiciliares, pesquisas agrícolas anteriores, informação sobre saúde e educação coletada por esses serviços, que podem se somar a pesquisas anteriores elaboradas com propósitos diversos pelo setor público ou privado. Isso servirá como panorama geral das tendências da juventude local, o que dará contexto e respaldo ao projeto.

3.1.1 Incorporando os jovens desde a formulação dos projetos

Diagnóstico: participativo e estatístico

Na Oficina de San Salvador, os jovens manifestaram seu interesse em participar na gestão dos projetos e na tomada de decisões sobre as atividades dirigidas a eles. No caso do diagnóstico, é importante incluir metodologias participativas na complementação dos objetivos anteriores, proporcionados pelos dados e pela análise destes. Essas metodologias permitem conhecer em primeira mão a situação econômica e social dos jovens que participarão do projeto, o que possibilitaria contextualizar a informação secundária, já que são eles que melhor conhecem sua própria realidade e a de seu meio ambiente. Realizar diagnósticos participativos, através de ferramentas como oficinas de reflexão, focus groups, mapas participativos, nos diferentes temas que interessem ao projeto, promoverá também uma relação mais próxima e motivará uma maior adesão ao projeto.

O diagnóstico participativo será mais frutífero se possuir, como referência, um conjunto de informações estatísticas que inclua a situação demográfica, separada por mulheres e homens, dividindo jovens por faixa etária; estado civil; dados de origem da família (número de membros, idade dos mesmos, educação, propriedade de terra); dados do nível educacional do jovem participante; emprego (jovens na PEA); outras atividades, que permitam conhecer a distribuição entre os que estudam, trabalham, realizam ambas atividades ou nenhuma das duas; taxas de

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DOCUMENTO TÉCNICO

desemprego; ocupação por área de atividade. No caso das jovens, além dos dados já citados, pode-se dimensionar a situação de gravidez precoce. Outro grupo de perguntas se refere ao acesso a meios de produção, terra, capital, capacitação e outros apoios que possam estar recebendo. Estas informações deveriam ser colhidas pelo projeto.

No Senegal, as missões de concepção de projetos FIDA integram uma ou um jovem senegalês, membro da rede Global Youth Innovation Network-GYIN promovida pelo FIDA, que facilita reuniões e inclui as sugestões dos/as jovens rurais nos documentos de concepção. Para maior informação, contatar Moses Abukari, Gerente de Programas do FIDA: [email protected].

Definição do grupo alvo

É fundamental determinar com precisão quantos jovens estão em condições e interessados em participar do projeto e quais são suas motivações e expectativas em relação a ele.

Um aspecto que é necessário definir desde o começo é com que faixa etária se vai trabalhar, visto que essa determinação tem implicações em todos os estágios do projeto e incidirá decisivamente no resultado do trabalho com os jovens. Sendo os projetos FIDA basicamente produtivos, em um sentido amplo, parece recomendável focar as ações direcionadas a jovens que estejam em idade e disposição adequadas para trabalhar. Evidentemente, esta não pode ser uma norma rígida, mas deve ser guiada pelos hábitos, costumes e situações reais dos jovens em seus territórios.

Para a execução de atividades específicas (por exemplo, de inclusão financeira e/ou apoio ao empreendimento), sugere-se segmentar a faixa etária juvenil, já que sabemos que a população jovem constitui um grupo heterogêneo e a juventude é uma etapa de transição em que um jovem pode estar estudando, trabalhando e/ou estudando, empreendendo ou formando sua própia família. Por

isso, é relevante poder segmentar a população jovem para que seja possível desenvolver ações adequadas às suas estratégias de vida.

A Fundação para o Desenvolvimento Econômico e Restauração Ambiental (FUNDESYRAM) de El Salvador, criou um perfil para estratificar a população alvo do programa de empreendimento rural em três níveis: avançado, médio e básico, de acordo com diferenças de gênero, idade e tempo de escolaridade. Para maior informação contatar Roberto Rodríguez, Director de FUNDESYRAM: [email protected]

Os jovens presentes nos objetivos e metas do projeto

Os jovens devem estar presentes no objetivo geral e nos objetivos específicos dos projetos. Se o projeto está dirigido a outros grupos sociais, é possível estabelecer quotas mínimas de participação de jovens, constituindo dessa forma uma alternativa para incluí-los, exigindo uma ação proativa por parte das equipes técnicas para atraí-los e incorporá-los, enfrentando os obstáculos que possam se apresentar. Para possibilitar o acompanhamento e a avaliação da inserção dos jovens, os projetos deveriam estabelecer metas coerentes com a população a ser integrada e com os recursos disponíveis. O programa de atividades a ser realizado com os jovens deve contar com um orçamento específico que possibilite cumprir as metas propostas.

3.1.2 Negociação do projeto

A negociação dos projetos com os países poderia se tornar uma excelente oportunidade para se fazer acordos de colaboração com instituições públicas, em um amplo conjunto de assuntos voltados à juventude. Muitos dos países da região atualmente contam com políticas para a juventude e programas de diversas índoles orientados a esse setor social, assim seria possível gerar acordos de cooperação em determinados assuntos com as instituições adequadas. A quantidade de acordos e os assuntos possíveis são

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DOCUMENTO TÉCNICO

amplos e abordam temas de educação, capacitação, saúde, aspectos comerciais, entre outros. Alcançar esses acordos de cooperação é fundamental, já que os projetos não contam com a disponibilidade de fundos e com as equipes necessárias para abordar a multiplicidade de tarefas em que a juventude rural requer apoio, e que pode ser suprida pelas instituições públicas e privadas que têm competência e experiência em muitas destas áreas.

3.1.3 Implementação dos projetos

Atualização do diagnóstico

No momento de iniciar um projeto, o ideal seria revisar o diagnóstico, efetuado durante a formulação, sobre a população jovem com que se quer trabalhar. Esse grupo etário constitui uma população que está em rápida evolução e é possível que, no intervalo de tempo entre a formulação e a implementação, a situação tenha mudado. Existe um conjunto de elementos descritivos que devem estar atualizados, visto que é neles que irá se basear o trabalho: quantos jovens incluirá realmente o projeto; faixa etária com que se trabalhará; divisão por gênero e etnia, se for o caso; estado civil e presença de filhos; residência independente ou com as famílias de origem; níveis educacionais; participação econômica; atividades produtivas que realizam, seja como camponeses colaborando com a família ou de forma independente, integrados ao trabalho assalariado e combinações de atividades.

Capacitação das equipes técnicas

No estágio de inserção e promoção do projeto, é necessário capacitar as equipes técnicas, melhorando seu conhecimento sobre os temas relevantes para a juventude rural e dotando-os de ferramentas concretas para implementar ações com jovens. Para trabalhar adequadamente com os jovens, é preciso

que conheçam seus processos, estratégias de vida e seus principais desafios, já que enfrentam problemas diferentes dos adultos. Isso significa conhecer sua distribuição de tempo, projeções a curto prazo, conhecimentos, etc., para assim adequar melhor as estratégias a esse grupo. Para isso, os projetos devem propiciar instâncias de formação para as equipes técnicas.

Isso não significa que a equipe técnica deva dominar todas as temáticas relacionadas aos jovens, já que, como se constatou na Oficina, eles têm amplas necessidades de apoio, como temas de saúde sexual e reprodutiva, autoestima, educação formal, formação de cidadania, esporte e cultura, TICs, capacitações técnicas e produtivas, entre outras. Contudo, as equipes técnicas devem conhecer essas demandas e buscar os apoios necessários para os conteúdos específicos que não conhecem. Neste sentido, seria importante que o pressuposto dos projetos incluísse a possibilidade de integrar especialistas temporariamente. Por exemplo, para identificar as estratégias de vida dos jovens, é possível requerer psicólogos e sociólogos especializados em temas juvenis.

Em NITLAPAN da Nicaragua, combinam-se capacitações grupais sobre valores, atitudes e educação financeira, com reflexões sobre o fracasso de alguns negócios familiares. A isso são somadas assessorias personalizadas sobre temas relacionados ao desenvolvimento pessoal, técnico, administrativo e de gestão empresarial. Para maior informação contatar Marcelo Rodríguez: [email protected]

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DOCUMENTO TÉCNICO

Participação dos jovens na gestão do projeto

Já foi mencionada a relevância de se estabelecer mecanismos e formas de participação dos jovens na concepção do projeto. Inclusive, no Workshop, as equipes técnicas destacaram a utilidade de estabelecer um manual operacional em que constem os mecanismos de participação no acesso e benefícios dos serviços. Não obstante, os jovens manifestam seu interesse em poder participar na execução do projeto. Para isso, é possível continuar o trabalho com o grupo de jovens que participou do diagnóstico, visando estabelecer uma interlocução contínua. Algumas instâncias de participação relevantes para os jovens, são participar na tomada de decisões, decidir sobre as áreas de capacitação, eleger e avaliar a equipe técnica que fornece a capacitação e participar ativamente da avaliação do projeto. Algumas equipes técnicas mencionaram a possibilidade de formar jovens como promotores dos projetos.

A Associação para a Diversificação e o Desenvolvimento Agrícola Comunitário (ADDAC) na Nicarágua, estabeleceu oito assembleias territoriais exclusivas para jovens, no começo de seu programa jovens empreendedores. Em conjunto, as assembleias definem as áreas de capacitação com base em suas demandas e necessidades, além de cumprir um papel ativo na caracterização da juventude do território de influência do programa. Para maior informação, contatar Julio César Gómez, Diretor da ADDAC: [email protected]

Impacto político e alianças com instituições públicas e privadas

Para conceder apoio aos jovens em suas diferentes necessidades, existe um conjunto amplo de atividades que não deveriam ser desenvolvidas diretamente pelos projetos, a fim de que suas atividades se concentrem no que é mais específico de seu trabalho. Isso abre um amplo espaço para colaboração de instituições públicas e privadas.

Em muitos países, existem entidades públicas (ministérios, institutos de juventude, etc.) encarregadas das questões desse setor. Os projetos FIDA podem incidir para que a agenda e o financiamento dessas instâncias deem a atenção e incluam as colaborações requeridas pela juventude rural, como educação, capacitação, saúde, esporte, cultura, entre outros.

O setor privado também pode ter um importante papel na inserção dos jovens no mercado de trabalho. Algumas empresas privadas precisam rejuvenescer seus provedores rurais para facilitar a troca tecnológica. Durante o Workshop, foi mencionada a importância das alianças público-privadas (APP) para a implementação do enfoque de cadeias de valor no território, assim como para a contribuição de recursos de forma sustentável a iniciativas de desenvolvimento dos jovens.

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Aliança Público Privada localizada no eixo cafeeiro colombiano, formada pelo Comitê de Cafeeiros de Caldas e de Risaralda, os governos de Caldas e Risaralda e a companhia elétrica CHEC. A aliança está fundamentada na educação e competitividade. Busca-se promover o aumento do tempo de escolaridade dos/as jovens do eixo cafeeiro, pois somente 15% dos/as jovens chega à educação superior. Utiliza-se um sistema de educação que lhes permite estudar em sua própria região, denominada universidade no campo. Para mais informação contatar Claudia Osorio, subgerente comercial da CHEC: [email protected].

Assim, tanto técnicos como jovens se referiram à importância de buscar alianças estratégicas para implementar a inclusão social da juventude rural. As equipes técnicas reconhecem a complexidade de trabalhar o tema de jovens pelas variadas necessidades de formação e acompanhamento e identificaram o papel que podem ter centros de formação na provisão de alguns desses serviços.

Jovens e técnicos ressaltaram o papel da aliança, visando alcançar o impacto político no que diz respeito a esse tema. Os projetos podem cumprir o papel de posicionar a temática da juventude na agenda pública dos países.

A seguir, assinalam-se atividades e requerimentos que podem ser abordados de forma “terceirizada” (através de alianças estratégicas) pelos projetos:

1. Formação para a vida. Em geral, os jovens ainda passam por um processo de formação pessoal, no qual necessitam fortalecer aspectos como autoestima, resolução de conflitos, liderança etc. Muitos programas começaram a trabalhar a construção dos planos de vida, em que se definem planos de negócios, e que têm produzido bons resultados entre os/as jovens, que começam

a assimila o empreendedorismo como parte de seus futuros. Outros temas relevantes para a formação humana dos jovens, incluem temáticas como as relações de gênero e as diferenças intergeracionais, liderança, associatividade ou cooperativismo, educação financeira, direitos humanos, direitos do cidadão, que poderiam ser também parte dos programas de desenvolvimento do capital humano.

Esses conteúdos podem ser fornecidos pelos institutos de juventude, outros organismos governamentais, ONG’s ou organizações sociais ou políticas que estejam envolvidas com os temas.

2. Bolsas de estudo. Os projetos FIDA podem chegar a acordos com os governos, para cofinanciar bolsas de estudos direcionadas a jovens rurais.

Em El Salvador, o projeto PRODEMORO iniciou um programa de bolsas a jovens da área rural a fim de favorecê-los com estudos técnicos de 3 anos, com o objetivo de melhorar a oferta de jovens profissionais no território. Para mais informação contatar Frank Escobar, Diretor do projeto: [email protected]

3. Formação técnica: Os programas de formação técnica podem atender a um bom número de jovens rurais em nível nacional. Os projetos FIDA poderiam contribuir para que esses programas construam um currículo pertinente, de tal forma que sirva para formar as/os jovens em habilidades relevantes para o mercado de trabalho formal e certifiquem o conhecimento das/os jovens rurais, tornando-os um ativo aproveitável e vendável.

4. Apoio à formação de capacidades empresariais. Os grupos de jovens, as organizações e as novas empresas precisam desenvolver capacidades para manejar uma organização e, para isso, necessitam de ferramentas concretas para a administração empresarial (financeira, contável e comercial). Nesse processo, os projetos FIDA podem empregar cursos para a melhoria de suas capacidades de gestão.

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5. Inclusão cidadã. É importante que os jovens sejam cidadãos com tudo o que isso implica em deveres e direitos. Para isso deve-se incentivá-los a obter carteira de identidade, o que lhes dará aceso a benefícios dos diversos programas públicos, e lhes proverá da capacidade de assinar contratos, sejam eles individuais e/ou associativos.

6. Inclusão digital. Embora a juventude rural tenha hoje maior conhecimento e acesso que seus pais aos meios digitais, e portanto a um mundo de informações atualizadas, o analfabetismo digital ainda existe, assim como grandes lacunas na conectividade das zonas rurais. Os projetos FIDA deveriam buscar alianças com empresas de telecomunicações para melhorar a cobertura digital nas zonas rurais, oferecer produtos e serviços adequados e acessíveis, e capacitar as/os jovens no uso eficaz e responsável dos meios digitais.

7. Inclusão tributária. Frequentemente, as empresas do/as jovens operam à margem do sistema fiscal. Os projetos FIDA podem colaborar com as instituições fiscais nacionais para flexibilizar os princípios tributários, de tal forma que os microempresários jovens vejam sua entrada no mercado da economia formal como algo atraente. Para essa negociação política, os projetos FIDA podem se associar com Câmaras de Comércio e outros promotores do setor privado nas regiões onde os projetos operam.

3.1.4 Acompanhamento e avaliação

É relevante que os projetos incluam as/os jovens rurais no acompanhamento e na avaliação, já que cumprem um papel de apoio chave para monitorar o êxito das atividades dirigidas a eles. Identificar os indicadores na concepção, desde o quadro lógico do projeto, é fundamental para medir os avanços na inclusão da juventude. Durante o Workshop notou-se a relevância de incluir indicadores qualitativos de medição dos processos de intervenção dirigidos à população jovem, e não apenas indicadores quantitativos.

Os projetos devem incluir indicadores que consigam medir os avanços alcançados (resultados, efeitos e impactos) na inclusão da juventude rural. Um primeiro passo é desagregar a informação de usuários por sexo e por idade. É particularmente importante, durante a implementação, incorporar as/os jovens nos mecanismos de avaliação participativa das iniciativas apoiadas, com um enfoque de aprendizagem contínuo que retroalimente as estratégias propostas. Uma proposta nesse sentido foi que os grupos de jovens tivessem representantes para monitorar e avaliar as atividades de seus projetos.

O componente de Acompanhamento e Avaliação Participativa (SEP) recompilará os dados relacionados às pessoas, divididas por sexo, idade, etnia e categoria socioeconômica. Serão relatados o montante e a proporção do financiamento (POA) destinado à participação de mulheres e jovens nos empreendimentos cofinanciados pelo Programa (projeto Bem Viver, Equador).

3.1.5 Gestão do Conhecimento

Sistematização de boas práticas e intercâmbios de saberes. É de grande relevância que os projetos realizem atividades relacionadas à gestão de conhecimento, como a sistematização de experiências ou o intercâmbio de saberes, para difundir boas práticas e medir as experiências de trabalho com jovens.

Dentro dos projetos, a sistematização de experiências é uma ferramenta que permite a aprendizagem e a melhoria dos serviços de apoio aos jovens. As equipes técnicas propõem realizar um trabalho de identificação de jovens talentos para visibilizar e difundir suas experiências a partir de suas próprias vozes, capacitando-os para que eles mesmos sistematizem suas experiências.

Em outro aspecto, os jovens participantes do Workshop propiciam a geração de espaços de intercâmbio e aprendizagem coletiva como metodologia para o

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desenvolvimento de capacidades e difusão de boas práticas e inovações, tanto entre jovens como entre equipes técnicas e outros atores estratégicos. Nesses espaços, mencionam-se propostas de estágios, Rotas de Aprendizagem, formação de Centros Locais de Aprendizagem, oficinas de intercâmbio de experiências, entre outras instâncias possíveis.

3.2 ORIENTAÇÕES EM TEMAS ESPECÍFICOS

3.2.1 Enfoque territorial: o território como fator chave na inserção dos jovens

Os jovens se desenvolvem em territórios específicos que têm grande influência na inserção econômica e social que almejam. Por sua parte, os projetos devem ter em mente as mudanças econômicas, tecnológicas, sociais e institucionais vividas no meio rural nos países, com diferentes graus de intensidade. O desenvolvimento capitalista no campo determina que hoje existam territórios economicamente dinâmicos e não dinâmicos, dependendo das vinculações aos diversos mercados, internos ou externos. A isso, soma-se o grau de desenvolvimento institucional, que também pode ter distintos níveis e que determina se o crescimento econômico acarretará em inclusão social.5

Outro aspecto do tema territorial que se deve levar em conta ao trabalhar com jovens rurais é que possivelmente eles se desloquem entre o rural e o urbano em busca de trabalho. Atualmente o rural já não é um espaço segregado do urbano. Hoje, ambos setores estão melhor comunicados e obedecem a lógicas econômicas similares, condicionadas pelo funcionamento dos principais mercados de recursos e produtos, o que faz com que as fronteiras reais ou imaginárias entre ambos estejam cada vez mais difusas. O capital, o trabalho e a tecnologia se movem flexivelmente, levados pela rentabilidade entre as atividades e territórios propriamente urbanos e os

5 RIMISP, Alejandro Schejtman e Julio Berdegué. Debates e Temas rurais N°1. Desenvolvimento Territorial Rural, Santiago, 2004. De for-ma simples, o desenvolvimento institucional se refere às normas e à implementação destas por parte do Estado em seus diferentes níveis territoriais. Para um projeto específico de jovens a atuação dos governos locais é de grande importância já que necessitam de políticas púbicas a favor de sua inclusão

classificados como rurais, sem que fique claro onde termina um e começa o outro, fenômeno acentuado pelas melhorias em estradas, serviços e tecnologias de comunicação.

Não se pode pensar no rural como território exclusivo de agricultura, posto que a modernidade dinamizou uma série de atividades não agrícolas que acontecem no meio rural e que competem por recursos escassos. As mais clássicas são os serviços exigidos pela agricultura, mas, além disso, existem a mineração, o turismo, a construção, o comércio e os serviços básicos. Por um lado, deve-se considerar que os jovens rurais têm interesses que vão além das tarefas agrícolas, o que pode dificultar sua adesão a um projeto. Por outro, os jovens manifestam um interesse especial por estas atividades, em primeiro lugar, porque ao vincularem-se a elas, podem melhorar a renda e, em segundo lugar, porque para participar não é necessário possuir terras.

Em relação a este aspecto, tanto técnicos como jovens mencionaram no Workshop que os projetos têm uma “visão estreita” para lidar com empreendimentos juvenis. Foi mencionado que os projetos estão muito baseados na produção agrícola e na prestação de assistência técnica. Observaram a necessidade de ampliar a gama de serviços para além da agricultura, por meio de uma abordagem territorial, para o qual se mencionou a importância de possuir equipes técnicas multidisciplinares.

3.2.2 Enfoque de estratégias de vida: trajetórias e meios de subsistência dos jovens

As trajetórias de vida correspondem a uma observação da realidade, ou seja, elas devem relatar o que realmente acontece com jovens nesse território específico. Por outro lado, as estratégias de vida são individuais. Esse último conceito é usado para descrever como o jovem rural, em um contexto que normalmente é hostil, organiza as suas capacidades e possibilidades para chegar a um conjunto de metas explícitas e implícitas, tais como, atingir determinados níveis de estudo; entrar no mercado de trabalho; buscar um/a parceiro/a, ter filhos; ter acesso a casa própria, ou realizar um projeto de migração.

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Considerando a influência do território e a informação decorrente do diagnóstico, deve se adicionar aos projetos antecedentes que permitam caracterizar, de forma geral, tipologias das trajetórias mais frequentes dos jovens que residem dentro do seu âmbito de influência. A migração e suas modalidades são um fator que deve ser levado em conta no momento de estabelecer um projeto com jovens, uma vez que se o costume é que os jovens migrem, a viabilidade do projeto será posta em questão. Para realizar uma tipologia das trajetórias, é viável solicitar informação às pessoas que têm ou tiveram vínculos com os jovens, como professores, líderes adultos do setor e funcionários dos governos locais.

O Programa Juventude Rural Empreendedora tem promovido o enfoque de estratégias de vida dos jovens como um elemento que permite identificar os capitais que eles possuem e os apoios que necessitam. O estudo desse aspecto pode ser feito por meio de entidades grupais, como grupos focais. É possível determinar tipologias de estratégias de vida que, juntamente ao resto das informações coletadas, permitem segmentar os jovens e focar nos apoios que eles precisam para melhorar sua inclusão.

3.2.3 Acesso dos jovens a recursos de produção

Um dos obstáculos mais presente da juventude rural da região é a falta de acesso aos recursos produtivos, como a terra e o capital financeiro. Essa situação complica ainda mais o impulso de empresas produtivas competitivas em áreas rurais que ainda são predominantemente agrícolas.

Acesso a terra própria ou alugada

Um maior acesso à terra pelos jovens rurais os permitirá permanecer em seu próprio território e impulsionar empreendimentos agrícolas próprios, como uma forma de alcançar a autonomia econômica. Da mesma forma, permitirá uma inserção em sistemas onde ainda são obrigatórios a oferta da terra como garantia de financiamento ou como condição para a adesão em uma organização.

Neste âmbito, os projetos FIDA poderiam desenvolver um grande trabalho promovendo o desenho e a implementação de políticas e programas públicas que facilitem o acesso a terra, sob a forma de usufruto ou cessão para jovens rurais.

Na Nicarágua, a Sociedade dos Pequenos Produtores e Exportadores de Café de Qualidade (SOPPEXCCA) tem implementado, desde 2004, um fundo para compra de terras para beneficiar principalmente as mulheres e os jovens. Atualmente, já foram concedidos 66 créditos para compra de terrenos, beneficiando 27 mulheres e 16 jovens. Para mais Informação contato Jairo Rivera: [email protected]

Inclusão financeira

Para os jovens empresários, possuir uma conta bancária formal é um requisito fundamental para gerir os negócios. Em parceria com instituições financeiras públicas e privadas, os Projetos FIDA podem influenciar para que todos os jovens sócios do projeto tenham uma conta bancária e acesso a serviços financeiros; o que requer também programas de educação financeira. Deve-se negociar com o banco privado para que este gere e ofereça produtos e serviços destinados especificamente a jovens rurais (incluindo mobile banking) e que os produtos financeiros sejam acompanhados de pacotes de seguros (saúde, vida, educação, risco de perda de bens) adaptados para os jovens.

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Na Colômbia, o Projeto Oportunidades Rurais incorporou incentivos para que jovens tenham acesso a entidades bancárias, por meio da abertura de uma conta poupança. O incentivo é uma quantia em dinheiro, que apoia o projeto, proporcional à poupança mobilizada pelo jovem. O objetivo é, além de poupar, gerar capacidade e cultura favorável de poupança entre os Jovens. Para mais Informação entre em contato Andrés Silva: [email protected]

Na América Central, a estratégia de Inclusão financeira tem sido realizada por meio da vinculação com Bancos Rurais, que têm uma presença significativa nos territórios e contam com uma participação significativa das mulheres e Jovens. Os projetos Emprendesur e Horizontes de Honduras têm utilizado essa estratégia para que os jovens tenham acesso a serviços financeiros. Para mais Informação sobre projeto Emprendesur entre em contato com Marlon Pineda: [email protected]

Financiamento para empreendimentos juvenis

Quanto ao financiamento para os empreendimentos, se reconhece a dificuldade dos jovens de acesso ao crédito no sistema financeiro formal, e assim se promove a criação de concursos ou outros mecanismos de obtenção de recursos. Muitos projetos cofinanciados pelo FIDA optam por financiar empreendimentos com base no associativismo. Há uma demanda para

flexibilizar essas regras, tornando possível alocar recursos para organizações pequenas e não formais.

Além disso, as equipes técnicas destacaram a importância dos recursos alocados de acordo com a complexidade e necessidade do negócio e não de um limite financeiro. Em seguida, alguns mecanismos para financiamento de empreendimentos de Jovens Rurais são mencionados.

Capital semente. A falta de capital semente e de outros mecanismos incubadores de negócios dificulta o empreendedorismo dos jovens e retarda o processo de empoderamento econômico. Alguns projetos do FIDA já incluem mecanismos que irão fornecer capital semente aos planos de negócios mais promissores, e, assim, incluir assistência técnica para acompanhar o seu lançamento. Os Projetos Sierra Sur II e Serra Norte, do Peru, por meio de uma parceria com Procasur, financiaram 28 planos de negócios selecionados por Comitês Locais de Designação de Recursos (CLAR). As associações de jovens beneficiadas receberão recursos e assistência técnica para seu empreendimento.

O Projeto Southern Sierra Peru, através do acordo com o PROCASUR, financiou 14 planos de negócios que foram selecionados pelos Comitês Locais de Designação de Recursos (CLAR). As associações selecionadas de jovens receberão recursos e assistência técnica para seus empreendimentos. Para mais Informação contatar José Sialer: [email protected]

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Capital de risco. Os jovens rurais que possuem empreendimentos já com certa trajetória precisam de sócios efetivos, com quem compartilhar os riscos de suas iniciativas. Os projetos do FIDA podem formar plataformas e atuar como pontes para ligar a juventude rural a investidores nacionais e internacionais interessados em assumir a insegurança das iniciativas, e em alguns casos, exercer o papel de mentores ou professores.

Fundos de contrapartida. Os fundos de contrapartida são muitas vezes exigidos como um requisito de cofinanciamento de planos de negócios, mas podem resultar em uma limitação para organizações juvenis que não possuem liquidez financeira. Nesses casos, os projetos do FIDA podem optar por mecanismos alternativos de contrapartida, permitindo que os jovens contribuam, por exemplo, com mão de obra ou outros recursos que estão ao seu alcance.

O Fundo de aprendizagem implementado pelo Programa Juventude Rural Empreendedora busca inovar no cofinanciamento de empreendimentos de Jovens Rurais investindo sob um modelo de risco compartilhado. Recursos financeiros reembolsáveis são facilitados em condições adequadas às características da população rural jovem e às suas iniciativas econômicas. Considerou-se como contrapartida fornecida pelos jovens os insumos, mão de obra, ferramentas, entre outros. Os fundos destinam-se principalmente a aquisição de ativos. Para mais Informação contatar [email protected]

Fundos autogeridos por associações de jovens

Os participantes do Workshop sugeriram maior autogestão na administração dos fundos para financiar empreendimentos, já que sabem quais são as características da população jovem no território e possuem uma abordagem mais social do que comercial.

Junto a solucionar o problema com as fontes de financiamento, a proposta é focar na geração de processos de educação financeira e no desenvolvimento de capacidades para o empreendedorismo. Além disso, são promovidas metodologias de educação financeira que permitam a aquisição de conhecimentos práticos para desenvolver fundos autogeridos e o apadrinhamento por organizações que contam com experiência no tema. Também foi ressaltada a importância de que esses fundos tivessem estatutos claros e respeitados por todos os sócios.

O Programa Regional Juventude Rural Empreendedora capitalizou o Fundo Rotativo para empreendimento de Jovens geridos pela Associação de Jovens Empreendedores de La Dorada, Colômbia (ASOJE). Entre suas características se destacam a taxa de juros a 1%, a possibilidade de dar um prazo morto, de acordo com as características do negócio, e o consenso no plano de pagamento. Para mais informação contatar [email protected]

3.2.4 Formação para a vida: capacitar-se para empreender e trabalhar

Como já foi mencionado acima, é importante que os projetos ampliem o espectro da oferta de capacitações para trabalhar com jovens, incluindo, além de assistência técnica e produtiva, temas de desenvolvimento empresarial, tais como contabilidade, fortalecimento organizacional, planos de negócios, entre outros.

Além disso, devido aos jovens estarem em um período de crescimento pessoal, é necessário reforçar determinados temas relevantes, como as relações de gênero e as desigualdades intergeracionais, lideranças, parcerias ou cooperativas, educação financeira, direitos humanos, direitos cidadãos, entre outros assuntos, que colaborem com a formação integral do jovem. Uma metodologia que começou a ser implementada é o desenvolvimento de um plano de vida por parte dos jovens, em que se trabalha a ideia de realizar um empreendimento, para logo trabalhar concretamente no plano de negócio. Isso permite que

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os jovens realizem uma auto seleção para decidirem se querem se capacitar para o empreendedorismo.

Por outro lado, a realização de oficinas de saúde sexual e reprodutiva, HIV-AIDS, álcool ou drogas, é uma atividade que deve ser parte dos convênios que os projetos FIDA estabelecem com órgãos de saúde competentes. Nesses aspectos, as organizações não governamentais e privadas também operam.

Finalmente, durante o Workshop, tanto técnicos quanto jovens ressaltaram a importância do intercâmbio de experiências, formação mútua e do “aprender-fazendo”.

PROCASUR, por meio do seu programa Territórios de Aprendizagem tem promovido o desenvolvimento de capacidades gerenciais de jovens empreendedores. A pedagogia dos Territórios de Aprendizagem sugere que os próprios talentos locais, que tenham contribuído para o desenvolvimento de seu território, ofereçam uma formação prática e especializada através do uso de conteúdo que foram sistematizados e organizados pedagogicamente. Para mais Informação contatar Paul Olmeño: [email protected]

Desde 2010, a PROCASUR organizou vários eventos e Rotas de Aprendizagem com a participação de jovens da América Latina e Caribe. Desde 2012, o Programa Regional Juventude Rural Empreendedora impulsionou a formação da Rede Latino americana de Jovens Rurais (https://www.facebook.com/juventud.rural). Para mais Informações, contatar [email protected]

3.2.5 Atividades não vinculadas a agricultura

É possível enxergar um crescente interesse dos jovens rurais em participar de outros setores da economia, que lhes permitam gerar maiores rendas e que possam fazer parte sem possuir terra própria. Os projetos FIDA podem ajudar na inserção dos jovens rurais nessas áreas, financiando, por exemplo, empreendimentos turísticos, atividades experimentais relacionadas às TICs ou iniciativas empresariais que agreguem valor a produtos agrícolas produzidos na região.

Gestão sustentável do meio ambiente e dos recursos naturais como atividade econômica

A incorporação dos jovens em processos comunitários de gestão territorial e manejo dos recursos naturais representa uma linha estratégica para os projetos. Essa pode ser estimulada, por exemplo, mediante concursos especiais para o financiamento de planos de manejo em áreas designadas. A formação de jovens em questões de manejo e conservação dos recursos naturais e a formação de comitês de jovens, podem se constituir como boas ferramentas para gerar competências dentro das comunidades e organizações para a vigilância ambiental, que apoiem a detecção e abordagem de problemas de deterioração ou destruição de recursos naturais nas áreas de influência. Os jovens desempenham também um papel importante na valorização dos ativos bioculturais, gerando empreendimentos relacionados a conservação ambiental e ao ecoturismo.

Em Jinotega, Nicarágua, a Cooperativa SOPPEXCCA promove a mudança geracional de seus associados. Organizaram os jovens no Movimento de Jovens Ambientalistas, onde os jovens realizam várias atividades em benefício de uma produção mais amigável com o meio ambiente e de um desenvolvimento mais sustentável, como, por exemplo, a conscientização dos produtores sobre o uso de agrotóxicos, a gestão de resíduos e a coleta seletiva de lixo nas comunidades. Para mais Informação contatar Jairo Rivera: [email protected]

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A Corporação para o Monitoramento da Biodiversidade do Sul, Mashiramo, foi organizada como um órgão voluntário de controle, conservação, planificação ambiental, resgate e libertação de espécies, com uma base de sete grupos comunitários sob a direção de profissionais, técnicos e jovens do distrito de Bruselas, organizados no grupo de monitoramento Piedemonte. Foi possível mudar de uma cultura de caça à uma cultura de conservação em uma área de redução da biodiversidade e eminentemente agrícola. Para mais Informação contatar Rosalino Ortiz: [email protected]

“Inclusão e estratégias de desenvolvimento empresarial dos jovens rurais”

1. A incompreensão de seu entorno, críticas e piadas, por parte da família, amigos e vizinhos são os primeiros obstáculos que os jovens têm de superar quando começam suas atividades como empreendedores. Recomenda-se a implementação de um programa psico-educacional para os jovens e suas famílias, com ênfase na motivação pessoal, autoestima, igualdade de gênero e habilidades para a vida.

2. Os principais obstáculos são a administração da empresa e a comercialização dos produtos ou serviços. Recomenda-se integrar os

negócios com as cadeias de valor existente na região.

3. Promover a associatividade dos empreendedores/as, através de redes, cadeias de valor ou organizações, permite manejar a concorrência, reduzir os custos, aumentar os lucros e garantir uma maior sustentabilidade do negócio.

4. É importante que a família e comunidade se envolvam e apoiem o processo de desenvolvimento do negócio desde o começo. As famílias podem facilitar o acesso à terra, beneficiando o desenvolvimento dos empreendimentos agrícolas.

5. Os requisitos de acesso de jovens a apoios ou recursos muitas vezes não consideram suas capacidades, e sim suas credenciais ou méritos na educação formal. Para jovens indígenas, é necessário desenvolver toda a comunicação na língua nativa.

6. Os empreendimentos juvenis precisam contar com apoios técnicos e atribuição de recursos nos momentos críticos do negócio. A informalidade dos empreendimentos é um obstáculo para o acesso de recursos ou apoio.

7. Ao projetar programas de apoio aos jovens é preciso compatibilizar as diferentes atividades que eles realizam.

8. Os jovens necessitam de recursos financeiros para o desenvolvimento de empreendimentos, agrícolas e não agrícolas.

9. A geração de empresas juvenis e a integração de jovens em organizações de adultos ajuda a evitar a migração de jovens.

Fonte: Informe Workshop San Salvador, os Salvador, novembro, 2013.

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3.2.6 Apoio a organização produtiva e social dos jovens

Apoio as redes de jovens rurais. Os jovens rurais acreditam que esse é um ponto central para exercer com maior força sua voz pública e facilitar sua participação nas políticas que afetam o seu desenvolvimento. Além disso, as redes servem como um espaço de visibilidade de seus empreendimentos. Por outro lado, no Workshop, os técnicos dos projetos ressaltaram a importância de uma interlocução direta com as redes de jovens para estabelecer espaços de participação e colaboração.

Apoio a formalização de associações. Durante a fase de concepção de um projeto, é importante conhecer as formas de associação preferidas pelos jovens e as possíveis formas de apoiá-las a partir de um projeto do FIDA. Quando a formalização das organizações é imprescindível para acessar recursos externos, os projetos FIDA podem prestar aconselhamento jurídico e apoio financeiro para a realização dos procedimentos de legalização.

Apoio a formalização de empresas. O processo de formalização dos empreendimentos requer acompanhamento e se aconselha que seja estipulado não como um requisito para o cofinanciamento, mas sim caso esse esteja cumprindo com as condições produtivas, técnicas, sanitárias e administrativas. Ou seja, no momento de constituir legalmente um empreendimento, é importante que este realmente exista e não seja apenas uma ideia de negócio. Outra recomendação refere-se a necessidade de capacitar a juventude rural sobre direitos e deveres que chegam com a formalização a nível tributário, especialmente porque muitos novos empreendimentos formalizados desde o início não têm essa informação e acabam em situações inconvenientes como o não cumprimento dos pagamentos ou declaração de impostos.

Aportes de contrapartida. Os fundos de contrapartida são exigidos como uma medida de financiamento de planos de negócios, mas podem se constituir em um obstáculo às organizações juvenis que não possuem fluidez financeira. Nesses casos, os projetos FIDA podem optar por mecanismos mais flexíveis de contrapartida.

Por sua vez, os jovens se dão conta das dificuldades decorrentes de requisitos como a legalização das associações de jovens ou de suas empresas, devido a regras como o número mínimo de sócios e o montante necessário para a contrapartida. Assim, a ideia não é eliminar a contrapartida, e sim avaliar outros recursos que sejam mais alcançáveis, como mão de obra, materiais e infraestrutura.

“Participação e incidência dos jovens rurais”

1. Deve-se legitimar e dar representação às organizações de jovens. Caso contrário, esse problema pode ser enfrentado no futuro, afetando a sustentabilidade das organizações juvenis e a incidência da participação social dessa faixa etária.

2. A representação das sociedades civis é complexa, diversificada e heterogênea, por isso é necessário gerar respostas particulares para contextos particulares. Os jovens querem influenciar em espaços de tomadas de decisão e ocupar o seu lugar como representantes de suas demandas.

3. É evidente a importância de participar na formulação de políticas públicas e projetos de desenvolvimento, incorporando os atores-chave/beneficiários/jovens nesses processos.

4. Para construir espaços de articulação juvenil é necessário gerar enfoques metodológicos e conceituais próprios ou adaptados aos jovens, a fim de manter um constante diálogo com os pais e líderes de organizações adultas. Isso tem beneficiado os jovens, permitindo-lhes maior participação e criando espaços para recreação e desenvolvimento de grupos de jovens longe da violência ou de gangues.

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5. Para que as organizações juvenis obtenham apoio institucional é necessário desenvolver propostas claras e concretas para a participação nos diálogos com outros atores; defender o desenvolvimento de processos participativos e construídos por e para os jovens; trabalhar em rede; criar oportunidades de intercâmbio e de difusão de experiências por meios de comunicação; criar comitês de trabalho como estratégia de participação e empoderamento, entre outras ações.

Fonte: Informe Workshop de San Salvador, El Salvador, novembro, 2013

4. REFLEXÕES FINAISUma primeira constatação encorajadora é de que, hoje em dia, o tema da juventude rural se tornou mais importante, tanto para a agenda do FIDA como para outros organismos de desenvolvimento. Está também nas agendas dos países, o que significa uma grande conquista em comparação a situação que foi observada há alguns anos.

Neste documento foram exibidas diferentes razões para o crescente interesse nesse grupo: as condições de desvantagens dos jovens rurais frente aos urbanos; a escassez de terra, que os impede de seguir os passos de seus antecessores e se tornarem produtores; as migrações em massa, do campo para as cidades e estrangeiras; a vinculação de jovens a atividades ilegais e, como implicação de tudo isso, a constatação de um zona que envelhece, resultando em alguns países com limitação de mão de obra para a produção tecnológica, que por sua vez afeta o abastecimento interno de produtos agrícolas e das exportações.

Frente a essa situação, há um consenso crescente sobre a necessidade de integrar os jovens nos Projetos FIDA, focando nos aspectos econômicos e sociais, com dois objetivos principais: apoiar a obtenção de melhor renda para jovens e suas famílias, mantendo-os nas áreas rurais ou semirrurais; e entender que estes jovens podem ser os motores de mudança das instituições e da economia dos territórios em que atuam.

Apesar desse consenso, ainda não existe uma estratégia de incorporação de jovens nos projetos de desenvolvimento, seja do IFAD, dos países, ou de outros organismos. Em muitos casos, existem atividades parciais voltadas para eles, mas não uma abordagem abrangente que realmente apoie suas estratégias de vida e possibilite que se tornem um motor de desenvolvimento para os seus territórios. Portanto, este documento tem como objetivo apoiar os esforços de inclusão com orientações gerais e temáticas, assim como com exemplos concretos.

A experiência do Programa Regional Juventude Rural Empreendedora tem sido valiosa, pois permitiu detectar a situação dos jovens e sistematizar suas demandas mais imediatas. Os jovens necessitam de recursos produtivos, capacitação e apoio dos organismos de desenvolvimento e dos governos locais, seja para levantar empreendimentos ou para inserir-se no mercado de trabalho, em melhores condições do que as atuais. Uma demanda muito clara é a capacitação no que se refere a possibilidade de estruturar um plano de negócios e colocá-lo em prática, para os

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IFAD - Carla Francescutti

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quais são necessários conhecimentos de tecnologia e de administração. A essas demandas específicas, acrescenta-se a de atingir uma formação pessoal mais completa e integral.

As equipes técnicas manifestaram algumas dificuldades existentes nos projetos para inclusão de jovens, problema que se dá desde a sua formulação, já que em alguns projetos não foram considerados os jovens na sua concepção, o que limita as possibilidades da equipe técnica durante a execução. Por isso, tem-se insistido na necessidade de ter metas claras e orçamentos específicos para poder criar estratégias para a juventude. Outra dificuldade mencionada é a falta de capacitação e multidisciplinaridade das equipes técnicas, além da falta de unidades específicas de atendimento aos jovens.

Os jovens detectam certa rigidez na regulamentação dos projetos. E por isso, postulam a necessidade de flexibilidade de algumas regras nos requisitos de acesso, como o número mínimo de sócios. A flexibilidade dessas regras permitiria que mais jovens conseguissem constituir empreendimentos menores, mas mais manejáveis. Outra aspiração é a de conseguir alguma autonomia para a constituição e para o manejo de fundos destinados aos seus negócios.

Um aspecto interessante é que o jovem, apesar de sua busca pela autonomia, mantém um grau de dependência em relação a sua família de origem e a sua comunidade. O apoio que recebem de seus pais e familiares ou líderes comunitários pode ser decisivo para o sucesso de sua estratégia para a vida e para mantê-los no campo. Isso aponta a necessidade de que os projetos contribuam para o envolvimento do ambiente e círculo de entorno dos jovens nas iniciativas que possam vir a empreender.

A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM

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Desenvolvimento do empreendedorismo rural juvenil:A experiência da FUNDESYRAM

EL SALVADOR

I. Em que contexto a experiência é desenvolvida?

El Salvador tem uma população de seis milhões, 249 mil e 262 pessoas, das quais 62,6% vivem em áreas urbanas e 37,4% em áreas rurais. Mais da metade da população tem menos de 30 anos de idade (63,7%), muitos dos quais vivem em situação de pobreza, desigualdade e violência social. 35% das famílias com crianças, adolescentes ou jovens são de pais solteiros, e, destas, 77% são chefiadas por mulheres. Os salários das mulheres são 15% menores que os dos homens, mesmo representando 52,8% da população, apenas 15% delas são proprietárias de terras com potencial agrícola.

De acordo com o Fundo de Investimento Social para o Desenvolvimento Local (FISDL) e da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO - Programa El Salvador)1, os jovens entre 15 e 24 anos de idade são particularmente afetados pela pobreza e constituem dois terços da população total e um quarto da população economicamente ativa (PEA). 70% da população rural com idade maior que 15 anos não têm renda própria. A escassez de trabalho de qualidade e criatividade limitada na oferta de emprego e na formação profissional são alguns dos principais

1 Mapa Nacional da Pobreza de El Salvador, 2011.

fatores que afetam em especial a juventude rural. Apesar da escolaridade no país atingir mais de 90% da população em idade escolar, nas áreas rurais o abandono escolar atinge um a cada dois jovens e a média dos estudos é de apenas 3,9 anos.

De modo geral, para os jovens a condição é agravada pelos efeitos da transculturalização e a consequente perda de identidade, que tende a contribuir para a diminuição do interesse em contribuir para o desenvolvimento de suas comunidades. A juventude também é afetada pelas medidas de segurança pública ao ser associada ou assediada por gangues criminosas, fato que representa a expressão máxima do desenraizamento social dos jovens; além da emigração, a gravidez precoce e a baixa autoestima.2 Nos departamentos de Ahuachapán e Sonsonate a situação não é diferente nas áreas de intervenção da FUNDESYRAM, especificamente nos municípios que fazem parte do programa de juventude, como Ahuachapán, Concepción de Ataco, Guaymango, Jujutla, San Pedro Puxtla e Tacuba, além dos municípios de Santo Domingo de Guzmán e Nahuizalco, do departamento de Sonsonate.

Nas áreas rurais, a situação dos jovens apresenta maiores desvantagens; a transição para a vida adulta

2 Pesquisa Nacional da Juventude. IUDOP, Universidade Centroa-mericana José Simeón Cañas. San Salvador, 2009.

A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM

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ocorre prematuramente, já no início da formação das famílias enfrentam a marginalização por parte do Estado em termos de atendimento e satisfação das necessidades e direitos básicos; em termos educacionais, a oferta é limitada ao ensino básico e em poucos casos até o ensino médio, e a razão para o abandono escolar é essencialmente econômica. Em termos de renda, a única opção são atividades agrícolas mal pagas (U$57,50/mês para os homens e U$30,00/mês para as mulheres); e, por fim, mas não menos importante, são afetados pela limitação de espaços culturais e recreativos (UCA / ACRA, 2009).

Além disso, a região oeste de El Salvador não está excluída dos efeitos causados pela mudança climática que resultam, entre outros problemas, em colheitas decrescentes, crise alimentar e desnutrição crônica, que, de acordo com o Instituto de Nutrição da América Central e Panamá, INCAP, causa insegurança alimentar e nutricional que afetam uma em cada cinco crianças na zona rural do oeste de El Salvador.

Os principais problemas que os jovens enfrentam nos municípios de intervenção têm a ver com a falta de emprego ou fonte de renda, falta de oportunidades para um estudo mais aprofundado, aumento do abuso de drogas, delinquência, migração, falta de espaços de lazer e falta de espaços de participação onde possam expressar suas opiniões.

A FUNDESYRAM funciona no oeste de El Salvador desde 1999, com o objetivo de “ser uma instituição facilitadora da participação cidadã organizada para a inovação e transformação do território em que os atores locais, em conjunto com os governos municipais, conduzem em seus próprios territórios os processos de superação da pobreza com foco nos sistemas de produção para a soberania e segurança alimentar, e integração das cadeias de valor do agronegócio orgânico com responsabilidade social e ecológica que se tornam os motores do crescimento e desenvolvimento humano sustentável com igualdade de gênero e incentivam a adaptação às alterações climáticas no espaço territorial em que se desenvolvem”.

Quando a intervenção na região oeste foi iniciada, a região dependia fortemente do cultivo café, gerando benefícios aos produtores e pessoas mais pobres. O café foi uma importante fonte de renda e emprego, mas com a queda dos preços a nível mundial, as oportunidades de trabalho rural foram reduzidas, gerando condições de maior vulnerabilidade social e econômica e acentuando a condição de pobreza das famílias. Nesse contexto, a FUNDESYRAM, com o apoio dos colaboradores e de países solidários, promoveu e continua a promover o desenvolvimento territorial rural e urbano.

Na região oeste, e particularmente em Ahuachapán e Sonsonate, a FUNDESYRAM delimitou o seu trabalho territorial em três microrregiões: a microrregião de Puxtla, onde as cidades de San Pedro Puxtla, Santo Domingo e alguns locais de Guaymango estão integrados; a microrregião Centro-Sul, que integra locais de Guaymango, Jujutla, Apaneca e Ataco; e a microrregião de Tacuba, que integra o município de Tacuba.

II. COMO NASCE A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM?A Fundação para o Desenvolvimento Socioeconômico e Restauração Ambiental, FUNDESYRAM, foi constituída em 23 de janeiro de 1992, por quinze universitários, em sua maioria graduados em ciências agrárias, como uma organização privada, apartidária, sem fins lucrativos e estabelecida para contribuir para a melhoria dos padrões de vida da população rural e urbana de forma integral, principalmente nos setores sociais e economicamente marginalizados, bem para a proteção do meio ambiente. Para atingir os seus objetivos, desenvolve projetos de restauração agrícolas, sociais, econômicos, educacionais e ambientais, todos com foco na igualdade de gênero.

Desde o seu início, a FUNDESYRAM trabalhou em três eixos estratégicos voltados para o desenvolvimento de territórios e para o crescimento pessoal, sendo eles: Organização e participação cidadã com igualdade de gênero, Desenvolvimento econômico local com base

A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM

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na agricultura orgânica e adaptação às alterações climáticas, e Meio ambiente. Ao longo dos últimos seis anos incorporou um novo eixo voltado para o Desenvolvimento de mulheres e jovens.

O enfoque no trabalho de desenvolvimento territorial passou a abranger desde a organização comunitária e a segurança alimentar em 1999, até as Eco comunidades e redes regionais em 2014. O processo institucional das microrregiões e comunidades está resumido na Tabela 1, na qual são identificados cinco períodos com média de três anos cada, em nove áreas de interesse: Organização, Formação de Lideranças, Mulheres adultas, jóvens de ambos os sexos, Sociedade-Cultura, Produção e produtividade, Comercialização, Serviços financeiros e Meio ambiente.

Tabela 1. Desenvolvimento da abordagem da FUNDESYRAM nos territórios

Ênfase da FUN-DESYRAM

Segurança ali-mentar e Organi-zação , 1999 – 2003

Desenvolvimento Econômico e Participação , 2004 – 2006

Agroecologia e empreendimento 2007 – 2010

Introdução às Eco comunida-des e redes de serviços , 2011 -2013

Eco comuni-dades e redes regionais 2014-20116

ORGANIZAÇÃO

Fortalecimento da organização comunitária exis-tente.

Diversificação da organização comunitária.Formação e legalização de novas estruturas organizacio-nais no âmbito municipal, como associações de produtores

Consolidação das organizações comunitárias, municipais e microrregio-nais. Criação de associações de mulheres e jovens e de empresas associativas no município.

Monitoramento das organizações na incidência e desenvolvimento territorial. Inserção do conceito de Eco comunidades para se tornarem comunidades educativas a nível regional.

A consolidação do conceito de comunidades ecológicas, agricultura orgânica das redes regionais especialmente de mulheres e jovens empreendedores e de coordenado-res regionais da juventude.

Influenciar a ges-tão Comunitária integrada.

Promover a ges-tão da comuni-dade de forma integrada

Fortalecer a ges-tão comunitária e municipal de forma integrada

Acompanhamento da gestão própria de projetos por organizações locais

Acompanhamento da gestão própria de projetos por or-ganizações locais e regionais

FORMAÇÃO DE LIDERANÇA , MULHERES ADULTAS, JO-VENS DE AMBOS OS SEXOS

Formação de Pro-motoresExtensionistas Comunitários em geral.

Consolidação da rede de agen-tes de extensão comunitária.

Fortalecer a agri-cultura orgânica para os Exten-sionistas Comu-nitários e suas intervenções no desenvolvimento comunitário.

Extensionistas Comunitários, e lideranças es-pecializadas em áreas temáticas e agricultura orgâni-ca trabalham em redes.

Líderes especia-lizados em em-preendedorismo, desenvolvimento local, incidência e agricultura orgânica.

Inserção de mul-heres e jovens de ambos os sexos em organizações locais

Fortalecimento de mulheres e jovens como líderes e dirigentes comuni-tários

Desenvolvimento das mulheres e da juventude como líderes em em-preendedorismo e desenvolvimento.

Empoderamento das mulheres e jo-vens como líderes em empreendedo-rismo e desenvol-vimento.

Mulheres e jovens de ambos os sexos são facilitadores de seus próprios processos de desenvolvimento e conquista dos seus direitos.

A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM

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SOCIEDADE-CULTURA

Promover a igual-dade de gênero e inclusão social.

Integração das mulheres e da juventude na lide-rança da comuni-dade e continuar a promover a igualdade de gê-nero e a inclusão.

Empoderamen-to de mulheres e jovens como atores-chave na igualdade de gê-nero e inclusão.

Acompanhamento e apoio às orga-nizações locais de igualdade de gênero e inclusão.

Promoção da identidade cultural e comunitária. Alimentação saudável com produtos locais e nutricionais.

PRODUÇÃO E PRODUTIVIDADE

Promover a segu-rança alimentar e a agricultura familiar.

Consolidação da segurança alimen-tar e diversifi-cação com gestão ecológica.

Reconversão à agricultura orgânica fami-liar e comercial; e Extensionistas Comunitários com base nos sistemas de produção. Em-preendedorismo

Especialização da produção orgâni-ca e agroecoló-gica soberana e empresarial nos territórios. Em-preendedorismo juvenil

Consolidar a pro-moção da sobe-rania, segurança alimentar e econô-mica baseada na agricultura orgâ-nica. Empreen-dedorismo juvenil consolidado.

Promover as unidades do agronegócio com ênfase ecológica e tecnologias adequadas para a produção familiar.

Empresas indivi-duais e associati-vas de produção, Transformação e serviços com ênfase agroeco-lógica, prioridade para mulheres e jovens.

Empreendedores /as e empresas em redes e cadeias de valor. Estabele-cer uma economia solidária integrada com uma econo-mia competitiva

Fortalecer os processos para uma economia so-lidária comunitária dentro de redes de valor. Promover a agricultura sau-dável e nutricional

COMERCIALI-ZAÇÃO

Comercialização associativa de in-sumos e produtos.

Fortalecimento da comercialização individual ou associativa.

Consolidação da comercialização da produção indi-vidual ou associa-tiva.

Integração das empresas em cadeias de valor e redes para mel-horar a comercia-lização.

Promoção de mer-cados solidários comunitários e municipais.

SERVIÇOS FI-NANCEIROS

Promover o cré-dito em espécie compartilhando os benefícios

Estabelecimento de sistemas de crédito locais.

Fortalecimento do crédito por meio de associações e economias.

Consolidar econo-mias comunitárias e sistemas de monitoramento de crédito

Multiplicação horizontal da eco-nomia Promoção da boa gestão familiar

MEIO AMBIENTE

Sensibilização para a conser-vação do solo e da água.

Campanhas eco-lógicas e tecnolo-gias adequadas para a produção familiar.

Coordenação com atores locais para campanhas am-bientais. Promover as Eco comunida-des e os serviços dos ecossistemas da agricultura orgânica

Estabelecimento e fortalecimento das Eco comuni-dades. Conser-vação e gestão de sementes nativas, mitigação das mu-danças climáticas

Água e sanea-mento básico co-munitário. Manejo do solo de forma agroecológica. Reforçar o enfo-que nas bacias hidrográficas.

A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM

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III. QUAIS SÃO AS ESTRATÉGIAS DA FUNDESYRAM PARA A INTERVENÇÃO COM OS JOVENS?Os principais problemas identificados que afetam os jovens estão relacionados com a marginalização da qual estão sujeitos, a falta de oportunidades de emprego e de educação para que possam desenvolver habilidades e obter trabalhos decentes, e a baixa renda. Nesse sentido, a intervenção da FUNDESYRAM é baseada em um modelo de inserção deste setor em estruturas de desenvolvimento local, em que o empreendedorismo deve ser visto como uma ferramenta concreta para a formação de jovens para facilitar a geração de renda necessária para melhorar o seu auto desenvolvimento de forma integral. Este modelo vai assegurar que as estratégias para a redução da pobreza e para o desenvolvimento sustentável sejam transformados em benefícios de qualidade de vida dos jovens e de suas famílias.

Os destinatários das ações de intervenção são 300 jovens de ambos os sexos nos departamentos de Ahuachapán e Sonsonate, são mulheres e homens jovens rurais de origem camponesa, muitas vezes, de origem indígena, que trabalham em áreas rurais e em poucos casos, trabalham como assistentes em escolas, pois deixaram de estudar. Entre eles/as, existem atualmente 257 jovens empreendedores, dos quais 48% são mulheres.

A intervenção com jovens empresários rurais começou com a implementação de dois projetos financiados pela União Europeia entre 2009-2012, sendo eles o projeto “Participação cidadã e acesso ao emprego para os jovens em dois municípios em Ahuachapán, El Salvador” solicitado pela ACRA, e o projeto “Fortalecimento das capacidades das organizações de jovens no município de Tacuba”, liderado e solicitado pelo HORIZONT3000. No período de 2012 a 2015 foi implementado o projeto “Fortalecimento de redes regionais de iniciativas empresariais e identidade cultural dos jovens na região oeste de El Salvador” executado pela HORIZONT3000 e pela DKA. Durante este projeto, a FUNDESYRAM esteve

vinculada de modo organizacional e empresarial a Associação de Capacitação, além de realizar trabalhos de pesquisa relacionados ao tema da Saúde Mental, estando também vinculada à ACISAM para a parte da comunicação e cultura.

O Programa de Empreendedorismo:

O modelo de intervenção é projetado para permitir que os jovens desenvolvam empreendimentos econômicos sustentáveis, com igualdade de gênero e amigáveis ao meio ambiente, o que é cada vez mais necessário frente a mudança climática. Este modelo é essencial para a inclusão, geração de emprego e renda e para garantir a sustentabilidade das microempresas. Para atingir esse objetivo, foi inserida uma modalidade que consiste na inserção dos jovens na Rede Regional de Jovens Empreendedores, REMPRE.

Os jovens interessados devem apresentar seus empreendimentos de acordo com os seus interesses, experiência e conhecimento do mercado. Além disso, devem participar ativamente no desenvolvimento comunitário através de organizações de jovens, sem deixar de lado o crescimento pessoal e o cuidado com suas famílias. A participação na Rede lhes permite ter um papel ativo na elaboração e implementação das políticas públicas e/ou estratégias juvenis de suas regiões e dos programas ou projetos que participam, o que significa uma melhoria na sua atual situação de marginalização e isolamento.

A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM

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O processo para apoiar jovens empreendedores é baseado no modelo de intervenção resumido na Figura 1. Este modelo destaca as sinergias que ocorrem entre as instituições de apoio e a organização comunitária. A FUNDESYRAM, por sua vez, junto com outros atores locais e regionais, torna-se fornecedora de recursos econômicos, educativos e de outras ferramentas como assistência técnica especializada. As organizações comunitárias contam com a promoção, seleção de jovens e obtenção de contatos para comercializar ou gerir os empreendimentos, e com o associativismo como estratégia de competitividade. É importante ressaltar que o estudo de viabilidade técnica econômica é realizado de forma participativa.

InstituiçõesGrêmios

RegionaisAsistencia técnica y legal

Apoios com contatos

Prover insumos, materiais e outros

Assistência técnica especializada

Programa de capacitação

Critérios de seleção

Assistência técnica especializada

Análises das experiências prévias

Assistência técnica especializada Diagnóstico e plano estratégico comunitário

Identificação de empreendimentos

Seleção de empreendedoras

Implementação das microempresas

Processo produtivo ou de serviços das microempresas

Promoção / Comercialização dos produtos e serviços

Articulação na rede regional empreendedores e/ou cadeias

de valor

Promoção e organização

Definições de apoios

Identificação de canditados

Integração empreendedoras em comitês

Serviços locais de crédito e economia

Apoio com contatos

Associatividade dos empreendedores/as Organização local e territorial

Municipalidade,Grêmios

LocalizaçõesFUNDESYRAM

ProvedoresGrêmios

LocalizaçõesFUNDESYRAM

Organização comunitária

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃOAssociatividade, organização empresarial, produção e comercialização, habilidades para a vida,

questão de gênero, manejo de crédito etc.

Organização:

• Comunitária• Assoc. Produtores• Assoc. Mulheres• Assoc. Jovens

Socialização e validação do estudo

Estudo de viabilidade técnica e econômica

FUN

DES

YRA

M

O programa de capacitação destina-se a incubação e maturação de empreendimentos econômicos sustentáveis, incluindo a identificação, formulação e planejamento de projetos, projeção comercial e diversificação econômica, igualdade de gênero, e proteção ambiental e medidas de conservação frente às alterações climáticas. O processo de capacitação é essencial para a formação de jovens como empreendedores e é realizado antes, durante e após

Figura 1. Processo considerado para o empreendedorismo juvenil

os empreendimentos juvenis serem implementados. Essa atividade está voltada a aspectos empresariais, contábeis, mercadológicos, de investimento eficaz, de economias, de gestão de crédito, de cultura ambiental e da ética como elemento fundamental de resgate dos valores.

A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM

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Este plano de capacitação é implementado pela FUNDESYRAM, com o apoio de organizações estatais como o Conselho Nacional de Micro e Pequena Empresa (CONAMYPE), a Fundação AGAPE e o Instituto Nacional de Formação Profissional (INSAFORP). É desenvolvido através de oficinas participativas, troca de experiências, palestras técnicas, demonstração de métodos e rodadas de observação.

Os 300 jovens beneficiários da FUNDESYRAM iniciaram um processo de capacitação em cinco áreas, a fim de fortalecer as suas competências e habilidades empreendedoras por meio da criação de microempresas produtivas, garantindo a sua criação e funcionamento. Dentro dos temas gerais ministrados na formação encontramos:

1. Organização associativa: foi formado um conselho administrativo com cinco membros; e um comitê de produção e um de comercialização, com três membros cada. Além disso, o uso de um fundo de crédito para a juventude foi regulamentado.

2. Organização empresarial: foram capacitados em empreendedorismo, ponto de equilíbrio, planos de negócios, pesquisa de mercado e controles administrativos de empresas.3

3. Produção: Realiza-se treinamento prático sobre os empreendimentos que desenvolvidos.

4. Habilidades para a vida: Foram tratados temas sobre comunicação, autoestima, controle da raiva, valores e tomada de decisões

5. Gênero: igualdade de gênero.

O espírito empreendedor é incentivado nos jovens, fazendo exercícios práticos de técnicas de vendas, apresentação e valor agregado de produtos; assim como de cadeias de valor, considerando-se todos os atores interessados no processo (fornecedores, clientes e concorrentes), a fim de estabelecer a sustentabilidade e competitividade do negócio.3 Na bibliografia são identificados sete publicações técnicas deco-rrentes do processo de formação. Referências: 3, 6, 7, 10, 11, 12 y 13.

Foi estabelecida uma legislação a fim de definir os mecanismos de acesso, funcionamento e monitoramento dos empreendimentos econômicos, construída com a participação ativa da rede de empreendedores, que são os responsáveis por fornecer os elementos necessários dentro do contexto de um regulamento para a convivência harmoniosa dos empreendimentos e de suas interações, assistidos com apoio técnico da FUNDESYRAM.

Pontos-chave da regulamentação:

1. Devem demonstrar real interesse na criação de uma iniciativa econômica, de modo a obter benefícios próprios, para suas famílias e comunidade. Ainda, devem estar motivados a participar de todo o processo de capacitação e, em seguida, transferir os conhecimentos adquiridos a outros jovens.

2. Os jovens devem estar integrados no comitê comunitário da juventude (CCJ) ou em outras organizações comunitárias de sua comunidade, comprometendo-se a trabalhar para o seu desenvolvimento e o de sua comunidade.

A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM

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3. Os jovens devem estar de acordo com a Rede Regional de Jovens Empreendedores (REMPRE), comprometendo-se com a organização de trabalhar para promover a inclusão socioeconômica sustentável, com igualdade de gênero e proteção ambiental.

4. Os jovens devem ter as seguintes habilidades e/ou atitudes: Responsabilidade, visão clara do que querem e para onde estão indo, proatividade, honestidade, vontade de vencer e prontidão para aceitar desafios, capacidade de tomar decisões, e interesse em aprender coisas novas. Essas características são determinadas através de um questionário específico.

5. Os jovens devem garantir sua responsabilidade e boas relações pessoais com os outros jovens e adultos em sua comunidade, por meio de um registro por escrito e assinado por representantes da Associação de Desenvolvimento Comunitário (ADESCO), da Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS) ou de outras organizações de sua comunidade

6. Os país de família darão o apoio financeiro (parte do capital de giro) e moral ao jovem, bem como o apoio necessário para garantir que as iniciativas

sejam implementadas e os processos de produção sejam cumpridos.

7. Na seleção das ideias de negócio serão levados em conta conhecimentos e experiências anteriores, formações recebidas, além do conhecimento de mercado de produtos ou serviços a serem produzidos. Toda iniciativa econômica deve ser criada a partir do potencial de mercado, dentro ou fora de sua comunidade.

8. Os jovens devem ter recebido e aprovado os quatro primeiros módulos do programa de capacitação em Desenvolvimento Empresarial, enviado anteriormente ao estabelecimento das iniciativas. Posteriormente, deverão participar ativamente nas jornadas de formação técnica e produtiva, coordenadas pela FUNDESYRAM.

9. O PLANO DE NEGÓCIOS sairá das capacitações recebidas e será decisivo para o estabelecimento da iniciativa e do orçamento de capital de investimento (capital semente). Se aprovado este capital, 80% do montante total requerido para estabelecer a iniciativa econômica será financiado. Esses 80% serão fornecidos pelo projeto na forma de materiais e suprimentos, não em dinheiro; os outros 20% serão parte da contribuição do jovem por meio de materiais e mão de obra.

10. Antes da implementação das iniciativas econômicas, será estabelecido um compromisso que obriga o retorno do capital total do investimento se não for feito o bom uso dos materiais e insumos fornecidos pelo projeto. Este compromisso será formalizado em uma carta assinada pelo jovem, um dos pais (se menor de 18 anos) e pelo técnico de projeto representante da FUNDESYRAM.

11. Uma vez aprovado o investimento em um empreendimento, os recursos alocados para a execução não podem ser utilizados para o reparo ou arrendamento de imóveis, pagamento de dívidas adquiridas pelo jovem empreendedor ou de sua família.

12. Somente poderão ser feitos investimentos em empreendimentos individuais. Fica a critério

A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM

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do jovem empreendedor a incorporação de outros jovens na gestão do seu negócio uma vez estabelecido; mas sempre será de responsabilidade do jovem beneficiário o gerenciamento do mesmo.

13. O jovem, uma vez que sua iniciativa se tornar uma atividade econômica e lucrativa, deverá reembolsar vinte por cento do capital semente, que deve ser entregue à Rede Regional de Jovens Empreendedores; ação que pode ser feita em uma única parcela ou parcelas mensais diferenciadas e sem juros. (O reembolso deverá ser realizado quando o lucro for maior ou igual a U$ 30,00 mensais).

14. Os jovens deverão tornar-se parte do programa de Crédito Juvenil, que é apoiado financeiramente por meio da restituição dos vinte por cento do capital semente de cada atividade econômica. O programa será gerido pela Rede Regional de Jovens Empreendedores e possibilitará a oportunidade de acesso ao capital de giro necessário para fortalecer as atividades econômicas ou desenvolver novos empreendimentos coletivos ou individuais. O técnico do projeto irá acompanhar essa atividade e orientar os jovens da Rede para a gestão eficaz dos fundos.

15. Deverão integrar os empreendimentos existentes em cada comunidade em grupos solidários e, em seguida, serão vinculados à níveis municipal e microrregional, caso mereçam. O apoio será enfatizado na promoção dos seus produtos e serviços por meio da REMPRE.

Junto com os regulamentos, serão considerados os seguintes critérios para a seleção de jovens aspirantes a implementação do seu empreendimento:

1. Jovens com idade entre 16 e 26 anos

2. Ter espírito empreendedor

3. Capacidade de aprendizado e de por em prática os novos conhecimentos

4. Disponibilidade de oferecer os materiais que o projeto não fornece

5. Ter o apoio da família

6. Disponibilidade de trabalhar a produção de modo organizado

7. Assinar a carta de compromisso

O Programa Psicoeducativo:

Apesar de se implementar uma metodologia participativa com os jovens empreendedores, estes manifestam que muitas vezes têm dificuldade para superar os desafios internos que limitam seu auto desenvolvimento, que se transformam em barreiras a serem superadas para que possam se tornar empreendedores/as bem sucedidos/as. Aqui reside a importância e a necessidade de se implementar o Programa Psicoeducacional para a juventude empreendedora. Este programa baseia-se na adaptação sociocultural ou socialização e enriquecimento pessoal e social. O programa é focado no trabalho em grupo para resolver alguns problemas emocionais ou de relacionamento enfrentados pelos jovens de uma forma mais direta. O princípio é baseado na interação de iguais, onde eles se manifestam e evidenciam as dificuldades, mas também os recursos ou habilidades que cada um possui. O objetivo do trabalho de grupo é entender o mundo social, familiar e emocional dos jovens, ajudando-os a adaptarem-se a situações que lhes confundem, e a gerenciar e expressar suas emoções de forma adequada.

O Programa Psicoeducacional é definido em quatro fases, que são:

• Etapa I: Como superar os pensamentos que dificultam a participação em um programa de Empreendedorismo.

• Etapa II: Como superar os desafios e obstáculos para a criação de empreendimentos.

• Etapa III: Como conseguir desenvolver as capacidades para estabelecer um empreendimento.

• Etapa IV: Como se tornar um líder e o que é necessário para construir um mundo melhor.

A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM

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As redes juvenis e sua articulação com o empreendedorismo juvenil rural:

Em 2007, a FUNDESYRAM e a ACISAM deram um passo importante, ao promover a política de desenvolvimento da juventude no território. A ação contribui para o fortalecimento da capacitação da juventude, sua organização e identidade, com iniciativas econômicas inovadoras, comunicação participativa audiovisual e pesquisa de seu patrimônio artístico e cultural. Atualmente, quatro redes regionais são fortalecidas nestas iniciativas e manifestações de jovens, o que lhes proporcionará sustentabilidade e projeção a longo prazo.

Em sumo, a estratégia de intervenção da FUNDESYRAM:

• Considera princípios educacionais para estabelecer um processo que inclui desde a forma de estabelecer a ideia do negócio até o funcionamento do empreendimento; a fim de proporcionar uma oportunidade para os jovens de abrir o seu próprio espaço na vida pessoal, familiar e comunitário sem sucumbir ao servilismo ou métodos antissociais.

• É altamente participativa. A juventude e as comunidades recebem uma grande intervenção no início e, pouco a pouco vão se tornando protagonista da organização dos jovens e das organizações de apoio, até complementar o processo.

• Promove a agroecologia como um mecanismo para o cuidado e melhoria do meio ambiente, os mercados locais e um processo de melhoria contínua; elementos fundamentais para a formação de jovens.

• Valoriza o conhecimento das pessoas e o articula com o conhecimento dos técnicos, para

fundi-los em um único conhecimento.

• Promove os valores da solidariedade e da ética.

• Incorpora e integra, desde o início, todos os atores para explorar as sinergias e a alavancagem com organizações e governos locais, sociedade civil e governo central.

• Promove que a população seja aquela que administra os seus próprios processos de desenvolvimento e que se beneficie dos mesmos.

• Promove a integração em redes comerciais ou em cadeias de valor.

• Promove mercados comunitários solidários, para reduzir deslocamentos longos e beneficiar a população com produtos bons e saudáveis.

• Trabalha e aprofunda a psicoeducação para superar medos, críticas destrutivas de parentes, vizinhos e amigos, e melhorar a autoestima.

• Promove uma liderança inclusiva e democrática, com igualdade de gênero.

A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM

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Até o momento, se valoriza de forma mais clara a participação social dos jovens organizada a nível da comunidade, por meio dos Comitês Comunitários (CCJ), das associações municipais de jovens (ADEJUMUT, ADJ e Red Torogoz), e a nível regional, por meio de quatro redes juvenis.

Além disso, os jovens contam com redes temáticas como a Rede Regional de Jovens Empreendedores (REMPRE), a Rede Regional de Associações juvenis do ocidente de El Salvador (RAJOES), a Rede Regional de Cultura (REDCUL) e a Rede Regional de Jovens Comunicadores (Redcom). Estas redes têm sido a base para a constituição da Coordenação Intersetorial de Juventude do Ocidente de El Salvador (CIJOES), uma organização que está atualmente se consolidando para a participação ativa no desenvolvimento e fomento de políticas públicas de benefícios para o setor da juventude.

As redes de juventude têm sido o caminho para os jovens assumirem um papel interativo, o que pode ser evidenciado por meio de suas intervenções em atividades econômicas locais, municipais e regionais como os mercados comunitários, feiras municipais, oficinas e trocas inter-regionais, assim como ações sociais diretas em suas comunidades, onde se promove o cuidado ambiental, a saúde visual e a alfabetização de adultos mais velhos.

Foram desenvolvidas oficinas de incidência da Lei Geral da Juventude em alguns municípios de Ahuachapán, envolvendo instituições governamentais, como o Instituto Nacional da Juventude (INJUVE), os Círculos Juvenis de Formação (CIJUF), assim como jovens de cada rede e representantes da CIJOES.

Da mesma forma, três jovens empreendedoras da REMPRE foram incluídas como referências para integrar uma plataforma juvenil, junto a FUNDESYRAM como instituição de apoio, no Programa Regional de Juventude Rural Empreendedora, para sua posterior integração na Rede Nacional de Juventude que está impulsionando os projetos da MAG-FIDA em El Salvador.

A REMPRE também foi reconhecida pelo setor acadêmico de Ahuachapán, após a obtenção de três bolsas de estudo integrais do Centro Regional da Universidade Panamericana (UPAN) para jovens empreendedores com interesse em estudar turismo sustentável e marketing. Além disso, através da RAJOES, a cada ano, sete jovens tiveram a oportunidade de obter o Diploma de Participação Cidadã e Política, curso ministrado pela Universidade Centroamericana “José Simeon Cañas” (UCA), que tem a duração de sete meses. Finalmente, a rede também proporcionou a dois outros jovens a obtenção do diploma de Prevenção Intersetorial da Violência Juvenil, curso ministrado pela Agência de Cooperação Alemã GIZ em coordenação com o Ministério da Justiça e Ministério do Trabalho.

A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM

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IV. QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS MARCOS, RESULTADOS E IMPACTOS IDENTIFICADOS A PARTIR DAS INTERVENÇÕES DA FUNDESYRAM?1. A faixa etária predefinida nesta intervenção é

de 15 a 26 anos, mas nos ambientes que se desenvolve, os melhores resultados são obtidos na idade compreendida entre 18 e 26 anos. É uma experiência que futuras intervenções devem considerar, uma vez que as empresas exigem não só vontade, mas condições pessoais para enfrentar os conflitos gerados no âmbito dos processos de produção e suas ligações com as pressões do mercado.

2. A sustentabilidade econômica é o ponto mais crítico das microempresas. A compra de insumos, concorrência, preços de mercado, capacidade de economia, os rendimentos e o nível de empoderamento, são alguns dos fatores envolvidos. Para isso, uma contrapartida mínima foi solicitada aos jovens participantes, a fim de favorecer o empoderamento. Ainda, procura-se fomentar as redes de valor a níveis comunitário e municipal, sob o conceito de integração das cadeias de valor e de solidariedade. A estratégia consiste em integrar os empreendimentos em cada comunidade em grupos solidários e, em seguida, passar ao nível municipal e microrregional, caso mereçam.

3. Nos aspectos de organização e participação cidadã, os grupos de jovens foram criados de modo que a intervenção acontecesse de forma eficaz. A integração das bases foi obtida por meio da criação dos Comitês Comunitários Juvenis (CCJ), que foram as sementes das Associações a nível municipal, e estas, por sua vez, das redes regionais juvenis que formam a Coordenação Intersetorial da Juventude (CIJOES) a nível nacional.

4. É através deste sistema organizacional que os jovens são formados em áreas como liderança,

advocacia, igualdade de gênero, entre outros, e incorporaram a importância da sua participação nas comunidades, bem como na cidade. É evidente o interesse, demonstrado pela continuidade do trabalho como uma juventude organizada, apresentando propostas para definir melhor o desenvolvimento comunitário, seu papel protagonista e a garantia da sustentabilidade das associações e redes, e propondo atividades de desenvolvimento tecnológico, cultural, econômico e comunitário.

5. Nos aspectos econômicos e como estratégias para a redução da pobreza, foram estabelecidos 257 microempresas rurais juvenis, 97 de comércio, 65 de manufatura, artesanato e serviços e 95 agrícolas. 123 empresas são atendidas por jovens mulheres e 134 por homens jovens e suas famílias. Todos recebem assistência técnica nas áreas de produção, marketing e comercialização.

6. Os empreendimentos são principalmente individuais e estão funcionando, ainda que em diferentes níveis de renda. Os 257 empreendimentos em operação, são classificados em:

• 157 (61%) operando em um nível baixo com renda igual ou inferior a U$ 30 mensais

• 65 (25%) operando em um nível médio com rendimento mensal entre U$31 e U$60

• 35 (14%) operando em um nível elevado com rendimento mensal entre U$61 e U$100

Estes níveis de renda são correlacionados com o custo diário por família reportados na cesta básica alimentar rural pela Direção de Estatísticas e Censos (DIGESTYC) do Ministério da Economia, que em janeiro de 2013 relatou um custo diário por família (média de cinco membros) de U$4,23 e um custo diário por pessoa de U$0,99, assumindo que todos os bens de consumo da cesta são comprados. Arias S., em seu “Atlas da pobreza e da opulência em El Salvador”, de 2010, afirma que a renda rural em Tacuba é de US $ 37,79 por mês, 40% dos jovens entre 19 e 25 anos não possuem um salário e as mulheres são as mais desfavorecidas.

A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM

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7. A formação e o fortalecimento das capacidades de jovens empreendedores estão sendo enfatizados nas cadeias de valor, na associatividade, na gestão efetiva do empreendimento, agroecologia, entre outros. Para isso, treinamentos mensais sobre estas questões em cada Organização juvenil são feitos, bem como a formação em agroecologia fomenta a cultura ambientalista entre os jovens.

8. Sobre o tema do desenvolvimento pessoal, especialmente a formação da autoestima, foi planejado um programa Psicoeducational, implementado a partir de setembro de 2013. Com isso conseguiu-se reforçar os valores e as possibilidades de superação pessoal, proporcionando com maior facilidade à geração de jovens, mais proatividade e desejos de superação.

V. QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS DIFICULDADES E DESAFIOS DA EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM?1. Uma das principais dificuldades enfrentadas

durante o desenvolvimento dos empreendimentos foi o atraso na entrega dos recursos comprometidos aos jovens (mais de um ano). Isto levou os jovens, em muitos casos, a perderem o interesse e a confiança inicial, abandonando o processo.

2. Em algumas comunidades envolvidas, nenhum grupo de jovens organizado foi encontrado, e existe ainda alguma resistência para se organizar. De acordo com os moradores das áreas, há duas principais razões para essa falta de interesse: a apatia dos jovens, uma vez que eles não consideram o que está sendo organizado como algo que pode fornecer algum benefício para si ou para a sua comunidade; e o aumento da criminalidade nessas comunidades, que assusta os jovens em particular, assim como a comunidade em geral.

3. No início, muitos dos jovens que estavam interessados em estabelecer um empreendimento o fizeram com o único objetivo de obter algum bem ou benefício material, sem o conhecimento do processo organizacional ou interesse em apropriar-se do negócio. Portanto, alguns empreendedores juvenis abandonaram o empreendimento pouco depois do mesmo ser implementado. Ao identificar esse problema, a estratégia da FUNDESYRAM foi reorientada, atribuindo grande importância para o processo de formação em todas as fases de desenvolvimento do empreendimento, tentando identificar o real interesse de cada jovem a partir da valorização dos próprios esforços para o estabelecimento do negócio.

4. Os jovens que não sabiam como administrar a sua primeira renda gastaram tudo em preferências pessoais e ficaram sem capital para o reinvestimento. É essencial que o jovem empresário saiba como administrar sua renda, o que é alcançado por capacitações posteriores em administração.

A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM

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5. Algumas empresas cessaram a sua atividade, por diferentes razões. As mais comuns, em ordem de importância, são: (1) aumento excessivo dos insumos agrícolas, (2) crime organizado e comum, (3) migração do jovem e da família para trabalho ou estudo e (4) a falta de motivação e vontade do jovem. Por meio do monitoramento contínuo, é possível encontrar alternativas ou fazer alterações necessárias para assegurar a continuidade e sustentabilidade dos empreendimentos.

6. A desmotivação, tédio e frágil conduta própria dos jovens, juntamente com os altos e baixos de suas empresas, lhes fazem gradualmente perder o interesse em pertencer a uma organização ou gerir o seu negócio. Portanto, deve ser promovida dentro das organizações juvenis a recreação saudável e auto motivação, acompanhada do apoio às ações vindas do próprio jovem.

7. As experiências bem-sucedidas de empreendedorismo juvenil tendem a chamar atenção e interesse do resto dos jovens da região porque avaliam, que se alguém semelhante a eles é empresário/a, eles também podem ser. No entanto, uma vez que decidem entrar no mundo do empreendedorismo nas comunidades rurais, as primeiras barreiras que aqueles que querem ser empreendedores têm de superar são as críticas e ridicularizações que os parentes, amigos e vizinhos fazem; além dos medos naturais de não saber como iniciar e gerir os negócios. Assim, os jovens empresários também devem enfrentar comentários negativos do seu entorno, principalmente da vizinhança adulta preocupada com a concorrência gerada no mercado comunitário. Por isso, devem ser feitos esforços para implementar processos de conscientização com os pais e vizinhos, e promover o desenvolvimento de habilidades para a vida por parte dos jovens, como é feito por meio do módulo psicoeducacional.

VI. QUE LIÇÕES PODEMOS TIRAR DESSA EXPERIÊNCIA?1. O empreendedorismo juvenil é viável e necessário

para o desenvolvimento integral de jovens de ambos os sexos. Isso se evidencia nas 257 empresas geridas por jovens que estão trabalhando em diferentes níveis de sustentabilidade econômica. Destas, 48% são dirigidas por mulheres.

2. O empreendedorismo individual ou familiar tem funcionado e é mais eficaz no trabalho com jovens, pelo menos na zona ocidental de El Salvador.

3. Os benefícios obtidos pelo/as empreendedores/as como indivíduos, famílias e comunidades, os incentiva a compartilhar suas experiências com aqueles que querem iniciar um negócio. Entre os benefícios, podem ser mencionados: os de tipo econômico, pessoal e familiar; a aprendizagem a níveis técnicos e disciplinares; independência econômica (com destaque para as mulheres); e oportunidades para a projeção a longo prazo.

4. A autoestima e a libertação. As mulheres em comunidades rurais são invisíveis como atores da comunidade, delegadas somente a tarefas relativas à esfera doméstica. No entanto, com o empreendedorismo, relatam o aumento da autoestima, mostrando que são capazes de ser empreendedoras, e de conseguir uma renda que lhes permite um processo libertador, ao não se sentirem dependentes e poder mostrar suas habilidades a comunidade.

5. Uma vez que as necessidades dos jovens são prementes, geralmente voltam a se tornar dependentes de ajuda externa. Se isso não for tratado com foco no auto desenvolvimento, solidariedade e envolvimento da comunidade, pode se tornar um fator que propicia o assistencialismo, altamente prejudicial para o desenvolvimento integral do jovem e sua iniciativa produtiva.

A EXPERIÊNCIA DA FUNDESYRAM

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6. Incentivar o empreendedorismo é uma boa estratégia e política para a inclusão da juventude, formação da nova liderança local e oportunidade para reduzir a tentação de entrar em organizações criminosas.

7. Os programas de empreendedorismo são mais sustentáveis quando existe um bom nível de participação dos jovens em todo o processo, desde o surgimento da ideia até a sua continuação. Para fazer isso, o seguimento dos empreendimentos deve ser assumido pelas organizações juvenis.

8. Idade e gravidez precoce são fatores influentes na falta de continuidade de alguns projetos, principalmente os que são geridos por pessoas com menos de 18 anos. Devido a isso, recomenda-se uma avaliação profunda da faixa etária no processo de seleção, já que habitualmente jovens não têm a maturidade para lidar com a responsabilidade de gerir o seu próprio negócio ou muita clareza sobre os seus interesses a médio e longo prazo. Os jovens devem, pelo menos, ter um senso de responsabilidade que este tipo de processo requer.

9. Não existe uma receita para estabelecer um tempo preciso para realizar monitoração e acompanhamento à iniciativa econômica, mas é desejável que, pelo menos a partir da data de início das atividades de produção da empresa, exista a possibilidade da mesma estar ligada a novos processos de formação e avaliação conduzidos por equipes técnicas, a verificação de resultados e novas injeções orçamentárias, a partir de regras claras que permitam potencializar a responsabilidade por um período de cerca de três a cinco anos.

10. É preciso enfatizar e reforçar a autonomia que devem ter os comitês dos jovens, as associações ou redes juvenis, para que se apropriem de seus próprios processos e busquem sempre por meio da incidência o gozo de seus direitos e a solidariedade com a juventude que não está sendo beneficiada pelos programas de empreendedorismo.

11. Os jovens empreendedores acreditam que para seguir em frente é preciso apoios específicos, como:

• A partir da comunidade: ajuda na promoção dos seus produtos ou serviços; incentivo e apoio para os jovens se tornarem empreendedores e consumirem os produtos e serviços dos empreendedores já existentes.

• A partir de ONGs, governo e projetos: Implementar um programa de capacitação integral, desde o estabelecimento do empreendimento até o seu crescimento; apoiar com recursos econômicos ou materiais visando a consolidação da empresa; prestar apoio em pesquisa de mercado, estudos de viabilidade e planos de negócios; promover o intercâmbio com outros empreendedores; e fornecer apoio técnico e metodológico para todos os jovens.

A EXPERIÊNCIA DO PRODEMOR CENTRAL

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Projeto de Desenvolvimento e Modernização Rural para as Regiões Central e Paracentral

PRODEMOR CENTRAL E PARACENTRALEL SALVADOR

I. Contexto da juventude rural em El SalvadorO Projeto PRODEMOR Central concentra sua atenção no setor agrícola, que representa um quarto da força de trabalho de El Salvador e um terço dos lucros de exportação. Diante da afetação deste setor por condições econômicas, ambientais e culturais, o Projeto se propôs a facilitar processos que permitam às pessoas pobres das zonas rurais construir e aumentar seu capital humano e social, de forma a incrementar sua produção, emprego e renda ao mesmo tempo em que se reabilitam e usam racionalmente os recursos no contexto da estrutura do desenvolvimento rural1. Para isso, o Projeto identificou como população-alvo os habitantes de regiões pobres dedicados à agricultura familiar, seja ela de subsistência ou focada na produção de pequena escala para mercados locais; agricultores(as) sem terra e trabalhadores agrícolas; micro e pequenos empresários(as) agropecuários e não agropecuários; mulheres e jovens de zonas rurais; assim como habitantes de comunidades de marcada tradição cultural indígena.

O tema da incorporação da juventude tem sido e seguirá sendo um elemento de abordagem relevante para o PRODEMOR Central, devido à importante porcentagem da população que esse grupo 1 www.sv.undp.org

representa. Segundo a Direção Geral de Estatística e Censos (DIGESTYC)2, em 2013, a população total de El Salvador era de 6.290.420 de pessoas, dos quais 62,2% se localizavam em contextos urbanos (3.915.712) e 37,8% em zonas rurais (2.374.708). Do total de habitantes do país, 56,2% correspondia à população com menos de trinta anos de idade, o que indica que El Salvador se encontra em pleno processo de transição demográfica, facilitado pela rápida redução da mortalidade e gradual diminuição de natalidade. Se consideramos, além disso, que as idades que concentram maior quantidade de população são as da faixa entre 10 e 19 anos, se pode vislumbrar que nos próximos anos o país contará com uma população significativa com idade para trabalhar, fenômeno conhecido como Bônus Demográfico. Essa característica demográfica pode significar uma oportunidade, se gerados os mecanismos de investimento apropriados para melhorar o capital humano da população jovem e realizados incentivos para facilitar a renovação geracional em âmbitos produtivos, comerciais e da sociedade em geral.

Embora os(as) jovens tenham hoje maior acesso à educação do que seus pais tiveram, as diferenças conforme a zona de residência continuam demonstrando brechas importantes, com desfavor

2 DIGESTYC (2013) Pesquisa de Múltiplos Propósitos nos Domicí-lios

A EXPERIÊNCIA DO PRODEMOR CENTRAL

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à população que vive em territórios rurais. Tal como indica o DIGESTYC, no ano de 2013 a escolaridade média a nível nacional era de 6,6 séries aprovadas, cifra que nas cidades alcançou 7,7 séries, e nas áreas rurais se mantinha abaixo da média do país com apenas 4,7 séries aprovadas em média.

A situação de emprego não é mais animadora. Segundo a mesma fonte, no ano de 2013, ao caracterizar o desemprego por grupos de idade, observa-se que a faixa de 16 a 29 anos registrou uma taxa de desemprego de 10,4%; diferente do grupo de 30 a 44 anos, que registrou uma taxa de 3,5%; sendo possível concluir que o desemprego é maior dentre a população mais jovem.

Outro elemento relevante a se considerar são as diferenças em relação à ingerência da pobreza. Segundo o CEPAL (2009), os jovens da zona rural com porcentagem mais alta de pobreza se encontram no grupo de 25 a 29 anos, porcentagem quase 6 pontos mais alta do que o respectivo grupo urbano.

Quadro Nº 1. População jovem pobre e indigente por zona de residência. Ano 2009(Em porcentagem)

Grupos de idade

Pobres IndigentesUrbana Rural Urbana Rural

15 a 19 anos 30,9 30,1 10,7 20,320 a 24 anos 24,2 28,0 8,6 16,025 a 29 anos 25,0 30,9 10,0 18,1Jovens 15 a 29 anos 27,0 31,4 11,1 21,3

Fonte: CEPAL, tabulação especial da Pesquisa de Múltiplos Propósitos nos Domicílios, 2009.

A falta de oportunidades para o empoderamento econômico, social e cultural é uma constante para esses jovens salvadorenhos, que em alguma medida optam por elaborar projetos de vida vinculados à migração para os centros urbanos ou vão em busca do “sonho americano”, contextos muitas vezes incapazes de oferecer a eles melhores oportunidades de geração de renda.

II. O Projeto PRODEMOR CENTRAL e seus componentesO MAG-PRODEMOR CENTRAL conta com uma visão e estratégias para facilitar a construção de capital humano e social, orientada ao empoderamento dos atores que fazem parte de sua população-alvo. Assim, como afirmam os integrantes da equipe técnica do Projeto, desde o início existiu o propósito de “velar pela incorporação de mulheres e jovens nas organizações que estão sendo beneficiadas por meio do MAG-PRODEMOR CENTRAL; uma vez que a juventude é um tema chave para apoiar essas populações com menos oportunidades”3.

Agora, dado que o enfoque à juventude, assim como ao gênero e aos povos indígenas, deve ser entendido e desenvolvido de forma transversal nas atividades do Projeto, apresentam-se na sequência os diferentes componentes que fazem parte desta iniciativa, de maneira a aprofundar as características da intervenção que a MAG-PRODEMOR CENTRAL realiza, principalmente na região central e paracentral de El Salvador.

Componente A. Desenvolvimento de Capital Humano Social

Este componente estava focado, em um primeiro momento, na identificação das organizações camponesas beneficiárias das ações do Projeto. Posteriormente, se direcionou ao propósito de possibilitar a construção de capital humano para fortalecer o setor agrícola, a partir do desenvolvimento de capacidades em diversas áreas: social, econômica e ambiental.

3 A reconstrução do caminho necessário de incorporação da juventude rural se realizou por meio de entrevistas e uma oficina, da qual participaram Olga Loyola na zona I San Vicente; Marcela Valdés na zona II do Departamento de La Paz; Francisco Galdá-mez na zona III Cuscatlán (Paracentral) e Sandra Rivera na zona IV Cabañas; responsáveis pela Unidade de Gênero, Juventude e Povos Indígenas.

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Componente B. Produção Sustentável, Reabilitação e Manejo de Recursos Naturais

O principal propósito deste componente é aumentar a capacidade produtiva dos pequenos(as) produtores(as) organizados(as) ao mesmo tempo em que se revertem os processos de desmatamento, erosão de solos, deterioração do meio ambiente e a perda de água disponível para uso humano e produção. Uma das ações fundamentais é no sentido da segurança alimentar e nutricional, trabalhando com organizações legalmente constituídas para o avanço em direção ao cumprimento do Plano de Agricultura Familiar e Segurança Alimentar (política do Ministério de Agricultura denominada PAF SAN). São atendidas organizações que ao todo somam 304 famílias nos municípios de extrema pobreza, onde são desenvolvidas atividades como: formulação de planos de produção agropecuária sustentável com enfoque nas cadeias agro produtivas; assistência técnica e capacitação, ações para promover a diversificação produtiva; hortas caseiras; oficinas residenciais para melhorar a nutrição, entre outras.

Componente C. Desenvolvimento de Negócios Rurais e Microempresas

Tem como objetivo principal desenvolver e reforçar as capacidades empresariais e promover a criação e modernização de negócios rurais e de microempresas competitivas, agropecuárias e não agropecuárias, do ponto de vista da cadeia de valor, desenvolvimento local sustentável e igualdade de gênero, para contribuir com a geração de emprego e renda para as famílias rurais pobres. O projeto PRODEMOR CENTRAL dá ênfase a cadeias produtivas que estão mais ligadas ao desenvolvimento rural, e entre elas dá ênfase ao turismo e artesanato, assim como no cultivo de mel, hortaliças, grãos básicos, árvores frutíferas, dentre outras. Dado que neste componente estão localizados os fundos direcionados a negócios rurais, busca-se que as organizações beneficiárias tenham experiência de trabalho e consolidação organizacional, de maneira a facilitar que os investimentos e apoios tenham impacto relevante no fortalecimento dos negócios.

Componente D. Serviços Financeiros Rurais

O Projeto conta com um fideicomisso (trust), proveniente de fundos remanescentes do PRODAP II, que apesar de ter passado por inconvenientes para operar desde o início, o fundo existe e fornece crédito no campo agrícola. Esse fundo se voltou principalmente à incorporação de grupos de poupança e crédito. Atualmente existem 14 grupos de poupança e crédito focados maioritariamente em mulheres e jovens. Um objetivo adicional à melhora da qualidade de vida é também o fortalecimento de capacidades, quer dizer, que as pessoas pratiquem como manejar um crédito e investi-lo de maneira à gerar uma cultura de poupança.

Unidade de Planejamento, Acompanhamento, Avaliação e Sistematização (UPSES)

É uma Unidade fundamental, já que guia os processos de planejamento e os registros de atividades, seus resultados e impactos. No Projeto PRODEMOR existe uma pessoa encarregada desta Unidade, que acompanha os indicadores de desempenho e resultados apresentados nos diversos planos estratégicos e operativos.

Unidade de Gênero, Juventude e População Indígena

Esta Unidade é a encarregada de fazer com que o Projeto dê atenção diferenciada a grupos específicos da população que são de interesse para o desenvolvimento das populações rurais pobres em sua área de influência, com o objetivo de que aprimorem suas capacidades e tenham melhores oportunidades de emprego e renda; da mesma maneira, a Unidade deve garantir a aplicação transversal do enfoque no gênero em todas as atividades que o Projeto realiza e deve velar pela implementação de ações afirmativas que melhorem a situação e posição destes grupos em suas famílias, comunidades, organizações e territórios.

Suas ações estão direcionadas a: garantir a transversalidade do enfoque no gênero nos procedimentos, instrumentos e atividades do Projeto, identificar as desigualdades de gênero, e preparar

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e executar um plano de ações afirmativas dirigidas a jovens e mulheres, desenvolver um programa de capacitação e sensibilização sobre igualdade de gênero e liderança, promover a participação de pessoas jovens e mulheres em organizações e negócios, assim como nos espaços de tomada de decisões e capacitar e integrar os grupos de jovens nas diferentes ações do projeto.

III. Como se incorpora a juventude rural às linhas do Projeto?

Em relação à juventude rural, como se pode notar pela escolha da população-alvo do Projeto, os jovens e as mulheres são partes fundamentais das ações e estratégias; o que obrigou as autoridades e equipes técnicas a olhar de formar integradora à questão e garantir que os jovens estivessem incorporados nas organizações, investimentos e em todas as ações que o projeto realiza, a partir do princípio de igualdade e equidade de gênero.

Segundo Reina Moreira, encarregada da Unidade de Gênero, Juventude e Populações Indígenas, em organizações de pessoas adultas, comumente e historicamente eles (a população adulta) vem manejando toda a parte organizacional e obviamente os aspectos produtivos, e de certa maneira excluem os jovens. “Este é um antecedente que se deve levar em consideração, já que mesmo que o projeto venha fazendo uma série de esforços sérios e comprometidos a partir dessa Unidade, não é tão fácil mudar a perspectiva e conseguir que os jovens sejam considerados sujeitos sociais com capacidades para realizar iniciativas e empreendimentos. Continua

sendo um desafio conseguir a incorporação dos jovens a oportunidades concretas nas quais eles(as) mesmos(as) demonstrem que são capazes de manejar suas iniciativas e empreendimentos com a qualidade técnica e o conhecimento requerido para tal fim; e sem perder de vista o empoderamento coletivo e organizacional necessário para a incidência de políticas para a juventude rural empreendedora”.

No projeto anterior MAG PREMODER4, especificamente no ano de 2011, iniciaram-se algumas experiências com a juventude rural empreendedora. Desde então se potencializaram lições aprendidas, que foram implementadas no PRODEMOR CENTRAL.

Vale assinalar que o desenho do Projeto não havia previsto uma equipe encarregada de maximizar o trabalho e o enfoque em gênero, juventude rural e povos indígenas, em relação aos territórios. Por isso, o papel da coordenação da Unidade foi fundamental para posicionar a importância de fortalecer esse enfoque.

Precisamente no ano de 2012, inicia-se o trabalho de articular a unidade de gênero no Projeto, mas sem um posicionamento específico em matéria de juventude rural. É por isso que uma das ações prioritárias nesse momento foi a gestão para a contratação da equipe técnica que implementaria as estratégias, de maneira que ela pudesse apoiar as ações da Unidade de Gênero em campo que, por sua vez, guiaria a execução de ações junto à juventude rural.

Devido à importância de contar com pessoal qualificado nos territórios de intervenção para desenvolver as ações específicas da unidade e fomentar nos beneficiários processos de sensibilização, relativos a inclusão de grupos historicamente desfavorecidos ou excluídos (como mulheres, jovens e povos indígenas), a coordenação da Unidade de Gênero começa então a abrir espaços estratégicos, apoiados pela Direção, que permitem ampliar o número de participantes

4 Parte da equipe do Projeto PRODEMOR Central trabalhou ante-riormente no Projeto PREMODER, que atendeu a zona oeste de El Salvador, aproximadamente 196 organizações.

A EXPERIÊNCIA DO PRODEMOR CENTRAL

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da unidade, de inicialmente uma só pessoa5 para a presença de toda uma equipe nos territórios selecionados no Projeto.

Nesta etapa do processo, foi de grande importância a aplicação da ferramenta “Fechando Brechas” e seu acompanhamento correspondente. Segundo Reina Moreira, começou-se a trabalhar nos territórios através de grupos de jovens já existentes nas organizações beneficiárias do projeto - visto que seus próprios sócios(as) ou alguns líderes estavam trabalhando com grupos de jovens - assim como começou-se a formar comitês de jovens inscritos nas organizações; estes comitês em muitos casos eram formados por filhos e filhas das pessoas associadas às organizações.

É já no ano de 2013 que se implementam ações afirmativas direcionadas à diminuição das iniquidades de gênero identificadas pelo Projeto. Dessa maneira, foi possível a legalização de vários grupos de jovens que posteriormente foram contemplados pelo componente de Desenvolvimento de Negócios Rurais e Microempresa para a elaboração de planos de negócios, em que puderam concorrer nos comitês de investimentos por recursos não reembolsáveis e colocar em prática suas iniciativas produtivas.

“As ações afirmativas são direcionadas a fortalecer vários aspectos: administração de recursos, formação de capacidades, saúde, educação, diminuição de carga doméstica, empoderamento pessoal e econômico das mulheres, entre outros; o POA tem dotação orçamentária e há orçamento para ações afirmativas. Desde o ano de 2013, o orçamento para ações afirmativas vem crescendo pouco a pouco. Ele se iniciou com aproximadamente $5.000 por zona e em 2014 já passa dos $15.000 por zona para este tipo de ação.” (Equipe Técnica da Unidade de Gênero, Juventude e População Indígena).

As ações afirmativas são realizadas com diferentes coordenações e alianças inter-institucionais para ampliar os serviços e maximizar novas oportunidades junto à população-alvo do Projeto.

5 Tal como foi mencionado, a coordenadora da Unidade de Gênero, Juventude e População Indígena é a senhora Dra. Reina Moreira.

Desta forma, foi implementado o Programada de Fortalecimento Organizacional (PROFOR), a fim de fortalecer a organização e seus membros e a formação das equipes de trabalho das diferentes zonas incluídas no Projeto.

Vale assinalar que outro marco importante ainda no mesmo ano (2013) foi a participação na Workshop Internacional: “Integração econômica e participação social da juventude rural da América Latina e Caribe”, organizado pela FIDA e PROCASUR, em El Salvador. Durante essa oficina, houve espaços de diálogo e trabalho conjunto entre jovens e representantes técnicos de organizações de desenvolvimento para a elaboração de propostas concretas a serem feitas em cada país participante e que ficaram consagradas em um Plano de Ação.

Dando seguimento a esse compromisso, El Salvador realizou-se uma “Oficina de preparação do Plano ‘País em atenção a jovens rurais’”, nos dias 16 e 17 de Janeiro de 2014, em São Salvador, com a participação de 10 jovens (homens e mulheres) provenientes de grupos apoiados pela Visíon Mundial, FUNDESYRAM, PRODEMOR Central, o Programa Amanecer Rural e representantes das equipes técnicas dessas instituições.

O resultado desta oficina foi a Proposta Esboço do “Plano de Desenvolvimento Integral para a juventude rural de El Salvador”, trabalhado com base em três eixos prioritários acordados no workshop internacional: Participação, Formação e Empreendedorismo. Esse plano foi validado em 27 de janeiro do mesmo ano junto a diferentes instituições e à presença do Senhor Vice-ministro de Agricultura de El Salvador, o Dr. Hugo Flores.

Este plano contemplou ainda a criação de uma Rede Nacional de Jovens Rurais, que foi estruturada no âmbito territorial a partir da construção de redes em cada distrito, ou seja, redes regionais concentradas nos distritos relativos às zonas oeste, central e paracentral, e oriental, a partir das quais se selecionaram os representantes da Rede a nível nacional.

A EXPERIÊNCIA DO PRODEMOR CENTRAL

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Assim, o Projeto MAG-PRODEMOR CENTRAL elaborou seu Plano de Atenção para a Inclusão da Juventude Rural 2014-2015 para a área geográfica de intervenção do Projeto, levando em consideração o conteúdo do Plano de Desenvolvimento Integral para a juventude rural de El Salvador. Nesse sentido, por meio da Unidade de Gênero se promoveu a formação de quatro redes territoriais distritais (nos 4 distritos do país), dentre elas a Rede Regional para a região Central e Paracentral.

Os esforços realizados para a devida atenção à população jovem, como parte de uma iniciativa nacional e regional, criam oportunidades para seu desenvolvimento na área rural evitando as migrações e as possibilidades de risco social vinculado à violência juvenil que vive El Salvador. Do mesmo modo, a designação da Coordenadoria da Unidade de Gênero como ponto focal do FIDA para o trabalho com juventude a nível nacional é um reconhecimento do trabalho do Projeto e seus avanços nesse tema.

Além disso, dado o compromisso e interesse demonstrados pelos três projetos MAG-FIDA de El Salvador durante o workshop internacional, a divisão da FIDA América Latina e Caribe o identificou como um país prioritário para receber acompanhamento técnico por parte do Programa Regional Juventude Rural Empreendedora da Corporação PROCASUR, como parte da estratégia de prosseguimento aos resultados da Oficina.

Assim, em virtude das necessidades e interesses particulares de cada projeto, e tomando como orientação o Plano de Desenvolvimento Integral da Juventude de El Salvador, definiu-se uma agenda de sete diretrizes específicas a serem abordadas durante o acompanhamento da PROCASUR no ano de 2014. São eles: (i) diagnóstico, planejamento estratégico e identificação experiências e jovens talentos rurais; (ii) reforço de capacidades de jovens talentos rurais; (iii) apoio à consolidação do enfoque à juventude nos projetos MAG-FIDA de El Salvador, por parte das equipes técnicas: avanços em indicadores, monitoração e avaliação do Projeto; (iv) desenho de estratégias ad hoc e flexíveis para financiamento e

apoio técnico de iniciativas empresariais para jovens; (v) apoio ao desenho e implementação de ações inovadoras: Dinamiza tu Red; (vi) produção e difusão de conhecimentos especializados (sistematização de experiências); e (vii) a geração de espaços de intercâmbio de experiências e uma rota de aprendizagem.

Assim, como parte da dinamização das redes territoriais regionais, inicia-se a concretização de intercâmbios de experiências entre as organizações de jovens e entre as redes territoriais, permitindo um enriquecimento do processo. São desenvolvidas distintas feiras de empreendimentos juvenis com fundos do PROCASUR e da MAG-PRODEMOR CENTRAL, uma em cada região, planejadas e executadas pelos(as) mesmos(as) jovens participantes das redes territoriais. Por outro lado, se colocou em prática um mecanismo de apoio financeiro e técnico a iniciativas de jovens da zona rural pertencentes à Rede Regional Central e Paracentral, por meio de um concurso de planos de negócio idealizados e apresentados por seus protagonistas, com objetivo de selecionar os quatro com maior potencial de serem executados com êxito. Para isso, foram identificados critérios para avaliação das iniciativas e foi feita capacitação para apoiar a elaboração de perfis dos(as) jovens interessados(as) em participar. Os fundos outorgados a partir do concurso foram fornecidos pela PROCASUR, enquanto o Projeto MAG-PRODEMOR CENTRAL ficou encarregado da assistência técnica e acompanhamento da execução dos planos de negócio dos participantes ganhadores.

Esse concurso foi realizado durante o mês de novembro no distrito de São Vicente e contou com a apresentação de 16 projetos elaborados pelos jovens das quatro redes territoriais (San Vicente, La Paz, Cuscatlán e Cabañas). Finalizada a apresentação, o júri, composto por Blanca Azucena Flores, presidente da rede regional central e paracentral; o Engenheiro Carlos Domínguez, Diretor do Projeto; a Dra. Reina Moreira, Coordenadora de Gênero e Juventude do Projeto e Ponto Focal da Juventude; assim como dois representantes da PROCASUR, foi encarregado de definir os quatro projetos selecionados, um de cada Rede territorial.

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As iniciativas dos jovens foram avaliadas com base em uma tabela de critérios para a qualificação de cada um dos empreendimentos, que contemplou: equidade de gênero, geração de emprego, sustentabilidade, administração pelos próprios jovens, nível de pobreza, participação de jovens entre 15 e 19 anos e o aporte de contrapartida.

Os projetos selecionados foram:

1. “A Arte do Desenho e da Pintura” do grupo de jovens Gota Azul, localizado no Cantón Agua Zarca Ilobasco (Rede Cabañas), cujo propósito é transmitir seu conhecimento em artes a outros jovens e crianças interessados.

2. “Elaboração de Shampoo Natural”, do grupo Jovens Empreendedores Desenvolvendo Habilidades para um país melhor (JEPSE) - Rede de Cuscatlán. A experimentação e inovação têm sido uma constante para esse grupo de jovens, que experimentam aromas e cores diversificados em seus produtos.

3. “Implementação da Loja de Souvenires e Raspadinhas” do Comitê de Jovens da Associação Cooperativa de San Antonio de los Blancos, San Luis la Herradura (Rede La Paz). Os jovens fazem esforços para acompanhar a empresa dos adultos, introduzindo um componente juvenil de souvenires e raspadinhas que gera seus próprios rendimentos.

4. “Desenvolvimento de capacidades e habilidades para o estabelecimento de uma oficina de carpintaria”, localizado no Caserío Los Ayalitas, Cantón Santa Catarina (Rede San Vicente). As mulheres, junto aos rapazes, se capacitam e aprendem sobre um empreendimento com grande possibilidade de vendas e criação de novos produtos em madeiras.

A EXPERIÊNCIA DO PRODEMOR CENTRAL

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Finalmente, o diretor da MAG- PRODEMOR CENTRAL, o Engenheiro Carlos Domínguez, falou algumas palavras de encerramento, incentivando todos os jovens a trabalhar sob os princípios da honestidade, esforço e criatividade.

Além disso, com o apoio da PROCASUR se realizaram durante o ano de 2014 diversas oficinas que incluíam atividades e técnicas participativas para aprender a facilitar conhecimentos de uma forma horizontal e transmitir informação de forma criativa e solidária. Adicionalmente, foi possível elaborar, com o apoio dos próprios jovens, um banco de talentos que inclui mais de 100 fichas de jovens talentos rurais, identificando os conhecimentos, habilidades e destrezas que eles podem compartilhar com outros jovens da Rede.

Como se nota ao longo do processo, ano a ano é possível observar uma maior incorporação dos jovens nas iniciativas e a abertura de espaços para que a juventude possa expressar e desenvolver suas habilidades, assim como melhorar sua qualidade de vida no entorno rural.

IV. Incorporação de juventude rural nos quatro distritos: San Vicente, La Paz, Cuscatlán e Cabañas. Embora tenha existido uma estratégia geral de incorporação da juventude rural, é possível assinalar que surgiram especificidades de acordo com as condições contextuais de cada distrito e, com isso, uma grande riqueza de adaptação de estratégias e metodologias. A seguir são assinaladas essas formas particulares de abordagem do tema da juventude rural.

Zona 1. San Vicente.

O processo compreende as seguintes ações e estratégias:

• Desenvolvimento de um Programa de Sensibilização de Gênero e Liderança iniciado com as organizações atendidas pelo componente de Negócios Rurais e Microempresa.

• Aplicação da ferramenta “Fechando Brechas” para identificar as necessidades dos jovens, homens e mulheres.

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• Apoio ao Plano de Agricultura Familiar e Segurança Alimentar (PAF SAN) com capacitações, desenvolvimento de oficinas de identificação de oportunidades, planejamento de propriedade rural, desenvolvimento de oficinas familiares, atribuição de incentivos para a identificação e participação da juventude rural.

• Acompanhamento nos processos de legalização (ingressos-egressos, restruturações) das organizações de jovens.

• Desenvolvimento de ações afirmativas direcionadas às mulheres e jovens (complementá-las com os negócios e ações na área da saúde e formação).

• Processos de sensibilização às mudanças geracionais.

Zona 2. Distrito de la Paz

• Em julho de 2012, iniciou com 11 organizações identificadas, com negócios funcionando com investimentos e execução. Também houve uma abordagem com quatro projetos de PAF-SAN, nos municípios de em Tapalhuaca, San Antonio de Masahuat, Santa María Ostuma e San Juan Nohualco.

• Foram apoiadas a seleção de organizações administradoras do PAF-SAN, a elaboração de planejamento de propriedades rurais, a inauguração de escolas no campo, e as oficinas de identificação de oportunidades para a juventude rural.

• Implementação de oficinas familiares, desde a promoção até a seleção das famílias (em coordenação com o Ministério da Saúde e das Prefeituras)

• Ações com as organizações PAF-SAN e negócios rurais com aplicação da ferramenta “Fechando Brechas”.

• Programas de capacitação em Gênero e Liderança; assim como a implementação de ações afirmativas para mulheres e jovens. Soma-se a isso o fortalecimento organizacional; incluindo o apoio para aproveitar o quadro jurídico existente para o ingresso de novas filiações de, neste caso, mulheres e jovens às organizações já existentes.

Zona III. Cuscatlán.

• A partir do componente PAF-SAN se realizaram oficinas de sensibilização em Igualdade de Gênero e Lideranças; assim como a identificação de iniquidades e desigualdades, mediante aplicação da metodologia “Fechando Brechas”. Isso implicou na identificação de ações e medidas para superar essas dificuldades, assim como os mecanismos de avaliação e medição de resultados a cada seis meses.

• Com as Organizações que foram atendidas pelo componente de encadeamento produtivo, foi dado início ao desenvolvimento de oficinas de gênero e se identificaram as iniquidades com a aplicação da metodologia “Fechando Brechas”. Além disso, organizações juvenis foram apoiadas por meio de oficinas, e da sensibilização sobre a importância de ser jovem e do seu papel no desenvolvimento econômico de suas famílias e de si mesmos.

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• Foi fortalecido o conceito e a visão do empreendedorismo após a criação de empreendimentos liderados e administrados por jovens; assim como a identidade de grupo juvenil.

• Outro marco importante foi o Primeiro Encontro de Grupos Juvenis, junto ao Instituto Nacional da Juventude de El Salvador (INJUVE), onde foram abordados temas como o empreendedorismo. O Encontro contou com a participação de mais de 110 pessoas, em sua maioria jovens, sendo também convidados alguns adultos para que se identificassem e se sensibilizassem sobre a importância da integração geracional.

• A respeito das ações afirmativas com jovens, foram priorizadas ações de formação em computação, elaboração de shampoo, padaria e serigrafia. É interessante notar que um grupo de mulheres também manifestou interesse, a partir dessas iniciativas com jovens, em ter acesso a um curso de computação, resultado da inserção dos jovens no conhecimento e uso das tecnologias de informação e comunicação.

• Foram realizados também intercâmbios juvenis, e a participação dos próprios em feiras de empreendimentos, com grande projeção na Feira de Empreendimentos no Dia da Juventude (que acontece no mês de agosto de todos os anos) no Centro Internacional de Feiras e Convenções (CIFCO). Houve participação nestas feiras nos anos 2012, 2013 e 2014.

• Tem sido fundamental o trabalho para apoiar a incorporação de novas filiações de jovens e mulheres às organizações.

Zona IV. Cabañas

• Iniciou-se com a identificação de cinco organizações do componente PAF-SAN, a partir da legalização e documentação. Trabalhou-se com sete organizações do componente de negócios rurais. Um aspecto muito importante foi o trabalho para a legalização das organizações administradoras, já que essas não possuíam os requisitos legais, como credenciais ou conhecimento na elaboração de atas.

• Foram realizados diagnósticos participativos ou oficinas de identificação de oportunidades. Aplicou-se a ferramenta “Fechando Brechas” e foram executas atividades relacionadas à saúde e empreendimentos, como ações afirmativas. Soma-se a isso a implementação de oficinas de gênero e liderança, assim como ações para a incorporação de mulheres e jovens às organizações. Isso implicou no apoio à elaboração de regulamentos internos e de um manual de funções, assim como no incentivo para que os adultos incorporem jovens nas instâncias de tomada de decisão.

• Foi apoiada a formação de uma cooperativa de jovens e foi contratado um serviço de capacitação em carpintaria e artesanato.

“Nós, como equipe, tínhamos sobre as costas as ações com a juventude, mas o que fazíamos não tinha visibilidade. Nosso trabalho era visto como isolado e sem muita relevância. Começamos mais com as ações de produção sustentável e segurança alimentar, para depois avançar sobre outros componentes até a integração do desenvolvimento humano. Agora se reconhece muito mais o trabalho da equipe e contamos com o respaldo político e técnico da direção, coordenação e de diversos atores envolvidos” (Equipe técnica da Unidade de Gênero, Juventude e População Indígena).

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V. Desafios e propostas para continuar a incorporação efetiva da juventude ruralAntes de identificar os desafios e novas propostas para a integração da juventude rural no Projeto, é importante apontar os principais obstáculos identificados no passado e no presente e que vem sendo trabalhados e resolvidos.

Entre esses vazios ou aspectos limitantes do passado, se destacam:

• Falta de sensibilidade em relação ao tema da juventude rural e gênero por parte das equipes técnicas, especificamente na parte de negócios e PAF-SAN, motivo pelo qual se implementaram oficinas de sensibilização para as equipes técnicas .

• Os planos de negócios tinham pouca ou nenhuma visão integradora em matéria de gênero e juventude.

• Contava-se com pouco orçamento para trabalhar, portanto foi preciso priorizar para que fosse possível a execução dos fundos e das ações afirmativas.

• Algumas atitudes por parte dos integrantes da equipe impediam a implementação do enfoque em gênero e juventude.

• Também se constituía em obstáculo o marco jurídico que existia no projeto, o qual não permitia o ingresso de menores de 16 anos.

• Havia dificuldade por parte dos jovens em contribuir com o capital de ingresso das organizações (principalmente capital social), entre outras.

• O projeto não tem mecanismos para atribuição de fundos a empreendimentos de jovens que não pertençam a organizações legalizadas.

Propostas do Projeto para superar os obstáculos.

• Foi formulado um programa de ações afirmativas a partir das quais se realizou uma média de 40 ações para os jovens. No caso de PAF-SAN, em diferentes empreendimentos. No caso do componente de negócios, foram promovidas ações encadeadas a projetos produtivos; mas não são suficientes em relação à demanda de dar aos jovens acesso a oportunidades de capacitação, formação e empreendimentos.

• Foram estabelecidos mecanismos de coordenação e gestão inter-institucional para a formação trabalhista de uma média de 15 grupos de jovens.

• Foram promovidos processos de sensibilização para o ingresso de jovens e foi fornecido acompanhamento para sua incorporação na filiação das organizações de adultos.

• Tem sido bem-sucedida a dinamização dos negócios para os jovens e a incorporação desses em organizações. Algumas delas já estão legalizadas e sua filiação se constitui apenas de jovens.

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• Iniciou-se um processo de legalização que favorece jovens que querem ter acesso a um projeto. Eles são acompanhados por todos esse processo de legalização; e então uma gestão conjunta é realizada com a equipe do componente de Desenvolvimento de Negócios Rurais e Microempresa para que pudessem ser tomados como tal.

• A Unidade de Gênero participa da elaboração do diagnóstico, que se aplica em paralelo com o “Fechando Brechas”.

• É fornecida sensibilização da incorporação de jovens às organizações.

• É dado um acompanhamento ao processo de organização, incorporação e legalização.

• Foram definidas estratégias e mecanismos para garantir a segurança dos jovens, como o trabalho em sua comunidade e o transporte

• Foi enquadrado o trabalho com juventude rural na política e a lei de gênero a nível nacional, assim como a coordenação com o Instituto Nacional da Juventude.

• Elabora-se e se executa um plano de atenção à juventude através do Projeto 2014-2015, em que estão inclusas ações para a atenção de todos os componentes, além de financiamento.

• Coordena-se a participação do Ministério de Agricultura e dos projetos com financiamento do FIDA na feira nacional da Juventude.

Identifica-se que as resistências de gênero e juventude que as equipes técnicas podiam ter foram desaparecendo e é possível perceber no presente maior articulação e integração das equipes. Isso se concretiza na realização de reuniões uma vez ao mês com os técnicos das diferentes zonas, com cada reunião culminando com atas e acordos, participando cinco técnicos de cada zona e conseguindo-se assim um nível de coordenação e articulação muito satisfatório.

Para o futuro identificam-se algumas debilidades que poderiam dificultar o trabalho, mas desde já se destacam algumas medidas que podem diminuir os efeitos diante desses obstáculos:

Continuidade da equipe técnica de Gênero, Juventude e População Indígena.

• Os aprendizados realizados até agora devem ser retomados e consolidados em um documento, que daria continuidade às pautas e que deveriam ser seguidas quando, no futuro, um projeto for finalizado e quando uma nova equipe técnica e novos atores for integrada.

Insegurança

• Deve ser levado em consideração as particularidades das diferentes zonas para a realização das reuniões ou capacitações pertinentes aos jovens.

Sustentabilidade do esforço realizado junto às redes juvenis e empreendimentos

• É necessário dar prosseguimento a todo o trabalho realizado com as redes e empreendimentos.

Orçamento atribuído e mecanismos para facilitar fundos para os jovens

• É importante estabelecer alianças necessárias com atores locais para que se retome o trabalho realizado pela juventude rural.

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VI. Lições aprendidas

A seguir se destacam as lições aprendidas a partir da reflexão da equipe técnica após sua experiência no Projeto e a partir do trabalho com a juventude rural.

• Em futuras intervenções, é prioritário olhar para os jovens de zonas rurais como protagonistas em todo o processo, desde o projeto até o prosseguimento do mesmo, tendo, além disso, um enfoque de gênero que permita garantir a equidade e o aprendizado contínuo para o empoderamento.

• A integração real dos jovens na construção de projetos implica poder reconhecer suas necessidades e as características específicas que tem essa população nas zonas rurais, gerando mecanismos adequados à realidade, à condição e posição dos jovens para fortalecer suas capacidades e sonhos inovadores a partir de iniciativas diversas em seus territórios.

• A utilização de metodologias criativas, inovadoras e lúdicas é fundamental para a participação, o empoderamento e o exercício da incidência, tanto no nível local como nacional. A formação/capacitação deve prover aos jovens as ferramentas necessárias para apropriar-se do conhecimento das normas, políticas e planos dos quais os jovens possam participar e ter um espaço para o exercício pleno de seus direitos e responsabilidades.

• O planejamento em conjunto e os planos integrais das ações das regiões é um resultado importante no momento. “Se a equipe da região sabe o que fazem os demais companheiros(as) de outros componentes, é mais fácil desenvolver uma visão integradora e articulada. Atualmente os companheiros(as) de outros componentes valorizam mais o trabalho das equipes da Unidade de Gênero, Juventude e População Indígena. Os demais reconhecem o trabalho dos outros. As ações afirmativas são compartilhadas, discutidas e a viabilidade é identificada” (Equipe técnica da Unidade de Gênero, Juventude e População Indígena).

• Para avançar no empoderamento da juventude rural, é necessário que se reconheça e valorize o conhecimento, habilidades e talentos dos jovens da zona rural, assim como sua capacidade de transmitir saberes entre seus iguais, assegurando ações concretas de participação dos jovens em atividades das organizações. Da mesma maneira, mostra-se necessária a identificação de atores e alianças estratégicas para maximizar o trabalho com a juventude rural nos territórios e no contexto nacional.

• Tudo isso com o fim de promover a mudança geracional através dos espaços especializados dentro das organizações, como o gerenciamento de conexões, as Tecnologias de Informação e Comunicação e outros saberes especializados que se complementam. Mostra-se necessário, para tal, a adaptação dos documentos às realidades dos jovens nos diferentes territórios.

• Vinculado ao ponto anterior, é importante iniciar o processo de criação de um sistema de acompanhamento e avaliação que contemple, desde o início, indicadores específicos para medir avanços em gênero, juventude e população indígena. Essa Unidade teria como objetivo acompanhar e gerar recomendações para o trabalho em cada componente e nas atividades associadas. Além disso, a Unidade de Planejamento, Acompanhamento, Avaliação

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e Sistematização forneceria apoio diretamente às organizações para facilitar que elas mesmas possam registrar avanços e resultados.

• É importante, além disso, reconhecer que nas Associações de Desenvolvimento Comunal (ADESCOS), é muito mais fácil a incorporação de jovens do que nas cooperativas, sobretudo por conta das dificuldades de acesso à terra e a recursos para a produção.

• É necessário ampliar os processos de sensibilização para as equipes técnicas e tomadores de decisão para garantir uma maior apropriação do tema e maior impacto das ações e estratégias junto à juventude rural. “Às vezes se contrata um técnico para a produção e não necessariamente se fortalecem capacidades e habilidades para o manejo do negócio e para a democratização das decisões, muitas vezes essa contribuição permanece invisibilizada.” (Equipe técnica, Unidade de Gênero, Juventude e População Indígena).

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Projeto de Desenvolvimento e Modernização Rural da Região Leste de MAG-PRODEMORO

EL SALVADOR

I. Antecedentes do Projeto

O Programa de Desenvolvimento e Modernização Rural da Região Leste, PROMODORO, promovido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAG), através da Direção Geral do Desenvolvimento Rural (DGDR) e da Unidade de Implementação de Projeto (UEP), tem como política setorial o desenvolvimento agrícola e a redução da pobreza rural. Assim, é responsável pela concepção e execução das estratégias, programas, projetos e ações necessárias para aumentar a produção e produtividade agrícola e rural, a diversificação e reestruturação do setor e o desenvolvimento do agronegócio, melhorando integralmente as condições socioeconômicas das famílias rurais e agrícolas.

O principal objetivo do programa é melhorar os níveis de renda e as condições de vida de homens, mulheres e jovens agricultores, microempresários e trabalhadores/as da Região Leste de El Salvador; orientando suas ações para o fortalecimento das organizações de pequenos produtores/as e microempresários/as, entendendo este movimento como uma fase precedente do empreendimento para o negócio rural e sua vinculação ao mercado, da capacitação de jovens e da reabilitação e gestão dos recursos naturais em áreas ambientalmente deterioradas.

A MAG-PRODEMORO tem uma área de cobertura que abrange 87 municípios rurais dos departamentos La Unión, Morazán, San Miguel e Usulután, desenvolvendo atividades em 33 municípios com elevados níveis de pobreza. No entanto, a organização prioriza a sua intervenção em dezesseis municípios do departamento de Morazán, oito de Usulután, seis de San Miguel e três de La Union, que foram identificados como aqueles em extrema pobreza de maior ingerência, de acordo com o mapa da pobreza de El Salvador elaborado pelo FISDL. Dessa forma, o projeto prioriza como grupo-alvo os pequenos produtores agrícolas e não agrícolas que residem em áreas rurais, com idades variando entre 14 e 65 anos, com renda abaixo da linha da pobreza, que vivem na área de abrangência do projeto e que estão organizados em associações dedicadas a atividades produtivas agrícolas e não agrícolas.

O design estratégico do MAG-PRODEMORO, compreendido no “Plano de Agricultura Familiar” proposto em 2011, inclui três linhas de ação:

• O fortalecimento do capital humano e social

• A transformação das atuais atividades econômicas de subsistência e não agrícolas em empresas rurais rentáveis voltadas para o mercado.

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• A recuperação de áreas geográficas ambientalmente degradadas e o estabelecimento um sistema sustentável para o uso e manejo dos recursos naturais.

Em suma, o Projeto MAG-PRODEMORO (2014) “será orientado para as organizações dos mercados e negócios rurais, como meio de aumentar os níveis de renda de forma sustentável”, incluindo diferentes populações de comunidades rurais em busca do desenvolvimento.

II. Contexto geográfico e territorial

A região Leste de El Salvador, local de atenção específica do MAG-PRODEMORO, abrange uma área de 7.729,20 km2, o que representa 36% da superfície do país; e conta com uma população de 1.190.861 habitantes (sendo 631.891 mulheres), que representa aproximadamente 21% da população nacional. Dessa população, 42% estão localizados em áreas urbanas e 58% nas áreas rurais (UPSE e GC, 2014). Embora não exista nenhuma informação estatística específica para a população jovem que está localizada na Zona Leste, o grupo técnico encarregado concorda que o objetivo é garantir a inclusão de mulheres e jovens nas organizações que estão sendo beneficiados pelo MAG- PRODEMORO; e que a questão da juventude é fundamental para o auxílio das populações com menos oportunidades.

Os jovens se dividem em três categorias com base na idade e no momento do ciclo de vida: 15 a 19, 20 a 24 e 25 a 29 anos. Em áreas rurais há maior representatividade dos mais jovens (15 a 19 anos) e menor dos grupos etários entre os 20 e 29 anos. Isto pode ser explicado pela maior taxa de natalidade no meio rural e, simultaneamente, pela migração dos mais velhos para o setor urbano. Para efeito de programas direcionados aos jovens, essa é uma distinção que deve ser considerada.

A população rural está crescendo mais lentamente. Entre 1950 e 2007, a população rural dobrou, enquanto a urbana aumentou mais de cinco vezes. Para o

futuro, projeta-se que entre 2005 e 2030, a população urbana passará de 60% para 74%. Ao mesmo tempo, observa-se um início de processo de envelhecimento da população, mesmo que ainda incipiente, devido à diminuição da taxa de natalidade e ao aumento da expectativa de vida. A população com mais de 64 anos aumentou sua participação, passando a representar 5% para 7% da população total.

Em 2010, 46,6% da população de El Salvador estava abaixo da linha de pobreza, e 16,7% viviam em condição de indigência ou extrema pobreza. Nas zonas rurais, a pobreza e a indigência atingiram magnitudes ainda superiores, com diferença de quase 15 pontos percentuais no caso da pobreza e cerca de 11 pontos percentuais no caso de indigência. Os níveis de pobreza dos jovens variam de acordo com a idade e local de residência. Nas áreas rurais, o maior percentual está no grupo de 25 a 29 anos.

III. O Projeto PRODEMORO e seus componentes.

O projeto foi desenhado em três componentes: i) fortalecimento do capital humano e social, ii) desenvolvimento de empresas rurais rentáveis voltadas para o mercado, e iii) reabilitação e gestão dos recursos naturais e do meio ambiente.

Vale ressaltar que pretende-se, de forma geral, a integração social e produtiva para a redução da pobreza rural; isto, por meio do desenvolvimento de base dos recursos humanos e do capital social e econômico da população utente, com o objetivo de fortalecer a autoconfiança e o empoderamento dos membros das organizações econômicas e contribuir para a redução dos níveis de pobreza.

Entre os objetivos específicos esperados, podemos citar:

• Apoiar a consolidação das organizações economicamente rentáveis e sustentáveis, tanto agrícolas quanto não agrícolas.

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• Reabilitar e aprimorar o meio ambiente regional, promovendo a utilização sustentável dos recursos naturais de base.

• Criar condições e oportunidades para o desenvolvimento equitativo da mulher rural, por meio da sua integração em atividades econômicas rurais rentáveis, sustentáveis e voltadas para o mercado.

• Reforçar a capacidade do MAG de participar efetivamente no desenvolvimento rural, na erradicação da pobreza e na descentralização de renda.

Componente 1. Desenvolvimento do Capital Humano e Social

O principal objetivo deste componente é procurar fortalecer as capacidades de gestão empresarial das organizações econômicas e a autoestima de seus membros. Assim, entre os seus objetivos específicos estão: proporcionar conhecimento aos/às produtores/as sobre aspectos técnicos que lhes permitam desenvolver o seu negócio; promover processos de capacitação para o desenvolvimento do capital humano e social; desenvolver processos organizacionais do tipo empresarial não agrícola, agrícola e de serviços, que possam ser inseridos em mercados nacionais e internacionais; fomentar a participação das mulheres e dos jovens nos processos

organizacionais; desenvolver a capacidade instalada de formação de jovens empreendedores, homens e mulheres; e promover a comunicação social.

Entre as principais atividades deste componente estão o planejamento e o pré-investimento, que são desenvolvidos por meio da elaboração de diagnósticos rurais participativos com enfoque em gênero, planos de negócios e planos de fortalecimento organizacional e empresarial (PFO). Os diagnósticos destinam-se a ajudar que mulheres, homens e jovens identifiquem seus problemas e apresentem suas próprias alternativas de soluções. Nesses processos, exige-se que pelo menos 30% dos participantes sejam mulheres, e 15% jovens (homens e mulheres) com idades entre 14 e 29 anos.

Além disso, também é realizado o programa de formação de liderança para jovens, direcionado aos filhos e filhas dos associados das organizações rurais beneficiárias do Projeto, em que se procura promover gradualmente a integração e a mudança geracional. Entre as ações de apoio à formação dos jovens, uma atividade importante implementada pelo MAG-PRODEMORO é a iniciativa chamada “Ensino Superior Não Universitário”, o ENA, que consiste em facilitar o acesso às bolsas de estudo do Ensino Superior não universitário para os jovens rurais de famílias com recursos financeiros limitados. Para isso, conta-se com um Acordo de Cooperação com a Escola Nacional de Agricultura (ENA). Nesta linha, já foram apoiados 144 jovens (68 mulheres), filhos de beneficiários do projeto, por meio da entrega de kits escolares que fornecem materiais educativos que lhes permitem continuar a educação básica. Esta atividade foi coordenada junto aos Centros Educativos, de onde é ministrado o Ensino a Distância.

Foram assim alcançados resultados como as rodadas de intercâmbio de experiências com a participação de jovens mulheres dos grupos, o que permitiu visualização das boas práticas administrativas, conhecimento da política nacional das mulheres de El Salvador, capacitação em questões de contabilidade, produção, marketing, gênero, fortalecimento empresarial das organizações de produtores e

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produtoras, e integração de usuários/as jovens para potencializar a sustentabilidade das ações.

Com o objetivo de contribuir para a sustentabilidade das organizações que trabalham com negócios rurais, considera-se fundamental o fortalecimento da visão empreendedora de seus membros. É por isso que, depois de analisar os resultados das organizações por meio de um processo de Avaliação Organizacional e Empresarial, desenvolve-se um Programa de Fortalecimento de Empresas, que inclui formação e assessoria, em que jovens, filhos e filhas dos associados das organizações, participam.

Componente 2. Desenvolvimento de negócios rurais

As ações guiadas por este componente são relacionadas com a implementação de negócios competitivos e sustentáveis, e sua integração em cadeias de valor. Vale destacar que o componente tem como objetivo incorporar 15% dos jovens em empresas rurais.

Aqui, também está inclusa a incorporação de agricultores de subsistência no “Plano de Agricultura Familiar” como parte de uma estratégia do país, orientada pelo Ministério da Agricultura. Este Plano tem sido apoiado pela CENTA, instituição responsável pela produtividade, pela FAO, que presta assessoria metodológica, e pela MAG- PRODEMORO, encarregada do apoio técnico. O componente também se concentra no desenvolvimento de diversos projetos que visam facilitar a “redução da carga doméstica” das mulheres, para que estas possam conseguir participação ativa na organização de seus negócios.

Componente 3. Reabilitação e manejo dos recursos naturais e do meio ambiente

As ações deste componente visam promover a reabilitação de áreas geográficas ambientalmente degradadas e o estabelecimento de sistemas sustentáveis para uso e gestão dos recursos. Trata-

se de incentivar o uso de estratégias produtivas e de cultivo que sejam amigáveis ao meio ambiente, assim como as práticas de gestão de recursos naturais. Os resultados, mesmo com a dificuldade relativa à mudança de comportamento, têm sido satisfatórios, na medida em que revelaram mudanças progressivas voltadas às práticas eco-sustentáveis, em que há até mesmo casos de áreas onde as queimadas já não são utilizadas como forma de limpeza de terrenos.

Paralelamente, são realizadas capacitações e campanhas com foco em educação ambiental, onde os jovens exercem um papel importante, juntamente com outros parceiros estratégicos, como associações municipais e regionais, na promoção da gestão sustentável dos recursos naturais. Isso é feito principalmente em 13 municípios prioritários, a fim de garantir o uso correto dos recursos naturais, especialmente da água.

Unidade de gênero

Nesta unidade trabalha-se para reduzir as iniquidades e desigualdades de gênero. Isto é feito por meio de planos de sensibilização, tanto para os membros da Unidade, quanto para a coordenação, os prestadores de serviços e as populações atendidas.

Ainda, apoia-se as mulheres e os jovens usuários do Projeto por meio de ações afirmativas, como campanhas de saúde, círculos de alfabetização, educação a distância, materiais didáticos, sensibilização dos jovens em habilidades para a vida e para liderança e eventos de empoderamento das mulheres.

O “Programa de poupança e empréstimo comunitário” é outra maneira de apoio à população jovem. Por meio da promoção de uma cultura de poupança, com atividades de reforço de capacitações e assistência técnica, trabalha-se com metas sociais, econômicas e de desenvolvimento humano.

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Unidade de monitoração, avaliação e gestão de conhecimentos

Esta unidade oferece o acompanhamento para a implementação do Plano de Trabalho Anual (PTA) do Projeto, desenvolvendo ferramentas para facilitar o registro e o processamento de dados, além de reunir os antecedentes necessários para avaliar as ações já realizadas. Para fazer isso, carrega a responsabilidade de prestação de contas, da apresentação de diversos materiais audiovisuais e das autoavaliações. Ainda, nesta unidade, é concedida especial importância aos processos de sistematização e arquivo das lições aprendidas nas ações já desenvolvidas com os usuários dos diferentes componentes.

IV. Como agregar a juventude rural nas ações do Projeto?

Mesmo sendo a presença da juventude rural o objetivo desde o início, conforme o projeto avançou, percebeu-se de maneira ainda mais clara o papel que podem ter os jovens no desenvolvimento social, econômico e organizacional de seus territórios. O esforço começou em 2005, quando foram estabelecidas as linhas estratégicas do projeto, em que foi incluída a integração dos jovens na área profissionalizante. Em 2009, o tema adquire ainda mais importância, e, inclusive, passa a ser parte da estratégia de divulgação e promoção do Projeto.

Durante o diagnóstico foram acrescentadas ferramentas para identificar as demandas dos jovens, e neste sentido foram então desenhados mecanismos e estratégias de ação. Além disso, realizou-se um processo de identificação e integração da juventude em oficinas vocacionais.

Em 2010, o projeto inicia sua operatividade coma ainda mais força, realizando oficinas de liderança, alfabetização e capacitação no fortalecimento organizacional, onde entre os participantes estavam inclusos homens, mulheres e jovens. Com estes últimos trabalhou-se principalmente nas áreas de alfabetização e formação profissional, além de

treinamento em reabilitação e gestão dos recursos naturais por meio de um processo de sensibilização de professores e jovens nas escolas.

Entre as iniciativas desenvolvidas neste período, destaca-se a inclusão de mulheres e jovens na fase piloto do Programa de poupança e empréstimo comunitário. Houve também uma abertura para a participação dos jovens em empresas rurais, com particular destaque para a área de aquicultura.

Em 2011, o projeto trabalhou com 10 organizações de produtores, de modo que o trabalho com a juventude rural se focou na formação de grupos de jovens dentro dessas cooperativas ou associações beneficiárias. A participação dos jovens nas áreas de artesanato e turismo foi ampliada, e sua inclusão nas iniciativas de negócios rurais do Plano de Agricultura Familiar incentivada. Ainda, a demanda nos negócios hortícolas e de aquicultura aumentou, bem como nos de empresas não agrícolas.

Durante o ano de 2012, os jovens passaram a ser referências locais dentro das organizações, desempenhando um papel de apoio nas atividades de assistência técnica e apoio à comercialização, em virtude da facilidade para gerenciar as tecnologias de informação e comunicação. Nesse período, o Projeto atendia 60 organizações.

Em 2013, o Projeto teve uma participação ativa no Workshop Internacional: “Integração econômica e participação social da juventude rural na América Latina e no Caribe”, organizado pelo FIDA e pela PROCASUR em El Salvador. Durante o encontro, foram promovidos espaços de diálogo e de trabalho conjunto entre jovens e representantes técnicos das organizações de desenvolvimento, com o fim de elaborar propostas concretas a serem realizadas em cada país participante, que culminaram em um Plano de Ação. No âmbito deste plano, surge a preocupação dos representantes de El Salvador de construir uma rede nacional da juventude rural, estruturada junto aos territórios de incidência dos projetos da MAG-FIDA e de outras organizações de desenvolvimento, gerenciadas pelos próprios jovens.

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Além disso, devido ao empenho e interesse demonstrado pelos três projetos do MAG-IFAD de El Salvador durante o workshop internacional, a divisão do FIDA para a América Latina e Caribe o identificou como um país prioritário para receber acompanhamento e apoio técnico do Programa Juventude Rural Empreendedora da Corporação PROCASUR, como parte da estratégia de monitoramento e continuidade dos resultados do workshop.

Assim, de acordo com as necessidades e interesses particulares de cada projeto, e tendo como guia o Plano de desenvolvimento integral da juventude de El Salvador, foi definida uma agenda de sete pontos específicos a serem discutidos durante o monitoramento da PROCASUR em 2014: (i) diagnóstico, planejamento estratégico e identificação de experiências e de jovens talentos rurais; (ii) fortalecimento das capacidades de jovens talentos rurais; (iii) foco na incorporação de jovens nos projetos da MAG-FIDA em El Salvador, a partir do apoio das equipes técnicas: com indicações de progresso, monitoria e avaliação; (iv) elaboração de estratégias ad hoc e flexíveis para financiamento e apoio técnico de iniciativas empreendedoras para jovens; (v) apoio para elaboração e implementação de ações inovadoras: Dinamiza sua Rede; (vi) produção e disseminação de conhecimentos especializados (sistematização de experiências); e (vii) criação de espaços para a partilha de experiências e, por fim, a rota de aprendizagem.

Concepção, desenvolvimento e fortalecimento da rede dos jovens rurais

De modo a contribuir com o desenvolvimento da rede nacional, em 2014, o Projeto MAG PRODEMORO elaborou uma série de processos direcionados à construção da Rede Regional de jovens rurais da zona leste do país. Os mais importantes são listados abaixo.

• Realizou-se um processo de priorização das organizações, levando em consideração os critérios de participação dos jovens em seus territórios, área geográfica, entre outros.

• Definiu-se participativamente o perfil dos jovens que podem ser parte da rede, considerando critérios como: ser filho ou filha de membros das organizações beneficiárias do Projeto, ter entre 14 e 29 anos, ter disposição para participar das reuniões mensais.

• Promoção do Plano Nacional da Juventude Rural. Foram realizadas 25 reuniões com instituições públicas e privadas, a fim de promover a Rede nos Territórios e a gestão de recursos.

• Foram desenvolvidas oito oficinas para reavaliar os planos de ação dos jovens e dar continuidade às atividades realizadas

• O projeto apoiou a eleição de um Conselho de Administração por departamento, eleitos pelos jovens de acordo com o perfil considerados por eles ideal para assumir tais cargos.

• Eleição de representantes da Rede Regional, composta por representantes da presidência de cada rede territorial.

• Realização, junto aos jovens dos conselhos de administração, de um esboço das funções de cada cargo eleito, a fim de garantir a participação ativa de todos/as.

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• Identificação de novas lideranças entre a juventude. Foram identificados 25 jovens com potencial para a formação de microempresas, que foram capacitados para a elaboração e negociação das mesmas.

• Incorporação dos jovens nas estruturas organizacionais. Foram incorporados 50 jovens às estruturas e departamentos de tomada de decisão das organizações (presidências, secretárias e tesourarias).

• Capacitação e assistência técnica. Foram organizadas duas sessões de formação para os jovens sobre “Gestão empresarial e registros contábeis”, a fim de capacitar e assim alcançar a implementação das suas iniciativas.

• Participação em cinco seminários organizados conjuntamente entre a PROCASUR e a MAG-PRODEMORO, com o objetivo de identificar os conhecimentos e competências dos jovens da Rede, reforçar as capacidades de facilitação e coordenar as ações de revitalização das redes territoriais de forma participativa.

Estrutura organizacional: Assembleia Geral da juventude rural

É composta por três jovens (um homem e duas mulheres) delegados de cada uma das organizações participantes do componente de negócios rurais. A estrutura se reúne uma vez por mês e é responsável pela implementação do plano de trabalho da juventude na zona leste e da convocação de assembleias gerais que envolvam todos os membros integrantes da Rede. Os envolvidos têm a tarefa de formar alianças com atores estratégicos e fortalecer os laços com instituições de apoio (como a PRODEMORO). Esses jovens são porta-vozes dos jovens de seus territórios, sendo assim, devem relatar o progresso nos comitês territoriais, estar disponíveis para participar em encontros, intercâmbios ou fóruns, e coordenar as oficinas profissionalizantes com os jovens das organizações.

Modelo de formação da rede de jovens do território oriental

Rede Nacional (4)

Rede regional rede de oriente (26)

Rede territorial de Morazan (6)

Rede territorial da União (6)

Rede territorial Usulutan (8)

Rede territorial San Miguel (6)

JÓVENES DE LAS ORGANIZACIONES RURALES

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Referências jovens como estratégia inovadora de incorporação da juventude rural

Uma das iniciativas realizadas para gerar habilidades e fomentar o empoderamento dos jovens pertencentes à rede foi o convite para que participassem como Referências Locais. Para isso, foi feita uma convocatória direcionada a homens e mulheres jovens, entre 18 e 29 anos, que preferencialmente fazem parte do Plano de Agricultura Familiar ou de cadeias de produção, e que tivessem tido uma participação ativa nas Redes Juvenis.

O componente de Capital humano e social foi incumbido de rever os currículos entregues na convocatória e selecionar aqueles que atendiam aos critérios necessários. Nesse processo, 12 pessoas foram selecionadas, tendo a representação de todos os territórios. Esses jovens foram convocados para uma entrevista e para um teste escrito, que foram criados a partir de uma série de perguntas vinculadas à rede e que determinavam as atitudes e habilidades necessárias para o cargo. Os jovens selecionados participaram de um processo de introdução do Projeto, onde foram familiarizados com as funções e os trabalhos a serem realizados em cada uma das redes. Mais tarde, foi realizada uma apresentação formal das referências em cada uma das redes, onde foram divulgados os cargos e as funções a serem desempenhadas.

Dessa forma, a partir da figura das Referências Locais e sua capacitação para multiplicar conhecimento, o projeto MAG-PRODEMORO visa que os jovens possam fornecer capacitações de sensibilização para as várias organizações, a fim de conseguir que grupos compreendam a importância de envolver os jovens no processo. Uma vez selecionados como referências locais, os jovens recebem diferentes capacitações, incentivo econômico e são chamados anualmente para prestar contas de suas ações, permitindo que os jovens (homens e mulheres) possam se tornar pontes de comunicação entre diferentes organizações, conseguindo então alcançar uma resposta sobre o trabalho realizado a partir de um papel inovador.

Processo de transferência de recursos às organizações para apoiar os empreendimentos juvenis

Considerando que um dos principais desafios enfrentados pela juventude rural é a dificuldade de acesso a recursos que lhes permitam contribuir para a geração de receitas de suas casas ou avançar no processo de independência econômica, no âmbito do apoio técnico prestado pela PROCASUR foram projetados mecanismos de transferência de recursos aos empreendimentos juvenis, por meio de concursos de planos de negócios. No entanto, uma vez que os projetos MAG-FIDA não têm permissão para a transferência de recursos para organizações sem personalidade jurídica, a PROCASUR destinou U$5.000 por projeto (Amanecer Rural, PRODEMOR CENTRAL e PRODEMORO) para que estes premiassem as melhores iniciativas de negócio.

Durante este processo, no entanto, o Projeto MAG-PRODEMORO desenvolveu um mecanismo especial, que permitiu financiar empreendimentos de grupos de jovens não formalizados, por meio da criação de uma Organização de Ligação, que funciona como um intermediário entre o projeto e os jovens empreendedores. Para selecionar essas organizações, foi dada prioridade àquelas com experiência no desenvolvimento de negócios rurais, disponibilidade e receptividade para trabalhar com jovens e a representação de pelo menos 15% de jovens entre seus integrantes. Das organizações que participam do projeto, quatro foram escolhidas, uma para cada departamento.

Uma vez identificadas, o projeto realizou uma série de reuniões para explicar o papel a ser cumprido como Organização de Ligação, os principais objetivos dessa estratégia, os mecanismos de transferência de fundos, entre outros aspectos relevantes. Em seguida, a documentação legal necessária para o processo (adesão, estatuto, formalização jurídica) foi registrada e os contratos com a MAG-PRODEMOR assinados. Nesses contratos, as quatro organizações concordaram para o recebimento de U$14.750.00, destinados a financiar a compra de ativos, os

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processos de capacitação e a assistência técnica para os empreendimentos dos jovens selecionados durante o Comitê de Aprovação, além do suporte para equipamentos de informática e incentivo de transporte para os jovens participantes do comitê.

Assim, no dia 06 de novembro de 2014, foi realizada a Primeira Reunião da Comissão de Aprovação de Investimento para Empreendimentos da Juventude na Zona Leste. Ali, foram apresentadas 13 iniciativas de jovens, e uma comissão de avaliação composta por seis pessoas foi estabelecida: o diretor executivo da MAG PRODEMORO, Frank Escobar; o Coordenador de Componentes de Negócios Rurais, a Coordenadora da Unidade de Gênero, Elsy Tejada; o representante da Organização de Ligação, Jaime Portillo, o representante da Rede Nacional de Juventude Rural da Zona Leste, Roberto Carlos Castillo, além da participação dos Presidentes das redes departamentais de Morazán (Esteban García), San Miguel (Luis Alexander Meninas), La Union (William Giovanni) e Usulutan (Oscar Paiz).

Nessa ocasião, o engenheiro Frank Escobar, diretor do MAG-PRODEMORO, parabenizou os jovens pelo esforço, compromisso e trabalho contínuo na gestão de seus negócios, e explicou para os participantes o processo de preparação realizado pelo Projeto para tornar possível a realização de tais atividades.

Em primeiro lugar, para ser possível identificar o empreendedorismo juvenil nas áreas de influência do Projeto, contou-se com o suporte e o monitoramento da PROCASUR. Uma vez identificados, iniciou-se a fase de apoio ao desenvolvimento de planos de negócios pela MAG-PRODEMORO, em coordenação conjunta com as Referências Jovens. Em seguida, os critérios de avaliação das propostas foram definidas, em conjunto com os jovens, considerando: (i) a participação igualitária dos jovens (homens e mulheres); (ii) domínio dos aspectos técnicos do projeto; (iii) proposta de comercialização do produto; (iv) análise econômica do negócio; (iv) impacto no emprego e renda; (Vi) organização para a execução (viabilidade); e (vii) a apresentação da iniciativa.

Como estratégia para garantir o sucesso e sustentabilidade de iniciativas empresariais aprovadas pela Comissão, levou-se em consideração que os jovens contaram com um processo de formação em gestão de negócios, administração, contabilidade e questões de gênero, antes da entrega dos recursos. Para o mesmo efeito, a partir do MAG-PRODEMORO foram realizadas atividades voltadas para a promoção dos produtos dos empreendimentos e para o fortalecimento de sua comercialização. Entre os principais destaques, está a conexão com feiras e rodadas de negócios com a participação de entidades públicas e privadas, tais como o INJUVE, Visión Mundial, CEDEMYPE, CONAMYPE, entre outros.

Todas as 13 iniciativas apresentadas foram aprovadas pelo Comitê. Quatro delas foram financiadas com aportes da PROCASUR e as outras com recursos do Projeto MAG-PRODEMORO.

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A participação ativa dos jovens como referências locais, desde o lançamento das suas iniciativas, permitiu superar a resistência dos adultos. Nota-se uma crescente abertura dos adultos para a inserção dos jovens nos diversos projetos. Por exemplo, em uma das cooperativas, a gestão de um dos tanques de cultivo de tilápia é gerida por jovens. Esta foi uma iniciativa que foi administrada a partir das ações da MAG PRODEMORO, assim como outro projeto, de madeira, também tem sido desenvolvido por jovens.

Outro avanço no trabalho com a juventude tem sido a capacitação e formação na área agrícola com a possibilidade de bolsas de estudo para 20 jovens (homens e mulheres) no ensino superior, que, no fim da formação, oferecerão serviço comunitário em suas regiões, disponibilizando os novos conhecimentos para as próprias organizações. No total, são 500 jovens participando, representando os quatro departamentos nos vários serviços oferecidos pelo MAG-PRODEMORO. Além disso, o Projeto fortaleceu a juventude na sensibilização da questão de gênero, por meio da formação de nove jovens para a prestação de serviços de capacitação, dividido em três módulos: Como os homens e mulheres participam nas organizações, Gênero e autoestima, Liderança e participação nos negócios.

Ainda, em 2014, com o apoio técnico prestado pelo PROCASUR, foram realizadas feiras de dinamização das redes em diferentes regiões, oficinas de identificação dos conhecimentos, habilidades e talentos jovens, reforço de habilidades de facilitação e criação de um banco de talentos de jovens pertencentes à Rede Regional.

Apesar do trabalho com os jovens não ter sido tão claramente definido no início do projeto, tem-se trabalhado com várias propostas que visam incluí-los nas áreas de alfabetização e formação profissional. No entanto, há dois anos foi dada uma maior ênfase no trabalho com essa população em áreas além da educação, tais como negócios e marketing; em que as propostas como a seleção de referências locais surgem para dar aos jovens um papel mais preponderante e protagonista no desenvolvimento da sua comunidade.Como observa o Programa de fortalecimento para a juventude rural na região leste, é fundamental “aumentar a inclusão da juventude rural por meio da criação de espaços de participação e de formação integral, com ações concretas delineadas em seus planos de ação envolvendo capacitação, social e econômica, e promovendo a construção do projeto de vida baseado nas habilidades e aspirações”.

Por outro lado, o Engenheiro Frank Escobar, diretor do Projeto MAG PRODEMORO, observa a necessidade de uma articulação dos territórios, que permita a existência de sistemas de apoio e a descoberta dos diversos talentos dos jovens: “Não é apenas sobre a criação de espaços onde as ideias dos jovens são ouvidas, mas também sobre enxergar a viabilidade das mesmas e orientá-los para sua realização.”

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V. Desafios e propostas para continuar a inclusão efetiva da juventude rural.

Antes da identificação de desafios e das novas propostas para a integração da juventude rural no Projeto, é importante apontar os principais obstáculos identificados no passado, que têm sido trabalhados e resolvidos.

No início do projeto foram identificados resistências dos adultos perante a inclusão da juventude nas organizações. Essa resistência aconteceu de forma diferenciada nos tipos de organização (ADESCOS e organizações de produtores), nos tipos de atividade (pecuária e aquicultura) e por regiões. No entanto, nas áreas onde havia maior presença de conflitos armados, os laços comunitários eram muito mais fortes e, por isso, a resistência à inclusão de jovens era menor.

Para combater a resistência foram criados programas de sensibilização de gênero, proporcionando uma continuação do trabalho graças à confiança gerada pela equipe técnica das diferentes organizações. Foram utilizadas estratégias flexíveis, adaptadas pelo corpo técnico. Tudo isso, junto a abertura do diretor do projeto para atender as necessidades dos jovens, facilitou a implementação de medidas de apoio à juventude rural organizada.

Outro obstáculo encontrado foi a falta de conhecimento dos jovens sobre os benefícios trazidos pelo trabalho em rede. Para contornar essa dificuldade, foi promovido um forte trabalho com os jovens sobre a atribuição dos diferentes papéis, responsabilidades e projetos específicos; para assim envolvê-los progressivamente nos planejamento anuais e empoderá-los para as decisões sobre o rumo da rede.

Em relação aos futuros desafios do Projeto com relação a inclusão de jovens, destacam-se os seguintes:

• Fornecer apoio financeiro aos jovens, gerando mecanismos de transferência para um maior número de Organizações de Ligação.

• Agregar jovens com menor nível de escolaridade. Uma das medidas, por exemplo, é não considerar o nível de escolaridade como requisito para apresentação dos perfis. O Projeto também apoia a criação de parcerias e bolsas de estudo para facilitar o acesso dos jovens à educação.

• Fortalecer talentos e conhecimentos para organização e habilidade para a vida. Para isso, foram realizadas capacitações pelo Instituto Salvadorenho do Fomento Cooperativo (INSAFOCOP), treinamentos na formulação de projetos e formação nos temas de cenário demográfico e gravidez na adolescência (temas de direitos sexuais e reprodutivos).

• Apoiar o processo de formalização e legalização das organizações juvenis.

• Promover a inclusão de jovens mães nos empreendimentos, e garantir o seu progresso na educação, para reduzir riscos e vulnerabilidades que possam vir a enfrentar.

• Apoiar a capacitação para a criação de novas microempresas por meio do gerenciamento de recursos, da assistência técnica e do monitoramento.

• Fortalecer as capacidades dos jovens no uso das TICs, e facilitar a criação de oportunidades em que

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possam transmitir conhecimentos para adultos nas organizações como parte de um programa de intercâmbio intergeracional.

• Apoiar a criação de redes de comunicação e informação dos jovens, tornando possível a troca, a transferência de conhecimento e o apoio o mútuo, incorporando mecanismos inovadores de gestão do conhecimento.

• Promover o fortalecimento das Referências de Juventude e reforçar suas habilidades de facilitação para incentivar a transmissão de saberes e complementar competências, habilidades e talentos a nível intergeracional.

• Fortalecer a participação de jovens nos setores departamentais; assim como apoiar a gestão desses na criação de mesas redondas com a juventude rural para a articulação e coordenação dos esforços com organizações que trabalham com a questão.

• Uma vez acabada a intervenção do projeto, focalizar na sustentabilidade das iniciativas por meio do fortalecimento de parcerias estratégicas entre os atores locais e nacionais que trabalham com a juventude.

VI. Lições aprendidas

A seguir são assinaladas as lições aprendidas a partir da reflexão da equipe técnica sobre a sua experiência com o Projeto e com a juventude rural:

• Embora o marco operativo do projeto não incluísse medidas e indicadores para a incorporação da juventude rural, as equipes técnicas, com o apoio dos responsáveis pelas tomadas de decisão dentro do Projeto, encontraram maneiras de integrar o trabalho com os jovens de maneira igualitária, desempenhando um papel importante na vontade política, coordenação institucional e fortalecimento de capacidades.

• Os projetos que propõem a incorporação da juventude rural requerem a flexibilização dos mecanismos e criação de propostas adequadas às necessidades dos jovens, tanto em matéria de capacitação quanto ao acesso a recursos financeiros e técnicos, como a mercados e inovações.

• Os projetos para a juventude rural não devem ser planejados a partir de uma visão “adulta”. É importante ouvir os jovens, retomar as suas necessidades e potencialidades, reconhecer talentos e formas próprias de expressão e de transmissão de conhecimentos e habilidades para outros jovens e adultos.

• Uma boa prática desenvolvida pelo Projeto, e que deve ser considerada por aqueles interessados em processos de inclusão da juventude rural em iniciativas de desenvolvimento, é a identificação e preparação de jovens referências locais. A prestação de serviços de assistência e apoio técnico por parte dos jovens tem se provado como uma boa estratégia para incentivar a mudança geracional nas organizações de produtores e produtoras, aproveitando o maior nível de escolarização dos jovens em relação aos seus pais, assim como uma maior proximidade com as tecnologias da informação e comunicação e menor resistência à inovação.

• Os jovens devem estar ativamente envolvidos e empoderados para a prestação de serviços do projeto.

• Tudo isso deve ser feito levando-se em conta as particularidades de cada contexto, comunidade, gênero e idade; considerando desde a formação para a vida (autoestima, valorização pessoal e reconhecimento cultural) até o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos sobre a gestão de empresas rurais, agrícolas ou não agrícolas, reforçando assim o seu empoderamento e participação social e comunitária, de modo a contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos jovens e do seu entorno.

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Por fim, com as recomendações que surgiram a partir da experiência, é importante mencionar a necessidade de flexibilizar os mecanismos de entrega de recursos, reembolsáveis ou não reembolsáveis, de forma que seja possível aprimorar as iniciativas da juventude rural. Para isso, é necessário flexibilizar os requisitos e critérios de seleção, permitindo assim que os jovens tenham acesso a esses benefícios.

É importante lembrar também que já no planejamento de um projeto os jovens sejam identificados como atores estratégicos em todos os ciclos dos componentes, reforçando as ações afirmativas para a juventude rural, e assegurando que os jovens consigam ser incorporados como agentes de mudança e como protagonistas de sua realidade.

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RESUMO DE EXPERIÊNCIA: ASSOCIAÇÃO ¡AY QUÉ LINDO!

Desenvolvimento empresarial e acesso a fundos de inversãoASSOCIAÇÃO ¡AY QUÉ LINDO!

NICARÁGUA

A experiência da Associação ¡Ay Qué lindo! surge em 2006, a partir da identificação de uma oportunidade. Walter Chacon, morador da cidade de Condega de 29 anos, tinha elaborado uma pequena oficina onde construía caixas de madeira para embalagem de charutos. Uma tarde trabalhando em sua oficina, ouviu no rádio um anúncio do Programa para o Desenvolvimento Econômico da Região Seca da Nicarágua (PRODESEC), cofinanciado pelo governo nacional da Nicarágua e o IFAD, convidando associações locais para participar de uma possibilidade de acesso a recursos financeiros e assistência técnica para empreendimentos.

Como o anúncio especificava que os participantes deviam ser associações e não empresários independentes, Walter falou com seu irmão Luis Adolfo (35), que na época trabalhava como sapateiro, sobre a oportunidade de financiamento e a capacidade de acessar a esses benefícios se formassem uma associação orientada a produção e venda de caixas

para embalar charutos. Conscientes de que essa poderia ser uma boa oportunidade para realizar um salto produtivo no empreendimento, decidem reunir outros jovens conhecidos da localidade e formar uma associação.

Mesmo não cumprindo com a quantidade de sócios mínimos exigidos (8 participantes), os 6 jovens desenvolveram um plano de negócios para solicitar financiamento e fizeram os tramites para se tornar uma Associação Momentânea, um dos requisitos exigidos pelo PRODESEC. Devido a sustentabilidade que tem este tipo de negócio em virtude do dinamismo do mercado de tabaco na região, a Associação Momentânea1 ¡Ay Qué lindo!! conseguiu vencer o cofinanciamento concedido pelo PRODESEC.

1 A Associação Momentânea corresponde a um contrato assinado perante um notário, onde os membros se comprometem a em-preender um risco comum, sob a identificação conjunta de meios e fins. Não é um conceito jurídico, mas sim um compromisso assumi-do pelas partes e certificada sob o poder de um cartório.

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RESUMEN DE EXPERIENCIA: ASOCIACIÓN ¡AY QUÉ LINDO!

Como mecanismo para incentivar o compromisso dos beneficiários do financiamento com o desenvolvimento das iniciativas, o Programa financiaria apenas 90% de cada um dos planos de negócios selecionados, enquanto as associações forneceriam os 10% restantes. Assim, a Associação ¡Ay Qué lindo!! apresentou um plano de negócios no valor de $125,038 córdobas nicaraguenses (U$7.064 dólares), dos quais o PRODESEC contribuiu com $112,534 (U$6,358) e os jovens com $12,504 (U$706).

Uma vez recebido o financiamento, os jovens começaram o processo de formação e adquiriram os bens necessários para aumentar a produção da oficina de Walter. No entanto, dos seis jovens participantes, apenas Walter e Lener tinham experiência na fabricação de caixas para embalagem de charutos, de modo que os primeiros meses após a obtenção de financiamento foram de aprendizagem para todos os membros do grupo.

Depois de quase seis anos de desenvolvimento do empreendimento, os três membros que continuaram a fazer parte do negócio foram identificados pela PROCASUR como atores de uma experiência relevante para ser anfitriã de uma Rota de Aprendizagem realizada no ano de 2012 na Nicarágua. Devido ao sucesso dessa primeira abordagem e compromisso demonstrado por esses empreendedores, a Associação ¡Ay Qué lindo! foi selecionada pelo Programa Juventude Rural Empreendedora, para obter recursos do Fundo de Aprendizagem. Este Fundo visa cofinanciar iniciativas que promovem o a autonomia econômica da juventude rural e facilitem o desenvolvimento de seus próprios meios de subsistência, por meio de um investimento que deve ser reembolsado no prazo de dois anos. O co-financiamento destina-se à compra de bens de produção, em virtude da dificuldade que a juventude rural possui para acessar recursos financeiros para investir no crescimento de seus negócios.

A partir do Fundo de Aprendizagem, a Associação obteve recursos no valor total de $353.876 córdobas nicaraguenses (U$14.098), dos quais o projeto ¡Ay Qué lindo!! forneceu $35,387 (U$1.409) o Fundo as $318.489 córdobas restantes (U$12.688 dólares).

Com esses recursos os sócios puderam substituir suas máquinas artesanais (criadas por eles mesmos) por máquinas industriais, reduzindo o tempo de produção e melhorando consideravelmente os acabamentos das caixas. O impacto desse investimento pôde ser visto quase imediatamente, reduzindo significativamente o volume de caixas devolvidas pelo cliente e aumentando consideravelmente os lucros do grupo.

Este impulso permitiu melhorar as condições de trabalho dentro da fábrica, que hoje dá emprego a cerca de 40 jovens locais, aumentar e melhorar a produção de caixas para embalagem de charutos, e possibilitar a diversificação produtiva da associação a partir da compra de um terreno agrícola voltado para o cultivo de feijão e de grãos básicos.

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RESUMO DA EXPERIÊNCIA: NITLAPAN-UCA

Programa de Incubação de Empresas NITLAPAN-UCA

NICARÁGUA

Nitlapan-UCA é um instituto especializado em pesquisa, desenvolvimento e divulgação de novos modelos e metodologias para o desenvolvimento local, rural e urbano na Nicarágua. Fornece serviços financeiros e não financeiros aos proprietários de micro, pequenas e médias empresas do campo e da cidade, especialmente às mulheres e aos jovens. Parte integrante da Rede Jesuíta de Obras Públicas da Companhia de Jesus, que trabalha no setor social na América Central. Começou a dar seus primeiros passos em 1988, dentro do que era então o Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Central-UCA, como uma iniciativa universitária dirigida por um grupo de profissionais que estavam à procura de novas alternativas institucionais para promover o desenvolvimento econômico e social dos camponeses da Nicarágua.

O trabalho da Nitlapan com jovens empreendedores nasce em 2005, com o projeto “Jovens Empreendedores na modalidade de arrendamento”, com apoio de

fundos externos (CORDAID1 e Centro MAGIS2 para a Juventude), além de dos fundos própios e apoio dos jovens empreendedores.

Como resultado dessa experiência, a instituição decidiu que o apoio aos empreendimentos juvenis se tornaria uma linha de trabalho da Nitlapan. Assim, em 2008, a Nitlapan realizou mudanças organizacionais e o projeto passou a fazer parte do Programa de Incubação de Empresas. A reestruturação institucional definiu que seriam estabelecidos “o Programa de Serviços de Desenvolvimento Empresarial, responsável por tudo aquilo relacionado à prestação de serviços não financeiros e o Programa de Incubação de Empresas, responsável pelas ações relacionadas a serviços financeiros” .1 Catholic Organization for Relief and Development Aid2 Os Centros MAGIS são organizados pela Companhia de Jesus, nas províncias jesuítas em cada país, juntamente com outras con-gregações religiosas de espiritualidade inaciana, grupos laicos e províncias jesuítas de outros países da América Latina. O MAGIS é realizado por cada país que organiza e motiva suas delegações a participar da experiência.

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Fase I Promoção e Seleção dos empreendedores (as)

Fase IIIdeias e Elaboração do Plano de Negócio

Fase IIIEleição das iniciativas de negócios com potencial de desenvolvimento

Fase IVElaboração do Negócio (Leasing)

Fase VConstrução e fortalecimiento do capital humano

Fase VIDivulgação e Promoção

Emprendedores (as) com Experiência e Conhecimento en MIPYME

Empreendedores (as) com MiPymes Rurais/Urbanas Funcionando com Êxito

MetodologIa de intervenção

Fonte: Nitlapán, Apresentação em Pp. (S.f.)

RESUMEN DE EXPERIENCIA: NITLAPAN-UCA

O principal foco do programa de Incubação de Negócios são os jovens pois acreditam que estes “fazem parte dos setores mais vulneráveis no país, considerando que a dinâmica econômica do mesmo se desenvolve com foco na globalização, que exige que as pessoas trabalhem de acordo com um perfil de empreendedorismo, com capacidade de propor e realizar ideias inovadoras e competitivas para o mercado “

A abordagem da Nitlapan difere de outros programas de empreendedorismo da juventude existentes no país, onde o apoio vai desde a criação da empresa até posterior acompanhamento do mesmo. Ainda, se diferencia porque o seu público-alvo são principalmente jovens que não necessariamente tenham experiência no desenvolvimento de planos de negócios, uma vez que o programa possui um espaço de formação.

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A IDEIA DE INOVAR

“Talvez pela primeira vez na história, a humanidade tem a capacidade de criar mais informações do que qualquer um pode absorver, de incentivar mais interdependência do que qualquer um pode gerenciar e de conduzir a mudança com uma velocidade que ninguém pode seguir”. Senge (1992)

POR QUE E PARA QUE INOVAR?

A globalização intensificou a competição e o intercâmbio de informações; avanços tecnológicos e novas necessidades sociais e de mercado fazem do dinamismo um imperativo para se manter e se desenvolver no contexto atual. Esse mundo interativo e complexo nos confronta com o desafio constante de se adaptar com êxito e com a ideia de que esse processo levará a uma maior eficiência no uso dos recursos de nossa organização e contribuição para o bem-estar da população pobre.

Em um sentido amplo, a inovação se refere a introdução de uma novidade, ou seja, às adaptações positivas às transformações do mundo atual. Portanto, inovar principalmente requer o desenvolvimento de capacidades criativas que nos permitam detectar oportunidades em um contexto organizacional e ambiente dinâmico.

Inovar, então, significa melhorar a capacidade das nossas organizações para atender às necessidades, sociais e de mercado, por meio da geração de novas ideias que se traduzam em novos produtos, serviços ou processos que consigam aproveitar oportunidades internas e externas que melhoram o desempenho organizacional.

O desafio da inovação nos leva a nos estabelecer como forças geradoras e transformadoras da realidade, em primeiro lugar, de nossas organizações, e em seguida, das nossas comunidades e sociedades, abordando de forma estratégica o processo de desenvolvimento rural e o aumento do bem-estar das pessoas.

O que é inovar?

O debate sobre inovação mostra uma vasta trajetória nas últimas décadas. Nesse percurso, foram desenvolvidos desde conceitos de concepção puramente econômica, onde o conceito de inovação parece estar ligado exclusivamente à economia, o progresso tecnológico e empresarial, até conceitos mais amplos, em que os elementos do contexto, a participação de atores sociais, suas práticas e aprendizagens dentro do processo de inovar adquirem grande relevância. Esse processo implica na criação de uma concepção da inovação como produto onde a inovação é um processo, tornando-se um elemento permanente e central para o trabalho das organizações.

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A IDEIA DE INOVAR

Conceito de inovação1

“A introdução e aplicação ou procedimentos dentro de um papel, um grupo ou uma organização, desde que seja sempre nova para a unidade adoção e desenhada para beneficiar significativamente o indivíduo, o grupo, a organização ou a sociedade em geral”. (West y Farr, 1990; citado em González, 2000)

A inovação é uma ação concebida e dirigida intencionalmente para criar mudanças dentro de um papel, grupo ou organização, que tragam benefícios, não apenas econômicos, mas também para o funcionamento organizacional e social. Inovação não acontece por acaso, mas é uma ação planejada que visa melhorar a situação anterior.

Existem muitos benefícios que podem chegar por meio da inovação. Além dos retornos lucrativos ou comerciais, caracterizados por abordagens economicistas tradicionais, a inovação beneficia diversas áreas da organização, tais como o crescimento pessoal, a satisfação dos seus membros, a coesão grupal e a comunicação interna e externa. A partir desse ponto de vista, é a organização e suas necessidades - de seus membros e ou usuários - que define o que é benéfico ou não dentro de um processo de inovação.

A inovação rural não se limita a mudança tecnológica ou metodológica, mas inclui novas ideias ou processos na administração e gestão de recursos humanos, novas formas de utilizar os conhecimentos já adquiridos, a implementação criativa de modelos de ação já testados em outros espaços e a gestão de processos sociais ou de desenvolvimento, que resultam em maior bem-estar de uma organização, comunidade rural ou da sociedade como um todo.

1 Esta definição é amplamente discutida no texto de América Gon-zález V. “Inovação Organizacional. Desafios e perspectivas “CLAC-SO, incluídos na bibliografia

O aprendizado e poder de adaptação das comunidades rurais, por meio de sua implementação, enfatiza de forma inovadora e eficaz a atuação no combate à pobreza e na promoção do desenvolvimento rural moderno. Um elemento importante é o desafio de escalonar o impacto das inovações rurais de sucesso para expandir a sua eficácia e aporte por outras comunidades pobres.

Escalonamento

Refere-se ao desafio de ampliar o impacto de uma inovação rural que tem se mostrado eficaz, a partir de uma escala micro, que frequentemente se limita a um pequeno número de comunidades e setores dentro delas, para áreas geográficas e populações maiores.

O escalonamento se entende como um fim, uma vez que tem como objetivo produzir mais benefícios para mais pessoas em uma área mais ampla e de forma mais duradoura; e é um meio de gerar e fortalecer a capacidade local - institucional, organizacional e comunitária - para planejar, implementar e avaliar as atividades de desenvolvimento.

É por isso que o escalonamento é um processo de aprendizagem que mobiliza e fortalece recursos, atores e capacidades a nível local - das comunidades rurais -, ampliando seus impactos e tornando-os mais sustentáveis.

É importante destacar que a novidade absoluta de uma ideia não é necessária, mas apenas que esta seja nova para a unidade que a adota. Ou seja, falamos também de inovação quando uma organização adota uma ideia ou tecnologia já aplicada em outro contexto, contanto que esta seja nova para quem a adota.

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A IDEIA DE INOVAR

O componente de aplicação da inovação é um elemento crucial desse processo, uma vez que implica na transformação de conhecimento ou da informação em uma forma prática, incorporando novas vantagens para aqueles que a implementam.

A inovação não é igual a invenção. A mera produção de novas ideias não é suficiente para gerar inovação: uma ideia não é inovadora até que ela seja usada para amparar uma necessidade concreta (social ou de mercado, por demanda ou por iniciativa produtiva). A ideia inovadora deve ser apropriada pela organização que a implementa e por seus membros, que a integram em seu modo de operar, validando-a como uma ferramenta para melhorar o desempenho interno e/ou das respostas do seu entorno.

Inovar, então, é fazer as coisas de uma maneira nova ou diferente no contexto em que se desenvolvam nossas ações, seja no nível de organização interna ou de uma comunidade rural específica. A inovação implica numa novidade posta em prática e testada pela organização como uma resposta válida e benéfica para certas necessidades, problemas ou desafios. O caráter e qualidade de uma inovação são relativos ao contexto de sua introdução.

Um elemento importante da inovação é a sua validação através do uso, ou seja, a inovação faz sentido porque uma comunidade rural ou sociedade a usa, a faz sua, apropria-se dela, a incorpora e a desenvolve. Trata-se de um conhecimento em torno do qual os atores sociais são mobilizados e que impacta a comunidade, organização ou sociedade como um todo.

No entanto, as inovações exigem também a validação por especialistas ou avaliações que permitam testar o caráter inovador de certo processo e sua contribuição para o desenvolvimento de uma organização ou comunidade. Para isso, é necessário utilizar métodos que identifiquem os elementos relevantes no processo de inovação, criando critérios de avanço ou retrocesso, indicadores de impacto.

Por último, a inovação é uma construção social que envolve processos de interação e intercâmbio entre diferentes agentes e instituições, com interesses diversos e muitas vezes conflitantes, e também com graus desiguais de poder econômico, social e político. Consequentemente, a introdução de inovações não é um processo livre de conflitos, pois significa a transformação de modelos ou formas de fazer que foram sustentadas ao longo do tempo, o que afeta a forma como foram distribuídos os benefícios tradicionalmente em certo contexto organizacional ou social. Em resposta, a comunicação, construção de parcerias e consenso entre os atores e interesses diversos tornam-se importantes para a implementação e legitimação de uma inovação.

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A IDEIA DE INOVAR

EM SÍNTESE

1. A inovação é uma ação concebida e dirigida intencionalmente para criar mudanças dentro de um papel, grupo ou organização, que estabeleçam vários benefícios, não apenas econômicos, mas também pessoais, organizacionais e/ou sociais.

2. A inovação rural não se limita à mudança tecnológica, envolve o conhecimento e experiência de comunidades camponesas que atuam de forma nova e eficaz em sua luta para melhorar a qualidade de vida.

3. Uma inovação não requer novidade absoluta, é subjetiva: a ideia é nova para a unidade que a adota.

4. A produção de novas ideias por si só não é suficiente para gerar inovação, é necessária a sua aplicação a uma necessidade concreta e a apropriação pelos envolvidos.

5. O escalonamento se refere ao desafio de ampliar o impacto de uma inovação rural que tem se mostrado eficaz, a partir de uma escala micro, que muitas vezes se limita a um pequeno número de comunidades e setores dentro delas, para áreas geográficas e populações maiores.

6. Três tipos de inovação são assinaladas: “tecnológicas”, “comerciais” e “organizacionais”.

7. As fontes de inovação rural são diversas, incluindo a pesquisa e conhecimento científico, a opinião de especialistas ou técnicos, e também experiências práticas e lições desenvolvidas pela organização rural.

8. A inovação é um processo dinâmico, que inclui as seguintes etapas: avaliação e identificação de necessidades de inovação; a criação, pesquisa ou adaptação de uma ideia

inovadora para atender a tais necessidades; o desenvolvimento de um projeto ou plano de inovação; a implementação da inovação e apropriação da mesma no contexto organizacional de sua aplicação; a difusão e aprendizagem da experiência inovadora.

O papel do agente de transformação

“Vocês não encontrarão algo bem-sucedido em nenhum lugar, desde cursos experimentais nas escolas até uma nova clínica em um hospital para uma operação no setor privado que não tenha tido um personagem apaixonado por trás dele. Isso não é nada interessante para mim, o problema não é empregar essas pessoas apaixonadas, mas sim converter as pessoas medianas de tais organizações em tais apaixonados, acredito que esta é a chave” (Peters, T. 1988).

Há sempre alguém -uma ou mais pessoas- por trás de um processo de inovação bem-sucedido. Não é possível inovar se não houver envolvimento pessoal daqueles que a levam adiante, tanto daqueles que criaram a ideia como daqueles que irão implementá-la.

Aqueles que estão envolvidos e comprometidos com a realização de um processo inovador tornam-se agentes de transformação. Realizar um caminho para algo novo requer energia e persistência, decorrentes de um forte envolvimento, de um desejo e da vontade de persistir apesar das dificuldades, falhas ou erros que aparecem no processo.

O papel do agente de transformação é problematizar e dar novos focos à maneira tradicional de trabalhar de uma organização e propor ideias que visem a sua melhoria e transformação.

Conceitos como “intrapreneurs”, “geradores de ideias” e outros, dão conta de que é o indivíduo ou o seu grupo quem trazem novas ideias ou abordagens para o trabalho organizacional.

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A IDEIA DE INOVAR

Este processo envolve necessariamente uma ruptura, já que as organizações tendem a se proteger contra a instabilidade e mudança, uma vez que raramente é a própria organização, com seus conhecimentos e experiências acumuladas, quem decide que os seus procedimentos ou regras já estabelecidas podem ser melhoradas.

É importante que aqueles que levam para frente um processo inovador estejam comprometidos com o problema e não com os projetos. Ou seja, o compromisso deve ser com o fim ou o objetivo da mudança perseguida, e não com o procedimento, rota ou plano de ação desenvolvido para atingir esse fim. Isso permite a disposição à mudança e à introdução

de novos planos de ações, a fim de resolver um problema, quando é identificada a deficiência ou ineficácia de alguma estratégia planejada. As lógicas de ação e soluções projetadas devem permanecer parcialmente abertas e flexíveis a adaptações para que seja possível realizar uma inovação de sucesso.

As pessoas que criam questões interessantes, que descobrem novas maneiras de olhar para a organização, comunidade rural ou da sociedade, são verdadeiros descobridores de nichos para o desenvolvimento de inovações. Eles/as são a maior riqueza da organização, e como capital primário criador, sua contribuição é inestimável.

RUTA DE APRENDIZAJE: “Estrategias e innovaciones para la inclusión de los y las jóvenes rurales como protagonistas del

desarrollo de sus terr itor ios”

22-28 de febrero, 2015El Salvador