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Programa de Pós-Graduação Estudos da Linguagem
Departamento de Letras - PUC-Rio
V CDL- Ciclo de Debates em Linguagem - Tendências e Teses
MINUTO DA PESQUISA
LINHA 1
Descrição do Português, Ensino e Tecnologia
Aluna: Sônia Maria do Nascimento Lisboa
Nível: Mestrado
Orientadora: Rosa Marina de Brito Meyer
Relacionamentos amorosos entre ingleses e brasileiros: uma perspectiva
interculturalista
Uma vez que não acreditamos na possibilidade de aprender uma língua sem
aprender a cultura do (s) país (es) em que ela é falada, estamos desenvolvendo uma
pesquisa que parte de aspectos culturais como contribuição ao ensino do português para
falantes de outras línguas.
De acordo com o interculturalista Hofstede (2010), a cultura só existe por
comparação; isso significa que só podemos descobrir o que é semelhante e o que é
diferente entre as culturas se as compararmos umas às outras e observarmos o resultado.
A partir dessa teoria, muito utilizada e reconhecida em pesquisas dentro do campo
empresarial, o presente trabalho observa relacionamentos amorosos entre brasileiros e
ingleses, que vivem no Brasil ou no Reino Unido, por meio de questionários e
entrevistas realizados pessoalmente ou por meio de programas de comunicação online.
Conhecido entre os interculturalistas por cross-marriage ou intermarriage, esse
fenômeno está cada vez mais recorrente em nosso mundo globalizado e, por isso, se
configura como um fértil objeto de estudo na área.
Nosso objetivo é entender melhor como esses relacionamentos se dão,
investigando qual a influência das culturas de origem nessas relações. Mais
especificamente, procuraremos identificar situações em que há choques culturais e
refletir sobre como essas práticas podem ser evitadas, mostrando a importância de se
entender uma cultura e sua língua, independentemente do tipo de relacionamento em
questão. Pretendemos, ainda, comparar os casais que vivem no Brasil e os que não
vivem aqui, para que possamos identificar se há diferenças entre eles e ainda se essas
diferenças são relevantes à pesquisa.
Como a motivação desse trabalho é encontrar ferramentas que possam auxiliar
estudantes de português como língua estrangeira ou segunda língua a entender melhor
a cultura brasileira e como as relações interpessoais e afetivas são tratadas dentro dela,
procuraremos olhar para os estudos culturais tendo como cenário o ensino de português
para esses estudantes, e assim buscando entender quais são os aspectos relevantes que
podem ser trabalhados em sala de aula, a fim de melhorar a inserção do aprendiz de
português na cultura brasileira.
REFERÊNCIAS
BENNETT, Milton J. “Intercultural Communication: A Current
Perspective”. In: __________ (Org.). Basic Concepts on Intercultural Communication
– Selected Readings (pp. 1 - 34). Yarmouth: 1998.
DENZIN, N.; LINCOLN, Y. (org) O Planejamento da Pesquisa Qualitativa. Teorias e
Abordagens. Porto Alegre, Artmed, 2006.
HALL, Edward Twitchell. Beyond culture. New York: Anchor Books, 1989 [1976].
_____________. “The power of hidden differences”. In: BENNETT, Milton J. Basic
Concepts on Intercultural Communication - Selected Readings (pp. 53 - 67). Yarmouth:
1998.
HOFSTEDE, Geert. Cultures and Organization: Software of the Mind. New York: Mc
Graw Hill, 2010 [1991].
Linha 2 - Língua e Cognição: representação, processamento e aquisição da
linguagem
Aluno: Ana Paula Passos Jakubów
Nível: Doutorado
Orientadora: Letícia Maria Sicuro Corrêa
A opcionalidade na expressão da concordância de número no português
brasileiro: uma proposta de modelo para o processo de aquisição
Descreve-se o processo de aquisição da expressão da concordância de número no
português brasileiro (PB) diante de input variável (Scherre & Naro, 1998) com base no
modelo de aquisição procedimental de base minimalista (MPAL - Corrêa, 2009)
associado a um modelo formal de variação (Adger & Smith, 2010). Elaborou-se um
experimento para verificar preferência por formas de expressão morfológica de número
e se a variável social, tipo de escola, afetaria a escolha de uma das formas. Participaram
20 crianças de uma escola privada no subúrbio do Rio de Janeiro (média: 5;7 anos) e
16 crianças de uma escola pública da mesma região (média: 5;9 anos). As variáveis
independentes foram: a) Redundância no DP (redundante e não-redundante); b)
Redundância no TP (redundante e não-redundante) e c) Grupo (escola: privada e
pública). A pesquisadora apresentava o Bob na tela do computador, um robô que às
vezes fala diferentemente do modo como falamos. Bob falava sentenças em 4
condições: 1. (DP Redundante/ TP redundante) Os cachorros chamaram o leão; 2. (DP
Redundante/ TP não-redundante) Os pintinhos abraçou a galinha; 3. (DP não-
redundante/ TP Redundante) Os gato assustaram a borboleta; 4. (DP não-redundante/
TP não-redundante) Os macaco consertou a porta. A criança deveria contar para a
pesquisadora o que o Bob teria dito que aconteceu. Uma ANOVA 2X2X2 indicou que
não houve efeito significativo de grupo (p = .526), mas houve efeito significativo da
interação entre Redundância no DP e Grupo (p = .0001). As crianças da escola privada
preferem a forma redundante do DP, enquanto as crianças da escola pública não
demonstram preferência por uma ou outra forma do DP. O MPAL (Corrêa, 2009) prevê
que a especificação dos traços dos elementos de categorias funcionais se faz a partir de
padrões recorrentes na interface fônica a serem semanticamente interpretados (interface
semântica), compatível com a ideia de que variação seria fruto de subespecificação no
mapeamento entre forma fonológica/ morfológica e traços morfossintáticos das
categorias funcionais (Adger & Smith, 2010). A opcionalidade na expressão de número
no DP seria resultado da subespecificação dos traços formais da categoria funcional
Num, consequência de exposição a input variável.
Referências:
ADGER, D. SMITH, J. (2010). Variation in agreement: A lexical feature-based
approach. Lingua 120 (2010) 1109–1134.
CORRÊA, L. M. S. (2009). A identificação de traços formais do léxico pela criança
numa perspectiva psicolingüística. Organon (UFRGS), v.23, p.71 - 94.
SCHERRE, M. M. P. & NARO, A. J. (1998) Sobre a concordância de número no
português falado do Brasil. In Ruffino, Giovanni (org.) Dialettologia, geolinguistica,
sociolinguistica.(Atti del XXI Congresso Internazionale di Linguistica e Filologia
Romanza) Centro di Studi Filologici e Linguistici Siciliani, Universitá di Palermo.
Tübingen: Max Niemeyer Verlag, 5:509- 523, 1998.
http://www.ai.mit.edu/projects/dm/bp/scherre-naro98.pdf
Aluno: Danielle Novais Uchôa
Nível: Doutorado
Orientadora: Erica dos Santos Rodrigues/ Coorientadora: Cilene Rodrigues
Aceitabilidade dos pronomes resumptivos em orações relativas restritivas do PB
em função da posição sintática do pronome
Danielle Novais Uchôa (Doutoranda em Estudos da Linguagem – Puc-Rio)
Erica Santos Rodrigues (orientadora – Puc-Rio)
Cilene Rodrigues (co-orientadora Puc-Rio)
Do ponto de vista linguístico, pronomes resumptivos (PRs) são vistos como estratégias de último
recurso (Ross, 1967; Sells, 1984; Shlonsky, 1992; Hornstein, 2001; Grolla 2005). Quanto ao
processamento, estão relacionados, na produção, a situações pouco planejadas (Kroch, 1981) e à
natureza incremental da produção (Asudeh, 2004, 2011). Na compreensão, Hofmeister & Norcliffe
(2013) apresentam resultados de teste de julgamento de gramaticalidade que indicam que dependências
longas favorecem a aceitabilidade dos resumptivos em inglês. Dados sociolinguísticos do PB mostram
que resumptivos são licenciados em diferentes posições sintáticas nas relativas, embora com frequências
distintas (Tarallo, 1983; Lessa de Oliveira, 2009).
Neste trabalho apresentamos os resultados de um teste de julgamento de aceitabilidade dos
resumptivos em diferentes posições sintáticas na oração, usando uma escala Likert de 4 pontos. Esse
estudo pertence a um projeto de pesquisa mais amplo em que se pretende investigar os custos de
processamento envolvidos na produção e compreensão dos PRs. O teste foi conduzido na plataforma
online www.onlinepesquisa.com. As variáveis independentes foram (i) tipo de relativa (padrão/
resumptiva) e (ii) posição sintática (sujeito; OD; genitivo; OI). Havia 40 estímulos: 12 experimentais (4
por condição) e 24 distratoras.Tipo de relativa foi tomado como fator grupal e 120 participantes
concluíram o teste, sendo 60 em cada grupo.
Os resultados indicam que a proporção de notas 4 foi maior para o tipo padrão em todas as
condições. A aceitação dos resumptivos é maior na condição de OD (28,93%) (em que há interveniência
do sujeito da relativa), convergindo com os achados de Hofmeister & Norcliffe (2013). A posição de
genitivo não oferece dados claros: o maior percentual de respostas foi de nota 2 (42,08%) nas
resumptivas, seguido de respostas do tipo 3.
Em um segundo experimento de leitura automonitorada, visamos investigar possíveis custos
associados ao processamento dessas orações, por meio da comparação do tempo de escuta das relativas
padrão e resumptivas, considerando as variáveis do primeiro experimento e também levando em conta
o tipo de encaixamento da relativa (central ou final).
Referências bibliográficas:
ALEXOPOULOU, T. ; KELLER, F. Linguistic complexity, locality, and resumption.
In: Proceedings of WCCFL 22. Somerville, MA: Cascadilla Press, 2003.
BELTRAMA, A.; XIANG, M. Intrusive resumptives as processing facilitators: An
experimental investigation. In: IYER, J.; KUSMER, L. (eds.). Proceedings of the 44th
Annual Meeting of the North East Linguistic Society. pp. 41-54.
GIBSON, E. The dependency locality theory.A distance-based theory of linguistic complexity.
In MARANTZ, A.; MIYASHITA,Y.; O’NEIL, W. (Ed.). Image, language, brain. Papers from
the first mind articulation project symposium. Cambridge, MA: MIT Press, 2000. p. 95-126.
GOUVÊA, A. C. Complexidade sintática: o processamento de orações relativas em
português brasileiro e em inglês. In MAIA, M.; FINGER, I. (Org.). Processamento da
Linguagem. Pelotas, RS: EDUCAT, 2005.p. 201-220.
GROLLA, E. Pronomes resumptivos em Português Brasileiro adulto e infantil.
D.E.L.T.A. vol. 2, n.2, São Paulo, 2005.
HOFMEISTER,P.; NORCLIFFE,E. Does resumption facilitate sentence
comprehension?. Disponível em http://crl.ucsd.edu/~phofmeister/resumption-
hofmeister&norcliffe-rev1.pdf. Acesso em: 12/10/2013.
LESSA-DE-OLIVEIRA, A. S. C. A relativa resumptiva em dois momentos do
português brasileiro. Revista do GEL, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 61-84, 2009.
MIRANDA, F. V. C.; CORRÊA, L. M. S. (orientadora). O custo de processamento de
orações relativas: um estudo experimental sobre relativas com pronome resumptivo no
Português Brasileiro. Dissertação (Mestrado). Departamento de Letras, Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2008.
MOLLICA, M. C. Relativas em tempo real no português brasileiro contemporâneo. In:
PAIVA, M.C. de; DUARTE, M.E.L (org.). Mudança lingüística em tempo real. Rio de
Janeiro: Contracapa/ FAPERJ, 129-138, 2003.
TARALLO, F. Relativization Strategies in Brazilian Portuguese. Tese (Doutorado).
University of Pennsylvania. PhD. Dissertation, 1983.
Aluno: Jessica Barcellos
Nível: Mestrado
Orientadora: Erica dos Santos Rodrigues/ Coorientadora: Cilene Rodrigues
O papel da linguagem na resolução de tarefas matemáticas: um estudo com
alunos do 2º Ano do Ensino Fundamental
Este trabalho insere-se na área da Psicolinguística e investiga a interface linguagem-
matemática (Spelke, 2003; Spelke & Kinzler, 2007). Busca-se verificar em que medida
dificuldades na resolução de problemas de divisão estão relacionadas puramente ao
raciocínio matemático ou se há interferência da complexidade linguística dos
enunciados (Lorensatti, 2009; Freitas et al, 2000; Abedi & Lord, 2001). Uma análise
linguística dos enunciados dos problemas de divisão usados em livros didáticos indicou
que os enunciados de divisão como medida são linguisticamente mais complexos do
que os de distribuição. Enquanto nos problemas de distribuição há maior uso de
sentenças coordenadas e tempo passado, nos enunciados de medida predominam as
subordinações e uso de tempo irrealis. Com o objetivo de avaliar a influência de
complexidade linguística no desempenho de crianças na resolução desses dois tipos de
problemas, conduzimos três experimentos com 20 alunos do 2º ano do Ensino
Fundamental. No primeiro experimento, uniformizou-se a estrutura gramatical dos dois
tipos de enunciados e, no segundo, foram utilizados os enunciados originais dos livros
didáticos. Comparou-se o desempenho das crianças nos dois experimentos e houve
diferença significativa apenas para os enunciados relativos a problemas de medida
(p=0,016) com pior desempenho dos alunos no experimento 2. Os resultados indicam
que a dificuldade dos alunos em problemas de divisão como medida pode ser
minimizada quando a complexidade gramatical desses enunciados está controlada. O
terceiro experimento objetivou examinar os DPs coordenados em posição de sujeito,
estrutura ambígua muito utilizada nos enunciados matemáticos. As variáveis
independentes manipuladas foram tipo de problema (medida x distribuição) e tipo de
retomada do sujeito (pronominal x DP pleno) e as variáveis dependentes foram tipo de
leitura e taxa de acerto. Houve preferência pela leitura coletiva em todas as condições,
mas houve incremento no número de leituras distributivas nas condições sem retomada
pronominal. Houve menor taxa de acerto na condição de medida sem retomada
pronominal, condição linguisticamente mais complexa. Tomados em conjunto, os
resultados dos três experimentos indicam que a estrutura linguística usada nos
enunciados matemáticos interfere bastante no desempenho dos alunos, podendo causar
a ilusão de um déficit matemático.
Referências bibliográficas:
Abedi, J & Lord, C. The language factor in Mathematics Tests. Applied Measurement
in Education, v14 n3 p219-34 2001.
Freitas, L.F; Ferreira, F.O; Haase, V.G. Linguagem e matemática: estudo sobre
relações entre habilidades cognitivas linguísticas e aritméticas. Ciências & Cognição;
Vol 15 (3): 111-125, 2010.
Lorensatti, E. J. C. Linguagem matemática e língua portuguesa: diálogo necessário na
resolução de problemas matemáticos. Revista Conjectura, vol. 14, n. 2, p. 89-99,
maio/ago. 2009.
Spelke, E. S. What makes us Smart? Core Knowledge and Natural Language. In:
Gentner, D. & Goldin-Meadow, S. (Eds.). Language in Mind. Advances in the Study of
language and Thought. MIT Press, 2003.
Spelke, E. S. & Kinzler, K.D. Core knowledge. In Developmental Science 10:89-96,
2007.
Aluno: Larissa Ferrari
Nível: Mestrado
Orientadora: Erica dos Santos Rodrigues/Coorientador: Daniel Mograbi (Depto.
Psicologia - PUC-Rio)
O processamento sintático no envelhecimento natural:
Um estudo interdisciplinar entre Psicolinguística e Neuropsicologia
Esta pesquisa está inserida no campo da Psicolinguística, em interface com a
Neuropsicologia. Explora-se em que medida o processamento sintático, com o avanço
da idade, pode ser afetado por comprometimentos cognitivos associados a funções
executivas mais gerais, como memória de trabalho e controle inibitório.
Segundo Burke & Shafto (2004), idosos hígidos (isto é, saudáveis) costumam
ter mais episódios em que sentem ter a “palavra na ponta da língua” sem conseguir
lembrá-las do que os jovens. De acordo com Burke (1997), os idosos tiveram um
desempenho pior do que os jovens na tarefa de fluência verbal. No entanto, as pesquisas
ainda são pouco claras quanto ao processamento sintático no envelhecimento tido como
natural.
Por isso, este projeto procura estabelecer um estudo comparativo do
desempenho linguístico entre o grupo de idosos hígidos e adultos jovens, com relação
ao processamento sintático de estruturas envolvendo ambiguidade temporária,
consideradas complexas, porque exigem esforço de reanálise sintática correta da
estrutura. Exemplo: “Enquanto a mulher acordava o marido era internado no hospital”.
A ambiguidade temporária nessa sentença está no sintagma nominal “o marido”, que
pode ser processado erroneamente, em primeira leitura, como objeto direto de
“acordava”, quando na verdade é sujeito de “era internado”.
Este trabalho toma como partida o estudo de Christianson et al. (2006),
conduzido com falantes nativos de inglês, o qual encontrou dificuldade por parte dos
idosos com esse tipo de estrutura. Para implementar a reanálise, é necessário inibir a
primeira estrutura construída (no caso do ex. acordava o marido). Segundo os autores,
os idosos, em função de restrições de memóia e déficit no controle inibitório, não
conseguiriam rever a estrutura e estariam mais dependentes da estratégia “good-
enough”, um tipo de análise que não é sintaticamente correta, mas seria “boa o
suficiente”.
Sendo assim, neste trabalho, além de experimento com sentenças ambíguas,
serão aplicados testes de avaliação neuropsicológica: Teste Stroop, Teste de Dígitos e
Mini Exame do Estado Mental, para averiguar possível correlação entre o desempenho
linguístico e déficits no controle inibitório e/ou na memória.
Esta pesquisa tem sua importância justificada com base também no
envelhecimento progressivo da população brasileira e mundial. Além disso, o estudo
poderá auxiliar no refinamento de testes linguísticos para verificar uma possível
tendência para a Doença de Alzheimer.
Referências bibliográficas:
BURKE, Deborah. Language, aging, and inhibitory deficits: evaluation of a theory.
Journal of Gerontoly: Psychological Sciences, v. 52B, n. 6, p. 254–264, 1997.
BURKE, Deborah; SHAFTO, Meredith. Aging and language production. Current
Directions in Psychological Science, v. 13/1, p. 21-24, 2004.
CHRISTIANSON, Kiel; WILLIAMS, Carrick C.; ZACKS, Rose T.; FERREIRA,
Fernanda. Younger and older adults’ “good-enough” interpretations of garden-path
sentences. Discourse Process, v. 42(2), p. 205-238, 2006.
Aluno: Mônica de Freitas Frias Chaves
Nível: Doutorado
Orientadora: Cilene Rodrigues/ Coorientador: Daniel Mograbi (Depto.
Psicologia - PUC-Rio)
Referencialidade em esquizotipia:
o papel da linguagem na organização do Pensamento
A esquizotipia é um conjunto de traços de personalidade, com influência tanto genética
como do meio-ambiente, cuja expressão varia significativamente dentro de um
contínuo que vai desde de indivíduos sem sintomas clínicos até aqueles com quadros
clínicos variados, sendo o mais grave a esquizofrenia.
Um dos sintomas principais da esquizotipia, em todo seu contínuo, é a desordem do
pensamento formal (Formal Thought Disorder – FTD). Segundo Kuperberg (2010), a
FTD característica da esquizofrenia apresenta disfunções na linguagem e na
comunicação, expressas numa fala desorganizada e muitas vezes ininteligível.
Hinzen e Sheenam (2013) postulam que o comprometimento linguístico na
esquizofrenia reflete uma incapacidade de converter conceitos em expressões
referenciais em situações reais de fala. Nessa visão, a gramática de portadores de
esquizofrenia não associa itens lexicais a significados gramaticalmente coerentes e
correspondentes a intenções comunicativas. Isso sugere que na esquizofrenia há uma
perda da capacidade de computar referencialidade e proposicionalidade.
A FTD tem como característica marcante, além do uso desproporcional de expressões
nominais indefinidas e genéricas, também, o uso de expressões nominais definidas com
referente impreciso ou indireto (Hinzen, 2012: 284), o que justifica a pesquisa em FTD
com foco nessas expressões.
A referencialidade das expressões nominais depende não só de como são computados
traços de definitude e especificidade, mas sobretudo da relação que essas expressões
estabelecem com outras expressões nominais previamente estabelecidas no discurso.
O objetivo dessa pesquisa é promover uma investigação teórico-experimental para
verificar as possíveis leituras que indivíduos com traços de personalidade esquizotípica
fazem de expressões nominais definidas em contextos discursivos nos quais um
antecedente prévio (+ especifico vs. +genérico) é dado. Os resultados deste grupo serão
contrastados com os resultados do grupo controle, e analisados vis-à-vis a literatura
sobre referencialidade em esquizofrenia.
Nossa pesquisa contribui para a compreensão da gramática em transtornos mentais e,
de maneira geral, para o entendimento da arquitetura da mente (e.g. questões de
especificidade de domínio). Do ponto de vista clínico, nosso objetivo é auxiliar na
elaboração de testes linguísticos refinados para diagnóstico da esquizofrenia e de outras
desordens mentais.
Referências bibliográficas:
KUPERBERG, G. (2010). Language in schizophrenia, Part 1: An introduction.
Language and Linguistics Compass 4(8): 576–89.
HINZEN, W. & SHEEHAN, M. (2013). The Philosophy of Universal
Grammar. Oxford, UK: Oxford University Press.
Linha 3
Linguagem, Sentido e Tradução
Aluno:: Ricardo Souza
Nível: Mestrado
Orientadora: Maria Paula Frota
A abordagem da tecnologia na formação universitária do tradutor
Recursos tecnológicos, sejam de escrita, de armazenamento, ou de consulta, sempre
foram indissociáveis da atividade do tradutor. A relação entre tradutores, tradução e
tecnologia, todavia, se insere no contexto maior da relação entre sociedades, culturas e
tecnologias. De Platão a Aristóteles, passando por Weber e Durkheim e chegando a
Heidegger, estudiosos que são referência para o pensamento ocidental já se
preocuparam com o tema em diferentes aspectos. Contudo, na formação universitária
dos tradutores, o assunto tem recebido uma abordagem apenas incidental.
Notadamente, o florescimento da chamada Virada Cultural dos Estudos da Tradução,
que coincidiu temporalmente com o impulso tomado pelas tecnologias da tradução,
relegou a tecnologia ao plano secundário de mera fornecedora de ferramentas, sem
preocupações de outra ordem.
Existe, ainda, a percepção de uma lacuna entre formação universitária e prática
profissional. Longe de ser exclusiva da formação de tradutores, essa lacuna acompanha
o senso comum que separa teoria e prática, especialmente no que tange às
Humanidades. No âmbito da formação universitária de tradutores, estudiosos como
Wills, Kiraly, Chesterman e Pym, em diferentes épocas, já abordaram o tópico,
discutindo-o em termos das competências tradutórias que a universidade deveria
fomentar nos discentes.
A isso soma-se o surgimento, nas últimas duas décadas, de recursos inteligentes de
auxílio à tradução que não só mudaram o fazer tradutório de forma radical, mas também
o perfil daquele que é considerado um tradutor profissional competente. A criação da
Tradumática foi uma resposta a essa mudança. Entretanto, essa disciplina, mesmo
novíssima e necessária, deixa a desejar no que tange a formar tradutores com uma visão
da tradução que vá além de aspectos produtivos e mercadológicos.
Com tais pressupostos, este trabalho discute como a relação entre tradutor, tradução e
tecnologia é marcada por influências e expectativas de competência tecnológica em seu
sentido mais amplo, sendo preciso que as instituições universitárias levem essas
expectativas em conta ao abordarem a tecnologia na formação de tradutores. Do
contrário, tradutores egressos dessas instituições poderão ter dificuldade de atender o
que deles esperam os diferentes públicos de traduções, com repercussão na própria
percepção da relevância da universidade na formação desses profissionais.
Linha 4
Discurso, vida social e práticas profissionais
Aluna: Naomi Orton
Nível: Doutorado
Orientadora: Liana Biar
Horizontalidade nos movimentos sociais contemporâneos: um estudo sobre
gênero, narrativa e interrupções
Esse estudo tem por objetivo lançar um olhar crítico sobre a negociação de
sentido no contexto microssocial de um grupo de cicloativistas localizados do Rio de
Janeiro, a fim de refletir sobre a construção da horizontalidade no contexto
macrossocial dos movimentos sociais contemporâneos.
A investigação se insere em um paradigma de pesquisa qualitativa interpretativa
(Denzin & Lincoln, 2006) com dimensão autoetnográfica (Bossle & Molina Neto,
2009). O estudo é norteado pela visão socioconstrucionista do discurso (Moita Lopes,
2001), compreendendo as práticas discursivas e o mundo social são concebidos como
entrelaçados, constituídos um pelo outro (Fabrício & Bastos, 2009). Partindo desse
pressuposto, a microanálise fundamenta-se nos estudos narrativos (Bruner, 1997
[1990]; Ewick & Silbey, 2003; Labov, 1972; Linde, 1993) e na sociolinguística
interacional (Goffman, 1975), enfocando, mais especificamente, a tomada de turnos e
sobreposições de fala (Tannen, 2007 [1989]; 2010; West & Zimmerman, 2010).
A partir da análise de uma narrativa de resistência emergente de uma reunião
realizada entre um grupo de onze cicloativistas em abril de 2016, identifico que, apesar
de pausas estendidas durante a narração, sobreposições de fala feitas por cicloativistas
do gênero masculino ocorrem no auge da narrativa, no desenvolvimento da ação.
Nesses momentos, as escolhas lexicais da narradora são substituídas por vocábulos
mais “técnicos”, colocando a legitimidade das escolhas da narradora em xeque e
construindo, assim, relações assimétricas entre os participantes (Gastaldo, 2008; Smith,
2010).
Embora mais análises ainda sejam necessárias, tais entendimentos sugerem que
o poder não é distribuído igualmente nos movimentos sociais, assim como na sociedade.
Nesse sentido, para que os movimentos possam combater as desigualdades presentes
na sociedade ao invés de reproduzi-las, precisamos compreender a construção da
horizontalidade como um processo constante. Só a partir do monitoramento desse
processo, será possível que os militantes se engajem em práticas transformacionais,
reconstruindo esses espaços em outras bases (Bruzzone, 2012; Camarena, 2012).
Referências Bibliográficas
BOSSLE, F; MOLINA NETO, V. No “olho do furacão”: uma autoetnografia em uma
escola da rede Municipal de ensino de Porto Alegre. Revista Brasileira de Ciência do
Esporte, Campinas, v. 31, n. 1, p. 131-146, setembro 2009.
BRUNER, J. Atos de significação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997 [1990].
BRUZZONE. Putting the 'critical' mass in Critical Mass: patriarchy, radical feminism,
and radical inclusiveness. In: CARLSSON, C.; ELLIOTT, L.; CAMARENA, C. Shift
Happens! Critical Mass at 20. São Francisco: Full Enjoyment Books, 2012.
CAMARENA, A. The Blind Spot: Subcultural Exclusivity in Critical Mass. In:
CARLSSON, C.; ELLIOTT, L.; CAMARENA, C. Shift Happens! Critical Mass at
20. São Francisco: Full Enjoyment Books, 2012.
DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. O planejamento da pesquisa qualitativa: Teorias
e abordagens. Porto Alegre: Artmed, 2006.
EWICK, P & SILBEY, S. Narrating Social Structure: Stories of Resistance to Legal
Authority. American Jornal of Sociology. Vol. 108 No. 6. Chicago, maio 2003.
GASTALDO, E. Goffman e as relações de poder na vida cotidiana. Revista brasileira
de ciências sociais. v.23 n.68. São Paulo, outubro 2008.
GOFFMAN, E. A Representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1975.
LABOV, W. The transformation of experience in narrative syntax. In: LABOV, W.
Language in the inner city. Philadelphia: University of Philadelphia Press, 1972.
LINDE, C. Life Stories, the creation of coherence. New York: Oxford University Press,
1993.
SMITH, G. Reconsidering Gender Advertisements: performativity, framing and
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2010.
TANNEN, D. “Oh talking voice that is so sweet”: constructing dialogue in conversation.
In Talking voices. Cambridge: CUP, 2007 [1989].
TANNEN, D. Quem está interrompendo? Questões de dominação e controle. In:
Linguagem, gênero e sexualidade. São Paulo: Parábola, 2010.
WEST, C. & ZIMMERMAN, D. Pequenos insultos: estudo sobre interrupções em
conversas entre pessoas desconhecidas e de diferentes sexos. In: Linguagem, gênero
e sexualidade. São Paulo: Parábola, 2010.
Aluno: Natália Cuccinello
Nível: Mestrado
Orientadora: Liana Biar
"Por isso que eu confirmo que ele não fez": construção discursiva da inocência
em narrativas de experiência vicária
A dissertação é fruto de um "encontro misto", ou seja, um tipo de interação social que
reúne face a face identidades hegemônicas e estigmatizadas (Goffman, 1988),
proporcionado por entrevistas de pesquisa realizadas com mulheres envolvidas no
contexto prisional, especificamente na condição de parentes/visitantes de homens
presos, nas periferias de um presídio do Estado do Rio de Janeiro, em novembro de
2015. Nesse sentido, a dissertação dialoga com pesquisas elaboradas a partir da análise
de narrativas em interação que trazem à tona discursos que ajudam a reverter a
“invisibilidade social” dessas mulheres, que são, em grande parte, negras, pobres, mães
e moradoras de zonas periféricas do estado. Ao narrarem a causalidade da prisão de
seus pares, narrativas de experiência vicária emergem na interação, na qual as
entrevistadas não só “animam” discursos que desvinculam a agência de seus pares dos
respectivos crimes, como também se apropriam de recursos discursivos próprios que
validam a inocência deles. Esta pesquisa se propõe, então, a investigar, à luz dos estudos
das narrativas orais, amparados na Sociolinguística Interacional, a nível micro da
interação, quais as estratégias discursivas utilizadas por essas mulheres ao legitimarem
a inocentação de seus pares, e, partindo para uma análise mais macro, sob quais
sistemas de coerência estão ancoradas essas estratégias.
Referências Bibliográficas
GOFFMAN, E. [1979] Footing. Trad. Beatriz Fontana. In: RIBEIRO, B.T.; GARCEZ,
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RIBEIRO, Branca Telles & GARCEZ, Pedro. Sociolinguística Interacional. Porto
Alegre: AGE, 1998
Aluno: Mayara de Oliveira Nogueira
Nível: Doutorado
Orientadora: Maria das Graças Dias Pereira
Narrativas, prática profissional e ética social: negociação e coconstrução de
identidades
Propomo-nos investigar a coconstrução do sofrimento (SANTOS, BASTOS,
2009; LUPTON, 1988) na produção de narrativas sobre prisão ilegal de um adolescente
morador da periferia de Vila Velha/ES.
No arcabouço teórico, fazemos interlocuções entre Análise da Narrativa
(BASTOS, 2005; DE FINA, GEORGAKOPOULOU, 2008; DE FINA, 2008; GARCEZ, 2001;
GOODWIN, 1984; JEFFERSON, 1978; LABOV & WALETZKY, 1967) e Análise da Conversa
(GARFINKEL, 1967; LODER & JUNG, 2008; SACKS, SCHEGLOFF & JEFFERSON, 1974), a
fim de investigar a construção de sofrimento e estigma (GOFFMAN[1963] 1988;
BECKER, 2008) tecida pelos participantes da conversa e observar o estabelecimento da
intersubjetividade entre membros de uma comunidade profissional a partir das re-
narrativas dos clientes.
Tendo em vista que a autora deste trabalho é insider ao contexto investigado
e assume tanto o papel de advogada quanto de pesquisadora, optou-se pelo método
qualitativo (DENZIN & LINCOLN, 2006) e viés autoetnográfico (REED-DANAHAY, 1997;
VERSIANI, 2005).
O corpus é composto por três encontros: dois deles em que a atividade ou
tarefa desempenhada (DEL CORONA, 2009; DREW, HERITAGE, 1992) é enquadrada
(GOFFMAN, [1959] 2009) enquanto consulta jurídica, na qual atores se alinham aos
papeis de “cliente” e “advogado”; e uma segunda tanto mais aproximada às práticas,
fazeres e saberes do grupo que compõe o escritório observado – trata-se, na verdade,
da observação do intervalo de almoço entre os advogados – momento em que no curso
da pesquisa se mostrou período privilegiado para o estabelecimento de
intersubjetividade e construções de identificações coletivas.
Nosso foco de investigação é, portanto, a análise das (re)narrativas de
sofrimento tecidas em contexto profissional e a investigação das identidades que daí
emergem.
Na contextualização da narrativa, a prisão do jovem perdurou por cerca de
seis meses e dela outros atos ilícitos decorreram, dentre eles um dano moral por
ricochete (THEODORO JÚNIOR, 2010), tendo em vista que sua genitora tornou-se vítima
indireta do ato lesivo, experimentando os danos de forma reflexa pelo convívio
cotidiano com os resultados sociais do dano sofrido pela vítima imediata. Esta
ilegalidade é dimensionada na construção narrativa da participante através de uma série
de descrições e categorizações da experiência vivida (SACKS, 1972, 1979, 1992;
SCHEGLOFF, 2007; ABELEDO; FORTES; GARCEZ; SCHLATTER, 2014) na qual o
sofrimento adquire contornos significativos no interior das práticas discursivas em
curso no aqui e no agora da interação.
Inicialmente concluímos que o sofrimento apresenta diferentes nuances a
depender dos atores que narram a experiência desviante, bem como a depender da
atividade desempenhada (a busca pela solução de um conflito que se quer judicializado
ou conversa informal na qual uma ética de grupo é coconstruída) e participantes
envolvidos.
Aluno: Adriana Rodrigues de Abreu
Nível: Doutorado
Orientadora: Adriana Nogueira Accioly Nóbrega
Fluidez identitária e movimentos avaliativos em narrativas de professores
Este trabalho busca investigar narrativas de experiências pessoais produzidas por
professores de diferentes disciplinas da Educação Básica, tendo por objetivo analisar a
coconstrução das identidades profissionais dos participantes, sobretudo as flutuações
identitárias que surgem em seus discursos. Além disso, esta pesquisa visa analisar que
movimentos avaliativos são realizados pelos participantes e em que medida essas
avaliações constituem suas identidades profissionais. Para tanto, as seguintes perguntas
de pesquisa são propostas: (1) Como surgem as narrativas orais de experiências
pessoais e qual é a função delas para a construção da discussão do grupo?; (2)De que
forma as avaliações constituem as identidades profissionais dos participantes?; (3)
Quais movimentos avaliativos são realizados pelos docentes participantes da pesquisa
ao discutirem questões voltadas às suas práticas profissionais?. O alicerce teórico desta
pesquisa conjuga abordagens estruturais (LABOV e WALETZKY,1967 e LABOV,
1972) e interacionais (MOITA LOPES, 2001; BASTOS, 2004, 2005; DE FINA, 2008;
DE FINA e GEORGAKOPOULOU, 2008) para análise da narrativa, assim como
entrelaça estudos sociológicos (BAUMAN, 2005; HALL, 2005; GIDDENS, 1999,
2002) com a perspectiva socioconstrucionista de identidade (BUCHOLTZ e HALL,
2003, 2005; MOITA LOPES, 2002, 2003). Para alcançar os objetivos propostos, a
perspectiva metodológica qualitativa e interpretativa (DENZIN e LINCOLN, 2006) foi
utilizada, com foco em uma interação produzida em um Grupo de Discussão realizado
com quatro professores de disciplinas e instituições escolares diferentes. Resultados
parciais indicam que: (i) os participantes assumem múltiplas identidades sociais em
distintos momentos da interação, o que constitui o processo de flutuação/oscilação
identitária; (ii) os elementos avaliativos são constitutivos do processo de construção das
identidades profissionais dos professores; (iii) os professores, através de processos
discursivos, reorganizaram suas experiências profissionais, bem como reconfiguraram
suas identidades por meio de avaliações; (iv) os docentes, ao se reconstruírem
identitariamente, projetam identidades para outros participantes, especialmente,
aqueles diretamente envolvidos no processo educacional, a saber: alunos e pais; (v) os
participantes, muitas vezes, se eximem de suas responsabilidades profissionais e
transferem essas responsabilidades para terceiros, mitigando suas agentividades na
ação de ensinar.
Referências Bibliográficas
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14, 1º sem. 2004. p. 118-127.
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Aluno: Thais Dos Santos Borges
Nível: Mestrado
Orientadora: Adriana Nogueira Accioly Nóbrega
Por um sentir crítico: entendendo atravessamentos identitários interseccionais
na sala de aula de língua estrangeira
O objetivo deste trabalho é entender a socioconstrução de identidade de professoras de
inglês no que tange a seus atravessamentos interseccionais (FERREIRA, 2012) por
perceber a sala de aula de língua estrangeira como um lugar de dissenso e
desaprendizagem (MOITA LOPES et al 2006, 2013; FABRICIO, 2006), onde práticas
sociais e discursivas (FAIRCLOUGH, 2001) constroem pontos de pertencimento
temporário (HALL, 2000) das práticas identitárias de professores e alunos. Acredito
que ali, idealmente, deve ser vivida uma busca incessante pelo desenvolvimento da
empatia e pela não neutralização das diferenças culturais (FERREIRA, 2006), com
apreço à reflexividade crítica (PENNYCOOK, 2006) como forte aliada na formação de
uma consciência crítica (FREIRE, 1974) e às lutas hegemônicas (RESENDE e
RAMALHO, 2006, 2011) possíveis quando nos atemos a compreender e abraçar os
atravessamentos identitários que nos configuram com o mundo e no mundo (SOUZA,
2011). Nesta pesquisa de dissertação de mestrado, serão analisados o conteúdo de
depoimentos escritos e entrevistas de três professoras de inglês como língua estrangeira,
cada uma com alguma característica proeminente em relação aos atravessamentos
mencionados anteriormente, da ordem do feminismo interseccional (ANZALDÚA,
1981, 1987, 1990 apud KEATING, 2009; CRENSHAW, 1989; COLLINS, 1990,
FERREIRA, 2006, 2012; hooks, 1982, 1994, 2003; MOHANTY, 1984). Vale reforçar
que não há intenção de “dar voz” às professoras, mas sim, de “ouvir” suas
representações da realidade da sala de aula, de maneira a coconstruir e ressignificar
essa experiência (RIESSMAN, 1993) para que seja possível o amadurecimento de um
“sentir crítico” (BORGES, 2015), que se paute na sensibilização quanto a questões de
sofrimento humano (MILLER, 2013), estigma (GOFFMAN, 1963), ideologia e
relações de poder (FOUCAULT, 1972, 1979). Com base na Linguística Sistêmico-
Funcional (HALLIDAY e HASAN, 1989; HALLIDAY, 1994; HALLIDAY e
MATTHIESSEN, 2014), mais especificamente o sistema de avaliatividade (MARTIN
2001, MARTIN e WHITE, 2005), analiso as escolhas lexicogramaticais feitas pelas
professoras na construção discursiva de suas identidades (BUTLER, 1990, 1993), me
alinhando à epistemologia feminista (LYKKE, 2010) para o entendimento de seus
atravessamentos identitários interseccionais (FERREIRA, 2012). Seguindo uma
metodologia qualitativa de pesquisa baseada no conceito de conhecimento situado
(HARAWAY, 1988), analiso o que escrevem e dizem as professoras a respeito de
momentos críticos vivenciados por ela nas suas práticas pedagógicas cotidianas
(PENNYCOOK, 2015).
Palavras-chave: Sentir crítico – Feminismo interseccional – Sala de aula de línguas –
Linguística-sistêmico funcional – Sistema de Avaliatividade
REFERÊNCIAS
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Aluno: Gabriela Coelho
Nível: Mestrado
Orientadora: Adriana Nogueira Accioly Nóbrega/ Coorientadora: Profª Dr. Inés
Kayon de Miller
A co-construção de conhecimento entre dois professores de língua inglesa acerca
dos gêneros discursivos: uma análise à luz do Sistema de Avaliatividade
O presente estudo tem como objetivo analisar a co-construção de conhecimento acerca
do tema gêneros discursivos por dois professores de língua inglesa, em especial, sobre
como ambos avaliam suas práticas e se posicionam frente ao tema proposto. Para tanto,
busco analisar uma entrevista semiestruturada realizada com um amigo, também
professor de inglês de cursos de idiomas, a fim de entender de que forma ele utiliza, ou
não, os gêneros em sua sala de aula. Esta pesquisa tem como base a perspectiva
sociossemiótica de linguagem proposta por Halliday (1994), com foco no Sistema de
Avaliatividade (MARTIN e WHITE, 2005) em interface com os estudos sobre interação
propostos pela Análise da Conversa (SACKS; SCHEGLOFF, JEFFERSON, 2003
[1974]), uma vez que busco entendimentos sobre como se deu a co-construção de
conhecimento por meio da análise de elementos interacionais, como a tomada de turno,
realinhamentos e a escolha dos elementos avaliativos. A metodologia adotada insere-se
em um paradigma qualitativo interpretativista (DENZIN; LINCOLN, 2006) para a
análise da prática discursiva que se estabeleceu, privilegiando o entendimento da co-
construção de conhecimento ocorrida e não enfatizando a busca pela fidelidade aos
conceitos já estabelecidos sobre os gêneros discursivos. Com base no arcabouço teórico
apresentado, a pesquisa se volta para a análise da interação ocorrida, com foco na
avaliação que ambos os professores fazem sobre a temática proposta, e busca entender
de que forma as tomadas de turno e os realinhamentos contribuíram para o
entendimento daquela interação. Acredito que ao analisar a co-contrução de
conhecimento por meio de uma entrevista semiestruturada entre dois professores e
amigos, pode-se compreender melhor de que forma o professor se posiciona frente a
temas referentes à sua prática, além de como ele se constrói frente a outro professor.
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Language, V. 50, 1974.
Aluno: Odete Firmino
Nível: Doutorado
Orientadora: Adriana Nogueira Accioly Nóbrega
Histórias que contam histórias: análise de uma trajetória de vida co-construída
na interação
O que acontece quando lemos uma obra literária? Podemos nos identificar com os
personagens (ou não), assim como podemos ter epifanias ou catarses diante do texto.
Essa relação afetiva que mantemos com a literatura pode fornecer inúmeras respostas
que leva, ainda, a outra pergunta: qual a importância da literatura em nossas vidas? O
momento mágico de abrir um livro e compartilhar os significados com o autor no
momento da leitura, nos faz perceber que todos os sentidos construídos pelo escritor
não estão inscritos no livro de maneira estanque, mas são co-construídos pelo leitor.
Dessa forma, para gerar alguns entendimentos sobre minhas perguntas, o objetivo deste
trabalho é analisar uma narrativa produzida a partir da interação entre a participante
Cássia (mãe da pesquisadora), a própria pesquisadora e a leitura da obra literária A hora
da estrela, de Clarice Lispector, que contextualizou uma conversa informal. Neste
estudo, observo a estrutura da narrativa (LABOV, 1972), discuto o conceito de mundo
dual (BRUNER, 1997 [1990]) e a co-construção de uma história de vida (LINDE,
1993). Além disso, percebo como a participante co-constrói identidades a partir dos
fatos narrados (MISHLER, 2002), e penso sobre a noção de pesquisadora-personagem
(GOODWING, 1984). Este estudo insere-se no campo da Linguística Aplicada
(MOITA-LOPES, 2006), fornecendo um instrumental teórico-metodológico para uma
maior compreensão do discurso em interação (BASTOS e BIAR, 2015) e, por ser um
estudo situado em teorias de bases sociais e interpretativas, o alinhamento
metodológico se dá com a pesquisa qualitativa (DENZIN e LINCOLN, 2006). Os
resultados indicam que a interlocutora Cássia produziu uma narrativa canônica, que se
constitui uma trajetória de vida, e co-constrói uma identidade pela diferença a partir do
contexto da leitura prévia da obra de Clarice Lispector e da interação com a
pesquisadora, que desconhece o ponto da história. Sendo assim, quando lemos uma
obra literária podemos recontextualizar nossas próprias histórias, co-construir
identidades e interagir com o mundo.
Referências:
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linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006.
Aluno: Carla Souza
Nível: Doutorado
Orientadora: Adriana Nogueira Accioly Nóbrega
(Des)construção de identidades e crenças em relatos sobre o estágio de
Inglês para Fins Específicos
Muito se tem pesquisado sobre identidade do professor na formação continuada
(CELANI e MAGALHÃES, 2002) e crenças docentes e discentes sobre linguagem,
ensinar e aprender línguas (BARCELOS, 2004; GIMENEZ & PEREIRA, 2007).
Entretanto, ainda são poucos os estudos sobre construção de identidades e sua relação
com crenças a partir da visão de licenciandos sobre o estágio supervisionado, momento
essencial na formação docente, fato que instigou a presente pesquisa. Visando trazer
uma contribuição para as áreas de Linguística Aplicada e Formação de Professores de
Línguas, principalmente de Inglês para Fins Específicos (IFE), este trabalho tem como
objetivos investigar que identidades e crenças emergem em relatos videogravados de
licenciandas sobre o estágio de IFE e como elas são (des)construídas no discurso. Para
tanto, a arquitetura teórica e metodológica segue uma abordagem qualitativa e
interpretativa (DENZIN e LINCOLN, 2006) e se baseia na visão socioconstrucionista
de identidades e crenças, visto que tanto quem estamos nos tornando, como no que
acreditamos, estão em constante processo de negociação, adaptação e reformulação nas
interações e contextos situacionais, socioculturais e históricos pelos quais transitamos
(FABRICIO & MOITA LOPES, 2002; OLIVEIRA & BARCELOS, 2012). Além
disso, para examinar como identidades e crenças estão imbricadas e podem ser
recuperadas e/ ou reconfiguradas no discurso, a análise se apoia na Linguística
Sistêmico-Funcional (HALLIDAY & MATHIESSEN, 2004), mais especificamente no
Sistema de Avaliatividade (MARTIN & WHITE, 2005), que oferece o embasamento
para entender como os significados interpessoais são construídos nos textos no nível da
semântica do discurso. Foi possível observar que instâncias avaliativas parecem
sinalizar reflexões sobre crenças e suas reformulações, bem como algumas mudanças
no percurso identitário. Os resultados preliminares também parecem indicar que os
licenciandos têm preconcepções muito negativas quanto ao ensino de IFE, da escola
pública e do estágio em si antes de seu início e essas crenças, bem como suas
identidades vão sofrendo transformações durante o período de pré-serviço.
Referências
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Nome do aluno: Bruno de Matos Reis
Nível: Doutorado
Orientadora: Inés Kayon de Miller
Procurando um CIEP encontrei este lugar: a escola como construção no discurso
No segundo semestre de 2016, a Educação brasileira é marcada por reações
provenientes do advento da Medida Provisória para reformulação do Ensino Médio
(MP 746/2016). Enquanto docentes e discentes críticos ao modelo imposto organizam-
se em greves e ocupações reivindicando a reabertura do debate, ganha terreno a intensa
disputa acerca do que seria a escola de qualidade. Nesse quadro, o surgimento de pautas
discentes que denunciam uma tentativa de silenciamento de suas vozes e indicam seu
desejo de tomar parte nesta disputa fazem mais oportuna a discussão que ora trago.
Enquanto contribuições de diversas áreas indicam que o processo educacional tende a
beneficiar-se de uma postura etnograficamente orientada do professor (Heath, 1983;
Rockwell, 1986), não raro hostilidades entre estudantes e professores ou autoridades
políticas da Educação têm origem justamente na ausência daquilo que há de mais
elementar no fazer etnográfico: a honesta vontade de conhecer, a genuína disposição
em escutar. Parte de uma autonarrativa etnográfica em que concebo o campo como uma
construção discursiva, neste trabalho apresento o processo de concepção e a análise em
andamento de textos em que alunos de uma escola pública do município de Nova
Iguaçu/RJ nos contam sobre o local onde estudam a partir de perspectivas particulares.
Compreendendo a escola como um lugar em seu sentido etnográfico (Augé, 2012),
parto dos sujeitos que ali frequentam para investigar a construção discursiva daquele
lugar. Realizo a análise dos dados pensando a identidade sob a perspectiva de Bauman
(2005), de teorizações foucaltianas em sua reflexão sobre o cuidado de si (2004 [1982])
e dos estudos de Face (Goffman, 1980). No atual momento da análise, chama atenção
a forma como identidades e lugar constroem-se mutuamente no discurso. Não parece
possível compreender aquela escola senão através - ou a partir - do olhar dos
participantes, de um estudo minucioso das identidades ali implicadas. Lugar é discurso.
No contexto das ocupações, se os ouvíssemos, de que escola nos falariam os alunos
ocupantes? Realizo um trabalho de escuta nesta pesquisa. Afinal, de que escola falam
meus alunos?
Aluno:: Amanda Dinucci
Nível: Doutorado
Orientadora: Maria do Carmo Leite de Oliveira
A imputação da culpa em vídeos de contravigilância
A construção da moralidade no discurso tem recebido a atenção de muitos
pesquisadores e tem sido analisada nos mais diversos contextos, profissionais ou não.
Uma prática social contemporânea altamente produtiva para o estudo da moralidade na
vida cotidiana é a contravigilância. Nomeado também como vigilância inversa, esse
fenômeno se refere à prática de vigiar aquele que nos vigia. Um exemplo, em termos
de segurança pública, são os vídeos, produzidos por cidadãos, que registram a ação
policial. O acesso do cidadão comum às tecnologias de imagem oferecidas pelos
telefones celulares e a facilidade de compartilhamento de imagens no mundo paralelo
da web favoreceram a produção e circulação desses vídeos, em que o cinegrafista
amador descreve a cena de modo a definir a conduta policial como moralmente
inaceitável. Esta pesquisa tem como foco a orientação dos participantes da cena para o
trabalho de imputação de culpa. À luz dos estudos da fala-em-interação e dos estudos
sobre vigilância, pretende-se identificar os recursos conversacionais utilizados pelos
participantes no processo de negociação da culpa. O corpus é constituído por duas
gravações da ação policial, realizadas por cidadãos comuns, em comunidades que
receberam uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), no Rio de Janeiro. Ambas
retratam um conflito entre policiais e moradores, e foram disponibilizadas na maior
plataforma de compartilhamento de vídeos da atualidade, o Youtube. A unidade de
análise são as sequências de imputação e refutação de culpa. Um dos resultados do
estudo é que uma das estratégias utilizadas pelo cidadão para atribuir culpa são as
perguntas retóricas que induzem a uma acusação de ilegalidade da ação policial. Outro
resultado obtido diz respeito ao modo como os policiais respondem à imputação da
culpa. Uma das estratégias utilizadas envolve um trabalho de contraacusação, que busca
atribuir a culpa do uso da força à agressividade do suspeito, além de descredenciar o
narrador, denunciando o viés tendencioso de sua versão.
Nome do aluno: Rony C. Ron-Rén Jr.
Nível: Mestrado
Orientadora: Maria do Carmo Leite de Oliveira
A Agência Moral na Narrativa de um Policial
A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) tem historicamente formado
seus profissionais de patentes mais baixas (conhecidos como praças) para atuarem
como meros cumpridores de ordem, algo relativamente comum em instituições
altamente hierarquizadas. Poderia se esperar, portanto, que, em seus contextos de
atuação, a agência desses profissionais fosse (quase) nula. Contudo, é na prática
cotidiana, na qual situações e desafios não previstos nos manuais, leis e diretrizes se
apresentam, que o policial é desafiado a tomar diversas decisões e a exercer a
discricionariedade policial. Além disso, desde a implantação das Unidades de Polícia
Pacificadora, em 2008, há tentativas de mudança - ainda que tímidas - no paradigma de
modelo policial. Nesse novo modelo, o trabalho policial não é orientado apenas para o
combate ao crime, mas também para o serviço ao cidadão, o que implica o
desenvolvimento de uma capacidade que leve o policial a ajustar sua conduta às
diferentes situações. Embora estudos já revelem o caráter agentivo do “fazer policial”,
nada se sabe sobre o papel da linguagem na construção dessas práticas e tampouco
sobre valores morais situados que as subjazem. A pesquisa, de cunho qualitativo e
interpretativo, tem como base teórica os estudos de narrativa, agência e moralidade.
Neste trabalho, examinamos uma narrativa produzida espontaneamente, durante uma
entrevista de pesquisa, após uma discussão sobre o tema “desacato à autoridade”. Nosso
objetivo é identificar que recursos linguístico-discursivos são mobilizados pelo
narrador na construção da agência moral de um policial. Os resultados revelam que, ao
exercer a discricionariedade, o narrador constrói, especialmente através do uso de
diferentes formas de accounts, um modelo de policial crítico, reflexivo mesmo em
situações de cumprimento da lei e em que o uso da força pode ser necessário. O ponto
da narrativa é, portanto, a construção de um ideal moral sobre o que é ser um bom
policial hoje.