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Pró-Reitoria de Graduação Curso de Pedagogia Trabalho de Conclusão de Curso O PEDAGOGO E A ESCUTA SENSÍVEL NA CLASSE HOSPITALAR Autora: Suellen Amaral de Andrade Orientador: Prof. MSc. Adriano José Hertzog Vieira Brasília - DF 2013

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Pró-Reitoria de Graduação

Curso de Pedagogia

Trabalho de Conclusão de Curso

O PEDAGOGO E A ESCUTA SENSÍVEL NA CLASSE

HOSPITALAR

Autora: Suellen Amaral de Andrade

Orientador: Prof. MSc. Adriano José Hertzog Vieira

Brasília - DF

2013

SUELLEN AMARAL DE ANDRADE

O PEDAGOGO E A ESCUTA SENSÍVEL NA CLASSE HOSPITALAR

Trabalho apresentado ao curso de graduação

em Pedagogia da Universidade Católica de

Brasília, como requisito parcial para obtenção

do Título de Licenciada em Pedagogia.

Orientador: Prof. MSc. Adriano José Hertzog

Vieira

Brasília

2013

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família pelo

apoio dedicado em todos os momentos, aos

meus amigos pelo companheirismo e ao meu

orientador e demais professores pelo auxílio

durante essa jornada.

AGRADECIMENTO

Ao Criador, Deus, que está acima de todas as coisas deste mundo, concebendo

sempre os nossos desejos e vontades, mesmo quando de forma oculta.

À minha mãe, que é a maior guerreira que conheci na vida e que sempre deu a

sustentação necessária para que eu conseguisse superar os obstáculos e vencer. Ao meu pai,

que é minha vida e uma inspiração para que eu chegasse até aqui.

A todos os meus amigos e colegas de sala, que com certeza plantaram um pedaço de

si em meu coração e que direta ou indiretamente me deram apoio e contribuíram para que este

momento chegasse. E, além disso, tornaram parte de minha família e tornaram as aulas mais

divertidas e inesquecíveis.

A todos os professores que tive o prazer de conhecer ao decorrer desse período, pela

paciência, ensino, e confiança e que levarei com muito carinho para o resto de minha vida.

Enfim obrigado a todos que fazem parte da minha vida!

EPÍGRAFE

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas

criar as possibilidades para a sua produção ou

a sua construção.”

Paulo Freire

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RESUMO

ANDRADE, Suellen Amaral de. O pedagogo e a escuta sensível na Classe Hospitalar.

2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Pedagogia) - Universidade Católica de Brasília,

Taguatinga-DF, 2013.

A Pedagogia Hospitalar surgiu para atender às necessidades cognitivas, afetivas e sociais de

crianças e adolescentes hospitalizados, proporcionando uma recuperação mais aliviada, além

de prevenir o fracasso escolar, garantindo às crianças a continuidade dos conteúdos regulares.

Dessa forma, os pedagogos hospitalares devem ter uma visão humanista, levando em

consideração a criança em sua totalidade, priorizando o fator emocional, social e cognitivo,

estimulando a aprendizagem e recuperação, apoiados na escuta sensível. Nesse contexto, esta

pesquisa procura identificar o papel do pedagogo no exercício da escuta sensível na classe

hospitalar. Para obtenção dos resultados foi realizada uma entrevista, com pesquisa de campo,

junto a uma pedagoga hospitalar, do Hospital Regional de Taguatinga – HRT (DF). Os dados

obtidos evidenciam a importância da escuta sensível nas classes hospitalares, mostrando que

não é necessário que haja apenas procedimentos terapêuticos para recuperação dos pacientes,

ou seja, a escuta sensível e a classe hospitalar tem fundamental relevância na melhora das

crianças e adolescentes hospitalizados.

Palavras-chave: Pedagogia hospitalar. Classe Hospitalar. Escuta Sensível.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo trata da escuta sensível na classe hospitalar, propondo-se a esclarecer

questões pertinentes à relevância desse processo. Sabe-se que, no atual mundo globalizado, a

educação é um fator essencial, ressaltando a importância da continuação dos estudos e do

atendimento pedagógico inclusive no ambiente hospitalar. Portanto, faz-se necessário este

estudo a respeito da escuta sensível como recurso de adequação do aluno/paciente à nova

realidade no hospital e realidade de vida.

De acordo com Costa et al. (2005), são identificados, no hospital, aspectos que podem

desencadear o sofrimento psíquico na criança decorrente da forma de organização do trabalho,

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observa-se que a criança pode vir a apresentar danos psicológicos, pois além de ter que

conviver com a doença, precisa se adaptar ao novo ambiente e às situações nele presentes.

Com base nos expostos identifica-se que a hospitalização está relacionada com a dimensão

emocional e afetiva da criança e do adolescente.

Conforme Quintana et al.(2007, p. 415), “é no familiar significativo que a criança

busca apoio, orientação e proteção para a situação desconhecida e para o sofrimento”. Dessa

forma, “se a criança pode contar com a assistência desse familiar será mais capaz de suportar

o sofrimento e a ansiedade decorrentes da hospitalização”.

Ainda de acordo com o que afirma Quintana há grande importância na presença ativa

dos familiares, que possuem laços estreitos com a criança, para que esta possa enfrentar os

desafios da internação, que muitas vezes refere-se ao estranhamento da instituição, da dor, etc.

Ainda conforme os autores, as crianças internadas “vivenciam situação de pânico quando

colocadas diante de pessoas vestidas de branco ou com uniformes de enfermeiras, o que

denota o medo frente a tais situações” (QUINTANA et al., 2007, p. 415).

Nessa mesma linha de pensamento Machado e Martins (2002) entendem que, a

humanização do ambiente hospitalar utilizando-se de brincadeiras em enfermarias pediátricas

é um tema bastante estudado. Ainda conforme os autores, em situações críticas como a

hospitalização, é necessária uma grande elaboração das brincadeiras, visto que geram

ansiedade e medo em relação aos acontecimentos.

Devem ser considerados, segundo Machado e Martins (2002), no trabalho com

pacientes infantis, conceitos referentes à humanização do ambiente hospitalar, pois são

necessários esforços para diminuir o sofrimento físico e psíquico da criança. Dessa forma “O

trabalho pedagógico em hospitais apresenta diversas interfaces de atuação e está na mira de

diferentes olhares que o tentam compreender, explicar e construir um modelo que o possa

enquadrar.” (FONTES, 2005, p. 121).

Segundo com Faquinello; Higarashi; Marcon (2007), o cuidar humanizado sugere a

compreensão e a valorização da pessoa humana enquanto sujeito histórico e social. Dessa

forma, “é primordial que haja sensibilização com relação à problematização da realidade

concreta, a partir da equipe multidisciplinar” (FAQUINELLO; HIGARASHI; MARCON,

2007, p. 610).

“Atualmente, a Pedagogia Hospitalar como processo pedagógico é uma realidade no

vasto leque de atuação do pedagogo na sociedade contemporânea” (WOLF, 2007, p. 49).

Segundo Wolf (2007), a prática do pedagogo na Pedagogia Hospitalar tem o objetivo de

oferecer assessoria e atendimento emocional e humanístico tanto para o paciente como para os

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familiares. Ainda conforme a autora, a prática do pedagogo é baseada em atividades lúdicas e

recreativas como a arte de contar histórias, brincadeiras diversas, jogos, desenhos,

continuação dos estudos no ambiente hospitalar entre outras atividades.

As práticas da Pedagogia Hospitalar são estratégias utilizadas para auxiliar na

adaptação, motivação e recuperação do paciente, que estará ocupando seu tempo ocioso,

conforme Wolf (2007).

Nesse contexto, o objetivo da pesquisa foi identificar o papel do pedagogo no

exercício da escuta sensível na classe hospitalar, definir a escuta sensível no âmbito da classe

hospitalar, associar a escuta sensível ao desenvolvimento pedagógico do aluno/paciente,

analisar a visão do pedagogo acerca da escuta sensível, identificar os sentimentos que os

alunos/pacientes apresentam quanto ao ambiente hospitalar, apresentar o resultado do

processo da escuta sensível tanto para o pedagogo como para o aluno paciente, contextualizar

a classe hospitalar. Todas estas questões serão respondidas ao longo dessa pesquisa,

ponderando sobre a real importância da escuta sensível na classe hospitalar.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fim de fundamentar este trabalho, será utilizado referencial teórico sobre pedagogia

hospitalar, classe hospitalar e escuta sensível, temas escolhidos para melhor esclarecer os

objetivos do estudo.

O referencial teórico estará dividido da seguinte forma: Pedagogia Hospitalar, Classe

Hospitalar, Reações e Sentimentos no Ambiente Hospitalar e Escuta Sensível na Classe

Hospitalar .

2.1. PEDAGOGIA HOSPITALAR

Segundo Libâneo (2005, apud Rodrigues, 2012), a Pedagogia refere-se aos processos

educativos, métodos e modos de ensinar, que abrange um campo de conhecimentos sobre a

problemática educativa, tornando-se uma diretriz orientadora da ação educativa. Neste

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sentido, conforme Rodrigues (2012, p. 32), “a Pedagogia é a parte normativa do conjunto de

saberes que precisamos adquirir e manter se quisermos desenvolver uma boa educação (...)”.

A Pedagogia Hospitalar surgiu durante a Segunda Guerra Mundial, quando as crianças

e adolescentes ficaram impossibilitados de comparecer às escolas, fazendo com que médicos e

educadores se unissem para auxiliar na recuperação dos jovens, conforme Cardoso; Silva;

Santos (2012).

No Brasil, a primeira classe hospitalar foi criada em 1950, no Hospital Municipal Bom

Jesus, no Rio de Janeiro, pela professora Lacy Rittmeyer, porém, o termo classse hospitalar

foi reconhecido somente em 1994 pelo Ministério da Educação e do Desporto (MEC),

objetivando atender as crianças internadas, tornando a recuperação mais rápida, socialização

dos pacientes e aproveitamento do tempo ocioso, para que os pacientes/alunos retornem à

escola regular com mais facilidade.

Nesse sentido, segundo Cardoso; Silva; Santos (2012) a pedagogia vem, a cada dia,

aumentando o seu espaço de atuação, tornando-se necessário que os pedagogos estejam

preparados para atuar em diversos locais, além do ambiente escolar. No hospital, conforme os

autores, os pedagogos se inserem de forma integral, procurando estimular a aprendizagem.

Conforme Rodrigues (2012, p. 42) “a Pedagogia Hospitalar é um ramo de educação

que proporciona à criança e ao adolescente hospitalizado uma recuperação mais aliviada, por

meio de atividades lúdicas, pedagógicas e recreativas”, prevenindo a redução do rendimento

escolar, causado pelo afastamento da sala de aula. Ainda conforme a autora, a Pedagogia

Hospitalar é uma inovação no ambiente hospitalar, atendendo às novas exigências da

educação e mostra que há possibilidade de educar fora da sala de aula.

2.2. CLASSE HOSPITALAR

Conforme Fonseca; Ceccim (1999) as necessidades médicas e de enfermagem são

importantes em termos de hospitalização, porém as necessidades psicológicas e pedagógicas

também são extremamente relevantes, desdobrando-se em apoio às crianças e às famílias.

Nesse sentido, as classes hospitalares foram criadas devido à necessidade de garantir às

crianças e adolescentes a continuidade da escolarização, de acordo com Rocha e Passegi

(2010). A intenção é que o ambiente seja um espaço de socialização e valorização da

autoestima das crianças, possibilitando que o enfrentamento a essa situação seja o menos

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traumático possível, evitando prejuízos, tanto de conhecimento, como emocionais. Ainda

conforme os autores, a criação das Classes Hospitalares foi resultada da identificação de que

as crianças e adolescentes, mesmo hospitalizados, têm direito e necessidade de escolarização

ininterrupta.

De acordo com o Ministério da Educação (1994, apud ROCHA; PASSEGI, 2010), a

Classe Hospitalar é um ambiente que propicia o atendimento educacional a crianças e

adolescentes que precisam de educação, formalmente especializada, durante o período de

internação e enfrentamento às doenças. Porém, conforme Fontes (2005, apud ROCHA;

PASSEGI, 2010), não significa apenas trabalhar conteúdos formais do currículo escolar da

criança ou jovem, nesse contexto, há necessidade de garantir à criança o conhecimento,

levando em consideração a sua adaptação ao ambiente hospitalar.

A classe hospitalar, conforme Rocha e Passegi (2010), deve funcionar como um elo

entre “o mundo que ficou do lado de fora” e o “mundo do lado de dentro do hospital” para

que, no momento de saída da internação, a criança esteja preparada para se reinserir nas

atividades cotidianas.

2.3. REAÇÕES E SENTIMENTOS NO AMBIENTE HOSPITALAR

De acordo com Rocha e Passegi (2010), as doenças em qualquer idade, provocam

sofrimentos físicos e emocionais, em especial na fase da adolescência e infância. As

hospitalizações aludem a procedimentos invasivos e dolorosos, pois as crianças são privadas

da convivência com a família, dos amigos, dos professores, das diversões, entre outras

atividades que representam uma ruptura brusca na vida dos pacientes.

Ainda conforme os autores, cada pessoa reage de maneira diferente em relação ao

ambiente hospitalar e à experiência da internação. Dessa forma, de acordo com Ortiz e Freitas

(2005, apud, Rocha; Passegi, 2010), a atenção à saúde das crianças não deve estar relacionada

apenas a questões biológicas, mas também à questões sociais, psicológicas e emocionais.

Conforme Spitz (1945, apud, Foncesa; Ceccim, 1999), crianças hospitalizadas por muito

tempo sem um acompanhamento especial para atender às suas necessidades podem apresentar

atraso considerável em seu desenvolvimento.

Dessa forma, conforme Rocha e Passegi (2010), quando a fragilidade dos pacientes

não é levada em consideração, aumenta a possibilidade de traumas, pois as crianças e jovens

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são expostos a condições muito diferentes das que já conhecem, podendo acarretar reações de

medo e tristeza.

2.4. ESCUTA SENSÍVEL NA CLASSE HOSPITALAR

Conforme Ceccim (1997), o termo escuta sensível, também denominada, escuta

pedagógica, é proveniente da psicanálise e diferencia-se da audição, pois a audição refere-se à

apreensão e compreensão de vozes e sons, já a escuta sensível refere-se à apreensão e

compreensão das expectativas e sentidos, ou seja, é uma maneira de escutar além do que é

dito, ouvindo e interpretando expressões, gestos e diferentes posturas. De acordo com Barbier

(2002), a escuta sensível é apoiada na empatia, onde o pesquisador deve saber sentir o

universo afetivo, imaginário e cognitivo do outro. Dessa forma, a escuta não é limitada ao

campo do que é falado, buscando adentrar nos fatores que constituem a subjetividade das

pessoas e interpretar a singularidade de cada ser humano.

Segundo Fontes (2005, apud AROSA, 2007) a escuta pedagógica diferencia-se dos

outros tipos de escutas realizadas no serviço social, pois adéqua e aplica o aspecto cognitivo

ao ambiente hospitalar, às informações médicas e às doenças de maneira didática, fazendo

brotar o diálogo, base da educação.

Fontes (2004, apud Cardoso; Silva; Santos, 2012) destaca a importância da escuta

pedagógica no ambiente hospitalar:

A escuta pedagógica surge, assim, como uma metodologia educativa própria do que

chamamos de pedagogia hospitalar. Seu objetivo é acolher a ansiedade e as dúvidas

da criança hospitalizada, criar situações coletivas de reflexão sobre elas, construindo

novos conhecimentos que contribuam para uma nova compreensão de sua

existência, possibilitando a melhora de seu quadro clínico.

Nesse sentido, para que isso aconteça, a Pedagogia Hospitalar utiliza-se de

brinquedotecas e projetos diversificados, contribuindo para a melhora das crianças e jovens

hospitalizados.

Barbier (2002) afirma que a escuta sensível é caracterizada por um movimento de

“escutar-ver”, com o objetivo de compreender o ser humano em sua totalidade. Desse modo, é

necessário que o pesquisador consiga perceber e sentir o universo imaginário, afetivo e de

conhecimento para identificar e compreender as posturas adotadas pelo observando.

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Conforme Barbier (2002) a escuta sensível é apoiada nos cinco sentidos humanos:

audição, tato, olfato, visão e gustação. Dessa forma, percebe-se a necessidade de adentrar

numa relação de totalidade com o outro.

A escuta sensível na área de saúde, conforme Ceccim (1997), não é igual à escuta

psicanalítica, é, porém, mais genérica e mais específica. Nesse sentido, a escuta é voltada à

promoção de saúde e não apenas ao tratamento, além de acompanhar as condutas infantis e os

processos assistenciais.

Conforme Cardoso; Silva; Santos (2012) é essencial que o Pedagogo Hospitalar seja

uma pessoa emocionalmente equilibrada para lidar com as diferentes situações apresentadas.

Nesse sentido, segundo os autores, para que haja êxito no tratamento, não basta que haja

diagnósticos e procedimentos terapeuticos corretos, é necessário compreender que as crianças

hospitalizadas têm outras necessidades, como por exemplo, emocionais, sociais e intelectuais,

alertando para a necessidade de ações que gerem atenção integral aos pacientes.

A escuta pedagógica, de acordo com Ceccim (1997) pretende lançar uma nova forma

de atenção de saúde da criança hospitalizada, decorrendo da preocupação em analisar a

criança de diversos pontos de vista e necessidades, proporcionando uma assistência hospitalar

que acolha o ser humano em sua totalidade. Nesse sentido, a escuta sensível no ambiente

hospitalar deve objetivar uma nova maneira de tratar a pessoa doente, voltando para o centro

das atenções o aspecto cognitivo.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

Como base teórica para tratar e abordar os métodos de coleta de dados e informações

foi utilizada a interpretação metodológica de Vergara (2009), que consiste em apresentar o

meterial utilizado e os procedimentos realizados no desenvolvimento da pesquisa.

3.1. TIPOS DE PESQUISA

3.1.2. Quanto aos meios

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A pesquisa realizada é classificada como pesquisa de campo e bibliográfica. Segundo

Vergara (2007), a pesquisa de campo é uma investigação empírica realizada onde ocorre um

determinado fenômeno, incluindo entrevistas, questionários, testes entre outros. Neste estudo

foi utilizada a pesquisa de campo com a realização de entrevista. Já a pesquisa bibliográfica é

um estudo baseado em material acessível ao público, como jornais, revistas, livros, internet

entre outros. Neste estudo foi utilizada a pesquisa bibliográfica, consultando livros e artigos,

buscando embasamento teórico.

3.1.3. Universo, amostra e seleção dos sujeitos

O universo desta pesquisa de campo é determinado pelas pedagogas de 08 hospitais

públicos de Brasília (DF), totalizando 13 pedagogas. Sendo assim divididas:

3 pedagogas no Hospital de Base

3 pedagogas no Hospital Materno Infantil de Brasília

2 pedagogas no Hospital Regional da Asa Norte

1 pedagoga no Hospital Regional do Paranoá

1 pedagoga no Hospital Regional de Sobradinho

1 pedagoga no Hospital Regional do Gama

1 pedagoga no Hospital Regional de Ceilândia

1 pedagoga no Hospital Regional de Taguatinga

A pesquisa não trabalhará com a totalidade do universo considerado, apenas com uma

pedagoga, devido à dificuldade de acessibilidade às demais.

A escolha desta pedagoga justifica-se pelo fato de que esta é conhecedora das ações

adotadas nas classes hospitalares e entende sobre a pedagogia hospitalar e escuta sensível.

3.1.4. Técnica e instrumentos de Coleta de Dados

Conforme Vergara (2009, p. 2) “um dos métodos mais utilizados quando se trata de

coletar informações no campo, de interagir com o campo, é a entrevista”, que pode conduzir o

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pesquisador às conclusões mais adequadas. Dessa forma, a entrevista foi o método

selecionado para colher e tratar as informações necessárias para este trabalho.

A entrevista, segundo Vergara (2009) é uma forma de interação verbal com o objetivo

de produzir conhecimento sobre um determinado assunto. A entrevista pode ser realizada

pessoalmente, permitindo que o pesquisador obtenha, também, informações não verbais, e até

mesmo por telefone ou outro meio de comunicação que permita a conversa.

Ainda conforme Vergara (2009), a entrevista pode ser classificada do ponto de vista

do número de pessoas (individual e coletiva). Dessa forma, observando a classificação

proposta por Vergara (2009), foi utilizada a entrevista individual, estabelecida entre um

entrevistador e um entrevistado.

4. ANÁLISE DOS DADOS

A entrevista foi realizada com a Pedagoga Sandra que é a pedagoga hospitalar do

Hospital Regional de Taguatinga a entrevista seguiu um roteiro que tinha por base os

objetivos específicos deste trabalho.

Em relação às reações e aos sentimentos dos alunos/pacientes a Pedagoga Sandra diz:

A família mudou muito e hoje a criança não acha tanto amparo na família… e você

pode fazer uma entrevista aqui e muitos preferem ficar aqui a voltar pra casa. Então

assim tem toda uma mudança de sociedade, de acolhimento, os pais não estão

ficando em suas casas, as crianças ficam em creches quando vem aqui e o pai está

acompanhando eles se sentem mais protegidos do que quando voltam. (Entrevista,

2013).

Conforme Rodrigues (2012, p. 77), é na família que o aluno/paciente busca o seu

primeiro apoio para enfrentar essa nova situação, pois cabe à família auxiliar no processo de

recuperação do mesmo. Nesse sentido é importante o envolvimento da família com a criança

hospitalizada já que a internação e o próprio ambiente hospitalar causam angústia e medo ao

paciente.

Muitas vezes o afeto familiar só chega até a criança por meio da internação, a família

tende a se aproximar para acompanhar o desenrolar desse processo e devido a isso a criança

se sente protegida e amparada pela família.

Ainda nesse mesmo sentido a Professora Sandra relata a questão onde a casa da

criança hospitalizada vem pra dentro do hospital: “Então assim vem pra baila todo sistema da

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família!”. De acordo com Rocha e Passegi (2010), a doença por si só já trás um sofrimento

físico e emocional ao paciente. Existem questões biológicas, mas também as questões sociais,

psicológicas e emocionais que cercam essa criança hospitalizada.

Deve haver uma parceria entre a família e a equipe que acompanha a criança, pois um

deve estar do lado do outro buscando a melhora do paciente da melhor forma possível.

Sobre o seu trabalho pedagógico na classe hospitalar a Professora diz que todas as

atividades desenvolvidas fazem parte de projetos e que a base de tudo é um projeto sócio

ambiental de sua autoria, que também é um trabalho arte terapêutico, mostrando que além de

sondar o psicológico das crianças, há um trabalho com a autoestima.

Quanto ao espaço de socialização que deve haver no ambiente hospitalar, a pedagoga

afirma que existem atividades para estimular a valorização da autoestima, possibilitando o

enfrentamento, de maneira menos dolorosa. Segundo os autores citados no referencial teórico,

o processo pedagógico tem um significado bem mais amplo no contexto hospitalar que

abrange processos educativos, métodos e modos de ensinar.

Em relação ao processo de internação e reação das crianças a professora Sandra afirma

que:

A hospitalização faz a criança voltar no tempo e regredir, pois a carência emocional

que ela é exposta aqui faz regredir e trás ela para o colo. Acabei de presenciar um

bebê gigante no colo da mãe! E ainda falei: Você é um bebê gigante! Ele estava

literalmente deitado no colo da mamãe como se fosse um bebê. A criança volta para

o instinto maternal, ela se volta pra quem está mais próximo dela devido à questão

emocional, o chão se abre então é só a gente se colocar no lugar dela: Você

internado, num lugar sem amparo emocional né, então o meu projeto foi buscando

também esse aspecto. (Entrevista, 2013).

Essa fala indica que o ambiente hospitalar altera as reações das crianças e adolescentes

e que a sensibilidade e a fragilidade são aumentadas. Segundo Rocha e Passegi (2010), se a

fragilidade dos alunos pacientes não for levada em consideração, há maior possibilidade de

traumas, pois as crianças e adolescentes são expostos a situações bem diferentes do cotidiano,

podendo acarretar medo e tristeza. Dessa forma, de acordo com a professora entrevistada é

necessário que haja essa observação das reações das crianças, com o objetivo de evitar

maiores danos cognitivos, sociais e psicológicos.

Acerca da escuta sensível a entrevistada coloca que: “A escuta sensível no âmbito da

classe hospitalar, figura como especial ferramenta, visto que a mesma é o eixo sensitivo pelo

qual o pedagogo irá transitar através desse conjunto cognitivo dos sentidos.” De acordo com

Ceccim (1997) a escuta pedagógica deve analisar a criança hospitalizada sobre diversos

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pontos de vista e necessidades, acolhendo o ser humano em sua totalidade objetivando uma

nova maneira de cuidar da pessoa doente sem deixar o aspecto cognitivo.

Outra consideração importante que a Pedagoga faz é acerca dos recursos humanizados

onde ressalta a importância do pedagogo da classe hospitalar:

Utilizar recursos humanizados no processo de internação que por vezes se inicia de

maneira traumática com o afastamento brusco das relações familiares e

ambientais ajuda no rompimento do estranhamento inicial da criança. É da

competência do pedagogo hospitalar ser a plataforma mais segura que o aluno

paciente encontra no ambiente novo ao qual ele momentaneamente esta inserido.

(Entrevista, 2013).

Conforme os autores, citados no referencial teórico, é de suma importância o

equilíbrio emocional do Pedagogo Hospitalar, pois o mesmo vivencia situações diversas no

ambiente hospitalar. É fundamental compreender que existem outras necessidades além do

diagnóstico e dos procedimentos terapêuticos e que o aluno/paciente necessita de uma atenção

integral a suas questões emocionais, sociais e intelectuais.

A entrevistada traz a relação que o aluno/paciente faz da classe hospitalar e da escola e

o sentimento que isso gera no mesmo: “A correlação com o ambiente escolar de onde a

criança é oriunda traz para esta um alívio emocional, fator de suma importância no seu

processo de restabelecimento.” Devido à classe hospitalar se assemelhar com o ambiente

escolar regular o aluno/paciente se sente melhor acolhido do que no leito do quarto e nesse

ambiente ele tende a se socializar e com a ajuda da pedagoga buscando uma maneira de

compreender esse novo momento da sua vida. Dessa forma, é possível perceber que a teoria

da escuta sensível se aplica na prática, pois a escuta sensível tem o objetivo de acolher a

ansiedade da criança hospitalizada, de maneira reflexiva, gerando uma melhora no quadro

clínico dos pacientes.

A Professora Sandra preza muito o trabalho humanizado e sempre comenta sobre a sua

importância trazendo à tona fortes elementos e a sua caracterização por meio da escuta

sensível. Esse fator fica claro na seguinte fala:

O processo de educar no hospital se faz pelo acolhimento, o braço coletivo, a visão

macro e atuação individualizada para formar o ser fazedor de seu próprio caminho,

de mãos dadas com seus mentores, configurando a cada dia as sutilezas que fazem

bela a vida. (Entrevista, 2013).

Nesse sentido, a escuta sensível é caracterizada por um movimento de “escutar-ver”

afirma Barbier (2002) e nesse movimento observa-se o ser humano em sua totalidade. O

pedagogo hospitalar deve identificar e compreender o universo imaginário e afetivo do

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aluno/paciente e nesse universo que será apresentado buscar trabalhar aproveitando-o em sua

totalidade e analisando de todas as formas as posturas adotadas pelo aluno paciente, para que,

dessa forma, haja uma possibilidade de recuperação mais acelerada. A escuta sensível é

funtamental no trabalho do pedagogo hospitalar, pois apartir dela o mesmo tem condições de

potêncializar a melhora do aluno/paciente e perceber situações que fazem parte da vida dessas

crianças e adolecentes.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho permitiu uma percepção mais pragmática da atividade pedagógica

e da escuta sensível na classe hospitalar. Observa-se que diante da impossibilidade do

aluno/paciente de frequentar as aulas na classe regular de ensino, o papel do pedagogo

hospitalar perpassa a simples função de realizar atividades escolares, passando a mesmo a ser

uma ponte entre o hospital e a escola, possibilitando o progresso escolar do aluno/paciente.

A escuta sensível deve nortear o trabalho do pedagogo hospitalar, permitindo assim

uma visão mais completa do indivíduo. O processo de internação é algo que desestrutura por

completo a criança e o adolescente e por esse motivo eles necessitam de cuidados especiais,

pois não são apenas pacientes, mas, sim seres humanos em processo de formação. A escuta

sensível realizada pelo pedagogo hospitalar busca no aluno/paciente suas particularidades e

potencialidades visando a melhora no seu quadro clinico e no âmbito pedagogico.

Através das análises de campo observa-se que, para crianças e adolescentes, a

internação é um processo complexo e sofrido, exigindo dos pedagogos hospitalares

sensibilidade suficiente para perceber as necessidades de cada paciente, tratando-os de

maneira unificada. Nesse sentido, a escuta sensível é uma ferramenta pedagógica de grande

importância, pois permite que o pedagogo analise e compreenda cada criança de acordo com

suas necessidades individuais.

De acordo com as declarações feitas pela Pedagoga Hospitalar do Hospital Regional

de Taguatinga Sandra Lucena Lima, podemos observar a importância do pedagogo dentro do

ambiente hospitalar, pois segundo ela este é a plataforma mais segura que o aluno paciente

encontra no ambiente de internação.

Segundo os resultados obtidos, pode-se afirmar que a Pedagogia Hospitalar é

extremamente importante no auxílio para a recuperação de crianças e adolescentes

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hospitalizados, alinhando o fator cognitivo com os fatores emocionais e sociais. Com isso,

pode-se concluir também que, a escuta sensível na classe hospitalarer é fundamental para

observar e compreender o ser humano em sua totalidade e criar maneiras para adequar a

criança e adolescente hospitalizado ao novo ambiente e ao retorno a casa, escola regular e ao

social existente antes da internação.

As contribuições desta pesquisa são de grande importância na construção do trabalho

do pedagogo hospitalar, pois o mesmo não deve buscar apenas dar continuidade nos estudos

das crianças e adolescentes hospitalizados mas, sim procurar trabalha-los por completo. Sem

contar com as contribuições pessoais, pois os expostos buscam trabalhar os dois lados

envolvidos nesse processo: o pedagogo e o aluno/paciente, sabemos que esse é um trabalho

em parcerias visando a melhora de todo um conjunto que faz parte desse processo.

6. REFERÊNCIAS

AROSA, Armando C. Da escuta sensível ao diálogo “dodiscente”. In AROSA, Armando C.;

SCHILKE, Ana Lúcia (organizadores). A escola no hospital: espaço de experiências

emancipadoras. Niterói: Intertexto, 2007. Disponível em:

<http://quandoaescolaenohospital.blogspot.com.br/2009/04/da-escuta-sensivel-ao-dialogo.html>.

Acesso em: 13 maio 2013.

BARBIER, René. Escuta sensível na formação de profissionais de saúde. Conferência na

Escola Superior de Ciências da Saúde Conferência na Escola Superior de Ciências da Saúde.

Brasília, 2002. Disponível em: < http://www.barbier-rd.nom.fr/>. Acesso em: 11 maio 2013.

CARDOSO, Cristiane Aparecida; SILVA, Aline Fabiana; SANTOS, Mauro Augusto do.

Pedagogia Hospitalar: a importância do pedagogo no processo de recuperação de crianças

hospitalizadas. Cadernos da Pedagogia. São Carlos, Ano 5 v. 5 n. 10, p. 46-58, jan-jun 2012.

Disponível em:

<http://www.cadernosdapedagogia.ufscar.br/index.php/cp/article/viewFile/372/172>. Acesso

em: 24 maio 2013.

CECCIM, Ricardo Burg. Criança hospitalizada: atenção integral como escuta à vida. Porto

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19

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2013.

21

APÊNDICE A

Pesquisa Acadêmica - Entrevista

Esta é uma pesquisa de Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia da

Universidade Católica de Brasília - UCB, desenvolvida pela universitária Suellen Amaral de

Andrade. A presente pesquisa tem por objetivo identificar o papel do pedagogo no

exercício da escuta sensível na classe hospitalar.

Entrevista realizada entre a pesquisadora e a Pedagoga Hospitalar, Sandra Lucena

Lima:

Suellen

- Eu gostaria que a senhora falasse sobre a realidade da classe hospitalar do Hospital Regional

de Taguatinga.

Pedagoga

- (…) Ai ela falou pra enfermagem que lá é uma enfermeira e não uma auxiliar de

enfermagem destacada para a equipe, uma psicóloga destacada para a equipe, uma orientadora

educacional destacada, uma pedagoga destacada para a equipe dentro do hospital, mas lá é um

hospital escola são cinco profissionais em sala só para a realização das atividades. Essa é uma

realidade bem diferente do HRT.

- Aqui não tem nem a brinquedista ou psicóloga, quanto mais alguém pra fazer um chá se

tiver morrendo tem que ir atrás de um parecer ou marcar pra acontecer isso… É o ideal, na

pesquisa tem que mostrar o que é ideal. Falta muita coisa… Brasília está muito atrasada, ela

saiu na frente na Secretaria de Educação, mas a Secretaria de Saúde não acompanha, então a

educação está na frente, ela manda, ela paga, ela empresta um salário normal de professor,

você está desviada, você é capacitada é treinada, você recebe toda a escolarização necessária

no ensino especial, nós somos capazes. Só que cadê uma equipe? Chega aqui você tem que se

deparar sozinha, a saúde falha, a própria instituição de saúde não vê a importância desse

ambiente, até que falam que é a enfermaria pediátrica, não vê o setor de humanização como

um setor de importância, eles entregam as injeções… mal o pessoal da enfermagem que está

até carente… a gente vê que Brasília está num retrocesso total porque a saúde está quebrada.

22

Ontem eu passei à tarde com a minha secretária no P.S. e não fomos atendidas, saí de lá e hoje

já levei ela para outro canto porque aqui é uma vergonha… é um verdadeiro descaso com o

ser humano! Agora também eu não sei de que ano são essas pesquisas e não sei o campo

dessas pessoas que escrevem, a sociedade mudou muito, a família mudou muito e hoje a

criança não acha tanto amparo na família… e você pode fazer uma entrevista aqui muitos

preferem ficar aqui a voltar pra casa. Então assim tem toda uma mudança de sociedade, de

acolhimento, os pais não estão ficando em suas casas, as crianças ficam em creches quando

vem aqui e o pai está acompanhando eles se sentem mais protegidos do que quando voltam.

Suellen

- Nos artigos falam da questão do sofrimento da criança internada, só que alguns sofrem só

em relação ao processo da doença, mas, em questão de abandono dos pais, eu vejo que tem

pais que se aproximam muito mais dos filhos durante a internação do que no dia a dia, tem

um afeto maior…

Pedagoga

- Ou vêm as brigas inteiras pra cá! Porque vem a família inteira pra cá! Ontem mesmo teve

uma mãe de um paciente e eu tive que interferir. Estávamos fazendo umas pulseiras de

garrafas e tal… passamos a tarde inteira fazendo e ela chegou e falou – Você não é boiola! Na

frente de todo mundo! O menino chega abaixou a cabeça assim… E diabético… Então você

sabe que o negocio deve ter ido lá no céu e voltado aqui na terra. Aí eu tive que falar mesmo,

eu poderia ter chamado a mãe no canto, mas, como ela colocou a situação assim, eu tive que

interferir… Aí falei dessa questão de gênero, que essas atividades não escolhem o masculino e

o feminino, mas, se acolhe o grau da criatividade, pois é uma atividade comum a todos eu não

faço distinção de sexo e nem de idade sempre procuro trabalhar com todos nesse sentido. Aí

eu falei mãe, e outra ele falou aqui na mesa que era senhora. Aí ela falou assim: “- Eu não uso

isso, eu não uso isso!” Ela tentou se sair da situação e acabou piorando. Nessas situações eu

tenho que interferir porque a criança já esta internada e ainda tem situações como esta que

vem para abalar ainda mais o paciente. Então assim vem pra baila todo sistema da família!

Não me revoltei com a mãe, acredito que você tem que ir pelo lado da orientação, até porque

você vê várias situações aonde a casa vem pra dentro do hospital.

Suellen

23

- Pelo que eu percebi ao longo do tempo que permaneci dentro do hospital, pude observar que

o trabalho da pedagoga vai além do pedagógico, onde se criam vários vínculos com o

aluno/paciente e a realidade que ele trás para o hospital...

Pedagoga

- Essa criança ele é até um incluído, tem uma capacidade mental prejudicadíssima, ele já é um

menino de 12 anos e esta com deficiência absurda, absurda nesse âmbito, segunda-feira já esta

até marcada as atividades dele até, ele está até na semana de prova, mas ele está numa

defasagem e o que eu vejo é que a escola não consegue melhorar, é uma criança muito frágil.

Sem contar que o trabalho em sala de aula hoje em dia também está muito difícil há um

descaso muito grande com a educação…

E aqui no hospital você tem que parar o seu trabalho pra estar interferindo em todo processo

até o ambiental e na maioria, são questões que fogem do pedagógico. Ou melhor, elas não

fogem, mas não deveria ser eu que deveria estar tentando resolver todas as situações que

aparecem na enfermaria pediátrica.

Eu fico envolvida em várias atividades que acontecem aqui, acho isso bom, pois lutei por esse

reconhecimento, antes parecia que eu era um E.T. aqui dentro principalmente pelo povo da

enfermagem e um dos fatores é a questão da formação. Até você conquistar esse povo todo e

mostrar que o seu trabalho está além de fazer a criança realizar as tarefas escolares, que atrás

de todo projeto que eu desenvolvo tem algo além foi bem complicado. Se você não souber

conquistar a equipe do local que você fica num atraso monstruoso…

Suellen

- Pra colocar na pesquisa eu preciso saber como a senhora desenvolve o seu trabalho

pedagógico.

Pedagoga

- Ontem na minha aula, minha aula dessa semana, no meu projeto dessa semana. Você pode

escrever que o meu trabalho acontece por meio de projetos, te mostro do inicio ao fim como

eu construí, porque a minha base é o meu projeto sócio ambiental, acho que eu tenho até a

cópia aqui no hospital, mas eu trabalho por semana em projetos, essa semana foi o “projeto

casa” eu trabalhei uma casa de boneca e dentro da construção da casa trabalhei todos os

aspectos, comecei na segunda e fechou ontem (quinta-feira) o meu trabalho, que eu consigo

fazer pedagogicamente aqui são projetos que eu monto, porque no solto eu não consigo

24

acompanhar, porque eu não tenho… por exemplo, vou marcar tal hora com fulano, então vou

ficar só com aquele aluno não tem como me isolar, até porque a sala é totalmente misturada, é

a brinquedoteca, é a ludoteca, é a biblioteca, é a legoteca é tudo ao mesmo tempo, o barulho é

muito intenso, tudo é muito rápido, tudo é ao mesmo tempo do 0 aos 15 anos você tem que

trabalhar ao mesmo tempo, então se eu parasse para dar aula e disser agora acabou, entra

meninos de 01 ano, vamos fechar as portas e agora só vou dar aula pra meninos de 10 anos…

não sei, seria impossível isolar e tirar o direito da criança freqüentar a sala, a classe, então

tudo tem que acontecer ao mesmo tempo e estar com eles no tapetes dos menores, na bancada

da lego e aquela mesa que é a mesa das artes então eu faço três estações, a mesa das artes eu

trabalho o trabalho pedagógico, lincado ao projeto sócio ambiental e também arte terapêutico,

porque ao mesmo tempo que você está ali está sondando o psicológico, trabalhando a auto

estima. Acompanhando alunos/pacientes mais velhos da diabetes que estão fazendo trabalhos

escolares e às vezes não querem participar das atividades que estão acontecendo na classe,

empresto os materiais necessários e acompanho o desenvolvimento dos trabalhos escolares.

Os projetos ambientais envolvem a família, que é o globo, eu falo que é as três peles, é

baseado num fundamento sócio ambiental, que é a nossa pele, olha são cinco peles, são as

peles do mundo: o mundo é uma pele, a casa é outra pele, a sua família é outra pele e você

tem outra pele então são as construções do macro pro micro, é pensar… Eu fiz um discurso no

encerramento do projeto, ao terminar a casinha fiz uma roda ao final e nós analisamos e

andamos por todos os assuntos possíveis e inimagináveis, inclusive o alimentar que é o que

está mais próximo deles, pois é um grupo que na sua grande maioria são diabéticos e é a

forma como eles se alimentam que os trazem pra cá, são pré-adolescentes e às vezes se negam

a cumprir os regimes alimentares de uma criança com diabetes que são vários, então na sucata

também trabalhei a alimentação com as garrafas de coca-cola, pois é algo que eles são

privados, mais questões vieram à baila e eles entregam uns aos outros devido à convivência e

falei que não era contra o refrigerante, mas que tínhamos que analisar antes de comer e qual o

aproveitamento disso, então nós viajamos em todos os aspectos: no aspecto ambiental, a casa,

a construção, os tipos de habitações, os hábitos necessários, a higiene da casa do corpo, aí

trabalhei os painéis de ciências sobre os esquemas do corpo humano que tinham na sala, então

trabalhei tudo que está em volta da casinha. E tudo isso é trabalhado com o grupo inteiro

desde o pequeno ao grande, então é todo um processo de mesa redonda, pois está todo mundo

ali e é muito dinâmico e você também enfrenta o afastamento e o preconceito por parte de

alguns alunos/pacientes e nesse contexto você tem que conquistar a criança pelo saber mesmo

e ter muita habilidade pra lidar com todos eles para ter a participação de todos. Tem que ter

25

essa habilidade de trazer e não renegar porque dentro da classe hospitalar não se deve excluir,

mas existem várias profissionais e cada uma delas tem a sua forma de conduzir a sua classe

hospitalar, mas sempre buscando trabalhar o lúdico e trabalhar as necessidades das crianças, a

hospitalização faz a criança voltar no tempo e regredir, pois a carência emocional que ela é

exposta aqui faz regredir e trás ela pro colo. Acabei de presenciar um bebê gigante no colo da

mãe! E ainda falei: Você é um bebê gigante! Ele estava literalmente deitado no colo da

mamãe como se fosse um bebê. A criança volta para o instinto maternal, ela se volta pra quem

está mais próximo dela devido à questão emocional, o chão se abre então é só a gente se

colocar no lugar dela: Você internado, num lugar sem amparo emocional né, então o meu

projeto foi buscando também esse aspecto. E esse link com os meus projetos principais que é

o bacana, pois engloba tudo, o conteúdo vai e volta. Tem gente que fala a professora da classe

não consegue ter o conteúdo desenvolvido e que não tem retorno eu digo que depende, muitas

vezes o retorno vem bem depois e é legal ver que eu plantei uma semente na criança e que

poderá dar frutos, então o hospital de plantação aqui é o lugar onde se vai plantar sementes

nos corações dessas crianças… Sementes da poesia, da leitura, do amor, do cuidado, da

reciclagem… E interage assim tudo misturado e trabalhando os conteúdos, então é um projeto

interdisciplinar e é impossível ficar parado num grupo tão diverso, num grupo tão diferente e

é tudo junto, aproveitamos tudo pra criar brinquedos, jogos, obras de arte…Ontem fizemos

sopradores, pulseiras, tudo feito de garrafa pet se você passar pelos quartos, está tudo

espalhado por aí, os sopradores são bons para os que tem problemas respiratórios e isso gera

um comprometimento, um com o outro, os maiores ficam responsáveis pelos menores,

construir brinquedos para os acamados, pois estou mais na classe do que nos quartos, então eu

faço um projeto sustentável, que eu chamo de sustentabilidade humana, eu mesma dou meus

nomes, porque sustentabilidade não é você estar no sólido, essa fase já passou, hoje é a

sustentabilidade social, humana, do pensamento, se você pensa no outro automaticamente

você vai dividir com o outro que é um processo total interativo que a sociedade melhoraria

muito se a gente educasse esses pequenos pra esse pensar mas, a gente vai conseguir mudar

esse é um processo de formiguinha. Então é um projeto integral a classe hospitalar é até a

oportunidade de se fazer um novo recomeço. O meu amparo pedagógico mais forte é o

projeto Lego e estou escrevendo um novo projeto para a segunda etapa desse projeto com a

Lego para uma nova doação. Agora essa banca de pessoas seria muito mais interessante, mas

seria um milagre que é muita coisa pra se fazer, tudo ao mesmo tempo, mas um seria ótimo e

uma equipe seria o céu, afinal o trabalho existe e com a equipe seria feito na sua totalidade,

pois haveria a troca de idéias entre profissionais, a divisão do trabalho e que o Brasil é muito

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atrasado e Brasília em si é muito atrasada, não tem noção da importância de destacar pessoas

pra isso…

Suellen

- Como se dá o processo da escuta sensível na sua visão pedagógica e mediante a sua

experiência?

Pedagoga

- A escuta sensível no âmbito da classe hospitalar, figura como especial ferramenta, visto que

a mesma é o eixo sensitivo pelo qual o pedagogo irá transitar através desse conjunto cognitivo

dos sentidos. Alcançar a confiança e por assim dizer, a competência para atuar como

catalisador e facilitador do processo de ensino aprendizagem é fator vital no desenvolvimento

do projeto pedagógico da classe hospitalar. Utilizar recursos humanizados no processo de

internação que por vezes se inicia de maneira traumática com o afastamento brusco das

relações familiares e ambientais ajuda no rompimento do estranhamento inicial da criança. É

da competência do pedagogo hospitalar ser a plataforma mais segura que o aluno paciente

encontra no ambiente novo ao qual ele momentaneamente esta inserido. Normalmente é na

classe local de maior identificação, que a criança irá expressar seus sentimentos, que devem

ser mediados através de atividades seguras e permeadas de significação. A correlação com o

ambiente escolar de onde a criança é oriunda traz para esta um alívio emocional, fator de

suma importância no seu processo de restabelecimento. A escuta sensível que não se limita a

observação, mas antes trabalha com todos os sentidos, elabora uma refinada e intuitiva

maneira de ensinar. É preciso desvendar cada desafio com os olhos do coração, de um amor

exigente que leva em consideração as limitações, mas nunca se apóiam nas mesmas, para

diminuir as capacidades de aprendizagem do aluno paciente. O processo de educar no hospital

se faz pelo acolhimento, o braço coletivo, a visão macro e atuação individualizada para

formar o ser fazedor de seu próprio caminho, de mãos dadas com seus mentores,

configurando a cada dia as sutilezas que fazem bela a vida.