PREVALÊNCIA DE LESÕES PERIRRADICULARES EM...

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NATASHA SORAIA SARMENTO DIAS FIGUEIRA PREVALÊNCIA DE LESÕES PERIRRADICULARES EM TABAGISTAS 2015

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NATASHA SORAIA SARMENTO DIAS FIGUEIRA

PREVALÊNCIA DE LESÕES

PERIRRADICULARES EM TABAGISTAS

2015

ii

NATASHA SORAIA SARMENTO DIAS FIGUEIRA

PREVALÊNCIA DE LESÕES PERIRRADICULARES EM TABAGISTAS

Orientadora:

Prof ª. Dra. Luciana Armada Dias

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

RIO DE JANEIRO

2015

Dissertação apresentada à

Faculdade de Odontologia da

Universidade Estácio de Sá,

como parte dos requisitos para

obtenção do grau de Mestre em

Odontologia (Endodontia).

iii

DEDICATÓRIA

Primeiramente dedico essa vitória à Deus, o qual nos

guia nas horas difícies e tumultuadas da vida, por ter

me ofertado saúde, perseverança, foco e sorte o

suficiente para chegar a reta final desse maravilhoso

aprendizado.

Posteriormente dedico à Deus também, por ter me

colocado essa mãe maravilhosa na minha vida, então

agradeço à mais essa vitória para ela a mulher que

me proporcionou a oportunidade de evoliur na minha

carreira profissional que tanto me estima, me guiando

com seu amor e palavras de estímulo sempre para o

caminho certo, sendo meu espelho para todas as

horas, obrigada Soraia Maria Sarmento Dias.

Ao meu amado marido Thiago Ferreira Paulo, que me

incentivou e me deu apoio quando tudo parecia muito

confuso para mim, entre trabalho e mestrado ele

soube me amparar e apontar o caminho a seguir.

iv

AGRADECIMENTOS

À minha querida orientadora Luciana Armada que com muito amor, amizade,

equilíbrio e serenidade soube me conduzir ao objetivo final do curso, me

induzindo ao caminho certo e me proporcionando grandes momentos de

aprendizados que levarei no coração para sempre.

À minha grande amiga Sabrina Brasil que mostrou grande capacidade e

determinação para que este estudo fosse desempenhado com grande

qualidade

Aos meus amigos Stephanie Borges e Júlio César que juntamente ao meu lado

desbravamos barreiras, crescemos, evoluímos e amadurecemos mesmo nas

díficies horas que nos foi proporcionada.

À todos os alunos do programa Pet que tive a sorte de conhecer, pessoas

maravilhosas, que me auxiliaram no crescimento e evolução deste estudo.

v

ÍNDICE

Página

RESUMO vii

ABSTRACT ix

LISTA DE FIGURAS xi

LISTA DE TABELAS xii

LISTA DE ABREVIATURAS xiii

1. INTRODUÇÃO 1

2. REVISÃO DE LITERATURA 3

3. JUSTIFICATIVA 22

4. HIPÓTESE 23

5. OBJETIVO 24

6. MATERIAIS E MÉTODOS 25

7. RESULTADOS 31

8. DISCUSSÃO 36

9. CONCLUSÕES 41

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42

vi

RESUMO

Objetivo: Avaliar a influência do tabagismo na prevalência de lesões

perirradiculares.

Materiais e métodos: Foram selecionadas 168 fichas clínicas de pacientes

fumantes e não fumantes pareados por idade e sexo, excluindo pacientes com

diabetes mellitus e portadores do vírus HIV. Foram utilizados os exames

radiográficos (panorâmica e/ou periapical completa) mais recentes de cada

indivíduo. As imagens foram analisadas por 2 avaliadores quanto ao número de

dentes, presença de lesão perirradicular, presença de tratamento endodôntico,

a qualidade da obturação dos canais e a qualidade da restauração coronária. O

método utilizado para avaliar a presença de lesão perirradicular foi o critério

para sucesso endodôntico PAI. Os dados foram analisados no Statistical

Program for Social Sciences (SPSS, versão 20) e as diferenças foram

consideradas estatisticamente significadtivas quando p<0,05.

Resultados: Foram avaliados radiograficamente 1.984 dentes do grupo de

fumantes (23,6 ± 6,7 dentes por paciente) e 2.103 em não fumantes (24,5 ± 6,7

dentes por paciente). 82% dos fumantes e 79% dos não fumantes

apresentavam dentes associados à lesão perirradicular. Em fumantes, dos 127

dentes de tratados endodonticamente, 59 estavam associados à lesão

perirradicular (35 obturação do canal satisfatória e 19 obturação do canal e

restauração dentária satisfatórias). Em não fumantes, dos 91 dentes tratados

endodonticamente, 60 estavam associados à lesão perirradicular (23 obturação

do canal satisfatória e 22 obturação do canal e restauração dentária

vii

satisfatórias). Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas

entre os grupos para todos os parâmentros avaliados.

Conclusões: Apesar dos achados da literatura sugerirem uma influência do

tabagismo na manifestação de doenças perirradiculares, os resultados do

presente estudo não demonstraram diferenças estatisticamente significativas

na prevalência de lesões perirradiculares entre fumantes e não fumantes.

Acredita-se que novas pesquisas devem ser realizadas para o melhor

esclarecimento do efeito específico deste hábito na evolução de lesões

perirradiculares.

Palavras-chave: Lesão perirradicular; tabagismo; endodontia

viii

ABSTRACT

Objective: Evaluate the influence of the tabacco smoking in the prevalence of

periradicular lesions.

Materials and methods: 168 clinical forms from smoking and non-smoking

patients were selected and combined by age and gender, excluding patients

with diabetes mellitus and carriers of HIV virus. Most recent radiographic exams

(panoramic and/or periapical) from each individual were used. The images were

analyzed by 2 evaluators regarding the number of teeth, presence of

periradicular lesion, presence of endodontic treatment, quality of the obturation

of the canals and the quality of the coronary reconstruction. The method used to

evaluate the presence of the periradicular lesion was the criteria for the

endodontic success PAI. The data was analyzed in the Statistical Program for

Social Sciences (SPSS, version 20) and the diferences were considered

statically significant when p<0,05.

Results: 1.984 teeth from the smoking group (23,6 ± 6,7 teeth per patient) and

2.103 from the non-smoking one (24,5 ± 6,7 teeth per patient) have been

analyzed. 82% of the smokers and 79% of the non-smokers presented teeth

associated to the periradicular lesion. Between the smokers, from the 127 teeth

endodontically treated, 59 were associated to periradicular lesion (35

satisfactory canal obturation and 19 satisfactory canal obturation and dental

restoration). In non-smokers, from the 91 teeth endodontically treated, 60 were

associated to periradicular lesion (23 satisfactory canal obturation and 22

ix

satisfactory canal obturation and dental restoration). No statically significant

differences were observed between the groups for all the evaluated parameters.

Conclusion: Despite of the literature findings suggest a influence of the

tabacco smoking in the manifestation of periradicular deseases, the results of

the present study do not demonstrate statically significant differences in the

prevalence of periradicular lesions between smokers and non-smokers. It is

believed that new researches should be made for the better understanding of

the specific effect of this habit in the lesions evolution.

Keywords: Periradicular lesion, tabacco smoking, endodontics

x

LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 1 – Túbulos dentinários subjacentes ao biofilme invadidos e colonizados

em várias profundidades de incisivo lateral superior com lesão

perirradicular........................................................................................................3

Figura 2 - Alterações celulares da resposta do hospedeiro..............................14

Figura 3 – Radiografia panorâmica de paciente fumante.................................26

Figura 4 – Radiografia panorâmica de paciente não fumante..........................27

Figura 5 – Avaliação das lesões perirradiculares.............................................28

xi

LISTA DE TABELAS

Página

Tabela 1 – Idade dos pacientes.......................................................................32

Tabela 2 – Número de dentes associados a lesões perirradiculares por

paciente...........................................................................................................34

Tabela 3 – Número de dentes tratados endodonticamente por paciente........35

Tabela 4 – Número de dentes tratados endodonticamente associados

a lesões perirradiculares por paciente.............................................................36

Tabela 5 – Número de dentes com tratamento endodôntico satisfatório

associados a lesões perirradiculares por paciente..........................................36

Tabela 6 – Número de dentes com tratamento endodôntico e restauração

dentária satisfatórios associados a lesão perirradicular por paciente.............37

xii

LISTA DE ABREVIATURAS

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

AIDS - Síndrome da imunodeficiência humana adquirida

BALF - Fluído bronco-alveolar limpo

Fcy - Fragmento C gama

FcyR - Receptor do fragmento C gama

H – Histidina

HAART – Terapia antirretroviral ativa

HIV- Vírus da imunodeficiência humana

IGg - Imunoglobulina G

INCA - Instituto Nacional do Câncer

IL - Interleucina

LBA - Brônquio alveolar limpo

LPS - Lipopolissacarídeo

OMS - Organização Mundial de Saúde

PGE2 - Prostaglandinas

PAI - Ìndice Periapical

PMN - Polimorfonucleares

PNAD - Pesquisa especial de tabagismo

R - Arginina

SNP - Single Nucleotide Polymorphism

xiii

SVS - Secretaria de Vigilância em Saúde

TE – Tratamento endodôntico

TNF - Fator de necrose tumoral

xiv

1. INTRODUÇÃO

_______________________________________________________________

A lesão perirradicular consiste em uma doença inflamatória de origem

microbiana causada primeiramente pela infecção no sistema de canais

radiculares (SIQUEIRA & RÔÇAS, 2009). O desenvolvimento desta lesão

representa uma barreira eficaz contra a disseminação da infecção para o osso

alveolar e outras regiões do corpo. Na maioria das situações, as lesões

conseguem prevenir o acesso de micro-organismos aos tecidos

perirradiculares. Entretanto, quando estes micro-organismos e seus

subprodutos altamente virulentos conseguem exceder a capacidade de defesa

do hospedeiro a lesão perirradicular é capaz de se estabelecer e evoluir

(LOPES & SIQUEIRA, 2010).

Os hospedeiros podem apresentar diferentes respostas à infecção

perirradicular e ao mesmo tipo de tratamento endodôntico. Tal fato ocorre, pois

alguns indivíduos apresentam condições que podem influenciar na

susceptibilidade da doença (SEGURA-EGEA et al., 2005). Estas condições

podem ser referidas como modificadores da doença, desde que não sejam sua

causa, mas possam influenciar no desenvolvimento, diagnóstico, severidade ou

resposta ao tratamento (SIQUEIRA JR, 2011).

O tabagismo é um hábito adquirido reconhecido por promover diversas

alterações na cavidade oral, que incluem comprometimentos periodontais,

redução do fluxo sanguíneo local, alteração das respostas inflamatória e

imunológica, comprometimento na cicatrização tecidual, modificações na

xv

composição da placa bacteriana, aumento na profundidade de bolsas e perda

óssea periodontal (FROHLICH et al., 2003).

O comprometimento do sistema imunológico poderia facilitar a extensão

do processo de destruição óssea perirradicular e/ou interferir com os eventos

de cura e reparo seguintes ao tratamento endodôntico. Portanto, um aumento

do número e/ou tamanho das lesões perriradiculares seria esperado em

tabagistas (BERGSTROM et al., 2004).

É possível pressupor que o tabagismo poderia ser considerado um

modificador da doença, ou seja, mesmo não sendo a principal causa para o

desenvolvimento de lesões perriradiculares pode influenciar na evolução das

mesmas (SIQUEIRA JR, 2011). Porém, ainda são poucos e contraditórios os

estudos correlacionando a influência do tabagismo na prevalência de lesões

perirradiculares (ALEKSEJUNIENE et al. 2000, KIRKEVANG & WENZEL, 2003;

BERGSTROM et al., 2004; MARENDING et al., 2005; FRISK & HAKEBERG,

2006; KRALL et al., 2006; KIRKEVANG et al., 2007; SEGURA-EGEA et al.,

2008; SEGURA-EGEA et al., 2011; LOPEZ-LOPEZ et al., 2012; RODRIGUEZ

et al., 2013).

xvi

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Lesões Perirradiculares

As principais alterações patológicas que acometem a polpa e os tecidos

perirradiculares são de natureza inflamatória e de etiologia infecciosa. As

lesões perirradiculares são causadas principalmente por bactérias que, por sua

vez, podem invadir a cavidade pulpar via periodonto através do forame apical e

dos canais laterais, secundários, acessórios, ou até mesmo pelos túbulos

dentinários (Figura 1), induzindo uma resposta inflamatória com o intuito de

preparar os tecidos alterados para o reparo (LOPES & SIQUEIRA, 2010;

RICUCCI & SIQUEIRA, 2010).

xvii

Figura 1: Túbulos dentinários subjacentes ao biofilme invadidos e colonizados em várias profundidades de incisivo lateral superior com lesão perirradicular (Fonte: RICUCCI & SIQUEIRA, 2010).

Nos terços dos canais radiculares podem ser observadas microbiotas

diferentes. Tal fato é explicado pela disponibilidade de nutrientes, interações

bacterianas, pela presença de necrose pulpar e a diminuição do potencial de

óxido-redução. Morfologicamente, a microbiota consiste de cocos, bacilos,

filamentos e espirilos. Enquanto a maioria dos membros da microbiota

endodôntica se encontram em suspensão, grandes aglomerações de células

bacterianas podem também ser vistas aderidas às paredes do canal formando

uma estrutura semelhantes ao biofilme de multicamadas e multiespécies.

Esses micro-organismos muitas vezes são observados se estendendo para o

interior dos túbulos dentinários (LOPES et al., 2013).

O tipo de resposta do organismo aos agentes invasores vai depender da

virulência das bactérias presentes (presença de enzimas, exotocinas, produtos

metabólicos) e dos mecanismos específicos locais de defesa do hospedeiro.

Na tentativa de neutralizar ou destruir os agentes agressores, o corpo gera

uma resposta inflamatória (BOHORQUEZ et al., 1995).

Em decorrência da persistência da agressão bacteriana oriunda do

canal, que não foi eliminada pelos mecanismos de defesa da resposta inata

não induzida, um dano tecidual é gerado, levando ao desenvolvimento de uma

resposta inflamatória aguda e inespecífica. Tal situação, é caracterizada por

diversos eventos vasculares e celulares como aumento da permeabilidade

vascular, adesão e migração leucocitária, quimiotaxia e os sinais cardeais da

inflamação (calor, rubor, tumor, perda\limitação da função e dor) devido à ação

xviii

direta dos mediadores químicos sobre as fibras nervosas (SIQUEIRA JR,

2011).

A inflamação crônica pode suceder um episódio de inflamação aguda,

desde que o agente agressor não tenha sido devidamente eliminado. Em

determinadas circunstâncias, a inflamação crônica poderá ser iniciada sem a

ocorrência prévia de uma resposta aguda, ou seja, somente pela presença dos

agentes agressores de baixa toxicidade. Mesmo esse processo envolvendo

células imunocompetentes voltadas para a eliminação de antígenos, a

inflamação crônica também apresenta caráter destrutivo por estimular uma

degradação de tecido ósseo (ROÇAS et al., 2010).

SOARES & CÉSAR (2001) ressaltam que, para uma correta eliminação

dos micro-organismos e desinfecção do sistema de canais radiculares, é

necessário que o preparo biomecânico se configure como uma das fases mais

importantes no controle da infecção endodôntica. Porém, pacientes com o tipo

de doença e tratamento semelhantes podem manifestar formas diferentes de

resposta ou recuperação por apresentarem fatores modificadores da doença

perirradicular. Algumas condições sistêmicas (diabetes mellitus e

osteoporose), infecções virais (portadores de HIV e da Herpes), alterações

genéticas (polimorfismo genético) e alguns hábitos adquiridos (tabagismo),

podem ser referidos como modificadores da doença (SIQUEIRA JR, 2011).

2.2 Modificadores da Doença Perirradicular

xix

O diabetes mellitus é uma desordem metabólica na qual o pâncreas

deixa de produzir insulina ou as células corporais apresentam resistência à

insulina. Em ambos os casos, a glicose não é absorvida pelas células,

causando o aumento dos níveis de glicose no sangue. Essa patologia pode ser

encontrada de duas formas: Tipo 1, que é o mais predominante na infância e

na adolescência, geralmente entre os 10 aos 14 anos, e se caracteriza pela

destruição das células beta do pâncreas (células produtoras de insulina). Tal

destruição é mediada por uma resposta autoimune celular, ou seja, o próprio

organismo destrói suas células, levando à um aumento da glicose no sangue

por déficit absoluto de produção de insulina. O diabetes tipo 2 é considerado

uma das grandes epidemias do século XXI e afeta 90% das pessoas que tem

diabetes, sendo o mais comum. Essa enfermidade ocorre quando não há

produção suficiente de insulina pelo pâncreas ou porque o corpo se torna

menos sensível à ação da insulina que é produzida, caracterizando uma

resistência à este hormônio. Os dois tipos de diabetes mellitus estão

associados ao comprometimento da cicatrização e afetam diversas funções do

sistema imunológico. Na cavidade oral o diabético pode apresentar diversas

alterações como halitose, xerostomia, maior pré-disposição ao aparecimento

de lesões cariosas, gengivite e doença periodontal (KASPER et al., 2006).

SEGURA EGEA et al. (2005), realizaram um estudo composto por 32

pacientes diabéticos tipo 2 (12 homens e 20 mulheres), com um grupo controle

de 38 indivíduos sem diabetes. Os resultados demonstraram que de 32

pacientes diabéticos, 26 apresentavam dentes com lesões perirradiculares e 7

apresentavam dentes tratados endodonticamente com lesões perirradiculares.

O estudo concluiu que, o dibetes do tipo 2 é capaz de alterar o curso da lesão

xx

perirradicular atuando como um fator de risco para a evolução dessa patologia

e aumentando a sua prevalência por afetar na cicatrização pós tratamento

endodôntico.

Em 2006, ARMADA-DIAS et al. realizaram um estudo através de análise

radiográfica, no qual foram formados 2 grupos (ratos diabéticos tipo 1 e não-

diabéticos). Posteriormente, foi induzida uma inflamação pulpar em ambos os

grupos. Os autores puderam concluir que, no grupo diabético os ratos

apresentavam lesões perirradiculares maiores quando comparadas ao do

grupo controle. Esses resultados deram suporte a hipótese de que a diabetes

mellitus reduz a defesa do hospedeiro contra agentes invasores, podendo essa

alteração sistêmica aumentar a propensão do desenvolvimento de grandes

lesões perirradiculares.

MAROTTA et al. (2012) avaliaram através de radiografias a prevalência

de lesão perirradicular em diabéticos tipo 2. Os autores puderam concluir que,

as lesões perirradiculares foram mais prevalentes em diabéticos tipo 2,

sugerindo que essa condição sistêmica poderia favorecer o desenvolvimento

da alteração perirradicular.

No início dos anos 80, um vírus com alto potencial destrutivo foi

descoberto e denominado o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Este

vírus ao entrar em contato com o organismo começa de imediato a replicar-se,

atacando o sistema imunológico. O indivíduo infectado apresenta-se debilitado

e mais susceptível à infecções oportunistas. Portadores da infecção pelo HIV

associada à Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida (AIDS) são

pacientes imunocomprometidos e por essa razão podem apresentar um

xxi

resultado desfavorável no tratamento endodôntico (COOPER, 1993; ALLEY et

al., 2008).

Em 2002, PATTON et al. desenvolveram um revisão de literatura que

mostrou evidências de que pacientes portadores do HIV apresentam maior

risco de desenvolver complicações durante o tratamento endodôntico por

serem imunológicamente comprometidos e por apresentarem dificuldade na

cicatrização. No entanto, os autores acharam uma limitação no trabalho já que

o número de estudos relacionando HIV e tratamento endodôntico não era

suficiente.

FONTES et al. (2015), também através de revisão de literatura

verificaram que pacientes portadores do vírus HIV infectados ou não infectados

apresentavam uma alteração na microbiota endodôntica. No entanto, não

observaram interferência no desenvolvimento e no reparo de lesão

perirradiculares em pacientes que faziam uso da terapia antirretroviral

altamente ativa (HAART).

O polimorfismo genético tem sido considerado por diversos autores

como sendo um fator de risco para a periodontite apical, agindo como um

modificador e não como um causador direto desta alteração (DE SÁ et al.,

2007; SIQUEIRA & JÚNIOR, 2009; MORSANI et al., 2011; SIQUEIRA et al.,

2011).

O polimorfismo genético consiste em uma variação fenotípica que pode

ser separada em classes distintas e bem definidas. O controle genético se dá

por um loci ou em pequenas quantidades deles, sendo a característica pouco

suscetível a fatores ambientais. Pode-se dizer que o polimorfismo genético

xxii

envolve a troca de um nucleotídeo por outro, ocorrendo devido mutações

gênicas, e se manifestam quando os alelos (formas variantes de um gene),

surgem na população. O tipo mais comum dessa alteração é a forma que

envolve um único nucleotídeo (SNP). A ocorrência de SNP na região de

codificação de um gene pode resultar na produção de uma proteína alterada,

que resulta no compromentimento da função. A presença de SNP na região

promotora de um gene pode modificar a regulação de outros genes,

conduzindo a uma redução ou uma superexpressão destes. Quando os

produtos de genes são citocinas, receptores ou enzimas envolvidas na

inflamação ou na reparação, a variação no que diz respeito a SNPs acaba

resultando na alteração da resposta inflamatória. Uma outra forma de

polimorfismo é evidenciado pela repetição de um número variado de bases ou

padrões de bases repetidas numa região genética (KINANE & HART, 2003).

O polimorfismo do gene FcγRall é caracterizado pela substituição de

uma guanina por uma adenina, levando a troca de uma histidina (H), que é o

alelo normal, por uma arginina (R) (alelo raro) na posição 131 do aminoácido

da molécula do receptor. Esse alelo FcyRlla-R131 não consegue se ligar à

IgG2 ou então, se liga de forma deficiente. Quando a IgG opsoniza os micro-

organismos e seus produtos que podem ser fagocitados através da ligação do

fragmento Fc do anticorpo aos receptores Fcy expressos na superfície dos

neutrófilos (LOOS et al., 2005). Essa interção entre a bactéria que foi

opsonizada e o receptor Fcy nas células inflamatórias, tem como consequência

a liberação e a sínteses de citocinas. Ligações ineficientes decorrentes de um

polimorfismo no gene FcyR poderá acarretar em aumento ou em inibição dos

eventos mediados pelo gene e consequentemente influenciar na

xxiii

suscetibilidade e severidade da doença inflamatória (VAN SORGE et al., 2003;

PROVENZANO, 2008; SIQUEIRA & JÚNIOR, 2009; SIQUEIRA et al., 2011).

O tabagismo também tem sido considerado como um modificador da

doença perirradicular principalmente por interferir no funcionamento do sistema

imunológico. Sabe-se que o hábito de fumar tabaco resulta em alteração na

quimiotaxia de neutrófilos, deficiência dos processos oxidativos, aumento da

inflamação e da produção de monócitos na região periférica. No entanto, os

monócitos encontram-se funcionalmente comprometidos, com a capacidade

fagocítica reduzida (KASPER et al., 2006; MORSANI et al., 2011; SIQUEIRA et

al., 2011).

2.3 Tabagismo

O tabagismo está associado com uma variedade de distúrbios humanos,

que vão desde o aumento da incidência de alergia e asma ao enfisema

pulmonar e ao carcinoma. O total de mortes devido ao uso do tabaco atingiu a

quantia de 4,9 milhões de mortes anuais, o que corresponde a mais de 10 mil

mortes por dia. Por essa razão, o tabagismo é considerado pela Organização

Mundial de Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável em todo o mundo

(BRUNETTI, 2004).

Enquanto nos países em desenvolvimento os fumantes constituem 48%

da população masculina e 7% da população feminina, nos países

desenvolvidos 42% dos homens e 24% das mulheres têm o hábito de fumar

(BRUNETTI, 2004).

xxiv

Foi verificado que a prevalência de fumantes é maior em indivíduos com

mais de 34 anos de idade quando comparada com grupos de indivíduos de

idade mais avançada, e que 30,9% são homens e 25,1% são mulheres, sendo

a maior prevalência de fumantes em homens da raça negra não-hispânicos.

Além disso, é possível verificar que adultos com baixa renda são os principais

fumantes ativos, sendo esse hábito inversamente proporcional ao nível de

educação (CARRANZA et al., 2012).

No Brasil, o IBGE e o Ministério da Saúde, através do INCA, da

Secretaria de Vigilância em Saúde e da Agência Nacional de Vigilância

Sanitária, constituíram parceria para realização da pesquisa nacional por

amostras em domicílios 2009 sobre o tabagismo. Esta pesquisa classificou os

fumantes de tabaco em três níveis: fumante corrente, fumante diário e fumante

ocasional. Foi verificado um maior percentual de fumantes de tabaco no Brasil

com idade entre 45 a 64 anos (22,7%), seguidas pelas faixas etárias de 25 a

44 anos (18,3%), 65 anos de idade ou mais (12,9%) e 15 a 24 anos (10,7%).

Os homens apresentam maior diferença entre os percentuais de

fumantes residentes em situação urbana ou rural. Os percentuais de fumantes

do gênero masculino em condições de moradia rural foi bem superior em todas

as regiões observadas (IBGE, 2009).

2.3.1 Composição química do cigarro de tabaco

xxv

Na combustão do tabaco são produzidas milhares de substâncias que

são transportadas pela fumaça até os pulmões. Cada um destes componentes

por si só pode apresentar diferentes efeitos sobre a resposta do hospedeiro,

principalmente sobre o sistema respiratório. Existem algumas substâncias que

são absorvidas para a corrente sanguínea atuando diretamente sobre os outros

sistemas do organismo (DINGEL et al., 2012).

As principais substâncias produzidas através da combustão do tabaco

são: a nicotina que contem efeitos psicoativos gerando dependência física e

câncer nos pulmões além de comprometer a resposta inflamatória e a

reparação tecidual, ao interferir na motilidade de neutrófilos e na adesão de

fibroblastos; a acroleína, fenóis, peróxido de nitrogênio, ácido cianídrico e

amoníaco, que são agentes irritantes capazes de alterar o mecanismo de

defesa do pulmão e a contração bronquial pela estimulação das glândulas

secretoras da mucosa; o monóxido de carbono, que é um gás com uma

elevada toxicidade e possui grande facilidade em se associar a hemoglobina,

diminuindo a capacidade de transporte de oxigênio; o níquel que é facilmente

armazenado no fígado, rins, coração, pulmões, ossos e dentes e pode resultar

em gangrena dos pés, causando danos ao miocárdio; o alcatrão que se

apresenta como uma substância tóxica que contribui para o surgimento de

neoplasias (SOUZA & FILHO, 2007).

BRIDGES et al. (1997) demonstraram que a fumaça de um único cigarro

de tabaco, em sua fase gasosa e a fracção solúvel em água, é um potente

inibidor da quimiotaxia de polimorfonucleares (PMN). Fora da solução aquosa,

a fração do cigarro e aldeídos insaturados (acroleína e crotonaldeído) foram o

maior contribuintes para as propriedades inibidoras dessa quimiotaxia. Os

xxvi

componentes não voláteis do cigarro também inibem esse fenômeno por um

mecanismo que difere da dos aldeídos insaturados presentes na fase de vapor

do fumo.

SOUZA & FILHO (2007) ressaltaram que a exposição ao tabaco pode

causar alterações no equilíbrio tecidual e sanguíneo resultando no acúmulo de

neutrófilos nos tecidos moles com simultânea alteração dos níveis e expressão

de selectinas. Essa exposição pode ocorrer de forma crônica ou aguda. Em

uma exposição crônica, podem ser observados baixos níveis de produtos do

tabaco na secreção salivar, no fluido gengival, no meio intracelular e na matriz

extracelular do próprio tecido periodontal. Estas concentrações reduzidas de

tabaco podem provocar alterações na resposta imunológica do hospedeiro. Na

exposição aguda as concentrações de produtos do tabaco se encontram

altamente elevadas alterando a função fagocítica e inibindo a cinética normal

de neutrófilos.

As altas concentrações podem apresentar diferentes efeitos sobre as

células e outros elementos da resposta do hospedeiro quando comparado com

níveis crônicos, pois permitem a liberação de substâncias inflamatórias tais

como o peróxido de hidrogênio e o superóxido, além de alterar as atividades de

enzimas proteolíticas (Figura 2). Além disso, a composição da fumaça do

tabaco é uma mistura complexa entre substâncias tóxicas (RYDER, 2000).

xxvii

2.3.2 Alterações sistêmicas causadas pelo tabagismo

Os agentes do cigarro de tabaco interferem com o funcionamento do

sistema imunológico e são potencialmente letais para o organismo. Tanto a

exposição ativa como a passiva ao cigarro aumentam o risco de infecções. O

mecanismo de aumento da susceptibilidade a infecções em fumantes é

multifatorial e inclui a alteração estrutural do hospedeiro e a defesa

Enzimas

Enzimas Enzimas

Fagocitose debilitada

Ação de polimerização debilitada

Figura 2: Alterações celulares da resposta inflamatório do hospedeiro durante o fumo do tabaco

(Fonte: RYDER, 2000).

H2SO4 NH3

CO

H2O2

C10H14N2

xxviii

imunológica. Porém, os mecanismos específicos pelos quais o tabagismo

aumenta o risco de infecções sistêmicas não são completamente

compreendidos (ARCAVI & BENOWITZ, 2004).

O pulmão humano é composto de pequenas estruturas, os alvéolos

pulmonares, responsáveis pelas trocas gasosas com o sangue. O fluxo de

sangue e a irrigação sanguínea entre o coração e o pulmão são intensos. A

fumaça do cigarro de tabaco prejudica diretamente o funcionamento da

circulação coração-pulmão. Com o passar do tempo os alvéolos pulmonares

vão sendo comprometidos pelos componentes da fumaça do tabaco, perdendo

a capacidade de realizar suas funções. O organismo então passa a ter menor

oxigenação dos tecidos, resultando em aumento de cansaço para o fumante de

tabaco (JÚRICA et al., 2011).

Estudos feitos por HIGASHIMOTO et al. (1992) e PESSIANA et al.

(1993) foram retomados em dois modelos de animais com macrófagos

alveolares de camundongos que foram expostos ao fumo de tabaco, com esse

procedimento, pode se observar que os animais apresentaram diminuições na

produção, tanto espontânea e induzida por lipopolissacarídeo (LPS) de fator de

necrose tumoral (TNFcx) que promove apoptose ou a diferenciação das

células-alvo. Além disso, KOYAMA et al. (1991) constataram, que a quimiotaxia

é outro mecanismo potencial para colaborar com aumento do número de

macrófagos no tecido bronco-alveolar limpo (LBA) de fumantes. Uma possível

explicação para este fato é facilitar a recarga de materiais particulados

derivados de fumo do tabaco.

xxix

WALLACE et al. em 1992 relataram que flúido bronco-alveolar limpo

(BALF) de tabagistas apresenta um aumento global da celularidade comparado

com o LBA de não tabagistas. Especificamente, o número de macrófagos é

elevado na LBA dos fumantes. Foi verificado, em modelos com animais que a

exposição aguda à fumaça do tabaco induz ao aumento no número de

macrófagos na LBA. Constatou-se que o aumento da celularidade do LBA

fumante de tabaco deixa de ocorrer quando o hábito de fumar cessa.

VAN EEDEN & HOGG em 2000, descobriram que os leucócitos

polimorfonucleares (PMNs) de tabagistas ao longo prazo têm alterações

fenotípicas, indicando a estimulação da medula óssea, tais como aumento na

contagem de níveis celulares , maiores níveis de L-selectina e maior conteúdo

de mieloperoxidase. Além disso, os autores sugeriram que os fatores pró-

inflamatórios libertados por macrófagos alveolares, tais como o fator de

necrose tumoral, Interleucina 1 e 8 ( IL- 1, IL-8), granulócitos e macrófagos,

também se encontram alterados em tabagistas.

Em fumantes de tabaco moderados (menos de 50 maços ao ano) foi

verificado um aumento significativo de células CD3 + e CD4 + e uma tendência

de aumento da contagem de linfócitos CD8 +, já nos casos de fumantes leves o

aumento da quantidade de células CD4 + em relação aos linfócitos CD8 +

ocorreu devido à uma alteração súbita no nível de células CD4 + que

perdurou elevado. No entanto, pacientes que permaneciam de dois a quatro

anos sem a presença do tabaco apresentaram uma diminuição desse CD4+,

ao contrário nos resultados desses usuários de tabaco de alta intensidade (+

50 maços ao ano), que demonstraram uma diminuição nas células CD4 + e

uma significativa contagens de células CD8 +. Assim, a redução observada nos

xxx

níveis de CD4+ para linfócitos CD8+ em muitos fumantes foi devido

principalmente a um aumento de CD8+. No entanto, esses efeitos parecem ser

reversíveis , assim como em 6 semanas após a cessação do tabagismo

(HUGHES et al., 1985).

2.3.3 Alterações orais causadas pelo tabagismo

O fumo de tabaco tem um grande efeito no organismo envolvendo

fatores microbiológicos, imunológicos e fisiológicos. As substâncias que

compões o cigarro são capazes de alterar a quimiotaxia dos neutrófilos, a

fagocitose e os processos oxidativos, aumentar a produção de colagenase e

elastase dos neutrófilos no fluído do sulco gengival, exarcebar a produção de

prostaglandinas (PGE2) pelos monócitos em resposta ao LPS, bem como,

estimular a vasoconstrisção gengival, aumento da inflamação e da produção de

TNF-alfa (CARRANZA, 2012).

A doença periodontal é uma doença inflamatória crônica que se

estabelece em resposta a micro-organismos. A resposta imune é essencial na

proteção contra infecções, porém pode levar à alterações destrutivas no tecido

do hospedeiro. Essa patologia é de natureza multifatorial, resultado de uma

interação complexa entre micro-organismos patogênicos e a defesa do

hospedeiro. Com o passar do tempo evidências científicas indicaram que

apesar de essenciais, os micro-organismos não eram suficientes para o

estabelecimento e a progressão da doença periodontal, cujo desenvolvimento

pode ser modificado por fatores locais (tabagismo), condições adquiridas

xxxi

(doenças sistêmicas) ou fatores genéticos. Dessa forma, esses fatores

modificadores podem alterar o curso da doença (BRUNETTI et al., 2007).

A análise dos dados coletados no estudo de GROSSI et al. (1994)

indicou que a idade, é o fator de risco mais significante para o

desenvolvimento de doença periodontal. No entanto, o tabagismo

tem um impacto significativo sobre o risco para o desenvolvimento da doença

periodontal e é constatado que as chances para o desenvolvimento dessa

patologia aumenta com a quantidade do uso de tabaco.

Em uma revisão de literatura BARBOUR et al. (1997) coletaram

informações existentes sobre o efeito do tabaco no organismo e puderam

constatar um grande risco desse hábito no desenvolvimento e agudização de

da periodontite.

A capacidade de produzir anticorpos contra patógenos periodontais é

muito comprometida em fumantes de tabaco. Ademais, existem relatos que

indicam que os neutrófilos de pacientes com periodontite refratária (90% delas

são fumantes) exibem diminuição da capacidade de aderir e combater

patógenos periodontais e os níveis de IgG presentes no soro são reduzidos

para o combate de Prevotella intermedia e Fusobacterium nucleatum (WOLFF

et al., 1994).

Segundo OMS os cânceres de boca e de orofaringe são considerados

os neoplasmas mais frequentes de cabeça e pescoço, com cerca de 390.000

novos casos por ano no mundo. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) previu

aproximadamente 13.410 casos de câncer bucal, sendo que 90% desses casos

poderiam ser atribuídos ao fumo. As lesões na mucosa oral se desenvolvem

xxxii

precocemente com o uso do tabaco e seu aparecimento e gravidade são

proporcionais a quantidade de cigarros/dia fumados e a duração do hábito

(MUSSKOPF & SUSIN, 2007).

A neoplasia mais comum na cavidade oral é o carcinoma epidermóide

responsável por cerca de 90% das neoplasia malignas mais frequentes nos

seres humanos. Tal neoplasia afeta na maior parte homens adultos acima de

40 anos e dentre os fatores de risco para o aparecimento desse lesão é o uso

indiscrimindado do tabaco (RIBEIRO et al., 2008).

Vários fatores podem interferir no processo de osseointegração de

implantes. Em um estudo feito em 2009, SOUZA et al. constataram que num

total de 70 implantes instalados em 12 pacientes fumantes 10 eram perdidos,

obtendo o resultado de 14,28% de perda de implantes. Concomitantemente,

relatarm que o maior motivo de perda de implantes era quando o paciente além

de tabagistas crônicos tivesse também, o hábito parafuncional de ranger os

dentes apresentando um total de 21,6% como maiores fatores de risco para o

insucesso desse procedimento.

2.4 Influência do tabagismo na evolução de lesões perirradiculares

WALTER et al. (2008) mostraram através de um relato de caso, que um

paciente com boa saúde oral, mas fumante de tabaco inveterado com consumo

de 20-30 cigarros por dia apresentava doença endodôntica com envolvimento

periodontal. Foi observado que mesmo com a realização da terapia

endodôntica seguida da periodontal, esse paciente apresentava maus

xxxiii

resultados de cicatrização devido principalmente ao uso do tabaco. Este hábito

resulta em alterações no metabolismo vascular, ósseo e conjutivo, sendo um

fator de risco potencial para doenças endodônticas e periodontais.

LOPÉZ-LOPÉZ et al. (2012), utilizando o método do Ìndice periapical

(PAI), desenvolveram um estudo retrospectivo avaliando a real correlação entre

o tabagismo e o desenvolvimento de lesões perirradiculares diagnosticadas

através de exames radiográficos. Os autores após o ajuste de idade e sexo e

avaliação do número de dentes, estado endodôntico e qualidade da obturação,

puderam concluir que o tabagismo esta correlacionado com a presença de

lesões perirradiculares diagnosticadas nas radiografias.

Em outro estudo BERGSTROM et al. (2004) investigaram a relação

entre o tabagismo e a periodontite perirradicular e observaram a correlação do

tabagismo com a prevalência ou gravidade dessas lesões. Neste estudo, foram

utilizados um total de 247 indivíduos sendo, 81 fumantes , 63 ex-fumantes e

103 não-fumantes de tabaco. A condição perirradicular foi expressa como o

número e a porcentagem de lesões radiologicamente detectáveis, além disto,

obtêve-se um índice de gravidade no total de prevalência de periodontite

apical de 52% e a prevalência geral de tratamento endodôntico de 58%. Não

houve influência significativa do tabagismo sobre a prevalência tanto de

periodontite apical ou tratamento endodôntico. Logo, os autores concluíram que

as presentes observações não corroboram com a suposição de que o

tabagismo pode está associado com periodontite apical.

KIRKEVANG & WENZEL (2003) avaliaram radiografias periapicas de

311 homens e 302 mulheres. No estudo foi utilizado o PAI e por motivos

xxxiv

inerentes a avaliação perirradicular, pacientes edêntulos foram excluído. Além

disso, algumas variáveis foram avaliadas, como nível - sócio econômico,

número de filhos, estatus social, sexo, idade, presença de hábito nocivo

(tabagismo), nível de higiene oral, acesso ao mercado de trabalho. Os autores

concluíram que, mesmo com todas essas variáveis presentes, o tabagismo foi

considerado um importante fator para o aparecimento de lesão perirradicular

em pacientes com diferenças de sexo, idade e condição econômica. No

entanto, ressaltaram a necessidade de mais estudos correlacionando este

hábito com o aparecimento das lesões, pois existem muitas variáveis a serem

observadas separadamente.

KRALL et al. (2006), investigaram em um estudo longitudinal o risco que

o hábito do fumo de tabaco poderia trazer no sucesso do tratamento

endodôntico. Para realizá-lo, dois especialistas em endodontia avaliaram 576

radiografias. A avaliação do tabagismo foi feita através de um questionário que

continham perguntas sobre: quantidade de cigarros consumidos, tipo de cigarro

utilizado, tempo de tabagismo e se utiliza outra fonte de fumo além do tabaco.

Os autores puderam concluir que, quanto maior o tempo e a quantidade

utilizada de tabaco pelo paciente maior as chances de afetar no elemento

dentário como um todo na região perirradicular com o aparecimento de lesões

e periodontal e cariosas comparado com pacientes que nunca fumaram.

xxxv

3. JUSTIFICATIVA

O tabagismo é um importante fator de risco para o surgimento de

patologias na cavidade bucal. Alguns estudos têm sugerido uma influência do

tabagismo na manifestação de lesões perirradiculares. Porém, nenhum destes

elucidou claramente o efeito específico do hábito na prevalência das lesões.

xxxvi

4. HIPÓTESE

O tabagismo pode ser considerado um modificador da doença, ou seja,

tal hábito mesmo não sendo a principal causa para o desenvolvimento de

lesões perriradiculares pode influenciar na prevalência das mesmas.

xxxvii

5. OBJETIVO

Avaliar a influência do tabagismo na prevalência de lesões perirradiculares.

xxxviii

6. MATERIAIS E MÉTODOS

6.1 Parecer Ètico

Este projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa

(CAAE: 38322414.0.0000.5284) da Universidade Estácio de Sá.

Todos os pacientes que participarem deste estudo continham em seu

prontuário o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que foi fornecido

pela Universidade Estácio de Sá assinado. Por este documento, o paciente

autoriza a realização de exames, diagnósticos, planejamentos e tratamentos,

permitindo que tais procedimentos sejam fotografados ou filmados com

finalidade de estudo e pesquisa, para contribuir com o desenvolvimento da

ciência.

6.2 Seleção da Amostra

Foram selecionadas 168 fichas clínicas de pacientes fumantes e não

fumantes. Foram excluídos pacientes que alegaram serem portadores de

diabetes mellitus e do HIV. Neste estudo foram utilizados os exames

radiográficos (panorâmica e/ou periapical completa) mais recentes de cada

paciente. Todos os exames de imagem foram efetuados em aparelhos

radiológicos da Universidade Estácio de Sá.

xxxix

As radiografias foram fotografadas com a câmera fotográfica digital Sony

Cyber-shot DSC-W50 (Mpegmovie VX, China). As imagens obtidas pela

câmera (Figuras 3 e 4) foram lançadas para o programa de computador

visualizador de fotos do windows 2007 (Microsoft Corporation, Redmond, WA,

USA) para a confecção de slides. Estes slides não continham o nome dos

pacientes, apenas foram numerados de 1 a 168.

Figura 3: Radiografia panorâmica de paciente fumante incluído no estudo.

xl

Figura 4: Radiografia panorâmica de paciente não fumante incluído no estudo.

6.3 Avaliação Radiográfica

As imagens foram inicialmente avaliadas em relção ao número de

dentes. Após esta etapa, foi realizada a análise por elemento dentário na qual

foram observados: a presença de lesão perirradicular; a presença de

tratamento endodôntico; a qualidade da obturação dos canais, quando

presente, a qualidade da restauração coronária, quando presente.

O método utilizado para avaliar a presença de lesão perirradicular foi o

critério para sucesso endodôntico PAI (ORSTAVIK et al., 1986; SEGURA

EGEA et al., 2005; LOPÉZ- LOPÉZ et al., 2012).

xli

As imagens radiográficas foram classificadas como (Figura 5):

1 - Aparência periapical normal;

2 - Pequenas mudanças em estruturas ósseas;

3 - Mudanças na estrutura óssea, com pequena perda de minerais;

4 – Periodontite com área radiolúcida bem visível;

5 - Forma avançada de periodontite com aparência axacerbada.

Por este critério de avaliação, foi julgado como ausência de lesão

perirradicular quando o contorno, a largura e a estrutura do ligamento

periodontal se apresentarem radiograficamente normais, e o contorno

periodontal estiver ampliado apenas ao redor da sobreobturação advinda do

canal radicular, devido a um encapsulamento fibrilar.

Figura 5: Avaliação das lesões perirradiculares através do critério para sucesso endodôntico do PAI (Fonte: Lopéz-Lopéz et al., 2012).

xlii

O tratamento endodôntico foi julgado adequado quando todos os canais

do mesmo elemento dentário estivessem obturados de forma homogênea, sem

espaços, e esta obturação estiver apenas de 0 a 2,0 mm aquém do ápice

radiográfico. Foram considerados adequados os casos de sobre-obturação do

canal, quando esta não ultrapassar 2,0 mm de comprimento. A restauração

coronária foi julgada adequada quando se apresentar radiograficamente

intacta. Em casos de dentes multirradiculares, foi considerada no estudo a raiz

com a pior classificação, ou seja, a pior situação patológica.

Todos os itens foram verificados por dois avaliadores especialistas em

Endodontia, separadamente. Ao final da avaliação foi utilizado o coeficiente de

Kappa (к), para análise da concordância entre os julgadores, onde к>0,80

significa boa concordância, 0,61≤к≤0,80 concordância substancial e

0,41≤к≤0,60 concordância moderada (PETRIE & WATSON, 2006). Houve

concordância moderada entre os avaliadores em dois parâmetros (presença de

lesão perirradicular: к =0,55; qualidade da obturação: к=0,57), sendo

necessária a avaliação de um terceiro endodontista mais experiente.

Também foi formado um grupo controle de pacientes não-fumantes.

Estes indivíduos foram pareados por sexo e idade (permitindo até dois anos a

mais ou a menos) aos pacientes fumantes. O grupo controle também tiveram

suas radiografias fotografadas e avaliadas pelos mesmos julgadores do grupo

de estudo, e seus dados transferidos para fichas similares a dos pacientes

fumantes.

xliii

6.4 Análise Estatística

Os dados foram analisados no Statistical Program for Social Sciences

(SPSS, versão 20) e as diferenças foram consideradas estatisticamente

significadtivas quando p<0,05.

xliv

7. RESULTADOS

O grupo de estudo foi constituído por 84 pacientes fumantes, dentre os

quais 46 do sexo feminino e 38 do sexo masculino. Os indivíduos

apresentavam idade mínima de 19 e máxima de 60 anos. O grupo controle foi

constituído por 84 pacientes não fumantes pareados em sexo e idade aos

indivíduos do grupo de estudo, tendo como a idade mínima de 19 e a máxima

de 60. Não houve diferença estatisticamente significativa entre estes dados

(Tabela 1).

Tabela 1: Idade dos pacientes.

Grupo Idade P

Fumantes

44,9 ± 10,8

0,05

Não Fumantes

44,7 ± 10,8

Valores expressos em média ± desvio padrão. Wilcoxon test (p<0,05).

Foram avaliados radiograficamente 1.984 dentes do grupo de fumantes.

A média do número de dentes por paciente foi de 23,6 ± 6,7, variando entre 4 e

32 dentes. No grupo de não fumantes foram avaliados radiograficamente 2.103

dentes. A média do número de dentes porpaciente foi de 24,5 ± 6,7, variando

xlv

entre 4 e 32 dentes. Não houve diferença estatisticamente significativa entre

estes dados (teste Wilcoxon, p=0,28).

No grupo de fumantes, 82% dos pacientes apresentavam dentes

associados à lesão perirradicular, variando entre 1 e 9 dentes com lesões por

indivíduo. No total, foram identificados 236 dentes associados a estas lesões.

No grupo de não fumantes, 79% dos pacientes apresentavam dentes

associados à lesão perirradicular, variando entre 1 e 9 dentes com lesões por

indivíduo. No total, foram identificados 212 dentes associados a estas lesões.

Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os

grupos (Tabela 2).

Tabela 2: Número de dentes associados a lesões perirradiculares por paciente.

Grupo Número de dentes p

Fumantes

2,8 ± 2,4

0,38

Não Fumantes

2,5 ± 2,3

Valores expressos em média ± desvio padrão. Wilcoxon test (p<0,05).

xlvi

Em pacientes fumantes, 51,2% apresentavam dentes com tratamento

endodôntico realizado, variando entre 1 e 7 dentes, totalizando 127 elementos

dentários. Em não fumantes, 78,6% apresentavam dentes com tratamento

endodôntico realizado, variando entre 1 e 9 dentes, totalizando 91 elementos

dentários. Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas

entre os grupos (Tabela 3).

Tabela 3: Número de dentes tratados endodonticamente por paciente.

Grupo Número de dentes p

Fumantes

1,5 ± 1,9

0,1

Não Fumantes

1,1 ± 1,7

Valores expressos em média ± desvio padrão. Wilcoxon test (p<0,05).

Nos fumantes, 59 dos dentes tratados endodonticamente estavam

associados à lesão perirradicular, sendo que 35 destes apresentavam

obturação do canal satisfatória e 19 apresentavam obturação do canal e

restauração dentária satisfatórias. Nos indivíduos não fumantes, 60 dos dentes

tratados endodonticamente estavam associados à lesão perirradicular sendo

que 23 destes apresentavam obturação do canal satisfatória e 22

apresentavam obturação do canal e restauração dentária satisfatórias. Não

xlvii

foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos

(Tabelas 4-6).

Tabela 4: Número de dentes tratados endodonticamente associados a lesões

perirradiculares por paciente.

Grupo Número de dentes p

Fumantes

0,7 ± 1,1

0,8

Não Fumantes

0,7 ± 1,1

Valores expressos em média ± desvio padrão. Wilcoxon test (p<0,05).

Tabela 5: Número de dentes com tratamento endodôntico satisfatório associados a

lesões perirradiculares por paciente.

Grupo Número de dentes p

Fumantes

0,4 ± 0,9

0,5

Não Fumantes

0,2 ± 0,5

Valores expressos em média ± desvio padrão. Wilcoxon test (p<0,05).

xlviii

Tabela 6: Número de dentes com tratamento endodôntico e restauração dentária

satisfatórios associados a lesões perirradiculares por paciente.

Grupo Número de dentes p

Fumantes

0,2 ± 0,5

0,7

Não Fumantes

0,2 ± 0,6

Valores expressos em média ± desvio padrão. Wilcoxon test (p<0,05).

xlix

8. DISCUSSÃO

Fatores que afetam a resposta inflamatória, como o hábito de fumar,

podem indiretamente influenciar no risco a infecções e, consequentemente

aumentar a prevalência de doenças perirradiculares. Porém, o presente estudo

não observou a influencia do tabagismo em lesões perirradiculares. Estes

resultados corroboram com BERGSTROM et al. (2004) e MARENDING et al.

(2005) mas discordam da maioria dos estudos da literatura

(ALEKSEJUNIENE et al. 2000, KIRKEVANG & WENZEL, 2003; FRISK &

HAKEBERG, 2006; KRALL et al., 2006; SEGURA-EGEA et al., 2008;

SEGURA-EGEA et al., 2011; LOPEZ-LOPEZ et al., 2012).

WALTER et al. (2012) realizaram uma revisão sistemática de nove

estudos relacionando o uso do tabaco e a patologia perirradicular. Os trabalhos

diferiram em relação ao desenho do estudo, as técnicas radiográficas, a

avaliação da patologia perirradicular e/ou a classificação das características do

hábito de fumar, o que representou potenciais fatores de confusão para as

análises. A grande heterogeneidade dos estudos incluídos limita a

interpretação dos mesmos. De acordo com os autores, novos estudos com

metodologias melhores estabelecidas são necessários para investigar a

associação entre o uso do tabaco e a patologia perirradicular.

Na tentativa de estabelecer uma metodologia mais adequada para a

avaliação dos efeitos do tabagismo na prevalência de lesões perirradiculares

l

optamos por realizar um estudo transversal de análise radiográfica em

indivíduos fumantes e não fumantes pareados por idade e sexo.

DUNCAN & PITT FORD (2006) analisaram a literatura para avaliar a

associação entre tabagismo e doença perirradicular e verificaram que a maioria

dos estudos realizados é transversal. Os autores encontraram evidências

conflitantes que possivelmente resultaram deste tipo de desenho de estudo.

Segundo LÓPEZ – LÓPEZ et al. (2012) estudos transversais não são capazes

de controlar fatores externos influenciadores do aparecimento ou da

perpetuação da lesão perirradicular. Apesar das limitações citadas, realizamos

um estudo transversal como o intuito de avaliar um número maior de pacientes

(168 pacientes, sendo 84 fumantes e 84 não fumante), descrever os aspectos

radiográficos destes indivíduos e identificar os riscos do tabagismo assim como

ALEKSEJUNIENE et al. (2000), KIRKEVANG & WENZEL (2003),

BERGSTRÖM et al. (2004), FRISK & HAKEBERG (2006), SEGURA-EGEA et

al., 2008; SEGURA-EGEA et al., 2011 e RODRIGUEZ et al. (2013).

MARENDING et al. (2005), KRALL et al. ( 2006) e KIRKEVANG et al.

(2007) realizaram estudos longitudinais. Apenas um estudo (KRALL et al.,

2006) indicou um risco aumentado para lesão perirradicular em dentes com

tratamento endodôntico de fumantes.

No presente estudo foi realizado pareamento de sexo e idade entre os

gupos fumante e não fumante. Por esta razão, não foram observadas

diferenças significativas entre estes parâmetros assim como LOPEZ-LOPEZ et

al. (2012). Verificamos que 57% dos pacientes fumantes apresentavam idade

entre 45 e 60 anos corroborando com os dados do IBGE (2009), o maior

percentual de fumantes no Brasil encontra-se nesta faixa etária. Do número

li

total de 168 indivíduos, 92 casos pertenciam ao gênero feminino e 76 do

gênero masculino. De acordo com RODRIGUEZ et al. (2013) um número

maior de pacientes do sexo feminino reflete o fato das mulheres cuidarem mais

frequentemente da saúde e aparência do que os homens.

A radiografia periapical foi utilizada para avaliar a presença de lesões

perirradiculares. Estudos prévios também usaram essas radiografias

(KIRKEVANG & WENZEL, 2003; KRALL et al., 2006; SEGURA-EGEA et al.,

2008; LOPEZ-LOPEZ et al., 2012). Os estudos de ALEKSEJUNIENE et al.

(2000) e FRISK & HAKEBERG (2006) utilizaram radiografias panorâmicas

apesar das evidências indicarem acurácia superior na detecção de patologias

periodontais e/ou endodônticas em radiografias periapicais quando

comparadas as panorâmicas (WALTER et al., 2012).

As radiografias selecionadas foram utilizadas para a avaliação do status

perirradicular através do PAI assim como estudos anteriores (KIRKEVANG &

WENZEL 2003, SEGURA- EGEA et al., 2008, LÓPEZ – LÓPEZ et al. 2012).

Além disso, similarmente aos estudos transversais citados, utilizamos a

calibração dos endodontistas envolvidos no trabalho para uma maior precisão

na avalição radiográfica. Apesar do PAI ser validado e bem aceito na

comunidade endodôntica (ORSTAVIK et al., 1986), os estudos de

BERGSTROM et al. (2004), FRISK & HAKEBERG (2006) e KRALL et al. (2006)

não o utilizaram, dificultando assim a comparação dos resultados.

Tanto neste estudo como nos realizados por KIRKEVANG & WENZEL

(2003) e SEGURA- EGEA et al. (2008) a condição perirradicular apenas foi

avaliada por métodos radiográficos, não ocorrendo exames clínicos dos

pacientes envolvidos. Sabe-se que apenas realizar a avaliação radiográfica

lii

não é o ideal, pois impede a detecção de alguns sinais como por exemplo os

existentes na inflamação (DUNCAN & PITT FORD, 2006).

Durante a avaliação dentária, houve exclusão de pacientes edêntulos e

pacientes com apenas um elemento dentário semelhante aos estudos de

KIRKEVANG & WENZEL (2003), BERGSTROM et al. (2004) e SEGURA-

EGEA et al. (2008).

O presente estudo foi o único a excluir da amostra pacientes portadores

de outras condições modificadoras da doença perirradicular como o diabetes

mellitus e o HIV. KIRKEVANG & WENZEL (2003), MARENDING et al. (2005) e

RODRIGUEZ et al. (2013) não excluíram pacientes com alteração sistêmica e

SEGURA-EGEA et al. (2011) observaram a influência do tabagismo em

pacientes hipertensos. Acredita-se que a existência de diferentes fatores de

risco para a doença perirradicular impede que a influencia do tabagismo seja

adequadamente determinada.

A grande heterogeneidade dos estudos dificultou a comparação dos

mesmos. Foi possível observar que alguns trabalhos incluiram um número

relativamente pequeno de indivíduos (MARENDING et al., 2005) ou foram

realizadas em subgrupos de uma população, por exemplo, em homens (KRALL

et al., 2006) ou mulheres (FRISK & HAKEBERG, 2006 ) ou de acordo com a

profissão, por exemplo, veteranos (KRALL et al., 2006) ou músicos , ou de

acordo com estado de saúde, por exemplo, doentes hipertensos (SEGURA-

EGEA et al., 2011).

O presente estudo não examinou uma amostra aleatória de uma

população geral, e sim uma subpopulação de que podem diferir a partir da

liii

população geral. Todos os pacientes incluídos encontram-se em atendimento

nas clínicas odontológicas da Universidade Estácio de Sá e apresentam níveis

sócio-economicos semelhantes. É difícil controlar fatores de confusão em

estudos transversais particularmente quando qualquer influência sobre a

periodontite apical é provável ser multifatorial. Fatores de confusão como a

cárie, classe sócio-econômica e regularidade de atendimento odontológico são

susceptíveis a um melhor controle na subpopulação do que na população em

geral e isto pode ser responsável pela diferentes resultados entre os estudos.

No entanto, devido à escassez de literatura sobre o assunto todos os

resultados foram comparados.

Os efeitos deletérios do uso do tabaco dependem do número de cigarros

consumidos, bem como a intensidade e duração do hábito de fumar (WALTER

et al., 2012). No presente estudo estas informações não foram verificadas. É

possível que os indivíduos incluidos no grupo dos fumantes apresentem o

consumo, intensidade e duração do hábito reduzidos.

No presente estudo não houve diferença significativa em relação ao

número de dentes de pacientes fumantes e não fumantes assim como

SEGURA-EGEA et al. (2008). Estudos da população em geral tem

demonstrado que quanto maior o tempo de consumo de cigarros maior é a

perda de dentes. Devido aos efeitos cumulativos do tabagismo, o risco de

perda dentária é maior em pacientes idosos (DUNCAN & PITT FORD, 2006).

Apenas 15,5% dos paciente fumantes apresentavam idade elevada (56-60

anos) o que possivelmente influenciou os nossos resultados em relação ao

número de dentes.

liv

9. CONCLUSÂO

Apesar da maioria achados da literatura sugerirem uma influência do

tabagismo na manifestação de doenças perirradiculares, os resultados do

presente estudo não demonstraram diferenças estatisticamente significativas

na prevalência de lesões perirradiculares entre fumantes e não fumantes.

Acredita-se que novas pesquisas devem ser realizadas para o melhor

esclarecimento do efeito específico deste hábito na evolução de lesões

perirradiculares.

lv

10. REFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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