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Possíveis Implicações da Paralisia Cerebral na Aprendizagem Escolar Muitas vezes, encontram-se crianças com comprometimento motor severo e com inteligência normal, em condições de acompanhar as diversas séries do ensino regular desde o nível fundamental ao nível médio e até o ensino universitário. A diversidade de condições para o aprendizado escolar é muito grande e deve-se evitar o uso de informações generalizadas, que podem induzir a equívocos e a preconceitos, já que muitos alunos com paralisia cerebral não só têm inteligência normal como são ótimos alunos. Pesquisas realizadas por KÖNIG et al. (s.d.) indicam os seguintes resultados relativos à inteligência de crianças e jovens com paralisia cerebral: 25% apresentavam inteligência normal; 50% apresentavam limitado Q.I.; 25% apresentavam níveis de inteligência classificados como severos ou profundos. Distúrbios visuais, de percepção e diferenciação de formas podem dificultar o processo de aprendizagem de crianças e jovens com paralisia cerebral, assim como podem dificultar o processo de aprendizado na iniciação esportiva. Muitas dessas crianças e jovens não receberam nenhuma estimulação em casa. Os pais não foram preparados para ter filhos com deficiência e se preocupam, freqüentemente, apenas com a assistência médica e fisioterápica e deixam de lado o estímulo para que o filho com deficiência tenha a infância e juventude asseguradas. Com isso, as crianças e os jovens com paralisia cerebral ou com outras formas de deficiência física ou visual, por exemplo, não têm nenhuma experiência com o próprio corpo ou com objetos, assim como também não estão habituados a conviver com os desafios que as brincadeiras, a educação física e o esporte nos apresentam para nosso desenvolvimento cognitivo, social, físico e emocional. É comum a ocorrência de distúrbios visuais em portadores de paralisia cerebral, sendo que aproximadamente 60 a 80% dos estudantes com paralisia cerebral apresentam algum tipo de comprometimento da visão e, deste total, 40 a 50% necessitaram de correção óptica (lentes ou óculos). Estes distúrbios

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Possíveis Implicações da Paralisia Cerebral na Aprendizagem Escolar

Muitas vezes, encontram-se crianças com comprometimento motor severo e com inteligência normal, em condições de acompanhar as diversas séries do ensino regular desde o nível fundamental ao nível médio e até o ensino universitário. A diversidade de condições para o aprendizado escolar é muito grande e deve-se evitar o uso de informações generalizadas, que podem induzir a equívocos e a preconceitos, já que muitos alunos com paralisia cerebral não só têm inteligência normal como são ótimos alunos.

Pesquisas realizadas por KÖNIG et al. (s.d.) indicam os seguintes resultados relativos à inteligência de crianças e jovens com paralisia cerebral:

25% apresentavam inteligência normal;50% apresentavam limitado Q.I.;25% apresentavam níveis de inteligência classificados como severos ou profundos.

Distúrbios visuais, de percepção e diferenciação de formas podem dificultar o processo de aprendizagem de crianças e jovens com paralisia cerebral, assim como podem dificultar o processo de aprendizado na iniciação esportiva. Muitas dessas crianças e jovens não receberam nenhuma estimulação em casa. Os pais não foram preparados para ter filhos com deficiência e se preocupam, freqüentemente, apenas com a assistência médica e fisioterápica e deixam de lado o estímulo para que o filho com deficiência tenha a infância e juventude asseguradas. Com isso, as crianças e os jovens com paralisia cerebral ou com outras formas de deficiência física ou visual, por exemplo, não têm nenhuma experiência com o próprio corpo ou com objetos, assim como também não estão habituados a conviver com os desafios que as brincadeiras, a educação física e o esporte nos apresentam para nosso desenvolvimento cognitivo, social, físico e emocional.

É comum a ocorrência de distúrbios visuais em portadores de paralisia cerebral, sendo que aproximadamente 60 a 80% dos estudantes com paralisia cerebral apresentam algum tipo de comprometimento da visão e, deste total, 40 a 50% necessitaram de correção óptica (lentes ou óculos). Estes distúrbios visuais é que dificultariam o processo de aprendizagem e não a paralisia cerebral.

http://www.informacao.srv.br/cpb/htmls/paginas/projeto/possiveis_implicacoes.html

Paralisia cerebral

Introdução

Inicialmente, deve-se levar em conta que nosso cérebro regula todas as nossas funções: cognição, comportamento, movimentos, visão, audição, fala, atenção e concentração, etc. Havendo uma disfunção cerebral, uma ou mais funções sobre sua esfera de atuação podem ficar comprometidas. Estas disfunções do funcionamento cerebral podem ser causadas tanto por um distúrbio na estruturação do cérebro como por lesões provocadas nele. Com isso, podem ocorrer inibição funcional, desregulação de funções ou perdas de uma ou mais funções.

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Paralisia cerebral

Definição

A paralisia cerebral é definida como sendo o resultado de um distúrbio do desenvolvimento cerebral ou de uma seqüela que acomete o cérebro durante as fases pré-natal, perinatal e pós-natal, sendo limitada sua ocorrência, por questões de definição teórica, até os primeiros anos de vida.

A paralisia cerebral designa um grupo específico de desordens motoras, que não são progressivas, não implicando, portanto, risco de piora do quadro clínico, desde que não haja abandono dos cuidados e tratamentos prescritos.

Esta definição de paralisia cerebral, limitada ao tempo de sua ocorrência, tem por finalidade diferenciar a paralisia cerebral de outros comprometimentos do cérebro, manifestos na juventude, idade adulta ou senil.

Apesar de que o comprometimento do desenvolvimento cerebral ou de seu funcionamento possa afetar todas as funções reguladas pelo cérebro, tais como comportamento, inteligência, padrão dos movimentos, visão, audição, etc., refere-se à paralisia cerebral como sendo o resultado de um comprometimento exclusivamente motor. Deve ser lembrado, no entanto, que:

a paralisia cerebral pode estar associada ao comprometimento de outras funções do cérebro (visão, audição, fala, cognição, comportamento, etc.);

a paralisia cerebral não implica necessária e obrigatoriamente comprometimentos da inteligência ou distúrbios do comportamento.

A denominação paralisia cerebral, popularmente chamada de “PC”, poderia ser considerada como inadequada, já que o cérebro não se encontra paralisado. Na realidade, o cérebro da pessoa com paralisia cerebral apresenta “apenas” algumas disfunções, algumas perdas ou desordens funcionais, mas continua ativo e funcional para grande parte das suas capacidades.

O termo paralisia refere-se tanto ao comprometimento mais sério de determinadas funções quanto a perdas ou praticamente ausência de determinadas funções, enquanto o termo paresia se refere a comprometimentos menos marcantes.

Paralisia cerebral (continuação)

Causas da paralisia cerebral

Antes de serem mencionados os fatores capazes de provocar uma paralisia cerebral, deve ser ressaltado que a incidência de tais fatores não implica obrigatoriamente a ocorrência de uma paralisia cerebral.

Isto se deve à resistência, maior ou menor, que o cérebro das diferentes pessoas pode apresentar a estes fatores.

As causas da paralisia cerebral são divididas pela sua época de ocorrência em pré-natais, perinatais e pós-natais.

Paralisia cerebral (continuação)

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a) Causas Pré-Natais:

Distúrbios circulatórios. Durante a fase da gestação, distúrbios circulatórios podem provocar deficiências acentuadas de oxigenação no cérebro da criança, sendo manifestos, entre outros, por: deformidades ou distúrbios funcionais do coração da criança ainda em formação, distúrbios nas trocas sangüíneas entre a mãe e a criança, incompatibilidade sangüínea entre a mãe e a criança, enforcamento pelo cordão umbilical, hemorragias sérias da mãe durante a gravidez, etc.;

Exposição ao raio X; Redução do número de hemácias; Infecções: sífilis, tuberculose, toxoplasmose, rubéola, paratifo, malária, hepatite,

meningite, varicela, etc. Deve ser chamada a atenção para o fato de que muitas destas doenças ainda existem em nosso meio. Muitas vezes é dada atenção para elas quando chegam a matar alguém e isto é noticiado pela imprensa. No entanto, passa despercebida sua ação no cérebro das crianças durante a fase pré-natal. Daí o necessário cuidado com base em exames pré-natais, tratamentos e manutenção de conduta adequada e vacinação preventiva, quando for o caso;

Agentes tóxicos: drogas (craque, cocaína, maconha, etc.), medicamentos, produtos químicos (material de limpeza, inseticidas, etc., ingeridos acidentalmente pela gestante), alimentos com validade vencida, nos quais se desenvolveram agentes tóxicos (fungos e bactérias), poluição ambiental, etc.;

Distúrbios metabólicos (por exemplo, com insuficiências nutricionais ou incapacidade metabólica do organismo);

Traumatismos diretos na barriga da gestante.

Paralisia cerebral (continuação)

b) Causas Perinatais:

Durante o parto, as causas de paralisia cerebral mais freqüentes são:

Asfixias em partos prolongados. Freqüentemente eles implicam sofrimento da criança, sobrecarga cardiovascular, deficit de oxigenação, podendo levar à paralisia cerebral;

Edema cerebral; Medicamentos (por exemplo anestesia durante o parto); Rompimento prematuro da placenta; Constituição (crianças prematuras ou subdesenvolvidas). Este fator tende a

desaparecer entre as causas da paralisia cerebral. No entanto, ele depende de políticas públicas de saúde responsáveis, assegurando-se à população o atendimento em tempo hábil e de qualidade pelos agentes de saúde: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, auxiliares de enfermagem, além de equipamentos adequados (incubadoras, por exemplo), etc.;

Lesões mecânicas. Elas podem ser provocadas por traumatismos durante o parto, como quedas por exemplo, ou pelo uso do fórceps. Recentemente tem sido relativizado o uso do fórceps, considerandose que as condições que implicaram o uso do fórceps é que provocariam a paralisia cerebral e não o uso do fórceps em si. Isto depende, naturalmente, da qualificação do profissional que o utilizará.

Paralisia cerebral (continuação)

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c) Causas Pós-Natais:

Traumatismo craniano (comoção, contusão e fratura). Normalmente, na comoção a pessoa não sofre comprometimentos dignos de nota, perdendo momentaneamente os sentidos, mas recuperandose sem seqüelas. Na contusão cerebral, são comprometidas funções cerebrais. A fratura, até relativamente pouco tempo, levava invariavelmente à morte. Com a melhora da formação de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, medidas eficazes visando à higiene e à assepsia hospitalar, o desenvolvimento e a disponibilização de medicamentos e de equipamentos hospitalares, elevaram-se significativamente os casos de pessoas com traumatismo craniano que sobrevivem a ele. No entanto, as seqüelas ficarão. Entre estas seqüelas é citada a paralisia cerebral;

Anomalias dos vasos sangüíneos com conseqüentes isquemias ou hemorragias cerebrais;

Infecções (rubéola, varicela, meningite, gripe, etc.); Processos capazes de destruir áreas do cérebro, tais como: tumores cerebrais,

isquemia, hidrocefalia, etc.; Distúrbios metabólicos.

Classificação da Paralisia Cerebral

As classificações da paralisia cerebral existentes até hoje não são muito satisfatórias, ante o fato de que o cérebro regula uma infinidade de funções, ficando cada área cerebral responsável por uma ou por diversas funções e pela diversidade de combinações entre os comprometimentos (seqüelas). No que se refere à paralisia cerebral, adota-se, no mundo, a classificação proposta por PHELPS, que considera tanto fatores topográficos, relativos à região das manifestações da paralisia cerebral (em um braço, nas duas pernas, em um lado do corpo, etc.), bem como às características das manifestações (comprometimentos do tônus muscular, da coordenação motora, do equilíbrio, da percepção espaçotemporal, da lateralidade, de tremor dos olhos, movimentos oscilatórios das mãos e dos braços, da fala associada a certos padrões motores, etc.).

A paralisia cerebral se manifesta, então, em diferentes formas, dependendo da região cerebral afetada, sendo dividida em paralisia cerebral espástica (mais conhecida por espasticidade), ataxia, atetose, coréa e formas mistas.

Alguns poucos autores citam também a rigidez muscular e a hipotonicidade muscular como formas de manifestação da paralisia cerebral.

Deve ser enfatizado que a paralisia cerebral não é progressiva, mas ela exige uma atenção por profissionais, pelo menos, da medicina e da fisioterapia.

A não-utilização dos medicamentos prescritos para reduzir a espasticidade ou o abandono precoce do uso de órteses pode implicar agravamento de alguns comprometimentos, tais como dores, contraturas, acentuação de quadros clínicos patológicos, etc.

A medicina, a fisioterapia e a terapia ocupacional oferecem à criança e ao jovem com paralisia cerebral, principalmente durante os primeiros anos de vida, melhores condições clínicas, de estimulação precoce e prevenção da ocorrência de efeitos secundários indesejáveis para o processo de desenvolvimento motor destas pessoas.

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No âmbito escolar as aulas de educação física possuem uma importância especial para o desenvolvimento motor, social e emocional destas crianças, já que podem proporcionar estimulações motoras capacitantes, centradas nos potenciais remanescentes e que poderiam compensar alguns atrasos no desenvolvimento, além de proporcionarem uma adequada confrontação com situações de desafio, associadas a vivências de “ser capaz”, que são de fundamental importância para o desenvolvimento emocional destas crianças e jovens. Além disso, a educação física, especialmente durante a educação pré-escolar e nas primeiras séries do ensino fundamental, possui como um de seus objetivos o resgate do direito à infância e à juventude, que freqüentemente são colocados pela família num plano secundário em relação ao atendimento médico e fisioterápico.

As atividades lúdicas e de caráter esportivo utilizadas pela educação física, principalmente no ensino pré-escolar e nas primeiras séries do ensino fundamental, são de especial importância, já que estimulam o processo de memorização (de coreografias, seqüências motoras, regras, etc.), desenvolvem as diversas percepções (cores, sons, tátil, diferenciação de formas, tamanhos, grandezas; sinestésica, espaço-temporal, texturas, pesos e medidas, temperaturas, etc.), promovem a melhora da coordenação motora, da lateralidade, do equilíbrio e do esquema corporal; promovem o desenvolvimento cardiovascular e a melhora metabólica, enquanto ao mesmo tempo promovem vivências de confrontações para a superação do medo, do auto-conceito de incapacidade, da superação da dependência física e emocional, do egocentrismo, entre outras funções; contribuindo para o processo de desenvolvimento, de inclusão social, e para o processo de aprendizagem destes alunos.

A paralisia cerebral pode se manifestar em diferentes graus de comprometimento. No entanto, até hoje só a forma espástica (espasticidade) apresenta uma classificação, sendo diferenciada em paralisia e paresia, conforme o grau de comprometimento.

As diversas manifestações da paralisia cerebral são organizadas sob aspectos funcionais e topográficos.Elas são diferenciadas de acordo com o tipo de distúrbios motores que apresentam, podendo ser diferenciadas nas seguintes formas:

Formas espásticas (hipertônicas, muito citadas como espasticidade); Formas atáxicas; Formas discinéticas (atetose, coréa, balismo e distonia).

Ante sua relevância clínica e estatística, serão apresentadas a seguir a espasticidade, a ataxia, a atetose e a coréa.

Classificação da Paralisia Cerebral (continuação)

Espasticidade

A espasticidade acomete aproximadamente 70% dos casos de paralisia cerebral. Ela se caracteriza por um aumento patológico da tensão fisiológica da musculatura atingida (tônus muscular), afetando um ou mais membros, podendo atingir também todo o corpo. Com isto os movimentos podem ficar dificultados ou impedidos de serem realizados. Assim, a escrita, a leitura, a vida diária, as brincadeiras, etc., podem ser dificultadas pela espasticidade.

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Ela é atribuída a comprometimentos das vias piramidais, sendo que a cápsula interna é atingida com mais freqüência, provocando como conseqüência a espasticidade. As vias piramidais estão entre as vias de transmissão mais importantes do sistema nervoso central, sendo responsáveis pela condução dos impulsos dos movimentos voluntários para a musculatura do corpo, assim como são responsáveis também pela ocorrência dos reflexos musculares.

As formas mais graves de comprometimento na espasticidade são caracterizados pelo final “plegia” nos diagnósticos, tais como hemiplegia, monoplegia, diplegia, triplegia, etc., indicando um grau maior de comprometimento.

As formas mais brandas de manifestação espástica da paralisia cerebral são especificadas pelo final “paresia”, tais como: hemiparesia, diparesia, monoparesia, etc.

Os diferentes diagnósticos de uma mesma criança geralmente confundem a família. É comum a família comentar que “cada médico fala uma coisa. Um disse que o meu filho tem paralisia cerebral. O outro disse que ele tem uma hemiparesia. O último médico disse que ele tem uma espasticidade, que ele é espástico”. Como pode ser deduzido por este texto, os três diagnósticos informam a mesma coisa, só que de forma diferenciada. Uma hora a informação é dada de forma mais genérica e nos outros diagnósticos se especifica mais a forma de manifestação da paralisia cerebral.

Geralmente, os músculos adutores e os flexores têm sua ação exacerbada, quando atingidos na paralisia cerebral, podendo levar a posturas viciosas e até mesmo a contraturas e a deformidades irreversíveis. Estas contraturas podem implicar a necessidade de tratamentos fisioterápicos ou medicinais. As deformidades podem até tornar necessária a realização de cirurgias.

Na paralisia cerebral espástica, a musculatura atingida apresenta uma resistência ao seu alongamento. A musculatura fica mais tensa, difícil de ser movimentada, sendo denominada de espástica exatamente por isso.

A espasticidade predomina em alguns grupos musculares, estando ausente em outros. Com isso é comum a ocorrência de deformidades articulares e de estrabismo.

Em função das áreas funcionais comprometidas no cérebro, a paralisia cerebral espástica ou paresia cerebral pode se apresentar em diferentes regiões do corpo. Por isto, a paralisia cerebral espástica é dividida nas seguintes formas de manifestação:

 

Classificação da Paralisia Cerebral (continuação)

Monoplegia ou monoparesia

Caracteriza-se pelo comprometimento de um só membro do corpo. O diagnóstico de monoplegia indica o comprometimento mais sério de um membro, sendo uma forma de manifestação da paralisia cerebral. Já o diagnóstico de monoparesia refere-se a uma forma mais branda de disfunção cerebral, que acomete também apenas só um membro.

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Quando um braço é comprometido, o ombro é mantido predominantemente em adução, ou seja junto ao corpo. O cotovelo tende a ser mantido em flexão, assim como o pulso. Os dedos são mantidos também em flexão, muitas vezes formando uma mão “em garra”. Isto pode implicar numa maior ou menor dificuldade para escrever no quadro ou no caderno, assim como para segurar objetos.

Quando a perna é comprometida, o quadril do lado comprometido é mantido em adução. O pé apresenta flexão plantar, recebendo a denominação de “pé eqüino”, sendo apoiado no solo pela ponta do pé. Em função do comprometimento motor desta perna, ela faz um arco ao avançar para a frente ou é arrastada durante a marcha. Não é feita flexão do quadril do lado comprometido, nem flexão do joelho comprometido. 

Classificação da Paralisia Cerebral (continuação)

Diplegia ou diparesia (paraplegia)

A diplegia e a diparesia referem-se ao comprometimento de dois membros iguais.

No caso de comprometimento das duas pernas, elas se tocam na região dos joelhos ou se cruzam. Há flexão permanente dos quadris, bem como dos joelhos. Os pés apresentam flexão plantar “pé eqüino”.

Existe uniformidade na medicina em relação ao diagnóstico do comprometimento dos dois braços como forma de manifestação da paralisia cerebral espástica, sendo neste caso estabelecido o diagnóstico de diplegia ou diparesia, dependendo do grau do comprometimento. No entanto, há na medicina duas linhas de diagnóstico em caso de comprometimento das duas pernas. Numa, considera-se que o termo paraplegia seria o termo correto. Na outra, considera-se que o termo adequado para designar o comprometimento de ambas as pernas seria de diplegia, ficando o termo paraplegia restrito ao diagnóstico dos comprometimentos das duas pernas apenas nos casos de lesões medulares.

Considerando-se que não compete aos professores estabelecer diagnósticos clínicos, fica aqui registrada a situação (vide Paraplegia e Tetraplegia, no item específico sobre lesões medulares).

Classificação da Paralisia Cerebral (continuação)

Hemiplegia ou hemiparesia

O comprometimento de um lado do corpo, em que o braço, a perna e a musculatura do tronco de um mesmo lado são comprometidos, recebe a denominação de hemiplegia ou de hemiparesia, nos casos mais brandos. As funções motoras da mão, do ombro, da perna e do quadril comprometido apresentam as mesmas características descritas nos casos de monoplegia e monoparesia.

Classificação da Paralisia Cerebral (continuação)

Triplegia ou triparesia

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Elas são de manifestação mais rara, sendo caracterizadas pelo comprometimento de dois membros de um mesmo lado e um membro do outro lado do corpo.

Classificação da Paralisia Cerebral (continuação)Quadriplegia (tetraespasticidade)

Refere-se ao comprometimento espástico dos quatro membros do indivíduo. Isto não significa que o indivíduo “não mexa nada”. Significa que os quatro membros apresentam comprometimentos em algumas funções motoras, idênticas às descritas na monoplegia e monoparesia, só que acometendo os quatro membros. Obs.: O termo tetraespasticidade não vem sendo utilizado no Brasil.

A pessoa com espasticidade apresenta algumas características, tais como:

quando o braço é acometido: a mão apresenta dificuldade maior ou menor de preensão de objetos. Em casos mais graves, pode ser muito difícil o uso da mão comprometida. O ombro apresenta adução, sendo difícil ou impossível fazer movimentos de abdução. Freqüentemente, o cotovelo comprometido é mantido em flexão, assim como também o pulso;

quando a perna é comprometida, muitas vezes, dependendo do grau de comprometimento, a marcha é feita fazendo-se um arco com a perna ou arrastando-a. O apoio no solo geralmente é feito com a ponta dos pés (“pé eqüino”). É difícil para a pessoa espástica fazer flexão do quadril comprometido, flexão do joelho e extensão dos quadris.

A espasticidade pode implicar o uso de medicamentos, tais como relaxantes musculares (miorrelaxantes), órteses, que auxiliam as funções da mão ou do pé e da perna; assim como na realização de tratamento fisioterápico, durante boa parte da vida da pessoa com espasticidade.

Classificação da Paralisia Cerebral (continuação)

Ataxia

Aproximadamente 5 a 10% das pessoas com paralisia cerebral apresentam ataxia. Ela se caracteriza por distúrbios de coordenação motora, do equilíbrio, da percepção espaço-temporal, nistagmo (leve tremor dos olhos), baixo tônus muscular, movimentos oscilatórios do braço e da mão, por exemplo quando vão cumprimentar alguém, pegar um objeto ou quando estão escrevendo, e fala escandida, que se assemelha à fala das pessoas embriagadas.

A ataxia é causada, por exemplo, por comprometimento funcional do cerebelo. O cerebelo distinguese do cérebro pela sua superfície estriada. Ele atua como um centro de coordenação para a manutenção do equilíbrio e do tônus muscular, devido à sua participação nos complexos mecanismos de feedback e de regulagem do tônus muscular, possibilitando a realização de movimentos suaves e precisos (finos).

Denomina-se atáxico à pessoa com ataxia, bem como às características dos movimentos destas pessoas.

DUUS (1989) nos permite perceber de melhor forma os comprometimentos que acompanham a ataxia, quando ilustra os sinais de disfunção do neocerebelo, que são:

Ataxia: Ela afeta os membros, sobretudo as extremidades deles, acompanhando-se de desvio da marcha e do corpo para o lado correspondente à lesão;

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Dismetria: Consiste na incapacidade para avaliar corretamente a distância, de modo que o movimento cessa precocemente ou então ultrapassa o alvo (hipermetria). Com base nisso é que o atáxico tem dificuldades para avaliar a altura dos degraus, esbarra nos objetos que deseja pegar, assim como no mobiliário;

Assinergia: Perda da coordenação motora na inervação dos grupos musculares, necessária para a realização de movimentos exatos. Os diversos grupos musculares funcionam de modo independente, sendo incapazes para a execução de padrões motores complicados (decomposição dos movimentos). Apesar da citação se referir especificamente à realização de movimentos “complicados”, na prática observa-se que os atáxicos têm grande dificuldade até mesmo para executar movimentos simples de saltar à frente, como, por exemplo, na “amarelinha”;

Desdiadococinesia (adiadococinesia): O atáxico tem grande dificuldade (desdiadococinesia) ou é incapaz (adiadococinesia) de realizar movimentos que exigem alternância rápida entre agonistas e antagonistas. Os movimentos alternantes, tais como a pronação e a supinação da mão (virar a palma da mão para baixo e para cima), necessários para pegar um lápis ou caneta na mesa e escrever, tornam-se lentos, difíceis e fora do ritmo adequado. Isto implica que os atáxicos necessitam de mais tempo para fazer anotações ou provas escritas que os demais colegas;

Tremor de intenção: Trata-se de tremor de ação, o qual aparece quando o atáxico aponta um objeto, tenta pegar um objeto ou pretende cumprimentar alguém. Este tremor aumenta à medida que a mão se aproxima do objeto;

Fenômeno do rechaço: Este fenômeno é devido à incapacidade do portador de ataxia se adaptar rapidamente às alterações da tensão muscular. Isto pode ocorrer, por exemplo, especialmente quando cessam, de um momento para outro, a resistência à ação que o atáxico faz ao empurrar um objeto;

Hipotonia: Caracterizada por flacidez muscular e rápido cansaço da musculatura ipsilateral (astenia), devidos às modificações da inervação tônica. Os reflexos tendinosos apresentam-se lentos;

Incapacidade para discriminação do peso: O atáxico terá dificuldade para avaliar o peso de um objeto ou para avaliar a força necessária para movê-lo.

Há fortes indícios de que outras partes do cérebro sejam capazes de compensar parcialmente as perdas ou disfunções cerebelares.

Fala escandida: O assinergismo dos músculos que participam da fala resulta em fala mal articulada, lenta e hesitante, com acentuação inadequada de algumas sílabas, de modo que algumas palavras são ditas de forma mais rápida que as outras. A fala escandida se parece com a fala do bêbado. Como a população, de um modo geral, não conhece a ataxia, os atáxicos sofrem grande preconceito.

O nistagmo é caracterizado por leves tremores dos olhos, que podem dificultar a escrita e a leitura, bem como a percepção de objetos e de obstáculos e, com isto, diminuem a segurança na marcha, dificultam participar das brincadeiras com outras crianças, praticar esportes, etc.

Ante a dificuldade de equilíbrio e de coordenação motora os atáxicos andam com os pés separados, para aumentar a base, na tentativa de melhorar o equilíbrio. Mesmo assim têm dificuldade para andar em linha reta, desequilibram-se com maior facilidade que as outras pessoas, dependendo do grau do comprometimento. A velocidade de deslocamento da pessoa atáxica também sofre alterações, passando de movimentos mais rápidos durante a marcha a um andar mais devagar e vice-versa.

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Classificação da Paralisia Cerebral (continuação)

 

Atetose

A atetose é causada por lesões nos gânglios basais (estriato, globo pálido e, mais raramente, no tálamo e Nucleus ruber) e acomete de 10 a 20% dos portadores de paralisia cerebral.

O tálamo é composto de duas grandes massas simétricas de substância cinzenta, as quais representam 80% do diencéfalo.

“Todos os impulsos destinados ao córtex precisam passar pelo tálamo, a fim de se tornarem conscientes” (DUUS 1989, p. 163).Os sinais e sintomas devidos ao comprometimento do tálamo variam consideravelmente, de acordo com a natureza da afecção. No entanto, a síndrome talâmica completa é de ocorrência rara. Isto implica que pessoas com atetose freqüentemente apresentam também movimentos espásticos e/ou atáxicos, além das características atetóides.

O quadro clínico na atetose é caracterizado por movimentos involuntários, irregulares e com transcurso lento, embora ocorram também movimentos rápidos e de curta duração. A inervação recíproca, que regula a interação entre agonistas e antagonistas, está comprometida.

Na atetose ocorre uma alternância no tônus muscular. De tensa, a musculatura passa a relaxada, de hipotônica a hipertônica e vice-versa. A isso se acompanham movimentos involuntários, extremos e contralaterais. À extensão total de um cotovelo corresponde a flexão total do outro, o mesmo fato ocorrendo em relação aos joelhos. A isso se acompanham expressões e mímicas faciais acentuadas (caretas, contrações da musculatura da face, etc.), fazendo com que a fala destas pessoas fique muito comprometida. Os movimentos são extremos, dismétricos, ultrapassam o alvo. As extremidades (pés, mãos, braços e pernas) são mais atingidos. Estes movimentos involuntários se manifestam ou aumentam em momentos de estresse, de alegria, de raiva, etc., mas desaparecem quando a pessoa com atetose estiver dormindo.

No que se refere ao comportamento do portador de atetose, DUUS (1989, p. 164) cita que os seguintes sintomas podem ser devidos ao comprometimento unilateral ou bilateral do tálamo:

Classificação da Paralisia Cerebral (continuação)

Coréa

A coréa é uma das formas de manifestação da paralisia cerebral menos freqüentes. Com o comprometimento funcional do striatum, o palidum tem sua ação prevalecendo. Isto resulta em movimentos hipercinéticos e a musculatura apresenta-se hipotônica.

 

Classificação da Paralisia Cerebral (continuação)

Formas Mistas na Paralisia Cerebral

Como os distúrbios do desenvolvimento cerebral ou as lesões cerebrais são sempre difusas, comprometendo diferentes áreas cerebrais, a paralisia cerebral pode se apresentar combinando características espásticas com atetóides, mas sendo

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possível outras formas de combinação. Nesse caso, fala-se em formas mistas de manifestação.

Classificação da Paralisia Cerebral (continuação)

Outras Deficiências Associadas à Paralisia Cerebral,

Como o cérebro regula simultaneamente muitíssimas funções e os agentes causais da paralisia cerebral geralmente têm ação difusa, atingindo diferentes regiões cerebrais, a pessoa com paralisia cerebral pode apresentar outras manifestações, tais como: distúrbios ou deficiências visuais; distúrbios de percepção e de diferenciação de formas, tamanhos, grandezas; dificuldade de memorização, dificuldade ou mesmo deficiência auditiva, convulsões, etc. Isto implica, geralmente, maior dificuldade para a inclusão escolar e o aprendizado.

A fala, a deglutição e a respiração das pessoas com paralisia cerebral também podem estar comprometidas, nas diversas formas de manifestação da paralisia cerebral.

Crianças, jovens, adultos e idosos com paralisia cerebral tendem a apresentar comprometimentos visuais. Os de maior relevância são: a atrofia óptica total ou parcial, o estrabismo, a hipermetropia, a miopia e o nistagmo. Estes comprometimentos implicam tratamento precoce e inadiável, para que não haja um agravamento severo e irreversível. Recomenda-se que sejam feitas consultas com o oftalmologista principalmente antes de a criança com paralisia cerebral entrar no ensino fundamental.

Em crianças portadoras de paralisia cerebral a atrofia óptica total ou parcial é a principal causa de uma acuidade visual baixa em nível severo.

Por outro lado, enquanto apenas 3 a 5% da população infantil apresentam estrabismo, que é um desvio ocular, em torno de 60% das crianças com paralisia cerebral apresentam algum grau de estrabismo, sendo esta a segunda causa de dificuldades visuais nestas crianças. O estrabismo pode impedir o desenvolvimento de um dos olhos, reduzir seriamente a acuidade visual do indivíduo e até mesmo levar um dos olhos à cegueira. Além disso, o estrabismo pode provocar visão dupla (diplopia) e perda da visão de profundidade.

Vide no capítulo Deficiência Mental referências sobre Possíveis Implicações da Paralisia Cerebral na Aprendizagem Escolar.