Pre Pojeto Politica
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEINSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA
PRÉ PROJETO DE MONOGRAFIA
A ANTROPOLOGIA SERÁ VISUAL OU NÃO SERÁ NADA*
GIULIA DE VITO NUNES RODRIGUES
ORIENTADORA ANA LÚCIA FERRAZ
Trabalho realizado para conclusão da disciplinaPolítica V, Professora Maria Antonieta Leopoldi
Niterói, novembro 2014
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ÍNDICE
TEMA GERAL página 3
TEMA ESPECÍFICO página 5
OBJETIVOS página 6
JUSTIFICATIVA página 7
RELEVÂNCIA DA PESQUISA página 8
EXPLICITAÇÃO DO TEMA página 9
CONCEITOS página 10
TEORIA página 11
PERGUNTAS & HIPÓTESES página 11
METODOLOGIA
ESTRUTURA DA MONOGRAFIA
CRONOGRAMA
BIBLIOGRAFIA
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* A antropologia será visual ou nao será nada é uma frase de Jean Rouch, um etnólogo e realizador francês, que desenvolve a noção de etnoficção, um conceito que embaça as fronteiras entre cinema e ciência. Ele e seus amigos não se contentam com um documentário nem com um filme etnográfico às ordens científicas, mas brincam e dançam entre a ficção e a vida.
TEMA GERAL
A primeira esposa de Zeus tem o nome de Métis, que significa essa forma de inteligência que, como vimos, permitiu a ele conquistar o poder: métis, a astúcia, a
capacidade de prever todos os acontecimentos, de não ser surpreendido nem desorientado por coisa alguma, de nunca abrir o flanco para um ataque inesperado.
Assim, Zeus se casa com Métis e esta logo fica grávida de Atena. Zeus teme que algum filho seu, por sua vez, o destrone. Como evitar? Aqui encontramos o tema do devoramento. Crono engoliu os filhos, mas não chegou à raiz do mal, já que foi por uma métis, uma astúcia, que um vomitório o fez expelir todos os filhos. Zeus quer resolver o problema de forma bem mais radical. Diz que só há uma solução: não
basta que Métis esteja ao seu lado como esposa, ele mesmo tem de se tornar Métis. Zeus não precisa de uma sócia, de uma companheira, mas deve ser a métis em
pessoa. Como fazer? Métis tem o poder de se metamorfosear, ela assume todas as formas, assim como Tétis e outras divindades marinhas. É capaz de virar animal
selvagem, formiga, rochedo, tudo o que quiser. Trava-se então um duelo de astúcias entre a esposa, Métis, e o esposo, Zeus. Quem vai ganhar?
Há boas razões para se supor que Zeus recorra a um processo que conhecemos também em outros casos. Em que consiste? É claro que, para enfrentar uma feiticeira ou um mago extraordinariamente dotado e poderoso, o ataque direto estaria fadado ao fracasso. Mas, se escolher o caminho da artimanha, talvez haja uma chance de vencer. Zeus interroga Métis: ‘Podes de fato assumir todas as formas, poderias ser um leão que cospe fogo?’ Na mesma hora Métis se torna uma leoa que cospe fogo. Espetáculo aterrador. Zeus lhe pergunta depois: ‘Poderias também ser uma gota
d’água?’ ‘Claro que sim’. “Mostra-me”. E, mal ela se transforma em gota d´água, ele a sorve. Pronto! Métis está na barriga de Zeus. Mais uma vez a astúcia funcionou. O soberano não se contenta em engolir seus eventuais sucessores: ele agora encarna, no correr do tempo, no fluxo temporal, essa presciência ardilosa que permite desfazer
antecipadamente os planos de qualquer um que tente surpreendê-lo ou derrotá-lo. Sua esposa Métis, grávida de Atena, está em sua barriga. Assim, Atena não vai sair do regaço da mãe, mas da cabeça do pai, que é agora tão grande quanto o ventre de
Métis. Zeus dá uivos de dor. Prometeu e Hefesto são chamados para socorrê-lo. Chegam com um machado duplo, dão uma boa pancada na cabeça de Zeus e, aos
gritos, Atena sai da cabeça do deus, jovem donzela já toda armada, com seu capacete, sua lança, seu escudo e a couraça de bronze. Atena é a deusa inventiva,
cheia de astúcia. Ao mesmo tempo, toda a astúcia do mundo está agora concentrada na pessoa de Zeus. Ele está protegido, mais ninguém poderá surpreendê-lo. E assim
se resolve a grande questão da soberania. O mundo divino tem um senhor que nada e ninguém pode questionar, pois ele é a própria soberania. A partir daí, nada mais
pode ameaçar a ordem cósmica. Tudo se resolve quando Zeus engole Méits e, assim,
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se torna o Metióeis, ou seja, o deus feito inteiramente métis, a Prudência em pessoa.
As Astúcias do poder: Zeus e Métis, por Jean Pierre Vernant
Zeus aqui é como a matriz falocentrica, branca, ocidental e heterossexual.
Tudo o que foge desses ideais normativos, está fora. Fora da vida, do conhecimento,
da normalidade. É a partir dessa matriz que se produz um saber, o saber normativo.
Tudo o que está a margem, parece não valer. Tudo o que nao passa pela escrita, nao e
saber o suficiente.
Jorge Larrosa Bondía começa Notas sobre a experiência e o saber da
experiência, falando que Aristóteles traduziu mal a conhecida frase o homem é um
animal racional. Na verdade, se nos mantermos às palavras que realmente foram
escritas, o homem é um vivente com palavras. Essas palavras estão desencantadas,
desligadas da vida e de nós, mas pervertidas em ferramenta, em mercadoria, em coisa,
com a finalidade de informar e conformar.
Enquanto sujeitos modernos, sujeitos da informação, opinamos sobre qualquer
coisa e qualquer um, fazemos experimentos, sabemos muito, mas nada nos acontece.
Na escola ou na academia é a mesma coisa. Cada vez mais passamos mais tempo
dentro desses espaços, com o medo de “ficar para trás”, de não produzir, de perder
tempo. E só conseguimos que nada nos aconteça.
Na outra ponta, os sujeitos da experiência, os sujeitos que nao sao
caracterizados pela matriz, produzem saber de outra forma e com outro propósito. Seu
saber está ligado com a vida, com a caminhada, com a construção. Esses sujeitos da
experiência sao os Mbya, os Guarani e os Kaiowá.
Wright Mills, em “A Imaginação Sociológica”, defende o papel público das
Ciências Sociais, algo que se perdeu durante o tempo, a medida que as ciências todas,
tanto exatas quanto humanas, foram se enclausurando na academia, produzindo para
acadêmicos, unicamente. Ele afirma que a imaginação sociológica é a capacidade de
ir das mais impessoais e remotas transformações para as características mais íntimas
do ser humano. É essa imaginação que deve ser despertada no Homem, não uma
produção de conhecimento desconectado da vida social.
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A partir desses autores, elejo a saída da minha pesquisa para essa questão
epistemológica, formal e prática. Elejo o filme. Obrigatoriamente, com o filme, a
antropologia fica localizada no público e não exclusivamente na academia. Conecta-
se com a vida e com a possibilidade incontornável de perigo e insegurança que a
experiência traz. Uma vez que o filme é uma linguagem muito mais horizontal e
acessível do que a linguagem escrita. Enquanto a escrita está desencantada e distante,
a imagem ainda pode alcançar a todos.
TEMA ESPECÍFICO
Ficções são produzidas o tempo todo. Elas não são exclusivas dos filmes sobre
alienígenas ou dos intergalácticos ou mesmo das histórias de bruxas-mãe-madrastas
más. Elas se encontram inscritas em nossas vidas, nossas rotinas, no jornal, na
arquitetura, nas decisões de Estado e em nossos corpos também.
Elas estão exaustivamente nas imagens dos outdoors, na tela da televisão, na
tela do computador, na nossa própria superfície, na nossa linguagem, em nosso
imaginário e na nossa história. Não só as dos quadrinhos ou dos livros, mas na nossa
história de ontem e de hoje, na nossa ação-história.
Há ficções muito curiosas e estranhas e, ao mesmo tempo, familiares. Como
por exemplo, um indígena com uma câmera já não é tão indígena assim. Existe uma
expectativa compulsória, em relação à identidade e a necessidade de uma unidade
dela. Uma produção discursiva da plausibilidade, uma tática fundacionista, que passa
por uma nomenclatura do que é ‘real’ e ‘autêntico’, do que é ilusório ou ‘artificial’, do
que é superficial e do que é profundo. Assim, um indígena com uma câmera não é um
indígena autêntico.
Essa inadequação de toda a estrutura da representação, que trata de pessoas
substantivadas, vai passar pelos eixos de relações de poder na noção singular de
identidade. Ela, na verdade, é efeito das instituições falocêntrica, ocidental, branca e
da heterossexualidade compulsória, que naturalizam, engendram e imobilizam as
categorias de identidade.
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Desse jeito, a identidade, ao invés de ser uma característica descritiva da
experiência, é um ideal normativo, que necessariamente implica ‘coerência’ e
‘unidade’, sendo assim, exclui a possibilidade de ação e transformação.
É preciso reconsiderar a dinâmica do antropólogo, ocidental, branco de falar
no lugar de seus “objetos”. Eles não são objetos, mas pessoas que deveriam falar por
eles mesmo. É preciso se perguntar qual o sentido e a relevância desse conhecimento
que é produzido sobre eles, quando eles podem falar por si mesmos.
Aliás, além de poderem falar por si mesmos, eles podem criar suas próprias
imagens, seus próprios filmes. Nesse novo panorama, o filme etnográfico fica
deslocado e aparece novas formas cinematográficas, como a etnoficçao.
OBJETIVOS
The point is not to embrace the other perspective completely but at least to recognize
it, acknowledge it, take into account, be ready to be transformed by it.
GINSBURG, Faye. The Parallax Effect: The impact of
aboriginal media on ethnographic film. Visual Anthropology
Review, vol.11(2), 1995.
O objetivo desta pesquisa é a experiência. Por muito tempo, ela foi tratada
como experimento, como informação. Trata-se de resgatar a experiência no trabalho
de campo e tudo de perigoso e risco que é possível de se encontrar no caminho.
Enquanto um experimento é repetível, previsível e preditível, a experiência é a certeza
da insegurança, é a irrepetibilidade.
Jorge Larrosa Bondía descreve o sujeito da experiência como um pirata, o
personagem que navega pelo mar e pela sua insegurança. O sujeito da experiência é
um sujeito que é tombado, apaixonado, entregue e nao um sujeito ereto e impávido,
que quer conformar o mundo.
Então, o objetivo desta pesquisa é resgatar essa qualidade pirata para o
antropólogo em trabalho de campo. O importante não é saber falar do outro, mas
trocar com o outro. Trocar saberes, trocar experiências, experienciar juntos, fazer
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filmes juntos. Esse é o objetivo final, fazer mais filmes juntos. Não se trata de fazer
um filme etnográfico, nem de fazer um filme sobre os meus amigos Guarani, Mbya e
Kaiowá, mas fazer um filme com eles.
JUSTIFICATIVA
Há três maneiras de justificar essa pesquisa. A primeira delas é científica.
Infelizmente, ficções sobre o que é uma linguagem culta, eloquente e científica ainda
permanecem com muita força, em diversos meios, especialmente os acadêmicos. Elas
supõe habilidade, raciocínio e neutralidade. Enquanto tudo que seja diferente disso,
supõe subjetividade demais, confusão, impureza, perigo.
Inclusive as prescrições acadêmicas são permeadas por suposições, por ficções
que operam legitimidade e permissão. Essas prescrições operam pelo poder e não pela
ciência. Por isso, penso ser muito importante a forma como essa pesquisa vai se dar.
Ela não vai passar por uma linguagem que segue a norma culta e objetiva, mas vai
estar atravessada de toda a poesia e subjetividade o quanto forem despertadas.
Inclusive no filme, que não seguirá as prescrições malinowkianas de cinema
observacional e puro, mas sim, totalmente contaminado pela incerteza e pelo risco que
fazem parte do trabalho de campo.
A segunda maneira de justificar seria de uma maneira pessoal. Como falei
antes, participar dessas oficinas não foi só um trabalho ou uma pesquisa, mas me
envolvi, assim como meus colegas de campo. Fizemos amigos com os quais
mantemos contato até hoje e continuamos a planejar mais oficinas e mais encontros.
Então, a minha justificativa pessoal é que gostaria muito de continuar a fazer filmes
com meus amigos Guarani, Mbya e Kaiowá. Inclusive porque sempre gostei muito de
cinema, mas nunca me engajei da maneira como me engajei com esse tipo de filme.
Então parece que finalmente tenho um propósito muito interessante, para fazer filmes
que não se justificam apenas da arte pela arte. Está além de uma busca
exclusivamente estética.
Minha última justificativa é justamente a que se opõe a uma proposta
exclusivamente estética, se trata de uma justificativa social. Wright Mills fala da
necessidade das ciências serem públicas, serem para as pessoas e não para discussões
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abstratas e desligadas da realidade e da vida. Essa publicidade se encontra tanto na
forma desta pesquisa, que se dá em forma de filme e alcança muito mais gente por
isso. E se encontra também no conteúdo.
Esse projeto não se trata de alguém falando no lugar de outros, mas justamente
a possibilidade de os indígenas, que participam dessas oficinas, de falarem por eles
mesmos, de contar suas histórias, seus saberes, suas experiências, de fazerem suas
denúncias. Então essa pesquisa é também militante e extensivamente baseada na
realidade e na vida deles. Essa é a justificativa mais relevante de todas.
RELEVÂNCIA
Esses esforços para reassegurar uma presença histórica e cultural, através de
uma mídia acessível são muito importantes, pois sua auto consciência sobre a
produção cultural sugere um paralelo muito próximo ao projeto da antropologia, e
mesmo assim, com uma urgência muito maior que qualquer agenda acadêmica.
GINSBURG, Faye. The Parallax Effect:
The impact of aboriginal media on ethnographic film. Visual
Anthropology Review, vol.11(2), 1995.
A relevância dessa pesquisa se confunde um pouco com a justificativa social e
acadêmica da mesma. É importante pensar e desconstruir os imperativos cientificistas
que se dizem produzir saber. A produção do saber legitimo exclui. É preciso perceber
que há, na verdade saberes diversos que nao cabem nesse circulo fechado e hermético
da academia.
Portanto, essa pesquisa se faz muito relevante para pensarmos, através de
outros meios de produzir conhecimento, um conhecimento muito mais fértil e aberto,
para pensar os nossos próprios cânones de conhecimento e os meios pelos quais sao
produzidos.
A partir desta pesquisa, estraremos em contato com formas mais horizontais e
culturalmente diferentes de saber, exploraremos uma escrita mais livre e
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exploraremos formas de produzir conhecimento que nao vai só passar pelo papel, mas
por imagens e tudo o que se pode ter de surpreendente nisso.
Além disso, tratar de um tema indígena é tocar em questões como a
demarcação das terras, da deslegitimaçao da cultura e práticas indígena, dos
preconceitos e, quem sabe, realmente essa pesquisa possa mudar alguma coisa, ajudar
na caminhada de legitimação e reconhecimento deles, nao só como indígenas, mas
também como indígenas cineastas, sem contradição ou confusão alguma entre os dois.
EXPLICITAÇÃO DO TEMA
A partir da minha experiência nas duas oficinas Vídeo e Transmissão de
conhecimento entre os povos Guarani, Mbya e Kaiowá, do seminário de
sistematização dessas oficinas e do Taller Internacional Sin Fronteras, pensar e pensar
fazendo filmes com os amigos que fiz nesses lugares.
Nas duas oficinas, fomos assistidos pelo Laboratório do Filme Etnográfico, na
Universidade Federal Fluminense, do qual faço parte. A primeira oficina, a de
fevereiro, se deu na Universidade Federal de Grande Dourados, no Mato Grosso do
Sul. A oficina se deu dentro da Universidade, contando com a participação de
Kaiowás, Guaranis e um Mbya. Nosso trabalho se baseava em ensinar a manejar a
câmera, os equipamentos de som e a edição do filme. Majoritariamente, foi uma
oficina de montagem, já que a maioria tinha material para ser editado e já sabia
manejar as câmeras e os equipamentos de som.
A segunda se deu na Aldeia Pirajuy, entre a cidade de Paranhos e o Paraguai,
no mês de julho. Contamos com a participação do Fórum de Inclusão Digital nas
Aldeias, com a supervisão do realizador Ivan Molina. Nessa oficina, começamos do
início, desde como se conta uma história só com sons, passando a contar uma história
com fotos até contar com imagens em movimento. No final, todos os grupos fizeram
filmes nos 5 dias de oficina.
Nem é preciso ser dito o quanto a segunda experiência, por ter sido em uma
aldeia, foi consideravelmente mais intensa. Acordávamos todos juntos, passávamos o
dia inteiro trabalhando, capturando som, filmando, editando, só parávamos para
comer e nos esquentar na fogueira, à noite. A despedida foi molhada. E foi daí que
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minhas amizades se consolidaram mais e é pra esse lugar que eu quero voltar e fazer
um filme com os meus amigos indígenas.
O Taller Internacional Sin Fronteras, o qual fomos convidados pelo realizador
Ivan Molina, que conhecemos em Pirajuy, se deu na Bolívia, no município de
Inquisivi, na cidade de Ichoca, Luruta e Tika. A oficina durou três dias, enquanto que
no restante do tempo, fazíamos os caminhos andinos, mastigando folhas de coca e
passando frio, por conta própria e os filmes também. Diferentemente das outras
oficinas, nessa, os filmes nao eram feitos pelos indígenas, mas por nós mesmos. Foi
uma boa experiência pessoal, mas nao foi uma experiência muito antropológica, com
trocas de saberes.
A próxima etapa, será em março ou abril, em um encontro dos parentes
Guaranis do Brasil com os parentes Guaranis do Paraguai. E, a partir deste encontro,
vou reencontrar meus amigos e poderia me organizar com eles sobre fazer um filme
juntos desde a concepção, roteiro, decupagem até a filmagem e a pós produção. Além
de esse encontro já ser uma oportunidade de fazer um filme com eles.
CONCEITOS E SUAS RELAÇÕES
O principal conceito que vai atravessar toda a pesquisa é o conceito de
etnoficçao. A partir da experiência de Jean Rouch e dos filmes feitos pelos próprios
nao-mais-objetos, o filme etnográfico perdeu seu lugar.
Outro conceito é o parallax effect, vem de parallaxis, mudança, alternância. O
aparente deslocamento ou a diferença na direção aparente de um objeto visto de dois
lugares diferentes. É um conceito da astronomia, mas que serve na antropologia
também, de acordo com Faye Ginsburg.
Na astronomia, esse termo é usado como um fenômeno que acontece, quando
uma mudança na posição do observador cria a ilusão de o objeto ter sido deslocado ou
movido; esse efeito dá um grande entendimento da posição e natureza de um objeto
cósmico. Nos estudos da ótica, o pequeno parallax criado pela leve angulação
diferente de cada olho, nos permite julgar distancias perfeitamente e também nos
permite ver em três dimensões.
Por um princípio parecido, pode-se entender as mídias indígenas, aparecendo a
partir de uma nova posição histórica do observador atrás da câmera, daí o objeto – a
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representação cinemática de cultura – aparece diferente comparado, a partir da
perspectiva observacional do filme etnográfico.
TEORIA
Esta pesquisa vai passar pela etnologia, com autores como Spensy Pimentel em Elementos para uma teoria política Kaiowá e Guarani , Elizabeth Pissolato em A Duraçao da Pessoa: Mobilidade, Parentesco e Xamanismo Mbya (Guarani), a dissertaçao de mestrado de Tonico Benites A escola na ótica dos avá kaiowá: impactos e interpretações indígenas, Adriana Queiroz Testa em Entre o canto e a caneta: oralidade, escrita e conhecimento entre os Guarani Mbya.
Mas vai passar, principalmente por uma literatura que faz flertar antropologia e cinema, com Faye Ginsburg, Ana Lúcia Ferraz, Didi Huberman, David Macdougall. Vai passar também por uma literatura exclusivamente cinematográfica, por uma literatura sobre saber e diversidade cultural e por uma literatura da experiência.
HIPÓTESES
METODOLOGIA
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ESTRUTURA DA MONOGRAFIA
INTRODUÇAO
CAPÍTULO I
A ANTROPOLOGIA SERÁ VISUAL OU NAO SERÁ NADA
CAPÍTULO II
OFICINAS TA’ANGA PU APOHA
CAPÍTULO III
CONCLUSAO
CRONOGRAMA
No decorrer de 2014, tanto o levantamento bibliográfico, quanto a leitura do
material, coleta de dados, o trabalho de campo e os encontros e contatos com a
orientadora, foram iniciados.
1o trimestre de 2015 2o trimestre de 2015 3o trimestre de 2015
Levantamento Bibliográfico X
Leitura do Material X X X
Coleta de Dados X
Trabalho de campo X
Análise dos Dados X
Redação dos Capítulos X X
Encontros com o Orientador X X X
Entrega da 1ª versão da
monografia ao orientador X
Revisão do texto da 1ª versão
da monografia X
Entrega da 2ª versão X
Revisão do texto da 2ª. versão X
Entrega da versão final X
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BIBLIOGRAFIA
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