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Exercícios propostos Português capítulo 1 252 01. (ENEM) Disponível em: www.itaucultural.org.br. Acesso em: 26 jul. 2010. Sem formação acadêmica específica em artes visuais, Heitor dos Prazeres, que também é compo- sitor e instrumentista, é reconhecido artista popu- lar do Rio de Janeiro. Suas pinturas de perspectivas imprecisas e com traços bem demarcados são figura- tivas e sugerem movimento. Essa obra retrata: a) a confraternização de uma população socialmente marginalizada. b) o inconformismo da população de baixa renda da capital. c) o cotidiano da burguesia contemporânea da capital. d) a instabilidade de uma realidade rural do Brasil. e) a solidariedade da população nordestina. 02. (UEPA) Até então, nunca houvera tamanha produção em massa de pintura, nunca a pintura tinha sido empre- gada com objetivos tão triviais e tão efêmeros como agora em Roma. Quem quer que apelasse para o público, que o informasse a respeito de questões importantes, ávido por pleitear sua causa ou conquistar adeptos para seus interesses, recorria sabiamente à pintura com tal propósito. O general vitorioso, em seu desfile triunfal, ia rodeado de cartazes que exibiam suas façanhas bélicas, mencionavam as cidades conquistadas e retratavam a humilhação do inimigo aos olhos do povo extasiado. HAUSER, Arnold. “História social da arte e da litera- tura”. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p.110. In: CATELLI JÙNIOR, Roberto. História: texto e contexto. Ensino médio, volume único. São Paulo. Scipione, 2006, p.107. A partir da leitura do texto do historiador Arnold Hauser, é correto afirmar que: a) em algum momento da história do Império Romano, a produção de obras de arte, como a pintura de cartazes, citada acima, glorificava as conquistas e humilhava os povos conquistados, perante o povo que assistia extasiado ao desfile militar. b) as guerras eram um aspecto constante no cotidiano dos povos da Antiguidade Greco-Romana, e a vitória naturalizava a dominação cultural que os impérios vencedores impunham aos vencidos, fazendo com que artistas as imortalizassem em obras de arte. c) nos impérios, as conquistas eram fundamentais para manter a organização política do Estado, por isso, tanto na Grécia quanto em Roma, eram promovidos os desfiles militares em que as vitórias eram celebradas com a exposição dos vencidos. d) a guerra, em Roma, fazia parte do cotidiano de sua população, e para mantê-la como um valor de cidadania e superioridade sobre os demais povos, foi instituído o mecenato pelo Estado Imperial romano, de modo a incentivar os artistas a imortalizá-la em suas obras. e) os impérios vitoriosos, em diferentes épocas da humanidade, disseminaram seus hábitos culturais sobre os povos dominados, com exceção dos romanos, como bem retratam suas pinturas, que impunham taxações e escravização aos derrotados. 03. (ENEM) Em 1937, Guernica, na Espanha, foi bom- bardeada sob o comando da força aérea da Alemanha nazista, que apoiou os franquistas durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). PICASSO, P. Guernica. Pintura-mural. Disponível em: www.museoreinasofia.es Disponível em: hp://mrzine.monthlyreview.org. A pintura-mural de Picasso e a fotografia retratam os efeitos do bombardeio, ressaltando, respectivamente:

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Exercícios propostosPortuguês capítulo 1

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01. (ENEM)

Disponível em: www.itaucultural.org.br. Acesso em: 26 jul. 2010.

Sem formação acadêmica específica em artes visuais, Heitor dos Prazeres, que também é compo-sitor e instrumentista, é reconhecido artista popu-lar do Rio de Janeiro. Suas pinturas de perspectivas imprecisas e com traços bem demarcados são figura-tivas e sugerem movimento. Essa obra retrata:a) a confraternização de uma população socialmente

marginalizada. b) o inconformismo da população de baixa renda da

capital. c) o cotidiano da burguesia contemporânea da

capital. d) a instabilidade de uma realidade rural do Brasil.e) a solidariedade da população nordestina.

02. (UEPA)

Até então, nunca houvera tamanha produção em massa de pintura, nunca a pintura tinha sido empre-gada com objetivos tão triviais e tão efêmeros como agora em Roma. Quem quer que apelasse para o público, que o informasse a respeito de questões importantes, ávido por pleitear sua causa ou conquistar adeptos para seus interesses, recorria sabiamente à pintura com tal propósito. O general vitorioso, em seu desfile triunfal, ia rodeado de cartazes que exibiam suas façanhas bélicas, mencionavam as cidades conquistadas e retratavam a humilhação do inimigo aos olhos do povo extasiado.

HAUSER, Arnold. “História social da arte e da litera-tura”. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p.110. In: CATELLI

JÙNIOR, Roberto. História: texto e contexto. Ensino médio, volume único. São Paulo. Scipione, 2006, p.107.

A partir da leitura do texto do historiador Arnold Hauser, é correto afirmar que: a) em algum momento da história do Império Romano,

a produção de obras de arte, como a pintura de cartazes, citada acima, glorificava as conquistas e humilhava os povos conquistados, perante o povo que assistia extasiado ao desfile militar.

b) as guerras eram um aspecto constante no cotidiano dos povos da Antiguidade Greco-Romana, e a vitória naturalizava a dominação cultural que os impérios vencedores impunham aos vencidos, fazendo com que artistas as imortalizassem em obras de arte.

c) nos impérios, as conquistas eram fundamentais para manter a organização política do Estado, por isso, tanto na Grécia quanto em Roma, eram promovidos os desfiles militares em que as vitórias eram celebradas com a exposição dos vencidos.

d) a guerra, em Roma, fazia parte do cotidiano de sua população, e para mantê-la como um valor de cidadania e superioridade sobre os demais povos, foi instituído o mecenato pelo Estado Imperial romano, de modo a incentivar os artistas a imortalizá-la em suas obras.

e) os impérios vitoriosos, em diferentes épocas da humanidade, disseminaram seus hábitos culturais sobre os povos dominados, com exceção dos romanos, como bem retratam suas pinturas, que impunham taxações e escravização aos derrotados.

03. (ENEM) Em 1937, Guernica, na Espanha, foi bom-bardeada sob o comando da força aérea da Alemanha nazista, que apoiou os franquistas durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

PICASSO, P. Guernica. Pintura-mural. Disponível em: www.museoreinasofia.es

Disponível em: http://mrzine.monthlyreview.org.

A pintura-mural de Picasso e a fotografia retratam os efeitos do bombardeio, ressaltando, respectivamente:

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a) crítica social – conformismo político. b) percepção individual – registro histórico. c) realismo acrítico – idealização romântica. d) sofrimento humano – destruição material. e) objetividade artística – subjetividade jornalística.

04. (UEG-GO) Leia o trecho e analise a imagem.

Foi aí que o tiro estrondou, pegou de lado, varou o coração e saiu a bala pela teta direita, diz adiante o corpo de delito da mesma publicação. O Sargento-mor tonteou, quis caminhar pra frente, abriu os bra-ços, fraquejou as pernas e tombou de lado numa gol-fada de sangue.

CORALINA, Cora. Correio oficial de Goiás. In: Estórias da casa velha da ponte. 13. ed. São Paulo: Global, 2006. p. 75.

GOYA, Francisco José y Lucientes. Os fuzilamen-tos de 3 de maio de 1808, 1814-1815. In: PROENÇA, Graça.

História de arte. São Paulo: Ática, 2010. P. 176.

Considerando-se o enredo de Correio oficial Goiás, breve narrativa da qual o trecho foi extraído, e o qua-dro de Goya, que representa o fuzilamento de cida-dãos espanhóis contrários à ocupação de seu país pelas tropas napoleônicas, verifica-se que: a) tanto no quadro quanto no texto, o tema da

violência surge associado a questões amorosas e passionais.

b) tanto no quadro quanto no texto, representam-se personagens que foram assassinadas por não se enquadrarem em uma sociedade escravocrata e desigual.

c) na narrativa, o assassino é parente do morto, ao passo que, na pintura, não há relações de parentesco entre vítimas e assassinos.

d) na narrativa, o assassino paga pelo seu crime com a própria vida, o que não necessariamente ocorre com os soldados representados na pintura.

Texto para a próxima questão.

Marketing oportunista

Parece que a sabedoria dos anos 1990 localiza-se nos extremos, não no meio, como sempre é quando se busca o equilíbrio das coisas. Sábio e proveitoso agora é lidar com os pequeninos gnomos, que voam ao impacto de um espirro, ou com os dinossauros grandalhões de até

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100 toneladas. Quanto a estes, Spielberg que o diga, ele, o gênio da arte tão bonita e respeitável de ganhar dinheiro. O meio não está com nada. As minas de ouro encontram-se nas pontas do mapa.

Um amigo meu, chegadíssimo ao marketing opor-tunista, e que sempre procurou faturar com os capri-chos da moda, comentou:

— O inteligente é meter os dinossauros nos negó-cios, seja filme, música, camiseta, qualquer coisa. Está escrevendo um novo romance, não?

— Estou. É sobre o velho triângulo amoroso, dois homens apaixonados pela mesma mulher — contei, mais para me livrar do importuno marqueteiro.

— A ideia é velha, sim. Meta um dinossauro carní-voro, feroz, perseguindo esses três tarados.

— Como posso fazer isso? O romance se passa nos tempos de hoje, entendeu?

— Não faz mal, ponha o dinossauro assim mesmo.— Ora, é uma história urbana, não acontece em

nenhuma floresta desconhecida.— Melhor ainda! — exclamou, como se vindo em

meu socorro. — Já imaginou o tal dinossauro no via-duto do Chá, na hora do rush, pisando nos carros, der-rubando postes, engolindo marreteiros?

Fui para casa impressionado com tal mau gosto e apetite comercial. Transmiti a sugestão absurda à minha mulher. Os três amantes perseguidos por um apavorante dinossauro em pleno viaduto. Esperei que ela morresse de rir, não morreu.

Podia ser um tiranossauro rex, que tinha 15 metros de altura — ela optou. Ignorava que entendesse de dinossauros.

— Pensou no ridículo?Seu pensamento estava noutra direção.— Será que um romance com esse bicho como per-

sonagem daria dinheiro? — perguntou sonhando com uma viagem de férias.

— A minha é uma história romântica. Não cabe um...

— Daria dinheiro?— Não quero escrever outro King Kong, darling —

protestei.— E o King Kong por acaso foi um fracasso? Aquela noite sonhei com dinossauros. Ainda nossos

contemporâneos, continuavam habitando o planeta. Olhei pela janela e vi o pescoço de um sismossauro de 42 metros. O animal carregava um monumental ar de resignação e um cartaz duplo com uma fotografia e os dizeres: PARA SENADOR, VOTEM EM LICÍNIO RIBAS. Muito bem bolado: dinossauro transformado em outdoor ambulante. Desci para a rua e fui seguindo. O que vi me surpreendeu. Diversos iguanodontes de 10 metros de altura, pesando cerca de 4 toneladas, anda-vam ordeiramente em fila e, com a capacidade de mui-tos caminhões, carregavam imensas cargas. Sem quei-mar óleo ou gasolina. Num espaçoso terreno baldio li: RENT A DINOS. Alugava-se dinossauro para propa-ganda, transporte de carga, guarda de grandes proprie-dades e passeios turísticos. Crianças adoravam pas-sear de apatossauro, cujo comprimento ultrapassava

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21 metros. Descobri, porém, que nem todos apoiavam a exploração dos dinossauros. Havia um forte movimento contrário que fazia protestos em alto-falantes e distri-buía folhetos.

— Eles estão em extinção em todo o mundo — diziam.

— Escravizados pelo homem, desaparecerão rapi-damente. E, por favor, não comam carne de dinossauro.

Logo além, todo acorrentado, estava um gigan-tesco tiranossauro rex. Perguntei a um defensor de dinossauros por que o imobilizaram daquela forma. Respondeu que o animal fora colocado naquele des-conforto para simples publicidade sensacionalista de uma história de amor triangular.

— E a história fez sucesso? — perguntei.— O inescrupuloso romancista ganhou milhões —

foi a invejosa resposta.Acordei e fui à cozinha. Minha mulher somava

contas a pagar.— Sabe duma coisa, darling? — lembrei. — Aquela

ideia do dinossauro no viaduto é coisa de louco, sim, mas quem não é hoje em dia?

REY, Marcos. Marketing oportunista. In: O cora-ção roubado e outras crônicas. São Paulo: Ática,

2003, p. 57-60. (Para Gostar de Ler, v. 19)

05. (UFPB) Em relação à estrutura e à temática do texto, julgue os itens a seguir.

( ) Caracteriza-se como uma crônica jornalística que explora assuntos da atualidade.

( ) Apresenta-se em forma de crônica literária, marcada pelo humor.

( ) Mantém-se fiel ao modelo do conto fantástico, focalizando a sociedade da época.

( ) Contempla questões relacionadas à realidade e à ficção, abordando aspectos do cotidiano.

( ) Faz considerações sobre a criação de obras artísticas e sobre as leis de mercado.

Texto para as próximas 3 questões.

O texto a seguir integra uma reportagem da revista Fotografe Melhor e fragmentos de um artigo de Elisa-beth Seraphim Prosser, professora e pesquisadora de História da Arte e de Metodologia da Pesquisa Cientí-fica da Escola de Música e Belas Artes do Paraná.

Manifestação surgiu em Nova York nos anos de 1970

Muitos encaram o grafite como uma mera inter-venção no visual das cidades. Outros enxergam uma manifestação social. E há quem o associe com vanda-lismo, pichação... Mas um crescente público prefere contemplá-lo como uma instigante, provocadora e fenomenal linguagem artística.

O grafite é uma forma de expressão social e artís-tica que teve origem em Nova York, EUA, nos anos de 1970. O nova-iorquino Jean-Michel Basquiat foi o pri-meiro grafiteiro a ser reconhecido como artista plás-tico, tendo sido amigo e colaborador do consagrado Andy Warhol — a vida de Basquiat, aliás, mereceu até filme, lançado em 1996.

A chegada ao Brasil também foi nos anos de 1970, na bagagem do artista etíope Alex Vallauri e se popu-larizou por aqui. Desde a década de 1990 é pura eferves-cência. Irreverente, a arte das ruas colocou à prova a criatividade juvenil e deu uma chance bastante demo-crática de expressão, que conquistou, além dos espa-ços públicos, um lugar na cultura nacional. Uma arte alternativa, que saiu dos guetos para invadir regiões centrais e privilegiadas em quase todo o Ocidente.

Hoje, à vista da sociedade e totalmente integrada ao cotidiano do cidadão brasileiro, a arte de rua pro-voca e, ao mesmo tempo, lembra a existência de mino-rias desfavorecidas e suas demandas por meio de coloridos desenhos que atraem a atenção.

Essa manifestação avançou no campo artístico e vem conquistando superfícies em ambientes até então improváveis: do interior de famosas galerias às facha-das externas de museus, como o Tate Modern, de Lon-dres, que em 2008 (maio a setembro) teve a famosa parede de tijolinhos transformada em monumen-tais painéis grafitados (25 metros) pelas mãos, sprays e talento de grafiteiros de vários lugares do planeta, convidados para esse desafio, com destaque para os brasileiros Nunca e os artistas-irmãos Osgêmeos.

Fotografe Melhor. Um show de cores se revela na arte dos gra-fites. São Paulo: Editora Europa, ano 14, n.161, fevereiro 2010.

Do vandalismo anárquico à arte politica-mente comprometida

Quanto à manifestação da arte de rua em si, pode-se afirmar que ela abrange desde o vandalismo anár-quico até a arte politicamente comprometida. Vai da pichação, cujo propósito é sujar, incomodar, agredir, chamar a atenção sobre determinado espaço urbano ou simplesmente desafiar a sociedade estabelecida e a autoridade, até o lambe-lambe e o graffiti, nos quais se pretende criticar e transformar o status quo.

(...)O transeunte (...) geralmente ignora, rechaça ou

destrói essa arte, considerando-a sujeira, usurpação do

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seu direito a uma paisagem esterilizada, uma invasão do seu espaço (às vezes privado, às vezes público), uma afronta à mente inteligente. Escolhe não olhá-la, não observá-la, não ler nas suas entrelinhas e nos espaços entre seus rabiscos ou entre seus traços elaborados. Confunde o graffiti com a pichação, isto é, a arte com o vandalismo (...).

No entanto, em documentários e em entrevistas com vários artistas de rua em Curitiba em 2005 e 2006, pôde-se constatar que essa concepção é, na maioria dos casos, improcedente. Grande parte dos escritores de graffiti e dos artistas envolvidos com o lambe-lambe não apenas estuda ou trabalha, mas tem rendimento bom ou ótimo na sua escola ou no seu emprego.

De acordo com a pesquisa ora em andamento, o artista de rua curitibano mora tanto na periferia quanto no centro, é oriundo tanto de famílias de baixa renda como de outras economicamente mais favorecidas. Seu nível de instrução varia do fundamental incompleto ao médio e ao superior, encontrando-se entre eles inclu-sive funcionários de órgãos culturais e educacionais da cidade, bem como profissionais liberais, arquitetos, publicitários, designers e artistas plásticos, entre outros.

Pôde-se perceber, também, que suas preocupações políticas, sua consciência quanto à ecologia e ao meio ambiente natural ou urbano, seu engajamento volun-tário ou profissional em organizações educacionais e assistencialistas são uma constante.

PROSSER, Elisabeth Seraphim. Compromisso e sociedade no graffiti, na pichação e no lambe-lambe em Curi-

tiba (2004-2006). Anais – Fórum de Pesquisa Científica em Arte. Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Curitiba, 2006-2007.

06. (Unesp) “O transeunte (…) geralmente ignora, rechaça ou destrói essa arte, considerando-a sujeira, usurpação do seu direito a uma paisa-gem esterilizada,…”

Nesta passagem dos fragmentos do texto de Pros-ser, a expressão “paisagem esterilizada” constitui uma síntese bastante expressiva da opinião do transeunte que não aprecia a arte de rua. Explique o que quis dizer a autora com a atribuição do adjetivo esterili-zada ao substantivo paisagem.

07. (Unesp) As intervenções urbanas conhecidas como grafite, pichação, lambe-lambe e outras são muitas vezes apontadas como perturbações e sujeira. Os dois textos apresentados, todavia, analisam a questão com maior abertura crítica.

Com base no que informam, levante dois aspectos que refutam a afirmação segundo a qual “a arte de rua é produto de desocupados, malandros e arruaceiros”.

08. (Unesp) Partindo da máxima segundo a qual “um exemplo vale mais do que mil palavras”, aponte o que o autor do texto da revista Fotografe Melhor deixa óbvio ao leitor, sob o ponto de vista estético, ao mencionar, no parágrafo final, o fato de que artistas de rua foram convidados a pintar fachadas externas do museu Tate Modern de Londres.

Texto para as próximas 2 questões.

Gaveta dos guardados

01 A memória é a gaveta dos guardados. Nós somos o que somos, não o que virtualmente seríamos capazes de ser.

02 Minha bagagem são os meus sonhos. Fui o poeta das ruas, das vielas silenciosas do Rio, antes que se tornasse uma cidade assolada pela violência. Sempre fui ligado à terra, ao meu pátio.

03 No Rio Grande do Sul, estou no colo da mãe. Creio que minha fase atual, neste momento, em 1993, reflete a eterna solidão do homem.

04 A obra só se completa e vive quando expressa. Nos meus quadros, o ontem se faz presente no agora. Lanço-me na pintura e na vida por inteiro, como um mergulhador na água. A arte é também história. E expressa a nossa humanidade. A arte é intemporal, embora guarde a fisionomia de cada época. Conheci em Paris um escultor brasileiro, bolsista, que não frequentava museus para não perder a personalidade, esquecendo que só se perde o que se tem.

(...)05 A memória é a gaveta dos guardados, repito para

sublinhar. O clima dos meus quadros vem da solidão da campanha, do campo, onde fui guri e adolescente. Na velhice, perde-se a nitidez da visão e se aguça a do espírito.

06 A memória pertence ao passado. É um registro. Sempre que a evocamos, se faz presente, mas permanece intocável, como um sonho. A percepção do real tem a concreteza, a realidade física, tangível. Mas como os instantes se sucedem feito os tique-taques do relógio, eles vão se transformando em passado, em memória, e isso é tão inaferrável* como um instante nos confins do tempo.

07 Escrever pode ser, ou é, a necessidade de tocar a realidade que é a única segurança de nosso estar no mundo – o existir. É difícil, se não impossível, precisar quando as coisas começam dentro de nós.

(...)08 A vida dói... Para mim o tempo de fazer perguntas

passou. Penso numa grande tela que se abre, que se me oferece intocada, virgem. A matéria também sonha. Procuro a alma das coisas. Nos meus quadros o ontem se faz presente no agora. A criação é um desdobramento contínuo, em uníssono com a vida. O autorretrato do pintor é pergunta que ele faz a si mesmo, e a resposta também é interrogação. A verdade da obra de arte é a expressão que ela nos transmite. Nada mais do que isso!

FOLHA DE SÃO PAULO, 09/05/1998

(CAMARGO, Iberê. In: NESTROVSKI, Arthur (Org.). “Figuras do Brasil: 80 autores em 80 anos

de Folha”. São Paulo: Publifolha, 2001.)

* Pode ser entendido como “inalcançável”.

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09. (UERJ) “A memória é a gaveta dos guarda-dos” (1º parágrafo)

A frase expressa a importância das expe-riências individuais na criação artística. A pas-sagem do texto em que mais facilmente se per-cebe o vínculo entre memória e obra de arte é: a) “A obra só se completa e vive quando

expressa”. (4º parágrafo) b) “Nos meus quadros, o ontem se faz presente

no agora”. (4º parágrafo) c) “Lanço-me na pintura e na vida por inteiro”.

(4º parágrafo) d) “A percepção do real tem a concreteza, a

realidade física”. (6º parágrafo)

10. (UERJ) “Escrever pode ser, ou é, a necessi-dade de tocar a realidade que é a única segu-rança de nosso estar no mundo – o existir. É difí-cil, se não impossível, precisar quando as coisas começam dentro de nós.” (7º parágrafo)

Esse parágrafo relaciona-se com o parágrafo anterior, pela associação de: a) registro e dor. b) texto e verdade. c) escrita e passado. d) literatura e solidão.

Texto para as próximas 3 questões.

O olhar também precisa aprender a enxergar

Há uma historinha adorável, contada por Eduardo Galeano, escritor uruguaio, que diz que um pai, morador lá do interior do país, levou seu filho até a beira do mar. O menino nunca tinha visto aquela massa de água infinita. Os dois para-ram sobre um morro. O menino, segurando a mão do pai, disse a ele: “Pai, me ajuda a olhar”. Pode parecer uma espécie de fantasia, mas deve ser a exata verdade, representando a sensação de fal-tarem não só palavras, mas também capacidade para entender o que é que estava se passando ali.

Agora imagine o que se passa quando qual-quer um de nós para diante de uma grande obra de arte visual: como olhar para aquilo e construir seu sentido na nossa percepção? Só com auxílio mesmo. Não quer dizer que a gente não se emocione apenas por ser exposto a um clássico absoluto, um Picasso ou um Nie-meyer ou um Caravaggio. Quer dizer apenas que a gente pode ver melhor se entender a lógica da criação.

Luís Augusto Fischer, Folha de S.Paulo.

11. (Fuvest-SP) Analisando-se a construção do texto, verifica-se que:

a) há paralelismo de ideias entre os dois parágrafos, como, por exemplo, o que ocorre entre a frase do menino e a frase “Só com auxílio mesmo”.

b) a expressão “espécie de fantasia”, no primeiro parágrafo, é retomada e traduzida em “lógica da criação”, no segundo parágrafo.

c) a expressão “Agora imagine” tem como função assinalar a inteira independência do segundo parágrafo em relação ao primeiro.

d) a afirmação contida no título restringe-se aos casos dos artistas mencionados no final do texto.

e) as ocorrências da expressão “a gente” constituem traços da impessoalidade e da objetividade que marcam a linguagem do texto.

12. (Fuvest-SP) Relacionando a história contada pelo escritor uruguaio com “o que se passa quando qual-quer um de nós para diante de uma grande obra de arte”, o autor do texto defende a ideia de que:

a) o belo natural e o belo artístico provocam distintas reações de nossa percepção.

b) a educação do olhar leva a uma percepção compreensiva das coisas belas.

c) o belo artístico é tanto mais intenso quanto mais espelhe o belo natural.

d) a lógica da criação artística é a mesma que rege o funcionamento da natureza.

e) a educação do olhar devolve ao adulto a espontaneidade da percepção das crianças.

13. (Fuvest-SP) A frase “Não quer dizer que a gente não se emocione apenas por ser exposto a um clás-sico absoluto” é pouco clara. Mantendo-se a coerên-cia com a linha de argumentação do texto, uma frase mais clara seria: “Não quer dizer que:

a) algum de nós se emocione pelo simples fato de estar diante de uma obra clássica”.

b) a primeira aparição de um clássico absoluto venha logo a nos emocionar”.

c) nos emocionemos já na primeira reação diante de um clássico indiscutível”.

d) o simples contato com um clássico absoluto não possa nos emocionar”.

e) tão somente em nossa relação com um clássico absoluto deixemos de nos emocionar”.

Texto para a próxima questão.

A questão a seguir baseia-se na letra do samba Saudosa Maloca, de Adoniran Barbosa (1910-1982).

Saudosa Maloca

Se o sinhô não tá lembrado,Dá licença de contáQue aqui onde agora estáEsse adifício artoEra uma casa veia,Um palacete assobradado.Foi aqui, “seu” moço,Que eu, Mato Grosso e o JocaConstruímos nossa malocaMais, um dia,- Nóis nem pode se alembrá -,

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Veio os homens c’as ferramentas,O dono mandô derrubá.

Peguemos todas nossas coisasE fumos pro meio da ruaPreciá a demoliçãoQue tristeza que nóis sentiaCada tauba que caíaDuía no coraçãoMato Grosso quis gritáMais em cima eu falei:Os homens tá c’a razão,Nóis arranja otro lugá.Só se conformemos quando o Joca falô:“Deus dá o frio conforme o cobertô”.E hoje nóis pega paia nas gramas do jardimE p’ra esquecê nóis cantemos assim:Saudosa maloca, maloca querida, dim, dim,Donde nóis passemos dias feliz de nossa vida.

BARBOSA, Adoniran. ln: Demônios de Garoa – Trem das 11. CD 903179209-2, Continental-Warner Music Brasil, 1995.

14. (Unesp) A letra de Saudosa Maloca pode ser con-siderada como realização de uma “linguagem artís-tica” do poeta, estabelecida com base na sobreposi-ção de elementos do uso popular ao uso culto. Uma destas sobreposições é o emprego do pronome oblí-quo de terceira pessoa “se” em lugar de “nos”, dife-rentemente do que prescreve a norma culta (o poeta emprega se “conformemos” em vez de “nos confor-mamos”; se “alembrá” em vez de nos “lembrar”. Con-siderando este comentário:

a) descreva e exemplifique o que ocorre, na linguagem artística do compositor, com o /-r/ final e com o /lh/ medial das palavras, em relação ao uso oral culto;

b) estabeleça as diferenças que apresentam, em relação ao uso culto, as seguintes formas verbais da primeira pessoa do plural do presente do indicativo empregadas pelo compositor: “pode” (verso 11), “arranja” (verso 23) e “pega” (verso 26).

Charge para a próxima questão.

QUINO Déjenme inventar. Buenos Aires: Ediciones de La Flor, 2003.

15. (UERJ) Na tira do cartunista argentino Quino, utilizam-se recursos gráficos que lembram o cinema.

A associação com a linguagem artística do cinema, que lida com o movimento e com o instrumento da câmera, é garantida pelo procedimento do cartunista demonstrado a seguir: a) Ressaltar o trabalho com a vassoura para sugerir ação. b) Ampliar a imagem da mulher para indicar aproximação. c) Destacar a figura da cadeira para indiciar sua importância. d) Apresentar a sombra dos personagens para sugerir veracidade.

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16. (Unesp) A peça Fonte foi criada pelo francês Mar-cel Duchamp e apresentada em Nova Iorque em 1917.

Obra de Marcel Duchamp, fotografada por Alfred Stieglitz.

A transformação de um urinol em obra de arte representou, entre outras coisas: a) a alteração do sentido de um objeto do cotidiano

e uma crítica às convenções artísticas então vigentes.

b) a crítica à vulgarização da arte e a ironia diante das vanguardas artísticas do final do século XIX.

c) o esforço de tirar a arte dos espaços públicos e a insistência de que ela só podia existir na intimidade.

d) a vontade de expulsar os visitantes dos museus, associando a arte a situações constrangedoras.

e) o fim da verdadeira arte, do conceito de beleza e importância social da produção artística.

17. (UEMA) A concepção de arte tem mudado ao longo dos séculos. A arte como imitação da natureza e a arte como expressão e construção são, respectiva-mente, concepções dos seguintes períodos:

a) antigo e contemporâneo. b) antigo e medieval. c) medieval e moderno. d) antigo e moderno. e) moderno e contemporâneo.

18. (UFMG) Leia a seguinte passagem do texto de Hume, Do padrão do gosto:

Procurar estabelecer uma beleza real, ou uma defor-midade real, é uma investigação tão infrutífera como procurar determinar uma doçura real ou um amar-gor real. Conforme a disposição dos órgãos do corpo, o mesmo objeto tanto pode ser doce como amargo, e o pro-vérbio popular afirma com muita razão que gostos não se discutem. É muito natural, e mesmo absolutamente necessário, aplicar este axioma ao gosto mental, além do gosto corpóreo, e assim o senso comum, que tão frequen-temente diverge da filosofia [...], ao menos num caso está de acordo em proferir idêntica decisão.

HUME, David. Do padrão do gosto. In: Os Pensa-dores. São Paulo: Abril Cultural,1992, p. 262.

O trecho anterior corresponde a uma passagem na qual Hume procura descrever a posição de alguns filósofos seus contemporâneos para os quais o gosto é uma expressão de certos sentimentos e, desse modo, não comporta uma decisão em termos de verdade ou falsidade, como ocorre no caso de outros juízos nos quais emitimos nossas opiniões. Essa posição, caso fosse correta, impossibilitaria o estabelecimento de um padrão de gosto, ou seja, de uma regra capaz de conciliar as diversas opiniões dos homens no que diz respeito ao valor de uma obra de arte, por exemplo. Segundo Hume, essa posição coincide com o famoso provérbio de que gosto não se discute, o qual, por sua vez, parece refletir o pensamento da maior parte das pessoas, ou seja, do senso comum.a) A partir do que foi dito acima, e com base em

outras informações contidas no texto, apresente os argumentos de Hume que problematizam esse famoso provérbio.

b) Com base em suas próprias experiências, apresente e justifique a sua posição pessoal em relação a esse mesmo provérbio.

19. (UEM-PR) Um dos principais problemas de nosso tempo diz respeito à linguagem: seus limites, suas vin-culações, em suma, à sua capacidade de traduzir em signos as coisas. A esse respeito, o filósofo francês Merleau-Ponty afirma: “A palavra, longe de ser um simples signo dos objetos e das significações, habita as coisas e veicula significações. Naquele que fala, a palavra não traduz um pensamento já feito, mas o realiza. E aquele que escuta recebe, pela palavra, o próprio pensamento”.

CHAUI, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2011, p. 196.

A partir do trecho citado, assinale a(s) alternati-va(s) correta(s). 01. A palavra torna real um pensamento por meio da

fala, conferindo-lhe existência. 02. A palavra não consegue expressar a totalidade do

objeto enunciado. 04. A palavra, ouvida ou escrita, é o pensamento

manifesto em sua realidade. 08. A palavra faz uma mediação entre as coisas e o

pensamento. 16. A palavra vincula-se intimamente aos objetos

reais, pois é parte do ser desse objeto.

20. (UPE) O conceito de cultura englobou desde a Grécia Antiga a noção de que o homem modifica o universo segundo seus propósitos. Inserido nele, o homem consegue penetrá-lo e transformá-lo com a força de seu trabalho. As mudanças que ele introduz não são alterações a esmo, implicam um grau de cons-ciência ou intenção, bem como o uso de técnicas capa-zes de melhorar o mundo. E se o fazer integra o modo humano de existir, propiciando a concretização de intentos, pode-se indagar sobre o que se projeta no sonho transformador do homem.

CARVALHO, José Maurício. O homem e a filosofia, 1998, p. 153.

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Com relação a esse assunto, analise os itens a seguir.I. O homem é um ser vivente, que, no cotidiano,

é conhecido como único agente e membro da vida cultural.

II. O trabalho pode ser entendido como atividade do homem transformando a natureza. Assim sendo, parece evidente a relação entre trabalho e realização humana. Tal relação é tão antiga quanto a própria história da humanidade.

III. A civilização tecnológica tem influência marcante no modo de ser e pensar de cada um de nós, assim como na forma da organização econômica, política e cultural das sociedades contemporâneas.

IV. A transformação do mundo material ocorre simultaneamente com a das formas de conhecimento produzidas pelas sociedades ao longo da história. A passagem de um momento para outro, na história das sociedades, ocorre sem conflitos e sem traumas.

V. Os homens não são apenas seres biológicos produzidos pela natureza. São seres culturais que modificam o estado da natureza.

Assinale a alternativa que contém os itens corretos. a) Apenas I, II, IV e V. b) Apenas I, II, III e V. c) Apenas II, III, IV e V. d) Apenas II, IV e V. e) I, II, III, IV e V.

21. (UFMA) Uma das funções pedagógicas da arte se condensa na ideia de que ela faz conhecer o que é intraduzível pela linguagem discursiva.

SOUZA, Sonia Maria Ribeiro. Um outro olhar: filosofia. São Paulo: FTD, 1995.

Partindo desse fragmento, é correto afirmar que: a) entre arte, linguagem e educação, há uma

completa dissociação. b) a linguagem regular é suficiente para traduzir

toda existência, inclusive os elementos da arte. c) entre a arte e a regularidade da linguagem, há

uma completa dissociação. d) entre arte, linguagem e educação, há uma

completa coincidência. e) a arte possibilita conhecer vivências interiores

não traduzíveis na regularidade da linguagem.

22. (UFMA) Nos últimos anos, observa-se a presença considerável de questões ligadas à arte nas escolas formais e informais. Isto se dá, segundo alguns teóri-cos que se ocupam do discurso estético, porque a arte é uma forma de compreender e transformar a reali-dade. Aponte qual alternativa reflete essa visão.

a) A arte conduz o espírito humano a uma forma de vida completamente destituída de interesses materiais e sociais.

b) Muitos artistas contribuíram para grandes transformações sociais, provocando a supervalorização econômica das obras de arte.

c) O discurso estético tem a capacidade de atrair as pessoas, porque lida fundamentalmente com a perspectiva de harmonia e beleza.

d) Conhecendo a arte de cada época, as sociedades presentes têm melhores condições de decidir quanto à tendência estética atual.

e) Há uma função pedagógica da arte que é traduzida pela ideia de que ela leva a conhecer o que escapa ao discurso da ciência e de outras linguagens discursivas.

23. (UEM-PR) A obra de arte é o resultado de uma ope-ração conjunta da natureza e do espírito, que se dá no artista considerado como “gênio”, isto é, que cria sob o impulso obscuro da natureza; é o resultado de uma conjunção, ou melhor, de uma coincidência entre este impulso natural, inconsciente, e a atividade consciente, livre, voluntária. ‘A atividade livre torna-se involuntá-ria’, e a atividade espontânea, instintiva, torna-se livre. O artista está acima ou aquém dos contrários, na origem das coisas, semelhante a Deus. Ligando-se à origem das coisas, ele consegue decifrar a natureza inteira como um hieróglifo ou como uma obra cujo segredo conhece.

HAAR, M. A obra de arte. Tradução de Maria Helena Kuhner. 2.ed. Rio de Janeiro: DIFEL,

2007, p. 42-3. Coleção Enfoques – Filosofia.

Sobre o excerto citado, assinale o que for correto. 01. A arte é uma forma de saber ou um conhecimento

que revela a natureza implícita das coisas. 02. O gênio é um conceito estético utilizado para

designar a atividade criadora do artista. 04. Na obra de arte genial, liberdade do espírito e

necessidade da matéria são coincidentes. 08. Como os hieróglifos, as obras de arte precisam

ser interpretadas. 16. A arte deforma a natureza, pois o artista, ao

contrário de Deus, não é perfeito.

24. (Unioeste) Por beleza entendo aquela qualidade, ou aquelas qualidades dos corpos em virtude das quais eles despertam amor ou alguma paixão seme-lhante. [...] É comum dizer-se que a beleza consiste em certas proporções das partes. Após examinar a ques-tão, tenho muitos motivos para duvidar de que essa qualidade seja absolutamente uma ideia relacionada à proporção. A proporção reporta-se quase exclu-sivamente à adequação, como parece ocorrer com toda a noção de ordem, e deve, portanto, ser conside-rada antes como um produto do entendimento do que como uma causa fundamental que age sobre os sen-tidos e a imaginação. Não é pela força de uma aten-ção e de um exame prolongados que julgamos belo um objeto; a beleza não requer nenhum auxílio de nosso raciocínio, e até mesmo a vontade lhe é indiferente; a presença da beleza desperta tão eficazmente um certo grau de amor em nós quanto a aplicação do gelo ou do fogo produz ideias de frio ou de calor. (E. Burke)

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Considerando o texto anterior, é incorreto afirmar que: a) o autor discorda das concepções de beleza que a

consideram como um arranjo ordenado de partes com determinada proporção.

b) não há um consenso entre os filósofos do que seja beleza.

c) o autor considera que a beleza nos desperta amor de forma análoga àquela que o fogo nos provoca calor.

d) a beleza, segundo o autor, pode ser resultado de nosso raciocínio ou mesmo de nossa vontade.

e) neste texto, o autor investiga quais faculdades humanas podem estar envolvidas ou não em nossa percepção da beleza.

25. (Unioeste) Existe sempre um aspecto inteligí-vel na experiência estética da arte que não deve ser negligenciado. Sem a interpretação daquele que vê ou ouve, sem a construção de sentido por aquele que per-cebe, não há beleza ou obra de arte.

Charles Feitosa.

A partir da citação acima. é correto afirmar que: a) a capacidade de apreciar a beleza se dá

exclusivamente pelos órgãos dos sentidos. b) a reflexão e a racionalidade não interferem na

apreciação estética. c) a arte é para sentir, e não para pensar. d) a fruição da beleza na arte não coincide

inteiramente com a mera experiência sensorial, mas exige também a participação do pensamento.

e) como o termo “estética” remete à expressão grega aisthesis, que significa “percepção por meio dos sentidos e/ou dos sentimentos”, a estética é uma ciência exclusivamente da sensibilidade.

26. (Unioeste) O nascimento da estética como disci-plina filosófica está indissoluvelmente ligado à muta-ção radical que intervém na representação do belo quando este é pensado em termos de gosto, portanto, a partir do que no homem irá logo aparecer como a essência mesma da subjetividade, como o mais sub-jetivo do sujeito. Com o conceito de gosto, efetiva-mente, o belo é ligado tão intimamente à subjetivi-dade humana que se define, no limite, pelo prazer que proporciona, pelas sensações ou pelos sentimentos que suscita em nós.

(…) Com o nascimento do gosto, a antiga filoso-fia da arte deve, portanto, ceder lugar a uma teoria da sensibilidade.

Luc Ferry.

Assinale a alternativa que não está relacionada com a Estética como disciplina filosófica. a) Estética e a tradução da palavra grega aisthetiké

que significa “conhecimento sensorial, experiência sensível, sensibilidade”; só na modernidade, por volta de 1750, foi utilizada para referir-se aos estudos das obras de arte enquanto criações da sensibilidade, tendo como finalidade o belo.

b) Desde seu nascimento como disciplina específica da filosofia, a Estética afirma a autonomia das artes pela distinção entre beleza, bondade e verdade.

c) Ainda que a obra de arte seja essencialmente particular, em sua singularidade única ela oferece algo universal. Eis a peculiaridade do juízo de gosto: proferir um julgamento de valor universal tendo como objeto algo singular e particular.

d) A Estética não cabe apenas ocupar-se com o sentimento de beleza, mas também com o sentimento de sublime.

e) Considerando que tanto o gosto do artista quanto os gostos do público são individuais e incomparáveis e que, portanto, “gosto não se discute”, a Estética como disciplina da Filosofia está destinada ao fracasso, pois não é possível dar universalidade ao juízo de gosto.

27. (UEMA) Kant definiu a Estética como sendo ciên-cia. E completando, Alexander Brumgarten a definiu como sendo a teoria do belo e das suas manifestações através da arte. Como ciência e teoria do belo, a Esté-tica pretende alcançar um tipo específico de conheci-mento que é aquele captado:

a) pela lógica. b) pela razão. c) pela alma. d) pelos sentidos. e) pela emoção.

28. (UEM-PAS) Segundo o filósofo francês Luc Ferry (1951), “O nascimento da estética como disciplina filo-sófica está indissoluvelmente ligado à mutação radi-cal que intervém na representação do belo quando este é pensado em termos de gosto, portanto, a par-tir do que no homem irá logo aparecer como a essên-cia mesma da subjetividade, como o mais subjetivo do sujeito. Com o conceito de gosto, efetivamente, o belo é ligado tão intimamente à subjetividade humana que se define, no limite, pelo prazer que proporciona, pelas sensações ou pelos sentimentos que suscita em nós [...]. Com o nascimento do gosto, a antiga filoso-fia da arte deve, portanto, ceder lugar a uma teoria da sensibilidade.

FERRY L. Homo aestheticus – a invenção do gosto na era democrática. In: CHAUÍ, M. Con-

vite à filosofia. São Paulo: Ática, 2011, p. 350.

A respeito das noções de estética e filosofia da arte, assinale o que for correto. 01. A teoria estética, nascida no século XVIII,

investiga não apenas a beleza intrínseca às obras de arte, mas também os mecanismos subjetivos da criação artística.

02. Segundo Immanuel Kant (1724-1804), embora a experiência estética seja individual e particular, ela também possui, ao mesmo tempo, caráter universal, pois a beleza é uma ideia da razão, tal como as ideias de liberdade e de imortalidade da alma.

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04. Para o movimento romântico dos séculos XVIII e XIX, a finalidade da arte é o conhecimento da natureza por meio de sua imitação ou reprodução.

08. A partir do século XVIII, a obra de arte torna-se objeto de investigação filosófica, à medida que seu valor está subordinado à sua capacidade de representar uma ideologia religiosa ou política.

16. Segundo Kant, a validade universal do juízo de gosto é comprovada pela análise conceitual do objeto artístico contemplado.

29. (Uenp) Estética é um ramo da Filosofia que tem por objeto o estudo da natureza do belo e dos fun-damentos da arte. Ela estuda o juízo e a percepção do que é considerado belo, a produção das emoções pelos fenômenos estéticos, bem como as diferentes formas de arte e do trabalho artístico; a ideia de obra de arte e de criação; a relação entre matérias e formas nas artes. Por outro lado, a estética também pode ocu-par-se da privação da beleza, ou seja, o que pode ser considerado feio, ou até mesmo ridículo. Sobre filoso-fia estética, julgue as proposições a seguir.

I. Aristóteles desvaloriza as manifestações artísticas, posto que as considera como imitação da imitação.

II. Platão desenvolve um conceito de beleza baseado na ideia de proporcionalidade, na simetria e na definição.

III. Hume sugere uma teoria do gosto deslocando a noção de belo e feio do objeto para o sujeito.

Assinale a alternativa correta.

a) I, II e III estão corretas. b) I e III estão corretas. c) II e III estão corretas. d) apenas III está correta. e) todas estão incorretas.

30. (UEM-PR) Para os filósofos gregos, a poesia, a pintura, a escultura e até mesmo a música são artes miméticas, que têm por essência a imitação.

NUNES, Benedito. Introdução à filosofia da arte. 5ª. ed. São Paulo: Ática, 2010, p.37.

Sobre o estatuto da mímesis, assinale o que for correto. 01. Para Platão, a pintura e a escultura não imitam

a ideia, a forma essencial, que é a verdadeira realidade, mas a aparência sensível, defectiva e ilusória, que o conhecimento intelectual tem por fim corrigir e conceitualizar.

02. Aristóteles acredita que no homem a tendência imitativa está associada à própria razão, a qual se manifesta na arte, que é um modo correto e racional de fazer e de produzir.

04. No teatro, o caráter mimético da arte expressa-se no uso da máscara, usada pelo herói, visto que representa sua verdadeira personalidade.

08. Entre os pré-socráticos, Heráclito defende o caráter mimético da arte, cuja função é representar a unidade harmônica da natureza.

16. Para Sócrates, o artista, particularmente o escultor, quando na obra de arte alcança a beleza, consegue reproduzir o estado interior, os movimentos da alma do seu modelo.

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Exercícios propostosPortuguês capítulo 2

262

31. (Fuvest-SP) Leia este texto.

O ano nem sempre foi como nós o conhecemos agora. Por exemplo: no antigo calendário romano, abril era o segundo mês do ano. E na França, até meados do século XVI, abril era o primeiro mês. Como havia o hábito de dar presentes no começo de cada ano, o primeiro dia de abril era, para os franceses da época, o que o Natal é para nós hoje, um dia de alegrias, salvo para quem ganhava meias ou uma água-de-colônia barata. Com a introdução do calendário gregoriano, no século XVI, pri-meiro de janeiro passou a ser o primeiro dia do ano e, portanto, o dia dos presentes. E primeiro de abril passou ser um falso Natal – o dia de não se ganhar mais nada.

Por extensão, o dia de ser iludido. Por extensão, o Dia da Mentira.

Luís F. Veríssimo, As mentiras que os homens contam. Adaptado.

a) Tendo em vista o contexto, é correto afirmar que o trecho “meias ou uma água-de-colônia barata” deve ser entendido apenas em seu sentido literal? Justifique sua resposta.

b) Crie uma frase que contenha um sinônimo da palavra “salvo”, mantendo o sentido que ela tem no texto.

32. (ENEM)

Disponível em: www.ccsp.com.br. Acesso em: 26 jul. 2010 (adaptado).

O anúncio publicitário está intimamente ligado ao ideário de consumo quando sua função é vender um produto. No texto apresentado, utilizam-se elementos linguísticos e extralinguísticos para divulgar a atração “Noites do Terror”, de um parque de diversões. O enten-dimento da propaganda requer do leitor: a) a identificação com o público-alvo a que se destina

o anúncio. b) a avaliação da imagem como uma sátira às

atrações de terror. c) a atenção para a imagem da parte do corpo

humano selecionada aleatoriamente. d) o reconhecimento do intertexto entre a

publicidade e um dito popular. e) a percepção do sentido literal da expressão “noites

do terror”, equivalente à expressão “noites de terror”.

Texto para a próxima questão

Esse texto do século XVI reflete um momento de expansão portuguesa por vias marítimas, o que demandava a apropriação de alguns gêneros discur-sivos, dentre os quais a carta. Um exemplo dessa pro-dução é a Carta de Caminha a D. Manuel. Considere a seguinte parte dessa carta:

Nela [na terra] até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata... porém a terra em si é de muito bons ares assim frios e temperados como os de Entre-Doiro-e-Minho. Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem, porém o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente e esta deve ser a principal semente que vossa alteza em ela deve lançar.

33. (IFSP) Assinale a alternativa em que as palavras grifadas estão empregadas em sentido conotativo.

a) ...porém a terra em si é de muito bons ares... b) Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é

graciosa que querendo-a aproveitar... c) ...querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem

das águas que tem... d) ...o melhor fruto que nela se pode fazer me parece

que será salvar esta gente... e) ...esta deve ser a principal semente que vossa

alteza em ela deve lançar.

Texto para a próxima questão

Buscando a excelência

Lya Luft

Estamos carentes de excelência. A mediocridade reina, assustadora, implacável e persistentemente. Auto-ridades, altos cargos, líderes, em boa parte desinforma-dos, desinteressados, incultos, lamentáveis. Alunos que saem do ensino médio semianalfabetos e assim entram nas universidades, que aos poucos – refiro-me às públi-cas – vão se tornando reduto de pobreza intelectual.

As infelizes cotas, contras as quais tenho escrito e às quais me oponho desde sempre, servem magnifica-mente para alcançarmos este objetivo: a mediocrização também do ensino superior. Alunos que não conseguem raciocinar porque não lhes foi ensinado, numa educação de brincadeirinha. E, porque não sabem ler nem escre-ver direito e com naturalidade, não conseguem expor em letra ou fala seu pensamento truncado e pobre. [...] E as cotas roubam a dignidade daqueles que deveriam ter acesso ao ensino superior por mérito [...] Meu conceito serve para cotas raciais também: não é pela raça ou cor, sobretudo autodeclarada, que um jovem deve conseguir diploma superior, mas por seu esforço e capacidade. [...]

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Em suma, parece que trabalhamos para facili-tar as coisas aos jovens, em lugar de educá-los com e para o trabalho, zelo, esforço, busca de mérito, uso da própria capacidade e talento, já entre as crian-ças. O ensino nas últimas décadas aprimorou-se em fazer os pequenos aprender brincando. Isso pode ser bom para os bem pequenos, mas já na escola elemen-tar, em seus primeiros anos, é bom alertar, com afeto e alegria, para o fato de que a vida não é só brinca-deira, que lazer e divertimento são necessários até à saúde, mas que a escola é também preparação para uma vida profissional futura, na qual haverá disci-plina e limites – que aliás deveriam existir em casa, ainda que amorosos.

Muitos dirão que não estou sendo simpática. Não escrevo para ser agradável, mas para partilhar com meus leitores preocupações sobre este país com suas maravilhas e suas mazelas, num momento funda-mental em que, em meio a greves, justas ou desati-nadas, [...] se delineia com grande inteligência e pre-cisão a possibilidade de serem punidos aqueles que não apenas prejudicaram monetariamente o país, mas corroeram sua moral, e a dignidade de milhões de brasileiros. Está sendo um momento de excelência que nos devolve ânimo e esperança.

Fonte: Revista Veja, de 26.09.2012. Adaptado.

34. (IFSP) Assinale a alternativa em que o termo gri-fado está empregado em seu sentido conotativo.

a) Alunos que saem do ensino médio semianalfabetos e assim entram nas universidades (...) (1º parágrafo.)

b) Alunos que não conseguem raciocinar porque não lhes foi ensinado, numa educação de brincadeirinha. (2º parágrafo.)

c) (...) não é pela raça ou cor, sobretudo autodeclarada, que um jovem deve conseguir diploma superior, mas por seu esforço e capacidade. (2º parágrafo.)

d) O ensino nas últimas décadas aprimorou-se em fazer os bem pequenos aprender brincando. (3º parágrafo.)

e) (...) a possibilidade de serem punidos aqueles que não apenas prejudicaram monetariamente o país, mas corroeram sua moral (...) (4º parágrafo.)

Texto para a próxima questão

Quando o falante de uma língua depara um con-junto de duas palavras, intuitivamente é levado a sen-tir entre elas uma relação sintática, mesmo que este-jam fora de um contexto mais esclarecedor.

Assim, além de captar o sentido básico das duas palavras, o receptor atribui-lhes uma gramática – formas e conexões. Isso acontece porque ele traz registrada em sua mente toda a sintaxe, todos os padrões conexionais possíveis em sua língua, o que o torna capaz de reconhecê-los e identificá-los. As duas palavras não estão, para ele, apenas dispos-tas em ordem linear: estão organizadas em uma ordem estrutural.

A diferença entre ordem estrutural e ordem linear torna-se clara se elas não coincidem, como nesta frase que um aluno criou em aula de redação, quando todos deviam compor um texto para outdoor, sobre uma fotografia da célebre cabra de Picasso: “Beba leite de cabra em pó!”. Como todos rissem, o autor da frase emendou: “Beba leite em pó de cabra!”.

Pior a emenda do que o soneto.Flávia de Barros Carone. Morfossintaxe, 1986. Adaptado.

35. (Unifesp) Assinale a alternativa que traz uma explicação plausível para o riso dos alunos.

a) As expressões “de cabra” e “em pó” são regidas pelo mesmo termo – “leite” – e, da forma como são empregadas, geram enunciados ambíguos.

b) As expressões “de cabra” e “em pó” estão empregadas em sentido figurado, referindo-se ao mesmo termo regente – “leite”.

c) O verbo da oração – “Beba” – pode admitir dois complementos, havendo a falsa ideia de que “de cabra” seja um deles.

d) O contexto da oração é insuficiente para recuperar o referente das expressões “de cabra” e “em pó”, potencialmente referentes a “Beba” e “leite”.

e) O emprego da expressão “em pó” em sentido figurado cria duplo sentido ao enunciado, interpretando-a como complemento do verbo – “Beba”.

Textos para a próxima questão

Texto I

A rede veia

Luiz Queiroga e Cel. Ludugero

Eu tava com a Felomena Ela quis se refrescar O calor tava malvado Ninguém podia aguentar Ela disse meu Lundru Nós vamos se balançar A rede veia comeu foi fogo Foi com nois dois pra lá e pra cá

Começou a fazer vento com nois dois a palestrarFilomena ficou beba de tanto se balançar Eu vi o punho da rede começar a se quebrar A rede veia comeu foi fogo Só com nois dois pra lá e pra cá

A rede tava rasgada e eu tive a impressão Que com tanto balançado nois terminava no chão Mas Felomena me disse, meu bem vem mais pra cá A rede veia comeu foi fogo Foi com nois dois pra lá e pra cá Disponível em: <http://www.luizluagonzaga.mus.br/index.

php? option=com_content&task=view&id=&&&Itemid= 103>.Acesso em: 02 ago. 2011.

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Texto II

PescariaDorival Caymmi

Ô canoeiro, bota a rede, bota a rede no mar ô canoeiro, bota a rede no mar.

Cerca o peixe, bate o remo,puxa a corda, colhe a rede, ô canoeiro, puxa a rede do mar.

Vai ter presente pra Chiquinha ter presente pra laiá, canoeiro, puxa a rede do mar. Cerca o peixe, bate o remo, puxa a corda, colhe a rede, ô canoeiro, puxa a rede do mar.

Louvado seja Deus, ó meu pai.

Disponível em: <http://www.miltonnascimento.com.br/#/obra>. Acesso em: 02 ago. 2011.

Texto III

A redeLenine e Lula Queiroga

Nenhum aquário é maior do que o mar Mas o mar espelhado em seus olhos Maior me causa o efeito De concha no ouvido

Barulho de mar Pipoco de onda Ribombo de espuma e sal Nenhuma taça me mata a sede Mas o sarrabulho me embriaga Mergulho na onda vaga E eu caio na rede, Não tem quem não caia E eu caio na rede, Não tem quem não caia

Às vezes eu penso que sai dos teus olhos o feixeDe raios que controla a onda cerebral do peixe

Nenhuma rede é maior do que o mar Nem quando ultrapassa o tamanho da TerraNem quando ela acerta,Nem quando ela erra Nem quando ela envolve todo o Planeta

Explode e devolve pro seu olhar O tanto de tudo que eu tô pra te dar Se a rede é maior do que o meu amor Não tem quem me prove Se a rede é maior do que o meu amor Não tem quem me prove

Disponível em: http://www.lenine.com.br/fai-xa/a-rede-1. Acesso em: 02 ago. 2011.

Texto IV

Nina

Chico Buarque

Nina diz que tem a pele cor de neveE dois olhos negros como o breuNina diz que, embora novaPor amores já chorouQue nem viúvaMas acabou, esqueceu

Nina adora viajar, mas não se atreve Num país distante como o meu Nina diz que fez meu mapa E no céu o meu destino rapta O seu

Nina diz que se quiser eu posso ver na tela A cidade, o bairro, a chaminé da casa dela Posso imaginar por dentro a casa A roupa que ela usa, as mechas, a tiara Posso até adivinhar a cara que ela faz Quando me escreve

Nina anseia por me conhecer em breve Me levar para a noite de Moscou Sempre que esta valsa toca Fecho os olhos, bebo alguma vodca E vou

Disponível em: <http://www.chicobuarque.com.br/construcao/mestre.asp?pg=nina_2011.htm>.

Acesso em: 02 ago. 2011.

36. (UFF-RJ) Os textos I, II, III e IV são letras de can-ções brasileiras, compostas em diferentes momen-tos, e apresentam palavras e expressões que reme-tem, de modo explícito ou sugerido, a alguns dos muitos sentidos da palavra rede.

Assinale a afirmativa correta em relação às possibilidades de interpretação dos fragmentos selecionados.

a) “ô canoeiro, / bota a rede no mar” (Texto II, linhas 4-5). A palavra rede constrói uma metáfora com o mesmo sentido usado na expressão rede bancária.

b) “A rede veia comeu foi fogo / Só com nois dois pra lá e pra cá” (Texto I, linhas 12-13). A palavra rede, empregada com valor conotativo nesses versos, possui sentido equivalente à expressão rede de arrasto.

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c) “Nina diz que se quiser eu posso ver na tela / A cidade, o bairro, a chaminé da casa dela” (Texto IV, linhas 12-13). A palavra tela é empregada metonimicamente e remete às comunicações realizadas por meio de redes de computadores.

d) “E eu caio na rede / Não tem quem não caia” (Texto III, linhas 13-14). A expressão cair na rede é usada em sentido figurado e possui o mesmo sentido de cair da rede.

e) “Nenhuma rede é maior do que o mar / Nem quando ultrapassa o tamanho da Terra” (Texto III, linhas 17-18). O trecho desfaz a polissemia da palavra rede, que pode aí ser entendida somente como rede usada para apanhar peixe.

Texto para a próxima questão

A linha e o linho

Lenine

É a sua vida que eu quero bordar na minhaComo se eu fosse o pano e você fosse a linhaE a agulha do real nas mãos da fantasiaFosse bordando ponto a ponto nosso diaE fosse aparecendo aos poucos nosso amorOs nossos sentimentos loucos, nosso amorO zigue-zague do tormento, as cores da alegriaA curva generosa da compreensãoFormando a pétala da rosa, da paixãoA sua vida o meu caminho, nosso amorVocê a linha e eu o linho, nosso amorNossa colcha de cama, nossa toalha de mesaReproduzidos no bordadoA casa, a estrada, a correntezaO sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza

37. (IFPE) Qual a única afirmativa verdadeira a res-peito do texto A linha e o linho?

a) No segundo verso, não podemos dizer que ocorre uma metáfora, devido ao fato de o conectivo comparativo “como” estar explícito.

b) “Zigue-zague” é uma tentativa de imitação de um som ou ruído natural, que chamamos de metonímia.

c) O eu lírico tem a intenção de transmitir seus sentimentos, por isso faz uso da função poética e de uma linguagem predominantemente denotativa.

d) Em sentido figurado, poderíamos dizer que, nos versos 8 (oito) e 9 (nove), a paixão é a responsável pela construção no bordado da vida de uma pétala de rosa.

e) Fica clara, no texto, uma submissão do eu lírico em relação à amada, tendo em vista que ela é quem comanda o processo criativo do bordado.

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Tarde cinzenta

A tarde de inverno é perfeita. O tempo nublado acinzenta tudo. Mesmo os mais empedernidos cul-tores da agitação, do barulho, das cores, hoje se ren-

dem a uma certa passividade e melancolia. Os espíri-tos ensimesmados reinam; os ativos pagam tributo à reflexão. Sem o sol, que provoca a rudeza dos contras-tes, tudo é sutil, tudo é suave.

Tardes assim nos reconciliam com o efêmero. Longe das certezas substanciais, ficamos flutuando entre as névoas da dúvida. A superficialidade, que aparentemente plenifica, dissolve-se; acabamos anco-rados no porto das insatisfações. E, ao invés de nos perenizarmos como singularidade, desejamos subsu-mir na névoa... como a montanha e a tarde.

A vida sempre para numa tarde assim. É como se tudo congelasse. Moléculas, músculos, máquinas e espíritos interrompem seu furor produtivo e se ren-dem, estáticos, à magia da tarde cinzenta.

Numa tarde assim, não há senão uma coisa a fazer: contemplar. O espírito, carregando consigo um corpo por vezes contrariado, aquieta-se e divaga; tor-na-se receptivo a tudo: aos mínimos sons, às réstias de luz que atravessam a névoa, ao lento e pesado pro-gresso que tudo conduz para o fim do dia, para o mer-gulho nas brumas da noite. As narinas absorvem com prazer um odor que parece carregado de umidade; a pele sente o toque enérgico do frio. O langor impõe-se e comanda esse estar-no-mundo como que sus-penso por um tênue fio que nos liga, timidamente, à vida ativa.

Nas tardes cinzentas, o coração balança entre a paz e a inquietação, porque a calma e o silêncio inquietam. O azáfama anestesia; o não fazer deixa o espírito alerta — como um nervo exposto a qualquer acontecer.

Não há jamais nada de espetacular nas tardes cinzentas, a não ser o espetáculo da própria tarde. E este é grandiosamente simples: ar friorento, claridade difusa que se perde no cinza, contemplação, inativi-dade e o contraditório do espírito aguçado e acuado por esse acontecer minimalista da vida.

Na tarde fria e cinzenta, corpos se rendem ao aconchego de roupas macias ou de braços macios em abraços suaves. Somente olhares e corações conser-vam o fogo das paixões. As vozes agudas e imperati-vas transformam-se em sons baixos, quase guturais, que muitas vezes convertem-se em sussurros, como temendo quebrar a magia da tarde.

Não nos iludamos com as aparências: não há neces-sariamente tristeza nas tardes cinzentas. Mas tam-bém não existe aquela alegria inconsequente dos dias cálidos e dourados pelo sol. Existe, sim, um equilíbrio perfeito, numa equidistância entre o tédio e a euforia, fazendo-nos caminhar sobre um tênue fio distendido entre o amargor e a satisfação, entre o entusiasmo e o tédio. Tudo isso, porém, só se mostra aqui e ali, em meio à bruma difusa, ao cinza que permeia tudo.

Uma simples tarde cinzenta pode parar o mundo, pode deter a vida. Somente por um instante. Mas tal-vez apenas nos corações sensíveis.

CARINO, J.Disponível em: <http://www.almaca-

rioca.net/tarde-cinzenta-j-carino/>.Acesso em: 23 ago. 2010. (Adaptado)

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38. (Cesgranrio) A expressão que, no texto, está empregada no sentido conotativo é:

a) “...tarde de inverno...” b) “...a montanha e a tarde.” c) “...tardes cinzentas,”d) “...roupas macias...”e) “...tênue fio...”

39. (PUC-RS)

Texto 1

Se não tivéssemos medo, não teríamos nenhum receio de carros em alta velocidade, de animais venenosos e de doenças contagiosas. Tanto nos seres humanos como nos animais, o medo tem por objetivo promover a sobrevivência. Com o decor-rer do tempo, as pessoas que sentiram medo tive-ram mais pressão evolutiva favorável.

Hoje, não precisamos mais lutar por nossas vidas na selva, mas o medo está longe de desa-parecer, pois continua servindo ao mesmo pro-pósito que servia na época em que nos encontrá-vamos com um leão enquanto trazíamos água do rio. A diferença é que agora carregamos car-teiras e andamos pelas ruas da cidade. A deci-são de usar ou não aquele atalho deserto à meia-noite é baseada em um medo racional que pro-move a sobrevivência. Na verdade, o que mudou foram só os estímulos, já que corremos o mesmo risco que corríamos há centenas de anos e nosso medo ainda serve para nos proteger da mesma forma que nos protegia antes.

A maioria de nós jamais esteve perto da peste bubônica (epidemia que atacou a Europa na época medieval), mas nosso coração para ao vermos um rato. Para o ser humano, além do instinto, também há outros fatores envolvidos no medo. O ser humano pode ter o dom da ante-cipação, o que nos faz imaginar coisas terríveis que poderiam acontecer: coisas que ouvimos, lemos ou vemos na TV. A maioria de nós nunca vivenciou um acidente de avião, mas isso não nos impede de sentar em um avião e agarrar firme nos apoios dos braços. A antecipação de um estímulo de medo pode provocar a mesma reação que teríamos se vivêssemos a situação real. Isso também é um benefício obtido com a evolução.

Disponível em: <http://pessoas.hsw.uol.com.br/medo1.htm>. 1 set. 2009 (Adaptado).

Texto 2

A coragem (...) só se torna uma virtude quando a serviço de outrem ou de uma causa geral e generosa. Como traço de caráter, a cora-gem é, sobretudo, uma fraca sensibilidade ao medo, seja por ele ser pouco sentido, seja por ser bem suportado, ou até provocar prazer. É a coragem dos estouvados, dos brigões ou dos impávidos, a coragem dos “durões”, como se diz

em nossos filmes policiais, e todos sabem que a vir-tude pode não ter nada a ver com ela.

Isso quer dizer que ela é, do ponto de vista moral, totalmente indiferente? Não é tão simples assim. Mesmo numa situação em que eu agiria apenas por egoísmo, pode-se estimar que a ação generosa (por exemplo, o combate contra um agressor, em vez da súplica) manifestará maior domínio, maior digni-dade, maior liberdade, qualidades moralmente sig-nificativas e que darão à coragem, como que por retroação, algo de seu valor: sem ser sempre moral, em sua essência, a coragem é aquilo sem o que, não há dúvida, qualquer moral seria impossível ou sem efeito. Alguém que se entregasse totalmente ao medo que lugar poderia deixar aos seus deveres? (...) O medo é egoísta. A covardia é egoísta. (...) Como virtude, ao contrário, a coragem supõe sempre uma forma de desinteresse, de altruísmo ou de generosi-dade. Ela não exclui, sem dúvida, uma certa insen-sibilidade ao medo, até mesmo um gosto por ele. Mas não os supõe necessariamente. Essa coragem não é a ausência do medo, é a capacidade de superá- -lo, quando ele existe, por uma vontade mais forte e mais generosa. Já não é (ou já não é apenas) fisiolo-gia, é força de alma, diante do perigo. Já não é uma paixão, é uma virtude, é a condição de todas. Já não é a coragem dos durões, é a coragem dos doces, e dos heróis.

André Comte-Sponville. Pequeno tratado das grandes virtudes. p. 55-57 (Adaptado).

Texto 3

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Para responder à questão, preencha os parênte-ses com V (verdadeiro) ou F (falso), considerando as afirmativas sobre o texto 3 e relacionando-as, se for o caso, com as ideias presentes nos textos 1 e 2.( ) No primeiro quadrinho, a palavra “hostilidade”

está sendo usada com uma conotação positiva.( ) O conceito de “ação generosa”, apresentado no

texto 2 (2º parágrafo), é exemplificado nos planos das crianças, no segundo quadro do texto 3.

( ) No terceiro e no quarto quadrinhos, as falas de Hamlet indicam que ele já vivenciou a situação descrita.

( ) O “dom da antecipação”, explicitado no texto 1 (3º parágrafo), pode ser ilustrado pela manifestação das crianças, no quinto quadro do texto 3.A sequência correta, resultante do preenchimento

dos parênteses, de cima para baixo, é: a) V – F – F – V b) F – V – F – V c) V – V – F – F d) V – F – V – F e) F – F – V – V

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Para quem quer aprender a gostar

01 Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar: aprenda a fazer bonito o seu amor. Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito. Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito. Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender.

02 Tenho visto muito amor por aí. Amores mesmo, bravios, gigantescos, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva. Mas esbarram na dificuldade de se tornar bonitos. Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção. Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.

03 Aí esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais de repente se percebem ameaçados apenas e tão-somente porque não sabem ser bonitos: cobram, exigem; rotinizam; descuidam; reclamam; deixam de compreender; necessitam mais do que oferecem; precisam mais do que atendem; enchem-se de razões. Sim, de razões. Ter razão é o maior perigo do amor. Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reivindicar, de exigir justiça, equidade, equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa ter razão. Nem queira. Ter razão é um perigo: em geral enfeia o amor, pois é invocado com justiça, mas na hora errada. Amar bonito é saber a hora de ter razão.

04 Ponha a mão na consciência. Você tem certeza de que está fazendo o seu amor bonito? De que está tirando do gesto, da ação, da reação, do olhar, da saudade, da alegria do encontro, da dor do desencontro a maior beleza possível? Talvez não. Cheio ou cheia de razões, você espera

do amor apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode trazer. Quem espera mais do que isso sofre, e sofrendo deixa de amar bonito. Sofrendo, deixa de ser alegre, igual, irmão, criança. E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.

05 Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia. Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama. Saia cantando e olhe alegre. Recomendam-se: encabulamentos, ser pego em flagrante gostando; não se cansar de olhar, e olhar; não atrapalhar a convivência com teorizações; adiar sempre, se possível com beijos, ‘aquela conversa importante que precisamos ter’; arquivar, se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida. Para quem ama, toda atenção é sempre pouca. Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser toda a atenção possível. Quem ama bonito não gasta o tempo dessa atenção cobrando a que deixou de ter.

06 Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores que vemos a vida como a criança de nariz encostado na vitrina cheia de brinquedos dos nossos sonhos); não teorize sobre o amor; ame. Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.

07 Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme, como: a sinceridade; não dar certo; depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito); abrir o coração; contar a verdade do tamanho do amor que sente.

08 Jogue por alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas, atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser. Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs. Falando besteira, mas criando sempre. Gaguejando flores. Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil. Revivendo os carinhos que intuiu em criança. Sem medo de dizer eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.

09 Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito, ou fazer bonito o seu amor, ou bonitar fazendo o seu amor, ou amar fazendo o seu amor bonito (a ordem das frases não altera o produto), sempre que ele seja a mais verdadeira expressão de tudo o que você é, e nunca: deixaram, conseguiu, soube, pôde, foi possível, ser.

10 Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto. Não se preocupe mais com ele e suas definições. Cuide agora da forma. Cuide da voz. Cuide da fala. Cuide do cuidado. Cuide do carinho. Cuide de você. Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz.

TÁVOLA, Arthur da. Para quem quer aprender a amar. In: COSTA, Dirce Maura Lucchetti et al. Estudo de texto:

estrutura, mensagem, re-criação. Rio, DIMAC, 1987. p. 25-6.

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40. (Uece) Está empregada no sentido conotativo a palavra:

a) “cercas”, parágrafo 5. b) “escritores”, parágrafo 6. c) “brinquedos”, parágrafo 6. d) “manhãs”, parágrafo 8.

Texto para a próxima questão

Você sabia que com pouco esforço é possível aju-dar o planeta e o seu bolso?

Ao usarmos a energia elétrica para aparelhos ele-trônicos e lâmpadas, também emitimos gás carbô-nico, um dos principais gases do efeito estufa. Atitu-des simples como trocar lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes e puxar da tomada os aparelhos que não estão em uso reduzirão a sua conta de luz e as nossas emissões de CO2 na atmosfera.

Planeta sustentável: conhecimento por um mundo melhor

41. (Mackenzie-SP – modificado) Assinale a alterna-tiva que indica recurso empregado no texto.

a) Intertextualidade, já que se pode notar apropriação explícita e marcada, por meio de citações, de trechos de outros textos.

b) Conotação, uma vez que o texto emprega em toda a sua extensão uma linguagem que adota tom pessoal e subjetivo.

c) Ironia, observada no emprego de expressões que conduzem o leitor a outra possibilidade de interpretação, sempre crítica.

d) Denotação, pois há a utilização objetiva de palavras e expressões que destacam a presença da função referencial.

e) Metalinguagem, uma vez que a linguagem adotada serve exclusivamente para tratar da própria linguagem.

42. (UEL-PR) Assinale a alternativa em que a conota-ção esteja presente.

a) Diante da explosão da aniversariante, todos engoliram o sorriso.

b) A mesa estava imunda e as mães enervadas com o barulho que os filhos faziam.

c) O vendedor insistira muito e ela, sempre tão tímida quando a constrangiam, acabou por comprar as rosas.

d) Quando recolheu do chão o caderno aberto, viu a letra redonda e graúda que era a sua.

e) Todas eram vaidosas e de pernas finas, com aqueles colares falsificados e com as orelhas cheias de brincos.

43. (ENEM)

Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida da chuva, e descansou na pedra o cachimbo.

Dois ou três passantes rodearam-no e indaga-ram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.

TREVISAN, D. Uma vela para Dario. Cemitério de Elefan-tes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964 (adaptado).

No texto, um acontecimento é narrado em lingua-gem literária. Esse mesmo fato, se relatado em versão jornalística, com características de notícia, seria iden-tificado em: a) Aí, amigão, fui diminuindo o passo e tentei me

apoiar no guarda-chuva... mas não deu. Encostei na parede e fui escorregando. Foi mal, cara! Perdi os sentidos ali mesmo. Um povo que passava falou comigo e tentou me socorrer. E eu, ali, estatelado, sem conseguir falar nada! Cruzes! Que mal!

b) O representante comercial Dario Ferreira, 43 anos, não resistiu e caiu na calçada da Rua da Abolição, quase esquina com a Padre Vieira, no centro da cidade, ontem por volta do meio-dia. O homem ainda tentou apoiar-se no guarda-chuva que trazia, mas não conseguiu. Aos populares que tentaram socorrê-lo não conseguiu dar qualquer informação.

c) Eu logo vi que podia se tratar de um ataque. Eu vinha logo atrás. O homem, todo aprumado, de guarda-chuva no braço e cachimbo na boca, dobrou a esquina e foi diminuindo o passo até se sentar no chão da calçada. Algumas pessoas que passavam pararam para ajudar, mas ele nem conseguia falar.

d) VítimaIdade: entre 40 e 45 anosSexo: masculinoCor: brancaOcorrência: Encontrado desacordado na Rua da Abolição, quase esquina com Padre Vieira. Ambulância chamada às 12h34 por homem desco-nhecido. A caminho.

e) Pronto socorro? Por favor, tem um homem caído na calçada da rua da Abolição, quase esquina com a Padre Vieira. Ele parece desmaiado. Tem um grupo de pessoas em volta dele. Mas parece que ninguém aqui pode ajudar. Ele precisa de uma ambulância rápido. Por favor, venham logo!

44. (Fuvest-SP) Leia este texto:

Entre 1808, com a abertura dos portos, e 1850, no auge da centralização imperial, modificara-se a pacata, fechada e obsoleta sociedade. O país euro-peizava-se, para escândalo de muitos, iniciando um período de progresso rápido, progresso consciente-mente provocado, sob moldes ingleses. O vestuário, a alimentação, a mobília mostram, no ingênuo des-lumbramento, a subversão dos hábitos lusos, vaga-rosamente rompidos com os valores culturais que a presença europeia infiltrava, justamente com as mer-cadorias importadas. O contato litorâneo das duas culturas, uma dominante já no período final da segre-

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gação colonial, articula-se no ajustamento das eco-nomias. Ao Estado, a realidade mais ativa da estru-tura social, coube o papel de intermediar o impacto estrangeiro, reduzindo-o à temperatura e à veloci-dade nativas.

Raymundo Faoro, Os donos do poder.

a) Considerado o contexto, é inteiramente adequado o emprego, no texto, das expressões “europeizava-se” e “presença europeia”? Explique sucintamente.

b) As palavras “litorâneo” e “temperatura” foram usadas, ambas, no texto, em seu sentido literal? Justifique sua resposta.

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Sobre a origem da poesia

A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem.

Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso não poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao per-fil de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas.

Como se ela restituísse, através de um uso especí-fico da língua, a integridade entre nome e coisa − que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da história.

A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas metades − significante e significado.

Houve esse tempo? Quando não havia poe-sia porque a poesia estava em tudo o que se dizia? Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os laços entre os sentidos ainda não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, dança, imagem, cheiro, sabor, consistência se con-jugavam em experiências integrais, associadas a utilidades práticas, mágicas, curativas, religiosas, sexuais, guerreiras?

Pode ser que essas suposições tenham algo de utó-pico, projetado sobre um passado pré-babélico, tri-bal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o presente alcança cria, com sua ocorrên-cia, um pouco desse passado.

Lembro-me de ter lido, certa vez, um comentário de Décio Pignatari, em que ele chamava a atenção para o fato de, tanto em chinês como em tupi, não existir o verbo ser, enquanto verbo de ligação. Assim, o ser das coisas ditas se manifestaria nelas próprias (substanti-vos), não numa partícula verbal externa a elas, o que faria delas línguas poéticas por natureza, mais pro-pensas à composição analógica.

Mais perto do senso comum, podemos atentar para como colocam os índios americanos falando, na maio-ria dos filmes de cowboy − eles dizem “maçã vermelha”, “água boa”, “cavalo veloz”; em vez de “a maçã é verme-lha”, “essa água é boa”, “aquele cavalo é veloz”. Essa forma mais sintética, telegráfica, aproxima os nomes da própria existência − como se a fala não estivesse se referindo àquelas coisas, e sim apresentando-as (ao mesmo tempo em que se apresenta).

No seu estado de língua, no dicionário, as palavras intermedeiam nossa relação com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. A linguagem poética inverte essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo.

(...)Já perdemos a inocência de uma linguagem plena

assim. As palavras se desapegaram das coisas, assim como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou como a criação se desapegou da vida. Mas temos esses peque-nos oásis − os poemas − contaminando o deserto da referencialidade.

ARNALDO ANTUNESwww.arnaldoantunes.com.br

45. (UERJ – modificado) No último parágrafo, o autor se refere à plenitude da linguagem poética, fazendo, em seguida, uma descrição que corresponde à lingua-gem não poética, ou seja, à linguagem referencial.

Pela descrição apresentada, a linguagem referencial teria, em sua origem, o seguinte traço fundamental: a) o desgaste da intuição. b) a dissolução da memória. c) a fragmentação da experiência. d) o enfraquecimento da percepção.

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Língua

Esta língua é como um elásticoque espicharam pelo mundo.

No início era tensa,de tão clássica.

Com o tempo, se foi amaciando,foi-se tornando romântica,incorporando os termos nativose amolecendo nas folhas de bananeiraas expressões mais sisudas.

Um elástico que já não se podemais trocar, de tão usado;nem se arrebenta mais, de tão forte.

Um elástico assim como é a vidaque nunca volta ao ponto de partida.

TELES, Gilberto Mendonça.Hora aberta: poemas reunidos. Rio de Janeiro:

José Olympio; Brasília: INL, 1986.

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46. (UERJ) A segunda e a terceira estrofes retratam a língua em imagens opostas. Ao estado de rigidez se segue o de uma mudança gradual.

Considerando a terceira estrofe, apresente o recurso gramatical que o autor utiliza para expri-mir essa gradação e o verso que reafirma a rigidez já expressa na segunda estrofe.

47. (Insper)

O “gilete” dos tablets

Num mundo capitalista como este em que vive-mos, onde as empresas concorrem para posicionar suas marcas e fixar logotipos e slogans na cabeça dos consumidores, a síndrome do “Gillette” pode ser decisiva para a perpetuação de um produto. É isso que preocupa a concorrência do iPad, tablet da Apple.

Assim como a marca de lâminas de barbear tor-nou-se sinônimo de toda a categoria de barbeadores, eclipsando o nome das marcas que ofereciam produ-tos similares, o mesmo pode estar acontecendo com o tablet lançado por Steve Jobs. O maior temor do mer-cado é que as pessoas passem a se referir aos tablets como “iPad” em geral, dizendo “iPad da Samsung” ou “iPad da Motorola”, e assim por diante.

Disponível em: <http://revistalingua.uol.com.br/tex-tos/blog-edgard/o-gilete-dos-tablets-260395-1.asp>.

No campo da estilística, a figura de linguagem abordada na matéria anterior recebe o nome de: a) metáfora, por haver uma comparação

subentendida entre a marca e o produto. b) hipérbole, por haver exagero dos consumidores na

associação do produto com a marca. c) catacrese, por haver um empréstimo linguístico

na referência à marca do produto famoso. d) metonímia, por haver substituição do produto

pela marca, numa relação de semelhança. e) perífrase, por haver a designação de um objeto

através de seus atributos ou de um fato que o celebrizou.

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A felicidade

Tristeza não tem fim felicidade sim.A felicidade é como a plumaque o vento vai levando pelo ar,voa tão leve, mas tem a vida breveprecisa que haja vento sem parar.

A felicidade do pobreparece a grande ilusão do carnavala gente trabalha o ano inteiropor um momento de sonhopra fazer a fantasiade rei ou de pirata ou jardineirapra tudo se acabar na quarta-feira.

A felicidade é como a gota de orvalhonuma pétala de flor,brilha tranquiladepois de leve oscilae cai como uma lágrima de amor.

A minha felicidadeestá sonhando nos olhosda minha namoradaÉ como esta noite, passando,passando em busca da madrugadaFale baixo por favorpra que ela acordealegre com o diaoferecendo beijos de amor.

MORAES, Vinicius e JOBIM, Tom. As mais belas serestas brasileiras. 9. ed. Belo Horizonte: Bar-

valle Indústria Gráfica Ltda, 1989.

48. (Epcar/Cpcar) Nas duas primeiras estrofes, há uma tentativa de se definir a felicidade, para isso o eu lírico vale-se de:

a) comparações. b) metáforas. c) metonímias. d) hipérboles.

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Superman: 75 anos

Não era um pássaro nem um avião. O verdadeiro Superman era um pacato contador passando férias num 1resort ao norte de Nova York.

Joe Shuster, um dos criadores do personagem, junto com Jerry Siegel, descansava na colônia de férias quando encontrou Stanley Weiss, jovem de rosto qua-drado e porte atlético, que ele julgou ser a encarnação do herói. Lá mesmo, pediu para desenhar o moço que serviria de modelo para os quadrinhos dali em diante. Só neste ano, esses desenhos estão vindo à tona nos EUA como parte das atividades comemorativas dos 75 anos do personagem.

Embora tenha mantido a aparência de rapagão musculoso, Superman não foi o mesmo ao longo dos anos. Nos gibis, oscilou entre mais e menos sarado. Na TV, já foi mais rechonchudo, até reencarnar como o 2púbere Tom Welling, da série de TV “Smallville”.

“Desde pequeno eu sabia que Superman não exis-tia. Mas também sabia que meu pai era o verdadeiro Superman”, brincou David Weiss, filho do modelo do herói, em entrevista à Folha de São Paulo. Weiss cres-ceu comparando o rosto do pai ao desenho pendu-

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rado na sala de casa. Mas logo Joe Shuster, que foi seu principal desenhista, acabaria cedendo espaço para novos cartunistas, que adaptaram a figura aos fatos correntes.

“Essa mudança é o segredo do Superman. Cada época precisa de um herói só seu, e ele sempre pareceu ser o cara certo”, diz Larry Tye, considerado o maior estudioso do personagem. “Nos anos 1930, ele tiraria a América da Grande Depressão. Nos anos 1940, era duro com os nazistas. Nos anos 1950, lutou contra a onda vermelha do comunismo. E foi mudando de cara de acordo com a função.”

Invenção dos judeus Jerry Siegel e Joe Shuster, Superman também é visto como um paralelo da his-tória de Moisés, a criança exilada que cresce numa terra estrangeira e depois se apresenta como um sal-vador. A aparência é um misto do também perso-nagem bíblico Sansão, do deus grego Hércules e de acrobatas de circo. Mas há quem atribua, até hoje, a dualidade do personagem, que se alterna entre o 3nerd indefeso, tímido e de vista fraca (como Joe Shuster) e um super-herói possante, à origem judaica dos seus criadores.

“É o estereótipo judeu do homem fraco, tímido e intelectual que depois se revela um grande herói”, diz Harry Brod, autor do e-book Superman Is Jewish? (Superman é judeu?), lançado nos EUA em novembro passado. “Ele é a versão moderna de Moisés: um bebê de Krypton enviado à Terra, que desenvolve superpo-deres para salvar o seu povo.”

Segundo Brod, a analogia é tão nítida que os nazis-tas chegaram a discutir a suposta relação em revis-tas de circulação interna do regime. Mas, para ele, Hollywood e o tempo suavizaram o paralelo, trans-formando Superman numa releitura de Jesus Cristo. “Sua figura foi se tornando mais cristã com o tempo”, diz Brod. “Não importa a religião. A ideia de um fra-cote que se torna um herói não deixa de ser uma fan-tasia universal.”

Silas MartíAdaptado de folha.uol.com.br, 3 mar. 2013.

1resort − hotel com área de recreação2púbere − adolescente3nerd − pessoa muito estudiosa

49. (UERJ – modificado) “Desde pequeno eu sabia que Superman não existia. Mas também sabia que meu pai era o verdadeiro Superman”

Essas frases foram ditas, em tom de brinca-deira, pelo filho do homem que inspirou o desenho do personagem.

O tom de brincadeira é construído sobre um ele-mento linguístico que pode ser considerado como: a) antítese. b) paródia. c) dedução. d) personificação.

Texto para a próxima questão

Fotojornalismo

Vem perto o dia em que soará para os escritores a hora do irreparável desastre e da derradeira des-graça. Nós, os rabiscadores de artigos e notícias, já sentimos que nos falta o solo debaixo dos pés… Um exército rival vem solapando os alicerces em que até agora assentava a nossa supremacia: é o exército dos desenhistas, dos caricaturistas e dos ilustradores. O lápis destronará a pena: 1ceci tuera cela.

O público tem pressa. A vida de hoje, vertigi-nosa e febril, não admite leituras demoradas, nem reflexões profundas. A onda humana galopa, numa espumarada bravia, sem descanso. Quem não se apressar com ela será arrebatado, esmagado, exter-minado. O século não tem tempo a perder. A eletri-cidade já suprimiu as distâncias: daqui a pouco, quando um europeu espirrar, ouvirá 2in continenti o “Deus te ajude” de um americano. E ainda a ciência humana há de achar o meio de simplificar e apressar a vida por forma tal que os homens já nascerão com dezoito anos, aptos e armados para todas as bata-lhas da existência.

Já ninguém mais lê artigos. Todos os jornais abrem espaço às ilustrações copiosas, que entram pelos olhos da gente com uma insistência assombrosa. As legendas são curtas e incisivas: toda a explicação vem da gravura, que conta conflitos e mortes, casos ale-gres e casos tristes.

É provável que o jornal-modelo do século 20 seja um imenso 3animatógrafo, por cuja tela vasta passem reproduzidos, instantaneamente, todos os inciden-tes da vida cotidiana. Direis que as ilustrações, sem palavras que as expliquem, não poderão doutrinar as massas nem fazer uma propaganda eficaz desta ou daquela ideia política. Puro engano. Haverá ilustra-dores para a sátira, ilustradores para a piedade.

(...) Demais, nada impede que seja anexado ao ani-matógrafo um gramofone de voz 4tonitruosa, encar-regado de berrar ao céu e à terra o comentário, grave ou picante, das fotografias.

E convenhamos que, no dia em que nós, cronis-tas e noticiaristas, houvermos desaparecido da cena – nem por isso se subverterá a ordem social. As palavras são traidoras, e a fotografia é fiel. A pena nem sempre é ajudada pela inteligência; ao passo que a máquina fotográfica funciona sempre sob a 5égide da soberana Verdade, a coberto das inume-ráveis ciladas da Mentira, do Equívoco e da Miopia intelectual. Vereis que não hão de ser tão frequentes as controvérsias…

(...)Não insistamos sobre os benefícios da grande

revolução que a fotogravura vem fazer no jornalismo. Frisemos apenas este ponto: o jornal-animatógrafo terá a utilidade de evitar que nossas opiniões fiquem,

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como atualmente ficam, fixadas e conservadas eter-namente, para 6gáudio dos inimigos… Qual de vós, irmãos, não escreve todos os dias quatro ou cinco toli-ces que desejariam ver apagadas ou extintas? Mas, ai! de todos nós! Não há morte para as nossas toli-ces! Nas bibliotecas e nos escritórios dos jornais, elas ficam (...) catalogadas.

(...)No jornalismo do Rio de Janeiro, já se iniciou a

revolução, que vai ser a nossa morte e a 7opulên-cia dos que sabem desenhar. Preparemo-nos para morrer, irmãos, sem lamentações ridículas, acei-tando resignadamente a fatalidade das coisas, e consolando-nos uns aos outros com a cortesia de que, ao menos, não mais seremos obrigados a escre-ver barbaridades…

Saudemos a nova era da imprensa! A revolu-ção tira-nos o pão da boca, mas deixa-nos aliviada a consciência.

Olavo BilacGazeta de Notícias, 13 jan.1901.

1 ceci tuera cela − isto vai matar aquilo2 in continenti − sem demora3animatógrafo − aparelho que passa ima-

gens sequenciais4tonitruosa − com o volume alto5égide − proteção6gáudio − alegria extremada7opulência − riqueza, grandeza

50. (UERJ – modificado) Vem perto o dia em que soará para os escritores a hora do irreparável desastre e da derradeira desgraça.

A profecia para os escritores, anunciada na pri-meira frase do texto de forma extremamente nega-tiva, se opõe ao tom e à conclusão do texto.

Considerando esse contraste, o texto de Bilac pode ser qualificado basicamente como: a) irônico. b) incoerente. c) contraditório. d) ultrapassado.

Texto para a próxima questão

O tempo em que o mundo tinha a nossa idade

Nesse entretempo, ele nos chamava para escu-tarmos seus imprevistos improvisos. As estórias dele faziam o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo. Nenhuma narração tinha fim, o sono lhe apagava a boca antes do desfecho. Éramos nós que recolhíamos seu corpo dorminhoso. Não lhe deitáva-mos dentro da casa: ele sempre recusara cama feita. Seu conceito era que a morte nos apanha deitados sobre a moleza de uma esteira. Leito dele era o puro chão, lugar onde a chuva também gosta de deitar. Nós simplesmente lhe encostávamos na parede da casa. Ali ficava até de manhã. Lhe encontrávamos coberto de formigas. Parece que os insetos gostavam do suor

docicado do velho Taímo. Ele nem sentia o corrupio do formigueiro em sua pele.

− Chiças: transpiro mais que palmeira!Proferia tontices enquanto ia acordando. Nós lhe

sacudíamos os infatigáveis bichos. Taímo nos sacudia a nós, incomodado por lhe dedicarmos cuidados.

Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos transabertos. Como dormia fora, nem dáva-mos conta. Minha mãe, manhã seguinte, é que nos convocava:

− Venham: papá teve um sonho!E nos juntávamos, todos completos, para escutar

as verdades que lhe tinham sido reveladas. Taímo recebia notícia do futuro por via dos antepassados. Dizia tantas previsões que nem havia tempo de pro-var nenhuma. Eu me perguntava sobre a verdade daquelas visões do velho, estorinhador como ele era.

− Nem duvidem, avisava mamã, suspeitando-nos.E assim seguia nossa criancice, tempos afora.

Nesses anos ainda tudo tinha sentido: a razão deste mundo estava num outro mundo inexplicável. Os mais velhos faziam a ponte entre esses dois mun-dos. (...)

Mia CoutoTerra sonâmbula. São Paulo, Cia. das Letras, 2007.

51. (UERJ – modificado) Um elemento impor-tante na organização do texto é o uso de algu-mas personificações.

Uma dessas personificações encontra-se em: a) Éramos nós que recolhíamos seu corpo

dorminhoso. b) Seu conceito era que a morte nos apanha deitados

sobre a moleza de uma esteira.c) Nós lhe sacudíamos os infatigáveis bichos.d) Os mais velhos faziam a ponte entre esses dois

mundos.

Texto para a próxima questão

Quando Bauer, o de pés ligeiros, se apoderou da cobiçada esfera, logo o suspeitoso Naranjo lhe par-tiu ao encalço, mas já Brandãozinho, semelhante à chama, lhe cortou a avançada. A tarde de olhos radiosos se fez mais clara para contemplar aquele combate, enquanto os agudos gritos e imprecações em redor animavam os contendores. A uma investida de Cárdenas, o de fera catadura, o couro inquieto quase se foi depositar no arco de Castilho, que com torva face o repeliu. Eis que Djalma, de aladas plan-tas, rompe entre os adversários atônitos, e conduz sua presa até o solerte Julinho, que a transfere ao valoroso Didi, e este por sua vez a comunica ao beli-coso Pinga. (...)

Assim gostaria eu de ouvir a descrição do jogo entre brasileiros e mexicanos, e a de todos os jogos: à maneira de Homero. Mas o estilo atual é outro, e o sen-timento dramático se orna de termos técnicos.

Carlos Drummond de Andrade, Quando é dia de futebol. Rio: Record, 2002.

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52. (FGV-RJ) O fragmento em que a convergência estilística predominante é a que se estabelece entre metonímia e personificação encontra-se em:

a) “da cobiçada esfera”. b) “semelhante à chama”. c) “o couro inquieto”. d) “de fera catadura”. e) “de aladas plantas”.

Texto para a próxima questão

Tempo: cada vez mais acelerado

Pressa. Ansiedade. E a sensação de que nunca é possível fazer tudo — além da certeza de que sua vida está passando rápido demais. Essas são as prin-cipais consequências de vivermos num mundo em que para tudo vale a regra do “quanto mais rápido, melhor”. “Para nós, ocidentais, o tempo é linear e nunca volta. Por isso queremos ter a sensação de que estamos tirando o máximo dele. E a única solução que encontramos é acelerá-lo”, afirma Carl Honoré. “É um equívoco. A resposta a esse dilema é qualidade, não quantidade.”

Para James Gleick, Carl está lutando uma batalha invencível. “A aceleração é uma escolha que fizemos. Somos como crianças descendo uma ladeira de skate. Gostamos da brincadeira, queremos mais velocidade”, diz. O problema é que nem tudo ao nosso redor conse-gue atender à demanda. Os carros podem estar mais rápidos, mas as viagens demoram cada vez mais por culpa dos congestionamentos. Semáforos vermelhos continuam testando nossa paciência, obrigando-nos a frear a cada quarteirão. 1Mais sorte têm os pedestres, que podem apertar o botão que aciona o sinal verde — uma ótima opção para despejar a ansiedade, mas com efeito muitas vezes nulo. Em Nova York, esses siste-mas estão desligados desde a década de 1980. Mesmo assim, milhares de pessoas o utilizam diariamente.

É um exemplo do que especialistas chamam de “botões de aceleração”. Na teoria, deixam as coisas mais rápidas. Na prática, servem para ser apertados e só. Confesse: que raios fazemos com os dois segundos, no máximo, que economizamos ao acionar aquelas teclas que fecham a porta do elevador? E quem disse que apertá-las, duas, quatro, dez vezes, vai melhorar a eficiência?

Elevadores, aliás, são ícones da pressa em tempos velozes. Os primeiros modelos se moviam a vinte cen-tímetros por segundo. Hoje, o mais veloz sobe doze metros por segundo. E, mesmo acelerando, estão entre os maiores focos de impaciência. Engenheiros são obrigados a desenvolver sistemas para conter nossa irritação, como luzes ou alarmes cuja única função é aplacar a ansiedade da espera. Até onde isso vai?

SÉRGIO GWERCMANAdaptado de <super.abril.com.br>.

53. (UERJ) “Mais sorte têm os pedestres, que podem apertar o botão que aciona o sinal verde”. (ref. 1)

No fragmento, é empregada uma expressão que pode ser considerada irônica, se for relacionada ao conjunto do 2º parágrafo.

Transcreva do fragmento a expressão que configura a ironia e explique por que essa expressão é irônica.

Texto para a próxima questão

Do chuchu ao xixi

A concessionária Orla Rio subiu em 50%, de R$ 1 para R$ 1,50, o uso do banheiro público e de 60 para 65 anos o privilégio da gratuidade.

A idade foi elevada com base em lei estadual de 2002, um ano antes de o Estatuto do Idoso (2003) favo-recer pessoas “com idade igual ou superior a 60 anos”.

Se o mal está feito, os economistas devem agora se preocupar com o choque do preço do uso do banheiro público na meta da inflação.

Em 1977, rimos quando a ditadura culpou o chuchu. Não seria o caso de rir, na democracia, do impacto do xixi no custo de vida?

CartaCapital, 27 jun. 2012.

54. (Unifesp) A relação de sentido entre “ditadura” e “democracia”, estabelecida no último parágrafo do texto, também ocorre na seguinte passagem, extraída do jornal Folha de S.Paulo, de 11 de setembro de 2012:

a) Alguns fatos empolgavam o país até outro dia. A volta do crescimento econômico, a descoberta do Pré-sal, o desvencilhamento dos credores estrangeiros e a criação dos BRICS animaram o espírito nacional.

b) Levantamento feito por esta Folha em todos os Estados do país mostrou que a Lei da Ficha Limpa barrou, até agora, 317 candidatos entre os 15.551 que disputam as prefeituras brasileiras.

c) “O dinheiro perdeu sua qualidade narrativa, tal como aconteceu com a pintura antes. O dinheiro agora fala sozinho.”

d) A evasão nas graduações em engenharia, assinalam os professores, é alta demais. Só um quinto a um quarto dos ingressantes termina por formar-se – segundo os autores, porque lhes faltam noções básicas de matemática, que deveriam adquirir no ensino médio.

e) “Até nas flores se encontra a diferença da sorte: umas enfeitam a vida, outras enfeitam a morte.” Esse poema se aprendia nas escolas do passado. Hoje, a diferença da sorte atinge até mesmo os partidos políticos, que podem ser resumidos em situação e oposição.

55. (Insper) Ah, Scarlett, mulher sinestesia, seu nome tem o som da cor dos seus lábios: Scarlett, scarlet, escarlate.

Álvaro Pereira Júnior, em referência à atriz Scar-lett Johansson. Folha de São Paulo, 17 set. 2011.

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O que melhor explica o aposto “mulher sinestesia” atribuído à atriz é o(a): a) jogo de palavras com apelo sonoro ao final do

período. b) enumeração ascendente que intensifica a ideia

relacionada à cor vermelha. c) junção de planos sensoriais diferentes numa só

impressão. d) modo exagerado e dramático como o autor se

refere à beleza da atriz. e) personificação dos lábios da mulher, atribuindo-

lhe vida própria.

Textos para a próxima questão

Texto I

Eu estava deitado num velho sofá amplo. Lá fora, a chuva caía com redobrado rigor e ventava fortemente. A nossa casa frágil parecia que, de um momento para outro, ia ser arrasada. 1Minha mãe ia e vinha de um quarto próximo; removia baús, arcas; cosia, futicava. Eu devaneava e ia-lhe vendo o perfil esquálido, o corpo magro, premido de trabalhos, as faces cavadas com os malares salientes, tendo pela pele parda manchas escu-ras, como se fossem de fumaça entranhada. De quando em quando, ela lançava-me os seus olhos aveludados, redondos, passivamente bons, onde havia raias de temor ao encarar-me. Supus que adivinhava os perigos que eu tinha de passar; sofrimentos e dores que a edu-cação e inteligência, qualidades a mais na minha frágil consistência social, haviam de atrair fatalmente. 2Não sei que de raro, excepcional e delicado, e ao mesmo tempo perigoso, ela via em mim, para me deitar aque-les olhares de amor e espanto, de piedade e orgulho.

BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. Rio de Janeiro; Belo Horizonte: Livraria Garnier, 1989. p.26-27.

Texto II

TEIA de aranha, galho seco da roseira,quem sou?Luz calçada em alpargatas de pratarapta as flores da fronha,quem sou?Pássaro que mora na neblinadestila seu canto de água limpa– longe, sozinho –me diga quem sou.

ROQUETTE-PINTO, Claudia. Corola. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000. p. 67.

56. (UFF-RJ) No texto I, as ações e a caracterização da personagem da mãe são apresentadas de acordo com a visão do narrador. Para isso contribuem não só a narração em 1ª pessoa, mas também o emprego abundante de verbos e adjetivos.

a) Comente o efeito criado pela sequência de verbos em relação ao comportamento da personagem, na seguinte passagem:“Minha mãe ia e vinha de um quarto próximo; removia baús, arcas; cosia, futicava.” (ref. 1)

b) Explique, na passagem a seguir, a relação entre a escolha dos adjetivos e locuções adjetivas e a caracterização dos sentimentos experimentados pela mãe em relação ao filho.“Não sei que de raro, excepcional e delicado, e ao mesmo tempo perigoso, ela via em mim, para me deitar aqueles olhares de amor e espanto, de pie-dade e orgulho.” (ref. 2)

Texto para a próxima questão

Leia o poema de Orides Fontela.

Joia

O brilhofelizda gema

a luz concretado cristal: ordemviva.

(Teias)

57. (UFTM-MG) Nas expressões “brilho feliz” e “ordem viva”, é possível perceber a presença de:

a) prosopopeia. b) pleonasmo. c) oxímoro. d) hipérbole. e) eufemismo.

58. (ESPM-SP) Hipálage, segundo Massaud Moisés, “designa um expediente retórico próprio da poesia, mediante o qual uma palavra troca o lugar que logica-mente ocuparia na sequência frásica por outro, junto de um termo ao qual se vincula gramaticalmente”. Em todas as frases abaixo, ocorre essa figura de lingua-gem, exceto em uma. Assinale-a.

a) “uma alvura de saia moveu-se no escuro” (Eça de Queirós)

b) “Mandados da rainha, que abundantes / Mesas de altos manjares excelentes” (Camões)

c) “apetite necrófago da mosca” (Augusto dos Anjos) d) “o riscar dos fósforos espavoridos” (Clarice

Lispector) e) “de um povo heroico o brado retumbante” (Osório

Duque Estrada)

59. (Unicamp-SP)

“Os turistas que visitam as favelas do Rio se dizem transformados, capazes de dar valor ao que realmente importa”, observa a socióloga Bianca Freire-Medeiros, autora da pesquisa “Para ver os pobres: a construção da favela carioca como destino turístico”. “Ao mesmo tempo, as vantagens, os confortos e os benefícios do lar são reforçados por meio da exposição à diferença e à escassez. Em um interessante paradoxo, o contato em primeira mão com aqueles a quem vários bens de consumo ainda são inacessíveis garante aos turistas seu aperfeiçoamento como consumidores.”

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No geral, o turista é visto como rude, grosseiro, invasivo, pouco interessado na vida da comunidade, preferindo visitar o espaço como se visita um zooló-gico e decidido a gastar o mínimo e levar o máximo. Conforme relata um guia, “O turismo na favela é um pouco invasivo, sabe? Porque você anda naquelas ruelas apertadas e as pessoas deixam as janelas aber-tas. E tem turista que não tem ‘desconfiômetro’: mete o carão dentro da casa das pessoas! Isso é realmente desagradável. Já aconteceu com outro guia. A mora-dora estava cozinhando e o fogão dela era do lado da janelinha; o turista passou, meteu a mão pela janela e abriu a tampa da panela. Ela ficou uma fera. Aí bateu na mão dele.”

Adaptado de Carlos Haag. Laje cheia de turista. Como funcionam os tours pelas favelas cario-

cas. Pesquisa FAPESP no. 165, 2009, p.90-93.

a) Explique o que o autor identifica como “um interessante paradoxo”.

b) O trecho em itálico, que reproduz em discurso direto a fala do guia, contém marcas típicas da linguagem coloquial oral. Reescreva a passagem em discurso indireto, adequando-a à linguagem escrita formal.

Texto para a próxima questão

A invasão dos blablablás

O planeta é dividido entre as pessoas que falam no cinema − e as que não falam. É uma divisão recente. Por décadas, os falantes foram minoria. E uma mino-ria reprimida. Quando alguém abria a boca na sala escura, recebia logo um shhhhhhhhhhhhh. E voltava ao estado silencioso de onde nunca deveria ter saído. Todo pai ou mãe que honrava seu lugar de educador ensinava a seus filhos que o cinema era um lugar de reverência. Sentados na poltrona, as luzes se apaga-vam, uma música solene saía das caixas de som, as cortinas se abriam e um novo mundo começava. Sem sair do lugar, vivíamos outras vidas, viajávamos por lugares desconhecidos, chorávamos, ríamos, nos apai-xonávamos. Sentados ao lado de desconhecidos, pas-sávamos por todos os estados de alma de uma vida inteira sem trocar uma palavra. Comungávamos em silêncio do mesmo encantamento. (...)

Percebi na sexta-feira que não ia ao cinema havia três meses. Não por falta de tempo, porque trabalhar muito não é uma novidade para mim. Mas porque fui expulsa do cinema. Devagar, aos poucos, mas expulsa. Pertenço, desde sempre, às fileiras dos silenciosos. Anos atrás, nem imaginava que pudesse haver outro comportamento além do silêncio absoluto no cinema. Assim como não imagino alguém cochichando em qualquer lugar onde entramos com o compromisso de escutar.

Não é uma questão de estilo, de gosto. Pertence ao campo do respeito, da ética. Cinema é a experiência da escuta de uma vida outra, que fala à nossa, mas nós não falamos uns com os outros. 1No cinema, só quem

fala são os atores do filme. Nós calamos para que eles possam falar. Nossa vida cala para que outra fale.

Isso era cinema. Agora mudou. É estarrecedor, mas os blablablás venceram. Tomaram conta das salas de cinema. E, sem nenhuma repressão, vão expulsando a todos que entram no cinema para assistir ao filme sem importunar ninguém.

(...)Eliane Brum

revistaepoca.globo.com, 10/08/2009

60. (UERJ – modificado) “No cinema, só quem fala são os atores do filme. Nós calamos para que eles pos-sam falar. Nossa vida cala para que outra fale.” (ref. 1)

O trecho acima usa uma figura de linguagem cha-mada de: a) metáfora. b) hipérbole. c) eufemismo. d) metonímia.

61. (ESPM-SP) Assinale a opção em que a manchete de jornal não apresenta duplo sentido.

a) Envergonhado, Papa Bento 16 condena abusos de crianças nos EUA.

b) Golfo do México: barreira nos EUA não contém óleo que vazou.

c) Amiga de Eliza diz que o goleiro Bruno a ameaçou. d) Rodízio completa 15 anos com efeito quase nulo

sobre ar de SP. e) Bolsa paulista tem pior dia em 6 semanas com

pessimismo externo.

Texto para as próximas 2 questões

Elegia na morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, poeta e cidadão

A morte chegou pelo interurbano em longas [espirais metálicas.Era de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva.De repente não tinha pai.No escuro de minha casa em Los Angeles [procurei recompor tua lembrançaDepois de tanta ausência. Fragmentos da infânciaBoiaram do mar de minhas lágrimas. Vi-me eu meninoCorrendo ao teu encontro. Na ilha noturnaTinham-se apenas acendido os lampiões a gás, [e a clarinetaDe Augusto geralmente procrastinava a tarde.Era belo esperar-te, cidadão. O bondinhoRangia nos trilhos a muitas praias de distância...Dizíamos: “Ê-vem meu pai!”. Quando a curvaSe acendia de luzes semoventes*, ah, corríamosCorríamos ao teu encontro. A grande coisa era [chegar antesMas ser marraio** em teus braços, sentir por últimoOs doces espinhos da tua barba.

Trazias de então uma expressão indizível de [fidelidade e paciência

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Teu rosto tinha os sulcos fundamentais da doçuraDe quem se deixou ser. Teus ombros possantesSe curvavam como ao peso da enorme poesiaQue não realizaste. O barbante cortava teus dedosPesados de mil embrulhos: carne, pão, utensíliosPara o cotidiano (e frequentemente o binóculoQue vivias comprando e com que te deixavas horas inteiras Mirando o mar). Dize-me, meu paiQue viste tantos anos através do teu óculo de alcanceQue nunca revelaste a ninguém?Vencias o percurso entre a amendoeira e a casa como [o atleta exausto no último lance da maratona.Te grimpávamos. Eras penca de filho. JamaisUma palavra dura, um rosnar paterno. Entravas a casa humildeA um gesto do mar. A noite se fechavaSobre o grupo familial como uma grande porta [espessa.Muitas vezes te vi desejar. Desejavas. [Deixavas-te olhando o marCom mirada de argonauta. Teus pequenos olhos feiosBuscavam ilhas, outras ilhas... — as imaculadas, [inacessíveisIlhas do Tesouro. Querias. Querias um dia aportarE trazer — depositar aos pés da amada as [ joias fulgurantesDo teu amor. Sim, foste descobridor, e entre elesDos mais provectos***. Muitas vezes te vi, comandanteComandar, batido de ventos, perdido na fosforênciaDe vastos e noturnos oceanosSem jamais.Deste-nos pobreza e amor. A mim me desteA suprema pobreza: o dom da poesia, e a capacidade [de amarEm silêncio. Foste um pobre. Mendigavas nosso amorEm silêncio. Foste um no lado esquerdo. MasTeu amor inventou. Financiaste uma lanchaMovida a água: foi reta para o fundo. Partiste um diaPara um brasil além, garimpeiro sem medo e [sem mácula.Doze luas voltaste. Tua primogênita — diz-se —Não te reconheceu. Trazias grandes barbas e pequenas [águas-marinhas.

MORAES, Vinicius de. Antologia poética. 11. ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1974, p. 180-181.

(*) Semovente: “Que ou o que anda ou se move por si próprio.”

(**) Marraio: “No gude e noutros jogos, palavra que dá, a quem primeiro a grita, o direito de ser o último a jogar.”

(***) Provecto: “Que conhece muito um assunto ou uma ciência, experiente, versado, mestre.”

Dicionário Eletrônico Houaiss

62. (Unesp) “O barbante cortava teus dedos / Pesados de mil embrulhos.”

O emprego da expressão mil embrulhos no verso mencionado caracteriza-se como figura de linguagem denominada hipérbole, porque:

a) é uma imagem exagerada, mas expressiva, do fato referido no verso.

b) “barbante” aparece personificado, com atitudes humanas.

c) ocorre uma comparação entre um fato real e um fato fictício.

d) o eu-poemático tenta precisar metonimicamente o que não é preciso.

e) há uma relação de contiguidade semântica entre “dedos” e “embrulhos”.

63. (Unesp) Marque a alternativa cujo verso contém um pleonasmo, ou seja, uma redundância de termos com bom efeito estilístico.

a) De repente não tinha pai. b) Rangia nos trilhos a muitas praias de distância... c) Se curvavam como ao peso da enorme poesia. d) Sobre o grupo familial como uma grande porta

espessa. e) Deste-nos pobreza e amor. A mim me deste.

Texto para a próxima questão

A(s) questão(ões) a seguir toma(m) por base um fragmento de Glória moribunda, do poeta romântico brasileiro Álvares de Azevedo (1831-1852).

É uma visão medonha uma caveira?Não tremas de pavor, ergue-a do lodo.Foi a cabeça ardente de um poeta,Outrora à sombra dos cabelos loiros.Quando o reflexo do viver fogosoAli dentro animava o pensamento,Esta fronte era bela. Aqui nas facesFormosa palidez cobria o rosto;Nessas órbitas — ocas, denegridas! —Como era puro seu olhar sombrio!

Agora tudo é cinza. Resta apenasA caveira que a alma em si guardava,Como a concha no mar encerra a pérola,Como a caçoula a mirra incandescente.Tu outrora talvez desses-lhe um beijo;Por que repugnas levantá-la agora?Olha-a comigo! Que espaçosa fronte!Quanta vida ali dentro fermentava,Como a seiva nos ramos do arvoredo!E a sede em fogo das ideias vivasOnde está? onde foi? Essa alma erranteQue um dia no viver passou cantando,Como canta na treva um vagabundo,Perdeu-se acaso no sombrio vento,Como noturna lâmpada apagou-se?E a centelha da vida, o eletrismoQue as fibras tremulantes agitavaMorreu para animar futuras vidas?

Sorris? eu sou um louco. As utopias,Os sonhos da ciência nada valem.A vida é um escárnio sem sentido,Comédia infame que ensanguenta o lodo.

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Há talvez um segredo que ela esconde;Mas esse a morte o sabe e o não revela.Os túmulos são mudos como o vácuo.Desde a primeira dor sobre um cadáver,Quando a primeira mãe entre soluçosDo filho morto os membros apertavaAo ofegante seio, o peito humanoCaiu tremendo interrogando o túmulo...E a terra sepulcral não respondia.

Poesias completas, 1962

64. (Unesp) “Como a concha no mar encerra a pérola,Como a caçoula a mirra incandescente.”

Nos versos em destaque, após a palavra caçoula, está subentendida, por elipse, a forma verbal: a) teme. b) seca. c) brilha. d) queima. e) encerra.

65. (Espcex/Aman) Assinale a única alternativa que contém a figura de linguagem presente no trecho sublinhado.

As armas e os barões assinalados, Que da ocidental praia lusitana, Por mares nunca dantes navegados, Passaram ainda além da Taprobana,

a) Metonímia. b) Eufemismo. c) Ironia. d) Anacoluto. e) Polissíndeto.

Texto para a próxima questão

O tempo em que o mundo tinha a nossa idade

Nesse entretempo, ele nos chamava para escu-tarmos seus imprevistos improvisos. As estórias dele faziam o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo. Nenhuma narração tinha fim, o sono lhe apagava a boca antes do desfecho. Éramos nós que recolhíamos seu corpo dorminhoso. Não lhe deitáva-mos dentro da casa: ele sempre recusara cama feita. Seu conceito era que a morte nos apanha deitados sobre a moleza de uma esteira. Leito dele era o puro chão, lugar onde a chuva também gosta de deitar. Nós simplesmente lhe encostávamos na parede da casa. Ali ficava até de manhã. Lhe encontrávamos coberto de formigas. Parece que os insetos gostavam do suor docicado do velho Taímo. Ele nem sentia o corrupio do formigueiro em sua pele.

− Chiças: transpiro mais que palmeira!Proferia tontices enquanto ia acordando. Nós lhe

sacudíamos os infatigáveis bichos. Taímo nos sacudia a nós, incomodado por lhe dedicarmos cuidados.

Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de olhos transabertos. Como dormia fora, nem dávamos conta. Minha mãe, manhã seguinte, é que nos convocava:

− Venham: papá teve um sonho!E nos juntávamos, todos completos, para escu-

tar as verdades que lhe tinham sido reveladas. Taímo recebia notícia do futuro por via dos antepassados. Dizia tantas previsões que nem havia tempo de pro-var nenhuma. Eu me perguntava sobre a verdade daquelas visões do velho, estorinhador como ele era.

− Nem duvidem, avisava mamã, suspeitando-nos.E assim seguia nossa criancice, tempos afora.

Nesses anos ainda tudo tinha sentido: a razão deste mundo estava num outro mundo inexplicável. Os mais velhos faziam a ponte entre esses dois mundos. (...)

Mia CoutoTerra sonâmbula. São Paulo: Cia. das Letras, 2007.

66. (UERJ – modificado) A escrita literária de Mia Couto explora diversas camadas da linguagem: voca-bulário, construções sintáticas, sonoridade.

O exemplo em que ocorre claramente exploração da sonoridade das palavras é: a) “Nesse entretempo, ele nos chamava para

escutarmos seus imprevistos improvisos.” b) “Não lhe deitávamos dentro da casa: ele sempre

recusara cama feita.” c) “Ele nem sentia o corrupio do formigueiro em sua

pele.” d) “Nós lhe sacudíamos os infatigáveis bichos.”

Texto para as próximas 2 questões

Igual-Desigual

Eu desconfiava:todas as histórias em quadrinho são iguais.Todos os filmes norte-americanos são iguais.Todos os filmes de todos os países são iguais.Todos os best-sellers são iguaisTodos os campeonatos nacionais e internacionais [de futebol sãoiguais.Todos os partidos políticossão iguais.Todas as mulheres que andam na modasão iguais.Todas as experiências de sexosão iguais.Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e [rondós são iguaise todos, todosos poemas em verso livre são [enfadonhamente iguais.

Todas as guerras do mundo são iguais.Todas as fomes são iguais.Todos os amores, iguais iguais iguais.Iguais todos os rompimentos.A morte é igualíssima.Todas as criações da natureza são iguais.Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, [são iguais.

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278

Contudo, o homem não é igual a nenhum outro [homem, bicho ou coisa.

Ninguém é igual a ninguém.Todo ser humano é um estranhoímpar.

DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos.Nova reunião: 19 livros de poesia. Rio de

Janeiro: José Olympio, 1985.

– best-sellers: livros mais vendidos– gazéis, virelais, sextinas, rondós: tipos de poema

67. (UERJ – modificado) O poema de Carlos Drum-mond de Andrade se caracteriza por uma repetição considerada estilística, porque é claramente feita para produzir um sentido.

Pode-se dizer que a repetição da expressão são iguais é empregada para reforçar o sentido de: a) afirmação da igualdade no mundo de hoje. b) subversão da igualdade pelo raciocínio lógico. c) valorização da igualdade das experiências vividas. d) constatação da igualdade entre fenômenos diversos.

68. (UERJ – modificado) “Todos os amores, iguais iguais iguais.”

A intensificação da repetição do termo iguais no mesmo verso, relacionado a amores, enfatiza deter-minada crítica que o poeta pretende fazer.

A crítica de Drummond se dirige às relações amo-rosas, no que diz respeito ao seguinte aspecto: a) exagero. b) padronização. c) desvalorização. d) superficialidade.

69. (UFRGS-RS) Leia o seguinte fragmento, do romance Cidade de Deus, de Paulo Lins, publicado em 1997 e considerado um dos precursores na abordagem da violência das favelas cariocas a partir de dentro, isto é, por um autor que foi morador da periferia.

É que arrisco a prosa mesmo com balas atraves-sando os fonemas. É o verbo, aquele que é maior que o seu tamanho, que diz, faz e acontece. Aqui ele camba-leia baleado. Dito por bocas sem dentes e olhares caria-dos, nos conchavos de becos, nas decisões de morte. A areia move-se nos fundos dos mares. A ausência de sol escurece mesmo as matas. O líquido-morango do sor-vete mela as mãos. A palavra nasce no pensamento, desprende-se dos lábios adquirindo alma nos ouvidos, e às vezes essa magia sonora não salta à boca porque é engolida a seco. Massacrada no estômago com arroz e feijão a quase palavra é defecada ao invés de falada. Falha a fala. Fala a bala.

Sobre esse fragmento, considere as afirmações que seguem.I. A palavra sai de forma agressiva, “defecada ao invés

de falada”, porque o narrador acaba concordando com a ideia de que não vale a pena escrever literatura sobre a realidade urbana periférica.

II. O narrador usa linguagem figurada (como as balas atravessando os fonemas ou os olhares cariados) para explicar que, mesmo vivendo em um lugar permeado de crimes e miséria, se arrisca a fazer literatura.

III. Ao mencionar que “Fala a bala”, o narrador dá a entender que a violência é a linguagem que a maioria dos moradores das favelas conhece.

Quais estão corretas?

a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

Texto para a próxima questão

CançãoPus o meu sonho num navioe o navio em cima do mar;– depois, abri o mar com as mãospara o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadasdo azul das ondas entreabertase a cor que escorre dos meus dedoscolore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,a noite se curva de frio;debaixo da água vai morrendomeu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,para fazer com que o mar cresça,e o meu navio chegue ao fundoe o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;praia lisa, águas ordenadas,meus olhos secos como pedrase as minhas duas mãos quebradas

70. (ITA-SP) Neste poema, há algumas figuras de lin-guagem. Abaixo, você tem, de um lado, os versos e, do outro, o nome de uma dessas figuras. Observe:

I. “Minhas mãos ainda estão molhadas / do azul das ondas entreabertas” (sinestesia)

II. “e a cor que escorre dos meus dedos” (metonímia)III. “o vento vem vindo de longe” (aliteração)IV. “a noite se curva de frio” (personificação)V. “e o meu navio chegue ao fundo / e o meu sonho

desapareça” (polissíndeto)

Considerando-se a relação verso/figura de lingua-gem, pode-se afirmar que: a) apenas I, II e III estão corretas. b) apenas I, III e IV estão corretas. c) apenas II está incorreta. d) apenas I, IV e V estão corretas.e) todas estão corretas.

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Texto para a próxima questão

Luz do sol

Luz do sol,Que a folha traga e traduzEm verde novo, em folha, em graça,Em vida, em força e em luzCéu azul,Que vem até aonde os pés tocam a terraE a terra expira e exala seus azuis.

Reza, reza o rio,Córrego pro rio,O rio pro mar.Reza a correnteza,Roça a beira,Doura a areia.

Marcha o homem sobre o chão,Leva no coração uma ferida acesa.Dono do sim e do nãoDiante da visão da infinita belezaFinda por ferir com a mão essa delicadeza,A coisa mais querida:A glória da vida.

Caetano Veloso

71. (Unirio) O recurso estilístico encontrado no verso “Em verde novo, em folha, em graça,” é:

a) hipérbole. b) epístrofe. c) anástrofe. d) antítese . e) anáfora .

72. (UFAL) Assinale como verdadeiras as frases em que a figura de linguagem está corretamente classi-ficada e como falsas aquelas em que isso não ocorre.

( ) As tropas eram comandadas pelo Marechal de Ferro – Anáfora

( ) O Rei do futebol ocupou o cargo de ministro – Antonomásia

( ) A ignorância é a noite do espírito – Metáfora ( ) Não sopra o vento; não gemem as vagas; não

murmuram os rios – Polissíndeto ( ) As árvores são imbecis; despem-se justamente

quando chega o inverno – Prosopopeia

73. (Espcex /Aman) Leia a estrofe que segue e assinale a alternativa correta, quanto às suas características.

Visões, salmos e cânticos serenosSurdinas de órgãos flébeis, soluçantes...Dormências de volúpicos venenosSutis e suaves, mórbidos, radiantes...

a) valorização da forma como expressão do belo e a busca pela palavra mais rara – Parnasianismo.

b) linguagem rebuscada, jogos de palavras e jogos de imagens, característica do cultismo – corrente do Barroco.

c) incidência de sons consonantais (aliterações) explorando o caráter melódico da linguagem – Simbolismo.

d) pessimismo da segunda geração romântica, marcada por vocábulos que aludem a uma existência mais depressiva – Romantismo.

e) lírica amorosa marcada pela sensualidade explícita que substitui as virgens inacessíveis por mulheres reais, lascivas e sedutoras – Naturalismo.

Textos para a próxima questão

Texto 1

O navio negreiro

Negras mulheres, suspendendo às tetasMagras crianças, cujas bocas pretasRega o sangue das mães:Outras, moças... mas nuas, espantadas,No turbilhão de espectros arrastadas,Em ânsia e mágoa vãs.

Castro Alves

Texto 2

7

Eu não sou eu nem sou o outro,Sou qualquer coisa de intermédio:Pilar da ponte de tédioQue vai de mim para o Outro.

Mário de Sá-Carneiro

Texto 3

Os arredores florem

Os arredores florem:figos, nervos, libélulasa criarem nas águasos brevíssimos movimentos.

Paulo Roberto Sodré

74. (UFES) Leia os textos e faça o que se pede.

a) Escolha um dos textos (O navio negreiro; 7; Os arredores florem), indique e explique a ocorrência de um dos seguintes aspectos: som (aliteração, assonância, paronomásia etc.), sentido (metáfora, alegoria, ironia etc.), ritmo (rima, métrica, tonicidade etc.) ou representação (imagem, descrição, comparação etc.).

b) Nos três versos iniciais do trecho de O navio negreiro (Texto 1), o sujeito do enunciado é “o sangue das mães”. Reescreva, em prosa, esses versos, iniciando o período com “O sangue das mães”, fazendo as adaptações que o texto requer e mantendo o sentido do texto original.

Texto para a próxima questão

Daí à pedreira restavam apenas uns cinquenta passos e o chão era já todo coberto por uma farinha de pedra moída que sujava como a cal.

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Aqui, ali, por toda a parte, encontravam-se traba-lhadores, uns ao sol, outros debaixo de pequenas bar-racas feitas de lona ou de folhas de palmeira. De um lado cunhavam pedra cantando; de outro a quebra-vam a picareta; de outro afeiçoavam lajedos1 a ponta de picão2; mais adiante faziam paralelepípedos a esco-pro2 e macete2. E todo aquele retintim de ferramentas, e o martelar da forja, e o coro dos que lá em cima bro-cavam a rocha para lançar-lhe fogo, e a surda zoada ao longe, que vinha do cortiço, como de uma aldeia alar-mada; tudo dava a ideia de uma atividade feroz, de uma luta de vingança e de ódio. Aqueles homens gotejantes de suor, bêbedos de calor, desvairados de insolação, a quebrarem, a espicaçarem, a torturarem a pedra, pare-ciam um punhado de demônios revoltados na sua impo-tência contra o impassível gigante que os contemplava com desprezo, imperturbável a todos os golpes e a todos os tiros que lhe desfechavam no dorso, deixando sem um gemido que lhe abrissem as entranhas de granito. O membrudo cavouqueiro3 havia chegado à fralda4 do orgulhoso monstro de pedra; tinha-o cara a cara, mediu-o de alto a baixo, arrogante, num desafio surdo.

A pedreira mostrava nesse ponto de vista o seu lado mais imponente. Descomposta, com o escalavrado5 flanco exposto ao sol, erguia-se altaneira e desassom-brada, afrontando o céu, muito íngreme, lisa, escal-dante e cheia de cordas que mesquinhamente lhe escorriam pela ciclópica6 nudez com um efeito de teias de aranha. Em certos lugares, muito alto do chão, lhe haviam espetado alfinetes de ferro, amparando, sobre um precipício, miseráveis tábuas que, vistas cá de baixo, pareciam palitos, mas em cima das quais uns atrevidos pigmeus de forma humana equilibravam-se, desfechando golpes de picareta contra o gigante.

O cavouqueiro meneou a cabeça com ar de lás-tima. O seu gesto desaprovava todo aquele serviço.

– Veja lá! – disse ele, apontando para certo ponto da rocha. Olhe para aquilo! Sua gente tem ido às cegas no trabalho desta pedreira. Deviam atacá-la justamente por aquele outro lado, para não contrariar os veios da pedra. Esta parte aqui é toda granito, é a melhor! Pois olhe só o que eles têm tirado de lá – umas lascas, uns calhaus7 que não servem para nada! É uma dor de coração ver estragar assim uma peça tão boa! Agora o que hão de fazer dessa cascalhada que aí está senão macacos8? E brada aos céus, creia! ter pedra desta ordem para empregá-la em macacos!

O vendeiro escutava-o em silêncio, apertando os beiços, aborrecido com a ideia daquele prejuízo.

Aluísio AzevedoO cortiço. São Paulo: Ática, 2009.

Vocabulário1 Lajedos – pedras2 Picão, escopro, macete – instrumentos de trabalho3 Cavouqueiro – aquele que trabalha em minas

e pedreiras4 Fralda – parte inferior5 Escalavrado – golpeado, esfolado6 Ciclópica – colossal, gigantesca7 Calhaus – pedras soltas8 Macacos – paralelepípedos

75. (UERJ) O texto de Aluísio Azevedo, que faz parte da estética naturalista, utiliza recursos expressivos de sonoridade, como a onomatopeia.

Considere o seguinte fragmento:“E todo aquele retintim de ferramentas, e o mar-

telar da forja, e o coro dos que lá em cima brocavam a rocha para lançar-lhe fogo, e a surda zoada ao longe, que vinha do cortiço,” (2º parágrafo)

Indique dois exemplos do emprego da onomato-peia e justifique a sua presença no texto naturalista.

Texto para a questão 76

A questão toma por base um texto de Millôr Fer-nandes (1924-2012).

Os donos da comunicação

Os presidentes, os ditadores e os reis da Espa-nha que se cuidem porque os donos da comunica-ção duram muito mais. Os ditadores abrem e fecham a imprensa, os presidentes xingam a TV e os reis da Espanha cassam o rádio, mas, quando a gente soma tudo, os donos da comunicação ainda tão por cima. Mandam na economia, mandam nos intelectuais, mandam nas moças fofinhas que querem aparecer nos shows dos horários nobres e mandam no society que morre se o nome não aparecer nas colunas.

Todo mundo fala mal dos donos da comuni-cação, mas só de longe. E ninguém fala mal deles por escrito porque quem fala mal deles por escrito nunca mais vê seu nome e sua cara nos “veículos” deles. Isso é assim aqui, na Bessarábia e na Baixa Betuanalândia. Parece que é a lei. O que também é muito justo porque os donos da comunicação são seres lá em cima. Basta ver o seguinte: nós, pra sabermos umas coisinhas, só sabemos delas pela mídia deles, não é mesmo? Agora vocês já imagina-ram o que sabem os donos da comunicação que só deixam sair 10% do que sabem?

Pois é; tem gente que faz greve, faz revolução, faz terrorismo, todas essas besteiras. Corajoso mesmo, eu acho, é falar mal de dono de comunicação. Aí tua revolução fica xinfrim, teu terrorismo sai em corpo 6 e se você morre vai lá pro fundo do jornal em qua-tro linhas.

Millôr Fernandes. Que país é este?, 1978.

76. (Unesp) Millôr Fernandes emprega com conota-ção irônica o termo inglês society, para referir-se a:

a) pessoas dedicadas ao desenvolvimento da sociedade.

b) pessoas que fazem caridade apenas para aparecer nos jornais.

c) sociedades de atores de teatro, cinema e televisão. d) norte-americanos ou ingleses muito importantes,

residentes no país. e) indivíduos presunçosos da chamada alta

sociedade.

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Texto para a próxima questão

Sobre a origem da poesia

A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem.

Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a lin-guagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso não poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles designa-das, a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocor-rência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferên-cias, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas.

Como se ela restituísse, através de um uso especí-fico da língua, a integridade entre nome e coisa − que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da história.

A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infân-cia da linguagem, antes que a representação rom-pesse seu cordão umbilical, gerando essas duas meta-des − significante e significado.

Houve esse tempo? Quando não havia poesia por-que a poesia estava em tudo o que se dizia? Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os laços entre os sentidos ainda não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, dança, imagem, cheiro, sabor, consistência se conjugavam em experiências integrais, associadas a utilidades práticas, mágicas, curativas, religiosas, sexuais, guerreiras?

Pode ser que essas suposições tenham algo de utó-pico, projetado sobre um passado pré-babélico, tri-bal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o presente alcança cria, com sua ocorrên-cia, um pouco desse passado.

Lembro-me de ter lido, certa vez, um comentário de Décio Pignatari, em que ele chamava a atenção para o fato de, tanto em chinês como em tupi, não existir o verbo ser, enquanto verbo de ligação. Assim, o ser das coisas ditas se manifestaria nelas próprias (substanti-vos), não numa partícula verbal externa a elas, o que faria delas línguas poéticas por natureza, mais pro-pensas à composição analógica.

Mais perto do senso comum, podemos atentar para como colocam os índios americanos falando, na maioria dos filmes de cowboy − eles dizem “maçã ver-melha”, “água boa”, “cavalo veloz”; em vez de “a maçã é vermelha”, “essa água é boa”, “aquele cavalo é veloz”. Essa forma mais sintética, telegráfica, aproxima os nomes da própria existência − como se a fala não esti-vesse se referindo àquelas coisas, e sim apresentando- -as (ao mesmo tempo em que se apresenta).

No seu estado de língua, no dicionário, as palavras intermedeiam nossa relação com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. A linguagem poética inverte essa relação, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo.

(...)

Já perdemos a inocência de uma linguagem plena assim. As palavras se desapegaram das coisas, assim como os olhos se desapegaram dos ouvidos, ou como a criação se desapegou da vida. Mas temos esses peque-nos oásis − os poemas − contaminando o deserto da referencialidade.

Arnaldo Antuneswww.arnaldoantunes.com.br

77. (UERJ – modificado) “Mas temos esses peque-nos oásis − os poemas − contaminando o deserto da referencialidade.”

Na frase acima, o emprego das palavras “oásis” e “deserto” configura uma superposição de figuras de linguagem, recurso frequente em textos artísticos. As figuras de linguagem superpostas na frase são: a) metáfora e antítese. b) ironia e metonímia. c) elipse e comparação. d) personificação e hipérbole.

Texto para a próxima questão

A palavra

Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito − como não imaginar que, sem querer, feri alguém? Às vezes sinto, numa pessoa que acabo de conhe-cer, uma hostilidade surda, ou uma reticência de mágoas. Imprudente ofício é este, de viver em voz alta.

Às vezes, também a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa.

Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez bem a alguém. Nunca saberei que palavra foi; deve ter sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse com naturalidade porque senti no momento − e depois esqueci.

Tenho uma amiga que certa vez ganhou um canário, e o canário não cantava. Deram-lhe recei-tas para fazer o canário cantar; que falasse com ele, cantarolasse, batesse alguma coisa ao piano; que pusesse a gaiola perto quando trabalhasse em sua máquina de costura; que arranjasse para lhe fazer companhia, algum tempo, outro canário canta-dor; até mesmo que ligasse o rádio um pouco alto durante uma transmissão de jogo de futebol... mas o canário não cantava.

Um dia a minha amiga estava sozinha em casa, distraída, e assobiou uma pequena frase melódica de Beethoven − e o canário começou a cantar ale-gremente. Haveria alguma secreta ligação entre a alma do velho artista morto e o pequeno pássaro cor de ouro?

Alguma coisa que eu disse distraído − talvez pala-vras de algum poeta antigo − foi despertar melodias esquecidas dentro da alma de alguém. Foi como se a gente soubesse que de repente, num reino muito dis-

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tante, uma princesa muito triste tivesse sorrido. E isso fizesse bem ao coração do povo; iluminasse um pouco as suas pobres choupanas e as suas remo-tas esperanças.

RUBEM BRAGAPROENÇA FILHO, Domício (org.). Pequena anto-

logia do Braga. Rio de Janeiro: Record, 1997.

78. (UERJ – modificado) “Imprudente ofício é este, de viver em voz alta.”

O ofício a que Rubem Braga se refere é o seu pró-prio, o de escritor. Para caracterizá-lo, além do adje-tivo “imprudente”, ele recorre a uma metáfora: “viver em voz alta”. O sentido dessa metáfora, relativa ao ofí-cio de escrever, pode ser entendido como: a) superar conceitos antigos. b) prestar atenção aos leitores. c) criticar prováveis interlocutores. d) tornar públicos seus pensamentos.

Texto para a próxima questão

Science Fiction

O marciano encontrou-me na ruae teve medo de minha impossibilidade humana.Como pode existir, pensou consigo, um serque no existir põe tamanha anulação de existência?

Afastou-se o marciano, e persegui-o.Precisava dele como de um testemunho.Mas, recusando o colóquio, desintegrou-seno ar constelado de problemas.E fiquei só em mim, de mim ausente.

Carlos Drummond de Andrade. Nova reu-nião. São Paulo: José Olympio, 1983.

79. (UERJ) “Mas, recusando o colóquio, desintegrou-se no ar constelado de problemas.” (v. 7-8)

O estranhamento provocado no verso sublinhado constitui um caso de: a) pleonasmo. b) metonímia. c) hipérbole. d) metáfora.

Texto para a próxima questão

A língua politicamente correta

REVISORES são seres invisíveis que se valem de jor-nais e editoras para corrigir os deslizes dos escritores. Porque os escritores, frequentemente, desrespeitam as leis fundamentais da gramática. Eu mesmo, por muito tempo, tive como revisor voluntário dos meus textos um erudito da língua que me enviava periodi-camente, por puro amor à língua, relatórios detalha-dos dos meus erros.

Desse revisor voluntário tenho apenas uma queixa: ele nunca disse uma só palavra sobre a subs-tância mesma dos meus artigos. Não lhe importa-vam as coisas que eu escrevia. Importava-lhe se eu as escrevia com as palavras certas.

Para me consolar, eu repetia as palavras de Pata-tiva do Assaré: “Mais vale escrever a coisa certa com as palavras erradas que escrever a coisa errada com as palavras certas...” Até lhe dediquei uma pequena parábola. Eu, convidando meus amigos para tomar uma sopa que eu mesmo faço. Eles vêm, tomam a sopa e gostam. Mas um intruso, não convidado, toma a minha sopa, nada diz sobre a sopa, mas reclama que a tigela estava lascada...

Tenho tido experiências com revisores atentos, sen-síveis, competentes, que não só corrigem meus erros como também me fazem sugestões de como melho-rar o meu estilo. Mas tenho tido também experiências desastrosas. E isso porque os revisores têm um poder terrível. Basta que mudem uma simples palavra...

(...)Houve um livro que escrevi, todo ele baseado na

distinção entre “história” e “estória”, distinção que os gramáticos, donos da língua, desconhecem, por saber muito sobre letras e sílabas e pouco sobre sentidos. Resolveram, por conta própria, eliminar do dicionário a grafia “estória”. Tudo agora é “história”. Mas Guima-rães Rosa sabe que isso está errado e até escreveu: “A estória não quer se tornar história”.

São duas coisas diferentes. História é o tempo onde as coisas acontecidas não acontecem mais. Estória é o tempo onde coisas não acontecidas acontecem sem-pre. Pois o revisor do meu livro, mais atento às ordens do dicionário, livro onde se encontram as palavras e sentidos certos, eliminou as “estórias” que eu havia escrito, substituindo-as por “histórias”. Ficou total-mente sem sentido. O revisor disse que abacaxis e pitangas eram a mesma coisa.

(...)

Rubem Alves, Folha de S.Paulo, 31 maio 2011.

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80. (ESPM-SP) Na frase: “Mais vale escrever a coisa certa com as palavras erradas que escrever a coisa errada com as palavras certas.”, está presente um pro-cedimento chamado QUIASMO. Essa figura retórica se baseia:

a) no cruzamento de frases ou termos, invertidos simetricamente como num espelho.

b) na fusão ou união de vocábulos opostos, gerando uma ideia contraditória, absurda.

c) na aproximação de palavras antitéticas ou de pensamentos antagônicos.

d) num rodeio da frase para se chegar indiretamente ao termo ou ideia.

e) na repetição de palavras ou ideias para dar ênfase ou realce.

81. (Unicamp-SP) A propaganda a seguir explora a expressão idiomática “não leve gato por lebre” para construir a imagem de seu produto:

NÃO LEVE GATO POR LEBRESÓ BOM BRIL É BOM BRIL

a) Explique a expressão idiomática por meio de duas paráfrases.

b) Mostre como a dupla ocorrência de BOM BRIL no slogan ‘SÓ BOM BRIL É BOM BRIL’, aliada à expressão idiomática, constrói a imagem do produto anunciado.

Texto para a próxima questão

[José Dias] Teve um pequeno legado no testamento, uma apólice e quatro palavras de louvor. Copiou as palavras, encaixilhou-as e pendurou-as no quarto, por cima da cama. “Esta é a melhor apólice”, dizia ele muita vez. Com o tempo, adquiriu certa autoridade na família, certa audiência, ao menos; não abusava, e sabia opinar obedecendo. Ao cabo, era amigo, não direi ótimo, mas nem tudo é ótimo neste mundo. E não lhe suponhas alma subalterna; as cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que da índole. A roupa durava-lhe muito; ao contrário das pessoas que enxovalham depressa o vestido novo, ele trazia o velho escovado e liso, cerzido, abotoado, de uma elegância pobre e modesta. Era lido, posto que de atropelo, o bastante para divertir ao serão e à sobremesa, ou explicar algum fenômeno, falar dos efeitos do calor e do frio, dos polos e de Robespierre. Contava muita vez uma viagem que fizera à Europa, e confessava que a não sermos nós, já teria voltado para lá; tinha amigos em Lisboa, mas a nossa família, dizia ele, abaixo de Deus, era tudo.

Machado de Assis, Dom Casmurro.

82. (Fuvest-SP) Considerado o contexto, qual das expressões sublinhadas foi empregada em sentido metafórico?

a) “Teve um pequeno legado”. b) “Esta é a melhor apólice”. c) “certa audiência, ao menos”. d) “ao cabo, era amigo”. e) “o bastante para divertir”.

Textos para a próxima questão

Texto 1

“Saudações”

Ó ilustríssimos senhoresde modos finos, que saco!Pelo amor da santa, foracom vossos salamaleques!

Não quero louros nem bustoe nem meu nome em viapública.Não quero as vossas vêniase rapapés, flores dúbias.Não quero ser poetade que todos se orgulham.

Descaradamente confessoa quem interessar possa:Quero é ser a vergonhada província e da república.

Transpaixão

Texto 2

“Lisbon revisited (1923)”

Não: não quero nada.Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!Não me falem em moral!Tirem-me daqui a metafísica!Não me apregoem sistemas completos, [não me enfileirem conquistasDas ciências (das ciências, Deus meu, [das ciências!) —Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro [da técnica.Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Ficções do interlúdio

83. (UFES) Considerando que intertextualidade implica a “utilização de uma multiplicidade de textos ou de par-tes de textos preexistentes de um ou mais autores, de que resulta a elaboração de um novo texto literário” (Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa), justifique como esse processo ocorre na relação entre os trechos de “Saudações”, do poeta brasileiro contemporâ-neo Waldo Motta, e de “Lisbon revisited (1923)”, do poeta português modernista Fernando Pessoa.

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84. (ENEM) Oxímoro, ou paradoxismo, é uma figura de retórica em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão.

Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.

Considerando a definição apresentada, o frag-mento poético da obra Cantares, de Hilda Hilst, publi-cada em 2004, em que pode ser encontrada a referida figura de retórica é:

a) “Dos dois contemplorigor e fixidez.Passado e sentimentome contemplam” (p. 91).

b) “De sol e luaDe fogo e ventoTe enlaço” (p. 101).

c) “Areia, vou sorvendoA água do teu rio” (p. 93).

d) “Ritualiza a matançade quem só te deu vida.E me deixa vivernessa que morre” (p. 62).

e) “O bisturi e o verso.Dois instrumentosentre as minhas mãos” (p. 95).

85. (ENEM) O açúcarO branco açúcar que adoçará meu cafénesta manhã de Ipanemanão foi produzido por mimnem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puroe afável ao paladarcomo beijo de moça, águana pele, florque se dissolve na boca. Mas este açúcarnão foi feito por mim.

Este açúcar veioda mercearia da esquina e tampouco o fez [o Oliveira, dono da mercearia.Este açúcar veiode uma usina de açúcar em Pernambucoou no Estado do Rioe tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era canae veio dos canaviais extensosque não nascem por acasono regaço do vale.(...)Em usinas escuras,homens de vida amargae duraproduziram este açúcarbranco e purocom que adoço meu café esta manhã em Ipanema.

Ferreira Gullar. Toda poesia. Rio de Janeiro: Civi-lização Brasileira, 1980, p. 227-8.

A antítese que configura uma imagem da divisão social do trabalho na sociedade brasileira é expressa poeticamente na oposição entre a doçura do branco açúcar e: a) o trabalho do dono da mercearia de onde veio o

açúcar. b) o beijo de moça, a água na pele e a flor que se

dissolve na boca. c) o trabalho do dono do engenho em Pernambuco,

onde se produz o açúcar. d) a beleza dos extensos canaviais que nascem no

regaço do vale. e) o trabalho dos homens de vida amarga em usinas

escuras.

86. (ENEM) No ano passado, o governo promo-veu uma campanha a fim de reduzir os índices de violência. Noticiando o fato, um jornal publicou a seguinte manchete:

Campanha contra a violência do governo do estado entra em nova fase

A manchete tem um duplo sentido, e isso difi-culta o entendimento. Considerando o objetivo da notícia, esse problema poderia ter sido evitado com a seguinte redação: a) Campanha contra o governo do Estado e a

violência entram em nova fase. b) A violência do governo do Estado entra em nova

fase de campanha. c) Campanha contra o governo do Estado entra em

nova fase de violência. d) A violência da campanha do governo do Estado

entra em nova fase. e) Campanha do governo do Estado contra a

violência entra em nova fase.

Texto para a próxima questão

Amor é fogo que arde sem se ver;é ferida que dói e não se sente;é um contentamento descontente;é dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;é solitário andar por entre a gente;é nunca contentar-se de contente;é cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;é servir a quem vence, o vencedor;é ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favornos corações humanos amizade,se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

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87. (ENEM) O poema tem, como característica, a figura de linguagem denominada antítese, relação de oposição de palavras ou ideias. Assinale a opção em que essa oposição se faz claramente presente. a) “Amor é fogo que arde sem se ver.” b) “É um contentamento descontente.” c) “É servir a quem vence, o vencedor.” d) “Mas como causar pode seu favor.” e) “Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”

Texto para a próxima questão

Gates e Jobs

Quando as órbitas se cruzam

Em astronomia, quando as órbitas de duas estre-las se entrecruzam por causa da interação gravitacio-nal, tem-se um sistema binário. Historicamente, ocor-rem situações análogas quando uma era é moldada pela relação e rivalidade de dois grandes astros orbi-tando: Albert Einstein e Niels Bohr na física no século XX, por exemplo, ou Thomas Jefferson e Alexander Hamilton na condução inicial do governo americano. Nos primeiros trinta anos da era do computador pes-soal, a partir do final dos anos 1970, o sistema estelar binário definidor foi composto por dois indivíduos de grande energia, que largaram os estudos na universi-dade, ambos nascidos em 1955.

Bill Gates e Steve Jobs, apesar das ambições seme-lhantes no ponto de convergência da tecnologia e dos negócios, tinham origens bastante diferentes e perso-nalidades radicalmente distintas.

À diferença de Jobs, Gates entendia de programa-ção e tinha uma mente mais prática, mais disciplinada e com grande capacidade de raciocínio analítico. Jobs era mais intuitivo, romântico, e dotado de mais ins-tinto para tornar a tecnologia usável, o design agra-dável e as interfaces amigáveis. Com sua mania de perfeição, era extremamente exigente, além de admi-nistrar com carisma e intensidade indiscriminada. Gates era mais metódico; as reuniões para exame dos produtos tinham horário rígido, e ele chegava ao cerne das questões com uma habilidade ímpar. Jobs encarava as pessoas com uma intensidade cáustica e ardente; Gates às vezes não conseguia fazer contato visual, mas era essencialmente bondoso.

“Cada qual se achava mais inteligente do que o outro, mas Steve em geral tratava Bill como alguém levemente inferior, sobretudo em questões de gosto e estilo”, diz Andy Hertzfeld. “Bill menosprezava Steve porque ele não sabia de fato programar.” Desde o começo da relação, Gates ficou fascinado por Jobs e com uma ligeira inveja de seu efeito hipnótico sobre as pessoas. Mas também o considerava “essencialmente esquisito” e “estranhamente falho como ser humano”, e se sentia desconcertado com a grosseria de Jobs e sua tendência a funcionar “ora no modo de dizer que você era um merda, ora no de tentar seduzi-lo”. Jobs, por sua vez, via em Gates uma estreiteza enervante.

Suas diferenças de temperamento e personalidade iriam levá-los para lados opostos da linha fundamen-tal de divisão na era digital. Jobs era um perfeccio-nista que adorava estar no controle e se comprazia com sua índole intransigente de artista; ele e a Apple se tornaram exemplos de uma estratégia digital que integrava solidamente o hardware, o software e o con-teúdo numa unidade indissociável. Gates era um ana-lista inteligente, calculista e pragmático dos negócios e da tecnologia; dispunha-se a licenciar o software e o sistema operacional da Microsoft para um grande número de fabricantes.

Depois de trinta anos, Gates desenvolveu um res-peito relutante por Jobs. “De fato, ele nunca enten-deu muito de tecnologia, mas tinha um instinto espantoso para saber o que funciona”, disse. Mas Jobs nunca retribuiu valorizando devidamente os pontos fortes de Gates. “Basicamente Bill é pouco imaginativo e nunca inventou nada, e é por isso que acho que ele se sente mais à vontade agora na filan-tropia do que na tecnologia”, disse Jobs, com pouca justiça. “Ele só pilhava despudoradamente as ideias dos outros.”

ISAACSON, Walter. Steve Jobs: a biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 189-191. Adaptado.

vidadesuporte.com.br

88. (Epcar/Afa) Assinale a sentença cuja figura de linguagem foi indicada corretamente entre parênteses. a) “Gates e Jobs – Quando as órbitas se cruzam.”

(comparação) b) “Jobs encarava as pessoas com uma intensidade

cáustica e ardente;” (catacrese) c) “... ora no modo de dizer que você era um merda,

ora no de tentar seduzi-lo”. (metáfora) d) “... Jobs, por sua vez, via em Gates uma estreiteza

enervante.” (metonímia)

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Texto para a próxima questão

Igual-Desigual

Eu desconfiava:todas as histórias em quadrinho são iguais.Todos os filmes norte-americanos são iguais.Todos os filmes de todos os países são iguais.Todos os best-sellers são iguaisTodos os campeonatos nacionais e internacionais [de futebol sãoiguais.Todos os partidos políticossão iguais.Todas as mulheres que andam na modasão iguais.Todas as experiências de sexosão iguais.Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós [são iguaise todos, todosos poemas em verso livre são enfadonha-

mente iguais.

Todas as guerras do mundo são iguais.Todas as fomes são iguais.Todos os amores, iguais iguais iguais.Iguais todos os rompimentos.A morte é igualíssima.Todas as criações da natureza são iguais.Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, [são iguais.Contudo, o homem não é igual a nenhum outro

homem, bicho ou coisa.

Ninguém é igual a ninguém.Todo ser humano é um estranhoímpar.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADENova reunião: 19 livros de poesia.

Rio de Janeiro: José Olympio, 1985.

– best-sellers – livros mais vendidos– gazéis, virelais, sextinas, rondós – tipos de poema

89. (UERJ – modificado) “...e todos, todosos poemas em verso livre são enfadonha-

mente iguais.”Os versos livres são aqueles que não se submetem

a um padrão.Considerando essa definição, identifica-se nos ver-

sos acima a figura de linguagem denominada: a) antítese. b) metáfora. c) metonímia. d) eufemismo.

Texto para a próxima questão

A rosa de Hiroxima

Pensem nas criançasMudas telepáticas Pensem nas meninasCegas inexatasPensem nas mulheresRotas alteradasPensem nas feridasComo rosas cálidasMas oh não se esqueçamDa rosa da rosaDa rosa de HiroximaA rosa hereditáriaA rosa radioativaEstúpida e inválidaA rosa com cirroseA antirrosa atômicaSem cor sem perfumeSem rosa sem nada.

Vinicius de Moraes, Antologia poética.

90. (Fuvest-SP) Neste poema: a) a referência a um acontecimento histórico, ao

privilegiar a objetividade, suprime o teor lírico do texto.

b) parte da força poética do texto provém da associação da imagem tradicionalmente positiva da rosa a atributos negativos, ligados à ideia de destruição.

c) o caráter politicamente engajado do texto é responsável pela sua despreocupação com a elaboração formal.

d) o paralelismo da construção sintática revela que o texto foi escrito originalmente como letra de canção popular.

e) o predomínio das metonímias sobre as metáforas responde, em boa medida, pelo caráter concreto do texto e pelo vigor de sua mensagem.

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Exercícios propostosPortuguês capítulo 3

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Texto para a próxima questão

Joaquim Maria Machado de Assis é cronista, con-tista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, roman-cista, crítico e ensaísta.

Em 2008, comemora-se o centenário de sua morte, ocorrida em setembro de 1908. Machado de Assis é considerado o mais canônico escritor da Literatura Brasileira e deixou uma rica produção literária com-posta de textos dos mais variados gêneros, em que se destacam o conto e o romance.

Segue o texto desse autor, em poesia.

A Carolina

Querida, ao pé do leito derradeiroEm que descansas dessa longa vida,Aqui venho e virei, pobre querida,Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiroQue, a despeito de toda a humana lida,Fez a nossa existência apetecidaE num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, - restos arrancadosDa terra que nos viu passar unidos,São pensamentos idos e vividos.

Que eu, se tenho nos olhos mal feridosPensamentos de vida formulados,São pensamentos idos e vividos.

Machado de Assis

91. (IBMEC-RJ) Quanto à sua forma, podemos afir-mar que o texto:

a) apresenta versos regularmente rimados e metrificados, bem ao gosto da tradição estética clássica.

b) apresenta versos livres e sem rimas, conforme a tendência moderna da poesia.

c) é um soneto, forma poética desprestigiada pela tradição clássica.

d) apresenta estrofação regular, típica de rondós. e) não contém preocupações formais.

Texto para a próxima questão

Texto I

Vida diet

Pato Fu / composição: John

A gente se acostuma com tudoA tudo a gente se habitua

E até não ter um lugarDormir na ruaA tudo a gente se habitua

Me habituei ao pão lightÀ vida sem gásO meu café tomo sem açúcarE até ficar sem comerSem te verA gente custa, mas se habitua

Sem giz, sem águaSem paz, sem nada

Não vai ser diferenteSe eu me for de repenteSe o céu cair sobre o mundoE o mar se abrirEm um inferno profundo

Se acostumou sem quererAo salto altoSalário baixo, à vida duraE até ficar sem TVÉ bom pra vocêTelevisão ninguém mais atura

Pato Fu. Toda cura para todo mal, 2005.

92. (CFT-MG) São características formais do Texto I:

I. rimaII. métrica regularIII. tema atualIV. versos curtosV. divisão em estrofesVI. prosa literária

São corretos apenas os itens: a) I, II e V. b) I, IV e V. c) II, III e VI. d) III, IV e VI.

Texto para a próxima questão

A questão toma por base um poema de Luís Del-fino (1834-1910) e a reprodução de um mosaico da Catedral de Monreale.

Jesus Pantocrátor1

Há na Itália, em Palermo, ou pouco ao pé, na IgrejaDe Monreale, feita em mosaico, a divinaFigura de Jesus Pantocrátor: dominaAquela face austera, aquele olhar troveja.

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Não: aquela cabeça é de um Deus, não se inclina.À árida pupila a doce, a benfazejaLágrima falta, e o peito enorme não arquejaÀ dor. Fê-lo tremendo a ficção bizantina2.

Este criou o inferno, e o espetáculo hediondoQue há nos frescos3 de Santo Stefano Rotondo4;Este do mundo antigo espedaçado assoma...

Este não redimiu; não foi à Cruz: olhai-o:Tem o anátema5 à boca, às duas mãos o raio,E em vez do espinho à fronte as três coroas de Roma.

Luís Delfino. Rosas negras, 1938.

(1) Pantocrátor: que tudo rege, que governa tudo.(2) Bizantina: referente ao Império Romano do

Oriente (330-1453 d.C.) e às manifestações culturais desse império.

(3) Fresco: o mesmo que afresco, pintura mural que resulta da aplicação de cores diluídas em água sobre um revestimento ainda fresco de argamassa, para facilitar a absorção da tinta.

(4) Santo Stefano Rotondo: igreja erigida por volta de 460 d.C., em Roma, em homenagem a Santo Estê-vão (Stefano, em italiano), mártir do cristianismo.

(5) Anátema: reprovação enérgica, sentença de maldição que expulsa da Igreja, excomunhão.

Catedral de Monreale, Itália.

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93. (Unesp) A leitura do soneto revela que o poeta seguiu o preceito parnasiano de só fazer rimar em seus versos palavras pertencentes a classes grama-ticais diferentes, como se observa, por exemplo, nas palavras que encerram os quatro versos da primeira quadra, que rimam conforme o esquema ABBA. Con-sideradas em sua sequência do primeiro ao quarto verso, tais palavras surgem, respectivamente, como:

a) adjetivo, verbo, substantivo, adjetivo. b) substantivo, adjetivo, verbo, verbo. c) substantivo, adjetivo, substantivo, advérbio. d) verbo, adjetivo, verbo, adjetivo. e) substantivo, substantivo, verbo, verbo.

Texto para a próxima questão

Momento num caféManuel Bandeira

Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes na vida.

Um no entanto se descobriu num gesto largo [e demorado Olhando o esquife longamente. Este sabia que a vida é uma agitação feroz [e sem finalidade, Que a vida é traição, E saudava a matéria que passava Liberta para sempre da alma extinta.

Estrela da vida inteira. 20. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. p. 155.

94. (UEF-GO) Em termos estruturais, verifica-se, no poema, a presença de versos:

a) livres. b) brancos. c) regulares. d) polimétricos.

95. (Espcex/Aman) Faça a correspondência da segunda coluna com base na primeira e assinale a alternativa que preenche corretamente as colunas, no que diz respeito às formas líricas.

Coluna 1 Coluna 2

1. Elegia ( ) O(A) mais conhecido(a) das formas líricas. Poema em 14 versos, organizados em dois quartetos e dois tercetos.

2. Écloga ( ) Poema originado na Grécia Antiga que exalta os valores nobres, caracterizando-se pelo tom de louvação.

3. Ode ( ) Poema pastoril que retrata a vida bucólica dos pastores, em um ambiente campestre.

4. Soneto ( ) Trata de acontecimentos tristes, muitas vezes enfocando a morte de um ente querido.

a) 4, 3, 2, 1 b) 3, 2, 1, 4

c) 2, 1, 3, 4 d) 1, 2, 4, 3

e) 4, 3, 1, 2

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96. (Insper)

Poema de Sete Faces

Quando nasci um anjo tortodesses que vive na sombradisse: Vai, Carlos! Ser gauche1 na vida.

As casas espiam os homensQue correm atrás de mulheres.A tarde talvez fosse azulNão houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:Pernas brancas pretas amarelas.Para quetanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.Porém meus olhosnão perguntam nada.

O homem atrás do bigodeé sério, simples e forte.Quase não conversa.Tem poucos, raros amigoso homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonastese sabias que eu não era Deusse sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,se eu me chamasse Raimundoseria uma rima, não seria uma solução.Mundo mundo vasto mundo,mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo.

Carlos Drummond de Andrade

(1) A palavra francesa (pronuncia-se “gôche”) era uma gíria usada por jovens da classe média urbana para rotular indivíduos tidos como arredios, esquisi-tos, inadaptados.

A respeito do jogo intertextual estabelecido entre a tirinha e o poema, considere estas afirmações:I. Os três primeiros quadrinhos ilustram o

conteúdo expresso nos versos da segunda estrofe do poema de Drummond.

II. Como a tirinha faz uma citação do poema, é possível caracterizá-la como pertencente ao mesmo gênero do texto de Drummond.

III. O silêncio da personagem, presente no último quadrinho da tira, ilustra o conteúdo expresso na última estrofe do poema.

Está(ão) correta(s): a) apenas I. b) apenas II. c) apenas I e II. d) apenas III. e) apenas I e III.

Texto para a próxima questão

Leia o trecho abaixo, de Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto.

— Severino retirante,deixa agora que lhe diga:eu não sei bem a respostada pergunta que fazia,se não vale mais saltarfora da ponte e da vida;(…)

E não há melhor respostaque o espetáculo da vida:vê-la desfiar seu fio,que também se chama vida,ver a fábrica que ela mesma,teimosamente, se fabrica,

97. (Espcex/Aman) Quanto ao gênero literário, é cor-reto afirmar que o fragmento lido é:

a) narrativo, que conta em prosa histórias do Sertão Nordestino.

b) uma peça teatral, desprovido de lirismo e com linguagem rústica.

c) bastante poético e marcado por rimas, sem metrificação.

d) uma epopeia, que traduz o desencanto pela vida dura do Sertão.

e) dramático, que encena conflitos internos do ser humano.

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Texto para a próxima questão

Apóstrofe à carne

Quando eu pego nas carnes do meu rosto,Pressinto o fim da orgânica batalha:– Olhos que o húmus necrófago estraçalha,Diafragmas, decompondo-se, ao sol-posto.

E o Homem – negro e heteróclito composto,Onde a alva flama psíquica trabalha,Desagrega-se e deixa na mortalhaO tacto, a vista, o ouvido, o olfato e o gosto!

Carne, feixe de mônadas bastardas,Conquanto em flâmeo fogo efêmero ardas,A dardejar relampejantes brilhos,

Dói-me ver, muito embora a alma te acenda,Em tua podridão a herança horrenda,Que eu tenho de deixar para os meus filhos!

Augusto dos Anjos. Obra completa, 1994.

98. (Unifesp) No plano formal, o poema é marcado por:

a) versos brancos, linguagem obscena, rupturas sintáticas.

b) vocabulário seleto, rimas raras, aliterações. c) vocabulário antilírico, redondilhas, assonâncias. d) assonâncias, versos decassílabos, versos sem rimas. e) versos livres, rimas intercaladas, inversões

sintáticas.

99. (UPF-RS)

Eu nada entendo da questão social.Eu faço parte dela, simplesmente...E sei apenas do meu próprio mal,Que não é bem o mal de toda a gente,

Nem é deste Planeta... Por sinalQue o mundo se lhe mostra indiferente!E o meu Anjo da Guarda, ele somente,É quem lê os meus versos afinal...

E enquanto o mundo em torno se esbarronda,Vivo regendo estranhas contradançasNo meu vago País de Trebizonda...

Entre os loucos, os Mortos e as Crianças,É lá que eu canto, numa eterna ronda,Nossos comuns desejos e esperanças.

A rua dos cata-ventos

Leia as seguintes afirmações sobre o soneto V, de Mário Quintana, transcrito acima:

I. O eu lírico demonstra seu desinteresse pela questão social em versos que abordam o tema do amor.

II. O texto, composto por versos livres, é um exemplo da poesia religiosa produzida pelo autor.

III. No poema, evidencia-se a valorização do devaneio e do mundo infantil.

Qual(is) está(ão) correta(s)? a) Apenas II. b) Apenas III. c) I e II. d) I e III. e) II e III.

100. (UnB-DF)

Texto I

LXXIX

Entre este álamo, ó Lise, e essa corrente,Que agora estão meus olhos contemplando,Parece que hoje o céu me vem pintandoA mágoa triste, que meu peito sente.

Firmeza a nenhum deles se consenteAo doce respirar do vento brando;O tronco a cada instante meneando,A fonte nunca firme, ou permanente.

Na líquida porção, na vegetanteCópia daquelas ramas se figuraOutro rosto, outra imagem semelhante:

Quem não sabe que a tua formosuraSempre móvel está, sempre inconstante,Nunca fixa se viu, nunca segura?

Cláudio Manoel da Costa. Apud Domício Proença Filho. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro:

Nova Aguilar, 2002, p. 85.

Texto II

O espelhoOespelho: atravésde seu líquido nadame desdobro.

Ser quem meolhae olhar seusolhosnada denadaduplomistério.

Não amoo espelho: temo-o.

Orides Fontela. Poesia reunida (1969-1996). São Paulo: Cosac Naify; Rio de Janeiro: 7letras, 2006, p. 212.

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Os poemas LXXIX e O espelho abordam tema semelhante de maneira bastante diferente. Considerando que o soneto de Cláudio Manoel da Costa foi escrito em 1768 e o poema de Ori-des Fontela, em 1986, redija um texto, na moda-lidade da língua escrita padrão, abordando as diferenças formais (verso, rima etc.) e temáti-cas (configuração do eu lírico diante do espelho) entre as duas obras.

Texto para a próxima questão

Leia.

OS ANJOS

Renato Russo

Hoje não dá Hoje não dá Não sei mais o que dizer E nem o que pensar

Hoje não dá Hoje não dá A maldade humana agora não tem nome Hoje não dá

Pegue duas medidas de estupidez Junte trinta e quatro partes de mentira Coloque tudo numa forma Untada previamente Com promessas não cumpridas Adicione a seguir o ódio e a inveja Dez colheres cheias de burrice Mexa tudo e misture bem E não se esqueça antes de levar ao forno temperar Com essência de espírito de porco Duas xícaras de indiferença E um tablete e meio de preguiça

Hoje não dá Hoje não dá Está um dia tão bonito lá fora E eu quero brincar

Mas hoje não dá Hoje não dá Vou consertar a minha asa quebrada E descansar.

Gostaria de não saber destes crimes atrozes É todo dia agora e o que vamos fazer? Quero voar p’ra bem longe mas hoje não dá Não sei o que pensar e nem o que dizer Só nos sobrou do amor A falta que ficou.

Disponível em <http://letras.terra.com.br/legiao-urbana/46964/>. Acesso em: 7 jul. 2011.

101. (UFRN) Com relação ao texto, é correto afirmar que:

a) sua composição híbrida resulta da mescla de aspectos formais e estilísticos de gêneros textuais diferentes.

b) sua composição híbrida impossibilita caracterizá-lo como um gênero textual específico.

c) sua composição formal e estilística, com verbos no imperativo, é própria do gênero “poema”.

d) sua composição formal e estilística, com uso reiterado de metáforas, caracteriza o gênero “receita culinária”.

Texto para a próxima questão

De um jogador brasileiro a um técnico espanhol

João Cabral de Melo Neto

Não é a bola alguma cartaque se leva de casa em casa:

é antes telegrama que vaide onde o atiram ao onde cai.

Parado, o brasileiro a fazir onde há-de, sem leva e traz;

com aritméticas de circoele a faz ir onde é preciso;

em telegrama, que é sem tempoele a faz ir ao mais extremo.

Não corre: ele sabe que a bola,Telegrama, mais que corre voa.

Disponível em: <http://www.revista.agulha.nom.br/futebol.html#jogador> Acesso em: 12 out. 2011.

102. (IFPE) No que se refere às características do poema, analise as afirmações abaixo.

I. Estrutura-se em versos livres e brancos, sem métrica e sem rima, com linguagem conotativa.

II. Descreve a bola com base na metáfora da carta, comparando os dois termos implicitamente pela rapidez.

III. Possui sequências narrativas, marcada por verbos de ação, que relatam o percurso da bola.

IV. Apresenta linguagem conotativa, como mostra a hipérbole no verso final da sexta estrofe.

V. Possui predominantemente sequências descritivas, que retratam as características da bola de futebol.

Estão corretas, apenas: a) I, II e V. b) II, IV e V. c) I e IV. d) II e III. e) III e IV.

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Texto para a próxima questão

A rosa de HiroximaPensem nas criançasMudas telepáticas Pensem nas meninasCegas inexatasPensem nas mulheresRotas alteradasPensem nas feridasComo rosas cálidasMas oh não se esqueçamDa rosa da rosaDa rosa de HiroximaA rosa hereditáriaA rosa radioativaEstúpida e inválidaA rosa com cirroseA antirrosa atômicaSem cor sem perfumeSem rosa sem nada.

Vinicius de Moraes, Antologia poética.

103. (Fuvest-SP) Dentre os recursos expressivos pre-sentes no poema, podem-se apontar a sinestesia e a aliteração, respectivamente, nos versos:

a) 2 e 17. b) 1 e 5. c) 8 e 15. d) 9 e 18. e) 14 e 3.

Texto para a próxima questão

DesencontráriosMandei a palavra rimar,ela não me obedeceu.Falou em mar, em céu, em rosa,em grego, em silêncio, em prosa.Parecia fora de si,a sílaba silenciosa.

Mandei a frase sonhar,e ela se foi num labirinto.Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.Dar ordens a um exército,para conquistar um império extinto.

PAULO LEMINSKI GÓES, F. e MARINS, A. (orgs.) Melhores poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2001.

104. (UERJ) Mandei a palavra rimar,ela não me obedeceu.Falou em mar, em céu, em rosa,em grego, em silêncio, em prosa. (v. 1-4)

No fragmento acima, o emprego da palavra “prosa” possibilita duas interpretações distintas do verso sublinhado: uma que reafirma o que ele expressa e outra que se opõe a ele.

Apresente essas duas possibilidades de interpretação.

Texto para a próxima questão

GênesisQuando ele nasceu foi no sufocoTinha uma vaca, um burro e um loucoQue recebeu Seu Sete

Quando ele nasceu foi de teimosoCom a manha e a baba do tinhosoChovia canivete

Quando ele nasceu nasceu de birraBarro ao invés de incenso e mirraCordão cortado com gilete

Quando ele nasceu sacaram o berro*Meteram faca, ergueram ferroExu falou: ninguém se mete!

Quando ele nasceu tomaram canaUm partideiro puxou sambaOxum falou: esse promete!

ALDIR BLANCIn: FERRAZ, Eucanaã (org.). Veneno antimonotonia.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.* berro – revólver

105. (UERJ) Uma característica marcante do poema Gênesis é a simetria, que consiste na harmonia de cer-tas combinações e proporções.

Aponte dois recursos diferentes utilizados no poema – um rítmico/sonoro e outro sintático – que contribuem para essa simetria.

Texto para a próxima questão

Instrução: A questão seguinte toma por base a pri-meira estrofe de O menino da porteira, de Teddy Vieira (1922-1965) e Luís Raimundo (1916-), o Luisinho, e a letra de Meu bem-querer, de Djavan (1949-).

O menino da porteiraToda a vez que eu viajavaPela estrada de Ouro Fino,De longe eu avistavaA figura de um menino,Que corria abri[r] a porteiraDepois vinha me pedindo:– Toque o berrante, seu moço,Que é p’ra mim ficá[ar] ouvindo.[...]

Luisinho, Limeira e Zezinha, 1955

Meu bem quererMeu bem-quererÉ segredo, é sagrado,Está sacramentadoEm meu coração.Meu bem-quererTem um quê de pecadoAcariciado pela emoção.Meu bem-querer, meu encanto,Tô sofrendo tanto, amor.

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E o que é o sofrerPara mim, que estouJurado p’ra morrer de amor?

Djavan. Alumbramento. Emi-Odeon. 1980

106. (Unifesp) O processo estilístico em que um verso se estende no outro, sintática e semanticamente, é conhecido como encavalgamento, “cavalgamento” ou, muitas vezes, pelo termo francês “enjambement”. Esse recurso é frequente na estrutura do texto poemático. As estrofes da poesia-canção de Djavan, por exemplo, têm seus versos quase que inteiramente estruturados por esse processo. Indique a alternativa em que não ocorre encavalgamento.

a) “Meu bem-querer / É segredo, é sagrado,” b) “Meu bem-querer / Tem um quê de pecado” c) “E o que é o sofrer / Para mim, que estou” d) “Acariciado pela emoção. / Meu bem-querer, meu

encanto,” e) “Para mim, que estou / Jurado p’ra morrer de amor?”

Texto para a próxima questão

INSTRUÇÃO: A questão seguinte é relacionada a uma passagem bíblica e a um trecho da canção Cálice, realizada em 1973, por Chico Buarque (1944-) e Gilberto Gil (1942-).

Texto bíblico

Pai, se queres, afasta de mim este cálice! Contudo, não a minha vontade, mas a tua seja feita! (Lucas, 22)

In: Bíblia de Jerusalém. 7ª impressão. São Paulo: Paulus, 1995.

Trecho de canção

Pai, afasta de mim esse cálice!Pai, afasta de mim esse cálice!Pai, afasta de mim esse cáliceDe vinho tinto de sangue.

Como beber dessa bebida amarga,Tragar a dor, engolir a labuta,Mesmo calada a boca, resta o peito,Silêncio na cidade não se escuta.De que me vale ser filho da santa,Melhor seria ser filho da outra,Outra realidade menos morta,Tanta mentira, tanta força bruta.[…]

Disponível em: <www.uol.com.br/chicobuarque/>.

107. (Unifesp) Entendendo-se por rima a identidade ou semelhança de sons em lugares determinados dos versos, nota-se, nas linhas pares da segunda estrofe de Cálice, que o único verso que frustra a expectativa de rima é:

a) “Como beber dessa bebida amarga,” b) “Silêncio na cidade não se escuta.” c) “De que me vale ser filho da santa.” d) “Melhor seria ser filho da outra.” e) “Tanta mentira, tanta força bruta.”

Texto para a próxima questão

INSTRUÇÃO: A questão seguinte baseia-se em duas tirinhas de quadrinhos, de Maurício de Sousa (1935-), e na Canção do exílio, de Gonçalves Dias (1823-1864).

Canção do Exílio

(...)Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá;As aves, que aqui gorjeiam,Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,Nossas várzeas têm mais flores,Nossos bosques têm mais vida,Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,Que tais não encontro eu cá;Em cismar – sozinho, à noite –Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,Sem que eu volte para lá;Sem que desfrute os primoresQue não encontro por cá;Sem qu’inda aviste as palmeiras,Onde canta o Sabiá.

Antônio Gonçalves Dias, Primeiros Cantos

108. (Unifesp) Os versos da Canção do exílio são cons-truídos nos moldes da redondilha maior, com predo-minância dos acentos de intensidade nas terceiras e sétimas sílabas métricas. Um verso que não segue esse padrão de tonicidade é:

a) “Minha terra tem palmeiras,” b) “As aves, que aqui gorjeiam,” c) “Nosso céu tem mais estrelas,” d) “Em cismar, sozinho, à noite,” e) “Onde canta o Sabiá.”

Texto para a próxima questão

A(s) questão(ões) a seguir toma(m) por base a letra de uma guarânia dos compositores sertanejos Goiá (Gerson Coutinho da Silva, 1935-1981) e Belmonte (Pas-coal Zanetti Todarelli, 1937-1972).

Saudade de minha terra

De que me adianta viver na cidade,Se a felicidade não me acompanhar?Adeus, paulistinha do meu coração,Lá pro meu sertão eu quero voltar;Ver a madrugada, quando a passarada,

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Fazendo alvorada, começa a cantar.Com satisfação, arreio o burrão,Cortando o estradão, saio a galopar;E vou escutando o gado berrando,Sabiá cantando no jequitibá.Por Nossa Senhora, meu sertão querido,Vivo arrependido por ter te deixado.Nesta nova vida, aqui da cidade,De tanta saudade eu tenho chorado;Aqui tem alguém, diz que me quer bem,Mas não me convém, eu tenho pensado,E fico com pena, mas esta morenaNão sabe o sistema em que fui criado.Tô aqui cantando, de longe escutando,Alguém está chorando com o rádio ligado.Que saudade imensa, do campo e do mato,Do manso regato que corta as campinas.Aos domingos ia passear de canoaNa linda lagoa de águas cristalinas;Que doces lembranças daquelas festanças,Onde tinha danças e lindas meninas!Eu vivo hoje em dia, sem ter alegria,O mundo judia, mas também ensina.Estou contrariado, mas não derrotado,Eu sou bem guiado pelas mãos divinas.Pra minha mãezinha, já telegrafei,Que já me cansei de tanto sofrer.Nesta madrugada, estarei de partidaPra terra querida que me viu nascer;Já ouço sonhando o galo cantando,O inhambu piando no escurecer,A lua prateada, clareando a estrada,A relva molhada desde o anoitecer.Eu preciso ir, pra ver tudo ali,Foi lá que nasci, lá quero morrer.

Goiá em duas vozes – o compositor interpreta suas músicas. Discos Chororó. CD nº 10548, s/d.

109. (Unesp) “Tô aqui cantando, de longe escutando,”

No verso destacado, a variante popular “tô”, além de ter sido empregada para caracterizar o teor da música sertaneja, desempenha também um papel na métrica do verso, que não aceitaria a forma “estou”. Explique o motivo pelo qual o compositor não empre-gou “estou”.

110. (UFRGS-RS) Leia o poema Tabaréu, de Adé-lia Prado.

Vira e mexe eu penso é numa toada só. Fiz curso de filosofia pra escovar o pensamento, não valeu. O mais universal que eu chego é a recepção de Nossa Senhora de Fátima em Santo Antônio do Monte. Duas mil pessoas com velas louvando a Maria num oco de escuro, pedindo bom parto, moço de bom gênio pra casar, boa hora pra nascer e morrer. O cheiro do povo espiritado, isso eu entendo sem desatino.

Porque, mercê de Deus, o poder que eu tenho é de fazer poesia, quando ela insiste feito água no fundo da mina, levantando morrinho de [areia. É quando clareia e refresca, abre sol, chove, conforme necessidades. Às vezes dá até de escurecer de repente com trovoada e raio. Não desaponta nunca. É feito sol. Feito amor divino.

Considere as seguintes afirmações sobre esse poema.I. O curso de filosofia tentaria organizar/escovar

o pensamento, mas a poeta reconhece que sua capacidade de alcançar o “universal” é limitada: ela é capaz, sim, de entender uma cena de fé coletiva, com suas solicitações práticas e emocionadas.

II. O uso do registro oral e popular (“vira e mexe”, “escovar o pensamento”, “o mais universal que eu chego”) revela a perspectiva despretensiosa e informal da poeta, que contrasta com os versos metrificados do poema, os quais mantêm, em sua maioria, o mesmo número de sílabas.

III. A capacidade de escrever poesia associa-se a fenômenos naturais, como água caindo sobre areia, variação de temperatura, sol e raio, dos quais derivam as dúvidas sobre a existência de Deus enunciadas no poema.

Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas I e III. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

Texto para a próxima questão

Leia o texto abaixo.

Paraí-ba (Céceu)

Pê - a - páErre - a - ra – íBê - a – báParaíbaParaíba do norte, do caboclo forte

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Do homem disposto esperando choverDa gente que canta com água nos olhosChorando e sorrindo, querendo viverDo sertão torrado, do gado magrinhoDo açude sequinho, do céu tão azulDo velho sentado num banquinho velhoComendo com gosto um prato de anguAcende o cachimbo, dá uma tragadaNão sabe de nada da vida do sulPê - a – páErre - a - ra – íBê - a – báParaíbaParaíba do norte que tem seu progressoQue manda sucesso pra todo paísQue sente a presença da mãe naturezaQue vê a riqueza nascer da raizQue acredita em Deus, também no pecadoQue faz do roçado a sua oraçãoE ainda confia no seu semelhanteE vai sempre avante em busca do pãoO pão que é nosso, que garante a vidaTerrinha querida do meu coraçãoPê - a – páErre - a - ra – íBê - a - báParaíba

Ramalho, Zé. Duetos. BMG. São Paulo, 2004. CD-ROM.

111. (IFAL) Considerando-se a linguagem e a estru-tura do texto, é possível enquadrá-lo no gênero:

a) descrição, pois nos primeiros versos o homem do Norte é caracterizado como forte e disposto.

b) dissertação, pois nos últimos versos são apresen-tados comentários críticos sobre a região paraibana.

c) narração, pois a vida do homem do norte é contada da infância à vida adulta.

d) poema, pois os versos são apresentados em meio a figuras de linguagens comuns a esse gênero.

e) notícia, pois a intenção é informar sobre a vida do paraibano.

Texto para a próxima questão

Leia o poema de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810).

18

Não vês aquele velho respeitável,que à muleta encostado,apenas mal se move e mal se arrasta?Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo,o tempo arrebatado,que o mesmo bronze gasta!Enrugaram-se as faces e perderamseus olhos a viveza:voltou-se o seu cabelo em branca neve;já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo,nem tem uma belezadas belezas que teve.

Assim também serei, minha Marília,daqui a poucos anos,que o ímpio tempo para todos corre.Os dentes cairão e os meus cabelos.Ah! sentirei os danos,que evita só quem morre.

Mas sempre passarei uma velhicemuito menos penosa.Não trarei a muleta carregada,descansarei o já vergado corpona tua mão piedosa,na tua mão nevada.

As frias tardes, em que negra nuvemos chuveiros não lance,irei contigo ao prado florescente:aqui me buscarás um sítio ameno,onde os membros descanse,e ao brando sol me aquente.

Apenas me sentar, então, movendoos olhos por aquelavistosa parte, que ficar fronteira,apontando direi: — Ali falamos,ali, ó minha bela,te vi a vez primeira.

Verterão os meus olhos duas fontes,nascidas de alegria;farão teus olhos ternos outro tanto;então darei, Marília, frios beijosna mão formosa e pia,que me limpar o pranto.

Assim irá, Marília, docementemeu corpo suportandodo tempo desumano a dura guerra.Contente morrerei, por ser Maríliaquem, sentida, chorandomeus baços olhos cerra.

Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu e mais poe-sias. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1982.

112. (Unesp) Assinale a alternativa que indica a ordem em que os versos de dez e de seis sílabas se sucedem nas oito estrofes do poema.

a) 6, 10, 6, 6, 10, 10. b) 10, 6, 10, 10, 6, 6. c) 10, 10, 6, 10, 6, 6. d) 10, 6, 10, 6, 10, 6. e) 6, 10, 6, 10, 6, 6.

113. (UFMG) Leia este poema:

Ego de mona kateudo

Dor, dor de minha alma, é madrugadaE aportam-me lembranças de quem amo.E dobram sonhos na mal-estrelada

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Memória arfante donde alguém que chamoPara outros braços cardiais me negaRestos de rosa entre lençóis de olvido.Ao longe ladra um coração na cegaNoite ambulante. E escuto-te o mugido,Oh vento que meu cérebro aleitaste,Tempo que meu destino ruminaste.Amor, amor, enquanto luzes, puro,Dormido e claro, eu velo em vasto escuro,Ouvindo as asas roucas de outro diaCantar sem despertar minha alegria.

FAUSTINO, Mário. O homem e sua hora e outros poe-mas. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 89.

Identifique três aspectos formais que caracteri-zam esse poema como um soneto.

Texto para a próxima questão

Ontem a Serra Leoa,A guerra, a caça ao leão,O sono dormido à toaSob as tendas d’amplidão!Hoje... o porão negro, fundo,Infecto, apertado, imundo,Tendo a peste por jaguar...E o sono sempre cortadoPelo arranco de um finado,E o baque de um corpo ao mar...

Ontem plena liberdade,A vontade por poder...Hoje... cúm’lo de maldade,Nem são livres p’ra morrer...Prende-os a mesma corrente– Férrea, lúgubre serpente –Nas roscas da escravidão.E assim roubados à morte,Dança a lúgubre coorteAo som do açoite... Irrisão!...

Castro Alves. Fragmento de O navio negreiro – tragédia no mar.

114. (Unifesp) Nesse fragmento do poema:

a) o poeta se vale do recurso ao paralelismo de construção apenas na primeira estrofe.

b) o eu-poemático aborda o problema da escravidão segundo um jogo de intensas oposições.

c) os animais evocados – leão, jaguar e serpente – têm, respectivamente, sentidos denotativo, denotativo e metafórico.

d) o tom geral assumido pelo poeta revela um misto de emoção, vigor e resignação diante da escravidão.

e) os versos são constituídos alternadamente por sete e oito sílabas poéticas.

Texto para a próxima questão

De tudo que é nego tortoDo mangue e do cais do portoEla já foi namoradaO seu corpo é dos errantes

Dos cegos, dos retirantesÉ de quem não tem mais nadaDá-se assim desde meninaNa garagem, na cantinaAtrás do tanque, no matoÉ a rainha dos detentosDas loucas, dos lazarentosDos moleques do internatoE também vai amiúdeCo’os velhinhos sem saúdeE as viúvas sem porvirEla é um poço de bondadeE é por isso que a cidadeVive sempre a repetirJoga pedra na GeniJoga pedra na GeniEla é feita pra apanharEla é boa de cuspirEla dá pra qualquer umMaldita Geni

Chico Buarque. Geni e o zepelim.

115. (Unifesp) Indique a alternativa que identifica corretamente, de modo respectivo, a métrica e a natu-reza predominante das rimas.

a) Heptassílabos – rima toante b) Octossílabos – rima toante c) Hexassílabos – rima consoante d) Octossílabos – rima consoante e) Heptassílabos – rima consoante

Texto para a próxima questão

Texto

O tempo fecha.Sou fiel aos acontecimentos biográficos.Mais do que fiel, oh, tão presa! Esses mosquitosque não largam! Minhas saudades ensurdecidaspor cigarras! O que faço aqui no campodeclamando aos metros versos longos e sentidos?Ah que estou sentida e portuguesa, e agora nãosou mais, veja, não sou mais severa e ríspida:agora sou profissional.

CESAR, Ana Cristina. A teus pés. 6. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, s/d. p. 9.

116. (UEL-PR) Em relação à forma do poema, consi-dere as afirmativas a seguir.

I. Segue os padrões formais da poesia pelo uso de rimas interpoladas e de versos com métrica uniforme.

II. Está em sintonia com os preceitos da poesia moderna por utilizar versos sem métrica uniforme.

III. Estabelece ligações entre poesia e prosa, rompendo as fronteiras entre os gêneros.

IV. Elimina a pontuação, o que torna o poema hermético e dificulta seu entendimento.

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Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e III são corretas. b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. c) Somente as afirmativas II e III são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

Texto para a próxima questão

Meu sonho

EuCavaleiro das armas escuras,Onde vais pelas trevas impurasCom a espada sanguenta na mão?Por que brilham teus olhos ardentesE gemidos nos lábios frementesVertem fogo do teu coração?

Cavaleiro, quem és? o remorso?Do corcel te debruças no dorso...E galopas do vale através...Oh! da estrada acordando as poeirasNão escutas gritar as caveirasE morder-te o fantasma nos pés?

Onde vais pelas trevas impuras,Cavaleiro das armas escuras,Macilento qual morto na tumba?...Tu escutas... Na longa montanhaUm tropel teu galope acompanha?E um clamor de vingança retumba?

Cavaleiro, quem és? – que mistério,Quem te força da morte no impérioPela noite assombrada a vagar?

O Fantasma

Sou o sonho de tua esperança,Tua febre que nunca descansa,O delírio que te há de matar!...

AZEVEDO, A. de. Lira dos vinte anos. São Paulo: FTD, 1994. p. 209. (Coleção Grandes Leituras).

117. (UFRN) O ritmo de um poema é determinado pelo número e pela acentuação de suas sílabas poéti-cas; já as rimas implicam igualdade sonora, especial-mente ao final dos versos.

Por isso, é correto afirmar sobre “Meu sonho” que: a) o ritmo e as rimas irregulares figuram o mistério

a envolver o cavaleiro dentro daquele clima sombrio.

b) o ritmo regular e as rimas irregulares mostram as alternâncias entre visões da vida e da morte.

c) o ritmo e as rimas regulares assemelham-se ao galope do cavaleiro na sua aventura misteriosa.

d) o ritmo irregular e as rimas regulares apontam as diferenças de postura entre o “Eu” e o “Fantasma”.

Texto para a próxima questão

O “Adeus” de Teresa

A vez primeira que eu fitei Teresa,Como as plantas que arrasta a correnteza,A valsa nos levou nos giros seus...E amamos juntos... E depois na sala“Adeus” eu disse-lhe a tremer co’a fala...

E ela, corando, murmurou-me: “adeus.”

Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...E da alcova saía um cavaleiroInda beijando uma mulher sem véus...Era eu... Era a pálida Teresa!“Adeus” lhe disse conservando-a presa...

E ela entre beijos murmurou-me: “adeus!”

Passaram tempos... séculos de delírioPrazeres divinais... gozos do Empíreo...... Mas um dia volvi aos lares meus.Partindo eu disse – “Voltarei!... descansa!...”Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: “adeus!”

Quando voltei... era o palácio em festa!...E a voz d’Ela e de um homem lá na orquestraPreenchiam de amor o azul dos céus.Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!Foi a última vez que eu vi Teresa!...E ela arquejando murmurou-me: “adeus!”

CASTRO ALVES, Antonio Frederico. Espumas flutuan-tes. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. p. 51.

118. (UEL-PR) Considerando os recursos de composi-ção utilizados no poema, assinale a alternativa correta.

a) As reticências acentuam a emotividade do par amoroso e assinalam suspensões temporais.

b) O uso do verso decassílabo reproduz o ritmo da valsa que embala o casal durante todo o poema.

c) A alternância do comportamento de Teresa entre amor e ódio é marcada pelo refrão.

d) As inversões sintáticas são utilizadas para intensificar o sofrimento de Teresa.

e) O uso da comparação na primeira estrofe revela o caráter firme de Teresa.

119. (Fuvest-SP) Leia estas duas estrofes da conhe-cida canção Asa-Branca, de Luís Gonzaga e Hum-berto Teixeira.

Quando olhei a terra ardendoQual fogueira de São João,Eu perguntei a Deus do céu, aiPor que tamanha judiação.[...]

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Quando o verde dos teus olhosse espalhar na plantação,eu te asseguro, não chores não, viu,eu voltarei, viu, meu coração.

a) Indique uma palavra ou expressão que possa substituir “Qual” (primeira estrofe), sem alterar o sentido do texto.

b) Na segunda estrofe, substitua a palavra “viu” por outra que cumpra a mesma função comunicativa que ela tem no texto.

c) Nessas estrofes, os únicos recursos poéticos utilizados são rima e ritmo? Justifique sua resposta.

Texto para a próxima questão

O amor é feioTem cara de vícioAnda pela estradaNão tem compromisso[...]

O amor é lindoFaz o impossívelO amor é graçaEle dá e passa

A. Antunes, C. Brown, M. Monte, O amor é feio.

120. (Mackenzie-SP) As alternativas a seguir citam aspecto estilístico presente no texto, exceto o uso de:

a) estrutura paralelística (“O amor é feio / O amor é lindo”).

b) rimas externas e internas (vício / compromisso; cara / estrada).

c) conjunções coordenadas (“O amor é feio / Tem cara de vício”).

d) processo metafórico (“Anda pela estrada / Não tem compromisso”).

e) estrofes simétricas (quartetos).

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Gabarito01. A02. A03. D04. D05. F – V – F – V – V.06. A expressão “paisagem este-rilizada” sugere um cenário limpo, sem sujeiras, já que os transeun-tes, muitas vezes, associam pre-conceituosamente essa arte de rua a vandalismo. 07. Em ambos os textos existem apreciações positivas sobre este tipo de manifestação artística. No primeiro, há informação de que parcelas da população consideram o grafite “como uma instigante, provocadora e fenomenal lingua-gem artística” que, gradualmente, vem se impondo em espaços bem conceituados, como no “interior de famosas galerias”, nas “fachadas externas de museus, como o Tate Modern, de Londres. No segundo texto, menciona-se o fato de que os seus autores manifestam “preo-cupações políticas”, possuem cons-ciência quanto à “ecologia e ao meio ambiente natural” e se envolvem voluntariamente em “organizações educacionais e assistencialistas”. 08. O convite formulado por um conceituado museu de arte con-temporânea como o Tate Modern de Londres serve de argumento para comprovar a relevância da tese de que o grafite é uma mani-festação artística de grande interesse. 09. B10. C11. A12. B13. D14. a) O -r final é sistematicamente elidido, num caso de apócope que ocorre até mesmo na pronúncia culta ou semiculta do Brasil.Quanto ao /lh/ medial, ele se transforma, como na pronúncia caipira, em /y/, ou seja, em semi-vogal que forma ditongo com a vogal adjacente.b) No português popular cor-rente no Brasil, evita-se sistemati-camente o emprego de morfemas flexionais redundantes. Assim, quando a marca de número ou de

pessoa se encontra presente no artigo ou no pronome, omite-se o morfema flexional de pessoa e número, no verbo, ou de número, em substantivos ou adjetivos.

Assim, o que ocorre em “as casa” é um fenômeno paralelo ao que se nota em “nóis arranja”, ou seja, como a indicação de pessoa e número está presente no pro-nome, ela é omitida na terminação da forma verbal. 15. B16. A17. A18. a) Para Hume, existe muita razão no provérbio que afirma os gostos não serem discutíveis, por-que a busca pelo estabelecimento de uma beleza real e de uma feiura real é tão inapropriada quanto a busca pelo doce real ou o amargo real, quer dizer, é tão inapro-priada quanto a busca pela defi-nição exata daquilo que se define unicamente em relação com algo. O doce nunca é exatamente doce, mas doce enquanto se tem uma percepção sensível que nomeia isso doce. O belo funcionaria do mesmo modo e, por conseguinte, seria algo relativo ao momento da percepção e não a uma quali-dade essencial.b) Para Hume, há a constata-ção de que sempre em uma dis-cussão entre amigos, ou até desco-nhecidos, surge a impossibilidade de definições fundamentais de acordo com as quais reconhecería-mos conjuntamente o belo univer-sal. A simples existência de inú-meros tipos de arte (variadas pin-turas, esculturas, músicas, etc.) já apresenta o sublime de múltiplas maneiras dependentes de con-textualizações e da relação entre o homem e o universo. Dizendo de maneira direta, o sublime é resultado do processo construído de modo empírico através da mudança do relacionamento entre o indivíduo e a coisa que se trans-forma em um relacionamento par-ticular, talvez comunicável, entre sujeito e obra de arte. 19. 01 + 04 + 16 = 2120. B21. E

22. E23. 01 + 02 + 04 + 08 = 1524. D25. D26. E27. D28. 01 + 02 = 03.29. D30. 01 + 02 + 16 = 1931. a) Não, a referência a “meias ou uma água-de-colônia barata” é usada ironicamente em sen-tido figurado, aludindo a um pre-sente banal, adquirido sem grande envolvimento ou preocupação em causar satisfação à pessoa a quem vai ser oferecido.b) Qualquer frase que conti-vesse os termos “exceto”, “à exce-ção de” ou “afora” manteria a noção de exclusão que a palavra “salvo” expressa no terceiro período do texto, como por exemplo: Todos os países da América Latina pos-suem faixa litorânea, exceto Bolí-via e Paraguai. 32. D33. E34. E35. A36. C37. A 38. E39. A40. A 41. D42. A 43. B44. a) As expressões “europeizava-se” e “presença europeia” para designar a influência da cultura inglesa no cotidiano da colônia são inadequadas, pois a sociedade brasileira já havia recebido ante-riormente a influência da cultura do colonizador português, obvia-mente, também europeu. b) As palavras “litorâneo” e “temperatura” foram usadas em sentido figurado: a primeira refere-se às atividades comerciais realizadas por mar entre as duas nações e a segunda, à necessidade de adaptação da cultura estran-geira à realidade local. 45. C46. A gradação é sugerida atra-vés da repetição do gerúndio

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(“amaciando”, “tornando”, “incor-porando”, “amolecendo”) e a rigi-dez, no verso “as expressões mais sisudas”. 47. D 48. A 49. A50. A51. B52. C53. Trata-se da expressão “Mais sorte”, pois, na verdade, o meca-nismo usado pelos pedestres para acionar o sinal verde geralmente não funciona, desempenhando uma função ilusória que apenas atenua a ansiedade do usuário. 54. E55. C56. a) Segundo o narrador, a mãe apresentava aflição e nervosismo diante dos perigos que ele havia de passar. A sequência de ver-bos ajuda a concretizar a ima-gem aflita e ansiosa da mãe, que se movimenta de um lado para o outro (ir e vir) e realiza várias ações (remover, coser, futicar).b) O período destacado é mar-cado pelo uso de vários adjetivos e locuções adjetivas, que retra-tam as contradições, as variações e as ambiguidades do sentimento materno. Exemplos: “raro”, “excep-cional” e “delicado”/ “perigoso”, “de amor e espanto”/ “de piedade e orgulho”. 57. A58. E59. a) O paradoxo reside no fato de os turistas, ao contatarem setores sociais que não usufruem de con-forto nem têm satisfeitas as suas necessidades básicas, não se senti-rem incomodados com a desigual-dade social, o que, naturalmente, implicaria uma reflexão sobre ati-tudes claramente consumistas, típicas de uma classe privilegiada como a sua. Ocorre o contrário, a visita à favela “garante aos turistas seu aperfeiçoamento como consu-midores”, ou seja, reafirmam suas opções consumistas.b) Um guia relatou que o turismo na favela é um pouco invasivo, pois, ao andarem por aquelas ruas estreitas e, como os

moradores deixam as janelas aber-tas, os turistas olham, sem pudor, para dentro das casas, criando situações desagradáveis, como a ocorrida com outro colega de tra-balho. Contou que uma moradora cozinhava em seu fogão locali-zado perto da janela, quando um turista, que por ali passava, enfiou o braço e abriu a tampa da panela, enfurecendo a mulher que chegou a golpeá-lo. 60. D61. D62. A63. E64. E65. A66. A67. D68. B69. D70. E71. E72. F V V F V 73. C74. a) Há múltiplas possibilidades de respostas.Em O navio negreiro, impacta não só a descrição triste e forte da cena, em que as crianças – magras – mamam sangue nas tetas das mães, mas também o quadro seguinte, em que outras mulhe-res se arrastam, melancólicas, em meio a “fantasmas”, que, na ver-dade, são elas mesmas e, possi-velmente, o conjunto de negros escravos transportados no navio. O esquema da rima se faz em AABCCB, sendo decassílabos os versos 1, 2, 4 e 5 e hexassílabos (ou decassílabos quebrados) os versos 3 e 6. A combinação desses versos de 10 e 6 sílabas pode querer indi-car o balouço do navio. Tal estrofe de seis versos se chama sextilha. Em 7, sobressai a metáfora acerca da constituição da subjetividade, que envolve o “eu”, o “outro” e o “Outro”. O sujeito talvez não seja nenhuma dessas “misteriosas” ins-tâncias, mas o “intermédio”, daí a figura da “ponte”, que faria a tra-vessia entre elas. Tal ponte, con-tudo, é “de tédio”, elemento carac-terístico da poética do escritor português, que se suicidou ainda bem jovem. Chama bastante a

atenção o registro diferenciado entre “outro” e “Outro”, indicando, portanto, sentidos diferentes: este segundo, grafado com letra maiúscula, insinua uma dimen-são metafísica, enigmática (ins-crita no título: um número, o 7) de toda alteridade. A rima entre “outro” e “Outro” acentua simulta-neamente a semelhança e a diver-sidade entre tais palavras.Em “Os arredores florem”, destaca-se a delicada imagem construída pelo poema, que capta os “brevíssi-mos movimentos” de elementos da natureza, como numa dança silen-ciosa. Quanto ao ritmo, os três ver-sos iniciais possuem seis sílabas poéticas, e o quarto se estende em oito sílabas: a tonicidade de cada verso (4/6; 1/3/6; 3/6; 3/8) reforça o movimento representado. Percebe-se a sutileza das rimas internas dos versos iniciais (arredOres / flOrem; nErvos / libÉlulas; criArem / Águas) e as aliterações no verso final, em /v/, /s/ e /m/. O poema se mostra como se fosse um flagrante fotográ-fico de uma cena, embora silenciosa, em que a vida se impõe – em que a vida está a florir.b) Seguem-se quatro opções de resposta:1. O sangue das mães rega as

bocas pretas das magras crianças suspensas às tetas das negras mulheres.

2. O sangue das mães, negras mulheres, rega as bocas pretas das magras crianças suspensas às suas tetas (delas).

3. O sangue das mães negras mulheres, que suspendem às (suas) tetas magras crianças, rega-lhes as bocas pretas.

4. O sangue das mães negras mulheres, que suspendem magras crianças às tetas, rega-lhes as bocas pretas.

75. A onomatopeia é uma figura da retórica que, por meio de imitação ou reprodução, aproxima por seme-lhança o som de uma palavra à rea-lidade que representa, seja o canto dos animais, seja o som dos instru-mentos musicais ou o barulho que acompanha os fenômenos da natu-reza. “Retintim” expressa o ruído de objetos metálicos que se chocam entre si e contra a pedra, e “zoada”,

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o zumbido provocado pelas vozes e ruídos que vinham do cortiço. 76. E77. A78. D79. D80. A81. a) Algumas paráfrases (inter-pretações livres e adaptadas, mas que não alteram o conceito ori-ginal) são possíveis, como: “Não leve o falso, pensando que é o ver-dadeiro”, “Não troque um pro-duto confiável por outro que não o é”, “Não compre um produto só pela aparência”.b) A primeira ocorrência aponta o produto pelo seu nome pró-prio, e, por meio de uma metoní-mia (marca pelo produto), substi-tui o substantivo comum “palha-de-aço”. Na segunda ocorrência, destaca-se o produto ao caracte-rizá-lo como único ou o melhor entre todos. Associando a expres-são idiomática “gato por lebre” ao anúncio específico do produto, deduz-se que “lebre” é BOM BRIL e todos os outros produtos simila-res são “gato”. 82. B83. Em ambos os poemas, o eu-lí-rico evidencia a sua revolta aos bons modos, às regras impostas pela sociedade, aos critérios de comportamento e conduta que lhe são impostos: “Ó ilustríssimos senhores / de modos finos, que saco!”, “Não quero ser poeta / de que todos se orgulham.” e “Não me venham com conclusões!”, “Se têm a verdade, guardem-na!”.Assim, temos dois poetas de épo-cas distintas, cada qual com as suas peculiaridades, abordando um mesmo assunto e de forma parecida: Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pes-soa, do Modernismo português, um eterno descontente em con-flito com o mundo; e Waldo Motta, poeta brasileiro contemporâneo.Resumindo, podemos dizer que a revolta perante uma sociedade de aparências, com valores éticos e morais questionáveis para o eu-lí-rico de cada um dos poemas, e a lin-guagem exclamativa, irônica e, até mesmo, agressiva são os elemen-

tos que promovem o diálogo entre os textos, a intertextualidade. 84. D85. E86. E87. B88. C89. A90. B91. A92. B93. B94. A95. A96. A97. E98. B99. B100. Relativamente aos aspectos formais, os poemas apresentam características das escolas e dos períodos literários em que estão inseridos. O poema de Cláudio Manuel da Costa, autor inserido no Arcadismo brasileiro, é consti-tuído de 14 versos decassílabos, dis-tribuídos em dois quartetos e dois tercetos com rimas emparelhadas e alternadas (ABBA ABBA CDC DCD). O de Orides Fontela reflete a influência da estética moder-nista, com versos livres e brancos. Quanto à temática, embora ambos os poemas abordem filosofica-mente a existência, revelam dife-renças quanto ao posicionamento do eu lírico. No primeiro, retoma o mito de narciso na busca da pró-pria individualidade, enquanto no segundo se assusta com a possibi-lidade de a encontrar (“não amo o espelho: temo-o”). 101. A102. E103. C104. Genericamente, rima é repe-tição fonológica em diversas par-tes do discurso e que se verifica na parte posterior da palavra, em uma sequência de fonemas a par-tir da vogal mais intensa. Está associada ao discurso de intenção poética com uso de versos, embora possa estar presente em qualquer modalidade, inclusive na prosa, como acontece frequentemente em autores como José de Alencar e Guimarães Rosa, recurso que se designa como melopeia. Assim, a palavra obedece ao poeta, pois

este, ao pretender usar rima para a confecção do texto, recorre às palavras “prosa” e “rosa” e à locu-ção “em silêncio” que remete ao adjetivo “silenciosa”. No entanto e paradoxalmente, a palavra “prosa” sugere um texto sem a presença de versos, o que não se verifica, pois o resultado é uma estrofe de quatro versos, dois deles rimados (3º e 4º) e outros dois redondilhos maiores (2º e 4º). 105. O poema de Aldir Blanc, que se notabilizou como letrista a par-tir de suas parcerias com João Bosco, apresenta recursos rítmi-cos/sonoros e também sintáticos, típicos das manifestações orais da linguagem que acompanham a música. Assim, a disposição das rimas com esquema AAB/CCB/DDB/EEB//FFB, além do uso de versos de nove e oito sílabas que se alternam no primeiro e segundos versos de cada grupo, conferem ao poema o equilíbrio necessário para que música e letra se com-pletem e resultem em algo agra-dável de ouvir. Também a repeti-ção do verso “Quando ele nasceu”, que inicia o primeiro verso de cada estrofe, constitui recurso sintá-tico importante para a simetria do poema. 106. D107. D108. B109. O verso “Tô aqui cantando, de longe escutando” apresenta 11 síla-bas métricas, como todos os outros do poema. Se o poeta usasse o termo “estou”, o verso ficaria com 12 sílabas, interferindo na compo-sição métrica regular com que foi estruturado. Se fizer a escansão do verso original e o do verso com o termo “Tô”, pode-se observar que este último ficaria com 12 sílabas:Tô- a-qui-can-tan-do-de-lon-gees-cu-tan-(do): 11 sílabasEs-tou- a-qui- can-tan-do-de-lon-gees-cu-tan-(do): 12 sílabas 110. A111. D112. B113. Trata-se de um soneto monos-trófico, pois apresenta uma única estrofe de 14 versos decassílabos, com esquema rimático ABABCD-

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CDEEFFGG (rimas alternadas e emparelhadas). 114. B115. E116. C117. C118. A119. a) A palavra “qual” é uma con-junção subordinativa que estabe-lece relação de comparação entre o primeiro e o segundo versos da

primeira estrofe e equivale a como, tal como, assim como.b) No contexto, o termo “viu” assinala a função fática da lingua-gem em que o emissor deseja cha-mar a atenção do receptor para se certificar de que existe con-tato entre ambos e equivale a tá? ouviu? entendeu?.c) Além da rima e do ritmo mar-cado pelo predomínio do verso redondilho maior, o poeta usou figuras de estilo que traduzem

a sua emoção: decepção, na pri-meira estrofe, e anseio de regresso, na segunda. A comparação (“a terra ardendo/Qual fogueira de São João”), a metáfora (“Quando o verde dos teus olhos/se espa-lhar na plantação”) e a metonímia (”meu coração”) revelam a preo-cupação do eu lírico em transmi-tir sentimentos de forma original e concisa, como é típico da lingua-gem poética. 120. C

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Anotações

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