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Prêmios Internacionais Malofiej de Infografia Malofiej Infographics Awards Quattrer, Milena; Graduada; Universidade Estadual de Campinas [email protected] Gouveia, Anna Paula Silva; Doutora; Universidade Estadual de Campinas [email protected] Resumo Os infográficos premiados nos Premios Internacionales Malofiej de Infografíamais conhecidos como Malofiej são importantes indicadores das principais tendências da infografia e do design gráfico mundiais. O presente artigo é parte de uma pesquisa que se propõe a identificar e analisar a cor como elemento gerador de poética visual em infográficos de diagrama impressos e online vencedores do Malofiej. Pretende-se apresentar e contextualizar o Malofiej, de modo que o leitor tenha um panorama de suas características e história, e destacar as ações positivas e negativas da cor nos infográficos ganhadores do Best of Show/Prémio Peter Sullivane Best Map/Prémio Miguel Urabayen. Palavras Chave: infografia; jornalismo visual; cor; Malofiej. Abstract The winners infographics at Malofiej Infographic Awards j- known as Malofiej - are important indicators of the main trends in world infographic and graphic design. This article is part of a research that aims to identify and analyze the color as a generator of visual poetic infographic diagram - print and online - winners of Malofiej. Intend to present and contextualize the Malofiej, so that the reader could have an overview of its features and history, and highlight positive and negative actions of color on the infographics winners at Best of Show/Peter Sullivan Award and Best Map/Miguel Urabayen Award. Keywords: infographic; visual jornalism; color; Malofiej.

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Prêmios Internacionais Malofiej de Infografia

Malofiej Infographics Awards

Quattrer, Milena; Graduada; Universidade Estadual de Campinas

[email protected]

Gouveia, Anna Paula Silva; Doutora; Universidade Estadual de Campinas

[email protected]

Resumo

Os infográficos premiados nos ‘Premios Internacionales Malofiej de Infografía’ – mais

conhecidos como Malofiej – são importantes indicadores das principais tendências da

infografia e do design gráfico mundiais. O presente artigo é parte de uma pesquisa que se

propõe a identificar e analisar a cor como elemento gerador de poética visual em infográficos

de diagrama – impressos e online – vencedores do Malofiej. Pretende-se apresentar e

contextualizar o Malofiej, de modo que o leitor tenha um panorama de suas características e

história, e destacar as ações positivas e negativas da cor nos infográficos ganhadores do ‘Best

of Show/Prémio Peter Sullivan’ e ‘Best Map/Prémio Miguel Urabayen’.

Palavras Chave: infografia; jornalismo visual; cor; Malofiej.

Abstract

The winners infographics at Malofiej Infographic Awards j- known as Malofiej - are important indicators of the

main trends in world infographic and graphic design. This article is part of a research that aims to identify and

analyze the color as a generator of visual poetic infographic diagram - print and online - winners of Malofiej.

Intend to present and contextualize the Malofiej, so that the reader could have an overview of it’s features and

history, and highlight positive and negative actions of color on the infographics winners at Best of Show/Peter

Sullivan Award and Best Map/Miguel Urabayen Award.

Keywords: infographic; visual jornalism; color; Malofiej.

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Introdução

Em 1993, os professores Juan Antonio Giner e Miguel Urabayen, da Universidad de

Navarra, criaram os ‘Premios Internacionales Malofiej de Infografía’ (Prêmios Internacionais

Malofiej de Infografia) – mais conhecidos como Malofiej –, em homenagem ao cartógrafo

argentino Alejandro Malofiej, falecido em 1987. O Malofiej – que neste ano comemora a sua

20ª edição – é promovido pela ‘Society for News Design’ (SND-E) e constitui-se de duas

oficinas chamadas ‘Show, Don't Tell’ (Mostre, Não Diga) e ‘Interact, Don't Show!’ (Interaja,

Não Mostre!), direcionadas a profissionais; do ‘Cumbre Mundial de Infografía’ (Cúpula

Mundial de Infografia) e dos ‘Premios Internacionales de Infografía’ (Prêmios Internacionais

de Infografia).

Comparado por muitos à importância do Prêmio Pulitzer para o jornalismo, o Malofiej

é um importante indicador das principais tendências da infografia e do design gráfico

mundiais.

Premios Internacionales de Infografia

Os ‘Premios Internacionales de Infografía’ aceitam infográficos – publicados entre os

dias 1° de janeiro e 31 de dezembro do ano anterior à data de realização do evento e em seu

formato original – de jornais e revistas nos formatos impresso e digital, de agências

prestadoras de serviços gráficos e publicações de associações profissionais ou corporativas.

A premiação é divida em duas áreas ‘Gráficos impressos’ e ‘Gráficos online’, e cada

área possui suas categorias e subcategorias. A área ‘Gráficos impressos’ abrange infográficos

publicados em diários com tiragem de até 50.000 exemplares, diários com tiragem entre

50.000 a 175.000 exemplares, diários com tiragem maior que 175.000 exemplares, revistas e

agências. Os infográficos impressos são divididos nas seguintes categorias:

Notícias imediatas. Abarca infográficos de notícias de última hora, publicados na data

mais próxima ao acontecimento descrito. É subdivida em Catástrofes Naturais; Acidentes

e incidentes; Conflitos bélicos, Terrorismo e Ordem pública; Outros; Coberturas

posteriores ao primeiro dia de publicação;

Reportagens. Infográficos sobre temas de investigação ou acontecimentos que não sejam

de notícias de última hora. Subdivide-se em Nacional e Internacional; Local; Economia e

Negócios; Esportes; Ciência, Tecnologia, Medicina e Saúde; Viagens, Transportes,

Automóveis e Meio Ambiente; Cultura, Espetáculos, Gastronomia, Estilo de vida;

Coberturas planejadas antes de um evento;

Uma Coluna. Categoria com infográficos de no máximo 65mm de largura por 100mm de

altura;

Uso contínuo.

Infográficos apresentados em páginas fixas. Categoria subdivida em Páginas do tempo;

Gráficos da bolsa; Outros;

Critérios. Neste item avalia-se a Integração na página; Uso da tipografia; Formato

inovador;

Portfólios. Seleção de 5 a 10 infográficos. Esta categoria subdivide-se em Portfólio de

notícias imediatas; Portfólio de reportagens; Portfólio individual;

Promocionais. Infográficos em pôsteres, destacáveis, colecionáveis ou em suportes

independentes das páginas habituais de uma publicação e que tenham sido utilizados

como elementos promocionais.

A área ‘Gráficos online’ abarca os infográficos publicados em sites com até 10

milhões de visualizações por mês e sites com mais de 10 milhões de visualizações por mês.

Os infográficos online são divididos nas categorias:

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Notícias imediatas. Assim como na categoria impressa, esta abrange infográficos de

notícias de última hora, publicados na data mais próxima ao acontecimento descrito e é

subdivida em Catástrofes Naturais; Acidentes e incidentes; Conflitos bélicos, Terrorismo

e Ordem pública; Outros; Coberturas posteriores ao primeiro dia de publicação;

Reportagens. Da mesma forma que a categoria impressa, esta reúne infográficos sobre

temas de investigação ou acontecimentos que não sejam de notícias de última hora, e

subdivide-se em Nacional e Internacional; Local; Economia e Negócios; Esportes;

Ciência, Tecnologia, Medicina e Saúde; Viagens, Transportes, Automóveis e Meio

Ambiente; Cultura, Espetáculos, Gastronomia, Estilo de vida;

Portfólios. Subdivide-se em Portfólio de notícias imediatas; Portfólio de reportagens;

Monografias e especiais.

Critérios. Avalia-se a Usabilidade: ordem e facilidade de navegação; Carregamento:

velocidade, apresentação e design de pré-carregamento; Design: tipografia, composição e

estilo gráfico; Formato inovador.

Javier Errea, organizador do Malofiej, convida profissionais e acadêmicos

especializados e de destaque na área para compor o júri internacional. O Malofiej apresenta

um corpo de jurados diferente a cada edição e o número de membros que o compõe também

varia. Por exemplo, nas edições 16, 17, 18, 19 e 20 do Prêmio Malofiej1 o júri foi composto

por, respectivamente, 10, 12, 13, 11 e 14 jurados.

Durante cinco dias e em paralelo às atividades das oficinas, o corpo de jurados dos

‘Premios Internacionales de Infografía’ avalia, elege e premia os melhores infográficos da

edição. Nas duas primeiras fases, o corpo de jurados é separado em dois grupos, ‘impresso’ e

‘online’ e avalia os infográficos inscritos em suas respectivas áreas. Na sua 20ª edição,

realizada em 2012, o Malofiej registrou um recorde de participação: 1.513 trabalhos de 148

veículos de comunicação de 29 países2.

Nos dois primeiros dias, os jurados avaliam os infográficos inscritos em sua área e

selecionam, através de votação, os que irão para a segunda fase. Segundo Renata Steffen3,

jurada da 16ª edição do Malofiej e editora de Arte da revista Superinteressante, a primeira

etapa é “muito delicada”, o jurado olha o infográfico e deposita uma moeda caso queira que

ele permaneça na premiação. Como essa ainda não é uma fase aberta à discussão, questões

culturais como, por exemplo, a língua, muitas vezes dificultam a avaliação do júri. “Você

precisa dar sorte para entrar na discussão. Depois que entra na discussão, é competência”

afirma Steffen.

Na segunda fase, já com os infográficos selecionados, os jurados sentam-se juntos

para discutir e avaliar, eles observam o gráfico e cada um apresenta sua avaliação

acompanhada de uma justificativa. Se não há consenso sobre qual medalha conceder – ouro,

prata ou bronze –, o júri decide por maioria absoluta ou, em caso de empate, o presidente do

júri (eleito pelo corpo de jurados) dá o Voto de Minerva.

Em conjunto, os júris impresso e online concedem o ‘Best of Show/Prémio Peter

Sullivan’ (Melhor da Mostra/Prêmio Peter Sullivan) para o infográfico de maior destaque na

edição, e o ‘Best Map/Prémio Miguel Urabayen’ (Melhor Mapa/Prêmio Miguel Urabayen)

para o melhor mapa apresentado. Com exceção dos dois prêmios anteriores, que devem

apresentar um vencedor cada, os jurados têm total liberdade para premiar mais de um

infográfico por categoria, ou mesmo não premiar infográfico algum. Segundo Steffen, Errea

orienta os jurados a serem cuidadosos durante a seleção e premiação dos infográficos, mas

não participa e tampouco interfere no processo.

Os infográficos vencedores são anunciados em um jantar de gala que celebra o

encerramento da ‘Cumbre Mundial de Infografía’.

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A cor nos infográficos premiados

Segundo Dondis (2007), consciente ou não, a opção por determinada cor é carregada

de informações e significados. A cor pode atribuir ou ser atribuída de sentidos e valores de

acordo com contexto em que está aplicada ou acorde cromático em que está inserida. A

aplicação de determinada cor não é uma questão apenas de criatividade, o seu uso exige

conhecimento e cuidado. As possibilidades de sentido e de interpretação de um infográfico

são muito mais amplas do que um sujeito possa entender. Para discutir e analisar como a cor

estrutura e otimiza os infográficos selecionados, utilizaremos o conceito de cor-informação de

Luciano Guimarães:

(...) Considera-se a cor como informação todas as vezes em que sua aplicação

desempenhar uma dessas funções4 responsáveis por organizar e hierarquizar

informações ou lhes atribuir significado, seja sua atuação individual e autônoma ou

integrada e dependente de outros elementos do texto visual em que foi aplicada

(formas, figuras, texturas, textos, ou até mesmo sons e movimentos, como em

produtos multimídia). (Guimarães, 2003, p:31)

As imagens analisadas foram escolhidas de acordo com alguns critérios pré-

estabelecidos: infográficos impressos e online em formato de diagrama5, ganhadores do ‘Best

of Show/Prémio Peter Sullivan’ ou ‘Best Map/Prémio Miguel Urabayen’ das edições 16, 17,

18, 19 e 20 do Prêmio Malofiej6, e que apresentam a cor como elemento de destaque na

construção da informação. Ao todo, quatro infográficos foram selecionados e analisados

levando-se em conta as ações positivas e negativas da cor quando num determinado contexto

auxiliam ou não no entendimento da informação.

Nas várias relações e em diversas proporções entre intenções e responsabilidades,

temos, de um lado, a geração de informação, compreensão e formação – ações

positivas – e, de outro, a geração de desinformação, de incompreensão e de

deformação – ações negativas dos atos de comunicação. Pode-se utilizar a cor tanto

para aumentar a credibilidade de determinada informação quanto para diminuí-la.

(Guimarães, 2003, p:91)

As ações positivas da cor-informação (Guimarães, 2003, p:124-137) apresentadas

pelos infográficos analisados são:

Antecipação. Imediatamente o leitor/usuário é informado sobre o tema e o enfoque dado

pelo infográfico. ‘Electoral Explorer’, publicado pelo nytimes.com (figura 1), exemplifica

essa ação positiva, o acorde cromático do infográfico antecipa o tema tratado: eleições.

No infográfico analisado, o vermelho representa o Partido Republicano e o azul, o Partido

Democrata. Essa representação da divisão política americana por parte da mídia, apesar de

recorrente, é algo recente.

A experiência americana com a paleta começou a partir das eleições de 2000,

quando um mapa eleitoral apareceu no New York Times mostrando os estados que

deram maioria a George W. Bush em vermelho e a Al Gore em azul. (Caesar e

Busch, 2005, p:1)

As divisão política por cores, no entanto, é antiga. Segundo Ceaser e Busch (2005), no

século VI já havia no Império Bizantino grupos rivais denominados por cores, como por

exemplo, “azuis” e os “verdes”.

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Figura 1: Infográfico ‘Electoral Explorer’, publicado pelo nytimes.com, ganhador da medalha de ouro e o ‘Best

Map/ Premio Miguel Urabayen’ na 17ª edição do Malofiej.7

O infográfico ‘World of rivers’, publicado pela National Geographic Magazine (figura 2),

é outro exemplo da ação positiva ‘antecipação’. As tonalidades de azul associadas às

formas antecipam o assunto tratado pelo infográfico e permitem que leitor perceba

rapidamente que se trata de um mapa-múndi hidrográfico.

Quanto mais força determinada cor-informação tiver dentro do repertório

(principalmente pela repetição), maior será a breviedade da sua recuperação pela

memória e maior a antecipação no direcionamento da mensagem. (Guimarães,

2003, p:125)

Figura 2: Infográfico ‘World of rivers’, publicado pela National Geographic Magazine, ganhador da medalha de

ouro e o ‘Premio Miguel Urabayen Best Map’ na 19ª edição do Malofiej.

Da mesma forma, a antecipação é identificada nos infográficos ‘Venice: Flood zone’

(figura 3) e ‘Lives still at risk’ (figura 4), ambos também publicados pela National

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Geographic Magazine e que abordam, respectivamente, as áreas de Veneza alagadas

durante as marés alta e baixa, e as populações de Nova Orleans que vivem abaixo ou no

nível do mar. O acorde cromático somado às formas apresentadas simultaneamente pelos

infográficos atraem o leitor, antecipam e direcionam a mensagem. Segundo Tufte (2003),

uma boa estratégia para representar e destacar a informação é usar as cores encontradas na

natureza, especialmente os azuis, amarelos e cinzas. “As cores da natureza são familiares

e coerentes, possuindo uma harmonia amplamente aceita pelo olho humano.” (Tufte,

2003, p:90)

Figura 3: Infográfico ‘Venice: Flood zone’, publicado pela National Geographic Magazine, ganhador da medalha

de ouro e o ‘Premio Miguel Urabayen Best Map’ na 18ª edição do Malofiej.

Discriminação/diferenciação. Ação positiva que contribui na hierarquia visual e

organização das informações apresentadas. No infográfico ‘Electoral Explorer’ (figura 1),

as cores aplicadas aos mapas representam não só os partidos políticos dos candidatos à

presidência dos Estados Unidos, Obama e McCain, como também a distribuição e

porcentagem de votos que cada candidato recebeu.

Nos infográficos ‘World of rivers’ (figura 2), ‘Venice: Flood zone’ (figura 3) e ‘Lives still

at risk’ (figura 4) a discriminação/diferenciação das informações ocorre principalmente

através de “variações controladas de tonalidade” (Tufte, 2003, p:92) que auxiliam na

hierarquia visual, mensuram e classificam os dados.

Figura 4: Infográfico ‘Lives still at risk’, publicado pela National Geographic Magazine, ganhador da medalha

de ouro e o ‘Premio Miguel Urabayen Best Map’ na 16ª edição do Malofiej.

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Condensação e intensificação. A condensação “se refere à ação da cor capaz de concentrar

em si a essência do discurso geral da matéria jornalística” (Guimarães, 2003, p:135) e a

intensificação ocorre quando esse discurso é reforçado quase que ao máximo. Por

exemplo, o vermelho e azul no infográfico ‘Electoral Explorer’ (figura 1) reforçam a

posição política dos candidatos, intensificam esse contraste e chamam “a atenção do leitor

para a existência simbólica da cor”. (Guimarães, 2003, p:135)

Estudos comprovam que as cores auxiliam na transmissão da informação, contribuem

na sua organização e hierarquização (Quattrer e Gouveia, 2011). No infográfico ‘The Ebb and

Flow’, publicado pelo jornal New York Times, o acorde cromático apresenta um exemplo de

ação negativa: a dissonância. A aplicação das cores é contraditória ou dissonante em relação

ao conteúdo do infográfico (Guimarães, 2003, p:117). Ao contrário da ação positiva

antecipação, em que imediatamente o leitor/usuário é informado sobre o tema tratado pelo

infográfico, o acorde empregado na figura 2 confunde o leitor/usuário. A cores aplicadas no

infográfico são comumente associadas à natureza, à terra e à madeira, por exemplo.

Entretanto, a imagem analisada trata das bilheterias dos filmes americanos o que causa de

imediato um estranhamento no leitor/usuário. Segundo Tufte, aplicar a cor certa no lugar

certo é uma questão complexa8 e, acima de tudo, deve-se evitar causar danos ou

interferências.

Vincular a cor à informação é tão elementar e simples como a técnica de cor na arte,

“Pintar bem é simplesmente isso: colocar a cor certa no lugar certo,” na receita

irônica de Paul Klee. (Tufte, 2003, p.81)

Figura 5: Infográfico ‘The Ebb and Flow of Movies: Box Office Receipts 1986 – 2008’, publicado pelo

nytimes.com, ganhador da medalha de ouro e o ‘Best of Show/ Premio Peter Sullivan’ na 17ª edição do

Malofiej.9

Considerações finais

Os infográficos de diagrama premiados no Malofiej são importantes indicadores das

principais tendências da infografia e do design gráfico mundiais, e fazem parte de um grupo

de imagens classificadas como não-artísticas, mas que compartilham de convenções das

belas-artes e apresentam vestígios de significado expressivo. A partir da análise dos

infográficos apresentados, constatou-se que todos partilham dos principais usos da cor no

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design da informação10

. Em quatro deles (figuras 1, 2, 3 e 4) a cor e/ou o acorde cromático

aplicado apresenta ações positivas, ou seja, gera informação, atrai a atenção do leitor/usuário

e aumenta a credibilidade na mensagem transmitida pelos infográficos. A cor aplicada em um

dos cinco infográficos analisados (figura 5) apresenta uma ação negativa que induz a

interpretação errônea do assunto que será apresentado pelo infográfico, o que a principio pode

gerar desinformação e incompreensão da mensagem por parte do leitor/usuário.

Desta forma pode-se constatar a importância da cor para a construção de significados

implícitos nos infográficos, o que justifica a pesquisa nesta abordagem, da qual este texto é

fruto. Os resultados devem compor um corpo de parâmetros e princípios que auxiliem os

designers no uso adequado da cor quando da elaboração dos infográficos.

Notas

1 As edições do Malofiej estudadas ocorreram, respectivamente, nos anos de 2008, 2009,

2010, 2011 e 2012. 2 MALOFIEJ 20. Pamplona, 2012. Disponível em: <http://www.malofiej20.com/malofiej-20-

awards/>. Acesso em: 20 abr. 2012

3 Entrevista concedida para a pesquisa de Mestrado em Artes Visuais “A cor nos infográficos

de diagrama ganhadores do Prêmio Malofiej” da qual este artigo é tributário (São Paulo, 5

abr. 2011).

4 “Nos textos visuais, particularmente os do jornalismo, as cores desempenham funções

específicas que podem ser separadas em dois grupos: um que compreende as sintaxes e as

relações taxionômicas, cujos princípios de organização são paradigmáticos, como organizar,

chamar a atenção, destacar, criar planos de percepção, hierarquizar informações, direcionar a

leitura e etc., e outro que compreende as relações semânticas, como ambientar, simbolizar,

conotar ou denotar.” (GUIMARÃES, 2003, p. 29).

5 Os diagramas são infográficos que mostram diferentes situações como o funcionamento de

uma máquina, um órgão do corpo, um acidente, o desfecho de uma situação. Ao contrário dos

outros infográficos, o diagrama pode necessitar de maiores habilidades artísticas dependendo

de sua complexidade. (QUATTRER, 2009) 6 As edições do Malofiej estudadas ocorreram, respectivamente, nos anos de 2008, 2009,

2010, 2011 e 2012. 7 ELECTORAL Explorer. New York, 2008. Disponível em:

<http://elections.nytimes.com/2008/results/president/explorer.html>. Acesso em: 20 abr. 2012

8 (i) classificar/rotular, cor como substantivo; (ii) mensurar, cor como quantidade; representar

ou imitar a realidade, cor como representação; e (iii) animar/decorar, cor como manifestação

do belo. (Tufte, 2003, p.81) 9 THE EBB and Flow of Movies: Box Office Receipts 1986 — 2008. New York, 2008.

Disponível em:

<http://www.nytimes.com/interactive/2008/02/23/movies/20080223_REVENUE_GRAPHIC.

html Disponível em http://www.nytimes.com/interactive/2008/02/23/movies/20080223_

REVENUE_GRAPHIC.html>. Acesso em: 20 abr. 2012

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10

Tufte, 2003, p:81

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