Positivismo
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Positivismo: A razão como
instrumento de salvação
Ariana Cosme
Génese
Foi Augusto Comte (1798 – 1857) que, no séc. XIX, se assumiu como o principal mentor do movimento filosófico designado, pelo próprio Comte, por positivismo.
O positivismo, como qualquer outro movimento, terá que ser compreendido à luz de um tempo em que o mundo viveu: transformações políticas decisivas;
muitas das suas revoluções industriais;
a afirmação, consolidação e valorização das ciências e da racionalidade científica como racionalidade indiscutível e sobrehumana.
Um tempo de
transformações políticas
1820 – Revolução liberal no Porto. Primeiras eleições em Portugal.
1821 – Extinção da Inquisição em Portugal.
1822 – Aprovação da Constituição liberal e independência do Brasil.
1867 – Abolição da pena de morte em Portugal para os crimes civis.
1891 – Revolta republicana no Porto (31 de Janeiro).
Um tempo de
transformações políticas
1828 – Fundação do Partido dos Trabalhadores em Filadélfia.
1861 – Início da Guerra da Secessão nos E.U.A.
1865 – Abolição da escravatura nos E.U.A.
1866 – 1ª Manifestação do 1º de Maio nos E.U.A.
1876 – Começa em Espanha o regime constitucional.
Um tempo de transformações
tecnológicas
1814 – Aparecimento da primeira locomotiva a vapor.
1821 – Descoberta da termo-electricidade por Seebek, enquanto Fresnel expõe a teoria ondulatória da luz.
1856 – Descoberta do Homem de Neanderthal. Inauguração da primeira linha de caminho-de-ferro em Portugal (Lisboa-Carregado).
1865 – Leis de Mendel (Genética).
1868 – Descoberta do Homem de Cro-Magnon.
1873 – Wundt publica os Elementos de Psicologia Patológica.
1895 – Invenção do cinema.
O séc. XIX: Um tempo de
rupturas e transformações
O séc. XIX é um tempo de
transformações políticas profundas,
na sequência do movimento de
ruptura civilizacional iniciado com a
Revolução Francesa.
Triunfa a ordem política burguesa
através da afirmação dos regimes
parlamentares.
O mundo ocidental liberaliza-se e os
conflitos sociais intensificam-se.
O séc. XIX: Um tempo de
rupturas e transformações
A afirmação da indústria gera uma
nova ordem económica que é
compatível com o peso da
burguesia na afirmação da nova
ordem política.
É também a indústria que estimula
a revolução tecnológica que se
inicia no séc. XIX.
O séc. XIX: Um tempo de
rupturas e transformações
O séc. XIX é não só o século de uma
transformação social sem precedentes, como,
concomitantemente, é o século em que se
afirma um novo de conceber e interpretar o
mundo e as relações entre as pessoas nesse
mundo.
A Razão Humana é assumida como o factor
decisivo que irá permitir o governo das
sociedades como um governo capaz de,
respeitar a liberdade de cada indivíduo e,
simultaneamente, assegurar o bem-comum de
todos os membros dessas sociedades.
O séc. XIX: Um tempo de
rupturas e transformações
É a Razão Humana, também, que irá sustentar a crença em função da qual se acredita que a revolução tecnológica pode assegurar as respostas às necessidades dos indivíduos.
A transformação do mundo que a Revolução Francesa anunciou no século anterior afirma-se, assim, no séc. XIX quer por força das revoluções liberais, quer por força das revoluções industriais e da revolução tecnológica que se iniciou, nesse período, para as sustentar.
O séc. XIX: Um tempo de
rupturas e transformações
O séc. XIX pode considerar-se, então, o
século em que a Razão Humana:
assume uma visibilidade inédita enquanto
instrumento de legitimação da nova ordem
política, social, económica e cultural
vigentes;
O séc. XIX: Um tempo de
rupturas e transformações
O séc. XIX pode considerar-se, então, o
século em que a Razão Humana:
assume uma visibilidade inédita enquanto
instrumento de legitimação da nova ordem
política, social, económica e cultural
vigentes;
justifica a valorização das ciências naturais
quer como instrumento de suporte ao
crescimento da indústria, quer como
instrumento de afirmação de uma nova
racionalidade política e epistemológica.
O séc. XIX: Um tempo de
rupturas e transformações
É aos cientistas e, sobretudo, à razão
que os anima que deverá competir a
gestão das sociedades, de forma a
responder-se:
à crise política dessas sociedades,
assegurando a nova ordem social que se
visa implementar;
O séc. XIX: Um tempo de
rupturas e transformações
É aos cientistas e, sobretudo, à razão que os anima que deverá competir a gestão das sociedades, de forma a responder-se:
à crise política dessas sociedades,
assegurando a nova ordem social que se visa implementar;
aos desafios tecnológicos que as mesmas suscitam, assegurando o progresso da indústria em função do qual se pode assegurar o progresso das sociedades.
Génese
O positivismo terá que ser
compreendido, então, à luz de um
tempo em que se afirma a ideologia do
progresso como resposta aos
problemas das sociedades, do mundo e
da vida.
É um tempo marcado pelo optimismo e
pela crença nas possibilidades
redentoras da ciência e da razão.
Génese
É este espírito da época que marca e
está presente na obra de Comte,
influenciando a própria configuração do
movimento positivista.
Um movimento que poderá ser melhor
compreendido em função da proposta
que a elaboração da «Lei dos Três
Estados», da autoria de Comte, e da
classificação das ciências que o filósofo
francês produziu.
A Lei dos Três Estados
Através da formulação da «Lei
dos Três Estados», Comte visou
identificar os estádios através dos
quais se revelaria os modos como
a humanidade tem vindo a
interpretar o mundo e a realidade.
A Lei dos Três Estados
No primeiro estádio, o estado teológico,
a humanidade tenderia a explicar os
acontecimentos, recorrendo a entidades
supra-humanas.
Trata-se de um estado onde se evolui
do animismo para o politeísmo e deste
para o monoteísmo.
A Lei dos Três Estados
No segundo estádio, o estado
metafísico, as divindades são
substituídas por entidades abstractas
que são assumidas como os
instrumentos em função dos quais se
explica a realidade.
Nesta categoria, incluem-se entidades
como «força vital», «espírito humano»
ou «alma».
A Lei dos Três Estados
No terceiro estádio, o estado positivo, as explicações que se encontram para abordar a realidade constroem-se a partir da descoberta das leis da natureza, em função das quais se torna possível determinar as causas dos fenómenos, para, em seguida, prever os acontecimentos e, por fim, agir de forma esclarecida sobre os mesmos.
A Lei dos Três Estados
Para Comte, a «Lei dos Três Estados» não se aplica, apenas, à história da espécie humana, mas, igualmente, à história individual de cada pessoa.
Assim, segundo Comte, a criança elabora explicações teológicas, o adolescente é metafísico, enquanto o adulto tende a ser positivista.
Classificação das Ciências
Para Comte, a evolução das ciências
rumo ao estado positivo não ocorreu de
forma sincrónica.
A ordem histórica da aparição das
ciências positivas foi inaugurada pela
Matemática, para, em seguida esse
percurso ser seguido pela Astronomia,
pela Física, pela Química, pela Biologia
e, finalmente, pela Sociologia.
Classificação das Ciências
A Matemática foi a primeira ciência a emergir.
A Astronomia afirma-se, em seguida, como uma
ciência através de Copérnico e Galileu.
Depois é a Física que se constitui como uma
ciência através da obra de Newton (séc. XVII).
A Química acede, em seguida, ao estatuto de
ciência, no séc. XVIII, com Lavoisier.
Classificação das Ciências
A Biologia só no séc. XIX é que pode ser considerada uma ciência, através do contributo de Mendel.
A Sociologia é a última ciência que aparece no âmbito desta taxonomia, por iniciativa do próprio Comte que a designa, inicialmente, por «Física Social».
Classificação das Ciências
Para Comte a ordem cronológica do
aparecimento das ciências deve ser
compreendida à luz:
de uma relação proporcionalmente directa
entre o momento da sua emergência e a sua
aplicabilidade;
Classificação das Ciências
Para Comte a ordem cronológica do
aparecimento das ciências deve ser
compreendida à luz:
de uma relação proporcionalmente directa
entre o momento da sua emergência e a sua
aplicabilidade;
de uma relação proporcionalmente inversa
entre o momento da sua emergência e a sua
complexidade.
Classificação das Ciências
É face a estes pressupostos que a Matemática é a primeira ciência a afirmar-se porque é a menos complexa, do ponto de vista dos seus conteúdos, e aquela que mais generalidades permite suscitar.
Para Comte é a Sociologia que constitui a ciência mais complexa e menos sujeita a generalidades, razão pela qual foi a última ciência a emergir.
Classificação das Ciências
A Sociologia que na reflexão de Comte
assume um papel nuclear não só é
entendida como a ciência mais
complexa, mas também, e sobretudo,
como aquela que ao permitir instalar um
saber positivo ao nível das questões
humanas e sociais, permite ser um
instrumento decisivo no processo de
reforma social.
O positivismo e a afirmação das
Ciências Sociais e Humanas
É através do positivismo que se afirma, pela primeira vez, a possibilidade dos factos relacionados com as pessoas e as sociedades serem objecto de uma abordagem científica.
Isto significa que os factos sociais e humanos podem ser estudados à luz de uma abordagem cujo objectivo consiste em obter as leis que permitem controlar e prever esses factos.
O positivismo e a afirmação das
Ciências Sociais e Humanas
Tendo como finalidade o objectivo atrás enunciado, o positivismo propõe uma abordagem relativa ao processo de construção do saber que é equivalente quer nas ciências naturais, quer nas ciências humanas.
De acordo com o positivismo, é necessário que se aplique ao estudo da realidade humana, os princípios metodológicos e epistemológicos que se construíram para estudar a Natureza.
Acredita-se que é possível estudar os fenómenos sociais como se fossem fenómenos naturais.
O positivismo e a afirmação das
Ciências Sociais e Humanas
Acredita-se que se podem e devem reduzir os fenómenos sociais a coisas, passíveis de ser estudadas pelas suas dimensões externas, observáveis e mensuráveis.
Tal como as Ciências da Natureza, as Ciências Sociais e Humanas, para acederem ao estatuto de ciências, tendem a desvalorizar todo o tipo de conhecimento que não se construa segundo os parâmetros e os procedimentos do método experimental.
Distingue-se, assim, o conhecimento científico do senso comum, na medida em que o primeiro, ao contrário do segundo, desconfia de forma sistemática das evidências resultantes da nossa experiência sensorial imediata.
O positivismo e a afirmação das
Ciências Sociais e Humanas
A aspiração última de qualquer ciência é aceder a leis e princípios universais sobre os factos, sociais e humanos ou naturais, de forma a ser possível prever e determinar os acontecimentos.
A função do trabalho científico é eliminar a ambiguidade, a incerteza e a aleatoriedade dos factos, de forma a promover uma leitura neutra da realidade que não esteja viciada pelas limitações do olhar humano.
Valoriza-se a quantificação como condição incontornável da produção do conhecimento científico, já que aquilo que “não é quantificável é cientificamente irrelevante” (Santos, 2000).
Questões
É possível estudar os factos sociais como se fossem fenómenos naturais ?
É possível conceber a construção do conhecimento científico como um processo idêntico nas ciências naturais e nas ciências sociais e humanas ?
No universo das ciência sociais e humanas é possível definir leis que permitam controlar e prever factos e fenómenos, sem se ter em conta as particularidades das pessoas, dos contextos e das situações concretas ?