Produção cultural e estética negra
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Universidade do Estado da BahiaDEDC VIII
Colegiado de PedagogiaCurso em História das Culturas Afro- Brasileiras e Indígenas
Produção Cultural e Estética Negra
Profª Ms.Izabel de Fátima Cruz Melo
Uneb – DEDU XIII (Itaberaba)/Colegiado de História
O olhar sempre deseja mais do que lhe é dado ver.
Adauto Novaes
Diásporas e Atlântico Negro
• Atlântico Negro:
“... recursos para que se escrevam histórias, ainda não escritas nem pensadas, sobre uma transcultura negra. Como tentarei demonstrar, esta abordagem cosmopolita nos leva necessariamente não só a terra, onde encontramos o solo especial no qual se diz que as culturas nacionais têm suas raízes, mas ao mar e à vida marítima, que se movimenta e que cruza o oceano Atlântico, fazendo surgir culturas planetárias mais fluidas e menos fixas” (GILROY,2001:15)
Diásporas e Atlântico Negro• Diáspora:
“O conceito de diáspora é originalmente utilizado para pensar a dispersão do povo judaico pelo mundo. Mais recentemente tem sido tomada por autores como Paul Gilroy e Stuart Hall para referir o processo de construção de identidades negras nos contextos específicos de diferentes países nos quais a população, oriunda do tráfico negreiro colonial, produz a cultura negra a partir dos elementos específicos de cada local. Com base em noções como “tradução” e “hibridismo cultural” esses autores apontam para algo de comum na experiência de migração forçada para fora do continente africano, que se relaciona com a construção de uma subjetividade que produzirá uma “estética negra”. (SILVEIRA,2008:3)
Diásporas e Atlântico Negro
• Primeira diáspora: tráfico e escravização
• Segunda diáspora: movimentos migratórios voluntários ( Jamaica – Londres; Benin- Paris, Porto Rico –EUA; Angola – Brasil, etc)
• Terceira diáspora: deslocamento de signos através dos cirtuitos de informação e tecnologias
Diáspora, Atlântico negro...e nós com isso?
• (re) pensar o nosso lugar de compreensão a respeito das heranças, influências, trocas, misturas, hibridações...
• Percepção da atualidade do debate.
• Para além de sermos atingid@s , somos parte do processo.
Estética(s)
• Estética: conceito desenvolvido desde a Grécia Antiga, que foi transformado em uma das áreas da Filosofia, na qual se busca o ajuizamento sobre o belo.
• Para Kant, esse ajuizamento deve ser universal, ou seja, normatizar e delimitar as regras pelas quais o belo seria reconhecido em qualquer lugar.
Estética(s)
• Discordâncias: esta é uma perspectiva eurocentrada que hieraquiza e acaba por excluir a diversidade através da criação de um padrão que aprisiona e limita nossa capacidade de apreensão e de diálogo com pluralidade presente no mundo.
Estética(s)
“No entanto, as artes produzidas por um grupo excêntrico para o discurso crítico hegemônico exigem outros pactos teóricos e passam até pelo compromisso político, que, quando são explícitos, afetam a reflexão enquanto articulação de uma teoria. Estendido ao fazer estético, o acordo político impulsiona uma representação submetida à situação sócio-econômica, à expressão geográfica e à expressão sociológica dos sujeitos em sua experimentação plástica. Pactuada com a situação das populações negras, a estética negra conforma-se como uma atitude, que, no entanto, está para além de uma resposta às reivindicações cotidianas.” (ALMEIDA, 2007:2)
• a conceitua:
Estética(s)
• Importante ressaltar que todo posicionamento estético é construído social, político e culturalmente.
• Assim, ao entender que a experiência identitária das populações negras dos seus descendentes se dá nos fluxos diaspóricos é essencial pluralizar as sensibilidades e percepções
Estética(s) e Produções Culturais
• Estamos então localizad@s na terceira diáspora, na qual somos atravessad@s por uma multiplicidade de influências e saberes que constantemente nos reposicionam identitária e culturalmente.
• “A cultura é esse padrão de organização, essas formas características de energia humana que podem ser descobertas como reveladoras de si mesmas – “dentro de identidades e correspondências inesperadas”, assim como em “descontinuidades de tipos inesperados” – dentro ou subjacente todas as demais práticas sociais.” (HALL, 2003, p.128)
Estética(s) e Produções CulturaisRubem Valentim nasceu em Salvador (BA) no ano de 1922 e faleceu em São Paulo em 1991.
Autodidata, começou a pintar em meados da década de 1940 quando, ao lado de outros então jovens artistas, contribuiu para o movimento de renovação do panorama cultural baiano.
Artista dotado de grande originalidade, já então praticava uma pintura não-figurativa de base geométrica, num tempo e numa cidade em que o abstracionismo não era bem aceito.
“Partindo desses dados pessoais e regionais, busco uma linguagem poética, contemporânea e universal, para expressar-me plasticamente. Um caminho voltado para a realidade cultural profunda do Brasil - para suas raízes - mas sem desconhecer ou ignorar tudo o que se faz no mundo, sendo isso por certo impossível com os meios de comunicação de que já dispomos, é o caminho, a difícil via para a criação de uma autêntica linguagem brasileira de arte. Linguagem pluri-sensorial: O sentir brasileiro.” (Rubem Valentim – Manifesto ainda que tardio -1976)
Estética(s) e Produções Culturais
Hector Julio Páride Bernabó ou Carybé (Lanús, 7 de fevereiro de 1911 —Salvador, 2 de outubro de 1997) foi um pintor, gravador, desenhista, ilustrador,ceramista, escultor, muralista, pesquisador, e jornalista argentino naturalizado e radicado no Brasil.Fez cinco mil trabalhos, entre pinturas, desenhos, esculturas e esboços. Ilustrou livros de Jorge Amado e Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez. Era obá de Xangô, posto honorífico do candomblé. Morreu do coração durante uma sessão num terreiro de candomblé.
Estética(s) e Produções Culturais• Cinema e representações negras
“ Uma análise abrangente deve prestar atenção às “mediações”: estrutura narrativa, convenções do gênero, estilo cinematográfico. Um discurso eurocentrico em um filme pode vir não somente de personagens e enredo, mas pela iluminação, enquadramento, mise –en-scene , música.” (STAM, SHOHAT,2005:80)
- Cinema silencioso e apagamento -Variados períodos, persistência da estereotipização
- Chanchada - Cinema Novo- Pornochanchada- Retomada.
Estética(s) e Produções Culturais
• Um cinema negro é possível?- Jefferson De e o Dogma Feijoada.
1- O filme tem que ser dirigido por um realizador negro;2) O protagonista deve ser negro; 3)A temática do filme tem que estar relacionada com a cultura negra brasileira; 4) O filme tem que ter um cronograma exeqüível. Filmes-urgentes; 5) Personagens este-reotipados negros (ou não) estão proibidos;6)O roteiro deverá privilegiar o negro comum (assim
mesmo em negrito) brasileiro; 7) Super-heróis ou bandidos deverão ser evitados.
Estética(s) e Produções Culturais
• “ A música, o dom relutante que supostamente compensava os escravos, não só por seu exílio dos legados ambíguos da razão prática, mas também por sua total exclusão da sociedade política moderna, tem sido refinada e desenvolvida de sorte que ela propicia um modo melhorado de comunicação, para além do insignificante poder das palavras – faladas ou escritas” (GILROY, 2001:164)
Estética(s) e Produções Culturais
• Musicalidade: pensar a música como uma prática sócio-cultural.
• Musicalidades diaspóricas:-Samba-Salsa-Reggae-Afrobeat- Mov hip hop ( break, rap, grafite)
Estética(s) e Produções Culturais
-Zouk
- Blues
-Jazz
- Rock...
Referências:
Almeida, Maria Cândida Ferreira de. Estética Negra. In. Mais definições em trânsito.
Guerreiro, Goli. Terceira diáspora – Salvador da Bahia e outros portos atlânticos.
Gilroy, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. São Paulo: ed.34; Rio de Janeiro:UCAM, Centro de Estudos Afro-Asiáticos,2001
Hall, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais.Belo Horizonte: Ed. UFMG;Brasília: Representação UNESCO no Brasil,2003.
Jeferson De / por Jeferson De. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Cultura – Fundação Padre Anchieta,2005
Mota, Fabrício dos Santos, Guerreir@s do terceiro mundo: identidades negras na música Reggae da Bahia (anos 80/90) .Salvador, Universidade Federal da Bahia, FFCH/CEAO/PÓSAFRO, 2008.
Nascimento, Abdias do. Teatro Experimental do Negro: trajetórias e reflexões.
Estudos Avançados, 18 (50), 2004. Silveira, Denner. Processo de con«nstrução da música da diáspora africana no
Brasil: é possível pensar uma música negra no contexto da mestiçagem brasileira? Rio de Janeiro: Programa Nacional de Apoio à Pesquisa/ Fundação Biblioteca Nacional – MinC,2008
Stam, Robert e Shohat, Ella. Estereótipo, realismo e representação social. Revista Imagens nº 5: ago/set, 1995.
Stam, Robert. Multiculturalismo tropical – Uma história comparativa da raça na cultura e no cinema brasileiros. São Paulo: Edusp, 2008,
Rodrigues, João. C. O negro brasileiro e o cinema. R. J., Ed. Globo/ Fundação do
Cinema Brasileiro, 2.ed., 1988Sartre, Jean-Paul. Reflexões sobre o racismo. 2ª ed. São Paulo: Difusão
Européia do Livro,1960.Souza, Núbia Magalhães de. As vozes além do canto: uma (re) leitura da
“reafricanização” na Bahia sob um contexto sócio-musical. Itaberaba. Universidade do Estado da Bahia. Monografia de Conclusão de Curso em História, 2012