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Programa de educação ambiental em escola de ensino médio: resíduos sólidos e reciclagem de alumínio resultando benefício social Educational environmental programme at a high school: aluminium solid waste recycling and its resulting social benefits Ana Júlia Ferreira Rocha Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie-UPM, São Paulo, SP, Brasil [email protected] André Luiz de Lima Reda Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie-UPM, São Paulo, SP, Brasil; Escola de Engenharia Mauá do IMT, São Caetano do Sul, SP [email protected] Dayane Fagundes Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie-UPM, São Paulo, SP, Brasil [email protected] Pâmela Costa de Jesus Pinheiro Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie-UPM, São Paulo, SP, Brasil [email protected] Abstract — The paper introduces the impacts of production, use and final disposal of aluminium. It presents its extraction processes from bauxite, its main ore, and the environmental impacts caused by all phases of its life cycle. As current recycling in Brazil reaches up to 98% of volume production, risk reduction and benefits of its recycling may be relevant. A recycling programme is applied at a local community by actions developed at its high school. Initial results are reported here and further ones are to be monitored. Keywords — aluminium; bauxite; sustainability; solid waste; recycling. I. INTRODUÇÃO A extração e a reciclagem do alumínio são aqui revistos; especificamente, métodos de extração, refino e produção, além de sua reciclagem, uso e aplicação em áreas diversas – ex: construção civil. Abordam-se também suas propriedades físico- químicas e as vantagens da sua reciclagem, comparada com a produção pela extração da bauxita. Aborda-se um caso de promoção da conscientização social a respeito da questão numa comunidade escolar, a ETEC Juscelino Kubitschek de Oliveira, em Diadema, SP. O alumínio é muito utilizado em vários setores por suas propriedades físicas e químicas e pelo consumo, produção e descarte em grande escala – mostrando a importância de seus processos produtivos e gestão de resíduos sólidos. Assim, é essencial conhecer seus processos de produção, desde a extração a partir da bauxita até a reciclagem, reuso e redução de uso (os “três R”), com as consequentes vantagens ambientais, sociais e econômicas. É relevante conscientizar a população para a correta destinação após a vida útil dos seus produtos, viabilizando a reciclagem. Em Diadema (município do estado de São Paulo), onde está a ETEC Juscelino Kubitschek de Oliveira (JKO), aplica-se o programa aqui descrito. A Prefeitura não realiza coleta seletiva – o que valoriza tal iniciativa. II. METODOLOGIA A pesquisa aqui relatada aborda livros, artigos científicos, sites de divulgação do assunto e periódicos. A campanha foi implantada na comunidade escolar com o auxílio da coordenação pedagógica. Para isso foram realizadas palestras para primeiro, segundo e terceiranistas do ensino médio. Estas contiveram informações sobre a produção de alumínio desde sua extração até sua reciclagem, evidenciando a importância de seu descarte correto. Aos alunos, foi proposto um projeto de arrecadação de latas de alumínio, cujos recursos obtidos foram revertidos em benefícios para a comunidade escolar. A campanha de coleta contou com uma grande participação da comunidade escolar, especialmente dos alunos do primeiro ano. III. REVISÃO DA LITERATURA O alumínio é o terceiro elemento mais abundante na crosta terrestre. É o metal mais jovem em termos de uso em escala industrial, produzido comercialmente há cerca de 150 anos. Durante os séculos XVIII e XIX, foi considerado um metal precioso, mas suas aplicações industriais foram estabelecidas só bem recentemente, na segunda metade do século XIX, principalmente com a difusão do uso da eletricidade. Em 1889, seu preço internacional desabou, mas aos poucos se transformou em commodity, com preços internacionais estáveis e tendência de alta no longo prazo. Sua reciclagem se tornou mais difundida a partir de 1960. A bauxita é o principal minério do qual se extrai alumínio. Foi identificada pela primeira vez em 1821, na França, no município de Les Baux, pelo geólogo Pierre Berthier [6]. Constitui-se de óxido de alumínio hidratado com composições variáveis [5]. Além desse óxido (Al2O3), também se compõe © 2017 SHEWC XVII Safety, Health and Environment World Congress 30 July 09-12, 2017, Vila Real, PORTUGAL DOI 10.14684/SHEWC.17.2017.30-34

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Programa de educação ambiental em escola de ensino médio: resíduos sólidos e reciclagem de alumínio

resultando benefício social Educational environmental programme at a high school: aluminium solid waste recycling

and its resulting social benefits

Ana Júlia Ferreira Rocha Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana

Mackenzie-UPM, São Paulo, SP, Brasil [email protected]

André Luiz de Lima Reda Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie-UPM, São Paulo, SP, Brasil; Escola de Engenharia Mauá do IMT, São Caetano do Sul, SP

[email protected]

Dayane Fagundes Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana

Mackenzie-UPM, São Paulo, SP, Brasil [email protected]

Pâmela Costa de Jesus Pinheiro Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana

Mackenzie-UPM, São Paulo, SP, Brasil [email protected]

Abstract — The paper introduces the impacts of production, use and final disposal of aluminium. It presents its extraction processes from bauxite, its main ore, and the environmental impacts caused by all phases of its life cycle. As current recycling in Brazil reaches up to 98% of volume production, risk reduction and benefits of its recycling may be relevant. A recycling programme is applied at a local community by actions developed at its high school. Initial results are reported here and further ones are to be monitored.

Keywords — aluminium; bauxite; sustainability; solid waste; recycling.

I. INTRODUÇÃO

A extração e a reciclagem do alumínio são aqui revistos; especificamente, métodos de extração, refino e produção, além de sua reciclagem, uso e aplicação em áreas diversas – ex: construção civil. Abordam-se também suas propriedades físico-químicas e as vantagens da sua reciclagem, comparada com a produção pela extração da bauxita. Aborda-se um caso de promoção da conscientização social a respeito da questão numa comunidade escolar, a ETEC Juscelino Kubitschek de Oliveira, em Diadema, SP.

O alumínio é muito utilizado em vários setores por suas propriedades físicas e químicas e pelo consumo, produção e descarte em grande escala – mostrando a importância de seus processos produtivos e gestão de resíduos sólidos. Assim, é essencial conhecer seus processos de produção, desde a extração a partir da bauxita até a reciclagem, reuso e redução de uso (os “três R”), com as consequentes vantagens ambientais, sociais e econômicas.

É relevante conscientizar a população para a correta destinação após a vida útil dos seus produtos, viabilizando a reciclagem. Em Diadema (município do estado de São Paulo), onde está a ETEC Juscelino Kubitschek de Oliveira (JKO),

aplica-se o programa aqui descrito. A Prefeitura não realiza coleta seletiva – o que valoriza tal iniciativa.

II. METODOLOGIAA pesquisa aqui relatada aborda livros, artigos científicos,

sites de divulgação do assunto e periódicos. A campanha foi implantada na comunidade escolar com o

auxílio da coordenação pedagógica. Para isso foram realizadas palestras para primeiro, segundo e terceiranistas do ensino médio. Estas contiveram informações sobre a produção de alumínio desde sua extração até sua reciclagem, evidenciando a importância de seu descarte correto. Aos alunos, foi proposto um projeto de arrecadação de latas de alumínio, cujos recursos obtidos foram revertidos em benefícios para a comunidade escolar. A campanha de coleta contou com uma grande participação da comunidade escolar, especialmente dos alunos do primeiro ano.

III. REVISÃO DA LITERATURAO alumínio é o terceiro elemento mais abundante na crosta

terrestre. É o metal mais jovem em termos de uso em escala industrial, produzido comercialmente há cerca de 150 anos. Durante os séculos XVIII e XIX, foi considerado um metal precioso, mas suas aplicações industriais foram estabelecidas só bem recentemente, na segunda metade do século XIX, principalmente com a difusão do uso da eletricidade. Em 1889, seu preço internacional desabou, mas aos poucos se transformou em commodity, com preços internacionais estáveis e tendência de alta no longo prazo. Sua reciclagem se tornou mais difundida a partir de 1960.

A bauxita é o principal minério do qual se extrai alumínio. Foi identificada pela primeira vez em 1821, na França, no município de Les Baux, pelo geólogo Pierre Berthier [6]. Constitui-se de óxido de alumínio hidratado com composições variáveis [5]. Além desse óxido (Al2O3), também se compõe

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de óxido de ferro (Fe2O3) e sílica (SiO2) e ocorre em climas tropicais (57%), subtropicais (10%) e mediterrâneos (33%), mais freqüente próximo ao Equador, em camadas horizontais e usualmente misturada a minerais argilosos, tais como óxidos de ferro e dióxido de titânio, na faixa de cerca de 15 a 25% de alumínio. Apresenta coloração avermelhada, devido à presença de ferro em sua composição.

Segundo o Ministério de Minas e Energia [11], suas reservas mundiais somam 34 bilhões de toneladas, podendo atender a demanda e o nível de produção bruta atuais (280 Mt/ano) e suportar a produção ainda por cerca de um século ou mais. No Brasil, distribuem-se por nove estados. O maior detentor delas é o Pará, com cerca de 75% do total – a maior sendo a do vale do Rio Trombetas, município de Oriximiná, além das de São Domingos do Capim e Paragominas. A segunda maior reserva é localizada em Minas Gerais, com cerca de 16% do total nacional, principalmente em Poços de Caldas. O restante se distribui por importância assim: Maranhão, Amapá, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas e Goiás.

A bauxita usualmente fica sob vários metros de rocha e argila, a serem removidas na extração pelo método de Bayer para produzir alumina. Depois dele, a alumina extraída vai para uma usina para ser lavada e britada antes de ir ao refino. Tais procedimentos, aliados a outros, tais como peneiramento por alta freqüência, maximizam seu uso e retiram impurezas, majoritariamente areia, argila e partículas ferruginosas.

A lama oriunda da extração é depositada em bacias de rejeitos que, após lotadas, são cobertas e recebem plantio de espécies nativas para restabelecer a vegetação natural local.

A. Impactos Ambientais da Extração de BauxitaA extração pelo método de Bayer produz diversos danos

ambientais, muito relevantes no curto prazo por causarem grande concentração de hidróxido de sódio (soda cáustica), que, diluído em água, torna-se corrosivo e ataca a vegetação. Ainda há outros impactos ambientais, com possibilidade de contaminação de solo e lençol freático pelos metais pesados contidos no minério original. Pode causar doenças com dano neurológico, cardiovascular, metabólico e genético para seres humanos e animais. Em geral, contamina por ingestão de alimento exposto à sua característica ‘lama vermelha' [14].

B. O Método de BayerHá quatro processos básicos para obter a alumina (Al2O3),

como especifica a Figura 1. O mais usado é o de Bayer. Consiste em misturar bauxita oriunda do beneficiamento, concentrada, a uma solução de soda cáustica (NaOH) a alta pressão. A bauxita se dissolve, mas as impurezas resultantes continuam sólidas, gerando a “lama vermelha”. Algumas delas são formadas por outros minerais de base presentes no concentrado de bauxita. Em contato com soda cáustica, eles geram uma lixívia de fósforo, vanádio, zinco e matéria orgânica. Assim, influem negativamente no processo, pois reagem entre si prejudicando a qualidade da alumina.

C. Redução do AlumínioO alumínio se obtém pela redução da alumina, calcinada

em cubas eletrolíticas a altas temperaturas – processo conhecido como Hall-Héroult. Assim, duas toneladas de alumina produzem uma tonelada do metal primário. Exemplifica-se assim a transformação da alumina calcinada no Al metálico (que também é ilustrada na Figura 2): a) Alumina é dissolvida num banho de criolita fundida efluoreto de alumínio em baixa tensão, decompondo-se ao entrarna presença do oxigênio;b) Oxigênio se combina com ânodo de carbono, desprendendodióxido de carbono e alumínio líquido – que se precipita nofundo da cuba eletrolítica;c) O metal líquido (já alumínio primário) é transferido para arefusão por meio de cadinhos;d) Produzem-se lingotes, placas e tarugos de metal primário.

Fig. 1. Processos para obtenção de alumina (Fonte: [10]). Fig. 2. Calcinação da alumina para produzir alumínio metálico (Fonte: [4]).

D. Usos do AlumínioO alumínio se tornou destaque como matéria prima em

diversos setores, dentre eles, bens de consumo, transportes, embalagens, maquinário e construção civil, com ênfase neste último. Listam-se abaixo seus principais usos por setor. a) Bens de consumo e transporte:

Aos bens de consumo, o alumínio trouxe durabilidade,beleza, leveza e resistência. Nos utensílios domésticos, compõe móveis, acessórios, peças de decoração; luminárias; eletrodomésticos e outros. Mas é o setor automotivo que mais consome alumínio [3]. Faz parte de diversos sistemas e componentes veiculares (partes da estrutura e da carroceria,

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portas, capô, teto, chassi, sistema de direção, rodas de liga leve, radiador). É usado para fabricar trens e vagões para pessoas e cargas; barcos; motocicletas; aviões – por apresentar baixo peso específico, resistência à corrosão, segurança, durabilidade e boa condutividade térmica. b) Embalagens:

No setor de embalagens, é muito usado em latas de bebidas, outros descartáveis, laminados, folhas de embalagens farmacêuticas, cosméticos e produtos alimentícios, tais como caixinhas “longa vida”. Apresenta grande eficiência no setor, pois é inerte, conduz bem calor e resiste à alta temperatura, além de promover isolamento eficaz do produto, preservando assim sua qualidade e aumentando sua vida útil. c) Maquinário:

Alumínio é usado para fabricar ferramentas para mineração, aquecedores solares, tubos para agricultura e indústria e máquinas de impressão e têxteis – sendo neles indispensável, pela resistência à corrosão e elevada condutividade térmica. d) Construção Civil:

Na construção, são inúmeros os usos do alumínio, desde a estrutura até o revestimento, e os benefícios agregados. É amplamente usado em caixilhos, por sua leveza, durabilidade e versatilidade. Também serve para obter produtos que maximizam a iluminação de ambientes e proporcionam mais comodidade quanto à temperatura e à segurança. É usado em telhas eficientes, leves e duráveis, com altas refletividade, condutividade térmica e resistência mecânica. Faz-se presente em coberturas de pontos de ônibus, quiosques, estruturas para cobertura em geral e espaços com vãos envidraçados, tais como shopping centers. Tal aplicabilidade se deve à barata manutenção, facilidade no transporte e boa resistência estrutural. Por não ser inflamável, fácil de aplicar, e por sua beleza, é usado em fachadas e interiores.

E. Resíduos Sólidos do Uso do Alumínio Resíduos são o conjunto dos materiais não aproveitáveis

das atividades humanas (doméstica, comercial, industrial, serviços de saúde) ou gerados pela natureza (folhas, galhos, terra, areia, a serem removidos de ruas e logradouros e enviados para destinação ou tratamento). Caracterizam-se como inúteis, indesejáveis ou descartáveis, apresentando-se sob estado sólido, líquido ou semi-sólido (este, com componente líquido insuficiente para fluir livremente) [2]. Pinto-Coelho [15] descreve suas diversas fontes de geração.

Gerenciamento de resíduos sólidos abrange [7]: limpeza pública e doméstica; acondicionamento; sistemas de coleta e tratamento; reciclagem; disposição final dos não recicláveis

Em 2003, iniciou-se o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil, pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, ABRELPE, que indica que na década 2003-2013 a produção de lixo no Brasil por pessoa aumentou de 955g/dia para 1,223kg/dia [1] e que o percentual de geração de lixo cresceu o dobro do crescimento populacional no mesmo período – este foi de 9.65% e aquele, de 21%. Entre 2012 e 2013, houve o maior crescimento anual na geração de resíduos daquela década: de 201.058 t/dia em 2012 para 209.280 t/dia em 2013, ou seja, 4,1% [10]. Também se levantou que 41,7% do resíduo gerado no Brasil se destinam

a lixões, causando severa poluição. Segundo o presidente da ABRELPE, Carlos Silva Filho, o maior gargalo para o Brasil cumprir a meta da Política Nacional de Resíduos está do Nordeste, que ainda conta com 837 lixões a céu aberto contra 453 aterros sanitários licenciados. O País tem cobertura de coleta média de 90,4%. Naquela região, o índice é 78,2%. “Dos 5.570 municípios brasileiros, 1.569 ainda fazem uso de lixão. Mais da metade deles fica no Nordeste. O aumento na geração de resíduos entre 2012 e 2013 não foi equilibrado por reforço adequado no tratamento. Mais de 3.000 municípios não conseguiram fazer seus aterros sanitários” [13].

F. Resíduos Sólidos da Fundição da Sucata de Alumínio O processo de fundição de sucatas gera dois tipos de

resíduo sólido: escória e borra preta. O primeiro é gerado nos fornos de fusão de Al primário e secundário que não usam sais de cobertura. Composto por óxidos de Al e de outros metais, também se denomina borra branca e não é considerado perigoso pela Norma ABNT NBR 10004-Resíduos Sólidos – ao contrário da borra preta. O segundo é gerado em fornos rotativos que usam sais de cobertura. Devido a estes, ganha cor escura (daí, ‘borra preta’). Compõe-se de Al metálico, óxidos de alumínio e de 45% a 55% de sais. É corrosivo e reativo – portanto, classifica-se como perigoso e deve destinar-se a aterros de resíduos industriais perigosos.

IV. GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS A gestão de resíduos sólidos abrange atividades referentes à

tomada de decisões estratégicas com relação aos aspectos institucionais, administrativos, operacionais, financeiros e ambientais – enfim, à organização do setor para esse fim. Envolve políticas, instrumentos e meios. Seu gerenciamento articula ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento, que a administração municipal desenvolve, apoiada em critérios sanitários, ambientais e econômicos, para coletar, tratar e dispor o lixo de uma cidade – ou seja, deve acompanhar com critério o ciclo, da geração à disposição final, reuso ou reciclagem (“do berço ao túmulo”), escolhendo as técnicas e tecnologias mais compatíveis com a realidade local e o destino final ambientalmente mais seguro, tanto no presente como no futuro [8]. A gestão por manejo diferenciado deve promover segregação dos resíduos na própria fonte geradora, dando a cada tipo de resíduo um tratamento a ele adequado, incentivando sua redução do uso, reutilização e reciclagem. Tais programas devem ser compostos de projetos de: a) reciclagem de materiais inorgânicos e compostagem de resíduos orgânicos (de grandes produtores, feiras livres e sacolões), misturados com podas de parques e jardins; b) coleta seletiva de recicláveis (papel, papelão, metal, vidro e plástico); c) reciclagem de resíduos da construção civil (“entulho” ou “metralha”); d) projeto de transformação de lixões em aterros sanitários (remediação ou outro processo); e) aterro sanitário celular para tratamento de resíduos [9].

Segundo o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil 2013, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais [1], 209.280 t/dia de resíduo sólido foram geradas em 2013, enquanto 189.219 t/dia foram coletadas –

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evidenciando que cerca de 20.000 t/dia de resíduos sólidos têm destino impróprio.

A. Coleta Seletiva A coleta seletiva é fundamental na gestão dos resíduos

sólidos e é definida na Lei Federal nº 12.305/2010–Política Nacional de Resíduos Sólidos. Estes devem ser previamente separados por constituição e composição. Tal coleta deve ser implantada pelo município e atender o princípio da hierarquia na gestão do resíduo, para a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais ([1], p. 42), que registra 3.459 municípios com a iniciativa em 2013.

B. Legislação de Resíduos Sólidos Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a

Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/10) traz instrumentos para permitir o avanço necessário do País para enfrentar os principais problemas ambientais, sociais e econômicos oriundos do manejo inadequado desses resíduos. Institui a responsabilidade compartilhada pelos geradores de resíduos e metas para ajudar a eliminar lixões e instrumentos de planejamento [12] nos níveis nacional, estadual, microrregional, intermunicipal, metropolitano e municipal, além de impor que particulares elaborem seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos e implantem a logística reversa, pós-consumo, de resíduos e embalagens. Além das diversas melhorias, essa Lei previa encerrar os lixões até 02/08/2014 – meta não cumprida. A partir daquela data, os rejeitos deveriam ter disposição final ambientalmente adequada. Tal prazo era parte das metas dos planos estaduais ou municipais de resíduos sólidos, considerando: distribuição ordenada de rejeitos em aterros, de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e segurança; mitigar impactos ambientais adversos e prover coleta seletiva. Ainda, cada município deve estabelecer metas de redução da geração de resíduos sólidos. Porém, essa lei não trata expressamente de encerrar lixões, como poderia ser para resultar uma disposição final ambientalmente adequada de rejeitos, rumo às metas para eliminar e recuperar lixões nos planos de resíduos sólidos.

C. Resíduos da Construção Civil A construção tem importante participação na geração de

resíduos sólidos, com materiais inertes (entulho), madeira, papel, plástico, solventes, tintas e óxidos de metais. Diante de tão significativa participação, deve-se implantar medidas para minimizar os danos que causam, tais como:

a) Coleta Seletiva: recicla materiais de comum reciclagem, tais como papel, plástico, alumínio, mas também entulho, que depois de britagem e separação tem infinitas aplicações.

b) Capacitar e conscientizar a mão-de-obra, permitindo o uso mais racional dos materiais e menor geração de resíduos.

V. RECICLAGEM Reciclagem é o processo de transformação do resíduo

sólido que altera de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas com vistas a transformá-lo em insumo para novos produtos (LEI 12.305, 2010). Segundo a Associação Brasileira do Alumínio [3], o alumínio é um material que pode

ser reciclado infinitas vezes, ou seja, mesmo no fim da vida útil do produto o Al se mantém na cadeia produtiva pela reciclagem. A Figura 3 ilustra o ciclo produtivo do alumínio.

Fig. 3. Distribuição dos resíduos da construção no Brasil, 2013 (Fonte: [4]).

Fig. 4. Ciclo do alumínio (Fonte: [1])

A reciclagem transforma sucata em alumínio metálico e, após processamento, em bem de consumo (Figura 4). Segundo a ABAL [3] o índice de reciclagem nos setores de transporte e construção civil é de 85% a 98% e para latas de alumínio para bebidas é de 25% a 96%, conforme a região.

A. Sustentabilidade e Benefícios da Reciclagem Atividade sustentável é a que atende às necessidades da

geração presente permitindo atender às das futuras gerações.

Segundo o Centro de Tecnologia de Embalagem, CETEA, citado pela Associação Brasileira do Alumínio ([3]), reciclagem resulta os seguintes benefícios ambientais: a) Reduz a energia total na produção (redução de 95% na energia para fabricar alumínio primário); b) Reduz o uso de água, petróleo, carvão e gás natural; c) Reduz as emissões atmosféricas. Ex.: CO2, NOx, SOx, CH4, CO, particulados; d) Reduz as emissões para a água. Ex.: óleos e gorduras, substâncias orgânicas dissolvidas, etc.; e) Reduz o volume de resíduo sólido pós-consumo; f) Reduz o volume de resíduo industrial para disposição final;

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e) Aumenta a vida útil dos aterros sanitários urbanos; g) Reduz o descarte de materiais úteis e com valor; h) Reduz o consumo de matéria-prima direta (reciclar 1,0 t de bauxita poupa extrair 5,0 t) e elementos de liga; i) Reduz o custo de produção: alumínio primário extraído da bauxita com refino e redução custa muito mais que reciclar.

VI. RESULTADOS E ANÁLISE O projeto de extensão universitária foi realizado na ETEC

Juscelino Kubitschek, localizada no município de Diadema. Ministraram-se palestras de conscientização para alunos do primeiro, segundo e terceiro anos do ensino médio – cerca de 400 alunos. Tais palestras continham informações a respeito da extração da bauxita, da obtenção do alumínio a partir dela, da gestão de resíduos sólidos e da reciclagem, com dados estatísticos para evidenciar a importância do destino correto dos materiais de alumínio, levando em consideração a quantidade produzida anualmente no País. Houve também seções com abertura para debates e dúvidas.

Propôs-se aos alunos um projeto de arrecadação de latas de alumínio. Os recursos obtidos reverteram em benefícios para a comunidade escolar, junto à Associação de Pais e Mestres, que dá destino adequado à arrecadação gerada.

A primeira fase da coleta teve grande adesão, em especial do primeiro ano, mas haverá uma continuidade do projeto junto à Escola na semana do meio ambiente.

VII. CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS FUTURAS Mostra-se aqui que a reciclagem de alumínio, bem

difundida na iniciativa privada (chega a 98% de aproveitamento), e a gestão de resíduos sólidos ainda são as melhores alternativas para reduzir a produção de lixo urbano. Mas ainda se usam métodos deficientes de reciclagem, tanto pelo estado quanto pelo município – por exemplo, carecem de coleta seletiva.

Também crucial para atingir a eficiência na reciclagem é a conscientização de todos os benefícios para a sociedade. É necessário, pois, um processo de reeducação ambiental, gerando adesão a essa mudança, associado com iniciativas, governamentais ou privadas, gerando resultados esperados.

Pela eficiência da conscientização, espera-se atingir maior número de beneficiários e gerar resultados significativos, com maior e efetivo benefício social.

REFERENCES [1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA

PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS. Panorama Nacional de Resíduos Sólidos no Brasil. São Paulo: ABRELPE, 2013.

[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL. Resíduos Sólidos Urbanos: Coleta E Destino Final. Fortaleza: ABES Regional Ceará, 2006.

[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO ALUMÍNIO. Guia técnico do alumínio, Vol. 12. Reciclagem. São Paulo: ABAL, 2008.

[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO ALUMÍNIO. Cadeia primária. São Paulo: ABAL. Disponível em: <http://abal.org.br/aluminio/cadeia-primaria/>. Acesso em 02 fev. 2015a.

[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO ALUMÍNIO. Características químicas e físicas. São Paulo: ABAL. Disponível em: <http://www.abal.org.br/aluminio/caracteristicas-quimicas-e-fisicas/>. Acesso em 01 fev. 2015b.

[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO ALUMÍNIO. História do Alumínio. São Paulo: ABAL. Disponível em: <http://www.abal.org.br/aluminio/ historia-do-aluminio/>. Acesso em 10 jan. 2015c.

[7] CENTRO DE TECNOLOGIA MINERAL. Recursos minerais e comunidade: Impactos humanos, socioambientais e econômicos. Rio de Janeiro: CETEM, 2014.

[8] HYDRO. Mineração de baxita. Norsk Hydro Brasil Ltda, 2015 Disponível em: <http://www.hydro.com/pt/A-Hydro-no-Brasil/Sobre-o-aluminio/Ciclo-de-vida-do-aluminio/Mineracao-de-bauxita/>. Acesso em: 05 jan. 2015.

[9] LATAPACK. História da lata de alumínio para bebidas. Disponível em: <http: //www.latapack.com.br/mundo-da-lata/historia-do-aluminio/>. Acesso em: 10 jan. 2015.

[10] LUZ, A. B. da; LINS, F. A. F. Rochas & Minerais Industriais. Rio de Janeiro: CETEM/MCT, 2005.

[11] MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Relatório Técnico 22 - Perfil da Mineração de Bauxita. Brasília: MME, 2009.

[12] MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Plano nacional de resíduos sólidos: Versão preliminar para consulta pública. Brasília: MMA, 2011.

[13] O GLOBO. Brasil tem maior aumento na produção de lixo em 10 anos. O Globo. Sociedade, p.1. Rio de Janeiro: O Globo. 2017. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/brasil-tem-maior-aumento-na-producao-de-lixo-em-10-anos-13478594>. Acesso em 21 abr. 2015.

[14] PENSAMENTO VERDE. Os danos causados pela lama vermelha da extração de bauxita. Disponível em: <http://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/os-danos-causados-pela-lama-vermelha-da-extracao-de-bauxita/>. Acesso em 05 jan. 2015.

[15] PINTO-COELHO, R.M.. Reciclagem e desenvolvimento sustentável no Brasil, Capitulo 2. Belo Horizonte: Recoleo, 2009.

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