Presidência da República Casa Civil Secretaria de ... · e extrema seriedade, o Presidente Sarney...

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Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação – Geral de Documentação e Informação Coordenação de Biblioteca

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Presidência da República

Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação – Geral de Documentação e Informação Coordenação de Biblioteca

DISCURSOPELA TELEVISÃO

^PONHAM-SENO MEULUGAR77

-*

Presidente

NX PONHAM-SENO MEULUGAR77

BRASÍLIA1985

D O PRESIDENTE MOSTRAQUE O PAIS "ESTA NOSTRILHOS" E RECORDA

Q RECEBEUANH

DE 15 DE MARÇO DE 1985

Presidente José Sarney havia avisado, noinício, que não estava fazendo um dis-curso ou pronunciamento, mas tendo

uma conversa coloquial com os cidadãos brasi-leiros.

De repente, em meio à enumeração de fa-tos sobre a situação nacional, o Presidente sur-preendeu os telespectadores com um apelo:

— Vocês, brasileiros que me ouvem,ponham-se no meu lugar.

Foi um momento de impacto e desabafo,quando o público foi convidado a viver a expe-riência que o próprio Sarney experimentou namadrugada e na manhã dramáticas de 15 demarço.

Ele havia se preparado para empossar-secomo Vice-Presidente. Guardaria uma posição dis-creta, típica da função, ainda mais acentuada pe-la expectativa de Tancredo Neves firmar-se comoum Presidente forte. Mas a emergência obrigava-

o a assumir a chefia do Governo, de acordo coma Constituição, devido ao inesperado impedimen-to do Presidente eleito.

O destino impunha a Sarney uma tarefa pa-ra a qual outro havia se preparado, negociado, pla-nejado tudo e, até mesmo, formado equipe. Desúbito Sarney tinha nas mãos a batuta para regera orquestra que Tancredo havia formado e queexecutaria uma sinfonia ainda não totalmente es-crita.

Foi com as reservas da sua longa experiên-cia de político — deputado, senador, governador,líder partidário — e de humanista respeitado, co-mo escritor e homem de idéias, que Sarney se lan-çou apaixonadamente à tarefa de alicerçar a No-va República.

Sem ilusões, mas com realismo absoluto(ele sabia que não era "o candidato do protesto",nem o "Presidente da Esperança"), buscou assu-mir o papel de Presidente da Responsabilidade eorganizar um Governo que, em poucos meses, co-locasse o País nos trilhos da paz política. E colo-cou. Nos trilhos da paz política, do crescimentoeconômico, do respeito aos trabalhadores, do fimdo desemprego, do combate à corrupção.

Para entender como tudo isso aconteceu,nada melhor do que cada cidadão colocar-se nolugar de Sarney e tentar cumprir o itinerário emo-cional e real que ele trilhou a partir do momentoem que assumiu a Presidência.

Os dados para esse exercício estão conti-dos na mensagem que Sarney dirigiu aos brasi-leiros na noite de 5 de novembro de 1985 por umarede nacional de rádio e TV.

Vale a pena aceitar a proposta e imaginar-se no papel que, com humildade, senso práticoe extrema seriedade, o Presidente Sarney estávivendo.

MENSAGEMTRANSMITIDA PELA TVEJIAPIO _NA_NQ!Tl JDEJL DE ÜQVEMBRQ^ DE

1985

o pior

qui é minha mesa de trabalho.Sete meses de luta e de sacrifício.Não venho fazer um pronunciamen-

to. Venho para uma breve conversa.Venho para dar boas notícias.Demorei bastante em voltar a falar-lhes.

Meu trabalho tem sido árduo.Aprendi que se convence mais pelo exem-

plo do que pela palavra.O destino me entregou a maior responsa-

bilidade que já foi colocada nos ombros de umpolítico brasileiro.

Tenho procurado cumprir com o meu de-ver. Vontade e sacrifício não faltaram.

E não faltarão.Mas nem tudo são flores. Temos muitos

problemas.O Governo tem muitas falhas, mas afirma

com absoluta certeza que já caminhou muito.Nesses meses vencemos o pior.O poder civil está consolidado. Respira-se

liberdade em todos os cantos do Brasil.Não posso ser mágico, e do dia para a noite

consertar o que não se consertou ao longo daHistória.

Quando eu assumi, fui recebido com gran-des reservas: não era nem o "candidato do pro-testo", nem o "Presidente da Esperança".

Mas o Brasil sabe hoje que eu sou o Presi-dente da Responsabilidade.

O meu jeito simples foi tomado como ti-midez e fraqueza. Minha prudência, como vaci-lação e ambigüidade.

Proclamaram o caos e o fracasso. Graçasa Deus, nada disso ocorreu.

O Governo pode ser firme, sem ser arro-gante. Pode comandar, sem empáfia nem amea-ças.

A sociedade democrática é uma socieda-de de convivência.

Eu não acredito na fórmula maquiavélicade que o poder deve amedrontar, para serrespeitado.

Sempre preferi, ao longo da minha vida,ser estimado a ser temido.

Tenho a consciência histórica de que souo fiador do equilíbrio. Mas temos ainda grandestarefas a cumprir.

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O Brasil precisa de paz e de conciliação,o grande legado de Tancredo Neves.

O Governo tem sido austero, simples, des-pojado, sério, contra a corrupção, lutando paraimplantar métodos de decência e eficiência.

No meu discurso de julho tratei de cincopontos, e falei em liberdade, em desenvolvimen-to, em opção social, em identidade cultural, emsoberania e independência.

Eles formam um todo articulado. E querorecordar o esforço que fizemos para implantá-los

Liberdade na ação conjunta do Governo. O clima de liber-dade que o País vive não tem precedentes em nos-sa História.

Asseguramos direitos, liberamos procedi-mentos, enfrentamos movimentos reivindicatóriose, em nenhum momento, o Governo cometeuqualquer violência.

No quadro institucional, criaram-se maisde vinte partidos. Quem quis questionar e ter voz,teve essa oportunidade.

Atualmente, estamos mergulhados em umacampanha eleitoral para prefeito que se desenvol-ve em mais de duzentos municípios, incluindo ne-

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lês todas as capitais, com um total de quase 20milhões de eleitores, e os municípios de segurançanacional.

Achei que o Presidente não devia partici-par da campanha. É certo que, como político,meu desejo é a vitória dos candidatos apoiadospelos partidos da Aliança Democrática, mas co-mo Chefe da Nação, jamais eu teria o direito dedividir o País, com o envolvimento de minhaautoridade.

O País consolida suas instituições em liber-dade. E liberdade é vida, perspectiva de vida feliz.

O País vive neste instante um momento degraça.

Todo cidadão sabe que tem direitos e queexerce os seus direitos. Por outro lado, essa liber-dade não ficou no campo político. Ela se afirmouno campo da iniciativa privada e na afirmação dosdireitos sociais.

Abolimos a censura, quebramos tabus emrelação a correntes que viviam na clandestinida-de. Tivemos a coragem de integrar (não só legali-zar), mas integrar, ao convívio político, partidos,entidades e pessoas segregadas por preconceitosideológicos.

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Questiona-se, discute-se. Enfim, o debatedas idéias. A controvérsia passou a ser uma for-ma sadia da vida nacional. Ninguém tem medode pensar nem de falar.

Tratei da opção social, da prioridade pe-los pobres, do combate à fome e à miséria.

Todos os recursos disponíveis do Gover-no estão concentrados nessa área. Programas so-ciais, devemos proclamar, são difíceis de execu-tar. Demandam recursos humanos, e obrigatoria-mente exigem tempo para chegar a todos os lu-gares onde devem chegar. Temos contra nós a vas-tidão do País e a lentidão da burocracia. Mas elesestão funcionando.

Estão funcionando os programas de suple-mentação alimentar para pessoas de baixa renda,de aleitamento, de alimentação popular, de am-pliação da merenda escolar, da cesta básica, daeducação para todos.

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Vamos falar da cultura. O Governo tempresente seu caráter diverso, múltiplo e dinâmi-co. Intelectuais, artistas, cientistas, técnicos, es-tão trabalhando livremente.

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Começa um renascimento cultural, frutodo momento de discussão e de reencontro queo País vive.

No setor básico do ensino, estamos colo-cando novas técnicas a serviço da educação, pro-grama este que será a verdadeira revolução edu-cacional do Brasil, aquela que libertará o País daservidão da ignorância e que marcará a nossa His-tória. Iremos conjugar até o fim do Governo osrecursos dos satélites e do vasto campo da infor-mática para modernizar a educação no Brasil.

Irei remeter ao Congresso Nacional antesdo fim do ano um projeto criando incentivos fis-cais para a cultura. Essa lei se destina a ser ummarco fundamental na história do País e liberta-rá o nosso artista da tutela do Estado.

Vamos falar de política externa.Todos sabem que o Brasil não é hoje mais

caudatário de nenhuma potência, nem prisionei-ro de pequenos conflitos.

O Brasil ocupou o seu lugar.Passou a ser uma presença atuante no ce-

nário internacional.Na semana passada, eu ouvi do Primeiro-

Ministro da China, e antes ouvira do Presidente

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François Mitterrand, a repetição dos elogios so-bre a posição e a presença do Brasil nas NaçõesUnidas.

O peso do Brasil aparece e se impõe.Isso se reflete em nosso relacionamento

com todo o mundo.Desapareceram do dia para a noite as co-

missões de organismos internacionais que audi-tavam órgãos governamentais, a nos ditar modase que passavam freqüentemente pelo Brasil.

O nosso País retoma o comando do seudestino.

A visão de que a dívida é uma questão so-mente de banqueiros desapareceu ao peso da po-sição brasileira. O mundo passou a aceitar que adívida é uma questão política, como nósdefendemos.

Finalmente, soberania e independência nãosão mais palavras vazias. Hoje elas são uma reali-dade. A face do Brasil, internacionalmente, é ou-tra face.

Esse é o testemunho da comunidade dasnações.

Vamos falar do desenvolvimento.Tenho a afirmar: Quando assumi, fui acon-

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selhado a seguir a fórmula da recessão. Devíamosparar tudo. Apertar. Arrochar salários. Parar in-vestimentos. Porque essa era a receita da ortodo-xia, "o manual do estadista". Estadista aí, pode-mos dizer, entre aspas.

Recusei. Disse não. Enfrentei ameaças.A inflação iria a mil por cento, não have-

ria crescimento nenhum, o País seria desestabili-zado, os bancos internacionais cortariam os cré-ditos, os bens brasileiros no exterior seriampenhorados.

Mesmo assim eu disse não a todas essasameaças.

E tinha convicção."O Brasil vai crescer", respondi.E aconteceu.Temos que combater a inflação sem gerar

desemprego, quebras, ou convulsão social.Afirmei: "Temos de crescer!" E tracei a me-

ta de 5 por cento ao ano.

Estamos chegando ao fim do ano, meuscompatriotas, e trago-lhes boas notícias.

O nosso caminho estava certo. O cresci-mento econômico este ano ficará entre 6 e 7 porcento. Mais do que prevíamos. O País está com

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A economia a sua economia reativada. Saímos do marasmo.reativada A taxa de desemprego caiu 29 pontos no último

mês. Estamos no menor índice de desemprego detodos os tempos. Foram criados mais de um mi-lhão e meio de novos empregos.

Os juros baixaram de 22 para 15 por cen-to. Rolamos toda a nossa dívida interna com estataxa, o que significa uma grande economia parao Tesouro Nacional.

A indústria está crescendo cerca de 7 porcento, o comércio vende como nunca vendeu,cresce o mercado interno e nossas reservas inter-nacionais já chegam a quase 9 bilhões de dólares.

A inflação, o grande monstro da inflação,em baixa está menor do que em 1984. A inflação está em

baixa.A iniciativa privada reanimou-se. Passou a

ter confiança. Os investimentos voltaram.Mas não devemos falar só dos indicadores

da produção. Também dos indicadores sociais.O salário real médio na indústria cresceu,

só este ano, entre 13 e 14 por cento.O nosso trabalhador teve mais dinheiro, es-

tá comprando mais. E em um ano recuperamosmais da metade das perdas acumuladas. O salá-

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rio mínimo cresceu como não crescia há 24 anos.Observem que já não estamos falando nos últi-mos 20 anos. Já ultrapassamos o período de 64,para recuar a 1961, no reajuste das injustiças sa-lariais impostas aos trabalhadores brasileiros.

Esses são dados incontestáveis. E tudo nãoaconteceu por acaso. É uma obra de engenhariapolítica difícil, que tem custado muito trabalho.Tem custado esforço. E nós enfrentamos grandesproblemas.

Vocês, brasileiros, que me ouvem, po-nham-se um pouco no meu lugar. Avaliem um ho-mem que, às quatro horas da manhã do dia 15 demarço, é avisado que vai assumir a Presidência daRepública às 9 horas.

Assumi. E assumi com todos os problemasdo Brasil acrescentados com a tragédia da mortede Tancredo Neves.

Hoje, já enfrentamos mais de quinhentasgreves. Não me foi dada uma trégua sequer.

E ninguém veja neste registro qualquer res-sentimento. Esse é meu dever. E eu vou cumpriro meu dever.

Tive de lutar para vencer a crise da refor-ma agrária. Fui censurado por uns e censurado

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por outros, mas tive a coragem de enfrentar esseproblema grave, dentro do lema: "paz na terra".

Tive que governar com forças heterogê-neas, com equipes diversas, com uma administra-ção desarticulada que herdei do passado. Para su-prir tudo isso, apliquei toda a minha capacidadede trabalho, esforcei-me ao máximo, busquei mi-nhas reservas de fé, de obstinação e de sonho.

Estamos Mas estou feliz, porque todos nós estamosvencendo vencendo. E saímos do pessimismo.

Tem algum segredo?Tem! É o apoio do povo. São os 85% de

respaldo da opinião pública.Esta é minha força. É a força que me dá

coragem para prosseguir nessa luta. Os brasilei-ros sabem que eu preciso ser ajudado e que nãodecepcionarei os homens e mulheres de minhaterra.

Posso dizer com sinceridade à nossa gen-te:

— Graças a Deus, o Brasil está nos trilhos.O País vai dar certo!

Muito obrigado.

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PRESIDÊNCIA DÁ REPUBLICACOLEÇÃO 5 PONTOS

VOLUME 5

C LIBERDADE

-)C DESENVOLVIMENTO

OPÇÃO SOCIAL

-)C IDENTIDADE CULTURAL

-C SOBERANIA E INDEPENDÊNCIA