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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS PRINCÍPIOS DA CICATRIZAÇÃO ÓSSEA (Revisão de literatura) Késia Sousa Santos Orientador (a): Neusa Margarida Paulo Goiânia 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS

PRINCÍPIOS DA CICATRIZAÇÃO ÓSSEA

(Revisão de literatura)

Késia Sousa Santos Orientador (a): Neusa Margarida Paulo

Goiânia 2011

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II

KÉSIA SOUSA SANTOS

PRINCÍPIOS DA CICATRIZAÇÃO ÓSSEA

(Revisão de literatura)

Seminário apresentado junto à Disciplina

Seminários Aplicados do Programa de Pós-

Graduação em Ciência Animal da Escola de

Veterinária e Zootecnia da Universidade

Federal de Goiás.

Nível: Mestrado

Área de Concentração:

Patologia, Clínica e Cirurgia Animal

Linha de Pesquisa:

Técnicas Cirúrgicas e Anestésicas, Patologia Clínica

Cirúrgica e Cirurgia Experimental

Orientador (a):

Profª. Drª. Neusa Margarida Paulo EVZ/UFG

Comitê de Orientação:

Profª. Drª. Liliana Borges de Menezes IPTSP/UFG

Prof. Dr. Adilson Donizeti Damasceno EVZ/UFG

Goiânia

2011

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III

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................... 1

2 REVISÃO DE LITERATURA.......................................................... 4

2.1 O tecido ósseo ........................................................................... 4

2.1.1 Composição química do osso ................................................... 4

2.1.2 Anatomia óssea ........................................................................ 4

2.1.3 Vascularização óssea ............................................................... 6

2.1.4 Histologia óssea ....................................................................... 7

2.1.5 Células do tecido ósseo ........................................................... 8

2.2 Cicatrização óssea .................................................................. 10

2.2.1 Consolidação indireta da fratura ............................................. 10

2.2.1.1 A resposta inflamatória aguda ............................................. 11

2.2.1.2 O papel da superfamília do fator de crescimento

transformador beta (TGF-β) na cicatrização da fratura ................... 13

2.2.1.3 Recrutamento de células tronco mesenquimais (MSCs) ..... 16

2.2.1.4 A formação de um calo ósseo cartilaginoso e periosteal ..... 17

2.2.1.5 Revascularização e neoangiogênese no local a fratura ...... 18

2.2.1.6. Mineralização e reabsorção do calo cartilaginoso .............. 21

2.2.1.7 Remodelação óssea ............................................................ 22

2.2.2 Consolidação direta da fratura ................................................ 24

2.2.2.1 Cicatrização por contato ...................................................... 24

2.2.2.2 Cicatrização por lacunas ..................................................... 25

2.2.3 Distração osteogênica ............................................................ 26

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................... 28

REFERÊNCIAS ............................................................................... 29

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IV

LISTAS DE FIGURAS

Figura 1 Estrutura anatômica de um osso longo evidenciando a diáfise ao

longo do eixo médio do osso; enquanto a epífise, uma área mais

larga em cada uma das extremidades ósseas; a metáfise, ponto

de encontro entre a epífise e a diáfise, e periósteo uma camada

fibrosa que recobre a superfície externa do osso que não é

recoberto por cartilagem articular e o endósteo uma camada

fibrosa que reveste as cavidades internas dos

ossos............................................................................................5

Figura 2 Suprimento sanguíneo para: A - osso normal. B - osso imaturo.

C - osso fraturado (suprimento sanguíneo extra ósseo) e D -

osso em cicatrização....................................................................7

Figura 3 Fotomicrografia demonstrando os componentes do Sistema

Haversiano...................................................................................8

Figura 4 Tipos de células ósseas...............................................................9

Figura 5 As etapas de reparo da fratura...................................................11

Figura 6 Esquema simplificado do processo de remodelação

óssea..........................................................................................23

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V

LISTA DE ABREVIATURAS

BMPs Proteínas ósseas morfogenéticas

GDFs Fator de crescimento e diferenciação

IL Interleucinas

MCSF Fator estimulante de colônias de macrófagos

MSCs Células tronco mesenquimais

OPG Osteoprotegerina

PDGF Fator de crescimento derivado de plaquetas

RANKL Receptor ativador do núcleo do fator Kappa B ligante

SDF-1 Fator – 1 de células derivadas do estroma

TGF-β Fator de crescimento transformador beta

TNF-α Fator de necrose tumoral alfa

VEGF Fator de crescimento vascular endotelial

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1 INTRODUÇÃO

A cicatrização óssea é um processo biológico complexo que segue

padrões específicos de regeneração e envolve alterações na expressão de

milhares de genes. Embora haja muitos estudos para se compreender

totalmente o processo de regeneração óssea, sobretudo os eventos

anatômicos e bioquímicos ainda vêm sendo estudados de forma mais

detalhada. Estes estudos têm proporcionado uma compreensão geral de como

ocorre a consolidação da fratura (MARSELL & EINHORN, 2011).

O osso tem capacidade para reparação e regeneração em reposta a

uma lesão ou tratamento cirúrgico. Ambos os processos envolvem uma

complexa integração de células, fatores de crescimento e matriz extracelular. O

processo de reparação consiste em restaurar a continuidade dos tecidos

lesados, sem necessariamente aumentar o volume ósseo. Já a regeneração é

um processo que envolve a diferenciação de novas células e a formação de um

novo tecido ósseo que resulta em um aumento do volume total de novos

tecidos esqueléticos (AL-AQL et al., 2008). O processo de regeneração óssea

pode ocorrer também por meio do uso de procedimentos cirúrgicos como a

distração osteogênica (TAY et al., 1998).

A consolidação de uma fratura é um processo que envolve uma

sequência de etapas que são iniciadas em reposta a uma lesão, resultando

eventualmente no reparo e restauração da função (AL-AQL et al., 2008).

Os processos biológicos são controlados por mecanismos

moleculares complexos que envolvem fatores locais e sistêmicos, que

interagem com muitos tipos de células, recrutados para a lesão acidental ou

cirúrgica dos tecidos adjacentes e para a circulação (AL-AQL et al., 2008).

A consolidação do osso pode ocorrer de uma forma direta ou

indireta, que consiste tanto na formação óssea intramembranosa ou

endocondral. O processo de cicatrização indireta é mais comum, uma vez que

a cicatrização direta requer redução anatômica e uma estabilização do foco de

fratura, que na maioria das vezes é obtida por redução aberta e fixação interna.

No entanto, quando tais condições são alcançadas, a cicatrização direta

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permite uma regeneração anatômica do osso lamelar e dos sistemas de

Havers, sem a necessidade da etapa de remodelação (MARSELL & EINHORN,

2011).

A formação óssea endocondral ocorre geralmente na parte externa

ao periósteo, em regiões que são imediatamente adjacentes ao local da fratura

e, mecanicamente menos estáveis. Já a ossificação intramembranosa ocorre

na parte interna ao periósteo nas bordas proximal e distal do calo, onde

formam um calo duro (DIMITRIOU et al., 2005). Essa transição de calo rígido

ao redor do foco de fratura é que fornece uma estabilização inicial e

recuperação da função biomecânica (GERSTENFELD et al., 2006).

Durante cada uma dessas fases os processos biológicos são

regulados por moléculas de sinalização que podem ser categorizados em três

grupos: (1) citocinas pro-inflamatórias, (2) membros da super família do fator de

crescimento transformador-beta (TGF-β), e (3) fatores angiogênicos. Cada um

desses grupos de citocinas e outras proteínas têm atividades biológicas que

promovem sobreposição dos processos biológicos e interações entre os

diferentes tipos de células. Como por exemplo, as células-tronco mesenquimais

se diferenciam em células mais especializadas que promovem efeito em cada

uma das outras atividades (PENG et al., 2005).

Durante as últimas décadas, os estudos sobre a cicatrização da

fratura evoluíram rapidamente. É sabido que o osso é um dos poucos tecidos

que podem cicatrizar sem que haja a formação de uma cicatriz fibrosa. Assim,

o processo de desenvolvimento e reorganização da fratura pode ser

considerado uma forma de regeneração óssea. No entanto, apesar da

capacidade regenerativa do tecido ósseo, esse processo às vezes falha e as

fraturas podem cicatrizar em posições anatômicas desfavoráveis, ter um atraso

no tempo de cicatrização, ou até mesmo desenvolver uma pseudoartrose ou

não união óssea (MARSHELL & EINHORN, 2010).

A fim de evitar falhas no processo de cicatrização das fraturas,

vários estudos em humanos e modelos animais têm fornecido informações

sobre as etapas que regulam o processo biológico da cicatrização das fraturas,

além de promoverem orientação para novas pesquisas (EINHORN, 2005).

O uso de modelos animais tornou possível investigar a cicatrização

das fraturas sobre várias perspectivas como a histológica, bioquímica e

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biomecânica e tem sido, portanto, uma ferramenta importante na compreensão

do processo de cicatrização óssea (BONNARENS & EINHORN, 1984).

O objetivo desta revisão é caracterizar os eventos celulares que

contribuem para o processo de cicatrização e descrever as complexas vias de

sinalização das moléculas envolvidas.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 O tecido ósseo

2.1.1 Composição química do osso

O osso é constituído basicamente por dois componentes: orgânicos

e inorgânicos. A porção orgânica é formada por células (osteoblastos,

osteócitos e osteoclastos), fibras colágenas e substância base (proteoglicanos

e glicoproteínas). A parcela orgânica da matriz óssea é secretada

principalmente pelos osteoblastos. O principal componente inorgânico é o

fosfato de cálcio, responsável por dois terços do peso ósseo. O fosfato de

cálcio interage com o hidróxido de cálcio transformando-se em hidroxiapatita.

Conforme ocorre a formação dos cristais de hidroxiapatita, outros materiais

inorgânicos como o carbonato de cálcio, sódio, magnésio e fluoreto vão se

incorporando a ele (CONSTANTINESCU, 2002).

2.1.2 Anatomia óssea

No desenvolvimento dos ossos longos, chamamos o corpo do osso

de diáfise e a extremidade de epífise. A diáfise é formada por medula óssea

circundada por osso compacto, que constitui uma densa barreira protetora.

Geralmente mais larga que a diáfise, a epífise é formada principalmente de

osso esponjoso, o qual é constituído por uma trama de ossos trabeculares e

medula óssea amarela ou vermelha, bem como uma fina e externa camada de

osso compacto (Figura 1). Nos ossos em crescimento, o ponto de união da

diáfise com a epífise é denominado metáfise. Nesta junção, existe uma placa

de crescimento formada por cartilagem hialina, chamada de placa epifiseal ou

fise de crescimento. Quando o processo de desenvolvimento é finalizado, a

placa epifiseal é substituída pela linha epifiseal (MARIEB, 2003).

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Figura 1 – Estrutura anatômica de um osso longo evidenciando a

diáfise ao longo do eixo médio do osso; enquanto a

epífise, uma área mais larga em cada uma das

extremidades ósseas; a metáfise, ponto de encontro

entre a epífise e a diáfise, e periósteo uma camada

fibrosa que recobre a superfície externa do osso que

não é recoberto por cartilagem articular e o endósteo

uma camada fibrosa que reveste as cavidades

internas dos ossos. Fonte: adaptado de AKERS e

DENBOW (2008).

A superfície articular é constituída por uma fina camada de

cartilagem hialina, a qual recobre a epífise dos dois ossos que mantém contato.

A superfície externa do osso não coberta por cartilagem articular será envolta

por periósteo, que é constituído por membrana conjuntiva densa irregular e

unido à base óssea pelas fibras de Sharpey, oriundas das fibras presentes na

matriz óssea. O periósteo contém fibras nervosas, vasos linfáticos e

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sanguíneos responsáveis pelo suprimento ósseo. A superfície interna do osso

é recoberta pelo endósteo, o qual envolve a cavidade medular dos ossos

longos e as trabéculas dos ossos esponjosos (MARIEB, 2003).

2.1.3 Vascularização óssea

A fisiologia óssea interna, bem como os processos de cicatrização

da fratura, dependem de um suporte sanguíneo adequado. Em ossos longos

íntegros, a circulação consiste de suprimento aferente da artéria nutriente

principal, artérias metafiseais proximal e distal e artérias periosteais que

penetram no osso em áreas de forte ligação fascial (Figura 2). O fluxo

sanguíneo segue do canal medular para o periósteo, ou seja, em direção

centrífuga e a pressão medular, possivelmente, restringirá o fluxo sanguíneo

periosteal para o terço externo do córtex. Em animais imaturos, encontramos

inúmeras artérias em sentido longitudinal, que penetram no osso de formação

recente, sobre a superfície periosteal. A metáfise e a epífise recebem suporte

sanguíneo separadamente e não se comunicam através da fise cartilaginosa. A

porção da circulação responsável pela nutrição da zona celular da reserva

cartilaginosa e células fiseais em crescimento é o suprimento sanguíneo da

epífise. A interrupção do aporte sanguíneo dessa porção resulta na morte das

células em crescimento e suspensão da função fiseal. Entretanto, as células

que participam da ossificação endocondral são supridas a partir das artérias

metafiseais (FOSSUM, 2005).

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Figura 2 – Suprimento sanguíneo para: A -

osso normal. B - osso imaturo. C -

osso fraturado (suprimento

sanguíneo extra ósseo) e D - osso

em cicatrização. Fonte: FOSSUM

(2005).

2.1.4 Histologia óssea

A unidade estrutural do osso compacto é denominada ósteon ou

Sistema Haversiano. (Figura 3). Cada ósteon aparece como uma unidade

cilíndrica lamelar de matriz óssea que envolve os canais de Havers. O sistema

Haversiano corre paralelo ao eixo longo do osso e carrega pequenas artérias e

veias. O canal de Volkmann se dispõe perpendicularmente ao eixo longo do

osso, e está ligado à circulação sanguínea e aos nervos do periósteo através

do canal de Havers. Os canais de Havers e de Volkmann conectam a cavidade

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medular óssea à circulação por intermédio dos vasos sanguíneos, formando

caminhos para que as células sanguíneas possam atingir a circulação (AKERS

e DENBOW, 2008).

Figura 3 – Fotomicrografia demonstrando os

componentes do Sistema

Haversiano. Fonte: TIMOTHY, 2004.

2.1.5 Células do tecido ósseo

Encontramos no osso quatro principais tipos celulares (Figura 4): os

osteoblastos, osteócitos, osteoclastos e as células osteoprogenitoras (ANDIA et

al., 2006; AKERS e DENBOW, 2008).

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Figura 4 – Tipos de células ósseas. Fonte: TORMENA (2009).

Osteoblastos são células secretoras de matriz óssea extracelular,

além de colágeno e substâncias que constituem o osso não mineralizado.

Durante a formação óssea, os osteoblastos secretam a matriz óssea. Porém,

os osteoblastos mantém contato com outra via de conexões que contém junção

comunicante. Conforme a matriz endurece, os osteoblastos amadurecem e

tornam-se osteócitos ((ANDIA et al., 2006; AKERS e DENBOW, 2008).

Os osteócitos são células ósseas maduras de maior população, com

formato de aranha, encontradas em pequenas cavidades das junções

lamelares chamadas de lacunas. Somente um osteócito é encontrado por

lacuna e essas células não podem se dividir. Numerosos processos alongam-

se de cada osteócito para dentro dos canalículos, passando rapidamente pela

matriz de mineralização e se conectando a uma lacuna adjacente. Então, há

uma rede de comunicação entre o canalículo e a lacuna, fazendo com que o

processo ocorra em todo o osso mineralizado. O canalículo é importante

porque é dele que provem a rota pela qual o processo de um osteócito pode se

contactar aos outros adjacentes. Portanto, todos os osteócitos são capazes de

se comunicar entre si, carregando informações e nutrientes. Os osteócitos

podem sintetizar ou absorver a matriz óssea e, caso sejam destruídos, a

reabsorção da matriz óssea ocorre devido à atividade do osteoclasto, que é

sucedida pela reparação ou remodelação através da atividade osteoblástica

((ANDIA et al., 2006; AKERS e DENBOW, 2008).

Os osteoclastos são células multinucleadas gigantes envolvidas na

reabsorção do osso e, portanto, estão presentes em áreas onde o osso está

sendo removido. O osso também contém um pequeno número de células

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mesenquimais conhecidas como células osteoprogenitoras, que estão

localizadas na camada celular do periósteo, no endósteo e na linha vascular de

passagem da matriz medular. São dessas células que se originam os

osteoblastos e, portanto, são importantes para a reparação das fraturas

((ANDIA et al., 2006; AKERS e DENBOW, 2008).

2.2 Cicatrização óssea

2.2.1 Consolidação indireta da fratura

A consolidação indireta ou secundária é a forma mais comum de

cicatrização das faturas, e consiste de uma cicatrização óssea endocondral e

intramembranosa (GERSTENFELD et al., 2006). É caracterizada pela

formação de um calo intermediário antes da formação do calo ósseo. Não

exige redução anatômica e estabilização do foco de fratura. Pelo contrário, o

foco de fratura é reforçado por micro movimentos. No entanto, muito

movimento e/ou carga pode resultar em um atraso na cicatrização, ou até

mesmo uma não união óssea (GREEN et al., 2005). A cicatrização óssea

indireta ocorre normalmente no tratamento não cirúrgico de fraturas, e em

determinados tratamentos cirúrgicos em que ocorrem alguns movimentos no

local da fratura, como a fixação intramedular, fixação externa ou fixação interna

de fraturas cominutivas complicadas (PAPE et al., 2002; PERREN, 2002).

O processo de reparo em si é composto por quatro fases (Figura 5)

que se sobrepõem. Inicialmente há uma fase de resposta inflamatória imediata

que leva ao recrutamento de células-tronco mesenquimais e subsequente

diferenciação em condrócitos que produzem cartilagens e osteoblastos, que

formam o osso. Depois é produzida uma matriz cartilaginosa, que mineraliza, e

ocorre uma transição para osso, com iniciativa da reabsorção da cartilagem

mineralizada. A formação do osso primário é seguida por remodelação, em que

o calo ósseo inicial é modificado por formação e reabsorção óssea secundária

para restaurar a estrutura anatômica que suporta cargas mecânicas

(GERSTENFELD et al., 2003a).

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O reparo da fratura relembra o desenvolvimento embrionário normal

com a participação coordenada de vários tipos de células provenientes do

córtex, periósteo, tecidos moles circundantes e medula óssea (FERGUNSON

et al., 1999; GERSTENFELD et al., 2003a).

Figura 5 - As etapas de reparo da fratura. Fonte: adaptado de CARANO

&FILVAROFF (2003).

2.2.1.1 A resposta inflamatória aguda

Imediatamente após o trauma, ocorre a formação de um hematoma

que é constituído por células do sangue periférico e intramedulares, bem como

células da medula óssea. A lesão inicia uma resposta inflamatória que é

necessária para o processo de cicatrização. A resposta inflamatória faz com

que o hematoma coagule entre e ao redor das extremidades da fratura, e

dentro da medula formando um modelo para a formação do calo ósseo

(GERSTENFELD et al., 2003b).

Embora se tenha conhecimento de que uma expressão prolongada e

crônica de citocinas inflamatórias tem um efeito negativo no osso, nas

articulações e em presença de materiais implantados, uma secreção rápida e

bem regulada de moléculas pró-inflamatórias após uma lesão aguda é

fundamental para a regeneração do tecido (GERSTENFELD et al., 2003b). A

resposta inflamatória aguda atinge seu pico nas primeiras 24 horas e se

completa após sete dias, embora as moléculas pró-inflamatórias mais tarde

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continuem desempenhando um papel importante no final da regeneração (CHO

et al., 2002).

A resposta pró-inflamatória inicial envolve a secreção do fator de

necrose tumoral-α (TNF-α), interleucina (IL), IL-1, IL-6, IL-11 e IL-18, por

macrófagos, células inflamatórias e células de origem mesenquimais

(GERSTENFELD et al., 2003b). Esses fatores recrutam células inflamatórias,

aumentam a síntese da matriz extracelular e estimulam a angiogênese (SFEIR

et al. 2005). O pico de concentração dessas citocinas pode ser observado com

24 horas e retornam aos valores normais dentro de 72 horas após o trauma

(CHO et al., 2002; GERSTENFELD et al., 2003b). Durante este período de

tempo o TNF-α é expresso por macrófagos e outras células inflamatórias, e

acredita-se que esse efeito seja mediado pela indução de sinais inflamatórios

secundários e atua como um agente quimiotático para recrutar células

necessárias (KON et al., 2001).

Além de estimular a função dos osteoclastos, o TNF-α promove o

recrutamento de células-tronco mesenquimais e induz a apoptose de

condrócitos hipertróficos durante a formação óssea endocondral. Atrasos ou

ausência da reabsorção da cartilagem mineralizada, consequentemente,

impede a formação óssea. Em situações em que o TNF-α se expressa de

forma mais abundante, como na cicatrização de diabéticos, ocorre uma

remoção prematura da cartilagem que está associado a uma deficiência na

cicatrização e formação óssea (KAYAL et al., 2007).

O TNF-α também tem sido expresso in vitro para induzir

diferenciação osteogênica de células tronco mesenquimais (MSCs) (CHO et al.,

2006). Estes efeitos são mediados pela ativação de dois receptores TNFR1 e

TNFR2 que são ambos expressos pelos osteoblastos e osteoclastos. No

entanto, o TNFR1 sempre é expresso no osso enquanto que o TNFR2 é

expresso somente após uma lesão, sugerindo um papel mais específico na

regeneração óssea (KON et al., 2001; BALGA, 2006).

A expressão de IL-1 e IL-6 aumentam novamente em associação

com a remodelação durante a formação óssea secundária, enquanto que a

expressão de TNF-α aumenta em associação com a reabsorção da cartilagem

mineralizada no final da fase endocondral de reparo da fratura

(GERSTENFELD et al., 2003c).

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Entre as diferentes interleucinas, acredita-se que a IL-1 e IL-6 sejam

as mais importantes na cicatrização óssea. A expressão da IL-1 se sobrepõe a

do TNF-α no modo bifásico. É produzida por macrófagos na fase aguda da

inflamação e induz a produção de IL-6 nos osteoblastos, promove a produção

do calo cartilaginoso primário, e também promove angiogênese no local da

injúria pela ativação de um dos seus dois receptores, IL-1RI ou IL-1RII (KON et

al., 2001; SFEIR et al., 2005; LEE & LORENZO, 2006). A IL-6 por outro lado, é

produzida somente durante a fase aguda, estimulando a angiogênese, a

produção do fator de crescimento vascular endotelial (VEGF) e a diferenciação

de osteoblastos e osteoclastos (YANG et al., 2007).

A expressão do receptor ativador do núcleo do fator Kappa B ligante

(RANKL) e osteoprogesterina (OPG), dois membros da superfamília TNF-α,

bem como o macrófago fator estimulante de colônias (MCSF), são fatores

reguladores essenciais na osteoclastogênese, aumentando logo após a fase

inicial da lesão, bem como durante o período de reabsorção da cartilagem

mineralizada. Durante a fase de formação óssea secundária e remodelação

óssea, RANK, OPG e MCSF apresentam níveis de expressão diminuídos em

comparação aos observados durante a reabsorção da cartilagem

(GERSTENFELD et al., 2003c).

2.2.1.2 O papel da superfamília do fator de crescimento transformador beta

(TGF-β) na cicatrização da fratura

A superfamília do fator de crescimento transformador beta (TGF-β)

consiste em um grande número de diferentes fatores de crescimento e

diferenciação que incluem as proteínas ósseas morfogenéticas (BMPs), fator

de crescimento transformador beta (TGF-β), fator de crescimento e

diferenciação (GDFs), ativinas, inibinas e a substância inibidora Mulleriana

(CHO et al., 2002).

Membros específicos desta família, como as BMPs (2-8), GDF (1, 5,

8 e 10) e TGF-β1-3 promovem vários estágios de ossificação endocondral e

intramembranosa durante a cicatrização da fratura (CHO et al., 2002).

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a) Proteínas ósseas morfogenéticas

Durante o reparo da fratura, são produzidas BMPs por células

mesenquimais, osteoblastos e condrócitos. As diversas BMPs funcionam

independentemente ou em colaboração umas com as outras, bem como com

outros membros da superfamília TGF-β, para desencadear uma cascata de

eventos que promovem a formação de cartilagem e osso. Os processos

celulares estimulados incluem quimiotaxia, proliferação e diferenciação de

células mesenquimais, angiogênese e síntese da matriz extracelular (SAKOU,

1998; REDDI, 2001).

Apesar das diversas BMPs estarem estruturalmente e

funcionalmente relacionadas, elas exibem diferentes padrões de expressão nos

diferentes estágios da consolidação da fratura, com base nos experimentos

realizados em animais. Em estudos com murinos a consolidação da fratura,

mostrou níveis máximos da expressão de RNAm de BMP-2 dentro de 24 horas

após a lesão, sugerindo que este desempenha seu papel no início do reparo.

Em coesão com estes achados, estudos recentes mostram que a BMP-2 é

necessária para a reparação óssea pós-natal e está geneticamente associada

com a manutenção da massa óssea normal. Ao contrário, a BMP-2

aparentemente não é necessária para a formação embriológica dos ossos

(TSUJI et al., 2006; XIONG et al., 2006). Outros estudos in vitro examinam a

diferenciação do estroma das células-tronco da médula e mostram que a BMP-

2 controla a expressão de vários outras BMPs e quando sua atividade é

bloqueada, os estromas de células troncos da medula não conseguem se

diferenciar em osteoblastos (EDGAR et al., 2007).

AS BMP -3, BMP -4, BMP -7 e BMP -8 se expressam por um

limitado período durante a cicatrização da fratura (14 a 21 dias), quando a

reabsorção da cartilagem calcificada e o recrutamento osteoblástico são

ativados, e ocorre a formação óssea. BMP-5 e BMP -6 e outros membros da

superfamília do TGF-β são expressos de três a 21 dias durante a fratura em

camundongos, sugerindo que eles têm um efeito regulador em ambas as

ossificações intramembranosa e endocondral (CHO et al., 2002).

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Tem sido proposto que a BMP-2, BMP -6 e BMP -9 podem ser os

indutores mais potentes da diferenciação de células mesenquimais para

osteoblastos, enquanto as BMPs restantes promovem a maturação dos

osteoblastos comprometidos (CHENG et al., 2003). Os antagonistas de BMPs

também desempenham um papel importante na reparação da fratura.

YOSHIMURA et al. (2001) afirmaram que a expressão de noggin bloqueia

BMP-2, BMP-4 e BMP -7, e é modulada durante a consolidação da fratura. O

padrão da expressão de noggin é semelhante a de BMP-4, sugerindo que o

equilíbrio noggin/BMP-4 poderia ser um fator importante na regulação da

formação de calos durante a cicatrização da fratura. Isto é apoiado por

descobertas que, na ausência de noggin, há excesso de osso e formação de

cartilagem durante o desenvolvimento, indicando que o noggin desempenha

um papel importante na limitação da formação destes tecidos (BRUNET et al.,

1998).

b) Fator de crescimento transformador beta

Todas as três isoformas (TGF-β1, TGF-β2 e TGF-β3), deste grupo

de proteínas estão envolvidas no reparo da fratura. Elas são produzidas por

degranulação plaquetária após a lesão inicial, o que sugere o seu envolvimento

com o início da formação de calos (BOLANDER, 1992; BOSTROM, 1998).

Certas proteínas também são produzidas pelos osteoblastos e condrócitos em

fases posteriores, o que aumenta a proliferação destas células, bem como a de

células mesenquimais e pré-osteoblastos (LIEBERMAN et al., 2002).

Acredita-se que o TGF-β exerça uma papel importante na

condrogênese e formação endocondral (BARNES et al, 1999). Ele também

induz a expressão de proteínas da matriz extracelular (SANDBERG et al.,

1993). Em ratos, expressão de TGF-β2 e TGF-β3 atinge seu pico sete dias

após a fratura, quando a expressão de colágeno tipo II se eleva, e parece estar

associada a formação de cartilagem. A expressão de TGF-β1 permanece

constante durante todo o processo de cicatrização da fratura. Isto sugere que o

TGF-β2 e TGF-β3 pode desempenhar o papel mais importante durante o

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processo de cicatrização da fratura, uma vez que o pico de expressão ocorre

durante a fase crítica da condrogênese (CHO et al., 2002).

2.2.1.3 Recrutamento de células tronco mesenquimais (MSCs)

Para o osso se regenerar, células-tronco mesenquimais específicas

devem ser recrutadas, proliferar, e se diferenciar em células osteogênicas. O

local exato de onde essas células vêm não é totalmente esclarecido. A maioria

dos dados indica que estas MSCs são derivadas da medula óssea e de tecidos

moles adjacentes, pesquisas recentes demostram que o processo de

recrutamento e circulação das MSCs para o local da injúria possa ser de

grande importância para uma cicatrização ideal (GRANERO-MOLTO et al.,

2009; KITAORI et al., 2009). Inicialmente sugeriu-se que a proteína óssea

morfogenética-2 (BMP-2) tem um importante papel neste recrutamento, mas

outros dados demonstram que este não é o caso (BAIS et al. 2009). De fato, a

BMP-2 é essencial para a reparação óssea (TSUJI et al., 2006), mas outras

BMPs, tais como a BMP-7 podem desempenhar um papel mais importante no

recrutamento de células progenitoras (BAIS et al. 2009)

Sugere-se que o fator-1 de células derivadas do estroma (SDF-1) e

proteína-G acoplado ao receptor CXCR-4 formam um eixo (SDF-1/CXCR-4)

que é um regulador chave de recrutamento específico das MSCs para o local

do trauma (MA et al., 2005; GRANERO-MOLTO et al. 2009; KITAORI et al.,

2009). Estes estudos mostram que a expressão de SDF-1 está aumentada no

local da fratura, especialmente no periósteo presente nas bordas da fratura. Os

mesmos autores também demonstram que a SDF-1 tem um papel específico

no recrutamento de CXCR-4 expressando MSCs para o local da fratura durante

a fase de cicatrização endocondral (KITAORI et al., 2009). A importância deste

eixo foi verificada durante um tratamento utilizando um antagonista anti-SDF-1

ou uma manipulação genética de SDF-1-4 e CXCR que demonstrou ser

prejudicial para a consolidação da fratura (GRANERO-MOLTO et al., 2009;

KITAORI et al., 2009).

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2.2.1.4 A formação do calo ósseo cartilaginoso e periosteal

Embora a consolidação da fratura consista de uma ossificação

intramembranosa e endocondral, ocorre a formação de um calo cartilaginoso,

que posteriormente sofre mineralização, reabsorção e é então substituído por

osso que é a característica principal deste processo. Após a formação do

hematoma primário, é formado um tecido de granulação rico em fibrina (RAHN,

2002). Dentro desses tecidos, ocorre a formação endocondral entre as

extremidades da fratura e o periósteo. Essas regiões são mecanicamente

menos estáveis e o tecido cartilaginoso forma um calo que promove maior

estabilidade na região local da fratura (DIMITRIOU et al., 2005).

Em modelos animais (ratos, coelhos e camundongos) o pico de

formação de calos moles ocorre em 7-9 dias após o trauma, com um aumento

de procolágeno tipo II e de marcadores nucleares de proteoglicanos de

proteínas extracelulares (EINHORN, 1998). Ao mesmo tempo, ocorre uma

resposta subperiosteal de ossificação intramembranosa diretamente adjacente

às extremidades distais da fratura, formando um calo duro. A transição do calo

duro para o centro da fratura, fornece uma estrutura semi-rígida que permite a

sustentação do peso (GERSTENFELD et al., 2006).

A formação dos calos é dependente do recrutamento de MSCs dos

tecidos moles adjacentes, córtex, periósteo e medula óssea, bem como da

mobilização sistêmica de células-tronco hematopoiéticas. Uma vez recrutadas,

uma cascata molecular produz matriz de colágeno tipo I e de colágeno tipo II e

sinaliza a participação de várias moléculas de peptídeos. Neste processo os

integrantes da família do TGF-β têm se mostrado de grande importância. O

TGF-β2, TGF-β3 e GDF-5 estão envolvidos na condrogênese e na ossificação

endocondral, enquanto que sugere-se que a BMP-5 e BMP-6 pode induzir

proliferação celular na ossificação intramembranosa do periósteo local (CHO et

al., 2002; MARSELL & EINHORN, 2009). Além disso, como mencionado acima,

a BMP-2 tem se mostrado crucial no início do processo de cicatrização, como

observado em camundongos com mutações inativadoras de BMP-2 que não

são capazes de formar calos, impedindo a cicatrização das fraturas com

sucesso (TSUJI et al., 2006).

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2.2.1.5 Revascularização e neoangiogênese no foco da fratura

A consolidação das fraturas requer um suprimento sanguíneo e a

revascularização é essencial para o sucesso da reparação óssea

(KERAMARIS et al., 2008). Na cicatrização da fratura endocondral, isso não

envolve apenas as vias angiogênicas, mas também a apoptose de condrócitos

e a degradação cartilaginosa, bem como a remoção de células e matrizes

extracelulares que são necessárias para permitir que ocorra o crescimento de

vasos sanguíneos no local do reparo (AI- AQL et al., 2008).

Uma vez que este padrão estrutural é alcançado, o processo de

vascularização é regulado principalmente por duas vias moleculares, uma via

angiopoietina-dependente e uma via de fator de crescimento vascular

endotelial (VEGF)-dependente (TSIRIDIS et al., 2007).

As angiopoietinas, principalmente a angiopoietina-1 e angiopoietina-

2 são proteínas vasculares morfogenéticas. O papel da angiopoietina no reparo

da fratura não é tão bem compreendido como na via VEGF. Sua expressão é

induzida no início do processo de cicatrização, sugerindo que promova um

crescimento vascular inicial dos vasos existentes no periósteo e estão

associadas à formação de vasos de maior calibre e ao desenvolvimento de

ramos colaterais a partir dos vasos existentes (LEHMANN et al., 2005).

No entanto, a via VEGF é considerada a chave reguladora da

regeneração vascular. Tem sido mostrado que tanto os osteoblastos quanto os

condrócitos hipertróficos expressam altos níveis de VEGF, promovendo a

invasão de vasos sanguíneos e a transformação de uma matriz cartilaginosa

avascular em um tecido ósseo vascular (KERAMARIS et al., 2008).

O VEGF promove a vasculogênese, agregação e proliferação de

células endoteliais e células tronco mesenquimais em um plexo vascular, e a

angiogênese, que é o crescimento de novos vasos a partir de outros já

existentes (KANCZLER & OREFFO, 2008). Assim, o VEGF desempenha um

papel crucial na neoangiogênese e revascularização do local da fratura. Sua

importância nestes processos é ainda sustentada por observações, em que a

adição de VEGF em excesso promove uma excelente cicatrização da fratura,

enquanto que os bloqueios dos receptores do VEGF inibem o crescimento

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vascular e promovem atrasos ou impedem o processo regenerativo (AI- AQL et

al., 2008; KERAMARIS et al., 2008). Vários outros fatores como as interações

sinérgicas das BMPs com VEGF e o estímulo mecânico também podem ter

efeitos pró-angiogênicos contribuindo para melhorar as atividades angiogênicas

de forma VEGFR2-dependente (AI- AQL et al., 2008; KANCZLER & OREFFO,

2008).

Pesquisas comparando o perfil da expressão dos reguladores de

angiogênese demostraram que os fatores expressos mais prevalentes ao longo

do processo de cicatrização óssea foram angiopoietina-2, fator derivado do

pigmento endotelial, pleiotrofina, Tie1, e o inibidor de crescimento vascular

endotelial (GERSTENFELD et al., 2003c).

Os membros da família VEGF detectáveis durante a consolidação da

fratura são o VEGF-D, VEGF-A e VEGF-C. Eles são expressos ao longo da

fase condrogênica da cicatrização, atingindo níveis máximos de expressão

durante as fases finais de calcificação dos tecidos cartilaginosos, no momento

em que se inicia a reabsorção. A relação entre a expressão de alguns fatores

angiogênicos e citocinas pró-inflamatórias tem sido mostrado em camundongos

sem receptores de TNF. A ausência de receptores de sinalização TNF diminui

a expressão de angiopoietinas, metaloproteinases e do inibidor de crescimento

vascular endotelial durante a cicatrização da fratura. No entanto, a expressão

de membros da família VEGF que promovem diretamente a formação de novos

vasos não é inibida. Os resultados deste estudo sugerem que, depois da

injuria, os vasos existentes são primeiramente dissociados em um pool de

células endoteliais não divisíveis através da ação da angiopoietina-2 e do

inibidor de crescimento vascular endotelial, este último limitando a proliferação

(AL-AQL et al., 2008).

No momento em que a reabsorção da cartilagem e a remodelação

óssea são iniciadas, há um aumento dos níveis de VEGF, que estimulam

células deste grupo de progenitores e promovem a participação destas células

endoteliais na neoangiogênese. Estes resultados sugerem que a sinalização do

TNF-α por condrócitos controla a vascularização da cartilagem através da

regulação da angiopoietina e do fator inibidor de crescimento vascular

endotelial, que desempenham as funções de contrabalancear a supressão da

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indução do crescimento e a apoptose de células endoteliais (AL-AQL et al.,

2008).

Apesar da menor relação, o terceiro membro da família do sistema

de sinalização angiogênico é o fator de crescimento derivado de plaquetas

(PDGF). O PDGF um grupo de fatores que pertencem estruturalmente a uma

maior família, que incluem o VEGF e o fator de crescimento plaquetário

(HELDIN & WESTERMARK, 1999). Os PDGFs são secretados a partir de

grânulos alfa de plaquetas, bem como de células endoteliais, de células

vasculares do musculo liso e de macrófagos (MEYER-INGOLD & EICHNER,

1995). Existem diversas formas de PDGF (PDGF-A-B-C- e –D), que formam

hetero e homodímeros que são biologicamente ativos. As formas de PDGF

encontrados em plaquetas humanas PDFG-AA, PDFG-AB e PDGF-BB se

ligam a receptores PDGF alfa e beta. As células-alvo do PDGF são células

mesenquimais que incluem principalmente fibroblastos dérmicos e células

musculares lisas. Estes tipos de células expressam maior nível de receptores

PDGF-β (HELDIN & WESTERMARK, 1999).

A ação do PDGF depende de células-alvo, do estímulo de células

em proliferação, quimiotaxia, sobrevivência e mobilização de cálcio das

reservas intracelulares (DILIBERTO et al., 1992). Os PDGFs também têm um

papel na remodelação do tecido conjuntivo através da estimulação da

colagenase (BAUER et al., 1985). De acordo com esses achados, o PDGF-BB

tem sido efetivamente utilizado com um agente terapêutico para melhorar a

cicatrização cutânea (PIERCE et al., 1988; PIERCE et al., 1989).

Sugere-se que o PDGF seja um fator essencial na remodelação

óssea por mostrar uma melhor migração e proliferação de osteoblastos e uma

melhor secreção de osteoclastos (KUBOTA et al., 2002). Os resultados da

administração sistêmica de PDGF em ratas ovariectomizadas demonstrou um

aumento da força e da densidade óssea (MITLAK et al., 1996). O PDGF

aumenta a formação de uma matriz mineralizante in vitro (HSIEH e GRAVES,

1998) e aumenta a formação óssea na regeneração periodontal in vivo

(SARMENT et al., 1994). O PDGF exógeno aumenta a densidade do calo e a

formação óssea associada com a consolidação de osteotomias (NASH et al.,

1994). O PDGF pode ser detectado no calo tecidual obtido a partir da

cicatrização de fraturas durante a formação óssea (ANDREW et al., 1995).

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Para FUJII et al. (1999) o PDGF é um componente essencial na consolidação

normal de fraturas em modelos animais. Ao contrário, o PDGF em associação

com a expressão de TGF-β, fator-β de crescimento fibroblástico, BMP-2 e

BMP-14 está ausente em fraturas que não cicatrizam corretamente

(BROWNLOW et al., 2001).

2.2.1.6. Mineralização e reabsorção do calo cartilaginoso

Para que a regeneração óssea progrida, o calo mole principal

precisa ser reabsorvido e substituído por um calo ósseo. Esta etapa da

consolidação da fratura, em certo ponto, lembra o desenvolvimento ósseo

embriológico com uma combinação de proliferação e diferenciação celular, com

aumento do volume celular e aumento da deposição de matriz (BREUR et al.,

1991).

A ligação entre a regeneração óssea e o desenvolvimento ósseo foi

reforçada por um recente entendimento do papel da família de moléculas Wnt,

que é de grande importância na embriologia e também mostrou ter um

importante papel na cicatrização óssea. Acredita-se que família Wnt regula a

diferenciação de MSCs pluripotentes em linhagem osteoblástica, e em estágios

mais avançados de desenvolvimento regula de forma positiva a formação

óssea osteoblástica (CHEN & ALMAN, 2009).

O calo de fratura prolifera condrócitos, e os mesmos se tornam

hipertróficos e a matriz extracelular torna-se calcificada. O processo de

cicatrização ativado principalmente pelo macrófago fator estimulante de

colônias (M-CSF), receptor ativador do núcleo do fator kappa B ligante

(RANKL), osteoprotegerina (OPG), e TNF-α inicia a reabsorção desta

cartilagem mineralizada (BARNES et al., 1999; GERSTENFELD et al., 2003b).

Durante este processo M-CSF, RANKL e OPG também ajudam a recrutar

células ósseas e osteoclastos para formar o osso esponjoso. O TNF-α ainda

promove o recrutamento de MSCs com potencial osteogênico , mas seu papel

mais importante é iniciar a apoptose de condrócitos (GERSTENFELD et al.,

2003b).

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O mecanismo de calcificação envolve o papel da mitocôndria, que

contém grânulos de cálcio, criando hipóxia no local da fratura. Depois de

preparar o citoplasma, os condrócitos do calo da fratura e os grânulos de cálcio

são transportados para a matriz extracelular onde se precipitam com o fosfato e

iniciam a formação de depósitos minerais. Esses depósitos de cálcio e fosfato

se agrupam e formam cristais de apatita (KETENJIAN & ARSENIS, 1975).

O pico de formação do calo rígido é atingido geralmente em 14 dias

em modelos animais, conforme definido pela histomorfometria de tecido

mineralizado, mas também pela mensuração de marcadores de matriz

extracelular, como o colágeno tipo I, osteocalcina, fosfatase alcalina e

osteonectina (EINHORN, 1998). Com o tempo o calo rígido e a cartilagem

calcificada são substituídos por osso esponjoso e se torna mais sólido e

mecanicamente rígido (GERSTENFELD et al., 2006).

2.2.1.7 Remodelação óssea

Embora o calo rígido seja uma estrutura que proporcione uma

estabilidade biomecânica, ele não restaura completamente as propriedades

biomecânicas do osso normal. Para alcançar isso, o processo de cicatrização

da fratura inicia uma segunda fase de reabsorção, desta vez para remodelar o

calo rígido em uma estrutura de osso lamelar com uma cavidade central

medular (GERSTENFELD et al., 2003b). Esta fase é bioquimicamente ativada

por IL-1 e TNF- α, que mostram altos níveis de expressão durante esta fase,

em oposição à maioria dos integrantes da família TGF-β, que diminuem sua

expressão neste momento (AI- AQL et al., 2008; MOUNTZIARIS & MIKOS,

2008). Contudo, algumas BMPs como BMP-2 também estão aparentemente

envolvidas nesta fase com níveis de expressão razoavelmente altos

(MARSELL & EINHORN, 2009).

O processo de remodelação é realizado por um difícil equilíbrio de

reabsorção do calo pelos osteoclastos, e deposição de osso lamelar pelos

osteoblastos (Figura 6). Embora o processo tenha início em torno de três a

quatro semanas em modelos animais e humanos, a remodelação pode levar

anos para ser completada e alcançar uma estrutura óssea totalmente

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regenerada. O processo pode ocorrer mais rapidamente em animais e

pacientes jovens (WENDEBERG, 1961).

A remodelação óssea tem demostrado ser o resultado da produção

de polaridade elétrica criada quando a pressão é aplicada em um ambiente

cristalino (BASSETT, 1971). Isto é alcançado quando o carregamento axial de

ossos longos ocorre, gerando uma superfície convexa eletropositiva, e uma

superfície côncava eletronegativa, ativando a superfície osteoclástica e

osteoblástica, respectivamente. O calo externo é então gradualmente

substituído por uma estrutura de osso lamelar, enquanto que a remodelação do

calo interno restabelece a característica de cavidade medular de um osso

diafisário (BASSETT, 1971).

Figura 6 – Esquema simplificado do processo de remodelação óssea.

Fonte: TORMENA (2009).

Para que a remodelação óssea seja bem sucedida, um adequado

suprimento sanguíneo e um aumento da estabilidade mecânica são decisivos

(CARANO & FILVAROFF, 2003). Isto é claramente demonstrado nos casos em

que esses fatores decisivos não são atingidos, resultando no desenvolvimento

de uma fibrose atrófica, ou não união óssea. No entanto, nos casos em que se

tem uma boa vascularização, mas há uma fixação instável, o processo de

cicatrização evolui para a formação de um calo cartilaginoso, que resulta em

uma não união hipertrófica ou uma pseudoartrose (GREEN et al., 2005).

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2.2.2 Consolidação direta da fratura

A consolidação direta não ocorre comumente no processo natural de

cicatrização óssea. É caracterizada pela cicatrização do local da fratura sem a

formação de um calo periosteal ou endosteal. Isto ocorre quando uma

restauração anatômica dos fragmentos da fratura é alcançada e a fixação

rígida é fornecida resultando em uma diminuição substancial da tensão

interfragmentária. Portanto, este tipo de consolidação é frequentemente o

objetivo principal alcançado após uma redução aberta e uma cirurgia de fixação

interna. Quando esses requisitos são alcançados, a cicatrização óssea direta

pode ocorrer por remodelação direta do osso lamelar, canais de Havers e

vasos sanguíneos (RAHN, 2002).

A redução precisa e rígida fixação parece eliminar os sinais

biológicos que são conhecidos por atrair células osteoprogenitoras de tecidos

moles adjacentes que contribuem para a formação do calo na cicatrização

indireta (O’SULLIVAN et al., 1989; RAHN, 2002).

A cicatrização direta pode ocorrer por meio da cicatrização por

contato ou cicatrização por lacunas, dependendo da proximidade das

extremidades da fratura. Na cicatrização por contato, a união óssea e a

remodelação ocorrem simultaneamente, enquanto que na cicatrização por

lacunas essas etapas são sequenciais. De acordo com a espécie, normalmente

leva de meses a alguns anos, antes que a cicatrização completa seja

alcançada (RAHN, 2002).

2.2.2.1 Cicatrização por contato

A cicatrização por contato ocorre em todas as áreas onde o defeito

entre as extremidades do osso é menor que 0,01mm e a tensão

interfragmentar é menos do que 2% (SHAPIRO, 1988). Sob essas condições,

cortes em cone são formados nas extremidades dos osteons o mais próximo

do local da fratura (HULSE & HYMAN, 1993). As pontas dos cortes em cone

consistem em osteoclastos que cruzam a linha de fratura, gerando cavidades

longitudinais a uma velocidade de 50-100µm/dia. Estas cavidades são

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posteriormente preenchidas por ossos produzidos pelos osteoblastos que

residem na parte posterior dos cortes de cone. Isto resulta, simultaneamente,

em união óssea e restauração do sistema de Havers formados na direção axial

(KADERLY, 1991; RAHN, 2002).

O restabelecimento do sistema de Havers permite a penetração de

vasos sanguíneos que transportam precursores osteoblásticos (GREENBAUM

& KANAT, 1993; EINHORN, 1998). A transição dos osteons maduros para uma

remodelação direta em osso lamelar resulta em uma cicatrização de fratura

sem a formação de um calo periosteal. O novo osso lamelar é alinhado

paralelamente ao eixo longo do osso, e é menos denso do que o córtex intacto,

durante os primeiros meses (RAHN, 2002).

2.2.2.2 Cicatrização por lacunas

A cicatrização por lacuna difere da cicatrização por contato, pelo fato

de que a união óssea e a remodelação de Havers não ocorrem

simultaneamente. Esse processo de cicatrização ocorre quando a redução

anatômica e as condições estáveis das extremidades da fratura são

alcançadas, e desde que a distância entre as extremidades seja menor que

800µm e 1mm, e a tensão interfragmentar menor que 2% (KADERLY, 1991).

Neste processo o local da fratura é preenchido principalmente por

osso lamelar orientado perpendicularmente ao longo do eixo do osso, exigindo

uma reconstrução osteonal secundária, ao contrário do processo de

cicatrização por contato (SCHENK & HUNZIKER, 1994).

A estrutura óssea primária é, então, gradualmente substituída por

osteons longitudinais revascularizados carreando células osteoprogenitoras

que se diferenciam em osteoblastos e produzem osso lamelar em cada

superfície do osso. Este osso lamelar, no entanto, se estabelece

perpendicularmente abaixo do eixo longitudinal e é mecanicamente fraco

(SHAPIRO, 1988).

A remodelação de Harvers ocorre aproximadamente entre três a oito

semanas, após o qual uma remodelação secundária se inicia, lembrando a que

ocorre com o processo de cicatrização por contato com cortes de cones.

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Embora não seja tão extenso como a remodelação endocondral, essa fase é

necessária para restaurar as propriedades anatômicas e biomecânicas do osso

(SHAPIRO, 1988).

2.2.3 Distração osteogênica

A distração osteogênica é um procedimento cirúrgico controlado que

inicia um processo de regeneração e utiliza esforço mecânico para melhorar a

resposta biológica dos tecidos lesados e formar um novo osso. Este modelo

cirúrgico é utilizado para unir defeitos como fraturas que não cicatrizam, para

tratar doenças como a osteomielite, em que o ocorre uma destruição do tecido

ósseo, para aumentar o osso alveolar ao redor dos dentes perdidos e para

corrigir deformidades esqueléticas congênitas onde há uma deficiência na

estrutura do esqueleto original (TAY et al., 1998).

A distração osteogênica (DO), no entanto, é um processo de

regeneração óssea no qual a osteotomia seguida por distração gradual produz

duas superfícies de osso vascularizadas, a partir do qual um novo osso é

formado. Primeiramente descrita por CODIVILLA (1905) para o tratamento de

membros com diferenças de comprimento. A partir do trabalho de ILIZAROV

(1989) tornou-se um método utilizado para melhorar a regeneração óssea na

clinica ortopédica e cirurgia oral/maxillofacial (ARONSON, 1994).

Três modos de ossificação ocorrem durante a DO. Embora a

ossificação endocondral ocorra durante o estágio inicial da DO, a formação

óssea intramembranosa é o mecanismo de ossificação predominante,

principalmente nos estágios posteriores. Têm-se sugerido ocorrer uma terceira

forma de ossificação chamada de “formação óssea transcondroíde”. Durante a

ossificação transcondroíde, o osso condroíde é formado diretamente por

células como os condrócitos, com transição gradual de tecido fibroso para

osso. A cartilagem que se forma durante a DO é geralmente observada no

periósteo, mas não entre as extremidades do córtex dentro das lacunas de

distrações (YASUI et al., 1997; CHOI et al., 2002).

A distração osteogênica pode ser dividida em três tempos e fases

dinâmicas: latência, distração e consolidação. A fase de latência permite que

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ocorra uma resposta inicial no local do trauma. Ela começa imediatamente

após a criação da osteotomia e se estende até o início ativo da distração. Os

eventos realizados no local do trauma durante esta fase são basicamente os

mesmos das fases iniciais de reparo da fratura. No entanto, até que a fase de

distração seja iniciada, o processo de resposta inflamatória primária já foi

concluído. Durante a fase de distração, forças de tensão são aplicadas aos

calos com um ritmo e frequência específica. À medida que o calo é estendido,

uma zona fibrosa central, chamada de interzona fibrosa (FIZ), se forma. Esta é

rica em células como os condrócitos, fibroblastos e células ovais, que são

morfologicamente intermediárias entre fibroblastos e condrócitos

(VAUHKONEN et al., 1990; ARONSON, 1994; SATO et al., 1998).

A diferenciação dos osteoblastos na interzona fibrosa deposita

osteoíde ao longo dos feixes de colágenos. Eles subsequentemente sofrem

cristalização mineral paralela aos feixes de colágeno, formando uma zona

chamada de “zona de formação de microcoluna” (MCF). Entre a interzona

fibrosa e a microcoluna de formação, é observada uma zona de alta

proliferação de células, chamada de “matriz principal” ou “frente de

mineralização”. Uma vez que o comprimento do osso desejado é alcançado, a

distração cessa, marcando o início da fase de consolidação, onde osso e uma

extensa quantidade de osteoíde sofrem mineralização e eventual remodelação

(ARONSON et al., 1990).

Acredita-se que a regeneração óssea durante a distração

osteogênica ocorra em resposta a uma tensão mecânica aplicada ao calo

durante a cicatrização. O mecanismo exato pelo qual a tensão estimula a

formação óssea permanece incerto. Tem sido sugerido que os tecidos vivos

tornam-se metabolicamente ativados por tração lenta e constante, um

fenômeno chamado “mecano-transdução”, caracterizado pela estimulação

proliferativa e de funções celulares biossintéticas (ILIZAROV, 1989).

Apesar de a distração regenerar os tecidos do osso por um processo

muito diferente do de reparo da fratura, os sinais moleculares que conduzem o

processo regenerativo são similares e incluem citocinas pró-inflamatórias, o

fator de crescimento transformador da superfamília beta e os fatores

angiogênicos (AL-AQL et al., 2008).

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existem vários caminhos pelo qual ocorre a cicatrização óssea, mas

o diferencial deste processo de consolidação é que ela ocorre sem a formação

de uma cicatriz fibrosa. Desta forma, o processo de cicatrização da fratura

pode ser designado como uma forma de regeneração tecidual.

A fim de alcançar a regeneração completa de um osso totalmente

funcional, deve ocorrer uma inter-relação anatômica, biomecânica e bioquímica

de maneira bem sincronizada durante todo o processo de cicatrização.

Esta revisão descreveu os componentes essenciais do processo de

consolidação da fratura, mas, no entanto, outros mecanismos também podem

ser observados por ter um papel importante na regeneração óssea: como a

ações da metaloproteinases, o envolvimento de vários sistemas endócrinos

que afetam a homeostase cálcio e fosfato, e o sistema hematopoiético e sua

regulação de células-tronco mesenquimais progenitoras, que são cruciais para

a regeneração óssea e vascular.

Embora os dados atualmente disponíveis forneçam um retrato

detalhado das vias biológicas através do qual o osso é regenerado, ainda há

muito a ser compreendido e muitas questões ainda permanecem. Espera-se

que com o desenvolvimento de novas tecnologias de imagens e sistemas

avançados para a análise molecular essas perguntas possam ser respondidas.

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