Preparacao Exame Portugues_b

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PREPARAÇÃO EXAME PORTUGUÊS GRUPO I A Leia o texto com muita atenção e depois responda de uma forma clara e objectiva: Tudo o que faço ou medito Fica sempre pela metade, Querendo, quero o infinito. Fazendo, nada é verdade. Que nojo de mim me fica Ao olhar para o que faço! Minha alma é lúcida e rica, E eu sou um mar de sargaço --- Um mar onde bóiam lentos Fragmentos de um mar de alem... Vontades ou pensamentos? Não o sei e sei-o bem. Fernando Pessoa 1. Depois de teres estudado a vida e a obra de Fernando Pessoa, explica por palavras tuas qual te parece ser o assunto deste poema. 2. O poeta apresenta no poema algumas antíteses. a. Identifica-as e explica a sua sugestividade. 3. Explica por palavras tuas o sentido deste verso: “Minha alma é lúcida e rica /E eu sou um mar de sargaço”. 1

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exame de português 12º

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PREPARAÇÃO EXAME PORTUGUÊS !GRUPO I

A

Leia o texto com muita atenção e depois responda de uma forma clara e objectiva:

Tudo o que faço ou medito

Fica sempre pela metade,

Querendo, quero o infinito.

Fazendo, nada é verdade.

!Que nojo de mim me fica

Ao olhar para o que faço!

Minha alma é lúcida e rica,

E eu sou um mar de sargaço ---

!Um mar onde bóiam lentos

Fragmentos de um mar de alem...

Vontades ou pensamentos?

Não o sei e sei-o bem.

Fernando Pessoa

! 1. Depois de teres estudado a vida e a obra de Fernando Pessoa, explica por palavras tuas qual

te parece ser o assunto deste poema.

2. O poeta apresenta no poema algumas antíteses.

a. Identifica-as e explica a sua sugestividade.

3. Explica por palavras tuas o sentido deste verso: “Minha alma é lúcida e rica /E eu sou um mar de sargaço”.

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!! 4. Sem ultrapassares as 6 linhas, explica aquilo que entendes por Modernismo em Portugal.

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Leia o excerto seguinte, extraído do capítulo III do Sermão de Santo António (aos peixes), no qual o orador louva as virtudes dos peixes.

(1) Passando dos da Escritura aos da História natural, quem haverá que não louve e admire muito a virtude tão celebrada da Rémora? No dia de um Santo Menor, os peixes menores devem preferir aos outros. Quem haverá, digo, que não admire a virtude daquele peixezinho tão pequeno no corpo e tão grande na força e no poder, que, não sendo maior de um palmo, (5) se se pega ao leme de uma Nau da Índia, apesar das velas e dos ventos, e de seu próprio peso e grandeza, a prende e amarra mais que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante? Oh se houvera uma Rémora na terra, que tivesse tanta força como a do mar, que menos perigos haveria na vida, e que menos naufrágios no mundo! Se alguma Rémora (10) houve na terra, foi a língua de S. António, na qual, como na Rémora, se verifica o verso de São Gregório Nazianzeno: Lingua quidem parva est, sed viribus omnia vincit. O Apóstolo Santiago, naquela sua eloquentíssima Epístola, compara a língua ao leme da Nau e ao freio do cavalo. Uma e outra comparação juntas declaram maravilhosamente a virtude da Rémora, a qual, pegada ao leme da Nau, é freio da Nau e leme do leme. E tal foi a virtude e força da língua de S. António. O leme da natureza humana é o alvedrio, o Piloto é a razão; (15) mas quão poucas vezes obedecem à razão os ímpetos precipitados do alvedrio? Neste leme, porém, tão desobediente e rebelde, mostrou a língua de António quanta força tinha, como Rémora, para domar e parar a fúria das paixões humanas. Quantos, correndo Fortuna na Nau Soberba, com as velas inchadas do vento e da mesma soberba (que também é vento), se iam desfazer nos baixos, que já rebentavam por proa, se a língua de António, como (20) Rémora, não tivesse mão no leme, até que as velas se amainassem, como mandava a razão, e cessasse a tempestade de fora e a de dentro? Quantos, embarcados na Nau Vingança, com a artilharia abocada e os bota-fogos acesos, corriam enfunados a dar-se batalha, onde se queimariam ou deitariam a pique, se a Rémora da língua de António lhe não detivesse a fúria, até que composta a ira e ódio, com bandeiras de paz se salvassem (25) amigavelmente? [...] Esta é a língua, peixes, do vosso grande pregador, que também foi Rémora vossa, enquanto o ouvistes; e porque agora está muda (posto que ainda se conserva inteira) se veem e choram na terra tantos naufrágios.

Padre António Vieira, Sermão de Santo António (aos peixes) e Sermão da Sexagésima, edição de Margarida Vieira Mendes, Lisboa, Seara Nova, 1978, pp. 78-80

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!!glossário e notas

* abocada (linha 21) – apontada. * alvedrio (linha 14) – livre arbítrio, liberdade para tomar decisões. * baixos (linha 19) – zona de mar ou rio onde a água tem pouca profundidade. * bota-fogos (linha 22) – varetas com que o artilheiro ateava fogo à pólvora das bocas de fogo. * enfunados (linha 22) – inchados, envaidecidos. * Epístola (linha 11) – Epístola de São Tiago, um dos livros do Novo Testamento. * Escritura (linha 1) – Bíblia.

* Lingua quidem parva est, sed viribus omnia vincit (linha 10) – expressão latina que significa «A língua, na verdade, é pequena, mas vence tudo pela sua força». * posto que ainda se conserva inteira (linha 26) – referência à língua de Santo António, guardada como relíquia na basílica com o nome do santo, em Pádua. * Santo Menor (linha 2) – referência ao facto de Santo António pertencer à ordem de São Francisco.

* São Gregório Nazianzeno (linha 10) – teólogo e bispo cristão do séc. IV d.C.

!Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Releia o excerto desde o início até «por diante?» (linha 7). Apresente os traços caracterizadores da Rémora, fundamentando a sua resposta com citações do texto.

2. «Se alguma Rémora houve na terra, foi a língua de S. António» (linhas 8 e 9). Explique a analogia entre a língua de Santo António e a Rémora.

3. Vieira recorre à representação alegórica de determinados pecados humanos. Explique de que modo os elementos presentes na descrição das naus (linhas 17 a 24) permitem representar alguns desses pecados, bem como as suas consequências.

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!!GRUPO II

Leia o texto seguinte.

Camões viveu a fase terminal da expansão portuguesa e, depois, a da decadência e do desmoronamento político do seu país. (...) Mas, ao mesmo tempo, Camões viveu um período intelectual singular da história sociocultural, económica e política de Portugal, da Europa e do Mundo.

(…) Com as navegações, os homens acabavam de adquirir novas dimensões, muitas vezes contraditórias, para o pensamento, e novos horizontes, muitas vezes alucinantes, para a sua errância, o que tornava possível a mistura de vontade e audácia, especulação e riqueza, viagem e perigo, livre-arbítrio e fatalismo. Tudo isso os levava a viver dramaticamente uma época em que os mais esclarecidos viam a aventura portuguesa como uma forma de expansão europeia sob o denominador comum que lhes era possível conceber: a propagação da fé cristã. (…)

A ideologia dominante, consciente do alcance universal das descobertas portuguesas e comparando-as às narrativas fabulosas dos feitos heróicos da antiguidade clássica, concluía pela superioridade das expedições modernas e aspirava a vê-las cantadas sob o modelo clássico da epopeia, dimensão que faltava ainda à glória que tais feitos mereciam e que poderia fazê-la valer em toda a parte. A viagem de Bartolomeu Dias (passagem do Cabo da Boa Esperança, em 1488), quatro anos antes de Colombo e muito mais do que a jornada deste, abriu novas perspectivas para a revolução da noção de espaço planetário, podendo, por isso, ser justamente considerada o limiar de uma nova era. Dez anos depois, a viagem de Vasco da Gama (1497/98) tinha sido a que mais radicalmente contribuíra para a transformação da civilização europeia e da História do Mundo. E houvera ainda, ao longo de décadas, muitas outras viagens portuguesas da maior importância. Mas faltava ainda a dimensão da glorificação pela criação artística, relativamente aos feitos de que provinha tão grande transformação (...) e que haviam gerado tão grande massa de informações acumuladas sobre os descobrimentos portugueses, informações essas que todos, príncipes, homens políticos e de ciência, eclesiásticos e intelectuais, aventureiros, viajantes, marinheiros, piratas, diplomatas e espiões, buscavam avidamente na Europa.

Vasco Graça Moura, «Camões e os Descobrimentos», in Oceanos, n.o 10, Abril, 1992 (adaptado)

Seleccione, em cada um dos itens de 1 a 7, a única opção que permite obter uma afirmação adequada ao sentido do texto.

1. Em relação às proezas exaltadas na antiguidade clássica, os contemporâneos de Camões consideraram a expansão portuguesa de importância

(A)similar.

(B)irrelevante.

(C)superior.

(D)inconcebível.

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!! 2. A aventura portuguesa entendida como uma forma de divulgação do cristianismo traduz o

pensamento da classe mais (A) inculta.

(B) instruída.

(C) poderosa.

(D) belicosa.

3. A passagem do Cabo da Boa Esperança, no século XV, (A) marcou o término da aventura portuguesa.

(B) constituiu um hiato na evolução do conhecimento.

(C) marcou o começo de uma nova época.

(D) constituiu um embargo ao avanço científico.

4. As expressões textuais «expansão portuguesa», «aventura portuguesa», «descobertas portuguesas» e «descobrimentos portugueses» contribuem para a coesão (A) frásica.

(B) lexical.

(C) interfrásica.

(D) temporal.

5. Os termos «livre-arbítrio» e «fatalismo» mantêm entre si uma relação semântica de (A) equivalência.

(B) hierarquia.

(C) oposição.

(D) inclusão.

6. Em «para a sua errância» (linhas 6 e 7) «sua» remete para (A) «as navegações» (linha 5).

(B) «os homens» (linha 5).

(C) «o pensamento» (linha 6).

(D) «novos horizontes» (linha 6).

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!! 7. A forma verbal «haviam gerado» (linha 22) encontra-se no

(A) pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo.

(B) pretérito mais-que-perfeito do conjuntivo.

(C) pretérito perfeito composto do indicativo.

(D) pretérito perfeito do conjuntivo.

!8. Faça corresponder a cada segmento textual da coluna A um único segmento textual da coluna B, de modo a obter uma afirmação adequada ao sentido do texto.

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COLUNA A COLUNA B

(a) Com o conector «Mas» (linha 2), 1) o enunciador constrói uma relação de simultaneidade com a escrita da epopeia.

(b) Ao usar o pronome átono «os» (linha 8), (c) Ao usar parênteses (linha 15),

(2) o enunciador fundamenta a ideia exposta no segundo parágrafo do texto.

(d) Ao mencionar a viagem de Bartolomeu Dias, a de Vasco da Gama e outras viagens portuguesas, nas linhas 15 a 20,

(3) o enunciador introduz uma perspectiva de outro autor, relativamente aos factos apresentados.

(e) Com o advérbio «avidamente» (linha 25), (4) o enunciador clarifica a referência de uma expressão nominal.

(5) o enunciador desvaloriza a importância dos factos apresentados.

(6) o enunciador introduz uma relação de contraste.

(7) o enunciador introduz um modificador do predicado.

(8) o enunciador retoma um referente expresso na primeira linha do parágrafo.

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GRUPO III

Partindo da perspectiva exposta no excerto abaixo transcrito, apresente uma reflexão acerca das consequências da acção do Homem no planeta Terra. Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. Escreva um texto, devidamente estruturado, de duzentas a trezentas palavras.

!«Na verdade, não são os avanços científicos e industriais que ameaçam o Homem e a Natureza, mas sim a maneira errada e inconsciente como a Humanidade aplica as suas conquistas tecnológicas.»

!Jacques-Yves Cousteau, «Segredos do Mar, o Mundo Fascinante dos Oceanos e das Ilhas»,

Selecções Reader’s Digest, Julho de 1978

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