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VI NHETA l MAG ENO L ÓG I CA l MAGENOLOGIC VI GNETTE Responveis: Art ur da Rocha Corrêa Fernandes e Jamil Na to ur Processos Não Neoplásicos do Tipo " Não Toque "C *) Non Neop/asic Process of Type "Don't Touch " André Yui Aihara(!), Claudia Kazue Yamaguchi(2), Jamil N atour (3) , Artur da Ro cha Co rrêa Fe rn and es (J) INTRODUÇÃO Quando es tamo s diant e de uma lesão óssea " tumoral", utilizamos parâmetros clinico-laboratoriais e de imagem para tent ar definir se es ta lesão é benigna ou malign a. Os dados clinicos que auxiliam na ca ra cterização de um tu mor ou lesão tumo ral são: 1. idade do pacie nt e; 2. lesão solitári a ou múltip la; 3. duração dos si ntomas; 4. velocidade de crescime nto do tumor. Com relação aos exames por image m, nem se mpre é fácil dizer se uma les ão óssea é beni gna ou maligna apenas com base na radiografi a. En tr etanto , alguns as pec to s carac- terísticos favorecem um ou outro diagnós ti co . Os tumor es be ni g no s geralmente apr ese nt am bo rd as es cleróti cas bem definid as, um tipo geográ fi co de d es truição óssea, uma reação periosteal sólid a, ininte rrupt a, e nen hu m co mp one nt e de part es mol es. As lesões malign as, por o utro lado, ten dem a mo strar bordas mal definid as co m uma zona larga de transição, um padr ão em roído de traça ou difuso de d es truição óssea, uma reação periosteal int e rrompida do tipo casca de cebola ou rai os de sol, e uma m assa de tecidos mol es adj ace nt e. Entretant O\, deve- se salie nt ar que lesões benignas tamb ém podem aprese nt ar característi cas agressivas l !) . To das as inf o rmações clinicas e radiológi cas so bre um p ac ie nt e qu e aprese nt e uma lesão óssea devem se r analisa das. O próximo passo - e o m ais imp ortant e - é decidir se a lesão é definiti va mente benign a, caso em que não deve se r biopsiada m as simp les ment e monitorizada ou c ompl eta- me nt e ignorada (l esa0 do tipo "não to qu e"); por o utr o lado, se a lesão p oss ui as pecto agr essivo ou ind ete rmin ado, deve se r melh or investigada por biópsia ou cirurgia(l) . Exist em alg umas lesões tumorais e processos não n eo - pl ás icos qu e simulam um tumor, m as c uj o as pec to de ima- gem, aliado aos dado s clínicos, é suficie nt e para presc indir de inv es tigação por bi ópsia ou cirurgia. Est as lesões são chamad as lesões do tipo "não toqu e" (T ab ela 1) (1) . T AilELA 1 L ESÕES DO TIPO "NÃO TOQUE " OBSERVADAS ATRAV ÉS DE EXAMES DE IMAGEM Tumores e lesões tumorais Defei to fibroso cortic al Fi broma não oss i fica nte Desmói de periost ea l Pequeno foco sol itário de displasia fi brosa Pseudotumor da hemofilia ngli o in tra-ósseo Encondroma em um oss o t ubular curto Processos não neoplásicos Fratu ra por est resse Fratura por avulsão Infa rt o óss eo Il hota óssea (enostose) Miosite ossi fi can t e Ci st os degenerat ivos e pós t raum áti cos Tumor marrom do hiperparatireoidi smo Esclerose verte bra l discogênica Departa mento de Di agnóstico por Imagem da Un i ve rsidade Federal de São P au lo IDDI/Unifesp/ EPM). São Paulo-S R Brasi l. I. DDI/Unifesp/EPM, São Paulo-SR Bras il. 2. Setor de Diagnóstico por Imagem da Sa nta Casa de Mi seri rd ia de São Paulo 3. Discipli na de R eu matologia da Unifesp/ EPM , São P au lo-SR Bras il. para co rrespondência: Artur da R ocha Corrêa Fernan des. Departamento de Diagnóstico por Imagem da Unive rsidade F ederal de São P au lo IDDIN nifesp/EPM). Rua Botu catu, 74 0, CEP 04023-900, São Paulo, SP Brasil. Rev Bras Reumatol . v. 44. n. 6. p. 479-85. nov./dez .. 2004 479

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VI NHETA lMAGENOLÓGICA

l MAGENOLOGIC VIGNETTE

Responsáveis: Artur da Rocha Corrêa Fernandes e Jam il Na tour

Processos Não Neoplásicos do Tipo "Não Toque"C*)

Non Neop/asic Process of Type "Don't Touch"

André Yui Aihara(!), C laudia Kazue Yamaguchi(2), Jamil N atour(3) , Artur da Rocha Corrêa Fernandes(J)

INTRODUÇÃO

Quando estamos diante de uma lesão óssea " tumoral" , utilizam os parâmetros clinico-laboratoriais e de imagem para tentar definir se esta lesão é benigna ou maligna. O s dados clinicos que auxiliam na caracterização de um tumor ou lesão tumoral são:

1. idade do paciente; 2. lesão solitária ou múltipla; 3. duração dos sintomas; 4. velocidade de crescimento do tumor.

C om relação aos exames por imagem, nem sempre é fácil dizer se uma lesão óssea é benigna ou maligna apenas com base na radiografia. Entretanto , alguns aspectos carac­terísticos favo recem um ou outro diagnósti co.

O s tumores benignos geralmen te apresentam bordas escleróticas bem definidas, um tipo geográfico de destruição óssea, uma reação periosteal sólida, ininterrupta, e nenhum componente de partes moles. As lesões malignas, por outro

lado, tendem a mostrar bordas mal definidas com uma zona larga de transição, um padrão em roído de traça ou difuso de destruição óssea, uma reação periosteal interrompida do tipo casca de cebola ou raios de sol, e uma massa de tecidos moles adjacente. EntretantO\, deve-se salientar que lesões benignas também podem apresentar característi cas agressivas l !) .

Todas as informações clinicas e radiológicas sobre um paciente que apresente uma lesão óssea devem ser analisadas. O próximo passo - e o mais importante - é decidir se a lesão é definiti vamente benigna, caso em que não deve ser biopsiada mas simplesm ente m onitorizada ou completa­m ente ignorada (lesa0 do tipo " não toque"); por outro lado, se a lesão possui aspecto agressivo ou indeterminado , deve ser melhor investigada por biópsia ou cirurgia(l) .

Existem algumas lesões tumorais e processos não neo­plásicos que simulam um tumor, mas cuj o aspecto de ima­gem, aliado aos dados clínicos, é suficiente para prescindir de investigação por biópsia ou cirurgia. Estas lesões são chamadas lesões do tipo "não toque" (T abela 1)(1) .

T AilELA 1 L ESÕES DO TIPO "NÃO TOQUE " OBSERVADAS ATRAV ÉS DE EXAMES DE IMAGEM

Tumores e lesões tumorais

Defei to fibroso cortical

Fi broma não ossi fica nte

Desmóide periost eal

Pequeno foco solitário de disp lasia fi brosa

Pseudotumor da hemofilia

Gânglio in tra-ósseo

Encondroma em um osso t ubular curto

Processos não neoplásicos

Fratura por est resse

Fratura por avulsão

Infarto ósseo

Ilhota óssea (enostose)

Miosite ossi fi cant e

Cist os degenerat ivos e pós t raumáti cos

Tumor marrom do hiperparatireoidismo

Esclerose vertebra l discogênica

• Departamento de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal de São Pau lo IDDI/Unifesp/EPM). São Paulo-SR Brasi l.

I. DDI/Unifesp/EPM, São Paulo-SR Brasil.

2. Setor de Diagnóstico por Imagem da Santa Casa de Misericórd ia de São Paulo

3. Disciplina de Reu matologia da Unifesp/EPM , São Paulo-SR Bras il.

Endere~o para correspondência: Artur da Rocha Corrêa Fernandes. Departamento de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal de São Paulo IDDIN nifesp/EPM). Rua Botucatu, 740, CEP 04023-900, São Paulo, SP Brasil.

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Aihara et aI.

PROCESSOS NÃO NEOPLÁ SICOS DO TIPO

" N Ã O TOQUE "

F R A TURA POR ESTRESSE

O termo fratura por estresse é usado para descrever fra turas que ocorrem após estresse repetitivo insuficiente para causar uma fratura aguda(5,6) ,

São reconhecidos dois tipos de fra tura por estresse: fratura por fa diga, resultante de estresse anormal em um osso

normal , e fratura por insuficiência, causada pelo estresse normal em um osso com resistência elástica ou conteúdo mineral defi ciente(5,6),

Os locais mais comumente acometidos são as porções

média e distal do 2° e 3° metatarsos, tíbia proximal, calcân eo,

metáfise proximal ou distaI da fibula (principalmente distai) e a pars in terarticularis da coluna lombar baixa associada ou não com espondilolistese(6) .

Os achados clínicos relativos às fraturas de estresse são característicos.

T ipicamente a dor é relacionada com a atividade e é aliviada com o repouso. Observa- se edema de partes moles

e dor localizada sobre a área da fratura de estresse. Quase

todos os ossos do corpo podem ser afetados, com os ossos d os membros inferio res se ndo m ais freqü entem ente acometidos(6) .

N os casos de fratura por fa diga, a dor não está presente

no início do exercício m as m ais para o seu final. Com a evolução do processo, há dor em todo o exercício e a deambulação diária(l ).

R adiologicam ente po de-se observa r espessam ento

cortical ou endosteal, reação periosteal e o traço de fratura

propriamente dito. À radiografia e tomografia computadorizada (Te), não

se deve confundir a reação periosteal (que pode ser exube­rante) com processo tumoral (Figura 1). N a ressonância

magnética (RM) pode haver edema medular ósseo e de partes moles, simulando processo neoplásico . O s dados clínicos associados aos achados por imagem são na maioria

dos casos suficientes para o diagnóstico. Estas al terações não devem ser biopsiadas, salientando­

se ainda que os achados histológicos, nos casos de fratura por estresse, podem simular processo neoplásico maligno.

FRATURA POR AVULSÃ O

As fra turas por avulsão são comuns em indivíduos espor­tistas, especialmente em adolescentes.

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FIGURA 1 - Paciente feminina de 37 anos que pratica corrida t rês vezes por semana. Há dois meses com dor no antepé. Nota-se a presença de traço de fratura na diáfi se do segundo metatarso, ci rcundado por calo periosteal que não deve ser confundi do com tumor.

À radiografia as lesões agudas podem estar associadas a

fragm entos ósseos avulsionados, enquanto lesões subagudas

podem ter uma aparência agressiva, com áreas mistas de lise e esclerose óssea. Lesões crônicas ou lesões antigas inativas podem se associar a uma massa protuberante de osso e apresentar semelhança intensa com um processo

neoplásico ou infeccioso (Figuras 2 e 3). Embora geralmente não sej a necessária, a TC é útil no

diagnóstico se os achados radiográfi cos forem duvidosos ou se a lesão não se encontra na fase aguda (Figura 3) .

A RM é melhor indicada para a avaliação de lesões ten­díneas, músculares ou ligamentares.

O reconhecimento dos achados característicos de ima­gem , e a familiaridade com a anatomia musculo tendínea ajudam no diagnós tico correto destas lesões, e sua dife­

re nciação co m processos neop lás icos e in fecc iosos (Figura 4) (4).

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FIGURA 2 - Fratura com avulsão, crônica, da espinha ilíaca ântero-inferior (origem do tendão do musculo reto-femoral). A localização e o aspecto são típicos, não devendo ser confundidos com tumor.

FIG URA 3 - A) Rx em AP mostrando fratura com avulsão, crônica, da espinha ilíaca ântero-inferior. B) TC no plano axial mostrando com maior detalhe as proeminências ôsseas na topografia das cabeças direta e refletida do reto-femoral.

FIGURA 4 - Paciente feminina de 48 anos que refere queda de moto aos 12 anos com fratura no joelho, tratada com imobilização. Atualmente refere dor em todo o joelho ao fazer caminhadas. Rx em AP e perfil mostra fratura avulsão da inserção tibial do ligamento cruzado anterior não consolidada e deslocada de sua topografia habitual. O conhecimento da anatomia facilita a caracterização destas alterações.

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Processos Não Neoplásicos do Ti po "Não Toque"

INFARTO ÓSSEO

As causas de osteonecrose são variadas e incluem : trauma

(fratura ou luxação), hemoglobinopatias (anemia falciforme)

(F igura 5), hip ercortisolismo endó geno ou exógeno

(Figura 6), transplante renal, alcoolismo, pancreatite, con­

dições disbáricas (doença de Caisson), doença de pequenos

vasos (doenças do colágeno), doença de Gaucher, gota e

hiperuricemia, irradiação, e sinovite com elevação da pres­

são intra-articular (infecção e hemofilia). H á também a

forma idiopáti ca da osteonecrose, na qual não se encontra causa definida (2).

A osteonecrose pode ocorrer em localização epifisária

ou metadiafi sária, sendo muitas vezes denominada infarto ósseo nesta última topografia(3).

As localizações m ais comuns dos infartos ósseos são o

temur distaI, a tíbia proximal e o úmero proximal , geral­mente intramedulares(3) .

Radiologicamente um infarto ósseo m edular maduro

apresenta-se como uma área central radiolucente na

cavidade medular, circundada por borda bem definida e

esclerótica, borda esta com aspecto morfológico serpiginoso

(Figura 7) (2,3) . De maneira geral os achados radiográficos

são tão carac terís ticos, que n enhum o utro exame é necessário(2) .

Infelizmente , estas anormalidades podem não aparecer

nas radiografias até vários meses após o início dos sin­

tomas (Figura 5). Além disso, algumas vezes os achados

n ão são tão característicos, podendo simular um padrão

agressivo de destruição óssea que acompanha tumores

malignos ou infecção (2) . Isto ocorre especialmente no

início da doença quando observamos a área de n ecrose

como área lítica, sem que h aj a tempo para o desenvol­

vimento da calcificação periférica serpiginosa caracte­

rísti ca(3) . P o dem ocorrer calcicações internas, algumas

vezes po dendo simular um tumor cartilagínoso com.o o encondroma(l,3) .

A Te apresenta dois obj etivos: p ermitir diagnós tico

m ais precoce, e avaliar se h á presença de colapso ósseo ,

o qu e pode mudar a co nduta d e co nservadora para

cirúrgica (2) .

Na RM, o infarto ósseo caracteristicam ente se apresenta

com área interna com sinal de gordura, e borda serpiginosa

fina com hiposinal em todas as seqüências representando calcificação (Figuras 6 e 7)'3) .

A cintilo grafia mostra hipercaptação, m esmo nos infartos ósseos nuduros(3)

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Aihara et al.

FIGURA 5 - A e B) Rx em AP e perfil mostrando áreas de esclerose no interior da medular óssea do fêmur e tíbia quase imperceptíveis. C, D e E) Imagens de ressonância magnética coronal T1 , coronal T2 com supressão de gordura e coronal T1 com supressão de gordura pós contraste. Note as lesões serpiginosas na medular óssea do fêmur e tíbia. Este aspecto de imagem é característico. Paciente feminina com anemia falciforme.

FIGURA 6 - Paciente do sexo feminino em uso crônico de corticoesteróide. A) Rx em AP mostrando lesão medular com margens calcificadas e definidas. B) Imagem coronal de ressonância magnética ponderada em T1 demonstrando a lesão medular com região central com sinal de gordura e periferia calcificada. Note também outro foco menor de osteonecrose na epífise da cabeça umeral.

ILHOTA ÓSSEA OU ENOSTOSE

Esta é uma lesão de natureza incerta, encontrada em todas as faixas etárias, tanto em homens como em mulheres(2).

São geralmente assintomáticas, e na maioria dos casos um

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FIGURA 7 - A e B) Rx de joelho em AP e perfil: Presença de lesão medular de margens escLeróticas e serpiginosas. C e D) Imagens coronais de ressonância magnética ponderadas em T1 e T2 mostrando o infarto ósseo com margens calcificadas e região central com sinal de gordura.

achado de exame(3) . As enostoses são mais comuns nos ossos

da pelve, costelas e remur. Embora ocorram predominante­m.ente em. ossos chatos e irregulares, as enostoses são obser­vadas também. em ossos tubulares longos, mais freqüente­mente dos membros inferiores. Quando um osso longo é afetado, o mais típico é ser uma lesão solitária, envolvendo a epífise ou a metáfise(2) .

Radiograficamente as enostoses ou ilhotas ósseas apa­recem como áreas esc!eróticas intra-medulares ovóides, arredondadas ou oblongas, únicas ou múltiplas, com mar­gens definidas, alinhadas com o maior eixo da arquitetura trabecular (Figura 8), geralmente associada a espículas ósseas de distribuição radiada(2) .

Embora as enostoses geralmente sejam pequenas e estáveis (Figuras 9 e 10), ilhotas ósseas gigantes (maiores que lcm) especialmente na pelve, e enostoses que crescem ou dimi­nuem com o tempo também já foram descritas(2) .

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À RM estas lesões se apresentam com hiposinal em todas as sequências, podendo se localizar no interior da medular óssea ou tocando a superucie endosteal do osso (Figura 11)(2).

As ilhotas ósseas tem pouco significado, a não ser seu reconhecimento e diagnóstico diferencial(3) .

O principal diagnóstico diferencial é a metástase osteo­blástica (próstata ou mama) (2) . A lesão solitária característica no fêmur proximal não causa problema diagnóstico. Entre­tanto , regiões de radiopacidade no sacro, íleo e corpos vertebrais lombares podem ser focos de metástase osteo­blástica. Nesta situação, a cintilografia óssea pode ajudar, j á que as metástases são hipercaptantes, ao contrário das enostoses que não costumam captar(3).

Outros diagnósticos diferenciais menos problemáticos incluem o osteoma, osteoma osteóide, encondroma, infarto ósseo, displasia fibrosa e a osteopoiquilose(2) .

FIGURA 8 - Ilhota óssea aLongada no fêmur proximaL direito. Note a orientação no sentido das trabécuLas ósseas.

FIGURA 9 - Pequena iLhota óssea na epífise distaL do rádio.

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Processos Não Neoplásicos do Tipo "Não Toque"

FIGURA 10 - Corte transversaL de TC mostrando pequena ilhota óssea no sacro à esquerda.

FIG URA 11 - Imagens sagitais de ressonância magnética mostrando ilhota óssea no fêmur distal. Note o hiposinaL nas sequências DP (A), T2 com supressão de gordura (B) e T1 com supressão de gordura pós contraste (C).

MIOSITE OSSIFICANTE

A miosite ossificante é uma formação localizada de osso heterotópico nos tecidos moles iniciada por traumatismo. Foram identificados dois tipos destas lesões . O primeiro é uma lesão bem circunscrita frequentemente localizada adjascente a cortical de um osso tubular longo ou plano, denominada miosite ossificante circunscrita justa-cortical; o outro é uma lesão semelhante a um véu , menos delineada .

Radiologicamente, a miosite ossificante circunscrita é caracterizada por osso denso bem organizado na periferia da lesão, osso imaturo menos organizado no centro, e uma fenda radiotransparente que separa a lesão do osso adjacente (Figura 12) .

O aspecto da lesão pode simular um tumor ósseo maligno como osteosarcoma periosteal ou parosteal.

A maioria dos erros diagnósticos ocorre quando é obtida uma biópsia da lesão muito precoce, pois neste momento o aspecto histológico se assemelha a tecido sarcomatoso(!) .

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Aihara et aI.

FIGU RA 12 - Paciente masculino de 27 anos com história pregressa de acidente automobilístico e aumento de volume na face medial da coxa distal. A e B) Rx em AP e perfil demonstrando ossificação junto a face anteromedial do fêmur di stal. ( e O) Imagens coronais de ressonância magnéti ca ponderadas em T1 (A) e T2 com supressão de gordura (O) , evidenciando tecido com sinal igual ao da gordura subcutânea nesta s sequências, indicando ossificação. A história clínica é um fator de suma importância nestes casos .

CISTOS DEGENERATIVOS E PÓS TRAUMÁTICOS

As articulações do joelho e quadril são as mais acom etidas po r osteoartrose. A intensidade das alterações radiológicas nem sempre está correlacionada aos sintom as clínicos, que podem variar de rigidez e dor a grandes deformidades e limitação da fu nção articular(l) .

O s achados radiológicos fundamentais da artrose são: 1. estreitam ento do espaço articular; 2. esclerose subcondral; 3. form ação de osteófitos; 4. cistos ou pseudocistos subcondrais. N o qu adril , estes cistos po dem apresentar grandes

dimensões, sendo aqui chamados de cistos de Eggers. N ão se deve confundir es tes cistos co m processos

tumorais.

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FIGURA 13 - Rx em AP e perfil do quadril evidenciando redução do espa ço articular, esclerose subcondral, osteofitos marginais e cistos subcondrais no quadril esquerdo . Não se deve confundir estes achados com processo tumoral.

ESCLEROSE VERTEBRAL DISCOGÊNICA

N a doença degenera tiva da coluna vertebral, além das alterações discais, interface tárias e osteofitose dos corpos ve rtebrais, p odem h aver alterações dege nerativas dos planaltos vertebrais, classificadas em 3 tipos segundo M odic. N o tipo I encontram os tecido fibrovascular nos planaltos. N o tipo II há substituição adiposa m edular e no tipo III

há formação de esclerose óssea nos planaltos vertebrais(l). A presença de alterações degenerativas tipo III não deve

ser confundida com processos tumorais ou infecc iosos. Outros achados por imagem de artropatia degerativa e dados clinico-laboratoriais auxiliam nesta diferenciação.

TUMOR MARROM DO HIPERPARATlREOIDISMO

O h ip erparatireoidism o é um distúrbio resultante da secreção excesiva do paratormônio por glândulas para ti­reóides hiperativas. N ão raram ente estes pacientes apre­sentam lesões líticas solitárias ou múltiplas, mais comumente nos ossos tubulares longos ou curtos. R adiologicam ente estas lesões se assem elhanl a unl tu nl or e são chal11adas de tumor m arrom porque além do tecido fibroso contém sangue em decomposição no seu interior.

Radiologicam ente encontram os lesões ósseas líti cas cuj o aspecto não é característico quando visto isoladam ente. O diagnóstico correto pode ser fe ito por radiografia através da observação de achados associados como: redução da densidade óssea (osteopenia), reabsorção óssea subperiosteal m elhor vista na face radial das falanges proximal e m édia do segundo e terceiro dedos, aspecto em "sal e pimenta" da calota craniana, reabsorção da extremidade acromial da clavícula e calcificações de partes m oles.

Os achados laboratoriais geralmente confirmam o diag­nóstico através da alta concentração sérica de cálcio e baixa concentração de fósforo(l).

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Conclui-se que os dados clinico-laboratoriais aliados aos exames de imagem permitem a caracterização de algumas lesões não neoplásicas que simulam tumores , com uma confiança tal, que podemos em geral prescindir de avaliação histológica. Estas são chamadas de lesões do tipo "não toque"(J) .

REFERÊNCIAS

1. Greenspan A: T umores e lesões tumorais. In : R adiologia O rtopédica . Greenspam A, 3.' ed, Rio de Janeiro, Edi tora Guanabara Koogan, 505-654, 2001.

2. R esruck D , Kyriakos M, Greenway GD: T umors and tumor-like lesiom of bone: imaging and pathology of specific lesions. In: Diagnosis of bone disorders. R esruck D : Philadelphia, WB Saunders Company, 2002.

3. Yochum T R , R owe LJ: Tumors and tumorlike processes . In: Essentials of Skeleta l R ad iology. Yochum T R , R owe LJ , 2. ' ed, Baltimore: W illiams & W il kins 975- 11 91, 1996.

Rev Bras Reumato!. v. 44. n. 6. p. 479-85. nov./dez .. 2004

Processos Não Neoplásicos do Tipo "Não Toque"

FIGURA 14 - Radiografias do fêmur proximal (A), diáfise média de fêmur (B) e rádio distal (C) , mostrando lesões líticas medulares, levemente expansivas, com fratura patológica associada em (A) . Estes achados radiológicos apenas não são característicos. A correlação com outros achados radiológicos de hiperparatireoidismo e dados clínicos e laboratoriais é fundamental nos casos de tumor marrom do hiperparatireoidismo.

Os processos não neoplásicos deste tipo são: fra tura por estresse, fratura por avulsão, in fa rto ósseo, ilhota óssea , miosite ossificante, cistos degenerativos e pós traumáticos, tumo r m arro m do hip erp aratireo idi sm o e escl e rose vertebral discogênica(J) .

4 . Stevens MA, El- Khoury GY , Katho l M. H , Brandser EA, C how S: lmaging features of avulsion injuries . R adiographi cs 19:655-72, 1999 .

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6 . Aiha ra AY, Fernandes ARC , Nato ur J: Valor dos m étodos de d iagnóstico por imagem na ava liação das reações/fraturas de estresse . R ev Bras R eumatol 43:175-84, 2003.

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