Processo de desenvolvimento de produto: aplicação em um ... 100.pdf · Todavia o processo de...
Transcript of Processo de desenvolvimento de produto: aplicação em um ... 100.pdf · Todavia o processo de...
Fabrizio Leal Freitas, mestre em engenharia de produção, AQTech, Rua Lauro Linhares, 2055, Florianópolis –
SC, (48) 3338-0007, [email protected]
Mauro Pacheco Ferreira, mestre em engenharia de produção, AQTech, Rua Lauro Linhares, 2055,
Florianópolis – SC, (48) 3338-0007, [email protected]
Tiago Kaoru Matsuo, engenheiro eletricista, AQTech, Rua Lauro Linhares, 2055, Florianópolis – SC, (48)
3338-0007, [email protected]
Fernando Antonio Forcellini, doutor em engenharia mecânica, Universidade Federal de Santa Catarina, Centro
Tecnológico, Campus Universitário, Florianópolis, SC, (48) 3721-7041, [email protected]
Maria Augusta Rodrigues Orofino, mestre em gestão do conhecimento, Av. Aratãs, 650, apto 121
Indianópolis, São Paulo, (48) 9973-8110, [email protected].
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO: APLICAÇÃO EM UM
PROJETO DE P&D DENTRO DO PROGRAMA ANEEL
Fabrizio Leal Freitas Mauro Pacheco Ferreira Tiago Kaoru Matsuo
AQTech Engenharia e Instrumentação S.A.
Fernando Antônio Forcellini
Universidade Federal de Santa Catarina
Maria Augusta Rodrigues Orofino
Escola Superior de Propaganda e Marketing
RESUMO
O objetivo do artigo é relatar a aplicação de um modelo estruturado de desenvolvimento de
produto em um projeto de P&D executado dentro do programa ANEEL de pesquisa e
desenvolvimento tecnológico do setor elétrico. O estado-da-arte da engenharia de produto
preconiza que as inovações dentro das empresas de base tecnológica podem ser alcançadas
através do Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP), que deve ser estruturado em um
modelo de referência que mapeie e integre as atividades, recursos, informações e melhores
práticas em mapa comum para todos os envolvidos no projeto de P&D. Nestas visões
contemporâneas o PDP é visto como um processo de negócio, ou seja, o seu foco é resultar
em produtos que tenham valor para os clientes da empresa. Alinhado a este contexto está a
abordagem Canvas para o mapeamento de modelos de negócio, que favorece a inovação no
contexto mercadológico do produto. O programa ANEEL de P&D, regido pela Lei nº 9.991
de 24 de julho de 2000, por outro lado, dispõe sobre investimentos em pesquisa e
desenvolvimento por parte das empresas concessionárias do setor de energia elétrica no
Brasil. De acordo com as diretrizes e orientações para a elaboração e execução de projetos de
P&D regulados pela ANEEL, no programa ANEEL o foco da avaliação da originalidade da
inovação se polariza para resultados em termos de capacitação profissional, capacitação
tecnológica (produção técnico científica, apoio à infraestrutura e propriedade intelectual),
impactos socioambientais e impactos econômicos. O presente artigo descreve as experiências
e dificuldades em balancear estas duas abordagens – do campo de conhecimento sobre PDP e
da regulamentação da ANEEL – na execução do projeto intitulado “Nacionalização de
produto para monitoramento de grupos geradores” da empresa AQTech em parceria com a
concessionária de geração ENDESA Brasil. Os resultados apresentados compõem uma série
de sugestões e recomendações para aproximar as visões do PDP e da ANEEL de modo a
facilitar o processo de inovação dentro de empresas de base tecnológica e concessionárias de
energia elétrica brasileiras. O artigo também contempla a abordagem de inovação para o
modelo de negócio do produto através da aplicação da metodologia de mapeamento Canvas.
2/ 16
PALAVRAS-CHAVE
Desenvolvimento de produto; Inovação; P&D; ANEEL; Business Model Canvas.
ABSTRACT
The objective of this paper is to report the application of a structured product development
model inside a R&D project being executed in the ANEEL program for research and
technological development of the Brazilian power sector. State-of-the art product engineering
advocates that innovations in technology-based companies may be achieved through a
Product Development Process (PDP), which must be structured in a reference model that
maps and integrates activities, resources, information and best practices in a common map for
all the stakeholders in the R&D effort. In these contemporary views the PDP is seen as a
business process, which means its focus is to result in products with value for customers of
the company. Aligned to this context is the Business Canvas approach for mapping business
models, which facilitate innovation in product marketing context. The ANEEL R&D
program, governed by Law No. 9.991 24th
July 2000, on the other hand, regulates investments
in research and development by the utility companies of the electric power sector in Brazil.
According to the guidelines and guidance for the preparation and execution of R&D projects
regulated by ANEEL, the focus of the evaluation of the originality of innovation is biased by
results in terms of professional training, technology training (technical and scientific
publication, support for infrastructure and intellectual property), environmental impacts and
economic impacts. This article describes the experiences and difficulties in balancing these
two approaches - the PDP knowledge field about PDP and ANEEL’s regulations – during the
execution of the project entitled "Nationalization of product for generator sets monitoring" of
the company AQTech in partnership with the power concessionaire ENDESA generation
Brazil. The presented results compose a series of suggestions and recommendations to bring
the views of the PDP and ANEEL together in order to facilitate the process of innovation in
technology-based companies and utilities companies in Brazilian power sector. The article
also includes the approach of product business model innovation by applying the Business
Canvas mapping methodology.
KEYWORDS
Product development; Innovation; R&D; ANEEL; Business Model Canvas.
1. Introdução
A inovação desempenha papel fundamental no ambiente empresarial dos dias de hoje,
especialmente para Empresas de Base Tecnológica (EBTs). É através de produtos e serviços
inovadores que estas empresas se diferenciam dos concorrentes e agregam valor para os
clientes, de forma a se manterem competitivas e vivas no atual mercado globalizado e
altamente dinâmico.
Todavia o processo de inovação é um caminho árduo para as EBTs, em especial para aquelas
de pequeno porte que lutam para se estabelecer no mercado. Este artigo foca duas das
barreiras que pequenas empresas de tecnologia tipicamente encontram ao percorrer o caminho
da inovação tecnológica.
A primeira dificuldade reside na própria complexidade inerente à criação de novas
tecnologias, que é um processo que em geral embute inúmeros fatores desconhecidos que
devem ser desvendados pela equipe de projeto ao longo do desenvolvimento. Ao encarar os
3/ 16
fatores desconhecidos do processo de inovação, invariavelmente é necessário abordar o
problema com base em metodologias formais. A engenharia de produto como campo de
conhecimento encara a inovação como um modelo de Processo de Desenvolvimento de
Produtos (PDP), que nada mais é do que um conjunto disciplinado e bem definido de tarefas,
passos e fases que descrevem os meios usuais pelo qual uma empresa repetidamente converte
ideias embrionárias em produtos e serviços vendáveis[1]. Estudos indicam que a adoção de
um PDP formal está fortemente correlacionada com um desempenho superior nos
negócios[2,3], o que indica que a informalidade excessiva no processo de inovação é um
“vilão” que deve ser combatido pelas empresas de base tecnológica.
Ao lidar com problemas complexos de inovação, as empresas necessitam de recursos:
pessoas, infraestrutura, máquinas, computadores, software, etc. Dentre estes o mais
importante é o capital humano: para inovar são necessários doutores, mestres, engenheiros,
técnicos qualificados para pensar qual tecnologia desenvolver e como desenvolvê-la. A
exigência de recursos, em especial na forma de profissionais capacitados, nos leva à segunda
barreira para a inovação tecnológica: a demanda de altos investimentos financeiros. O
tamanho do orçamento destinado aos esforços de P&D está correlacionado com qualidade dos
produtos e serviços da empresa e, consequentemente, ao seu sucesso empresarial[2].
No Brasil, uma fonte de recursos financeiros para inovação ao alcance das EBTs é o fomento
tecnológico. Iniciativas governamentais canalizam recursos através de órgãos como o CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a FINEP (Financiadora
de Estudos e Projetos) e fundações estaduais (como a FAPESC – Fundação de Amparo à
Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina) e também em programas de setores
específicos da indústria, como o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da ANEEL
(Agência Nacional de Energia Elétrica) do setor elétrico brasileiro. Estes recursos estão ao
alcance das empresas inovadoras, desde que estas atendam aos requisitos em termos de
capacitação técnica e governança corporativa da organização e de originalidade e viabilidade
técnica e econômica da proposta de projeto, conforme regras dos programas de fomento.
A AQTech é uma empresa de base tecnológica que desenvolve tecnologias inovadoras para
monitoração de geradores de energia elétrica. Localizada em Florianópolis/SC, foi fundada
em 2004 dentro da incubadora MIDI tecnológico. Este artigo descreve a experiência prática
da AQTech na definição e implantação de seu Processo de Desenvolvimento de Produtos e na
aplicação deste dentro de um projeto financiado através de fomento tecnológico do programa
ANEEL de P&D. Para embasamento teórico, primeiramente são delineadas as abordagens de
inovação segundo o programa ANEEL e segundo o campo de conhecimento da engenharia de
produto.
2. A inovação segundo critérios de P&D ANEEL
O programa ANEEL de P&D, regido pela Lei nº 9.991 de 24 de julho de 2000[4],
regulamenta os investimentos em pesquisa e desenvolvimento por parte das empresas
concessionárias do setor de energia elétrica no Brasil. Esta lei regulamenta que as
concessionárias de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica ficam obrigadas a
aplicar, anualmente, um percentual de sua receita operacional líquida em pesquisa e
desenvolvimento no setor elétrico brasileiro.
Os projetos de P&D ANEEL devem ser realizados em parceria com uma entidade executora e
entidades cooperadas, todas nacionais, que podem ser centros de pesquisa e desenvolvimento,
instituições de ensino superior, empresas de consultoria, empresas de base tecnológica e
empresas incubadas. Os temas para investimento em P&D são definidos pela ANEEL e
4/ 16
englobam: fontes alternativas de geração de energia elétrica; geração termelétrica; gestão de
Bacias e reservatórios; meio ambiente; segurança; eficiência energética; planejamento de
sistemas de energia elétrica; operação de sistemas de energia elétrica; supervisão, controle e
proteção de sistemas de energia elétrica; qualidade e confiabilidade dos serviços de energia
elétrica; e medição, faturamento e combate a perdas comerciais[5].
Segundo o manual de 2012 da ANEEL as propostas de projeto dentro do seu programa são
avaliadas segundo critérios de originalidade, aplicabilidade, relevância e razoabilidade dos
custos[6,7].
O critério originalidade, eliminatório, visa avaliar o enquadramento do projeto como atividade
de P&D sem precedentes no estado-da-arte. Por este motivo é obrigatória a elaboração e
apresentação de uma busca de anterioridade, que deve englobar bases de dados de patentes,
produção científica, o próprio histórico de projetos ANEEL, entre outras fontes pertinentes.
O critério aplicabilidade avalia o potencial de aplicação do resultado do projeto de P&D, o
que se resume a quem aplicará o produto final (concessionária, empresa executora ou o setor
elétrico) e em que abrangência (área, segmento, classe e número de consumidores, etc.)[6]. Os
tipos de produto principal estão relacionados com a fase de inovação prevista para o projeto,
conforme consta no quadro 1.
Quadro 1 – tipos de produto principal segundo a ANEEL
Fase da cadeia
de inovação Descrição da fase da cadeia de inovação Produto principal
Pesquisa básica
dirigida
Fase teórica ou experimental destinado à busca de
conhecimento sobre novos fenômenos, com vistas ao
desenvolvimento de produtos e processos inovadores.
Envolve a análise de propriedades, estruturas e conexões
para formular ou comprovar hipóteses, teorias e leis.
Estrutura, modelo ou
algoritmo.
Pesquisa
aplicada
Aplicação de conhecimento adquirido, com vistas ao
desenvolvimento ou aprimoramento de produtos e
processos. Conduz à descoberta de aplicações do
conhecimento advindo da pesquisa básica dirigida ou de
novos métodos e maneiras de alcançar um objetivo
específico.
Metodologia ou técnica;
protótipo ou projeto
demonstrativo.
Desenvolvimen
to experimental
Fase sistemática, delineada a partir de conhecimento pré-
existente, visando à comprovação ou à demonstração da
viabilidade técnica ou funcional de novos produtos,
processos, sistemas e serviços ou, ainda, o aperfeiçoamento
do já produzido ou estabelecido.
Softwares ou serviços;
implantação de projeto piloto;
protótipo de equipamento, de
dispositivo ou de material.
Cabeça de série
Aperfeiçoamento de protótipo obtido em projeto de P&D
anterior. Procura-se, assim, melhorar o desenho e as
especificações do protótipo para eliminar peças e
componentes com dificuldade de reprodução em larga
escala. Aprimoramento do produto
com vistas à produção
industrial ou à
comercialização. Lote pioneiro
Primeira fabricação de produto ou reprodução de licenças,
em “escala piloto”, para ensaios de validação, análise de
custos e refino do projeto, com vistas à produção industrial
e/ou à comercialização.
Inserção no
mercado
Encerra a cadeia da inovação e busca a difusão no setor
elétrico dos resultados obtidos.
O critério relevância do manual ANEEL de P&D avalia as contribuições ou impactos do
projeto em termos científicos, tecnológicos, econômicos e socioambientais, incluindo todos os
resultados do projeto de P&D. Estes resultados – identificados pela ANEEL como produtos
secundários (ou adicionais) – podem vir em termos de capacitação profissional, capacitação
5/ 16
tecnológica (produção técnico científica, apoio à infraestrutura e propriedade intelectual),
impactos socioambientais e impactos econômicos, conforme consta no quadro 2.
Quadro 2 - produtos secundários (ou adicionais) segundo a ANEEL
Produtos secundários Definição segundo manual ANEEL[5]
Capacitação profissional
Número e tipo de monografias, dissertações e teses defendidas por membros da
equipe do projeto de P&D durante a execução do projeto. Devem ser vinculadas
ao projeto e realizadas por instituição reconhecida pelo Ministério da Educação
– MEC, cujo curso de pós-graduação seja recomendado pela Coordenadoria de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. Não inclui as
atividades de treinamento interno, como as desenvolvidas por universidades
corporativas e outras entidades não acadêmicas de prestação de serviços de
treinamento e capacitação.
Capacitação
tecnológica
Produção
técnico
científica
Deverão ser analisados o tipo de produção técnico científica (Periódico ou
Anais; Nacional ou Internacional), o título do trabalho, o nome do evento e a
cidade onde foi realizado.
Apoio à
infraestrutura
Pertinência da aquisição de materiais permanentes e equipamentos para a
execução do projeto de P&D. materiais permanentes e os equipamentos, o
nome do laboratório (novo ou existente), a área de pesquisa e a entidade
beneficiada.
Propriedade
intelectual
Comprovação de solicitação de Pedido de Patentes de Invenção ou de Modelos
de Utilidade ou de Registro de Software ou de Desenho Industrial.
Impactos Socioambientais
a) ISA1: Possibilidade de impactos ambientais (água, ar ou solo).
b) ISA2: Possibilidade de diversificação da matriz energética.
c) ISA3: Possibilidade de desenvolvimento de nova atividade socioeconômica
(lazer, turismo, pesca, agricultura, etc.).
d) ISA4: Possibilidade de impactos na segurança ou na qualidade de vida da
comunidade.
Impactos
Econômicos
Produtividade
Mudanças nos processos operacionais ou administrativos da empresa,
reduzindo homem-hora, materiais, insumos e/ou tempo de execução da(s)
atividade(s)
Qualidade do
fornecimento
Redução do índice de reclamações, dos índices de continuidade (DEC, FEC e
TMA) e dos índices de qualidade da energia fornecida, como VTCDs e outros
distúrbios na rede.
Gestão de
ativos
Redução ou da postergação de investimentos na expansão ou manutenção do
sistema elétrico, bem como da redução do índice de roubo de equipamentos ou
materiais.
Perdas não
técnicas
combate a fraudes e desvios, erros de medição e faturamento ou pela redução
de inadimplência nas diversas classes de consumo: residencial, industrial,
comercial, rural, poder público, iluminação pública e serviço público.
Mercado da
empresa
Impactar o mercado de energia da empresa e de outras empresas do setor,
reduzindo o custo da energia gerada ou adquirida e/ou os erros de previsão do
mercado futuro de energia elétrica.
Eficiência
energética
No lado da oferta, pode ser decorrência de aumento na eficiência do sistema de
geração, transmissão e/ou distribuição de energia, aumentando, assim, a
capacidade e/ou confiabilidade do sistema. Do lado da demanda, pode ser
decorrência de aumento na eficiência dos equipamentos de uso final, gerando
economia de energia (kWh) ou reduzindo demanda no horário de ponta do
sistema (kW).
O último dos critérios de avaliação da ANEEL, a razoabilidade dos custos, avalia os impactos
econômicos decorrentes da aplicação dos resultados do projeto, por meio do confronto entre
os investimentos previstos ou realizados e os benefícios esperados ou proporcionados. Os
benefícios econômicos devem ser demonstrados por meio de um estudo de viabilidade
econômica ou de uma avaliação da expectativa de retorno do investimento realizado, com
horizonte de tempo definido, tomando-se como referência os custos de execução do projeto e
de aplicação de seus resultados e os benefícios decorrentes de sua implantação[6].
6/ 16
3. A inovação segundo a engenharia de produto
O estado-da-arte da engenharia de produto preconiza que as inovações dentro das empresas de
base tecnológica podem ser alcançadas através de um Processo de Desenvolvimento de
Produtos estruturado, formal e adaptado à realidade da empresa e de cada projeto específico
de desenvolvimento. Este PDP deve ser estruturado em um modelo de referência que mapeie
e integre as atividades, recursos, informações e melhores práticas em um mapa comum para
todos os envolvidos no projeto de P&D. Além disso, nas visões contemporâneas do campo de
conhecimento, o PDP é visto como um processo de negócio, ou seja, o seu foco é resultar em
produtos que tenham valor para os clientes da empresa.
Hoje na literatura de engenharia de produto existem diversos modelos que podem ser
utilizados como referência para a definição do PDP de empresas de base tecnológica. Um
destes modelos é o Modelo Unificado de Referência (MUR) elaborado por Rozenfeld et al.[8]
e representa um PDP que engloba as melhores práticas na visão de pesquisadores de três
grupos de pesquisa[9].
O MUR é composto por três “macrofases”: Pré-desenvolvimento, Desenvolvimento e Pós-
desenvolvimento (fig.1). Estas, por sua vez, são divididas em fases, atividades e tarefas
necessárias para o desenvolvimento de produtos.
Figura 1 - Visão geral do Modelo Unificado de Referência
Neste modelo de referência, a macrofase de Pré-desenvolvimento aborda a fase de
Planejamento Estratégico de Produtos (PEP), que, com base em análises preliminares de
tecnologia e mercado, traduz o portfólio de produtos da empresa e o seu alinhamento com os
objetivos estratégicos da organização. Esta macrofase também envolve o planejamento de
cada projeto de produto individual, que, de forma congruente com as abordagens de
gerenciamento de projetos, aborda a definição do escopo, estimativas de tempo, custos,
recursos humanos, comunicações, riscos e aquisições do projeto[10].
Na macrofase de Desenvolvimento são realizadas efetivamente as atividades de projeto,
envolvendo as fases de Projeto Informacional (PI), Projeto Conceitual (PC), Projeto
Detalhado (PD), Preparação da Produção (PP) e Lançamento do Produto (LP). É importante
citar que, embora aqui elas tenham sido descritas sequencialmente, muitas das fases citadas
acontecem de maneira sobreposta, de acordo com a filosofia de engenharia simultânea.
O objetivo do PI é estabelecer, a partir de um levantamento detalhado e minucioso de
informações, as especificações-meta do produto, um conjunto de requisitos mensuráveis com
Melhoria do processo de desenvolvimento de produtos
Gerenciamento de mudanças de engenhariaProcessos
de apoio
Processos
de apoio
Desenvolvimento
Projeto
Detalhado
Projeto
Conceitual
Projeto
Informacional
Lançamento
do Produto
Preparação
Produção
Planejamento
Projeto
PósPré
Planejamento
Estratégico
dos Produtos
Descontinuar
Produto
Acompanhar
Produto/
Processo
Gates >>
Processo de Desenvolvimento de Produto
Melhoria do processo de desenvolvimento de produtos
Gerenciamento de mudanças de engenhariaProcessos
de apoio
Processos
de apoio
Desenvolvimento
Projeto
Detalhado
Projeto
Conceitual
Projeto
Informacional
Lançamento
do Produto
Preparação
Produção
Planejamento
Projeto
PósPré
Planejamento
Estratégico
dos Produtos
Descontinuar
Produto
Acompanhar
Produto/
Processo
Gates >>
Processo de Desenvolvimento de Produto
Desenvolvimento
Projeto
Detalhado
Projeto
Conceitual
Projeto
Informacional
Lançamento
do Produto
Preparação
Produção
Planejamento
Projeto
PósPré
Planejamento
Estratégico
dos Produtos
Descontinuar
Produto
Acompanhar
Produto/
Processo
Gates >>
DesenvolvimentoDesenvolvimento
Projeto
Detalhado
Projeto
Conceitual
Projeto
Informacional
Lançamento
do Produto
Preparação
Produção
Planejamento
ProjetoProjeto
Detalhado
Projeto
Conceitual
Projeto
Informacional
Lançamento
do Produto
Preparação
Produção
Projeto
Detalhado
Projeto
Conceitual
Projeto
Informacional
Lançamento
do Produto
Preparação
Produção
Planejamento
Projeto
PósPósPréPré
Planejamento
Estratégico
dos Produtos
Descontinuar
Produto
Acompanhar
Produto/
Processo
Descontinuar
Produto
Acompanhar
Produto/
Processo
Gates >>Gates >>
Processo de Desenvolvimento de Produto
7/ 16
valores-alvo e informações qualitativas adicionais que refletem como as necessidades dos
clientes serão atendidas de uma forma ideal. Esta fase é marcada pela preocupação constante
em registrar de forma eficaz “a voz do cliente”.
Na fase de PC as especificações-meta são transformadas na concepção do produto, que traduz
de forma mais concreta as funcionalidades e características do produto. A fase envolve a
modelagem funcional do produto, a elaboração de suas alternativas de solução, arquitetura e
alternativas de modelos de concepção, que ao final da fase deverão ser avaliadas até que se
chegue à melhor concepção para o produto (que envolve também uma previsão de como este
será produzido).
Em seguida, a fase do PD engloba a concretização final do produto, onde são detalhadas as
suas funcionalidades, características técnicas finais e o detalhamento das operações
produtivas. As saídas típicas desta fase são as especificações detalhadas do produto – BOM
(Bill of Material ou lista de material ou estrutura do produto), especificações dos Sistemas,
Subsistemas e Componentes (SSC), desenhos finais com tolerâncias, plano de processo
detalhado – e um protótipo funcional.
Na fase de PP são concretizados os recursos de produção previstos nas fases anteriores,
envolvendo o refinamento do processo, a obtenção dos recursos e infraestrutura produtivos
necessários, planejamento e produção de um primeiro lote e homologação do processo. O
principal resultado desta fase é um lote piloto do produto, que deve atender às especificações
técnicas detalhadas na fase anterior.
A macrofase de Desenvolvimento é finalizada com a fase LP, que viabiliza o produto
comercialmente para os clientes. Esta etapa engloba o desenvolvimento dos processos de
suporte à comercialização do produto (vendas, distribuição, atendimento ao cliente e
assistência técnica) e as atividades de marketing e evento de lançamento propriamente dito. A
saída principal desta fase é o produto no mercado, sendo utilizado pelos clientes aos quais se
destina.
A macrofase de Pós-Desenvolvimento abrange as fases de Acompanhamento do Produto e
Processo e Descontinuação do Produto no Mercado. A fase de Acompanhamento do Produto
e Processo envolve basicamente a monitoração do desempenho do produto desenvolvido, que
resulta em relatórios que possuem o objetivo de melhorar continuamente a qualidade com que
os clientes da empresa estão sendo atendidos. Já a fase de Descontinuação do Produto no
Mercado engloba a retirada do produto de circulação e o encerramento efetivo do seu ciclo de
vida, acompanhado do fechamento formal do projeto e realimentação do processo.
Durante todo o desenvolvimento, o modelo ainda prevê a realização de processos de apoio. O
gerenciamento de mudanças de engenharia é realizado para registrar as lições aprendidas
durante o desenvolvimento que possam impactar positivamente no produto e processo, em um
ciclo de melhoria contínua. De forma análoga, o processo de melhorias do PDP engloba as
atividades de aprimoramento são coordenadas de modo a viabilizar a evolução contínua do
processo.
Todavia, é importante ressaltar que o MUR não representa um modelo específico de PDP para
ser aplicado diretamente à projetos de P&D dentro de uma empresa. O MUR é um modelo de
referência genérico, ou seja, ele representa a idealidade do processo de inovação de produtos
segundo as melhores práticas do campo de conhecimento, devendo ser adaptado para
realidades específicas como, por exemplo, um setor da economia, uma empresa específica ou
mesmo tipos diferentes de projeto dentro de uma mesma organização (fig. 2). Neste contexto,
os modelos específicos servem como uma referência para o processo da empresa, padroni-
zando as etapas e os conceitos e a terminologia envolvida no desenvolvimento.
8/ 16
Figura 2 - Modelos de referência genéricos, específicos e projetos. Fonte: Rozenfeld (2007)
Desta maneira, os modelos de referência específicos são adaptados a cada um dos projetos de
produto da empresa, dependendo de características inerentes ao desenvolvimento. Por
exemplo, a avaliação do quão completo o modelo de PDP deverá ser para aplicação em um
determinado projeto pode ser realizada através de uma matriz que avalie a novidade e a
complexidade do projeto em questão (fig.3).
Figura 3 – matriz de avaliação de novidade e complexidade para adaptação do PDP
Neste caso, projetos com alto grau de novidade para a empresa e alto grau de complexidade
da tecnologia a ser desenvolvida (inovação radical, por exemplo) demandam modelos de PDP
completos e minuciosos, representados na figura 3 pelos quadrados vermelhos do canto
superior direito da matriz. Já projetos de P&D rotineiros e com baixa complexidade, como,
por exemplo, desenvolvimentos de inovações incrementais de produto, demandam modelos
de PDP mais simples e enxutos, representados pelo quadrado branco do canto inferior
esquerdo da matriz.
9/ 16
4. A experiência da AQTech em inovação
4.1 Processo de Desenvolvimento de Produtos na prática
A AQTech tem buscado um modelo estruturado de desenvolvimento de produtos desde 2006,
como uma forma de sistematizar o seu processo de inovação. As iniciativas neste sentido
foram compostas por parceria com o Grupo de Engenharia de Produto e Processo (GEPP) da
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina e formação em nível de mestrado de membro
da equipe AQTech no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, também da
UFSC.
O modelo adotado pela AQTech como base para a estruturação de seu PDP foi o Modelo
Unificado de Referência[8], que foi adaptado em um primeiro momento para Empresas
Nascentes de Base Tecnológica[11] e, posteriormente, para os projetos da AQTech. O modelo
de PDP da AQTech é ilustrado na figura 4.
Figura 4 - Modelo de PDP da AQTech
O modelo de PDP da AQTech agrega as filosofias e melhores práticas de PDP da literatura,
tais como alinhamento estratégico do portfólio, planejamento formal das etapas de projeto
com estágios de avaliação marcados por entregáveis (artefatos), utilização de times
multifuncionais, integração com o planejamento de produção, entre outras.
O processo de desenvolvimento de novos produtos da empresa inicia com base no Plano
Estratégico Empresarial (PEE), documento que define os cenários futuros da empresa e os
desdobra em objetivos estratégicos de longo prazo. Com base nestas informações o
Planejamento Estratégico de Produtos, a primeira etapa do PDP, desdobra os PEE em
produtos e serviços atuais e futuros. Os resultados dessa fase são o portfólio de produtos,
ideias de projeto cronologicamente organizadas e esboço dos próximos projetos a serem
desenvolvidos.
A segunda fase do modelo é o planejamento do projeto, que detalha minuciosamente as
informações necessárias para a gestão de projetos em termos de escopo, tempo (cronograma),
custos (orçamento), integração, qualidade, recursos humanos, comunicações, riscos, aquisição
e envolvidos no desenvolvimento da inovação proposta. Estas informações são formalizadas
no plano de projeto, que é o artefato formal da fase.
Em seguida é executado o projeto informacional, que detalha todas as informações acerca do
projeto para detalhar de forma minuciosa a “dor do cliente”, ou seja, o problema ou lacuna
Lançamentodo Produto
Preparaçãoda Produção
Projetodetalhado
ProjetoConceitual
ProjetoInformacional
Planejamentodo Projeto
PlanejamentoEstratégico de
Produtos
Plano EstratégicoEmpresarial
Portfólio deProdutos
Ideias de Projeto
Plano de Projeto Especificações-Meta
Concepção doproduto
Especificação finaldo produto
Protótipo funcional
Procedimento deprodução
Lote piloto
Folder de produto
Produto
Datasheets decomponentes
Manual do produto
Artefatos Fases
LEGENDA
Arquitetura doproduto
Listas decomponentes
Relatório devalidação doprotótipo
Esboço de Projeto
Protótipo virtual
10/ 16
que o produto final deve solucionar. O resultado da etapa de projeto informacional é a
especificação-meta do produto.
Com base na especificação-meta é realizado o projeto conceitual do produto, que detalha as
tecnologias e estratégias de desenvolvimento que serão adotadas para solucionar as
necessidades do cliente. Artefatos que são resultados típicos desta fase são a concepção e
arquitetura do produto e um protótipo virtual.
Em seguida é realizado o projeto detalhado, que se desdobra nas atividades de
desenvolvimento técnico propriamente dito. Tarefas típicas da fase de projeto detalhado são
design de esquemático eletroeletrônico, projeto mecânico, layout de placas de circuito
impresso, programação de firmware, desenho de software, codificação do software, entre
outras. Os resultados desta fase são a especificação final do produto, lista de componentes,
relatórios de validação do protótipo e o próprio protótipo funcional.
A partir disso é realizada a preparação para produção do produto. Esta etapa formaliza os
recursos de manufatura necessários para viabilizar o produto na forma de procedimento de
produção e executa a fabricação de um lote do produto em caráter piloto, tipicamente em
baixa escala.
A última etapa do modelo é o lançamento do produto. Nesta fase são concretizados os
documentos básicos para a comercialização futura do produto no mercado. Resultados típicos
desta fase são compostos pelo folder comercial do produto, datasheet do produto, manual do
produto e o próprio produto final que é resultado do projeto de P&D.
4.2 Fomentos tecnológicos
Na última década a AQTech vem utilizando o fomento tecnológico para viabilizar o alcance
de seus produtos inovadores para o setor de energia elétrica. O histórico da equipe da
empresa, que ecoa em experiências anteriores à sua fundação, é composto por uma dúzia de
projetos de P&D realizados dentro de programas de fomento de órgãos como CNPq, FINEP,
FAPESC e em parceria com grandes concessionárias de energia do setor elétrico brasileiro
como CELESC, CEMIG, CESP e ENDESA.
Os esforços para alcançar os pré-requisitos que tornam a AQTech elegível e atrativa para a
execução de P&D em programas de fomento englobaram investimentos na capacitação
técnica da equipe e rigor em termos de governança corporativa.
O mercado de atuação da AQTech é o setor elétrico brasileiro, o que naturalmente direciona
os esforços de captação de projetos de fomento da empresa para o programa ANEEL de P&D.
Algumas tendência do mercado confirmam a atratividade desta estratégia de patrocínio da
inovação dentro de empresas de base tecnológica. Pode-se citar, por exemplo, a migração do
foco dos projetos de P&D para o ambiente empresarial ao invés da academia, o que
demonstra o viés do mercado em busca de produtos comerciais dentro das etapas finais da
cadeia de inovação (desenvolvimento experimental, cabeça de série e inserção no mercado)
em detrimento às pesquisas puramente acadêmicas.
A experiência mais recente da AQTech no programa ANEEL de P&D é a execução do projeto
de desenvolvimento experimental intitulado “Nacionalização de produto para monitoramento
de grupos geradores” em parceria com a concessionária de geração ENDESA Brasil. Este
projeto compõe o esforço de P&D que converge para resultados que incluem tanto alto grau
de inovação em termos de pesquisa científica quanto a concretização da tecnologia para futura
comercialização na forma de produto comercial. O produto principal do projeto AQTEch-
ENDESA é um protótipo nacional para monitoração de grupos geradores, que integra
11/ 16
hardware e software para digitalização e registro de sinais elétricos, comunicação serial
RS232/485 e ethernet em protocolo Modbus e conectividade em rede ethernet e GSM/GPRS.
A aplicação principal do produto é o monitoramento de grupos geradores a diesel, gás natural,
dentre outros combustíveis. Em concessionárias de energia a aplicação direta do produto está
no monitoramento dos geradores usados nos serviços auxiliares das plantas, além da
disponibilidade da fonte de energia de emergência. As possibilidades de expansão da
aplicação do produto incluem a monitoração de aproveitamentos baseados em energias
renováveis tais como eólica, solar, biomassa, entre outras. Também contempla a sua
utilização como plataforma de telemetria para sistemas de geração distribuída. Estes aspectos
alinham o projeto tanto à vertente do crescimento da geração em plantas de autoprodução
quanto as novas vertentes que visam tornar a matriz energética mais limpa e preparar o
mercado para a operação através de redes inteligentes (smart grids). É um projeto de ampla
aplicabilidade no setor elétrico, podendo ser aplicado a grupos geradores em sistemas
auxiliares, geradores de emergência, grupos locais, etc.
Os resultados planejados para o projeto AQTech-ENDESA incluem quase que a totalidade
dos tipos de produto principal previstos pelo manual de P&D ANEEL, conforme pode ser
visto no quadro3.
Quadro 3 – Produtos principais do projeto AQTech-ENDESA
Fase da cadeia
de inovação
Tipos de produto principal
como preconizado pela
ANEEL[6]
Produtos resultantes do projeto AQTech-ENDESA
Desenvolvimento
experimental
Softwares Software embarcado otimizado para aquisição de dados
Software web para monitoramento de geradores
Serviços Serviços de monitoramento de geradores (SaaS)
Implantação de projeto
piloto
Implantação de projetos pilotos de monitoramento de
geradores
Protótipo de equipamento de
dispositivo Protótipo de hardware para monitoramento de geradores
Protótipo de material. -
Em termos de produtos secundários, conforme critério relevância do manual ANEEL de
P&D, o projeto AQTech-ENDESA contribui em termos de capacitação profissional,
capacitação tecnológica (produção técnico científica e apoio à infraestrutura), impactos
socioambientais e impactos econômicos, conforme consta no quadro 4.
Quadro 4 - produtos secundários (ou adicionais) do projeto AQTech-ENDESA
Produtos secundários como
preconizado pela ANEEL[6] Produtos resultantes do projeto AQTech-ENDESA
Capacitação profissional
Três monografias de graduação e duas dissertações de mestrado para membros
da equipe do projeto de P&D no IFSC, UFSC e Unisul, instituições
reconhecidas pelo Ministério da Educação – MEC.
Capacitação
tecnológica
Produção
técnico
científica
Cinco artigos em publicações técnico científicas.
Apoio à
infraestrutura
Materiais permanentes e equipamentos para a execução do projeto de P&D em
laboratório do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa
Catarina (IFSC)
12/ 16
Produtos secundários como
preconizado pela ANEEL[6] Produtos resultantes do projeto AQTech-ENDESA
Impactos Socioambientais
-Redução de impactos ambientais (água, ar ou solo): a monitoração de grupos
geradores possibilita a auditoria de emissões de carbono.
-Diversificação da matriz energética: a monitoração de geração eólica e solar
apoia o estudo de viabilidade econômica de fontes renováveis.
-Impactos na segurança ou na qualidade de vida da comunidade: a monitoração
de geração contribui para a redução da indisponibilidade da energia elétrica
para a comunidade.
Impactos
Econômicos
Produtividade A monitoração dos geradores impacta na redução de custos de homem-hora e
peças sobressalentes nas atividades de manutenção.
Qualidade do
fornecimento
Redução do índice de reclamações, dos índices de continuidade (DEC, FEC e
TMA) e dos índices de qualidade da energia fornecida, como VTCDs e outros
distúrbios na rede.
Gestão de
ativos
A monitoração dos geradores impacta no aumento da vida útil e consequente
postergação de investimentos na expansão ou manutenção do sistema elétrico
de geração.
Perdas não
técnicas
A monitoração de geração distribuída quando amplamente adotada pode
impactar na redução de fraudes e desvios, erros de medição e faturamento.
Mercado da
empresa
A monitoração de geradores possibilita a auditoria de contratos de energia, o
que pode impactar no mercado de energia da empresa e reduzir o custo da
energia gerada ou adquirida.
Eficiência
energética
A monitoração de geradores aumenta a eficiência do sistema de geração,
aumentando a capacidade e/ou confiabilidade do sistema.
Destaca-se também como resultados uma série de Workshops realizados como transferência
tecnológica entre a AQTech e os parceiros de pesquisa IFSC, UFSC e UNISUL, com a
participação de professores e alunos; interações com potenciais clientes e usuários para
levantamento de requisitos, refinamento de especificação e validação dos protótipos; e o
desenvolvimento técnico de novos fornecedores e co-desenvolvedores. Estes resultados não
foram incluídos nos quadros acima.
4.3 Business Model Canvas
Durante a fase de planejamento estratégico de produtos do modelo de PDP da AQTech,
algumas ferramentas de avaliação do portfólio de produtos (e consequentemente dos projetos
de P&D) são utilizadas como ferramentas de apoio à decisão. Dentre elas está a metodologia
Business Model Canvas para a modelagem do negócio (fig.5).
13/ 16
Figura 5 – Business Model Canvas
A metodologia Canvas, proposta por Osterwalder[12, 13], prevê a construção do modelo de
negócio através de 9 blocos bem definidos:
Segmentos de clientes: define os diferentes grupos de pessoas ou organizações que
uma empresa pretende alcançar e servir;
Proposições de valor: descreve o pacote de produtos e serviços que criam valor para
um segmento de clientes específico;
Canais: descreve como uma empresa se comunica e atinge os seus segmentos de
clientes para oferecer uma proposição de valor;
Relacionamento com o cliente: descreve os tipos de relacionamentos que uma empresa
estabelece com segmentos específicos de clientes;
Fluxos de receita: representa o dinheiro de uma empresa gera a partir de cada
segmento de clientes (os custos devem ser subtraídos das receitas para criar ganhos);
Recursos chave: descreve os ativos mais importantes que são requeridos para fazer um
modelo de negócio funcionar;
Atividades chave: descreve as coisas mais importantes que uma empresa deve fazer
para fazer o seu modelo de negócio funcionar;
Parcerias chave: descreve a rede de fornecedores e parceiros que fazem o modelo de
negócio funcionar;
Estrutura de custo: descreve todos os custos incorridos para operar o modelo de
negócio.
O fato de a AQTech ser uma empresa de base tecnológica implica que há um forte viés de
negócio no processo de inovação. A própria adoção do Modelo Unificado de Referência para
o PDP, que vê o desenvolvimento de produtos como um processo de negócio, segue nessa
vertente. A figura 6 ilustra a aplicação do Business Model Canvas dentro da AQTech.
14/ 16
Figura 6 – aplicação de Business Model Canvas na AQTech
4.3 Dificuldades em balancear as abordagens de inovação
Durante todo o seu processo de formação como empresa, a AQTech esteve permeada pela
necessidade de acoplar as diferentes demandas dentro do processo de inovação, entre elas o
estado-da-arte no desenvolvimento de produto e as exigências e regras dos programa de
fomento tecnológico (tal como o programa ANEEL de P&D).
Em 2013 foi realizado, durante a execução do projeto AQTech-ENDESA, um trabalho de
conclusão de curso de Engenharia de Produção da UFSC cujo objetivo foi propor melhorias
no PDP da AQTech[14]. O estudo identificou o afastamento do modelo de desenvolvimento
da empresa de conceitos enxutos (lean) e sugeriu melhorias para o processo de PDP. Além
disso, propiciou uma análise mais ampla da situação em que foram identificadas divergências
entre as visões da engenharia de produto em uma EBT e do programa ANEEL de P&D.
Entende-se que a identificação destes desacoplamentos é importante para abrir uma
perspectiva de conciliação das duas abordagens.
A primeira diferença entre as abordagens está no fato de que o P&D ANEEL não é focado em
processos de negócio. Os resultados do processo de inovação segundo a ANEEL não visam
especificamente agregar valor para clientes (no sentido comercial da palavra) da EBT, mas
ficam em objetivos mais acadêmicos de pesquisa. Esta característica embute para a EBT uma
demanda extra no processo de desenvolvimento de produtos inovadores. Além de se
preocupar em chegar a produtos comercialmente viáveis e que atendam as necessidades dos
clientes, a equipe de projeto da EBT precisa também considerar a relevância estritamente
científica do projeto (publicar artigos técnicos, por exemplo).
Outra característica dos projetos de P&D com fomento tecnológico que afasta o PDP de
conceitos enxutos é a carga excessiva de burocracia. A experiência da AQTech é povoada por
vivências neste sentido. O desenho de um circuito eletrônico que leva 6 semanas em um
projeto interno consome 14 semanas quando dentro de um projeto de fomento, por exemplo.
Essa carga extra é decorrente da série de relatórios, planilhas de controle, reuniões de
coordenação externas e demais atividades trazidas pelo rigor de gestão da patrocinadora do
projeto. Estas exigências ainda variam de empresa para empresa, não seguindo um padrão.
Esta característica dos projetos fomentados, embora inerente ao processo, implica muitas
vezes em uma carga de coordenação do projeto superior ao próprio desenvolvimento técnico
do projeto de P&D, o que afasta o processo de inovação de conceitos enxutos. Ao contrário
do que preconiza a literatura de PDP, o programa ANEEL de P&D não prevê modelos
simplificados de projeto em função da fase da cadeia inovação e complexidade do resultado
final, para citar alguns exemplos. O que acontece na prática é que projetos grandes e
15/ 16
complexos de inovação radical são tratados com o mesmo rigor técnico-científico e contábil
de projetos enxutos e de inovação incremental.
Outro desacoplamento encontrado entre as abordagens do P&D ANEEL e o do campo de
conhecimento do PDP está nos resultados da inovação. Enquanto o PDP foca nos resultados
alcançados pela exploração comercial do produto, ou seja, da venda de produtos e seu
impacto em termos de receita e lucratividade da EBT, o P&D ANEEL exige a apresentação
de resultados científicos menos tangíveis, como a capacitação profissional, capacitação
tecnológica (produção técnico científica, apoio à infraestrutura e propriedade intelectual) e
impactos socioambientais. Mesmo os impactos econômicos previstos no manual da ANEEL
(produtividade, qualidade do fornecimento, gestão de ativos, perdas não técnicas, mercado da
empresa e eficiência energética) se aplicam à concessionária de energia e não à empresa de
base tecnológica que é executora do projeto de P&D. Seguindo este raciocínio, mesmo um
projeto que resulte em um produto inovador que gera milhões de reais em receita poderá ser
mal avaliado pela ANEEL se não incluir a publicação de artigos, conclusões de pós-
graduação, patentes depositadas, e assim por diante.
Diante destas perspectivas cabe buscar um alinhamento estratégico entre a abordagem do PDP
e o programa de P&D ANEEL visando uma maior proximidade com a realidade das EBTs
brasileiras.
5. Conclusão
Este artigo apresentou a experiência da AQTech na aplicação de um Processo de
Desenvolvimento de Produtos dentro de um projeto de P&D do programa ANEEL de
inovação. Como resultado apresenta-se as seguintes sugestões e recomendações para
aproximar as visões do PDP e da ANEEL a respeito do processo de inovação:
Fortalecer a relevância dos resultados de negócio das EBTs executoras de projetos de
P&D dentro do programa ANEEL;
Flexibilizar o modelo de gestão dos projetos fomentados no programa ANEEL, de
forma a diminuir a burocracia na coordenação das atividades de projeto e permitir a
adoção de conceitos enxutos;
Para as EBTs recomenda-se planejar os projeto de P&D dentro no programa ANEEL
considerando não só os resultados de projeto do produto, mas também a pesquisa
puramente científica.
A aplicação da metodologia Business Canvas permitiu a priorização do projeto AQTech-
ENDESA para os objetivos de negócio, o que funcionou como catalisador da adoção de um
modelo de comercialização inovador para o produto resultante.
Como oportunidades de trabalhos futuros, sugere-se a elaboração de um modelo de referência
para o processo de desenvolvimento de produtos inovadores especificamente para o programa
ANEEL de P&D. Tal modelo, específico do setor, deve ser adaptável com base em critérios
como fase da cadeia de inovação, grau de complexidade da tecnologia almejada, porte da
empresa, entre outros critérios pertinentes.
O alcance destas melhorias visa a facilitar o processo de inovação dentro de empresas de base
tecnológica em parceria com concessionárias de energia elétrica dentro do programa de P&D
ANEEL do setor elétrico brasileiro.
16/ 16
6. Referências
[1] PRODUCT DEVELOPMENT & MANAGEMENT ASSOCIATION (PDMA). NPD
Glossary. 2009. Disponível em: <http://www. pdma.org/npd_glossary.cfm>. Acesso em:
27 fev. 2009.
[2] COOPER, R. G.; KLEINSCHMIDT, E. J. Winning businesses in product development:
the critical success factors: a formal new product process isn't enough--you need a high-
quality process, a clear and visible strategy, enough people and money, and a respectable
R&D budget. How does your program rate on these 10 metrics? Research-Technology
Management, v. 50, n. 3, p 52-66, 2007.
[3] GRIFFIN, A. PDMA Research on New Product Development Practices: Updating
Trends and Benchmarking Best Practices. Journal of product Innovation Management,
New York, v. 14, p.429-458, 1997.
[4] BRASIL. Lei nº 9.991 de 24 de julho de 2000. Dispõe sobre realização de investimentos
em pesquisa e desenvolvimento e em eficiência energética por parte das empresas
concessionárias, permissionárias e autorizadas do setor de energia elétrica, e dá outras
providências. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF.
[5] ANEEL. Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Temas para investimentos em
P&D. Disponível em <http://www.aneel.gov.br/area.cfm?idArea=641>.
[6] ANEEL. Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Manual do programa de
pesquisa e desenvolvimento tecnológico do setor de energia elétrica. Brasília: ANEEL,
2012. 61 p.
[7] ANEEL. Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Guia do avaliador de projetos
de P&D - programa de pesquisa e desenvolvimento tecnológico do setor de energia
elétrica. Brasília: ANEEL, 2010. 30 p.
[8] ROZENFELD, H. et al. Gestão de desenvolvimento de produtos: uma referência para
a melhoria do processo. São Paulo: Saraiva, 2006. 542p.
[9] FORCELLINI, F. A. et al. Integrando os conhecimentos em PDP de três grupos de
pesquisa: proposta de um modelo de referência e suas aplicações. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE GESTÃO DE DESEN¬VOLVIMENTO DE PRODUTOS (CBGDP),
IV, 2003, Gramado. Anais... Gramado: UFRGS, 2003.
[10] PROJECT MANAGEMENT BODY OF KNOWLEDGE (PMBOK). Um guia do
conjunto de conhecimentos em gerenciamento de projetos (guia PMBOK). Project
Management Institute, Inc., 2004. 3ª ed., 405p.
[11] FREITAS, F. L. Modelo de referência para o processo de desenvolvimento de
produtos das empresas nascentes de base tecnológica da incubadora MIDI
Tecnológico. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro
Tecnológico, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Florianópolis,
2010. 225 p.
[12] Osterwalder, A. The Business Model Ontology - a proposition in a design science
approach. Ph.D. thesis, University of Lausanne, Ecole des Hautes Etudes Commerciales
HEC. 2004. 173 p.
[13] Osterwalder, A; Pigneur, Y; Smith, A. Business Model Generation: A Handbook
for Visionaries, Game Changers, and Challengers. John Wiley & Sons, New Jersey.
2010.
[14] HOLLER, W.R. Proposta de melhoria no processo de desenvolvimento de
produtos de uma pequena empresa de base tecnológica. Trabalho de Conclusão de
Curso apresentado ao Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da
Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do título em Engenharia, área
Elétrica, habilitação Produção Elétrica. Orientador: Prof. Fernando Antônio Forcellini, Dr.
Florianópolis, 2013.