Pra Vida Toda - perse.com.br · Minha linda, amada e pequena Fabi. ... ligar para casa da minha...
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Pra Vida Toda
Pra Vida Toda
PERSE PS Autopublicação e Prestação de Serviços Ltda
Rua Turiassú, nº. 390,
17º andar, conjunto 176
Bairro das Perdizes
São Paulo/SP
CEP 05005-000
Capa
Renato Klisman
Fotógrafa Tracy Toh
PRA VIDA TODA MEIRELES, Fernanda 1ª Edição Janeiro de 2013 ISBN: 978-85-64280-32-8
Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem
prévia autorização da autora.
Dedicatória: Ao Autor da minha vida:
Deus.
“Toda boa dádiva e dom perfeito são lá do alto,
descendo do Pai das luzes,
em quem não pode existir variação
nem sombra de mudança.
Pois segundo o seu querer,
ele nos gerou pela palavra da verdade,
para que fôssemos
como que primícias das suas criaturas.”
Thiago 1: 17-18
Minha mente se perdia em devaneios quando meu
coração acelerou descompassadamente pela
primeira vez em um ano. Embora meus olhos
pudessem vacilar por alguns momentos, todo meu corpo
dizia que era ele.
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Prólogo
último ano do segundo grau foi uma loucura
total.
A correria com o vestibular, a transferência
do meu melhor amigo para outra cidade, a chegada de uma
nova amiga e de Dane, o rapaz que conquistou meu
coração com um olhar, mas precisou enfrentar uma árdua
batalha para ficar ao meu lado.
Foram muitas brigas e momentos intensos que
moldaram o nosso relacionamento, transformando-o no
amor que é hoje. No final, ficamos juntos, mas ao mesmo
tempo separados. Dane partiu para o Canadá, foi cursar
advocacia em uma renomada universidade e morar com o
padrinho. Eu fiquei no Brasil, com nada mais que
saudades, promessas, uma aliança de compromisso e
cartas. Muitas cartas...
O
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Capítulo Um
— CHEGOU MÃE! ATÉ QUE ENFIM CHEGOU!
– gritei correndo para dentro de casa.
Assim que vi nosso carteiro passando na rua, senti
que estava me trazendo aquilo que aguardava há semanas.
— Que bom, minha filha! Abre logo e depois me
conta as novidades. — respondeu minha mãe enquanto
corria para meu quarto com a carta nas mãos.
Dane havia embarcado para o Canadá a mais de três
meses e nos comunicávamos por carta a cada duas
semanas. Embora elas demorassem um pouco para chegar
ao seu destino, acreditávamos que aquela era a forma mais
viável para nós, afinal nossos horários eram tão difíceis de
conciliar.
“Se ao menos eu pudesse comprar um computado
para mim!”
Eu não me importaria de ficar a madrugada toda
acordada só para trocar algumas palavras em tempo real
com Dane. Mas também precisava me concentrar nos
estudos e o início da faculdade estava exigindo demais de
mim, principalmente porque tinha que trabalhar.
Minha mãe e Dona Ana, minha sogra, haviam aberto
uma loja de roupas com confecção própria no Centro. Elas
a chamaram de Bazar da Mary & Anna, a localização era
ótima, ficava bem perto tanto do shopping como da nova
casa que a família do Dane finalmente decidiu comprar.
Com minha mãe totalmente ocupada em criar novas peças
e dona Ana em decorar e organizar a loja, eu fiquei
incumbida da contabilidade e de trabalhar no período da
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manhã antes da faculdade. Como a Mel ainda não havia se
decidido por curso nenhum, ficava tempo integral na loja.
Eu estava terminando de me arrumar no quarto antes
de ir para a faculdade quando avistei o carteiro da janela.
Seu Aurélio me conhece desde que me entendo por gente,
muitos ali do bairro o consideram parte da própria família.
Minha mãe e eu não éramos diferentes, toda vez que ele
conseguia um tempo de sobra, entrava, tomava um café ou
se sentava e conversava durante alguns instantes. Ele deve
ter uma média de 40 anos, tem cabelos escuros e olhos
esverdeados, é esbelto e muito simpático. Com o passar
dos anos o vimos se casar, ter filhos e se separar. Nos
últimos três meses, desde que virei assídua dos correios
ele se prontificou tanto a levar minhas cartas como trazer
minhas alegrias, percebi que Seu Aurélio estava passando
mais tempo do que o normal em nossa casa.
De início pensei que era por causa exclusivamente
das minhas correspondências, afinal ele já estava mesmo a
par de toda minha história com Dane. Mas quando
comecei a notar que ele vinha até mesmo quando não
havia nada para mim, desconfiei que eu não fosse bem a
pessoa quem estava sendo procurada.
É meio estranho pensar em sua própria mãe sendo
paquerada, mesmo ela ainda sendo muito bonita para
idade. Com cabelos castanhos e curtos, olhos negros,
magra e pele tão alva quanto a minha, ela sempre me
pareceu uma rainha. Em nenhum momento peguei os dois
em uma situação que pudesse comprovar minhas
suspeitas, “graças a Deus”, mas ao ouvi-los sorrir e, às
vezes, ver minha mãe corar, minhas dúvidas diminuíam e
até me sentia satisfeita.
Nunca a vi sair com ninguém. Embora eu estivesse
no direito de me sentir enciumada, tudo o que podia
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pensar era que ela não estava mais sozinha. Assim que
entrei com minha mais nova esperança de notícias do meu
amado e saudoso noivo, “ai meu Deus noivo”, fui
correndo para o meu quarto, deixando para trás os dois
mais novos inseparáveis. Fechei a porta ainda ofegante,
tanto pela minha corrida desenfreada quanto pela enorme
expectativa. Executando meu sagrado ritual para cada
carta que Dane me enviava, apertei-a bem forte contra o
peito, imaginando que aquele mesmo pedaço de papel
esteve em suas mãos, esteve diante dele.
“Ai que saudade!”
Segurei as lágrimas, nunca pensei que me custasse
tanto estar longe do Dane. Não fazia nem um ano que o
conheci, mas já havíamos passado por tantas coisas.
Respirei fundo e abri o envelope como se estivesse
desarmando uma bomba, com cautela e medo. No fundo
do meu coração eu alimentava um medo irracional do
Dane me escrever coisas do tipo: “Oi, sabe, eu conheci
uma canadense e me apaixonei, então pode me esquecer”
ou “pensei melhor e descobri que nunca gostei de você,
me esquece”
Sei que ele não seria assim tão grosso e insensível,
mas não conseguia banir aquela insegurança toda vez que
abria suas cartas. Mas graças ao meu bom Deus, eu nunca
encontrei nem sequer um sinal de arrependimento,
suspirando de alivio comecei a leitura.
Canadá, 15 de março de 2008
Minha linda, amada e pequena Fabi.
Espero que esteja sentindo agora exatamente o que sinto
quando recebo suas cartas, se não fosse por essas pequenas
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trocas de palavras eu não suportaria de tantas saudades.
Tenho que ouvir sua voz mais uma vez, vou tentar
ligar para casa da minha mãe no sábado (dia 24) à noite, por
favor, esteja lá. Sei que nossos horários tem sido uma
tremenda confusão, mas não posso ficar tanto tempo sem te
escutar dizer que ainda me ama.
Sei que pareço um adolescente inseguro, mas às vezes
eu fico louco só em pensar que você pode conhecer alguém e me
esquecer. Eu confio em você, cegamente, mas deve ser terrível
ser noiva de um cara tão ausente como eu.
Minha noiva! Meu amor, minha vida. Meu tudo!
Acho que eu não devia ter vindo pra cá. Devia ter te
forçado a casar comigo, assim estaríamos juntos agora.
Perdoe o meu egoísmo, mas a cada dia é ainda mais difícil.
Espere por mim, Pequena, não se arrependa, eu a farei feliz.
Tenho boas notícias, consegui um emprego com o
Frank. Embora minha mãe esteja bem financeiramente,
penso em começar a juntar dinheiro, tive uma ideia! Já que me
ocupar por aqui me ajuda a abafar um pouco a saudade que
sinto de você, decidi trabalhar muito e juntar algum dinheiro
para tentarmos comprar uma casa, afinal quatro anos deve
ser mais que suficiente para alcançar esse objetivo.
Assim quando eu retornar e nos casarmos, nós já
teremos nosso próprio ninho de amor. O que acha?
Escreva logo, espero ansioso. Conte cada uma das suas
novidades e não se esqueça de sábado. Eu te amo mais que
tudo.
Do seu eterno Tonto.
Ai meu Deus! Respirei fundo e relaxei, minha
vontade de chorar foi completamente substituída por uma
alegria sem tamanho. Sem hesitar fui para minha mesinha,
abri minha gaveta especial e peguei minhas folhas já
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separadas para àquelas ocasiões e comecei a escrever
minha resposta. Algumas vezes parava para pensar direito
em que palavras usar, mas minha mente e coração estavam
tão cheios de amor que elas surgiam facilmente.
Rio, 22 de março de 2008
Dane meu amor!
Não tenha dúvidas de que me sinto exatamente como você, suas
palavras me dão forças para afastar a tristeza da sua ausência. No
sábado eu estarei lá para ouvir sua voz.
Tenho tantas coisas para contar. As coisas na loja das nossas
mães vão muito bem. Mel anda muito animada com o trabalho e
confesso que eu também, afinal só assim paro de pensar em você. É
uma tortura quando me pego desejando largar tudo só para estar ao seu
lado novamente.
Entendo suas dúvidas porque as sinto em relação a você também.
Então o melhor é nos convencermos que nenhum dos dois tem motivos
para alimentá-las.
Amo você. Esperarei o tempo que for preciso.
Quanto a seu plano sobre a casa, acho maravilhoso embora
insista que você não se sacrifique trabalhando demais, teremos uma vida
inteira para construirmos nosso futuro juntos.
A faculdade vai bem, como todo o resto.
Continue me escrevendo, pensando em mim e me amando.
De sua, e só sua, “noiva” Fabi.
Depois de mais uma olhada na mais nova carta do
Dane, guardei-a junto das outras e do meu primeiro
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bilhete, o mais precioso para mim, o que ganhei ainda na
escola e que me fez entender o quanto eu importava para
ele. Envelopei e selei minha resposta, desci torcendo para
que o Seu Aurélio ainda estivesse em casa. É claro, ele
estava.
— Já era hora. E aí? Novidades? – nunca guardei
segredos da minha mãe, mas ultimamente ela
acompanhava minha correspondência como se fosse sua
novela preferida. Um novo capítulo por semana. Mas isso
não me incomodava, nem mesmo o fato de Seu Aurélio
também ficar sempre curioso e na expectativa das novas
notícias.
— Vocês são dois fuxiqueiros, isso sim. Às vezes me
pergunto se esperam algum dramalhão ao invés da
verdade. – bem, eu disse que não me incomodava. Não
que eu não me divertia ou os torturasse por isso.
— Deixa disso bruxinha. – essa era a desvantagem
de se manter amiga de quem te conhece desde que você
usava fraldas. Não importa quanto cresça sempre será
vista, condenada e apelidada pelas suas molecagens de
pequena.
— Quando é que você vai parar de me chamar
assim? – eu perguntava mais por hábito do que por
esperança.
— Ah, não sei. Talvez quando eu me esquecer das
milhares de vezes que cheguei aqui e te vi com aquela
fantasia ridícula. – lá vinha a história outra vez — Mas
quando alguém pode esquecer uma pequena guria
branquinha, de longos cabelos negros e vestida com a
fantasia de bruxa do carnaval por quase um ano inteiro?
— Eu só a colocava para te assustar, não usava o
tempo inteiro. – tentei me defender, afinal, não fiquei o