Primeiros Socorros a Crianças - portoeditora.pt · —Se acima de 42 oC (hiperpirexia), então...

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Primeiros Socorros a Crianças

Miguel Félix

Pediatra

Primeiros socorros - definição

“procedimentos de emergência que visam manter as funções vitais e evitar o agravamento de uma pessoa ferida, inconsciente ou em perigo de vida, até que ela receba assistência qualificada.”

…e na doença sem perda de consciência ou perigo de vida imediato (p. ex. febre)?

Conteúdo

• A criança com febre

• Algumas considerações sobre evicção escolar

• A criança com convulsões

• A criança sufocada

• Princípios de Suporte Básico de Vida Pediátrico

Conteúdo

• A criança com febre

• Algumas considerações sobre evicção escolar

• A criança com convulsões

• A criança sufocada

• Princípios de Suporte Básico de Vida Pediátrico

A criança com febre

• Dúvidas, conceitos incorretos

• Preocupações, receios

• Desinformação frequente

• Esclarecer significado

• Clarificar mitos

• Sugerir atitudes

Febre - definição

• Aumento “anormal” da temperatura corporal

• Classicamente > 37 oC, mas na prática aumento mantido

> 37,8 oC ou 38 oC

• Resposta normal a infeções (vírus ou bactérias),

inflamação, trauma, cirurgia…

Interleucina 1

e outras…

Mitos

• A febre é perigosa

— A febre por si não é perigosa

— Pode ser desconfortável

— É útil como defesa do organismo (ajuda a combater

a infeção)

— Em algumas crianças pode causar convulsões

— Se acima de 42 oC (hiperpirexia), então pode ser

perigosa

Mitos

• Quanto mais elevada pior a situação

— Doenças banais dão febre alta

— Doenças muito graves podem nem dar febre

— Crianças que têm sempre infeções sem febre são

preocupantes – imunodeficiência?

— As convulsões febris dependem mais da rapidez da

subida que da temperatura que se atinge

Mitos

• Deve baixar-se a febre a todo o custo

— Enquanto a temperatura está a subir (sensação de

frio) não arrefecer a criança; deixar agasalhar-se

— Não dar banhos frios ou tépidos! – aumenta o

arrepio e desconforto

— Apenas usar medicamento se desconfortável ou se

> 38,5 oC

Mitos

• Febre significa infeção e necessidade de antibiótico

— As infeções que necessitam de antibiótico são uma pequena parte das causas de febre

— A grande maioria são causadas por vírus e os antibióticos são ineficazes

— Dar antibiótico sem um diagnóstico da causa pode trazer problemas graves

Como distinguir?• Tranquilizar

— Febre cede com medicação

— Criança melhora disposição quando temperatura baixa

— Sem outros sinais anormais (vómitos, manchas na pele, prostração…)

• Preocupar

—Febre que não cede

—Criança não melhora disposição quando temperatura baixa

—Vómitos, prostração, manchas na pele que surgem precocemente…

Causas?

• Ver outros sinais e sintomas associados

— Tosse, obstrução nasal, rinorreia

— Vómitos, diarreia, dor abdominal

— Dor de cabeça, prostração que não melhora com a descida de temperatura, vómitos que não param

— Manchas na pele

Septicémia - petéquias

Exantema vírico (benigno)

O que fazer?

• Verificar se há outros sinais de alarme

• Deixar a criança como estiver mais confortável

• Não dar banho

• Usar antipirético se > 38,5 oC ou se manifestar

desconforto evidente

• Contactar família

— [Consultar médico ou Linha Saúde 24]

Antipiréticos

• Paracetamol

— 10 a 15 mg/kg/dose

— Via oral (retal se vómitos ou se recusa)

— Intervalos mínimos de 4 h

• Ibuprofeno

— 5 mg/kg/dose

— Via oral

— Intervalos mínimos de 8 h

Conteúdo

• A criança com febre

• Algumas considerações sobre evicção escolar

• A criança com convulsões

• A criança sufocada

• Princípios de Suporte Básico de Vida Pediátrico

Evicção escolar

• “afastamento legal dos alunos de uma creche, jardim de infância ou escola (CJIE) por motivo de doença infetocontagiosa (DIC), sem dar lugar a faltas”.

• “exclusão ou afastamento temporário de forma a evitar ou minimizar os contágios das DIC”.

Evicção escolar

• A larga maioria das infeções contraídas pelas crianças são doenças infeciosas agudas e benignas (DIAB), autolimitadas e que cursam com sintomas que não justificam a exclusão das crianças de locais públicos, por razões de saúde, tanto para as mesmas como para os conviventes.

• Só as doenças infeciosas potencialmente graves justificam a evicção sistemática

Evicção escolar

• Porque não é eficaz?

• Os contágios de muitos dos agentes infeciosos:

— Precedem 1 a 3 dias o início dos sinais e sintomas

— Prolongam-se por vários dias a semanas para além da resolução dos sinais e/ou sintomas

— Provêm também dos conviventes assintomáticos que ficam transitoriamente portadores-sãos.

Indicações para evicção

• A – Doenças que, na interpretação do profissional de educação, impeçam a participação confortável da criança nas atividades do grupo.

• B – Doenças que exigem mais cuidados para a criança doente do que o staff da instituição pode proporcionar, com risco de comprometer a saúde e segurança das restantes crianças.

• C – Doenças com risco acrescido de contágio e de consequente doença às restantes crianças (as que constam em Decreto-Lei).

• D – Presença de sinais e/ou sintomas cuja intensidade ou potencial gravidade exijam cuidados médicos e/ou vigilância apertada.

Custos da evicção escolar

• Já na década de 80, mais de 40% do absentismo parental devia-se às DIAB dos filhos;

• O absentismo parental representou o principal componente do total dos custos com a evicção das crianças das CJIE;

• Muitos pais têm dificuldades laborais devido às DIAB dos filhos, com repercussões na carreira profissional e/ou académica; muitos não têm nem possibilidade nem disponibilidade para recorrer ao médico sempre que os filhos adoecem.

E na dúvida...

• Se os pais e os profissionais de educação das CJIE discordarem nas razões para a exclusão, e estas assentarem ou nas capacidades da criança para participar ou na disponibilidade desses profissionais em assegurar as atividades educativas às restantes crianças, os profissionais de educação são soberanos na sua decisão.

• Se as razões forem o suposto risco de contágio, deve ser seguida a legislação em vigor

Normas internas

• Os Regulamentos Internos das instituições de educação, ensino ou de lazer podem ser criados sem o contributo de um profissional de saúde.

• No entanto, as suas Normas não poderão violar outras normas de hierarquia superior.

• São ilegais as Normas ou Regulamentos Internos que contrariem Decreto Regulamentar n.º 3/95, de 27 de Janeiro de 1995 – ex. Molusco contagioso (piscinas)

1. Salgado NS, Salgado M. Parecer jurídico sobre evicção das creches, jardins-de-infância,

escolas e piscinas colectivas por virtude de doenças infetocontagiosas. Saúde Infantil

2012;34(2): (aguarda publicação).

Então, como decidir?

• As necessidades das crianças doentes (de bem-estar e conforto)

• Doenças graves com risco acrescido de contágio às restantes crianças;

• As capacidades das instituições em assegurar os cuidados suficientes à criança doente sem comprometer a segurança das outras crianças;

• As necessidades profissionais e sociais dos pais;

• Os eventuais benefícios e os prejuízos sociais da evicção.

Conteúdo

• A criança com febre

• Algumas considerações sobre evicção escolar

• A criança com convulsões

• A criança sufocada

• Princípios de Suporte Básico de Vida Pediátrico

Convulsões - definição

• Alterações neurológicas súbitas e transitórias que se manifestam como atividade muscular involuntária, alterações sensoriais ou alterações do estado de consciência, ou como uma combinação destas.

• Podem ser primárias (epilepsia), secundárias a outra doença (meningite, intoxicação, trauma) ou febris (provavelmente relacionadas com a subida térmica)

Convulsões

• Nem sempre típicas ou fáceis de reconhecer

— Ausências

— Convulsões atónicas

— Convulsões no sono, mioclonias

• Aparatosas, assustadoras

• Podem ser demoradas, criança pode magoar-se

• Associadamente pode haver vómitos, aspiração, perda de controlo de esfíncteres

O que fazer?

• Calma!

• Pedir ajuda

• Proteger a criança

— Afastar móveis e objetos onde se possa magoar (p. ex. óculos)

— Deitar ou apoiar de lado

— Não imobilizar!

— NÃO introduzir nada na boca

— Se vomitar, desobstruir a boca

O que fazer?

• Se criança com medicação de emergência, administrar

• Chamar serviços emergência médica e contactar família

• Aguardar vigiando respiração e estado de consciência

• Após parar convulsão, é habitual haver prostração importante, sonolência, por vezes diminuição dos movimentos de um membro

Convulsão febril

• Benignas, autolimitadas

• Podem no entanto ser aparatosas e por vezes demoradas

• Geralmente surgem na subida de temperatura, quando esta é mais rápida

• Proceder como antes, desagasalhar a criança e quando possível dar antipirético

Conteúdo

• A criança com febre

• Algumas considerações sobre evicção escolar

• A criança com convulsões

• A criança sufocada

• Princípios de Suporte Básico de Vida Pediátrico

Sufocação

• Obstrução da via aérea por corpo estranho, ocorre em todas as idades, mas mais abaixo dos 5 anos

• Situação que ocorre quando um objeto (pedaço de alimento, brinquedo, fruto seco, etc.) causa obstrução, total ou parcial, da via aérea

• Se a obstrução for total ou quase total e não for resolvida rapidamente, pode levar a paragem respiratória, paragem cardíaca e morte

Sufocação

• Quando ocorre, a resposta natural imediata é a tosse, geralmente vigorosa e que quase sempre resulta na saída do corpo estranho

• Diagnóstico é fácil quando se assiste ao episódio, mas deve suspeitar-se se uma criança que está bem fica muito subitamente com grande dificuldade respiratória e tosse

• A intervenção imediata e decidida pode salvar vidas!

Atitude, criança consciente

• CHAMAR AJUDA!

• Nenhuma manobra é mais eficaz que uma tosse enérgica; se a criança está consciente e tem tosse enérgica, apenas se deve apoiar, encorajar a tossir e aguardar que o corpo estranho saia

• Se a criança começa a ter tosse pouco eficaz…

Atitude, criança consciente

• Tosse pouco eficaz:

— Não se ouve bem, tom abafado, cansada, não chora ou vocaliza, fica cianosada ou menos consciente.

• Então:

— Pancadas nas costas alternando com compressões torácicas (crianças com menos de um ano)

— Pancadas nas costas alternando com compressões no abdómen / Heimlich (crianças maiores)

Atitude, criança consciente

5 pancadas nas costas

5 compressões tórax

Atitude, criança consciente

5 compressões abdómen

(Manobra Heimlich)

Alternando com 5 pancadas

nas costas

Conteúdo

• A criança com febre

• Algumas considerações sobre evicção escolar

• A criança com convulsões

• A criança sufocada

• Princípios de Suporte Básico de Vida Pediátrico

Cadeia de Sobrevivência

Suporte básico de vida

Conjunto de atitudes que, realizadas numa sequência correta e de forma adequada,

permitem ganhar tempo, substituindo parcialmente a respiração e a circulação numa vítima de paragem cardíaca e/ou respiratória,

até à chegada de ajuda diferenciada

Segurança

“Estás bem”?

Gritar por ajuda

Abertura das vias aéreas

Ver, Ouvir, Sentir

5 insuflações

Verificar sinais de circulação

15 compressões

2 ventilações

Chamar

S. Emergência - 112

RCP 1 min

Suporte básico de vida• Segurança

— Garantir condições de segurança para:

• Reanimador

• Vítima

— Riscos

• Veículos em movimento (via pública)

• Eletricidade, gás, incêndios, fumos

• Riscos biológicos (sangue, secreções)

Suporte básico de vida“Estás bem?”

Suporte básico de vida• Se criança não reage:

— Chamar ajuda que estiver mais próxima (gritar)

— Pedir para contactar emergência e dizer o que se passa

Suporte básico de vida• Abertura das vias aéreas – pode ser o suficiente

para recuperar…

Lactente Criança

Suporte básico de vida• Verificar se resultou – VER, OUVIR e SENTIR

Máximo 10 segundos!

Suporte básico de vida• Se não respira – 5 insuflações

Boca a boca e nariz Boca a boca

Suporte básico de vida• Procurar sinais de circulação (sinais de vida)

Máximo 10 segundos!

• Qualquer indício de atividade

— Respiração normal

— Tosse

— Gemido

— Movimento

— Choro…

Suporte básico de vida• Se não há sinais de vida – compressões torácicas

• Na metade inferior do esterno

• Profundidade 1/3 diâmetro anteroposterior do tórax

• Frequência 100/minuto

• Portanto:

— Comprimir Rápido e com Força!!

Suporte básico de vida• Alternar 15 compressões com 2 ventilações (pode fazer-se 30:2,

como no adulto, se necessário)

• Só parar quando chegar ajuda, quando a criança der sinais de vida ou se exaustos

• Após 1 minuto, confirmar que 112 foi alertado; se não, fazê-lo nessa altura

Suporte básico de vida• A pior atitude é não fazer nada, por receio de

fazer mal

• A probabilidade de sobreviver reduz-se 10% a cada minuto em que não se faz SBV

• Qualquer SBV é melhor que nenhum SBV!!